Torrefadores teme ser ''esmagado'' pela fusão
Mesmo sem ter sido concretizada, a união entre Pão de Açúcar e Carrefour no Brasil já começa a mobilizar fornecedores, órgãos de defesa do consumidor e sindicatos. Do lado dos consumidores, há o risco de que a megafusão encareça produtos nas prateleiras. Os trabalhadores estão preocupados com o corte de funcionários nas duas redes e a indústria teme perder o poder de barganha nas negociações. Ontem o assunto dominou a pauta entre compradores e vendedores do varejo, que tentavam prever as consequências do negócio para a indústria e para os concorrentes. "Todos os fornecedores já estão de cabelo em pé. Há uma clara preocupação com o poder de pressão que esse mega varejista poderá exercer", diz uma fonte do setor de alimentos que preferiu não se identificar. O diretor executivo da Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic), Nathan Herszkowicz, acredita que, com a megafusão, os contratos comerciais serão cada vez mais difíceis de serem cumpridos pelos fornecedores. "O que se teme é o efeito de desigualdade de negociação, fazendo com que principalmente pequenas e médias empresas se tornem inviáveis como fornecedoras das grandes redes. " As negociações do setor com os varejistas, segundo Herszkowicz, já são complicadas. "Os contratos apresentam diversos níveis de exigências." Um exemplo disso é o chamado "enxoval" - mercadorias fornecidas gratuitamente para a inauguração de novas lojas. "Os grandes compradores vão espremer quem tem menos força", diz o professor da Fundação Getúlio Vargas e ex-conselheiro do Cade, Arthur Barrionuevo.
quinta-feira, 30 de junho de 2011
País usa agrotóxicos proibidos no exterior
País usa agrotóxicos proibidos no exterior
Representantes de 75 países determinaram a restrição ao comércio de três agrotóxicos associados a prejuízos provocados à saúde. No momento, os três ainda são usados no Brasil. Com a decisão, adotada na reunião da Convenção de Roterdã, na semana passada, esses pesticidas – usados em lavouras de café e soja, por exemplo – passam a ser considerados “severamente perigosos”.A partir de outubro, os agrotóxicos terão de ser submetidos a regras rígidas para a venda. Dois deles (endossulfam e aldicarbe) estão em processo de retirada no Brasil. E o terceiro (alacloro) ainda está sendo avaliado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).Ratificada pelo Brasil em 2004, a Convenção de Roterdã regula o comércio internacional de produtos químicos perigosos. Na semana passada, nações também discutiram a proposta de uso controlado e do banimento do amianto de crisotila, mas não chegaram a um acordo.Para haver uma decisão, é preciso consenso entre todos os participantes.A posição do Brasil foi criticada: a delegação optou pela neutralidade, considerada uma aposta na falta de acordo. Para ativistas na luta contra banimento do produto, classificado com cancerígeno, o País perdeu uma oportunidade histórica. De quebra, recebeu o prêmio ‘Culpado por Provocar Câncer’, promovido por uma organização não governamental. Em relação aos agrotóxicos, o Brasil defendeu a restrição ao comércio.Com a mudança, rótulos dos agrotóxicos terão de apresentar informações claras sobre os perigos de seu uso à saúde. “Os países precisam saber e assumir os riscos a que estão expostos quando comercializam esses produtos”, avalia o gerente-geral de toxicologia da Anvisa, Luiz Cláudio Meirelles.O comércio do endossulfam será banido a partir de 2013. A retirada programada do produto foi determinada pela Anvisa em 2010. O aldicarbe (conhecido por seu uso irregular na formulação do ‘chumbinho’) teve seu uso restringido pela agência e, em dezembro, a fabricante decidiu suspender sua venda. “Esse agrotóxico deverá permanecer no mercado ainda este ano, quando o estoque deve se esgotar”, explica Meirelles. No caso do alacloro, em fase de revisão pela Anvisa, a expectativa é de que seja feita a determinação para a retirada do produto do mercado.Análise difícilA avaliação da segurança de agrotóxicos no Brasil é feita com dificuldade pelo governo. Em 2000 foi criado pela Anvisa um sistema de avaliação, mas desde então poucas substâncias foram banidas. A lentidão é resultado de divergências dentro do próprio governo, pressões políticas e, principalmente, por ações na Justiça.Além da Anvisa, participam da análise das reavaliações o Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e o Ministério da Agricultura. Em 2008, uma lista de reavaliação foi feita, com 14 produtos, mas apenas 6 foram avaliados e, desses, 4 estão sob análise na Justiça. “A análise do processo em si não é demorada. Mas é preciso aguardar todo o processo judicial, o que é bastante trabalhoso”, afirma Meirelles.
Representantes de 75 países determinaram a restrição ao comércio de três agrotóxicos associados a prejuízos provocados à saúde. No momento, os três ainda são usados no Brasil. Com a decisão, adotada na reunião da Convenção de Roterdã, na semana passada, esses pesticidas – usados em lavouras de café e soja, por exemplo – passam a ser considerados “severamente perigosos”.A partir de outubro, os agrotóxicos terão de ser submetidos a regras rígidas para a venda. Dois deles (endossulfam e aldicarbe) estão em processo de retirada no Brasil. E o terceiro (alacloro) ainda está sendo avaliado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).Ratificada pelo Brasil em 2004, a Convenção de Roterdã regula o comércio internacional de produtos químicos perigosos. Na semana passada, nações também discutiram a proposta de uso controlado e do banimento do amianto de crisotila, mas não chegaram a um acordo.Para haver uma decisão, é preciso consenso entre todos os participantes.A posição do Brasil foi criticada: a delegação optou pela neutralidade, considerada uma aposta na falta de acordo. Para ativistas na luta contra banimento do produto, classificado com cancerígeno, o País perdeu uma oportunidade histórica. De quebra, recebeu o prêmio ‘Culpado por Provocar Câncer’, promovido por uma organização não governamental. Em relação aos agrotóxicos, o Brasil defendeu a restrição ao comércio.Com a mudança, rótulos dos agrotóxicos terão de apresentar informações claras sobre os perigos de seu uso à saúde. “Os países precisam saber e assumir os riscos a que estão expostos quando comercializam esses produtos”, avalia o gerente-geral de toxicologia da Anvisa, Luiz Cláudio Meirelles.O comércio do endossulfam será banido a partir de 2013. A retirada programada do produto foi determinada pela Anvisa em 2010. O aldicarbe (conhecido por seu uso irregular na formulação do ‘chumbinho’) teve seu uso restringido pela agência e, em dezembro, a fabricante decidiu suspender sua venda. “Esse agrotóxico deverá permanecer no mercado ainda este ano, quando o estoque deve se esgotar”, explica Meirelles. No caso do alacloro, em fase de revisão pela Anvisa, a expectativa é de que seja feita a determinação para a retirada do produto do mercado.Análise difícilA avaliação da segurança de agrotóxicos no Brasil é feita com dificuldade pelo governo. Em 2000 foi criado pela Anvisa um sistema de avaliação, mas desde então poucas substâncias foram banidas. A lentidão é resultado de divergências dentro do próprio governo, pressões políticas e, principalmente, por ações na Justiça.Além da Anvisa, participam da análise das reavaliações o Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e o Ministério da Agricultura. Em 2008, uma lista de reavaliação foi feita, com 14 produtos, mas apenas 6 foram avaliados e, desses, 4 estão sob análise na Justiça. “A análise do processo em si não é demorada. Mas é preciso aguardar todo o processo judicial, o que é bastante trabalhoso”, afirma Meirelles.
Decisão grega reforça apetite por ativos de risco no mundo
Decisão grega reforça apetite por ativos de risco no mundo
Os ativos de risco retomaram ontem sua marcha de alta depois de uma breve pausa, como reação à vitória parlamentar do governo grego. Antes da decisão, os mercados computavam nos preços a aprovação das medidas de austeridade fiscal. Assim, num primeiro momento, uma onda de realização de lucros derrubou as ações globais, o euro e os rendimentos dos principais bônus governamentais na metade da tarde, enquanto os investidores digeriam as notícias que vinham de Atenas.Mas depois os negócios de risco foram retomados com vingança, com as ações ficando um pouco abaixo do melhor desempenho em mais de dois meses e o euro voltando ao patamar de US$ 1,44.Simon Smith da FxPro afirmou: "A movimentação dos preços antes do resultado antecipou em grande parte um resultado positivo e o euro já é um dos ativos de melhor desempenho na semana até agora".Os preços do petróleo subiram mais de US$ 3 o barril e lideraram os ganhos entre as commodities, depois que o fornecimento de óleo bruto caiu mais que o esperado nos Estados Unidos na semana passada.A votação abriu caminho para a Grécia receber mais dinheiro da União Europeia (UE) e do Fundo Monetário Internacional (FMI), mas analistas alertaram para os perigos de se "jogar para frente" a resolução dos problemas do país.Smith disse: "A coisa parece uma vitória vazia. A Grécia aprovou mais medidas de austeridade que, com toda probabilidade continuarão esmagando a economia, enquanto a carga do endividamento continua aumentando. A proposta de reestruturação voluntária da dívida não parece ser a panaceia que muitos acreditam ser, porque trata-se de uma rolagem que reduzirá a carga de juros, mas não vai impor um corte na dívida pendente".Outros especialistas observaram que os movimentos dos preços nos últimos dias mostram que os mercados estão sinalizando um aumento do perigo de Portugal e Irlanda serem sugados para um drama de reestruturação de suas dívidas.Simon Derrick do Bank of New York Mellon disse: "Embora a diferença entre os rendimentos dos títulos gregos e alemães tenha diminuído modestamente nos últimos dias, os spreads equivalentes para as dívidas da Irlanda e de Portugal continuam aumentando bastante".Divyang Shah, da IFR Markets, disse: "É difícil argumentar com os preços do mercado se movimentando tanto que há uma tendência em direção a uma maior preocupação com Portugal em comparação a Irlanda. Dada a natureza 'voluntária' da participação do setor privado no problema da Grécia, faria sentido para os bancos e instituições financeiras correr para a porta de saída agora (em relação a Portugal e a Irlanda) - na próxima vez, as coisas poderão ser um pouco menos 'voluntárias'".Nos mercados de câmbio, o euro subiu 0,4% ontem para US$ 1,4422, alcançando o maior nível em uma semana imediatamente após a votação do parlamento grego. As atenções sobre os acontecimentos em Atenas permitiram à moeda única europeia ignorar uma importante leitura sobre a confiança do consumidor no relatório sobre as perspectivas econômicas para a zona do euro, que em junho atingiu o nível mais baixo em sete meses.Jennifer McKeown da Capital Economics disse: "Vemos uma redução acentuada do crescimento do PIB da zona do euro nos próximos trimestres, na medida em que a fraqueza persistente da Grécia e da Espanha será acompanhada por uma desaceleração em outros países".No mercado de bônus soberanos, houve ontem uma pausa para os títulos de dívidas das economias periféricas do euro. O rendimento dos bônus de 10 anos do governo grego caiu 20 pontos-base, para 15,91%, ao mesmo tempo em que houve também um certo alívio para os bônus referenciais irlandeses e italianos, cujos rendimentos diminuíram 13 pontos-base para 11,47% e 4 pontos-base para 4,94%, respectivamente.Os rendimentos dos Bunds de 10 anos aumentaram 3 pontos-base para 2,99%, enquanto o rendimento dos títulos do Tesouro dos Estados Unidos subiu 4 pontos-base para 3,08%, antes de um leilão de US$ 29 bilhões em títulos de 7 anos.Nos mercados de commodities, os ganhos no petróleo bruto do tipo Brent permitiram que ele recuperasse todas as perdas pelo choque provocado pela divulgação, pela Agência Internacional de Energia, das reservas estratégicas na quinta-feira.
Os ativos de risco retomaram ontem sua marcha de alta depois de uma breve pausa, como reação à vitória parlamentar do governo grego. Antes da decisão, os mercados computavam nos preços a aprovação das medidas de austeridade fiscal. Assim, num primeiro momento, uma onda de realização de lucros derrubou as ações globais, o euro e os rendimentos dos principais bônus governamentais na metade da tarde, enquanto os investidores digeriam as notícias que vinham de Atenas.Mas depois os negócios de risco foram retomados com vingança, com as ações ficando um pouco abaixo do melhor desempenho em mais de dois meses e o euro voltando ao patamar de US$ 1,44.Simon Smith da FxPro afirmou: "A movimentação dos preços antes do resultado antecipou em grande parte um resultado positivo e o euro já é um dos ativos de melhor desempenho na semana até agora".Os preços do petróleo subiram mais de US$ 3 o barril e lideraram os ganhos entre as commodities, depois que o fornecimento de óleo bruto caiu mais que o esperado nos Estados Unidos na semana passada.A votação abriu caminho para a Grécia receber mais dinheiro da União Europeia (UE) e do Fundo Monetário Internacional (FMI), mas analistas alertaram para os perigos de se "jogar para frente" a resolução dos problemas do país.Smith disse: "A coisa parece uma vitória vazia. A Grécia aprovou mais medidas de austeridade que, com toda probabilidade continuarão esmagando a economia, enquanto a carga do endividamento continua aumentando. A proposta de reestruturação voluntária da dívida não parece ser a panaceia que muitos acreditam ser, porque trata-se de uma rolagem que reduzirá a carga de juros, mas não vai impor um corte na dívida pendente".Outros especialistas observaram que os movimentos dos preços nos últimos dias mostram que os mercados estão sinalizando um aumento do perigo de Portugal e Irlanda serem sugados para um drama de reestruturação de suas dívidas.Simon Derrick do Bank of New York Mellon disse: "Embora a diferença entre os rendimentos dos títulos gregos e alemães tenha diminuído modestamente nos últimos dias, os spreads equivalentes para as dívidas da Irlanda e de Portugal continuam aumentando bastante".Divyang Shah, da IFR Markets, disse: "É difícil argumentar com os preços do mercado se movimentando tanto que há uma tendência em direção a uma maior preocupação com Portugal em comparação a Irlanda. Dada a natureza 'voluntária' da participação do setor privado no problema da Grécia, faria sentido para os bancos e instituições financeiras correr para a porta de saída agora (em relação a Portugal e a Irlanda) - na próxima vez, as coisas poderão ser um pouco menos 'voluntárias'".Nos mercados de câmbio, o euro subiu 0,4% ontem para US$ 1,4422, alcançando o maior nível em uma semana imediatamente após a votação do parlamento grego. As atenções sobre os acontecimentos em Atenas permitiram à moeda única europeia ignorar uma importante leitura sobre a confiança do consumidor no relatório sobre as perspectivas econômicas para a zona do euro, que em junho atingiu o nível mais baixo em sete meses.Jennifer McKeown da Capital Economics disse: "Vemos uma redução acentuada do crescimento do PIB da zona do euro nos próximos trimestres, na medida em que a fraqueza persistente da Grécia e da Espanha será acompanhada por uma desaceleração em outros países".No mercado de bônus soberanos, houve ontem uma pausa para os títulos de dívidas das economias periféricas do euro. O rendimento dos bônus de 10 anos do governo grego caiu 20 pontos-base, para 15,91%, ao mesmo tempo em que houve também um certo alívio para os bônus referenciais irlandeses e italianos, cujos rendimentos diminuíram 13 pontos-base para 11,47% e 4 pontos-base para 4,94%, respectivamente.Os rendimentos dos Bunds de 10 anos aumentaram 3 pontos-base para 2,99%, enquanto o rendimento dos títulos do Tesouro dos Estados Unidos subiu 4 pontos-base para 3,08%, antes de um leilão de US$ 29 bilhões em títulos de 7 anos.Nos mercados de commodities, os ganhos no petróleo bruto do tipo Brent permitiram que ele recuperasse todas as perdas pelo choque provocado pela divulgação, pela Agência Internacional de Energia, das reservas estratégicas na quinta-feira.
O que está acontecendo com os EUA?
O que está acontecendo com os EUA?
A economia dos Estados Unidos desacelerou-se de forma drástica recentemente e, a cada nova rodada de dados, aumenta a probabilidade de um outro período de baixa atividade econômica. É uma mudança acentuada em relação à situação da economia no fim de 2010 - e representa a volta a um ritmo frágil de expansão, depois do início da recuperação, desencadeada no terceiro trimestre de 2009.O crescimento econômico dos EUA durante os três primeiros trimestres de 2010 não foi apenas lento, mas também dominado pelo acúmulo de estoques, em vez das vendas para consumidores ou outras formas de venda final. O último trimestre de 2010 trouxe mudanças bem-vindas, com ritmo de alta anual de 4% no consumo, o suficiente para elevar o Produto Interno Bruto (PIB) total real em 3,1% em comparação ao terceiro trimestre. A economia parecia ter escapado de sua dependência em relação ao acúmulo de estoques.Esse desempenho favorável levou autoridades do governo e analistas privados a prever continuidade do forte crescimento em 2011, com os aumentos na produção, emprego e renda levando a mais gastos dos consumidores e a uma recuperação autossustentável. Foi aprovada redução de dois pontos percentuais no imposto de renda, por um ano, para garantir essas perspectivas favoráveis.Infelizmente, a recuperação projetada no consumo não ocorreu. A alta nos preços dos alimentos e fontes de energia superou o ganho dos salários nominais e os salários semanais médios reais caíram em janeiro, enquanto a continuidade no declínio dos preços residenciais corroeu o patrimônio da maioria das famílias. Como resultado, os gastos reais dos consumidores apresentaram alta anual em torno de apenas 1% em janeiro, bem abaixo dos 4% do quarto trimestre. O padrão de alta nos preços e de declínio nos salários reais repetiu-se em fevereiro e março, com a alta acentuada no índice de preços ao consumidor levando a uma queda superior a 5% no salário semanal médio real. Não é de surpreender que pesquisas sobre o otimismo do consumidor tenham desabado e os gastos dos consumidores, ficado quase estagnados de um mês a outro.As hipotecas nos EUA são, de fato, créditos garantidos apenas pelo bem hipotecado. Como resultado, 10% das hipotecas agora estão inadimplentes ou em execução, criando um excesso de propriedades que terão de ser vendidas a preços cada vez menores.O recuo nos preços residenciais pressionou para baixo as vendas de casas, tanto novas como usadas. Isso, por sua vez, provocou um declínio drástico tanto no volume de residências em construção como nas obras sendo iniciadas. Esses declínios provavelmente continuarão, porque quase 30% das casas com hipotecas valem menos do que a hipoteca. Isso cria fortes incentivos à inadimplência, porque as hipotecas nos EUA são, de fato, créditos garantidos apenas pelo bem hipotecado: o credor pode tomar a propriedade se o captador não pagar, mas não pode tomar outros bens ou uma parte de seu salário. Como resultado, 10% das hipotecas agora estão inadimplentes ou em execução, criando um excesso de propriedades que terão de ser vendidas a preços cada vez menores.As empresas reagiram de forma negativa à fragilidade na demanda das famílias, com os índices de atividade dos setores de serviços e indústria elaborados pelo Instituto de Gestão de Fornecimento (ISM, na sigla em inglês) recuando. Embora as grandes empresas continuem com caixa bastante substancial em seus balanços patrimoniais, seu fluxo de caixa com operações correntes caiu no primeiro trimestre. O mais recente indicador de encomendas de bens de capital não militares apontou declínio nos investimentos empresariais.O padrão de fragilidade acelerou-se em abril e maio. O aumento relativamente forte nas folhas de pagamento visto entre janeiro e abril foi interrompido em maio, quando foram criados apenas 54 mil novos empregos, cerca de 30% do crescimento médio dos quatro primeiros meses. Como resultado, o índice de desemprego subiu para 9,1% da força de trabalho.O mercado de bônus e os preços das ações reagiram a todas essas más notícias de forma previsível. As taxas de juros dos bônus governamentais de dez anos caíram para 3% e o mercado acionário recuou por seis semanas consecutivas, maior sequência negativa desde 2002, com desvalorização acumulada superior a 6%. As cotações menores das ações, por sua vez, agora terão efeito negativo no consumo e investimento das empresas.Não se pode esperar que as políticas fiscais e monetárias revertam a situação. O Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA) se aterá à sua política de manter as taxas de juros de um dia próximas a zero; mas, tendo em vista o medo de bolhas no preço dos ativos, não reverterá a decisão de acabar com a política de compra de bônus do Tesouro americano - a chamada "flexibilização quantitativa" - no fim de junho.Além disso, a política fiscal na verdade será contracionista nos próximos meses. O programa de estímulos fiscais aprovado em 2009 está chegando ao fim, com os gastos em estímulos caindo de US$ 400 bilhões em 2010 para apenas US$ 137 bilhões neste ano. Também há negociações em andamento para reduzir os gastos ainda mais e elevar os impostos, de forma a reduzir os déficits fiscais projetados para 2011 e os anos seguintes.Portanto, o panorama de curto prazo para a economia dos EUA ainda é, na melhor hipótese, frágil. Mudanças fundamentais de política provavelmente terão de esperar até depois das eleições presidenciais e parlamentares de novembro de 2012.Martin Feldstein é professor de economia em Harvard, foi presidente do Conselho de Assessores Econômicos do ex-presidente dos Estados Unidos Ronald Reagan e foi presidente do Gabinete Nacional de Análises Econômicas dos EUA.
A economia dos Estados Unidos desacelerou-se de forma drástica recentemente e, a cada nova rodada de dados, aumenta a probabilidade de um outro período de baixa atividade econômica. É uma mudança acentuada em relação à situação da economia no fim de 2010 - e representa a volta a um ritmo frágil de expansão, depois do início da recuperação, desencadeada no terceiro trimestre de 2009.O crescimento econômico dos EUA durante os três primeiros trimestres de 2010 não foi apenas lento, mas também dominado pelo acúmulo de estoques, em vez das vendas para consumidores ou outras formas de venda final. O último trimestre de 2010 trouxe mudanças bem-vindas, com ritmo de alta anual de 4% no consumo, o suficiente para elevar o Produto Interno Bruto (PIB) total real em 3,1% em comparação ao terceiro trimestre. A economia parecia ter escapado de sua dependência em relação ao acúmulo de estoques.Esse desempenho favorável levou autoridades do governo e analistas privados a prever continuidade do forte crescimento em 2011, com os aumentos na produção, emprego e renda levando a mais gastos dos consumidores e a uma recuperação autossustentável. Foi aprovada redução de dois pontos percentuais no imposto de renda, por um ano, para garantir essas perspectivas favoráveis.Infelizmente, a recuperação projetada no consumo não ocorreu. A alta nos preços dos alimentos e fontes de energia superou o ganho dos salários nominais e os salários semanais médios reais caíram em janeiro, enquanto a continuidade no declínio dos preços residenciais corroeu o patrimônio da maioria das famílias. Como resultado, os gastos reais dos consumidores apresentaram alta anual em torno de apenas 1% em janeiro, bem abaixo dos 4% do quarto trimestre. O padrão de alta nos preços e de declínio nos salários reais repetiu-se em fevereiro e março, com a alta acentuada no índice de preços ao consumidor levando a uma queda superior a 5% no salário semanal médio real. Não é de surpreender que pesquisas sobre o otimismo do consumidor tenham desabado e os gastos dos consumidores, ficado quase estagnados de um mês a outro.As hipotecas nos EUA são, de fato, créditos garantidos apenas pelo bem hipotecado. Como resultado, 10% das hipotecas agora estão inadimplentes ou em execução, criando um excesso de propriedades que terão de ser vendidas a preços cada vez menores.O recuo nos preços residenciais pressionou para baixo as vendas de casas, tanto novas como usadas. Isso, por sua vez, provocou um declínio drástico tanto no volume de residências em construção como nas obras sendo iniciadas. Esses declínios provavelmente continuarão, porque quase 30% das casas com hipotecas valem menos do que a hipoteca. Isso cria fortes incentivos à inadimplência, porque as hipotecas nos EUA são, de fato, créditos garantidos apenas pelo bem hipotecado: o credor pode tomar a propriedade se o captador não pagar, mas não pode tomar outros bens ou uma parte de seu salário. Como resultado, 10% das hipotecas agora estão inadimplentes ou em execução, criando um excesso de propriedades que terão de ser vendidas a preços cada vez menores.As empresas reagiram de forma negativa à fragilidade na demanda das famílias, com os índices de atividade dos setores de serviços e indústria elaborados pelo Instituto de Gestão de Fornecimento (ISM, na sigla em inglês) recuando. Embora as grandes empresas continuem com caixa bastante substancial em seus balanços patrimoniais, seu fluxo de caixa com operações correntes caiu no primeiro trimestre. O mais recente indicador de encomendas de bens de capital não militares apontou declínio nos investimentos empresariais.O padrão de fragilidade acelerou-se em abril e maio. O aumento relativamente forte nas folhas de pagamento visto entre janeiro e abril foi interrompido em maio, quando foram criados apenas 54 mil novos empregos, cerca de 30% do crescimento médio dos quatro primeiros meses. Como resultado, o índice de desemprego subiu para 9,1% da força de trabalho.O mercado de bônus e os preços das ações reagiram a todas essas más notícias de forma previsível. As taxas de juros dos bônus governamentais de dez anos caíram para 3% e o mercado acionário recuou por seis semanas consecutivas, maior sequência negativa desde 2002, com desvalorização acumulada superior a 6%. As cotações menores das ações, por sua vez, agora terão efeito negativo no consumo e investimento das empresas.Não se pode esperar que as políticas fiscais e monetárias revertam a situação. O Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA) se aterá à sua política de manter as taxas de juros de um dia próximas a zero; mas, tendo em vista o medo de bolhas no preço dos ativos, não reverterá a decisão de acabar com a política de compra de bônus do Tesouro americano - a chamada "flexibilização quantitativa" - no fim de junho.Além disso, a política fiscal na verdade será contracionista nos próximos meses. O programa de estímulos fiscais aprovado em 2009 está chegando ao fim, com os gastos em estímulos caindo de US$ 400 bilhões em 2010 para apenas US$ 137 bilhões neste ano. Também há negociações em andamento para reduzir os gastos ainda mais e elevar os impostos, de forma a reduzir os déficits fiscais projetados para 2011 e os anos seguintes.Portanto, o panorama de curto prazo para a economia dos EUA ainda é, na melhor hipótese, frágil. Mudanças fundamentais de política provavelmente terão de esperar até depois das eleições presidenciais e parlamentares de novembro de 2012.Martin Feldstein é professor de economia em Harvard, foi presidente do Conselho de Assessores Econômicos do ex-presidente dos Estados Unidos Ronald Reagan e foi presidente do Gabinete Nacional de Análises Econômicas dos EUA.
Recuperação dos EUA depende de gasto público"
Recuperação dos EUA depende de gasto público"
O que o Japão da década de 1990 tem a ensinar aos Estados Unidos e à Europa de hoje? Para Richard Koo, economista-chefe do Nomura Research Institute, do banco Nomura, americanos e europeus estão vivendo o mesmo desafio econômico que japoneses enfrentaram na última década do século passado. Para encará-lo, políticas monetárias tradicionais já não servem. A única maneira de estimular a retomada dos investimentos nessas economias, em sua opinião, é a ampliação dos gastos estatais e de estímulos fiscais ao setor privado - instrumentos adotados pelo governo japonês para superar a recessão.Em entrevista ao Valor em São Paulo, onde participou de um fórum do banco, Koo diz que o Japão enfrentou uma bolha financeira em 1990, principalmente de papéis ligados ao setor imobiliário. Logo após seu estouro, o setor privado simplesmente parou de tomar novos empréstimos e passou a se preocupar em pagar dívidas que carregava da década de 80, época de forte prosperidade. "Por isso, não adiantava mais abaixar a taxa de juros para níveis próximos de zero. Havia liquidez no mercado, crédito abundante, mas as empresas simplesmente pararam de tomar empréstimos. Estavam traumatizadas com dívidas antigas e temerosas de fazer novas." Para denominar todo esse contexto, Koo criou o termo "recessão de balanços de pagamentos" (ou balance sheet recession, em inglês).Para Koo, se a política monetária americana continuar baseada em uma taxa de juros próxima a zero, não haverá resposta dinâmica por parte do setor privado. "Os juros por lá caíram para próximo de zero há dois anos e meio, e ainda assim não vemos melhoras claras". Sobre as medidas de injeção de liquidez na economia por parte do Fed, ele considera que muito desse dinheiro continua retido no próprio sistema financeiro - e o mesmo é válido para países europeus como Espanha, Irlanda e Reino Unido."Para tratar essa nova doença, é necessário muito estímulo fiscal e um governo que empresta e gasta, mas essa é uma medida muito impopular. Foi assim que o governo japonês conseguiu manter um padrão no Produto Interno Bruto (PIB) sem deixá-lo despencar totalmente", diz. No Brasil, ele não reconhece um cenário do mesmo tipo, já que o país não passou pelo estouro de uma bolha financeira e, portanto, o Estado não deve assumir a mesma postura. "Mas se o passar por uma bolha parecida, enfrentará as mesmas dificuldades."Quando perguntado sobre as chances desse estouro acontecer por aqui, Koo dá uma breve e discreta risada, para de falar por alguns segundos e solta: "Bem, estou aqui como um representante do Nomura, e talvez seja a hora de parar de falar." Do começo de sua carreira, na década de 80 - quando era funcionário no Fed de Nova York - Koo conta que pôde acompanhar de perto as turbulências econômico-financeiras nos países latinos, e que aprendeu na época que "é muito importante para quem concede o crédito saber muito bem o que está sendo feito com o dinheiro emprestado." O mesmo é válido para investidores de um modo geral."Muitas vezes, o credor ou investidor não tem a mínima ideia de como é a estrutura financeira e bancária do lugar para onde está indo o dinheiro. Quando ele chega é ótimo, o preço de ações sobe, há uma euforia econômica. Mas se algo der errado, todos entram em pânico. E é basicamente esse tipo de dinheiro que tem ido em busca dos mercados emergentes como o Brasil."
O que o Japão da década de 1990 tem a ensinar aos Estados Unidos e à Europa de hoje? Para Richard Koo, economista-chefe do Nomura Research Institute, do banco Nomura, americanos e europeus estão vivendo o mesmo desafio econômico que japoneses enfrentaram na última década do século passado. Para encará-lo, políticas monetárias tradicionais já não servem. A única maneira de estimular a retomada dos investimentos nessas economias, em sua opinião, é a ampliação dos gastos estatais e de estímulos fiscais ao setor privado - instrumentos adotados pelo governo japonês para superar a recessão.Em entrevista ao Valor em São Paulo, onde participou de um fórum do banco, Koo diz que o Japão enfrentou uma bolha financeira em 1990, principalmente de papéis ligados ao setor imobiliário. Logo após seu estouro, o setor privado simplesmente parou de tomar novos empréstimos e passou a se preocupar em pagar dívidas que carregava da década de 80, época de forte prosperidade. "Por isso, não adiantava mais abaixar a taxa de juros para níveis próximos de zero. Havia liquidez no mercado, crédito abundante, mas as empresas simplesmente pararam de tomar empréstimos. Estavam traumatizadas com dívidas antigas e temerosas de fazer novas." Para denominar todo esse contexto, Koo criou o termo "recessão de balanços de pagamentos" (ou balance sheet recession, em inglês).Para Koo, se a política monetária americana continuar baseada em uma taxa de juros próxima a zero, não haverá resposta dinâmica por parte do setor privado. "Os juros por lá caíram para próximo de zero há dois anos e meio, e ainda assim não vemos melhoras claras". Sobre as medidas de injeção de liquidez na economia por parte do Fed, ele considera que muito desse dinheiro continua retido no próprio sistema financeiro - e o mesmo é válido para países europeus como Espanha, Irlanda e Reino Unido."Para tratar essa nova doença, é necessário muito estímulo fiscal e um governo que empresta e gasta, mas essa é uma medida muito impopular. Foi assim que o governo japonês conseguiu manter um padrão no Produto Interno Bruto (PIB) sem deixá-lo despencar totalmente", diz. No Brasil, ele não reconhece um cenário do mesmo tipo, já que o país não passou pelo estouro de uma bolha financeira e, portanto, o Estado não deve assumir a mesma postura. "Mas se o passar por uma bolha parecida, enfrentará as mesmas dificuldades."Quando perguntado sobre as chances desse estouro acontecer por aqui, Koo dá uma breve e discreta risada, para de falar por alguns segundos e solta: "Bem, estou aqui como um representante do Nomura, e talvez seja a hora de parar de falar." Do começo de sua carreira, na década de 80 - quando era funcionário no Fed de Nova York - Koo conta que pôde acompanhar de perto as turbulências econômico-financeiras nos países latinos, e que aprendeu na época que "é muito importante para quem concede o crédito saber muito bem o que está sendo feito com o dinheiro emprestado." O mesmo é válido para investidores de um modo geral."Muitas vezes, o credor ou investidor não tem a mínima ideia de como é a estrutura financeira e bancária do lugar para onde está indo o dinheiro. Quando ele chega é ótimo, o preço de ações sobe, há uma euforia econômica. Mas se algo der errado, todos entram em pânico. E é basicamente esse tipo de dinheiro que tem ido em busca dos mercados emergentes como o Brasil."
Com aposta de US$ 21 bi, `vendido` manda no câmbio
Com aposta de US$ 21 bi, `vendido` manda no câmbio
Junho acaba e salvo algum desastre nesta quinta-feira, os "vendidos" (que apostaram na baixa) foram os grandes ganhadores no mercado de câmbio. O dólar, que chegou a ser cotado acima de R$ 1,60, fechou, ontem, na linha de R$ 1,57, voltando a se aproximar das mínimas do anoNa Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F), os estrangeiros voltaram a ampliar a posição vendida, que atingiu novo recorde, a US$ 21,314 bilhões, ao fim do pregão. Cabe ressaltar que mesmo com todas as incertezas que pontuaram o mês, essa posição nunca foi menor que US$ 18,8 bilhões.Com tamanha aposta na valorização do real se deu bem quem viu todo o movimento de alta do dólar, como firme oportunidade de venda. A melhor janela surgiu no fim da semana passada, quando o preço testou a linha de R$ 1,60.Taxa Ptax terá novo modo de cálculo já na sexta-feiraAlém da natural e conhecida disposição dos vendidos em defender suas posições, a movimentação desses agentes contou com uma melhora de percepção externa, conforme os agentes passaram a acreditar na aprovação de medidas de austeridade pelo parlamento grego. Algo que se confirmou na manhã de quarta-feira. Com isso, a possibilidade de se observar o primeiro default da zona do euro saiu do radar, ao menos no curto prazo. Mas não será surpresa se já em agosto a Grécia voltar a apresentar dificuldades, ou se nesse meio tempo algum dos outros Piigs (Portugal, Itália, Irlanda, Grécia e Espanha) cair em descrédito. De volta ao mercado local, o derradeiro dia da Ptax como se conhece é hoje. Nesta quinta-feira, será a última vez que a taxa utilizada na liquidação de contratos futuros e outros compromissos cambiais será aferida como média das cotações ponderada pelo volume. A nova fórmula de cálculo será uma média aritmética de quatro consultas que o Banco Central (BC) fará junto ao mercado entre 10 horas e 13 horas. Com esse novo método se pretende uma formação de Ptax mais transparente e menos passível de manipulação por parte dos agentes. Se isso vai funcionar, só saberemos com certeza na passagem de julho para agostos, tendo em vista que é o no fim do mês que a batalha pela Ptax se acirra, descolando o câmbio de fundamentos domésticos e externos.Nas posições na BM&F, os bancos apresentavam estoque comprado de US$ 15,599 bilhões. Esse agentes, no entanto, têm outras formas de exposição cambial, como mercado à vista (onde estão vendidos em US$ 13,69 bilhões) e derivativos de balcão. Por isso, não se sabe a exposição cambial líquida das instituições.Ainda na BM&F, as pessoas jurídicas não financeiras mostraram firme compra de dólar futuro nos últimos dias. A posição comprada saiu de US$ 62 milhões na sexta-feira para US$ 882 milhões na terça-feira. Tal movimentação pode ser atribuída a empresas fazendo ajustes na sua exposição cambial antes do fechamento de balanços do trimestre e do semestre. Compra-se um contrato de dólar futuro que serve de contrapartida a alguma exposição. Essa posição "protegida" aparece na "fotografia" que é o dia 30 de junho para o balanço. Como esse contrato de dólar já terá cumprido o seu papel, "morre" no vencimento do mesmo dia. No mercado de juros futuros, o Relatório Trimestral de Inflação não colocou ninguém para correr. O sinal extraído do documento é de que o ajuste de alta na Selic pode ser estendido para além do encontro de julho. No entanto, a curva futura de juros não mostrou grande alteração. A estrutura a termo embute uma alta de 0,25 ponto na Selic em julho, mas ainda não incorpora completamente um novo aperto em agosto.Para parte do mercado, isso é reflexo da falta de novidades no Relatório de Inflação, ou seja, melhor esperar mais dados antes de fechar a aposta.Para um economista, a questão é um pouco mais complexa. Apesar da melhora da comunicação do BC, o mercado ainda desconfia do espaço de manobra que a autoridade monetária tem para implementar a sua política livremente."O mercado interpreta que o BC gostaria até de ir além da reunião de agosto no aumento dos juros. Mas será que ele terá espaço para isso? Com isso, os participantes vão ajustando a sua expectativa de reunião em reunião de modo que a parte curta da curva perdeu toda a graça", disse.No relatório do BC, dois boxes chamaram a atenção. O primeiro mostrou que os salários sobem acima da produtividade, algo claramente inflacionário. O segundo tratou das medidas prudenciais e parece que serviu para acabar com qualquer dúvida quanto ao seu uso e função. São medidas preventivas, voltadas a conter riscos no mercado de crédito. De forma alguma substitutas à tradicional alta dos juros.Eduardo Campos é repórter do Valor
Junho acaba e salvo algum desastre nesta quinta-feira, os "vendidos" (que apostaram na baixa) foram os grandes ganhadores no mercado de câmbio. O dólar, que chegou a ser cotado acima de R$ 1,60, fechou, ontem, na linha de R$ 1,57, voltando a se aproximar das mínimas do anoNa Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F), os estrangeiros voltaram a ampliar a posição vendida, que atingiu novo recorde, a US$ 21,314 bilhões, ao fim do pregão. Cabe ressaltar que mesmo com todas as incertezas que pontuaram o mês, essa posição nunca foi menor que US$ 18,8 bilhões.Com tamanha aposta na valorização do real se deu bem quem viu todo o movimento de alta do dólar, como firme oportunidade de venda. A melhor janela surgiu no fim da semana passada, quando o preço testou a linha de R$ 1,60.Taxa Ptax terá novo modo de cálculo já na sexta-feiraAlém da natural e conhecida disposição dos vendidos em defender suas posições, a movimentação desses agentes contou com uma melhora de percepção externa, conforme os agentes passaram a acreditar na aprovação de medidas de austeridade pelo parlamento grego. Algo que se confirmou na manhã de quarta-feira. Com isso, a possibilidade de se observar o primeiro default da zona do euro saiu do radar, ao menos no curto prazo. Mas não será surpresa se já em agosto a Grécia voltar a apresentar dificuldades, ou se nesse meio tempo algum dos outros Piigs (Portugal, Itália, Irlanda, Grécia e Espanha) cair em descrédito. De volta ao mercado local, o derradeiro dia da Ptax como se conhece é hoje. Nesta quinta-feira, será a última vez que a taxa utilizada na liquidação de contratos futuros e outros compromissos cambiais será aferida como média das cotações ponderada pelo volume. A nova fórmula de cálculo será uma média aritmética de quatro consultas que o Banco Central (BC) fará junto ao mercado entre 10 horas e 13 horas. Com esse novo método se pretende uma formação de Ptax mais transparente e menos passível de manipulação por parte dos agentes. Se isso vai funcionar, só saberemos com certeza na passagem de julho para agostos, tendo em vista que é o no fim do mês que a batalha pela Ptax se acirra, descolando o câmbio de fundamentos domésticos e externos.Nas posições na BM&F, os bancos apresentavam estoque comprado de US$ 15,599 bilhões. Esse agentes, no entanto, têm outras formas de exposição cambial, como mercado à vista (onde estão vendidos em US$ 13,69 bilhões) e derivativos de balcão. Por isso, não se sabe a exposição cambial líquida das instituições.Ainda na BM&F, as pessoas jurídicas não financeiras mostraram firme compra de dólar futuro nos últimos dias. A posição comprada saiu de US$ 62 milhões na sexta-feira para US$ 882 milhões na terça-feira. Tal movimentação pode ser atribuída a empresas fazendo ajustes na sua exposição cambial antes do fechamento de balanços do trimestre e do semestre. Compra-se um contrato de dólar futuro que serve de contrapartida a alguma exposição. Essa posição "protegida" aparece na "fotografia" que é o dia 30 de junho para o balanço. Como esse contrato de dólar já terá cumprido o seu papel, "morre" no vencimento do mesmo dia. No mercado de juros futuros, o Relatório Trimestral de Inflação não colocou ninguém para correr. O sinal extraído do documento é de que o ajuste de alta na Selic pode ser estendido para além do encontro de julho. No entanto, a curva futura de juros não mostrou grande alteração. A estrutura a termo embute uma alta de 0,25 ponto na Selic em julho, mas ainda não incorpora completamente um novo aperto em agosto.Para parte do mercado, isso é reflexo da falta de novidades no Relatório de Inflação, ou seja, melhor esperar mais dados antes de fechar a aposta.Para um economista, a questão é um pouco mais complexa. Apesar da melhora da comunicação do BC, o mercado ainda desconfia do espaço de manobra que a autoridade monetária tem para implementar a sua política livremente."O mercado interpreta que o BC gostaria até de ir além da reunião de agosto no aumento dos juros. Mas será que ele terá espaço para isso? Com isso, os participantes vão ajustando a sua expectativa de reunião em reunião de modo que a parte curta da curva perdeu toda a graça", disse.No relatório do BC, dois boxes chamaram a atenção. O primeiro mostrou que os salários sobem acima da produtividade, algo claramente inflacionário. O segundo tratou das medidas prudenciais e parece que serviu para acabar com qualquer dúvida quanto ao seu uso e função. São medidas preventivas, voltadas a conter riscos no mercado de crédito. De forma alguma substitutas à tradicional alta dos juros.Eduardo Campos é repórter do Valor
Para todos os efeitos, Carrefour francês será controlador
Para todos os efeitos, Carrefour francês será controlador
A criação de uma multinacional verde-amarela do setor de varejo tem sido o principal argumento para defender que o BNDES coloque R$ 3,91 bilhões dos seus recursos no negócio que está sendo negociado entre Abilio Diniz, BTG Pactual e Carrefour.Embora a proposta preveja que gestão das duas redes de supermercados no Brasil fique a cargo de pessoas indicadas pelo Novo Pão de Açúcar (que terá como principais acionistas Casino, BNDES, Abilio e BTG), o controlador de fato das operações será o Carrefour da França.O que motiva esse desenho é uma premissa do padrão internacional de contabilidade IFRS, usado na Europa e no Brasil.Por essas regras, uma empresa só pode consolidar os números de uma investida se a primeira de fato controlar a segunda, independentemente da participação acionária detida. E é isso que deve ocorrer na transação em questão, com o Carrefour França na posição de controlador e a Companhia Brasileira de Distribuição (CBD, razão social do Pão de Açúcar) na condição de controlada, tendo, por sua vez, o Carrefour Brasil como subsidiária integral.O Pão de Açúcar já é maior que o Carrefour no Brasil e essa diferença seria acentuada com o aporte de R$ 3,91 bilhões do BNDES e R$ 690 milhões do BTG.Conforme a proposta, ao se combinar as duas empresas, a contribuição do Novo Pão de Açúcar (já incluindo o aporte de R$ 4,6 bilhões) equivaleria a 69% do valor econômico envolvido, enquanto as operações brasileiras do Carrefour representariam 31%. Esse arranjo não interessaria ao Carrefour na França, já que o IFRS não permite que, com uma participação minoritária, seja feita a consolidação das receitas da operação brasileira, nem mesmo de forma proporcional. Isso é importante porque a maior parte das comparações que se faz no setor é por volume de vendas.Assim, a proposta prevê um rebalanceamento da posição, com os acionistas do Novo Pão de Açúcar trocando 19% de participação na CBD por 11,4% das ações do Carrefour francês. Com a troca, NPA e Carrefour da França passariam a ter 50% cada um da CBD.Até 2012, uma fatia meio a meio garante a consolidação proporcional a cada uma das partes envolvidas. Mas a regra do IFRS sobre esse tema acaba de ser alterada e, a partir de 2013, isso não será mais permitido. Ou uma empresa controla a outra e consolida 100% ou não consolida nada, registrando o efeito apenas no lucro e patrimônio.Para desequilibrar o jogo e garantir o controle, seria firmado um acordo de acionistas pelo qual, a partir de 2013, um membro do conselho de administração do Carrefour da França teria "preponderância" em votação de matérias ligadas ao Brasil. A sacada é que esse membro será indicado pelo NPA. Casino compra o Pão de AçucarNo dia seguinte ao anúncio da proposta de combinação de Pão de Açúcar e Carrefour, as ações da varejista brasileira baterem recorde absoluto de volume negociado. Giraram quase R$ 1,7 bilhão, quatro vezes o movimento da Vale e cinco vezes o da Petrobras. Foi nada menos do que 25% do total negociado na BM&FBovespa ontem, ou o equivalente a 9,2% de todo o valor de mercado da companhia.Mas, no lugar de ser um aval dos investidores comemorando a potencial transação, a grande demanda veio do Casino, sócio e atual rival de Abilio Diniz no controle do Pão de Açúcar. Ontem à noite, a rede francesa informou ao Pão de Açúcar que comprou mais 6% do capital da empresa em bolsa, em ações preferenciais, nos últimos dias. Com isso, sua fatia na companhia subiu de 37% para 43%. Trata-se de um investimento de R$ 1,1 bilhão.Independentemente do que decidirá sobre a proposta de combinação com o Carrefour, o Casino está se preparando para a guerra, embora o discurso é de que tais aquisições - é o segundo grande investimento em bolsa, o outro foi de 3,7% do capital, com gasto da ordem de R$ 800 milhões - visam apenas comprovar seu comprometimento com o Pão de Açúcar e com o Brasil e o reforço de sua posição de controlador.Juntos, os dois movimentos elevaram a participação do Casino nas últimas duas semanas em 10%, aproximadamente, com um desembolso de quase R$ 2 bilhões.Com eles, a fatia do Casino no Novo Pão de Açúcar (NPA) - holding que dividiria o controle do Pão de Açúcar mais o Carrefour Brasil, com o Carrefour França - está perto de se igualar ao que teriam juntos Abilio Diniz, BNDES e BTG Pactual.Antes dessa aquisição, o Casino seria diluído de 37% para 29,8% com a operação sugerida. Agora, sua fatia ficaria em 34,4% - os demais sócios, sem contar o mercado, somariam 38%.Durante o dia, ainda sem a confirmação do Casino, o mercado já dava como certo que a empresa era o comprador, por conta do grande volume de ontem. Além disso, os investidores destacavam que não havia motivo para comprar as ações ao preço atual, uma vez que ainda existe um risco expressivo de a operação não se concretizar - já que a palavra final é do Casino. Até o começo da tarde, quando houve a maior concentração das compras, as ações do Pão de Açúcar chegaram a registrar forte alta novamente: a máxima mostrava valorização de 12%, repetindo o movimento de terça-feira. Mas os papéis fecharam o dia em baixa de 3,07%.Na guerra para a qual o Casino estaria se preparando, ele poderia utilizar as ações preferenciais que possui para votar contra a proposta de conversão em ordinárias. A unificação das espécies de ações seria o primeiro passo da proposta de combinação com o Carrefour.Por conta de uma decisão da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), baseada na Lei das Sociedades por Ações, os ordinaristas não podem votar na assembleia que aprovar a conversão das preferenciais porque têm um prêmio na conversão dos papéis. Cada preferencial receberia 0,95 ordinária. Mas Abilio Diniz também estaria pensando em revidar. Os advogados que assessoram o empresário - do escritório Mattos Filho e Barbosa, Müssnich & Aragão - estudam a possibilidade de fazer uma consulta na CVM justamente para questionar se acionistas preferencialistas, também detentores de ações ordinárias, poderiam votar na assembleia geral que decidirá se aprova a integração das operações do Pão de Açúcar com o Carrefour.O objetivo de Diniz seria levantar a discussão para que o colegiado da CVM avalie que o Casino e o Pão de Açúcar devem ser impedidos de votar, independentemente da classe de ação que possuem, pelo conflito de interesse.No mercado, também circulavam outros exercícios sobre os motivos do Casino de fazer essas compras. Entre eles estaria demonstrar sua capacidade financeira própria, sem a necessidade de um financiador.A configuração final da proposta de fusão entre Pão de Açúcar e Carrefour nasceu a partir da entrada do BTG no negócio, que aconteceu por volta do dia 10 de junho. Foi a partir daí que se desenhou a criação do Novo Pão de Açúcar (NPA) com uma classe apenas de ações, capital inicial de € 2 bilhões (de BNDESPar e BTG) e € 500 milhões em dívida, captados pelo banco de André EstevesSe o Casino aprovar o negócio, o acordo da Wilkes deixaria de existir. Seria feito um novo acordo entre NPA e Carrefour França. O Casino passa a ser o maior acionista individual na NPA, com 29,8%, mas terá que respeitar a governança da nova empresa. Ou seja, se submeter a um acordo prévio desenhado por Abilio Diniz, atual presidente do conselho do Pão de Açúcar, e o Carrefour mundial. O NPA terá um novo CNPJ (o da Gama, sociedade para fins específicos criada pelo BTG), mas não vai para o Novo Mercado. A intenção é adotar partes do Novo Mercado - tag along de 100%, uma classe só de ações. A empresa não iria para o Novo Mercado porque não quer sofrer as restrições desse ambiente de negócios. Como, por exemplo, a exigência de laudo de três bancos diferentes para aprovar algumas operações. Isso tornaria a empresa mais "engessada". Além disso, cada acionista tem direito a um voto (independentemente da quantidade de ações). O BNDESPar, por exemplo, tem 18% da empresa, mas vota com 15% (limite para todos os acionistas).No Carrefour França, que também é listado em bolsa, o NPA será o segundo maior acionista, após a Blue Capital. É por conta da negociação com a Blue Capital, iniciada em fevereiro, que o NPA terá o direito de indicar dois conselheiros para o Carrefour. A partir de 2013, o NPA indicaria três conselheiros. O conselho do Carrefour se baseia no trabalho de quatro comitês de estudo para tomar suas principais decisões. São quatro comitês, dos quais participam alguns membros da gestão e do conselho: de estratégia, de nomeação, de remuneração e de auditoria. Está acordado que o NPA vai dirigir o comitê de estratégia. Além disso, participaria dos outros três. Com isso, o NPA ganharia poder nas tomadas de decisão do Carrefour. Mas o contrário não aconteceria - pelo menos, não na mesma proporção. É o NPA quem daria as cartas na gestão da mega varejista criada a partir da união de Pão de Açúcar e Carrefour Brasil. A ideia é tornar a administração da empresa no país mais eficiente, dizem fontes que acompanham o negócio. A administração executiva da Companhia Brasileira de Distribuição (CBD), que pretende incorporar o Carrefour Brasil, seria indicada pela NPA. O único cargo a ser indicado diretamente pelo Carrefour seria o de diretor financeiro. O presidente do conselho seria Abilio Diniz, enquanto o Carrefour daria o nome do vice-presidente do conselho de administração. O Carrefour indicaria ainda um membro para um comitê financeiro a ser criado no CBD. Sob a responsabilidade desse comitê, está a avaliação e aprovação do plano de negócios, apresentado pelo presidente executivo e diretores, o orçamento anual, além de questões relevantes como fusões e aquisições e outros grandes investimentos. Analistas preveem reação do WalmartSe uma fusão entre Carrefour Brasil e Pão de Açúcar for concretizada, será um negócio muito bom para o grupo francês. Mas a americana Walmart pode reagir e fazer oferta alternativa para adquirir todos os ativos de Carrefour na América Latina, avaliam diferentes analistas na Europa. Financeiramente, boa parte dos analistas acha que a avaliação relativa é favorável para o grupo Pão de Açúcar, mas o Carrefour se beneficiará de sua fatia de sinergias.Matthew Truman, do J.P. Morgan Cazanove, nota que o Carrefour tem negócio mais fraco do que o Pão de Açúcar, tanto em lucro como fatia de mercado, e está efetivamente "vendendo" seu negócio no Brasil para uma nova companhia por 8,6 vezes o EV/Ebitda (valor da empresa/ lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortização). Em contrapartida, o Carrefour estará pagando fisicamente apenas 5,4 vezes antes das sinergias por 17% de parte incremental do grupo, oferecendo forte criação de valor desde o início, estimado em até R$ 1,8 bilhão sobre todo o acordo. No pós-sinergia, isso significaria apenas 3,3 vezes o EV/Ebitda. No total, isso é materialmente abaixo dos múltiplos estabelecidos para o mercado latino-americano de alimentos no varejo.Cristopher Hogbin, da BernsteinResearch, firma de pesquisa famosa de Wall Street, calcula que apenas a parte de 'sinergia capitalizada" de Carrefour poderia exceder seu custo de aquisição. Usando múltiplo conservador de 7 vezes, sua conclusão é clara: como o negócio atual de Carrefour contribui com um terço da nova companhia (tanto em vendas como em Ebit), mas deterá 50% do controle, o grupo francês receberá efetivamente a diferença de 16% a "custo zero".A questão é se a sinergia estimada de ? 700 milhões é crível. Isso representa 2,2% do faturamento combinado das duas companhias (? 31 bilhões). Analistas tendem a achar que o plano é possível, pelo potencial de aumento de barganhas nas compras, redução de custos administrativos e logísticos e poder de preço a partir de posição forte no mercado.Do ponto de vista estratégico, analistas destacam a importancia do mercado varejista no Brasil com crescimento de 5% ao ano e devendo continuar nesse ritmo no médio prazo. O acordo proposto cria um campeão nacional com ? 33 bilhões de vendas, ? 2,1 bilhões de Ebitda (6,4%) e 28% de fatia do mercado de alimentos no Brasil.Para Carrefour, o Brasil representaria 37% das vendas do grupo e os emergentes como um todo fariam ? 47 bilhões de vendas. As vendas no Brasil combinadas com Ásia e mais outras áreas na América Latina representariam 41% do total, comparado a apenas 27% vindo dos emergentes atualmente. Para Truman, do J.P. Morgan Cazenove, o grupo francês estará comprando uma posição de líder, colocando-se confortavelmente à frente do Walmart (11%).O acordo proposto deixa o Walmart em posição difícil no Brasil, e analistas acham que isso pode levar a companhia americana fazer ofertas alternativas. "Não excluímos uma oferta defensiva em dinheiro do Walmart por todos os ativos de Carrefour na América Latina", diz Jaime Vasquez, do Santander, em Madri. Ele calcula que a oferta poderia girar em torno de ? 12 bilhões.Analistas preveem período prolongado de negociações, diante da resistência de Casino. Se vender sua participação, o grupo pode pegar ? 3 bilhões, mas sairia com prejuízo no investimento, acha Truman. O sentimento é que o Casino vai tentar assegurar um melhor acordo, e alterações na proposta não podem ser excluídas.Em todo caso, a expectativa é que Abilio Diniz usará seu poder de pressão para arrancar apoio do Casino. Estima-se que Diniz possua R$ 2 bilhões em imóveis, alugados para o Pão de Açúcar, o que significa pelo menos R$ 80 milhões por ano de renda. Se o Casino resistir, Diniz poderia aumentar o aluguel e colocar o sócio no córner.A visão generalizada na Europa é que, com a participação do BNDES na proposta, dificuldades com a política de concorrência poderiam ser facilmente evitadas.Em todo caso, insistem que integrar dois negócios com faturamento combinado anual de mais de ? 30 bilhões e Ebitda de ? 2 bilhões não será tarefa fácil, como mostram as histórias de fusão no setor varejista. Diniz planeja reestruturação do CarrefourConhecido como "mãos de tesoura", por conta das mais de 20 mil demissões que assinou ao longo dos quase cinquenta anos de carreira, Claudio Galeazzi é o primeiro nome na lista de Abilio Diniz para comandar a reestruturação do Carrefour Brasil. Se aprovada a incorporação da filial brasileira do Carrefour pela Companhia Brasileira de Distribuição (CBD), dando origem ao Novo Pão de Açúcar (NPA), o primeiro passo será sanear o Carrefour Brasil, segundo apurou o Valor. Na avaliação de Diniz, é preciso "limpar" a filial brasileira da rede francesa, para que ela não contamine a CBD. Galeazzi, fundador da consultoria Galeazzi & Associados e atual sócio do BTG na área de negócios de varejo do banco, será o responsável por introduzir "as melhores práticas" de gestão no Carrefour Brasil. Ao que tudo indica, não faltará trabalho ao consultor - que traz no currículo as reestruturações de Lojas Americanas, Artex, Laticínios Mococa, Cecrisa, Vila Romana, além do próprio Pão de Açúcar, companhia que presidiu entre o fim de 2007 e o início de 2010. Em todo o mundo, o Carrefour se especializou no formato de hipermercados, negócio que está em decadência na Europa, nos Estados Unidos e também no Brasil. Sem ter que lidar com uma inflação "galopante", que eliminou a necessidade de antecipar compras temendo o aumento de preços, o brasileiro vem preferindo cada vez mais o consumo por conveniência, perto de casa. Os hipermercados, que exigem áreas de mais de oito mil metros quadrados, fora dos grandes centros, perderam a atratividade. Houve uma tentativa de transformá-los em "mini-shoppings", com a locação de espaço para lojas de serviços, sem sucesso. Para interlocutores, Galeazzi já afirmou que "se pudesse, acabava com os hipermercados". A intenção do reestruturador seria transformar as enormes lojas do Carrefour (são 114 hoje) em hipermercados compactos, como tem feito o Pão de Açúcar com o Extra (bandeira que também foi adotada para o formato supermercado, em substituição às marcas CompreBem e Sendas). Uma alternativa também estudada pelo executivo é juntar, em um mesmo espaço, duas bandeiras diferentes - lojas do Carrefour e do Atacadão, por exemplo. Mas o maior problema visto por Galeazzi está na política de compras e preços adotada pelo Carrefour. Na avaliação do consultor, segundo fontes, a filial brasileira da rede francesa faz valer o seu peso de segunda maior varejista de alimentos do país na negociação com fornecedores, mas não tem uma política eficiente de abastecimento, está mal preparada para as vendas sazonais, o que gera "ruptura", ou falta de produto nas gôndolas, e tem uma má gestão do mix de produtos, por não adequá-lo às preferências e poder aquisitivo do público no entorno das lojas.São questões que, para Galeazzi, comprometem a eficiência operacional da empresa. Cerca de 70% dos imóveis do Carrefour são próprios, contra uma média de 30% do Pão de Açúcar. Ainda assim, a margem Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) do grupo de Diniz gira em torno de 7%, enquanto que no Carrefour está em 2%. Em 2010, o Ebtida do Carrefour Brasil foi de R$ 600 milhões. Mas a operação brasileira do Carrefour não se resume a problemas. A compra da bandeira Atacadão, em 2007, é considerada a melhor façanha da rede francesa no país. "É um formato que vem crescendo muito no Brasil e respondendo pela maior parte dos ganhos da empresa", diz o consultor Eugênio Foganholo, da Mixxer. O Atacadão, com 72 lojas, respondeu por cerca de 69% do Ebitda do Carrefour no ano passado.Galeazzi não pretende mexer no Atacadão. Mas deve reposicionar a bandeira Assaí, do Pão de Açúcar, para direcioná-la para a periferia, enquanto que o Atacadão se concentraria no público transformador (ambulantes de alimentos). Já a abertura de farmácias em rua, estratégia anunciada pelo Carrefour Brasil em 2010, não agrada Galeazzi. Segundo interlocutores, o consultor só aprova a opção de grandes varejistas como donos de farmácias e postos de gasolina se esses formatos estiverem no mesmo espaço das lojas, como conveniência para o consumidor. Para Foganholo, uma das principais razões para os problemas enfrentados pelo Carrefour no mundo está na falta de flexibilidade da empresa em operar outros formatos. "Eles só vão bem com bandeiras que eles não criaram, como o Atacadão e o Dia%", diz. Na opinião de Foganholo, o Carrefour têm dificuldade de operar lojas menores, que exigem maior agilidade na reposição do mix e proximidade com o consumidor. Na verdade, o Carrefour nunca quis supermercados. Nos anos 90, compraram a rede Comptoirs Modern no mundo. Esta, por sua vez, tinha acabado de comprar 22 pontos da Lojas Americanas em supermercados. "Eles tinham a opção de vender esses pontos no Brasil ou expandir", lembra Foganholo. Fizeram a segunda opção - primeiro com a bandeira Champion e, depois, com Carrefour Bairro, dona de 49 lojas hoje - e não se deram bem. O conserto ficará para Galeazzi. Estudo aponta pouca sobreposição de lojaA união entre o Pão de Açúcar e o Carrefour vai afetar menos da metade das cidades brasileiras onde as duas redes estão presentes, permitir o envio de produtos brasileiros para o exterior e diminuir os custos das duas empresas, o que pode levar a redução nos preços aos consumidores. Esses argumentos devem ser levados ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) assim que o negócio for fechado. Eles fazem parte de um estudo preliminar sobre os efeitos da fusão à concorrência. A análise foi feita por especialistas contratados pelas consultorias financeiras que atuaram na modelagem da fusão. Uma vez fechado o negócio, eles pretendem alegar aos conselheiros do Cade que a união não vai representar uma redução das três principais redes de supermercados para duas, restando apenas o Walmart como forte competidor. Esse ponto é crucial, pois, nas fusões e aquisições em que o órgão antitruste verificou essa redução de três para duas, as empresas sofreram restrições em seus negócios ou mesmo tiveram a operação reprovada. No caso Nestlé - Garoto, por exemplo, o Cade entendeu que a união da segunda com a terceira empresa de chocolates do país iria prejudicar a concorrência, pois apenas a Kraft, dona da marca Lacta, teria condições de competir. Ao fim, o Cade concluiu que o negócio levou à formação de um duopólio no mercado de chocolates e vetou à operação. Segundo a análise feita pelos especialistas, o Walmart é um concorrente "forte o suficiente para manter os preços em nível baixo". Mas eles vão além e dizem que "a expansão de concorrentes já instalados é plausível e provável no curto prazo". Ou seja, outras redes têm capacidade para crescer e fazer frente a uma possível fusão entre dois dos líderes do mercado brasileiro. A análise preliminar diz que o Pão de Açúcar e o Carrefour dividem lojas em 70 municípios. É menos da metade das 180 cidades em que ambos atuam. Em apenas 25 cidades, a concentração seria superior a 50%. E nos 70 municípios onde ambos estão presentes, há outras grandes redes, como o Walmart, que "oferece pressão competitiva suficiente em uma parte significativa dos municípios".Outra alegação é a de que a maioria dos fornecedores não depende exclusivamente de Carrefour ou do Pão de Açúcar para vender os seus produtos. As duas redes respondem por menos de 3% das vendas da Ambev e menos de 7% das vendas da Nestlé. Esse cenário seria o mesmo para a maioria dos fornecedores do Pão de Açúcar. Ele demonstraria que os fornecedores têm diversas alternativas para escoar os seus produtos e dependem pouco das duas grandes redes.A sinergia entre as duas redes é vista de modo a reduzir "de forma significativa os custos de Carrefour e, portanto, aumentar a rentabilidade dos acionistas sem que ocorra aumento de preços aos consumidores".Com relação aos consumidores, os especialistas indicam que as empresas terão custos menores de distribuição, gestão e relacionamento com fornecedores. "As sinergias podem ser facilmente repassadas aos consumidores na forma de baixos preços, maior variedade de produtos e um maior número de lojas."Essa expectativa sobre o comportamento dos preços, após a fusão, será fundamental na análise do Cade. O órgão antitruste não costuma acreditar que, por ter custos mais baixos, as empresas vão simplesmente reduzir o que cobram dos consumidores. Mas, serão feitos estudos tanto da parte do Cade quanto das empresas para estimar uma possível redução ou até eventuais aumentos nos preços dos produtos. A análise das consultorias indica ainda que o negócio com o Carrefour vai permitir que produtos brasileiros tenham um canal a mais para chegar no mercado externo, em particular o francês.Ontem, o Cade adiou a conclusão do julgamento da compra da rede Sendas pelo Pão de Açúcar. Esse caso pode retornar à pauta na próxima sessão, em 13 de julho. O órgão antitruste também está analisando a união entre o Pão de Açúcar, o Ponto Frio e as Casas Bahia, mas ainda não há prazo para esse caso ser julgado. A compra da Sadia pela Perdigão, e a consequente criação da BRF- Brasil Foods, pode retornar ao plenário do Cade em 13 de julho. Nesta semana, representantes dessas empresas estiveram com conselheiros do Cade discutindo a venda de ativos para impedir um eventual veto à compra da Sadia. Em dia de tiroteio, Pão de Açúcar gira R$ 1,7 biMal se recuperaram da surpreendente proposta de fusão das operações do Pão de Açúcar com o Carrefour no Brasil, os investidores ontem se depararam com um verdadeiro tiroteio com as ações da varejista brasileira. Durante a manhã, as preferenciais (PN, sem voto) da empresa chegaram a subir 12%. Nesse momento, a sensação que se tinha no mercado é que grandes investidores, com muita bala na agulha, estavam comprando as ações, certos de que o grupo Casino diria sim aos negócios. No entanto, de uma hora para outra, as ações viraram para o campo negativo, fechando em baixa de 3,07%, a maior queda do Indice Bovespa.Esse sobe e desce deixou os investidores sem saber o que pensar. Afinal de contas, as apostas são de que a fusão vai ou não dar certo?O giro de negócios com os papéis do Pão de Açúcar reforça o tamanho do bangue-bangue que ocorreu entre os investidores. As ações movimentaram R$ 1,7 bilhão, o equivalente a 26% do giro da Bovespa. Esse volume superou, e muito, os negócios com tradicionais papéis, como as PNs série A da Vale que giraram R$ 408,3 milhões e as PNs da Petrobras, com R$ 330,6 milhões.Casino confirma a compra de 6% do capital da varejistaO volume é significativo também quando comparado com o histórico da companhia. No ano, a média diária de negócios com as ações do Pão de Açúcar era de R$ 49,7 milhões.Esse giro gigantesco e o comportamento errático das ações deixou o mercado intrigado. Quem seria forte o suficiente para estar por trás desses negócios e fazer o volume dar tamanho salto?Para os analistas, o Casino era o grande protagonista desse burburinho. "Só alguém com muito dinheiro e muito interessado na operação poderia ser o responsável por esse giro", diz o diretor de uma corretora.Bingo! Por volta das 20h30, o Casino informou o Pão de Açúcar que comprou nos últimos dias o equivalente a 6% do capital total do Pão de Açúcar.Outra sinalização que levantava suspeitas sobre o Casino era a grande movimentação de ações por corretoras estrangeiras, que costumam intermediar operações de investidores internacionais. Corretoras como Credit Suisse, Morgan Stanley, Barclays e Link (comprada pelo UBS) foram os grandes destaques tanto na ponta de compra quanto na de venda das ações.Existem várias teses para essa compra de ações confirmada pelo Casino. Alguns acreditam que o aumento de participação seria para o grupo francês ter maior poder de fogo na negociação com o Pão de Açúcar. Já outros apostam que esta é apenas a forma encontrada pelo Casino para mostrar ao Pão de Açúcar que o grupo continua bem vivo e disposto a brigar.Coincidência ou não, as ações passaram a cair depois que o Pão de Açúcar enviou uma carta aos controladores, acionistas e partes relacionadas proibindo a negociação com as ações, já que podem ter informações privilegiadas neste momento. Inclui-se nesse grupo o Casino.Daniele Camba é repórter de Investimentos Dilma foi informada antes sobre operação A presidente Dilma Rousseff foi informada previamente da operação de fusão do Pão de Açúcar com o grupo francês Carrefour. Segundo uma fonte do Palácio do Planalto, a presidente pediu "cautela", mas não se opôs ao envolvimento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) no negócio. Na prática, deu autonomia ao banco para analisar e participar da operação.O BNDES se dispôs a entrar com € 2 bilhões (cerca de R$ 4,5 bilhões) na fusão, mas o governo avalia que esse valor pode diminuir, em função do interesse de outros investidores. Como o mercado reagiu bem ao anúncio do negócio, por entender, segundo análise oficial, o potencial de criação de valor, é possível que investidores queiram adquirir uma fatia, diminuindo a necessidade de aporte do banco estatal no fechamento da operaçãoO BNDES vai participar da fusão por meio do BNDESPar, seu braço de participações acionárias. Desta forma, explica uma fonte, não haverá empréstimo subsidiado do governo. O BNDESPar responde hoje por 20% do ativo total do BNDES e por algo entre 50% e 60% do lucro do banco. Entrará na fusão como investidor, em condições de mercado.O governo compara a união das duas redes de supermercado com a que resultou na criação da Inbev, o maior fabricantes de cervejas do mundo. Na fusão da brasileira Ambev com a belga Interbrew, em 2004, a gestão da multinacional passou a ser feita por executivos brasileiros. Segundo informações que chegaram ao Palácio do Planalto, o mesmo ocorrerá na fusão entre Pão de Açúcar e Carrefour.No negócio, o controle da operação brasileira continuará nas mãos do Pão de Açúcar, enquanto a participação deste no Carrefour, lá fora, será minoritária. Apesar disso, foi dito ao governo que a tecnologia de gestão de supermercado da operação global do grupo francês será, a partir de agora, brasileira. Este é um aspecto que, se confirmado pela associação, favorece a disposição do governo em apoiar a fusão.O Carrefour foi um grupo inovador no passado. Depois que começou a ser controlado por fundos de participações acionárias ("private equity", no jargão em inglês), passou a gerar "resultados medíocres", segundo palavras de uma fonte do governo. A associação com o Pão de Açúcar, explica uma fonte oficial, cria oportunidade de melhorar a gestão do grupo francês e, assim, gerar bons retornos, por isso, o mercado teria reagido tão bem ao anúncio da fusão.O governo avalia que o grau de concentração resultante da fusão - estimado em 32,2% - é normal. Nos Estados Unidos, o Walmart também detém 32% do mercado e, na França, o Carrefour tem 26%. Numa avaliação preliminar, não haveria superposição de lojas, mas complementaridade. O governo acredita que o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) deverá aprovar a operação, mas pode obrigar os dois grupos a se desfazer de alguns supermercados. Não haverá fechamento de lojas, mas alienação a outros atores. "Se decidir determinar algum desinvestimento, o Cade vai mandar vender lojas. Fechar não faz sentido", explicou uma fonte.Por isso, em Brasília, não se acredita na hipótese de a fusão provocar destruição de empregos. "Demissões só ocorrerão no nível das diretorias", brincou uma fonte familiarizada com o negócio. "Não tem emprego em jogo."A concentração no varejo, na avaliação oficial, não é necessariamente ruim. A avaliação é a de que o comércio varejista foi grande aliado do governo no processo de estabilização da economia deflagrado pelo Plano Real, em 1994. Os supermercados aprenderam que a inflação corrói a renda, obrigando-os a trabalhar com produtos mais populares e, portanto, com margem menor de lucro. Com a estabilização, tiveram ganhos de escala e passaram a trabalhar com produtos cada vez mais sofisticados e com margens maiores.O governo também não vê com preocupação a possibilidade de a concentração no varejo dificultar a vida de fornecedores. Grandes supermercados têm, segundo avaliação oficial, mais força para negociar preços com a indústria. "É bom lembrar que, do lado da indústria, há oligopólios poderosos, como o dos produtos de higiene e limpeza", observou uma fonte.A reação do Casino, sócio francês do Pão de Açúcar, contra a fusão surpreendeu integrantes do governo, que a consideraram "muito agressiva". Uma fonte oficial informou que o Casino, que teria o direito de assumir o controle acionário do Pão de Açúcar graças a acordo assinado em 2005, tem, em algumas condições, poder de veto dentro do grupo brasileiro.Esse acordo não proíbe a prospecção de novos negócios por parte dos dois sócios. Um assessor graduado do governo lembra que, quando o Pão de Açúcar anunciou o interesse em comprar as redes varejistas Casas Bahia e Ponto Frio, o Casino não o questionou. "Como mexeu com o concorrente deles na França [o Carrefour], o pessoal ficou abespinhado", comentou uma fonte.Um outro aspecto da fusão favorece o apoio de Brasília ao negócio. Se nada fosse feito, o Pão de Açúcar passaria a ser controlado pelo Casino no próximo ano, deixando espaço livre para um único ator - o americano Walmart - comprar o Carrefour, que passa por dificuldades."Por que a gente não pode aproveitar essa oportunidade?", indagou um integrante do governo em defesa do apoio ao negócio. "É uma oportunidade de realizar um 'turn around' (uma virada bem-sucedida) na empresa, com criação de valor, da mesma forma como ocorreu na Inbev." Governo francês fica em silêncioO governo francês é normalmente muito ágil quando se trata de defender suas empresas no exterior. Mas até ontem as autoridades não tinham feito nenhuma manifestação oficial ao governo brasileiro sobre as dificuldades do grupo Casino com seu parceiro Pão de Açúcar, segundo fontes.A diferença pode ser que desta vez são dois grupos franceses brigando, Carrefour e Casino. O caso é monitorado pela diplomacia brasileira, mas está ainda na esfera privada, incluindo tentativa de arbitragem na Camara de Comércio Internacional. A participação do BNDES é vista no mercado como reflexo do interesse do governo brasileiro no caso, mas fontes do governo insistem que se trata de operação normal com clientes.Em todo caso, a disputa envolvendo os três grupos poderá ser discutida mesmo informalmente na comissão econômica bilateral que vai se reunir na semana que vem em Paris, chefiada do lado brasileiro pelo ministro do Desenvolvimento, Industria e Comércio Exterior, Fernando Pimentel.Alem da parte oficial, haverá encontro de empresários dos dois países para rever o que aconteceu nas relações bilaterais no último ano. E o caso Carrefour, Casino e Pão de Açucar parece inescapável.Também estará na capital francesa, na semana que vem, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, para um grande seminário sobre a economia brasileira, organizado pela revista "The Economist", com participação de pesos pesados do setor empresarial europeu.
A criação de uma multinacional verde-amarela do setor de varejo tem sido o principal argumento para defender que o BNDES coloque R$ 3,91 bilhões dos seus recursos no negócio que está sendo negociado entre Abilio Diniz, BTG Pactual e Carrefour.Embora a proposta preveja que gestão das duas redes de supermercados no Brasil fique a cargo de pessoas indicadas pelo Novo Pão de Açúcar (que terá como principais acionistas Casino, BNDES, Abilio e BTG), o controlador de fato das operações será o Carrefour da França.O que motiva esse desenho é uma premissa do padrão internacional de contabilidade IFRS, usado na Europa e no Brasil.Por essas regras, uma empresa só pode consolidar os números de uma investida se a primeira de fato controlar a segunda, independentemente da participação acionária detida. E é isso que deve ocorrer na transação em questão, com o Carrefour França na posição de controlador e a Companhia Brasileira de Distribuição (CBD, razão social do Pão de Açúcar) na condição de controlada, tendo, por sua vez, o Carrefour Brasil como subsidiária integral.O Pão de Açúcar já é maior que o Carrefour no Brasil e essa diferença seria acentuada com o aporte de R$ 3,91 bilhões do BNDES e R$ 690 milhões do BTG.Conforme a proposta, ao se combinar as duas empresas, a contribuição do Novo Pão de Açúcar (já incluindo o aporte de R$ 4,6 bilhões) equivaleria a 69% do valor econômico envolvido, enquanto as operações brasileiras do Carrefour representariam 31%. Esse arranjo não interessaria ao Carrefour na França, já que o IFRS não permite que, com uma participação minoritária, seja feita a consolidação das receitas da operação brasileira, nem mesmo de forma proporcional. Isso é importante porque a maior parte das comparações que se faz no setor é por volume de vendas.Assim, a proposta prevê um rebalanceamento da posição, com os acionistas do Novo Pão de Açúcar trocando 19% de participação na CBD por 11,4% das ações do Carrefour francês. Com a troca, NPA e Carrefour da França passariam a ter 50% cada um da CBD.Até 2012, uma fatia meio a meio garante a consolidação proporcional a cada uma das partes envolvidas. Mas a regra do IFRS sobre esse tema acaba de ser alterada e, a partir de 2013, isso não será mais permitido. Ou uma empresa controla a outra e consolida 100% ou não consolida nada, registrando o efeito apenas no lucro e patrimônio.Para desequilibrar o jogo e garantir o controle, seria firmado um acordo de acionistas pelo qual, a partir de 2013, um membro do conselho de administração do Carrefour da França teria "preponderância" em votação de matérias ligadas ao Brasil. A sacada é que esse membro será indicado pelo NPA. Casino compra o Pão de AçucarNo dia seguinte ao anúncio da proposta de combinação de Pão de Açúcar e Carrefour, as ações da varejista brasileira baterem recorde absoluto de volume negociado. Giraram quase R$ 1,7 bilhão, quatro vezes o movimento da Vale e cinco vezes o da Petrobras. Foi nada menos do que 25% do total negociado na BM&FBovespa ontem, ou o equivalente a 9,2% de todo o valor de mercado da companhia.Mas, no lugar de ser um aval dos investidores comemorando a potencial transação, a grande demanda veio do Casino, sócio e atual rival de Abilio Diniz no controle do Pão de Açúcar. Ontem à noite, a rede francesa informou ao Pão de Açúcar que comprou mais 6% do capital da empresa em bolsa, em ações preferenciais, nos últimos dias. Com isso, sua fatia na companhia subiu de 37% para 43%. Trata-se de um investimento de R$ 1,1 bilhão.Independentemente do que decidirá sobre a proposta de combinação com o Carrefour, o Casino está se preparando para a guerra, embora o discurso é de que tais aquisições - é o segundo grande investimento em bolsa, o outro foi de 3,7% do capital, com gasto da ordem de R$ 800 milhões - visam apenas comprovar seu comprometimento com o Pão de Açúcar e com o Brasil e o reforço de sua posição de controlador.Juntos, os dois movimentos elevaram a participação do Casino nas últimas duas semanas em 10%, aproximadamente, com um desembolso de quase R$ 2 bilhões.Com eles, a fatia do Casino no Novo Pão de Açúcar (NPA) - holding que dividiria o controle do Pão de Açúcar mais o Carrefour Brasil, com o Carrefour França - está perto de se igualar ao que teriam juntos Abilio Diniz, BNDES e BTG Pactual.Antes dessa aquisição, o Casino seria diluído de 37% para 29,8% com a operação sugerida. Agora, sua fatia ficaria em 34,4% - os demais sócios, sem contar o mercado, somariam 38%.Durante o dia, ainda sem a confirmação do Casino, o mercado já dava como certo que a empresa era o comprador, por conta do grande volume de ontem. Além disso, os investidores destacavam que não havia motivo para comprar as ações ao preço atual, uma vez que ainda existe um risco expressivo de a operação não se concretizar - já que a palavra final é do Casino. Até o começo da tarde, quando houve a maior concentração das compras, as ações do Pão de Açúcar chegaram a registrar forte alta novamente: a máxima mostrava valorização de 12%, repetindo o movimento de terça-feira. Mas os papéis fecharam o dia em baixa de 3,07%.Na guerra para a qual o Casino estaria se preparando, ele poderia utilizar as ações preferenciais que possui para votar contra a proposta de conversão em ordinárias. A unificação das espécies de ações seria o primeiro passo da proposta de combinação com o Carrefour.Por conta de uma decisão da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), baseada na Lei das Sociedades por Ações, os ordinaristas não podem votar na assembleia que aprovar a conversão das preferenciais porque têm um prêmio na conversão dos papéis. Cada preferencial receberia 0,95 ordinária. Mas Abilio Diniz também estaria pensando em revidar. Os advogados que assessoram o empresário - do escritório Mattos Filho e Barbosa, Müssnich & Aragão - estudam a possibilidade de fazer uma consulta na CVM justamente para questionar se acionistas preferencialistas, também detentores de ações ordinárias, poderiam votar na assembleia geral que decidirá se aprova a integração das operações do Pão de Açúcar com o Carrefour.O objetivo de Diniz seria levantar a discussão para que o colegiado da CVM avalie que o Casino e o Pão de Açúcar devem ser impedidos de votar, independentemente da classe de ação que possuem, pelo conflito de interesse.No mercado, também circulavam outros exercícios sobre os motivos do Casino de fazer essas compras. Entre eles estaria demonstrar sua capacidade financeira própria, sem a necessidade de um financiador.A configuração final da proposta de fusão entre Pão de Açúcar e Carrefour nasceu a partir da entrada do BTG no negócio, que aconteceu por volta do dia 10 de junho. Foi a partir daí que se desenhou a criação do Novo Pão de Açúcar (NPA) com uma classe apenas de ações, capital inicial de € 2 bilhões (de BNDESPar e BTG) e € 500 milhões em dívida, captados pelo banco de André EstevesSe o Casino aprovar o negócio, o acordo da Wilkes deixaria de existir. Seria feito um novo acordo entre NPA e Carrefour França. O Casino passa a ser o maior acionista individual na NPA, com 29,8%, mas terá que respeitar a governança da nova empresa. Ou seja, se submeter a um acordo prévio desenhado por Abilio Diniz, atual presidente do conselho do Pão de Açúcar, e o Carrefour mundial. O NPA terá um novo CNPJ (o da Gama, sociedade para fins específicos criada pelo BTG), mas não vai para o Novo Mercado. A intenção é adotar partes do Novo Mercado - tag along de 100%, uma classe só de ações. A empresa não iria para o Novo Mercado porque não quer sofrer as restrições desse ambiente de negócios. Como, por exemplo, a exigência de laudo de três bancos diferentes para aprovar algumas operações. Isso tornaria a empresa mais "engessada". Além disso, cada acionista tem direito a um voto (independentemente da quantidade de ações). O BNDESPar, por exemplo, tem 18% da empresa, mas vota com 15% (limite para todos os acionistas).No Carrefour França, que também é listado em bolsa, o NPA será o segundo maior acionista, após a Blue Capital. É por conta da negociação com a Blue Capital, iniciada em fevereiro, que o NPA terá o direito de indicar dois conselheiros para o Carrefour. A partir de 2013, o NPA indicaria três conselheiros. O conselho do Carrefour se baseia no trabalho de quatro comitês de estudo para tomar suas principais decisões. São quatro comitês, dos quais participam alguns membros da gestão e do conselho: de estratégia, de nomeação, de remuneração e de auditoria. Está acordado que o NPA vai dirigir o comitê de estratégia. Além disso, participaria dos outros três. Com isso, o NPA ganharia poder nas tomadas de decisão do Carrefour. Mas o contrário não aconteceria - pelo menos, não na mesma proporção. É o NPA quem daria as cartas na gestão da mega varejista criada a partir da união de Pão de Açúcar e Carrefour Brasil. A ideia é tornar a administração da empresa no país mais eficiente, dizem fontes que acompanham o negócio. A administração executiva da Companhia Brasileira de Distribuição (CBD), que pretende incorporar o Carrefour Brasil, seria indicada pela NPA. O único cargo a ser indicado diretamente pelo Carrefour seria o de diretor financeiro. O presidente do conselho seria Abilio Diniz, enquanto o Carrefour daria o nome do vice-presidente do conselho de administração. O Carrefour indicaria ainda um membro para um comitê financeiro a ser criado no CBD. Sob a responsabilidade desse comitê, está a avaliação e aprovação do plano de negócios, apresentado pelo presidente executivo e diretores, o orçamento anual, além de questões relevantes como fusões e aquisições e outros grandes investimentos. Analistas preveem reação do WalmartSe uma fusão entre Carrefour Brasil e Pão de Açúcar for concretizada, será um negócio muito bom para o grupo francês. Mas a americana Walmart pode reagir e fazer oferta alternativa para adquirir todos os ativos de Carrefour na América Latina, avaliam diferentes analistas na Europa. Financeiramente, boa parte dos analistas acha que a avaliação relativa é favorável para o grupo Pão de Açúcar, mas o Carrefour se beneficiará de sua fatia de sinergias.Matthew Truman, do J.P. Morgan Cazanove, nota que o Carrefour tem negócio mais fraco do que o Pão de Açúcar, tanto em lucro como fatia de mercado, e está efetivamente "vendendo" seu negócio no Brasil para uma nova companhia por 8,6 vezes o EV/Ebitda (valor da empresa/ lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortização). Em contrapartida, o Carrefour estará pagando fisicamente apenas 5,4 vezes antes das sinergias por 17% de parte incremental do grupo, oferecendo forte criação de valor desde o início, estimado em até R$ 1,8 bilhão sobre todo o acordo. No pós-sinergia, isso significaria apenas 3,3 vezes o EV/Ebitda. No total, isso é materialmente abaixo dos múltiplos estabelecidos para o mercado latino-americano de alimentos no varejo.Cristopher Hogbin, da BernsteinResearch, firma de pesquisa famosa de Wall Street, calcula que apenas a parte de 'sinergia capitalizada" de Carrefour poderia exceder seu custo de aquisição. Usando múltiplo conservador de 7 vezes, sua conclusão é clara: como o negócio atual de Carrefour contribui com um terço da nova companhia (tanto em vendas como em Ebit), mas deterá 50% do controle, o grupo francês receberá efetivamente a diferença de 16% a "custo zero".A questão é se a sinergia estimada de ? 700 milhões é crível. Isso representa 2,2% do faturamento combinado das duas companhias (? 31 bilhões). Analistas tendem a achar que o plano é possível, pelo potencial de aumento de barganhas nas compras, redução de custos administrativos e logísticos e poder de preço a partir de posição forte no mercado.Do ponto de vista estratégico, analistas destacam a importancia do mercado varejista no Brasil com crescimento de 5% ao ano e devendo continuar nesse ritmo no médio prazo. O acordo proposto cria um campeão nacional com ? 33 bilhões de vendas, ? 2,1 bilhões de Ebitda (6,4%) e 28% de fatia do mercado de alimentos no Brasil.Para Carrefour, o Brasil representaria 37% das vendas do grupo e os emergentes como um todo fariam ? 47 bilhões de vendas. As vendas no Brasil combinadas com Ásia e mais outras áreas na América Latina representariam 41% do total, comparado a apenas 27% vindo dos emergentes atualmente. Para Truman, do J.P. Morgan Cazenove, o grupo francês estará comprando uma posição de líder, colocando-se confortavelmente à frente do Walmart (11%).O acordo proposto deixa o Walmart em posição difícil no Brasil, e analistas acham que isso pode levar a companhia americana fazer ofertas alternativas. "Não excluímos uma oferta defensiva em dinheiro do Walmart por todos os ativos de Carrefour na América Latina", diz Jaime Vasquez, do Santander, em Madri. Ele calcula que a oferta poderia girar em torno de ? 12 bilhões.Analistas preveem período prolongado de negociações, diante da resistência de Casino. Se vender sua participação, o grupo pode pegar ? 3 bilhões, mas sairia com prejuízo no investimento, acha Truman. O sentimento é que o Casino vai tentar assegurar um melhor acordo, e alterações na proposta não podem ser excluídas.Em todo caso, a expectativa é que Abilio Diniz usará seu poder de pressão para arrancar apoio do Casino. Estima-se que Diniz possua R$ 2 bilhões em imóveis, alugados para o Pão de Açúcar, o que significa pelo menos R$ 80 milhões por ano de renda. Se o Casino resistir, Diniz poderia aumentar o aluguel e colocar o sócio no córner.A visão generalizada na Europa é que, com a participação do BNDES na proposta, dificuldades com a política de concorrência poderiam ser facilmente evitadas.Em todo caso, insistem que integrar dois negócios com faturamento combinado anual de mais de ? 30 bilhões e Ebitda de ? 2 bilhões não será tarefa fácil, como mostram as histórias de fusão no setor varejista. Diniz planeja reestruturação do CarrefourConhecido como "mãos de tesoura", por conta das mais de 20 mil demissões que assinou ao longo dos quase cinquenta anos de carreira, Claudio Galeazzi é o primeiro nome na lista de Abilio Diniz para comandar a reestruturação do Carrefour Brasil. Se aprovada a incorporação da filial brasileira do Carrefour pela Companhia Brasileira de Distribuição (CBD), dando origem ao Novo Pão de Açúcar (NPA), o primeiro passo será sanear o Carrefour Brasil, segundo apurou o Valor. Na avaliação de Diniz, é preciso "limpar" a filial brasileira da rede francesa, para que ela não contamine a CBD. Galeazzi, fundador da consultoria Galeazzi & Associados e atual sócio do BTG na área de negócios de varejo do banco, será o responsável por introduzir "as melhores práticas" de gestão no Carrefour Brasil. Ao que tudo indica, não faltará trabalho ao consultor - que traz no currículo as reestruturações de Lojas Americanas, Artex, Laticínios Mococa, Cecrisa, Vila Romana, além do próprio Pão de Açúcar, companhia que presidiu entre o fim de 2007 e o início de 2010. Em todo o mundo, o Carrefour se especializou no formato de hipermercados, negócio que está em decadência na Europa, nos Estados Unidos e também no Brasil. Sem ter que lidar com uma inflação "galopante", que eliminou a necessidade de antecipar compras temendo o aumento de preços, o brasileiro vem preferindo cada vez mais o consumo por conveniência, perto de casa. Os hipermercados, que exigem áreas de mais de oito mil metros quadrados, fora dos grandes centros, perderam a atratividade. Houve uma tentativa de transformá-los em "mini-shoppings", com a locação de espaço para lojas de serviços, sem sucesso. Para interlocutores, Galeazzi já afirmou que "se pudesse, acabava com os hipermercados". A intenção do reestruturador seria transformar as enormes lojas do Carrefour (são 114 hoje) em hipermercados compactos, como tem feito o Pão de Açúcar com o Extra (bandeira que também foi adotada para o formato supermercado, em substituição às marcas CompreBem e Sendas). Uma alternativa também estudada pelo executivo é juntar, em um mesmo espaço, duas bandeiras diferentes - lojas do Carrefour e do Atacadão, por exemplo. Mas o maior problema visto por Galeazzi está na política de compras e preços adotada pelo Carrefour. Na avaliação do consultor, segundo fontes, a filial brasileira da rede francesa faz valer o seu peso de segunda maior varejista de alimentos do país na negociação com fornecedores, mas não tem uma política eficiente de abastecimento, está mal preparada para as vendas sazonais, o que gera "ruptura", ou falta de produto nas gôndolas, e tem uma má gestão do mix de produtos, por não adequá-lo às preferências e poder aquisitivo do público no entorno das lojas.São questões que, para Galeazzi, comprometem a eficiência operacional da empresa. Cerca de 70% dos imóveis do Carrefour são próprios, contra uma média de 30% do Pão de Açúcar. Ainda assim, a margem Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) do grupo de Diniz gira em torno de 7%, enquanto que no Carrefour está em 2%. Em 2010, o Ebtida do Carrefour Brasil foi de R$ 600 milhões. Mas a operação brasileira do Carrefour não se resume a problemas. A compra da bandeira Atacadão, em 2007, é considerada a melhor façanha da rede francesa no país. "É um formato que vem crescendo muito no Brasil e respondendo pela maior parte dos ganhos da empresa", diz o consultor Eugênio Foganholo, da Mixxer. O Atacadão, com 72 lojas, respondeu por cerca de 69% do Ebitda do Carrefour no ano passado.Galeazzi não pretende mexer no Atacadão. Mas deve reposicionar a bandeira Assaí, do Pão de Açúcar, para direcioná-la para a periferia, enquanto que o Atacadão se concentraria no público transformador (ambulantes de alimentos). Já a abertura de farmácias em rua, estratégia anunciada pelo Carrefour Brasil em 2010, não agrada Galeazzi. Segundo interlocutores, o consultor só aprova a opção de grandes varejistas como donos de farmácias e postos de gasolina se esses formatos estiverem no mesmo espaço das lojas, como conveniência para o consumidor. Para Foganholo, uma das principais razões para os problemas enfrentados pelo Carrefour no mundo está na falta de flexibilidade da empresa em operar outros formatos. "Eles só vão bem com bandeiras que eles não criaram, como o Atacadão e o Dia%", diz. Na opinião de Foganholo, o Carrefour têm dificuldade de operar lojas menores, que exigem maior agilidade na reposição do mix e proximidade com o consumidor. Na verdade, o Carrefour nunca quis supermercados. Nos anos 90, compraram a rede Comptoirs Modern no mundo. Esta, por sua vez, tinha acabado de comprar 22 pontos da Lojas Americanas em supermercados. "Eles tinham a opção de vender esses pontos no Brasil ou expandir", lembra Foganholo. Fizeram a segunda opção - primeiro com a bandeira Champion e, depois, com Carrefour Bairro, dona de 49 lojas hoje - e não se deram bem. O conserto ficará para Galeazzi. Estudo aponta pouca sobreposição de lojaA união entre o Pão de Açúcar e o Carrefour vai afetar menos da metade das cidades brasileiras onde as duas redes estão presentes, permitir o envio de produtos brasileiros para o exterior e diminuir os custos das duas empresas, o que pode levar a redução nos preços aos consumidores. Esses argumentos devem ser levados ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) assim que o negócio for fechado. Eles fazem parte de um estudo preliminar sobre os efeitos da fusão à concorrência. A análise foi feita por especialistas contratados pelas consultorias financeiras que atuaram na modelagem da fusão. Uma vez fechado o negócio, eles pretendem alegar aos conselheiros do Cade que a união não vai representar uma redução das três principais redes de supermercados para duas, restando apenas o Walmart como forte competidor. Esse ponto é crucial, pois, nas fusões e aquisições em que o órgão antitruste verificou essa redução de três para duas, as empresas sofreram restrições em seus negócios ou mesmo tiveram a operação reprovada. No caso Nestlé - Garoto, por exemplo, o Cade entendeu que a união da segunda com a terceira empresa de chocolates do país iria prejudicar a concorrência, pois apenas a Kraft, dona da marca Lacta, teria condições de competir. Ao fim, o Cade concluiu que o negócio levou à formação de um duopólio no mercado de chocolates e vetou à operação. Segundo a análise feita pelos especialistas, o Walmart é um concorrente "forte o suficiente para manter os preços em nível baixo". Mas eles vão além e dizem que "a expansão de concorrentes já instalados é plausível e provável no curto prazo". Ou seja, outras redes têm capacidade para crescer e fazer frente a uma possível fusão entre dois dos líderes do mercado brasileiro. A análise preliminar diz que o Pão de Açúcar e o Carrefour dividem lojas em 70 municípios. É menos da metade das 180 cidades em que ambos atuam. Em apenas 25 cidades, a concentração seria superior a 50%. E nos 70 municípios onde ambos estão presentes, há outras grandes redes, como o Walmart, que "oferece pressão competitiva suficiente em uma parte significativa dos municípios".Outra alegação é a de que a maioria dos fornecedores não depende exclusivamente de Carrefour ou do Pão de Açúcar para vender os seus produtos. As duas redes respondem por menos de 3% das vendas da Ambev e menos de 7% das vendas da Nestlé. Esse cenário seria o mesmo para a maioria dos fornecedores do Pão de Açúcar. Ele demonstraria que os fornecedores têm diversas alternativas para escoar os seus produtos e dependem pouco das duas grandes redes.A sinergia entre as duas redes é vista de modo a reduzir "de forma significativa os custos de Carrefour e, portanto, aumentar a rentabilidade dos acionistas sem que ocorra aumento de preços aos consumidores".Com relação aos consumidores, os especialistas indicam que as empresas terão custos menores de distribuição, gestão e relacionamento com fornecedores. "As sinergias podem ser facilmente repassadas aos consumidores na forma de baixos preços, maior variedade de produtos e um maior número de lojas."Essa expectativa sobre o comportamento dos preços, após a fusão, será fundamental na análise do Cade. O órgão antitruste não costuma acreditar que, por ter custos mais baixos, as empresas vão simplesmente reduzir o que cobram dos consumidores. Mas, serão feitos estudos tanto da parte do Cade quanto das empresas para estimar uma possível redução ou até eventuais aumentos nos preços dos produtos. A análise das consultorias indica ainda que o negócio com o Carrefour vai permitir que produtos brasileiros tenham um canal a mais para chegar no mercado externo, em particular o francês.Ontem, o Cade adiou a conclusão do julgamento da compra da rede Sendas pelo Pão de Açúcar. Esse caso pode retornar à pauta na próxima sessão, em 13 de julho. O órgão antitruste também está analisando a união entre o Pão de Açúcar, o Ponto Frio e as Casas Bahia, mas ainda não há prazo para esse caso ser julgado. A compra da Sadia pela Perdigão, e a consequente criação da BRF- Brasil Foods, pode retornar ao plenário do Cade em 13 de julho. Nesta semana, representantes dessas empresas estiveram com conselheiros do Cade discutindo a venda de ativos para impedir um eventual veto à compra da Sadia. Em dia de tiroteio, Pão de Açúcar gira R$ 1,7 biMal se recuperaram da surpreendente proposta de fusão das operações do Pão de Açúcar com o Carrefour no Brasil, os investidores ontem se depararam com um verdadeiro tiroteio com as ações da varejista brasileira. Durante a manhã, as preferenciais (PN, sem voto) da empresa chegaram a subir 12%. Nesse momento, a sensação que se tinha no mercado é que grandes investidores, com muita bala na agulha, estavam comprando as ações, certos de que o grupo Casino diria sim aos negócios. No entanto, de uma hora para outra, as ações viraram para o campo negativo, fechando em baixa de 3,07%, a maior queda do Indice Bovespa.Esse sobe e desce deixou os investidores sem saber o que pensar. Afinal de contas, as apostas são de que a fusão vai ou não dar certo?O giro de negócios com os papéis do Pão de Açúcar reforça o tamanho do bangue-bangue que ocorreu entre os investidores. As ações movimentaram R$ 1,7 bilhão, o equivalente a 26% do giro da Bovespa. Esse volume superou, e muito, os negócios com tradicionais papéis, como as PNs série A da Vale que giraram R$ 408,3 milhões e as PNs da Petrobras, com R$ 330,6 milhões.Casino confirma a compra de 6% do capital da varejistaO volume é significativo também quando comparado com o histórico da companhia. No ano, a média diária de negócios com as ações do Pão de Açúcar era de R$ 49,7 milhões.Esse giro gigantesco e o comportamento errático das ações deixou o mercado intrigado. Quem seria forte o suficiente para estar por trás desses negócios e fazer o volume dar tamanho salto?Para os analistas, o Casino era o grande protagonista desse burburinho. "Só alguém com muito dinheiro e muito interessado na operação poderia ser o responsável por esse giro", diz o diretor de uma corretora.Bingo! Por volta das 20h30, o Casino informou o Pão de Açúcar que comprou nos últimos dias o equivalente a 6% do capital total do Pão de Açúcar.Outra sinalização que levantava suspeitas sobre o Casino era a grande movimentação de ações por corretoras estrangeiras, que costumam intermediar operações de investidores internacionais. Corretoras como Credit Suisse, Morgan Stanley, Barclays e Link (comprada pelo UBS) foram os grandes destaques tanto na ponta de compra quanto na de venda das ações.Existem várias teses para essa compra de ações confirmada pelo Casino. Alguns acreditam que o aumento de participação seria para o grupo francês ter maior poder de fogo na negociação com o Pão de Açúcar. Já outros apostam que esta é apenas a forma encontrada pelo Casino para mostrar ao Pão de Açúcar que o grupo continua bem vivo e disposto a brigar.Coincidência ou não, as ações passaram a cair depois que o Pão de Açúcar enviou uma carta aos controladores, acionistas e partes relacionadas proibindo a negociação com as ações, já que podem ter informações privilegiadas neste momento. Inclui-se nesse grupo o Casino.Daniele Camba é repórter de Investimentos Dilma foi informada antes sobre operação A presidente Dilma Rousseff foi informada previamente da operação de fusão do Pão de Açúcar com o grupo francês Carrefour. Segundo uma fonte do Palácio do Planalto, a presidente pediu "cautela", mas não se opôs ao envolvimento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) no negócio. Na prática, deu autonomia ao banco para analisar e participar da operação.O BNDES se dispôs a entrar com € 2 bilhões (cerca de R$ 4,5 bilhões) na fusão, mas o governo avalia que esse valor pode diminuir, em função do interesse de outros investidores. Como o mercado reagiu bem ao anúncio do negócio, por entender, segundo análise oficial, o potencial de criação de valor, é possível que investidores queiram adquirir uma fatia, diminuindo a necessidade de aporte do banco estatal no fechamento da operaçãoO BNDES vai participar da fusão por meio do BNDESPar, seu braço de participações acionárias. Desta forma, explica uma fonte, não haverá empréstimo subsidiado do governo. O BNDESPar responde hoje por 20% do ativo total do BNDES e por algo entre 50% e 60% do lucro do banco. Entrará na fusão como investidor, em condições de mercado.O governo compara a união das duas redes de supermercado com a que resultou na criação da Inbev, o maior fabricantes de cervejas do mundo. Na fusão da brasileira Ambev com a belga Interbrew, em 2004, a gestão da multinacional passou a ser feita por executivos brasileiros. Segundo informações que chegaram ao Palácio do Planalto, o mesmo ocorrerá na fusão entre Pão de Açúcar e Carrefour.No negócio, o controle da operação brasileira continuará nas mãos do Pão de Açúcar, enquanto a participação deste no Carrefour, lá fora, será minoritária. Apesar disso, foi dito ao governo que a tecnologia de gestão de supermercado da operação global do grupo francês será, a partir de agora, brasileira. Este é um aspecto que, se confirmado pela associação, favorece a disposição do governo em apoiar a fusão.O Carrefour foi um grupo inovador no passado. Depois que começou a ser controlado por fundos de participações acionárias ("private equity", no jargão em inglês), passou a gerar "resultados medíocres", segundo palavras de uma fonte do governo. A associação com o Pão de Açúcar, explica uma fonte oficial, cria oportunidade de melhorar a gestão do grupo francês e, assim, gerar bons retornos, por isso, o mercado teria reagido tão bem ao anúncio da fusão.O governo avalia que o grau de concentração resultante da fusão - estimado em 32,2% - é normal. Nos Estados Unidos, o Walmart também detém 32% do mercado e, na França, o Carrefour tem 26%. Numa avaliação preliminar, não haveria superposição de lojas, mas complementaridade. O governo acredita que o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) deverá aprovar a operação, mas pode obrigar os dois grupos a se desfazer de alguns supermercados. Não haverá fechamento de lojas, mas alienação a outros atores. "Se decidir determinar algum desinvestimento, o Cade vai mandar vender lojas. Fechar não faz sentido", explicou uma fonte.Por isso, em Brasília, não se acredita na hipótese de a fusão provocar destruição de empregos. "Demissões só ocorrerão no nível das diretorias", brincou uma fonte familiarizada com o negócio. "Não tem emprego em jogo."A concentração no varejo, na avaliação oficial, não é necessariamente ruim. A avaliação é a de que o comércio varejista foi grande aliado do governo no processo de estabilização da economia deflagrado pelo Plano Real, em 1994. Os supermercados aprenderam que a inflação corrói a renda, obrigando-os a trabalhar com produtos mais populares e, portanto, com margem menor de lucro. Com a estabilização, tiveram ganhos de escala e passaram a trabalhar com produtos cada vez mais sofisticados e com margens maiores.O governo também não vê com preocupação a possibilidade de a concentração no varejo dificultar a vida de fornecedores. Grandes supermercados têm, segundo avaliação oficial, mais força para negociar preços com a indústria. "É bom lembrar que, do lado da indústria, há oligopólios poderosos, como o dos produtos de higiene e limpeza", observou uma fonte.A reação do Casino, sócio francês do Pão de Açúcar, contra a fusão surpreendeu integrantes do governo, que a consideraram "muito agressiva". Uma fonte oficial informou que o Casino, que teria o direito de assumir o controle acionário do Pão de Açúcar graças a acordo assinado em 2005, tem, em algumas condições, poder de veto dentro do grupo brasileiro.Esse acordo não proíbe a prospecção de novos negócios por parte dos dois sócios. Um assessor graduado do governo lembra que, quando o Pão de Açúcar anunciou o interesse em comprar as redes varejistas Casas Bahia e Ponto Frio, o Casino não o questionou. "Como mexeu com o concorrente deles na França [o Carrefour], o pessoal ficou abespinhado", comentou uma fonte.Um outro aspecto da fusão favorece o apoio de Brasília ao negócio. Se nada fosse feito, o Pão de Açúcar passaria a ser controlado pelo Casino no próximo ano, deixando espaço livre para um único ator - o americano Walmart - comprar o Carrefour, que passa por dificuldades."Por que a gente não pode aproveitar essa oportunidade?", indagou um integrante do governo em defesa do apoio ao negócio. "É uma oportunidade de realizar um 'turn around' (uma virada bem-sucedida) na empresa, com criação de valor, da mesma forma como ocorreu na Inbev." Governo francês fica em silêncioO governo francês é normalmente muito ágil quando se trata de defender suas empresas no exterior. Mas até ontem as autoridades não tinham feito nenhuma manifestação oficial ao governo brasileiro sobre as dificuldades do grupo Casino com seu parceiro Pão de Açúcar, segundo fontes.A diferença pode ser que desta vez são dois grupos franceses brigando, Carrefour e Casino. O caso é monitorado pela diplomacia brasileira, mas está ainda na esfera privada, incluindo tentativa de arbitragem na Camara de Comércio Internacional. A participação do BNDES é vista no mercado como reflexo do interesse do governo brasileiro no caso, mas fontes do governo insistem que se trata de operação normal com clientes.Em todo caso, a disputa envolvendo os três grupos poderá ser discutida mesmo informalmente na comissão econômica bilateral que vai se reunir na semana que vem em Paris, chefiada do lado brasileiro pelo ministro do Desenvolvimento, Industria e Comércio Exterior, Fernando Pimentel.Alem da parte oficial, haverá encontro de empresários dos dois países para rever o que aconteceu nas relações bilaterais no último ano. E o caso Carrefour, Casino e Pão de Açucar parece inescapável.Também estará na capital francesa, na semana que vem, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, para um grande seminário sobre a economia brasileira, organizado pela revista "The Economist", com participação de pesos pesados do setor empresarial europeu.
quarta-feira, 29 de junho de 2011
Após oscilações, café sobe refletindo otimismo no mercado externo
Após oscilações, café sobe refletindo otimismo no mercado externo
Os contratos futuros de café arábica negociados na ICE Futures US encerraram a quarta-feira com altas, em uma sessão caracterizada pela forte volatilidade. As cotações variaram entre altas e fortes baixas, em busca de um direcionamento mais concreto e, ao final dos negócios, conseguiram atrair novas ordens de compra, o que permitiu a consolidação do viés altista e, além disso, garantiu à posição setembro se posicionar acima do intervalo psicológico de 260,00 centavos de dólar por libra. No after-hours os ganhos se acentuaram ainda mais. Ao longo do dia, os temores climáticos, que, inclusive, garantiram bons ganhos ao café na terça-feira não tiveram maiores influências sobre os negócios com café. Desse modo, o mercado passou a operar baseado em aspectos técnicos, sendo que alguns players tentaram realizar alguns lucros em cima dos ganhos observados na sessão passada. Entretanto, os baixistas, mais uma vez, demonstraram pouco fôlego, já que o nível de 250,00 centavos nem sequer conseguiu ser testado. Assim, pouco a pouco, a pressão baixista foi diminuindo, dando lugar a novas ordens de compra. Essas ordens se tornaram ainda mais incisiva após as notícias sobre a Grécia, que aprovou um pacote econômico, que deve pôr fim, ao menos temporariamente, aos temores sobre a economia do bloco europeu. Mesmo com forte pressão popular e muita confusão e agressões em frente ao Parlamento grego, os deputados deram sinal positivo ao pacote, que prevê, entre outras medidas cortes de gastos, aumentos de impostos e privatizações. Com isso, o país deverá receber uma ajuda externa de 78 bilhões de euros até 2015 o que, em tese, poderia garantir a redução do enorme déficit fiscal e tornar sustentável a dívida grega, que supera a marca dos 355 bilhões de euros. No aspecto fundamental, enquanto o frio no Brasil deixou de ser uma preocupação, ao menos no curto prazo, cresce entre os participantes os temores quanto à tormenta Arlene, que atinge o México. Os Estados de Tamaulipas e Veracruz, que é o segundo maior produtor de café do país, foram colocados em "alerta amarelo" devido à presença do fenômeno climático. O Serviço Meteorológico Nacional informou que a tormenta afeta de Barra de Nautla, em Veracruz, até Bahía de Algodones, em Tamaulipas. Os especialistas preveem um aumento na intensidade dos ventos, além da possibilidade de avalanches e aumento do fluxo dos rios. Também estão previstas chuvas intensas sobre os Estados de Puebla, Tlaxcala, México, Hidalgo e Morelos. No encerramento do dia, o setembro em Nova Iorque teve alta de 180 pontos com 260,70 centavos, sendo a máxima em 262,90 e a mínima em 252,00 centavos por libra, com o setembro registrando oscilação positiva de 165 pontos, com a libra a 264,05centavos, sendo a máxima em 266,25 e a mínima em 256,00 centavos por libra. Na Euronext/Liffe, em Londres, a posição julho registrou queda de 16 dólares, com 2.439 dólares por tonelada, com o setembro tendo desvalorização de 18 dólares, com 2.472 dólares por tonelada. De acordo com analistas internacionais, o dia foi caracterizado por variações de humor no mercado cafeeiro. Depois de um início positivo, com a continuidade do movimento comprador, algumas ordens de venda foram acionadas e perdas relativamente consistentes chegaram a ser observadas. No entanto, os bearishs (baixistas), tão efetivos até recentemente, voltaram a demonstrar pouco poder de fogo e não conseguiram explorar alguns suportes mais efetivos. "Essa fraqueza já deu um ânimo para as recompras e, a partir do momento em que o mercado externo começou a se mostrar ainda mais consistente, os ganhos voltaram a ser observados em Nova Iorque", indicou um trader, que lembrou que as bolsas de valores e as cotações das commodities tiveram um impulso após as notícias vindas da Grécia. O índice CRB, que mede a variação de 14 diferentes commodities, encerrou o dia com ganhos de 1,17%. "O viés climático pode ter perdido um pouco de força, mas ele ainda é vigente. Acho pouco provável que os players liquidem fortemente nesta quinta e sexta-feira. Temos de lembrar que a bolsa estará fechada na próxima segunda-feira e ninguém quer se arriscar e ser surpreendido com algum fator novo relacionado ao clima durante o final de semana prolongado", complementou um trader. Na segunda a ICE não opera devido ao feriado de Independência dos Estados Unidos. As exportações de café do Brasil em junho, até o dia 28, somaram 1.455.488 sacas, contra 1.386.082 sacas registradas no mesmo período de maio, informou o Cecafé (Conselho dos Exportadores de Café do Brasil). Os estoques certificados de café na bolsa de Nova Iorque tiveram queda de 1.388 sacas indo para 1.622.299 sacas. O volume negociado no dia na ICE Futures US foi estimado em 16.673 lotes, com as opções tendo 3.497 calls e 2.567 puts. Tecnicamente, o setembro na ICE Futures US tem uma resistência em 262,90-263,00, 263,50, 264,00, 264,50, 264,90-265,00, 265,50, 266,00, 266,50, 267,00, 267,50 e 268,00 centavos de dólar por libra peso, com o suporte em 252,00, 251,50, 251,00, 250,50, 250,00, 249,50, 249,00, 248,50, 248,00, 247,50, 247,00, 246,50 e 246,00 centavos por libra.
Os contratos futuros de café arábica negociados na ICE Futures US encerraram a quarta-feira com altas, em uma sessão caracterizada pela forte volatilidade. As cotações variaram entre altas e fortes baixas, em busca de um direcionamento mais concreto e, ao final dos negócios, conseguiram atrair novas ordens de compra, o que permitiu a consolidação do viés altista e, além disso, garantiu à posição setembro se posicionar acima do intervalo psicológico de 260,00 centavos de dólar por libra. No after-hours os ganhos se acentuaram ainda mais. Ao longo do dia, os temores climáticos, que, inclusive, garantiram bons ganhos ao café na terça-feira não tiveram maiores influências sobre os negócios com café. Desse modo, o mercado passou a operar baseado em aspectos técnicos, sendo que alguns players tentaram realizar alguns lucros em cima dos ganhos observados na sessão passada. Entretanto, os baixistas, mais uma vez, demonstraram pouco fôlego, já que o nível de 250,00 centavos nem sequer conseguiu ser testado. Assim, pouco a pouco, a pressão baixista foi diminuindo, dando lugar a novas ordens de compra. Essas ordens se tornaram ainda mais incisiva após as notícias sobre a Grécia, que aprovou um pacote econômico, que deve pôr fim, ao menos temporariamente, aos temores sobre a economia do bloco europeu. Mesmo com forte pressão popular e muita confusão e agressões em frente ao Parlamento grego, os deputados deram sinal positivo ao pacote, que prevê, entre outras medidas cortes de gastos, aumentos de impostos e privatizações. Com isso, o país deverá receber uma ajuda externa de 78 bilhões de euros até 2015 o que, em tese, poderia garantir a redução do enorme déficit fiscal e tornar sustentável a dívida grega, que supera a marca dos 355 bilhões de euros. No aspecto fundamental, enquanto o frio no Brasil deixou de ser uma preocupação, ao menos no curto prazo, cresce entre os participantes os temores quanto à tormenta Arlene, que atinge o México. Os Estados de Tamaulipas e Veracruz, que é o segundo maior produtor de café do país, foram colocados em "alerta amarelo" devido à presença do fenômeno climático. O Serviço Meteorológico Nacional informou que a tormenta afeta de Barra de Nautla, em Veracruz, até Bahía de Algodones, em Tamaulipas. Os especialistas preveem um aumento na intensidade dos ventos, além da possibilidade de avalanches e aumento do fluxo dos rios. Também estão previstas chuvas intensas sobre os Estados de Puebla, Tlaxcala, México, Hidalgo e Morelos. No encerramento do dia, o setembro em Nova Iorque teve alta de 180 pontos com 260,70 centavos, sendo a máxima em 262,90 e a mínima em 252,00 centavos por libra, com o setembro registrando oscilação positiva de 165 pontos, com a libra a 264,05centavos, sendo a máxima em 266,25 e a mínima em 256,00 centavos por libra. Na Euronext/Liffe, em Londres, a posição julho registrou queda de 16 dólares, com 2.439 dólares por tonelada, com o setembro tendo desvalorização de 18 dólares, com 2.472 dólares por tonelada. De acordo com analistas internacionais, o dia foi caracterizado por variações de humor no mercado cafeeiro. Depois de um início positivo, com a continuidade do movimento comprador, algumas ordens de venda foram acionadas e perdas relativamente consistentes chegaram a ser observadas. No entanto, os bearishs (baixistas), tão efetivos até recentemente, voltaram a demonstrar pouco poder de fogo e não conseguiram explorar alguns suportes mais efetivos. "Essa fraqueza já deu um ânimo para as recompras e, a partir do momento em que o mercado externo começou a se mostrar ainda mais consistente, os ganhos voltaram a ser observados em Nova Iorque", indicou um trader, que lembrou que as bolsas de valores e as cotações das commodities tiveram um impulso após as notícias vindas da Grécia. O índice CRB, que mede a variação de 14 diferentes commodities, encerrou o dia com ganhos de 1,17%. "O viés climático pode ter perdido um pouco de força, mas ele ainda é vigente. Acho pouco provável que os players liquidem fortemente nesta quinta e sexta-feira. Temos de lembrar que a bolsa estará fechada na próxima segunda-feira e ninguém quer se arriscar e ser surpreendido com algum fator novo relacionado ao clima durante o final de semana prolongado", complementou um trader. Na segunda a ICE não opera devido ao feriado de Independência dos Estados Unidos. As exportações de café do Brasil em junho, até o dia 28, somaram 1.455.488 sacas, contra 1.386.082 sacas registradas no mesmo período de maio, informou o Cecafé (Conselho dos Exportadores de Café do Brasil). Os estoques certificados de café na bolsa de Nova Iorque tiveram queda de 1.388 sacas indo para 1.622.299 sacas. O volume negociado no dia na ICE Futures US foi estimado em 16.673 lotes, com as opções tendo 3.497 calls e 2.567 puts. Tecnicamente, o setembro na ICE Futures US tem uma resistência em 262,90-263,00, 263,50, 264,00, 264,50, 264,90-265,00, 265,50, 266,00, 266,50, 267,00, 267,50 e 268,00 centavos de dólar por libra peso, com o suporte em 252,00, 251,50, 251,00, 250,50, 250,00, 249,50, 249,00, 248,50, 248,00, 247,50, 247,00, 246,50 e 246,00 centavos por libra.
O caminho até os cinco milhões de investidores em ações
Fala-se muito no objetivo da BM&FBovespa de alcançar cinco milhões de investidores em ações no Brasil. Os anos que passei à frente das áreas de tecnologia e marketing da então maior corretora da Bovespa me levam a uma visão um pouco diferente do que tenho lido e ouvido sobre as metas para chegar ao universo de investidores pretendido. Nossa visão, há quase dez anos, era de que tecnologia e marketing estavam tão intrinsecamente relacionados no caso do home broker, que deveriam pertencer a uma só área na empresa, com diretriz única. Era impossível estabelecer uma estratégia de tecnologia paralelamente a uma estratégia de marketing, como ocorre em outras indústrias. Isso porque ambas eram o cerne do negócio. Não era uma questão de alinhamento com o negócio, nem mesmo de integração. Tecnologia era o nosso negócio. Encarávamos a corretora como uma empresa de tecnologia que atuava no mercado financeiro. O crescimento verificado foi fruto de uma estratégia integrada, em que sistemas e ferramentas eram definidos com base nas necessidades do investidor-alvo. A forma como o "data feed" era processado e exibido em tela se valia de linguagem que reproduzia as sensações do mercado e estimulava o sentido de pertencimento a um grupo de "experts". A ideia era tornar o processo de decisão (adesão) o mais natural possível.Os fóruns (na época não existiam redes sociais) corroboravam o processo de "evangelização" dos iniciantes. O sistema, em forma de "dashboard", proporcionava as sensações de segurança e controle da situação, necessárias ao ato de compra ou venda de um ativo. E, como pano de fundo das ofertas, as iniciativas educacionais suportavam o racional das decisões. Enfim, todas as ações eram pensadas a partir das personas que representavam os diversos públicos-alvo da corretora.O mercado amadureceu, cresceu e agora estagnou. Algumas corretoras responsabilizam a bolsa pelos maus resultados da campanha com Pelé. Outras sugerem a aplicação de recursos em ações educacionais mais efetivas. Os pleitos têm sua validade, mas não alcançam o âmago do que fará o mercado romper a atual inércia. O número de pessoas físicas na bolsa é hoje encarado como uma espécie de atribuição mágica do Indice Bovespa. Criou-se uma correlação imediata. Quando os participantes do mercado aceitam este "status quo" determinista, fecham-se as portas para a inovação. O processo de inovação se alimenta da ausência do determinismo e de suas correlações nefastas, enquanto os paradigmas se sustentam em explicações mercadológicas coerentes e consistentes que criam uma zona de conforto em que se oferece mais do mesmo por cada vez menos. As ofertas hoje se resumem a palestras, cursos, análises, recomendações e sistemas cada vez mais rápidos e completos. E, é claro, a preços cada vez menores. Diante desse cenário, as perguntas corretas não são feitas. É o que acontece nas situações em que o mercado beira a cegueira estratégica coletiva. E quando não se fazem as perguntas certas, as respostas são ineficazes. O que desejam os clientes a ser conquistados? Será que eles estão interessados no pacote atual que o mercado oferece? É evidente que as ofertas são sofisticadas, tecnologicamente avançadas, inclusive para patamares internacionais. O problema é que são muito interessantes e atrativas para o público que já está na bolsa. Elas não seduzem os que ainda temem o mercado. Nem os que se protegem dele por meio dos escudos do desconhecimento de suas nuances, sem fazer ideia de seu avançado arcabouço legal e de seus eficientes instrumentos regulatórios. Qual o sentido de investir milhões em infraestrutura e sistemas para clientes que talvez venham a comprar Petrobras e Vale para guardar por dez anos? Qual a oferta disponível para esse cliente atualmente? Um "dashboard" espetacular, com informações em tempo real e operações com "delay" de nanossegundos? Nada disso faz sentido para quem pretende acompanhar a evolução de seus papéis no longo prazo.É hora de se repensar a oferta com uma comunicação adequada e estimulante. Este é o ambiente ideal para as empresas inovadoras. É também o caminho para alcançar a meta almejada de cinco milhões de investidores.
Guilherme Horn é CEO da Órama e ex-sócio e ex-diretor de tecnologia e marketing da Ágora Corretora.
Guilherme Horn é CEO da Órama e ex-sócio e ex-diretor de tecnologia e marketing da Ágora Corretora.
Setor de fertilizantes marcha para o recorde de vendas
Setor de fertilizantes marcha para o recorde de vendas
As dificuldades resultantes da crise econômica mundial parecem ter ficado para trás - pelo menos para o setor de fertilizantes. A demanda está aquecida e as entregas apontam para novo recorde do consumo anual em 2011: 26 milhões de toneladas, de acordo com previsão da RC Consultores. Caso esse volume se confirme, representará aumento de 6% sobre os 24,52 milhões de toneladas registrados no ano passado. De acordo com David Roquetti Filho, diretor executivo da Associação Nacional para a Difusão de Adubos (Anda), as entregas de fertilizantes ao consumidor final em maio deste ano registraram aumento de 63,3% em comparação com maio de 2010, passando de 1,34 milhão de toneladas para 2,19 milhões de toneladas. "Se analisarmos as entregas relativas ao acumulado de janeiro a maio de 2011, verificamos que as mesmas representaram 23,8% a mais quando comparadas ao mesmo período de 2010, ou seja: 1,65 milhão de toneladas a mais".Roquetti Filho salienta que 2008 vinha se consolidando como um ano de recorde de entregas de fertilizantes ao consumidor final, mas a crise financeira internacional fez com que o segundo semestre daquele ano apresentasse recuo a patamares de oito anos atrás. Como resultado, as entregas de janeiro a dezembro no período ficaram "abaixo dos anos de 2003 e 2004", diz. A recuperação do setor, porém, não demorou, e as entregas em 2010 voltaram ao mesmo patamar de 2007, segundo a Anda. "O setor, em termos de volumes de entregas ao consumidor final, recuperou-se da crise financeira internacional", afirma o executivo.Um dos motivos do bom desempenho é a antecipação da comercialização. "As vendas este ano foram muito antecipadas em relação a anos anteriores", afirma Javier Britez, diretor da Plataforma de Fertilizantes da Louis Dreyfus Commodities (LDC). Ele observa que, de janeiro a maio, as entregas foram 22% superiores ao mesmo período de 2010, o que mostra a boa correlação de preços dos fertilizantes e as principais commodities. "O setor ainda leva as marcas de 2008, mas, em geral, está recuperado e 2011 promete ser um bom ano", diz. Essa antecipação também foi notada por Marcos Stelzer, gerente de Marketing e Vendas da Anglo American - Copebrás. "As entregas de fertilizantes aos agricultores em 2011 estão em ritmo mais forte do que no ano passado, cerca de 20% acima, considerando o período de janeiro a maio". Stelzer afirma que esse comportamento é resultado de fundamentos positivos do agronegócio brasileiro, "que levaram os fazendeiros a aumentar o uso de fertilizantes na safrinha de milho e também a antecipar as entregas para a safra de verão". Outro aspecto ressaltado pelo executivo da Copebrás é que, ao se comparar o desempenho atual dos fertilizantes fosfatados com 2008, "os excelentes preços e a supervalorização do real ajudam o setor a reduzir suas dívidas". De modo geral, a demanda por fertilizantes tem sido maior para todas as lavouras em 2011. Segundo Britez, da LDC, o consumo relativo aumentou puxado pelos bons preços das commodities, o que incentiva investimentos. Ele destaca as culturas de algodão, cana-de-açúcar, soja e milho, que também foram beneficiadas pelo aumento da área plantada. Stelzer observa que esses produtos também foram favorecidos pelo maior uso de tecnologia. Um dos aspectos resultantes desse momento favorável da agricultura é o aumento das importações de fertilizantes. Segundo a Anda, em maio passado as compras externas somaram 1,73 milhão de toneladas, o que corresponde a crescimento de 60% sobre 1,08 milhão de toneladas registrados no mesmo período do ano passado. Já Britez, da LDC, ressalta que de janeiro a maio de 2011 as importações aumentaram 49% em relação a igual período do ano passado - cenário em que a valorização do real teve impacto limitado.
As dificuldades resultantes da crise econômica mundial parecem ter ficado para trás - pelo menos para o setor de fertilizantes. A demanda está aquecida e as entregas apontam para novo recorde do consumo anual em 2011: 26 milhões de toneladas, de acordo com previsão da RC Consultores. Caso esse volume se confirme, representará aumento de 6% sobre os 24,52 milhões de toneladas registrados no ano passado. De acordo com David Roquetti Filho, diretor executivo da Associação Nacional para a Difusão de Adubos (Anda), as entregas de fertilizantes ao consumidor final em maio deste ano registraram aumento de 63,3% em comparação com maio de 2010, passando de 1,34 milhão de toneladas para 2,19 milhões de toneladas. "Se analisarmos as entregas relativas ao acumulado de janeiro a maio de 2011, verificamos que as mesmas representaram 23,8% a mais quando comparadas ao mesmo período de 2010, ou seja: 1,65 milhão de toneladas a mais".Roquetti Filho salienta que 2008 vinha se consolidando como um ano de recorde de entregas de fertilizantes ao consumidor final, mas a crise financeira internacional fez com que o segundo semestre daquele ano apresentasse recuo a patamares de oito anos atrás. Como resultado, as entregas de janeiro a dezembro no período ficaram "abaixo dos anos de 2003 e 2004", diz. A recuperação do setor, porém, não demorou, e as entregas em 2010 voltaram ao mesmo patamar de 2007, segundo a Anda. "O setor, em termos de volumes de entregas ao consumidor final, recuperou-se da crise financeira internacional", afirma o executivo.Um dos motivos do bom desempenho é a antecipação da comercialização. "As vendas este ano foram muito antecipadas em relação a anos anteriores", afirma Javier Britez, diretor da Plataforma de Fertilizantes da Louis Dreyfus Commodities (LDC). Ele observa que, de janeiro a maio, as entregas foram 22% superiores ao mesmo período de 2010, o que mostra a boa correlação de preços dos fertilizantes e as principais commodities. "O setor ainda leva as marcas de 2008, mas, em geral, está recuperado e 2011 promete ser um bom ano", diz. Essa antecipação também foi notada por Marcos Stelzer, gerente de Marketing e Vendas da Anglo American - Copebrás. "As entregas de fertilizantes aos agricultores em 2011 estão em ritmo mais forte do que no ano passado, cerca de 20% acima, considerando o período de janeiro a maio". Stelzer afirma que esse comportamento é resultado de fundamentos positivos do agronegócio brasileiro, "que levaram os fazendeiros a aumentar o uso de fertilizantes na safrinha de milho e também a antecipar as entregas para a safra de verão". Outro aspecto ressaltado pelo executivo da Copebrás é que, ao se comparar o desempenho atual dos fertilizantes fosfatados com 2008, "os excelentes preços e a supervalorização do real ajudam o setor a reduzir suas dívidas". De modo geral, a demanda por fertilizantes tem sido maior para todas as lavouras em 2011. Segundo Britez, da LDC, o consumo relativo aumentou puxado pelos bons preços das commodities, o que incentiva investimentos. Ele destaca as culturas de algodão, cana-de-açúcar, soja e milho, que também foram beneficiadas pelo aumento da área plantada. Stelzer observa que esses produtos também foram favorecidos pelo maior uso de tecnologia. Um dos aspectos resultantes desse momento favorável da agricultura é o aumento das importações de fertilizantes. Segundo a Anda, em maio passado as compras externas somaram 1,73 milhão de toneladas, o que corresponde a crescimento de 60% sobre 1,08 milhão de toneladas registrados no mesmo período do ano passado. Já Britez, da LDC, ressalta que de janeiro a maio de 2011 as importações aumentaram 49% em relação a igual período do ano passado - cenário em que a valorização do real teve impacto limitado.
A leniência do Brasil com a inflação
A leniência do Brasil com a inflação
Doze anos depois de adotado o regime de metas para inflação, o Brasil ainda possui uma das metas mais altas dentre os países que aderiram a esse sistema. O atual objetivo (4,5%), que amanhã, em reunião do Conselho Monetário Nacional, deve ser fixado também para 2013, é o mesmo há oito anos.Com exceção da Turquia e da Rússia, apenas economias em estágio de desenvolvimento inferior ao do Brasil têm metas inflacionárias maiores. Países emergentes como Chile, México e Coreia do Sul operam com metas e índices de preços bem menores. Nessa seara, avançaram mais que a economia brasileira nos anos recentes, apesar de enfrentarem pressões inflacionárias semelhantes.Um balanço feito pelo economista Scott Roger, do Fundo Monetário Internacional, mostra que o regime de metas funcionou bem em praticamente todos os países que o adotaram. Os índices de preços foram derrubados num primeiro momento e depois ancorados. O Brasil não é uma exceção, mas, aqui, a inflação está num patamar elevado e persistente.Meta e tolerância do país estão entre as mais altasDe 1999 a 2010, o IPCA anual médio foi de 6,78%. Retirando da estatística o primeiro ano do regime, afinal, ele entrou em vigência apenas em meados de 1999, a média cai para 6,58%. Considerando apenas o período em que a meta passou a ser 4,5% - de 2005 até agora -, a inflação média efetiva ficou próxima do alvo (4,9%).Bráulio Borges, economista-chefe da LCA Consultores, calculou que, dentre os países emergentes que usam o regime, a meta média estava, em 2010, em 4,4%, com tolerância para baixo e para cima de 1,2 ponto percentual. Quando se considera a mediana, cálculo que exclui as situações extremas, o índice médio cai para 3,5% (+/- 1 p.p.), bem abaixo da meta brasileira. Além disso, o Brasil é o que tem o intervalo de tolerância mais amplo - em tese, o intervalo existe para absorção de choques, mas, mantido em patamares elevados (já foi de 2,5 p.p.!), demonstra leniência.O governo perdeu excelente oportunidade de reduzir a meta em 2007. No ano anterior, o IPCA recuara para o nível mais baixo da história do regime - 3,14%. Nos primeiros meses de 2007, o Banco Central (BC) constatou que os preços internacionais das commodities, especialmente dos alimentos, já começavam a avançar acima dos níveis dos anos anteriores.Com a inflação dentro da meta, o governo, ao fixar o objetivo de 2009, poderia ter reduzido o alvo sem a necessidade de um aperto monetário adicional. A diminuição teria ajudado a controlar as expectativas num momento crucial, mas a equipe econômica julgou que um objetivo menor levaria o BC a derrubar o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB).O que se viu, desde então, foi a aceleração concomitante de PIB e inflação. Em 2008, mesmo com a parada súbita da economia no último trimestre, o IPCA chegou a 5,9%. No ano seguinte, apesar da recessão, bateu em 4,31% e, em 2010, voltou a 5,9%. Os números mostram que toda vez que o PIB cresce acima do potencial, estimado hoje entre 4% e 4,5%, a inflação supera a meta e ameaça sair de controle, como nos últimos meses.Bráulio Borges sustenta que reduzir a meta para muito menos de 4%, num espaço curto de tempo, não é recomendável. São três as principais razões: o peso dos serviços na cesta de consumo dos brasileiros está crescendo de maneira relevante, em detrimento da participação dos bens, e a inflação dos serviços costuma correr bem acima da dos preços industriais; o grau de indexação da economia brasileira ainda é grande; o país tem juros reais muito altos.O esforço para diminuir a meta, alega Borges, poderia derrubar o PIB abaixo do potencial durante a transição para o novo alvo. Na verdade, é bem provável que, por causa da aceleração inflacionária do fim de 2010 e início de 2011, a economia já tenha que crescer abaixo do potencial neste e no próximo ano. Este é o custo de se crescer acima do possível.É difícil ver o país caminhando para patamares de inflação menores. O problema da indexação foi agravado pela política de correção do salário mínimo (IPCA do ano anterior, acrescido do PIB de dois anos antes), transformada em lei pelo governo Dilma Rousseff. O mínimo, além de corrigir mais de 40% das despesas primárias do governo, é talvez o principal indexador do setor de serviços, justamente o que mais vem pressionando os preços. Cristiano Romero é editor-executivo do Valor
Doze anos depois de adotado o regime de metas para inflação, o Brasil ainda possui uma das metas mais altas dentre os países que aderiram a esse sistema. O atual objetivo (4,5%), que amanhã, em reunião do Conselho Monetário Nacional, deve ser fixado também para 2013, é o mesmo há oito anos.Com exceção da Turquia e da Rússia, apenas economias em estágio de desenvolvimento inferior ao do Brasil têm metas inflacionárias maiores. Países emergentes como Chile, México e Coreia do Sul operam com metas e índices de preços bem menores. Nessa seara, avançaram mais que a economia brasileira nos anos recentes, apesar de enfrentarem pressões inflacionárias semelhantes.Um balanço feito pelo economista Scott Roger, do Fundo Monetário Internacional, mostra que o regime de metas funcionou bem em praticamente todos os países que o adotaram. Os índices de preços foram derrubados num primeiro momento e depois ancorados. O Brasil não é uma exceção, mas, aqui, a inflação está num patamar elevado e persistente.Meta e tolerância do país estão entre as mais altasDe 1999 a 2010, o IPCA anual médio foi de 6,78%. Retirando da estatística o primeiro ano do regime, afinal, ele entrou em vigência apenas em meados de 1999, a média cai para 6,58%. Considerando apenas o período em que a meta passou a ser 4,5% - de 2005 até agora -, a inflação média efetiva ficou próxima do alvo (4,9%).Bráulio Borges, economista-chefe da LCA Consultores, calculou que, dentre os países emergentes que usam o regime, a meta média estava, em 2010, em 4,4%, com tolerância para baixo e para cima de 1,2 ponto percentual. Quando se considera a mediana, cálculo que exclui as situações extremas, o índice médio cai para 3,5% (+/- 1 p.p.), bem abaixo da meta brasileira. Além disso, o Brasil é o que tem o intervalo de tolerância mais amplo - em tese, o intervalo existe para absorção de choques, mas, mantido em patamares elevados (já foi de 2,5 p.p.!), demonstra leniência.O governo perdeu excelente oportunidade de reduzir a meta em 2007. No ano anterior, o IPCA recuara para o nível mais baixo da história do regime - 3,14%. Nos primeiros meses de 2007, o Banco Central (BC) constatou que os preços internacionais das commodities, especialmente dos alimentos, já começavam a avançar acima dos níveis dos anos anteriores.Com a inflação dentro da meta, o governo, ao fixar o objetivo de 2009, poderia ter reduzido o alvo sem a necessidade de um aperto monetário adicional. A diminuição teria ajudado a controlar as expectativas num momento crucial, mas a equipe econômica julgou que um objetivo menor levaria o BC a derrubar o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB).O que se viu, desde então, foi a aceleração concomitante de PIB e inflação. Em 2008, mesmo com a parada súbita da economia no último trimestre, o IPCA chegou a 5,9%. No ano seguinte, apesar da recessão, bateu em 4,31% e, em 2010, voltou a 5,9%. Os números mostram que toda vez que o PIB cresce acima do potencial, estimado hoje entre 4% e 4,5%, a inflação supera a meta e ameaça sair de controle, como nos últimos meses.Bráulio Borges sustenta que reduzir a meta para muito menos de 4%, num espaço curto de tempo, não é recomendável. São três as principais razões: o peso dos serviços na cesta de consumo dos brasileiros está crescendo de maneira relevante, em detrimento da participação dos bens, e a inflação dos serviços costuma correr bem acima da dos preços industriais; o grau de indexação da economia brasileira ainda é grande; o país tem juros reais muito altos.O esforço para diminuir a meta, alega Borges, poderia derrubar o PIB abaixo do potencial durante a transição para o novo alvo. Na verdade, é bem provável que, por causa da aceleração inflacionária do fim de 2010 e início de 2011, a economia já tenha que crescer abaixo do potencial neste e no próximo ano. Este é o custo de se crescer acima do possível.É difícil ver o país caminhando para patamares de inflação menores. O problema da indexação foi agravado pela política de correção do salário mínimo (IPCA do ano anterior, acrescido do PIB de dois anos antes), transformada em lei pelo governo Dilma Rousseff. O mínimo, além de corrigir mais de 40% das despesas primárias do governo, é talvez o principal indexador do setor de serviços, justamente o que mais vem pressionando os preços. Cristiano Romero é editor-executivo do Valor
Lactalis, da França, fica com controle da italiana Parmalat
Lactalis, da França, fica com controle da italiana Parmalat
O grupo francês Lactalis obteve ontem o controle da italiana Parmalat, criando a maior empresa do setor de lácteos do mundo. Com 29% de participação na Parmalat, empresa que tem o capital muito pulverizado, o laticínio francês impôs sua visão durante a assembleia geral reunida em Parma ontem, colocando seus nove candidatos no conselho de administração que tem onze membros. Os dois outros assentos ficaram com representantes de acionistas minoritários, formados principalmente por numerosos fundos de investimento.Com isso, o grupo francês, conhecido pela marca Président, não precisará esperar até o fim de sua oferta pública de compra, em 8 de julho, para ficar com o controle da Parmalat, com a qual chegará a uma receita de € 14 bilhões, tornando-se líder global em lácteosA Lactalis também nomeou seu candidato, Francesco Tato, antigo chefe do grupo de energia Enel, para a presidência da Parmalat e conseguiu aprovar redução do mandato do conselho para um ano contra os três atuais.O novo diretor-executivo será nomeado na primeira reunião do novo conselho. Ele irá substituir Enrico Bondi, que assumiu a Parmalat como interventor depois que a empresa italiana quebrou em dezembro de 2003. Antonio Sala, diretor-geral delegado da Lactalis e presidente da Lactalis Itália, é cotado para o cargo.A tomada do controle da Parmalat pela Lactalis acontece após meses de braço de ferro. Em março, a Lactalis pegou o mercado de surpresa e adquiriu 29% do capital da italiana, montante suficiente para obter o controle da Parmalat.Apoiados pelo governo da Itália, bancos e a Caixa de Depósitos italiano tentaram formar uma aliança para conter a Lactalis, que acabou anunciando, no fim de abril, uma oferta de compra da Parmalat. A empresa italiana rejeitou a oferta de € 2,60 por ação - ou cerca de € 4,5 bilhões pelo total -, mas a Lactalis se recusou a aumentar o valoO sucesso da oferta de compra da Parmalat pela Lactalis foi condicionado à detenção de ao menos 55% do capital da companhia italiana, mas as condições podem ser modificadas. Antes da oferta da Lactalis, a brasileira LBR - Lácteos Brasil chegou a negociar uma operação de troca de ações com a Parmalat. Como a LBR tem licença para uso da marca no Brasil, a expectativa de analistas é de que a francesa inicie algum tipo de negociação com a empresa brasileira.
O grupo francês Lactalis obteve ontem o controle da italiana Parmalat, criando a maior empresa do setor de lácteos do mundo. Com 29% de participação na Parmalat, empresa que tem o capital muito pulverizado, o laticínio francês impôs sua visão durante a assembleia geral reunida em Parma ontem, colocando seus nove candidatos no conselho de administração que tem onze membros. Os dois outros assentos ficaram com representantes de acionistas minoritários, formados principalmente por numerosos fundos de investimento.Com isso, o grupo francês, conhecido pela marca Président, não precisará esperar até o fim de sua oferta pública de compra, em 8 de julho, para ficar com o controle da Parmalat, com a qual chegará a uma receita de € 14 bilhões, tornando-se líder global em lácteosA Lactalis também nomeou seu candidato, Francesco Tato, antigo chefe do grupo de energia Enel, para a presidência da Parmalat e conseguiu aprovar redução do mandato do conselho para um ano contra os três atuais.O novo diretor-executivo será nomeado na primeira reunião do novo conselho. Ele irá substituir Enrico Bondi, que assumiu a Parmalat como interventor depois que a empresa italiana quebrou em dezembro de 2003. Antonio Sala, diretor-geral delegado da Lactalis e presidente da Lactalis Itália, é cotado para o cargo.A tomada do controle da Parmalat pela Lactalis acontece após meses de braço de ferro. Em março, a Lactalis pegou o mercado de surpresa e adquiriu 29% do capital da italiana, montante suficiente para obter o controle da Parmalat.Apoiados pelo governo da Itália, bancos e a Caixa de Depósitos italiano tentaram formar uma aliança para conter a Lactalis, que acabou anunciando, no fim de abril, uma oferta de compra da Parmalat. A empresa italiana rejeitou a oferta de € 2,60 por ação - ou cerca de € 4,5 bilhões pelo total -, mas a Lactalis se recusou a aumentar o valoO sucesso da oferta de compra da Parmalat pela Lactalis foi condicionado à detenção de ao menos 55% do capital da companhia italiana, mas as condições podem ser modificadas. Antes da oferta da Lactalis, a brasileira LBR - Lácteos Brasil chegou a negociar uma operação de troca de ações com a Parmalat. Como a LBR tem licença para uso da marca no Brasil, a expectativa de analistas é de que a francesa inicie algum tipo de negociação com a empresa brasileira.
Do pânico à euforia com a mesma Grécia
Do pânico à euforia com a mesma Grécia
Tudo certo, mas nada resolvido. É nesse clima que os mercados globais sustentaram mais um dia de otimismo com relação à Grécia. Em um exercício de fé no parlamento grego, os agentes compraram ações e commodities e venderam dólar e títulos do Tesouro americano. O mais interessante é que, dias atrás, essa mesma Grécia e seus políticos perdulários serviram de justificativa para queda no preço das ações e uma corrida ao dólar.A votação do projeto de austeridade de ? 78 bilhões está prevista para hoje, com detalhamento de como fazer essa redução de custos estimada para amanhã. Sem essa contrapartida o país não recebe dinheiro do Fundo Monetário Internacional (FMI) e União Europeia (UE) e entra, oficialmente, em default. Fé no parlamento grego puxa bolsas e derruba dólarNão se questiona se o país tem condições de entregar o prometido, ou mesmo, se essa ajuda à Grécia encerra a fatura, ou se em alguns meses terão ser mobilizados novos esforços.Conforme notou o diretor-executivo da NGO Corretora, Sidnei Moura Nehme, no fundo, é tudo um "faz de conta" para se evitar o pior dos cenários, já que não há saídas confiáveis e exequíveis sem moratória da dívida.No entanto, a única "solução" de fato para o problema, que seria a moratória, precisa ser evitada de toda forma, tendo em vista o risco que tal "solução" traria para o sistema financeiro europeu e mundial.Os analistas do Standard Bank também têm uma postura crítica com relação a essa euforia com a Grécia. "A zona do euro enfrenta risco sistêmico e não uma crise específica de um país. E mesmo que o caso da Grécia tenha um desfecho favorável, há muito mais problemas na região, que podem forçar a cotação do euro para a linha de US$ 1,20", escreveu a instituição.Os especialistas do banco chamam a crise na região de "crise dominó". No ano passado, a Grécia foi a primeira a receber ajuda, seguida por Irlanda e Portugal. E esse episódio de pedir resgate novamente, liderado pela Grécia, tem grande chance de ser seguido, também, pelos mesmos Irlanda e Portugal. Na visão do banco, esse é o sinal extraído do mercado de títulos desses países, onde a taxas dispararam nos últimos dias."Se, no fim das contas, a Grécia for forçada a sair do euro, o mercado vai esperar o mesmo efeito dominó. Como resultado, a única pergunta plausível parece ser qual o tamanho dessa fila de dominós", completou o Stantard Bank.Falando em outros membros da zona do euro, Portugal e Espanha parecem se antecipar às exigências do FMI, ou mesmo, aproveitar a "onda" da Grécia, e também anunciaram planos de austeridade. Portugal listou em seu site de oficial planos de privatização e aumento de impostos. E na Espanha se estudam regras de responsabilidade fiscal para as províncias do país.Esse voto de confiança nos Gregos deu fôlego ao euro no pregão de ontem. A moeda comum subiu cerca de 0,5%, retomando a linha de US$ 1,43. Outro vetor de alta para o euro foi o presidente do Banco Central Europeu (BCE), Jean-Claude Trichet, que falou estar em modo de "forte vigilância", termo associado a elevações na taxa básica de juros. O BCE tem reunião na quinta-feira da próxima semana.No câmbio local, a pressão vendedora foi ainda mais forte. O dólar comercial caiu 1,12%, para R$ 1,578, mesmo preço do começo do mês.No mercado futuro, o dólar para julho perdia 1,15%, a R$ 1,5775, e o dólar para agosto, que já ganha liquidez, recuava 1,08%, a R$ 1,590, antes do ajuste final de posições.Por ora, os vendidos estão fazendo a festa. Salvo algum desastre na Grécia, essa formação de Ptax (média das cotações ponderada pelo volume) também será deles nessa virada de mês.No mercado de juros futuros, as taxas apontaram para cima acompanhando preços externos. Hoje, foco nos modelos apresentados pelo Relatório trimestral de Inflação, e na leitura do IGP-M de junho, que deve mostrar deflação de 0,25%, pelas contas da Máxima Asset.Outro assunto que dominou as mesas de negociação foi a propostas de fusão entre Pão de Açúcar e Carrefour. Até aí sem grandes novidades. O que chamou atenção e gerou uma infinidade de perguntas aqui e no mercado externo foi surgimento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) no meio da elaborada proposta, que também passou a contar com os sagazes banqueiros do BTG Pactual.A explicação dada pelo BNDES de que caso o negócio seja concretizado fica aberto "o caminho para maior inserção de produtos brasileiros no mercado internacional" não convenceu ninguém.
Tudo certo, mas nada resolvido. É nesse clima que os mercados globais sustentaram mais um dia de otimismo com relação à Grécia. Em um exercício de fé no parlamento grego, os agentes compraram ações e commodities e venderam dólar e títulos do Tesouro americano. O mais interessante é que, dias atrás, essa mesma Grécia e seus políticos perdulários serviram de justificativa para queda no preço das ações e uma corrida ao dólar.A votação do projeto de austeridade de ? 78 bilhões está prevista para hoje, com detalhamento de como fazer essa redução de custos estimada para amanhã. Sem essa contrapartida o país não recebe dinheiro do Fundo Monetário Internacional (FMI) e União Europeia (UE) e entra, oficialmente, em default. Fé no parlamento grego puxa bolsas e derruba dólarNão se questiona se o país tem condições de entregar o prometido, ou mesmo, se essa ajuda à Grécia encerra a fatura, ou se em alguns meses terão ser mobilizados novos esforços.Conforme notou o diretor-executivo da NGO Corretora, Sidnei Moura Nehme, no fundo, é tudo um "faz de conta" para se evitar o pior dos cenários, já que não há saídas confiáveis e exequíveis sem moratória da dívida.No entanto, a única "solução" de fato para o problema, que seria a moratória, precisa ser evitada de toda forma, tendo em vista o risco que tal "solução" traria para o sistema financeiro europeu e mundial.Os analistas do Standard Bank também têm uma postura crítica com relação a essa euforia com a Grécia. "A zona do euro enfrenta risco sistêmico e não uma crise específica de um país. E mesmo que o caso da Grécia tenha um desfecho favorável, há muito mais problemas na região, que podem forçar a cotação do euro para a linha de US$ 1,20", escreveu a instituição.Os especialistas do banco chamam a crise na região de "crise dominó". No ano passado, a Grécia foi a primeira a receber ajuda, seguida por Irlanda e Portugal. E esse episódio de pedir resgate novamente, liderado pela Grécia, tem grande chance de ser seguido, também, pelos mesmos Irlanda e Portugal. Na visão do banco, esse é o sinal extraído do mercado de títulos desses países, onde a taxas dispararam nos últimos dias."Se, no fim das contas, a Grécia for forçada a sair do euro, o mercado vai esperar o mesmo efeito dominó. Como resultado, a única pergunta plausível parece ser qual o tamanho dessa fila de dominós", completou o Stantard Bank.Falando em outros membros da zona do euro, Portugal e Espanha parecem se antecipar às exigências do FMI, ou mesmo, aproveitar a "onda" da Grécia, e também anunciaram planos de austeridade. Portugal listou em seu site de oficial planos de privatização e aumento de impostos. E na Espanha se estudam regras de responsabilidade fiscal para as províncias do país.Esse voto de confiança nos Gregos deu fôlego ao euro no pregão de ontem. A moeda comum subiu cerca de 0,5%, retomando a linha de US$ 1,43. Outro vetor de alta para o euro foi o presidente do Banco Central Europeu (BCE), Jean-Claude Trichet, que falou estar em modo de "forte vigilância", termo associado a elevações na taxa básica de juros. O BCE tem reunião na quinta-feira da próxima semana.No câmbio local, a pressão vendedora foi ainda mais forte. O dólar comercial caiu 1,12%, para R$ 1,578, mesmo preço do começo do mês.No mercado futuro, o dólar para julho perdia 1,15%, a R$ 1,5775, e o dólar para agosto, que já ganha liquidez, recuava 1,08%, a R$ 1,590, antes do ajuste final de posições.Por ora, os vendidos estão fazendo a festa. Salvo algum desastre na Grécia, essa formação de Ptax (média das cotações ponderada pelo volume) também será deles nessa virada de mês.No mercado de juros futuros, as taxas apontaram para cima acompanhando preços externos. Hoje, foco nos modelos apresentados pelo Relatório trimestral de Inflação, e na leitura do IGP-M de junho, que deve mostrar deflação de 0,25%, pelas contas da Máxima Asset.Outro assunto que dominou as mesas de negociação foi a propostas de fusão entre Pão de Açúcar e Carrefour. Até aí sem grandes novidades. O que chamou atenção e gerou uma infinidade de perguntas aqui e no mercado externo foi surgimento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) no meio da elaborada proposta, que também passou a contar com os sagazes banqueiros do BTG Pactual.A explicação dada pelo BNDES de que caso o negócio seja concretizado fica aberto "o caminho para maior inserção de produtos brasileiros no mercado internacional" não convenceu ninguém.
Commodities já representam 71% das exportações do país
Commodities já representam 71% das exportações do país
As commodities representaram 71% do valor total exportado pelo Brasil no acumulado de janeiro a maio deste ano. No mesmo período do ano passado a participação das commodities foi de 67%. As vendas ao exterior desse tipo de produto avançaram em ritmo mais acelerado do que as de manufaturados. Nos primeiros cinco meses do ano, a exportação de commodities cresceu 39,1% em relação a igual período de 2010, enquanto os embarques de manufaturados subiram 15,1%.O cálculo é da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB) e não considera somente as commodities classificadas pelo Ministério do Desenvolvimento (Mdic) entre os básicos. Ela leva em consideração também as commodities classificadas como semimanufaturados e também as que, em razão de incorporarem alguma industrialização, estão enquadrados nas estatísticas oficiais como manufaturados. Entre as commodities industrializadas estão açúcar refinado, combustíveis, café solúvel, alumínio em barras, entre outros. "Isso significa que temos 71% de nossas exportações baseadas em commodities. Ou seja, em produtos cujos preços não controlamos", diz José Augusto de Castro, presidente em exercício da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB). Ele lembra que o avanço dos produtos primários na pauta de exportação brasileira se intensificou desde 2009. Naquele ano, a fatia das commodities nas vendas ao exterior era de 65,6%. No ano passado todo, foi de 69%. O aumento de participação do total das commodities foi influenciado, principalmente, pelo avanço dos produtos mais básicos, cujas exportações subiram 45,6% de janeiro a maio de 2011, na comparação com o mesmo período do ano passado. As commodities beneficiadas e as industrializadas, classificadas pelo Mdic entre os semimanufaturados e manufaturados tiveram, respectivamente, crescimento de 30,9% e 20,5% - ainda um ritmo mais acelerado que o dos produtos manufaturados de maior valor agregado, que tiveram aumento de 15,1%.Enquanto os produtos primários avançam nos embarques brasileiros, diz Rogério César de Souza, economista do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento da Indústria (Iedi), a balança comercial de manufaturados no Brasil vem acumulando déficits cada vez maiores. De acordo com levantamento do Iedi, no primeiro trimestre do ano passado a indústria brasileira de manufaturados teve déficit de US$ 7,5 bilhões. O saldo negativo saltou para US$ 10 bilhões nos primeiros três meses de 2011. No acumulado do ano passado, o déficit chegou a US$ 35 bilhões. "Para este ano estimamos que esse valor ultrapasse os US$ 50 bilhões." O que explica o avanço das commodities foi basicamente preço, diz Castro. No acumulado de janeiro a maio, o valor exportado em minério de ferro cresceu 107,3% em relação aos primeiros cinco meses do ano passado. No período, o volume exportado cresceu 4,49% enquanto o preço subiu 98,4%. A soja exportada aumentou 22,7% em valores. De novo, foi o preço quem comandou o crescimento, com alta de 30,7%, enquanto o volume embarcado caiu 6,2%.Os preços dos produtos primários, lembra Souza, não seguem apenas o movimento de oferta e demanda. "Esses preços são pressionados também pelo mercado secundário, que pode buscar outros ativos mais rentáveis a qualquer momento", diz ele. Para castro, "há ainda uma grande liquidez no mundo, embora os preços das commodities nos últimos meses tenham mostrado que há uma certa saturação nesses mercados".Em termos de demanda, lembra Castro, a exportação brasileira de commodities está fortemente baseada no crescimento econômico da China. Se houver desaceleração do crescimento chinês o impacto na demanda será global e isso contribuirá para reduzir mais rapidamente o valor das exportações brasileiras do que o das importações, diz Souza. A volatilidade de preços das commodities é muito alta e tem efeitos imediatos, explica o economista do Iedi. Já os preços dos manufaturados, que representam 80% da importação brasileira, diz Castro, vão demorar a sentir o recuo. "Os manufaturados têm contratos fechados por prazos mais longos e há maior fidelidade ao fornecedor." Castro lembra ainda que alguns mercados importantes de manufaturados brasileiros, como os países da América do Sul, têm economia atualmente impulsionada por um motor semelhante ao brasileiro: a exportação de commodities. "Caindo a capacidade de exportação desses países, haverá também menor demanda para importação, o que afeta as vendas brasileiras de manufaturados ao exterior."O resultado para o Brasil pode ser uma redução de superávit ou geração de déficit, com os efeitos resultantes nas contas fiscais e eventualmente na inflação.Castro acredita, porém, que o atual cenário deve ser mantido pelo menos até o fim de 2011. Importantes produtos na pauta brasileira de commodities, como a soja, por exemplo, diz, já foram vendidas. "Os contratos foram fechados, com preços já definidos. O grão só não foi entregue", diz. O minério de ferro, outro item primário importante, já está com o preço para o terceiro trimestre definido. "O quarto trimestre ainda está em aberto, mas deve manter patamar de preço semelhante ao atual, a menos que haja alguma mudança repentina no mercado externo."
As commodities representaram 71% do valor total exportado pelo Brasil no acumulado de janeiro a maio deste ano. No mesmo período do ano passado a participação das commodities foi de 67%. As vendas ao exterior desse tipo de produto avançaram em ritmo mais acelerado do que as de manufaturados. Nos primeiros cinco meses do ano, a exportação de commodities cresceu 39,1% em relação a igual período de 2010, enquanto os embarques de manufaturados subiram 15,1%.O cálculo é da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB) e não considera somente as commodities classificadas pelo Ministério do Desenvolvimento (Mdic) entre os básicos. Ela leva em consideração também as commodities classificadas como semimanufaturados e também as que, em razão de incorporarem alguma industrialização, estão enquadrados nas estatísticas oficiais como manufaturados. Entre as commodities industrializadas estão açúcar refinado, combustíveis, café solúvel, alumínio em barras, entre outros. "Isso significa que temos 71% de nossas exportações baseadas em commodities. Ou seja, em produtos cujos preços não controlamos", diz José Augusto de Castro, presidente em exercício da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB). Ele lembra que o avanço dos produtos primários na pauta de exportação brasileira se intensificou desde 2009. Naquele ano, a fatia das commodities nas vendas ao exterior era de 65,6%. No ano passado todo, foi de 69%. O aumento de participação do total das commodities foi influenciado, principalmente, pelo avanço dos produtos mais básicos, cujas exportações subiram 45,6% de janeiro a maio de 2011, na comparação com o mesmo período do ano passado. As commodities beneficiadas e as industrializadas, classificadas pelo Mdic entre os semimanufaturados e manufaturados tiveram, respectivamente, crescimento de 30,9% e 20,5% - ainda um ritmo mais acelerado que o dos produtos manufaturados de maior valor agregado, que tiveram aumento de 15,1%.Enquanto os produtos primários avançam nos embarques brasileiros, diz Rogério César de Souza, economista do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento da Indústria (Iedi), a balança comercial de manufaturados no Brasil vem acumulando déficits cada vez maiores. De acordo com levantamento do Iedi, no primeiro trimestre do ano passado a indústria brasileira de manufaturados teve déficit de US$ 7,5 bilhões. O saldo negativo saltou para US$ 10 bilhões nos primeiros três meses de 2011. No acumulado do ano passado, o déficit chegou a US$ 35 bilhões. "Para este ano estimamos que esse valor ultrapasse os US$ 50 bilhões." O que explica o avanço das commodities foi basicamente preço, diz Castro. No acumulado de janeiro a maio, o valor exportado em minério de ferro cresceu 107,3% em relação aos primeiros cinco meses do ano passado. No período, o volume exportado cresceu 4,49% enquanto o preço subiu 98,4%. A soja exportada aumentou 22,7% em valores. De novo, foi o preço quem comandou o crescimento, com alta de 30,7%, enquanto o volume embarcado caiu 6,2%.Os preços dos produtos primários, lembra Souza, não seguem apenas o movimento de oferta e demanda. "Esses preços são pressionados também pelo mercado secundário, que pode buscar outros ativos mais rentáveis a qualquer momento", diz ele. Para castro, "há ainda uma grande liquidez no mundo, embora os preços das commodities nos últimos meses tenham mostrado que há uma certa saturação nesses mercados".Em termos de demanda, lembra Castro, a exportação brasileira de commodities está fortemente baseada no crescimento econômico da China. Se houver desaceleração do crescimento chinês o impacto na demanda será global e isso contribuirá para reduzir mais rapidamente o valor das exportações brasileiras do que o das importações, diz Souza. A volatilidade de preços das commodities é muito alta e tem efeitos imediatos, explica o economista do Iedi. Já os preços dos manufaturados, que representam 80% da importação brasileira, diz Castro, vão demorar a sentir o recuo. "Os manufaturados têm contratos fechados por prazos mais longos e há maior fidelidade ao fornecedor." Castro lembra ainda que alguns mercados importantes de manufaturados brasileiros, como os países da América do Sul, têm economia atualmente impulsionada por um motor semelhante ao brasileiro: a exportação de commodities. "Caindo a capacidade de exportação desses países, haverá também menor demanda para importação, o que afeta as vendas brasileiras de manufaturados ao exterior."O resultado para o Brasil pode ser uma redução de superávit ou geração de déficit, com os efeitos resultantes nas contas fiscais e eventualmente na inflação.Castro acredita, porém, que o atual cenário deve ser mantido pelo menos até o fim de 2011. Importantes produtos na pauta brasileira de commodities, como a soja, por exemplo, diz, já foram vendidas. "Os contratos foram fechados, com preços já definidos. O grão só não foi entregue", diz. O minério de ferro, outro item primário importante, já está com o preço para o terceiro trimestre definido. "O quarto trimestre ainda está em aberto, mas deve manter patamar de preço semelhante ao atual, a menos que haja alguma mudança repentina no mercado externo."
Pão de Açúcar se mexe e surpreende o mercado
Pão de Açúcar se mexe e surpreende o mercado
Mais uma vez o empresário Abílio Diniz surpreende o mercado com a proposta feita pelo Pão de Açúcar de fusão de suas operações com as do Carrefour no Brasil. Apesar de todos os obstáculos que existem para que o negócio realmente ocorra, os analistas gostaram da notícia. As ações preferenciais (PN, sem voto) do Pão de Açúcar chegaram a subir mais de 14% durante o pregão e fecharam em alta de 12,65%, de longe a maior alta no Indice Bovespa, que também teve um dia positivo e subiu 1,77%.Na proposta, as operações do Pão de Açúcar e do Carrefour no Brasil migrariam para uma nova companhia batizada de Novo Pão de Açúcar (NPA), que teria as ações negociadas na bolsa. A empresa de participações do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico Social (a BNDESPar) injetaria ? 1,7 bilhão nessa NPA e o banco BTG Pactual outros ? 300 milhões.A aposta é que Casino acabará concordando com a ofertaA grande pedra no sapato dessa operação é o Casino, sócio do Pão de Açúcar, e que já se mostrou fortemente contra o negócio. O Grupo Casino disse que tem autoridade suficiente para se opor ao acordo e que qualquer tipo de negociação sobre o futuro do Grupo Pão de Açúcar precisa contar obrigatoriamente com a sua anuência. Ou seja, se Abílio Diniz e Casino não chegarem a bom termo, nada feito.Apesar de ressaltarem esse risco nada desprezível, os analistas se mostraram otimistas com a possibilidade do negócio entre Pão de Açúcar e Carrefour. Em relatório, os analistas da Fator Corretora Renato Prado e Ronaldo Kasinsky dizem que a oferta traz valor para todos os envolvidos, "especialmente ao criar o maior varejista brasileiro, com possibilidade de geração de sinergias operacionais decorrentes de melhor negociação com fornecedores, ganhos de escala e logísticos, além de uma melhor precificação em diversos segmentos de operação em função de um maior nível de informações". Eles acreditam que a oferta deve fazer com que as ações do Pão de Açúcar tenham, no curto prazo, um desempenho melhor do que o Ibovespa, sem contar que os papéis da varejista estão bastante descontados.Para um gestor de recursos, o pulo do gato nessa operação e que deve fazer o Casino dizer sim é que, por meio do Novo Pão de Açúcar, o grupo francês entrará no bloco de controle do seu concorrente Carrefour. "Conseguir entrar no concorrente, estando ainda por cima no grupo de controle, é o sonho de consumo de qualquer companhia", diz o gestor.A outra grande questão por trás dessa oferta é se faz algum sentido o BNDES, um banco em tese criado para fomentar o setor privado brasileiro, financiar uma empresa do porte do Pão de Açúcar? E para ela, no fim das contas, se tornar uma companhia francesa?Chovem críticas de analistas à estratégia do BNDES de, não é de hoje, financiar grandes conglomerados em operações que parecem agregar pouco ou nada ao mundo corporativo brasileiro. Com apoio do BNDES, Diniz afaga Carrefour Um grande negócio foi anunciado ontem em São Paulo: a combinação entre Pão de Açúcar e Carrefour no Brasil. A operação, contudo, ainda não passa de uma grande ideia, com R$ 5,75 bilhões disponíveis na mesa, oferecidos pela BNDESPar (68%) e pelo BTG Pactual (32%), ainda que o negócio não envolva dinheiro, apenas troca de ações. Por enquanto, trata-se apenas de uma proposta que precisa ser aprovada por todos os envolvidos - Carrefour e seus acionistas e Pão de Açúcar e seus controladores, família Diniz e grupo Casino. A proposta tem validade de 60 dias.Como o negócio foi desenhado por Abilio Diniz e um grupo de acionistas do Carrefour liderado pela Blue Capital, a sua concretização está nas mãos do Casino, que vem publicamente mostrando seu descontentamento pelas negociações há cerca de um mês - tendo, inclusive, iniciado um processo de arbitragem contra Diniz.A operação pretendida colocaria as rivais francesas Carrefour e Casino como acionistas do grupo Pão de Açúcar, junto dos Diniz. Além disso, os atuais acionistas da varejista brasileira se tornariam o maior sócio individual do Carrefour na França, com no mínimo 11,7% e no máximo 18% do capital.O poder de sim ou não está todo com o Casino. O rede que controla o Pão de Açúcar com a família Diniz recebeu a proposta na madrugada de ontem, quase junto com a divulgação ao público, o que mais uma vez deixou-a indignada. Agora, recai sobre o grupo francês a pressão de aceitar ou recusar uma operação capaz de gerar sinergias estimadas de R$ 1,3 bilhão a R$ 1,8 bilhão e que tem R$ 3,9 bilhões de aval do banco de fomento estatal, o BNDES, em tempos de capital escasso no Hemisfério Norte.No negócio proposto, a BNDESPar se tornaria acionista do que seria o Novo Pão de Açúcar (NPA), com 18%. O BTG colocaria outros R$ 690 milhões e receberia 3,2% das ações. Além do aporte, o banco de investimentos ainda emprestaria R$ 1,15 bilhão à empresa. O argumento para o dinheiro novo é "preparar a empresa para novos desafios". E o apelo político é a criação de um grupo de varejo com atuação nacional e internacional. Ainda que, ao final, os franceses - Carrefour e Casino - devam ficar com 65% do capital da empresa operacional.Há grande expectativa de que o Casino diga não à proposta. Resta saber se as características da operação serão suficientes para seduzir o sócio francês ou se alguns termos poderão ser revisados. Casino deve resistir ao projeto de fusão com o rival francês A guerra foi declarada e deverá ser longa e envolver artilharia pesada. O grupo francês Casino, sócio do Pão de Açúcar, promete defender com todas as forças seus interesses no Brasil e também resistir ao projeto "manifestamente hostil" de fusão entre a varejista brasileira e seu rival Carrefour, anunciado ontem oficialmente, após mais de um mês de rumores.O Casino não demorou para lembrar seu "direito de se opor à proposta" de fusão. Por enquanto, o grupo francês "estuda" as medidas que pretende tomar, sobre as quais prefere não dar detalhes. O descontentamento do presidente do Casino, Jean-Charles Naouri, é tão grande que ele nem quis receber o sócio brasileiro em Paris.O empresário Abilio Diniz passou os últimos dois dias na capital francesa tentando marcar um encontro com Naouri. Mas a "agenda" do presidente do Casino, segundo uma fonte ligada à empresa, não previa nada com o sócio. Restou a Diniz voltar ontem ao Brasil, sem explicar as razões da aproximação com o Carrefour. "Jean-Charles Naouri se nega a dialogar e prefere me atacar pela imprensa. Não entendo o propósito disso", afirmou Diniz em uma carta enviada ontem à Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Diniz deverá voltar a Paris na sexta-feira ou na próxima semana e tentará novamente se reunir com o sócio francês.Na sede do Casino, o anúncio da proposta de fusão com a rede brasileira soou como uma bomba. Diniz ainda divulgou, praticamente no mesmo instante que o Carrefour, comunicado em francês no qual afirma "sempre estar à busca de novas oportunidades de crescimento para o Pão de Açúcar" e que as conversas iniciadas com os principais acionistas do Carrefour (admitidas pela primeira vez oficialmente) acabaram evoluindo para uma "ideia de associação global".Mas para o Casino, as negociações são "ilegais", já que realizadas sem o conhecimento do grupo, diz a fonte. "Uma operação desse tipo é preparada em conjunto, com discussões, não de uma maneira violenta", afirma. Por isso, o contra-ataque veio rápido e em tom agressivo. Logo nas primeiras linhas do comunicado, o Casino marca seu território relembrando sua participação na varejista. O grupo francês afirma "ter descoberto o projeto de operação financeira que implica a Companhia Brasileira de Distribuição (grupo Pão de Açúcar), empresa na qual o Casino é o principal acionista, compartilha o controle com Abilio Diniz e adquiriu, em 2005, junto à família Diniz, o direito de ser o único acionista controlador em 2012".Essa é a parte mais amena do texto, que menciona, ainda, "negociações secretas e ilícitas" e "um projeto preparado de longa data e ilegalmente por Carrefour e Abilio Diniz". O Casino diz também que "nenhuma negociação sobre o futuro da CBD pode ocorrer sem a participação do Casino" e que, apesar disso, as negociações continuaram, "ignorando tanto o direito quanto a ética elementar dos negócios".O Pão de Açúcar, por sua vez, contesta o fato de que simples prospecções de negócios precisariam ser levadas ao conhecimento do Casino. Nas operações com a Casas Bahia ou o Ponto Frio, a proposta foi apresentada ao grupo francês quando já estava madura, como é o caso agora, afirma uma fonte ligada à varejista brasileira.Mas essas transações no Brasil não envolviam o rival do Casino na França. "Essa operação é um movimento desesperado do Carrefour para se reequilibrar", diz uma fonte ligada ao caso, fazendo alusão aos problemas da rede varejista em seu principal mercado, a França.O Casino prevê que o caso "deverá durar longos meses" e poderá ser bloqueado por inúmeros procedimentos, a começar pelos acionistas das empresas, "que podem não aceitar o projeto", ou pelas autoridades de defesa da concorrência no Brasil.Naouri é o principal acionista e controlador do Casino. Em abril, ele adquiriu, por meio de operações com holdings intermediárias, participação de 50,19% do capital do Casino e 61,57% das ações com direito a voto, diz a AMF, a CVM francesa.No início dos anos 90, Naouri assumiu o controle do grupo Rallye (principal acionista da rede Go Sport). O restante está dividido entre a família dos fundadores da empresa, a Galeries Lafayette, o grupo CNP, entre outros, que têm participações menores que 2%, e investidores. A ação do grupo caiu 5,61% ontem. O Casino, que há um mês abriu processo de arbitragem contra Diniz, alegando quebra de contrato por conta da aproximação deste do Carrefour, obteve apenas na sexta-feira a confirmação das negociações, após a apreensão de documentos na sede do Carrefour pelo Tribunal de Comércio de Nanterre. Ontem, deparou-se com o anúncio da proposta de fusão. Abilio Diniz igualaria poder ao Casino na nova empresa Abílio Diniz, que atuou no desenho da proposta para combinação de Pão de Açúcar e Carrefour, pode conseguir uma reviravolta em seu futuro no varejo brasileiro caso obtenha aprovação do sócio Casino para a transação. No lugar de sócio minoritário do Pão de Açúcar, pois está previsão em acordo de acionistas que o Casino assumirá o controle do negócio a partir de 2012, Diniz pode igualar seus poderes ao grupo francês numa companhia maior, sem nenhum desembolso.A previsão é que o controle das empresas combinadas seja dividido igualmente entre Carrefour França e os atuais acionistas do Pão de Açúcar, que serão agrupados numa nova empresa - chamada Novo Pão de Açúcar (NPA). Esse veículo ainda se tornaria a maior acionista do Carrefour França, com direito a três cadeiras no conselho de administração. A fatia final na companhia internacional deve variar entre 11,7% e 18%. Haverá ainda um acordo de acionistas entre NPA e os atuais maiores sócios do Carrefour França, liderados por Blue Capital. Em dois anos, essa participação poderia dobrar.A proposta foi desenhada pela Estáter, assessora de longa data do Pão de Açúcar, e pelo BTG Pactual, que entrou na negociação há um mês. A estrutura final é complexa e possui diversas etapas. Diniz, Casino e todos os atuais acionistas de Pão de Açúcar migrarão para a holding chamada NPA. Nessa nova empresa, que só teria ações ordinárias e o controle disperso na bolsa, Abilio Diniz e família teriam direta e indiretamente 16,9% e Casino, 29,8%. A fatia de Wilkes, participação indireta de ambos, sairia de 25,2% para 20,5%.O estatuto dessa nova companhia, porém, limita o poder de votar de um acionista a 15% do capital, independentemente da participação econômica detida. Esse dispositivo abre espaço para que Diniz e Casino tenham o mesmo poder político - ainda que o grupo francês tenha quase o dobro em dinheiro investido. Para preservar a estrutura dispersa do capital, NPA ainda terá em estatuto a previsão de que quem superar 39% de participação deve lançar oferta pública para todos os acionistas.O primeiro passo, porém, seria transformar o Pão de Açúcar numa companhia apenas com ações ordinárias, embora não listada no Novo Mercado. As preferenciais seriam convertidas em ordinárias na proporção de uma para 0,95.O segundo movimento é a incorporação da empresa aberta por NPA, que seria sucessora como empresa listada na BM&FBovespa. Nessa companhia, os atuais acionistas seriam diluídos pela entrada da BNDESPar e do Pactual, com aporte total de R$ 4,6 bilhões, que ficariam com 18% e 3,2% do capital, respectivamente.Abilio Diniz e família teriam a participação reduzida de 21,4% para 16,9% e Casino sairia de 36,9% para 29,8%. Os minoritários, que hoje detêm 41,6% do Pão de Açúcar, ficariam com 32,1% de NPA. Em seguida, Pão de Açúcar deveria incorporar Carrefour Brasil, numa transação que daria 31% do negócio ao Carrefour na França.Nesse momento NPA teria os outros 69% do negócio. Para igualar a participação em 50% para cada lado, os 19% excedentes do NPA seriam trocados por uma participação de 11,7% no capital do Carrefour França em ações preferenciais, incluindo voto mais direitos para participação na gestão. Há a expectativa - mas não a obrigação - de que NPA compre mais ações do Carrefour França no mercado, ampliando sua participação para algo entre 16% e 18%. Como NPA terá 50% do Pão de Açúcar, a participação efetiva de cada sócio na empresa operacional será equivalente à metade do que possuem nessa holding. O motivo de o Casino não gostar da proposta num primeiro olhar - embora a decisão final ainda não esteja tomada - é justamente o fato dela significar o fim de seu direito de ser o dono do Pão de Açúcar a partir de 2012. "Não abriremos mão de nosso direito de controle", disse um interlocutor do grupo francês. Apesar disso, os acionistas que desenharam o negócio acreditam que a pressão política - pela sinalização de apoio do BNDES - e a chance de o Casino tornar-se indiretamente (via NPA) o segundo maior acionista de Carrefour França levarão o Casino a conceder seu aval para a transação. Acordo pode representar revitalização para o Carrefour Com inúmeros problemas na França, maior mercado do Carrefour, a proposta de fusão entre o grupo francês e o Pão de Açúcar pode representar uma grande oportunidade de revitalização para o vice-líder mundial do varejo. O Carrefour reiterou na semana passada que "um dos pilares de sua estratégia" é reforçar suas atividades em mercados emergentes com forte potencial de crescimento.Analistas avaliam que a operação de fusão seria benéfico para o Carrefour, que ampliaria seu tamanho em um mercado-chave e se beneficiaria da experiência - e da liderança - do Pão de Açúcar. As ações do grupo, que caíram 25% de novembro até a semana passada, fecharam ontem em alta, de 3,74%.Nem mesmo o anúncio da agência de classificação de riscos Fitch - que reduziu ontem a nota do grupo de A- para BBB+, indicando uma tendência negativa - estragou a festa dos acionistas. O rebaixamento ocorreu em razão das previsões, do próprio Carrefour, de queda de 35% no resultado operacional neste semestre na França, do desmembramento da rede de descontos Dia, aprovada semana passada, e, ainda, de preocupações sobre o ritmo de recuperação das atividades em sua terra natal.O ritmo é considerado "lento" pelos os próprios acionistas. Na assembleia realizada semana passada, eles bombardearam de críticas a direção da empresa.As vendas do grupo vêm perdendo velocidade na França. Para tentar frear a queda nas vendas, a companhia lançou um vasto programa de modernização de seus hipermercados, batizados de "Planet" - que representam a maior parte de seu faturamento -, que custará € 1,5 bilhãoO fraco desempenho dos hipermercados ocorre em razão da mudança de comportamento do consumidor em países desenvolvidos, que vêm preferindo as lojas de bairro. O Carrefour aposta nesse segmento, com a abertura de supermercados nesse modelo. Segundo as previsões pouco otimistas para o semestre, porém, a recuperação do grupo ainda não é palpável, apesar de o Carrefour ressaltar que alguns novos hipermercados têm obtido bons resultados e que a expansão das lojas de bairro vai continuar.Por isso, a pressão do principal acionista do Carrefour, a Blue Capital, holding formada pelo grupo do empresário Bernard Arnault (da LVMH, líder mundial do setor de luxo) e pelo fundo americano Colony Capital. Juntos, eles detêm 14,1% do capital e 20,2% das ações com direito a voto do grupo. Eles teriam perdido, segundo analistas, mais de € 2 bilhões com a desvalorização do CarrefourO mercado estima que Arnault e o Blue Capital estão por trás da iniciativa do Carrefour de cisão da rede de descontos Dia, cujas ações devem ser lançadas na bolsa de Madri em 5 de julho. A operação poderia permitir a alta das ações Carrefour, já que o rendimento do grupo é maior do que o da rede de descontos. O diretor-geral e novo presidente do Carrefour, o sueco Lars Olofsson, havia declarado que o objetivo da operação com a rede Dia "é tornar o grupo mais focado em suas atividades operacionais e criar valor para os acionistas".Por enquanto, o projeto de cisão de 25% da Carrefour Property, de bens imobiliários, foi suspenso. Em 2010, o Carrefour havia vendido suas atividades na Tailândia justamente ao Casino, por € 868 milhõesPara o grupo Casino, a proposta de fusão entre o Carrefour e o Pão de Açúcar "é um movimento desesperado" do rival para reequilibrar suas atividades e também "a confissão do fracasso em recuperar as contas da filial brasileira". Em 2010, o Carrefour anunciou um rombo de € 550 milhões nas contas no Brasil, relativas a encargos, o que levou o grupo a realizar alertas de lucrosOntem, em Paris, na sede do Carrefour, a conta foi outra: o faturamento atual no Brasil, de €12,4 bilhões, incluindo a rede Dia, passaria para € 30 bilhões se o projeto de fusão for aprovado. Olofsson disse na semana passada que o Carrefour manteria o controle de suas operações no Brasil. Agora, o eventual controle em conjunto não representa um problema. Galeazzi costurou entrada do BTG no negócio No início da tarde de ontem, o engenheiro Pércio de Souza, sócio da butique de investimentos Estáter, explicava aos jornalistas a intrincada operação de associação entre Pão de Açúcar e Carrefour, estruturada por ele. Depois de uma rápida saída da sala para um café, Souza voltou confiante: "As ações do Pão de Açúcar estão subindo 11%", disse o engenheiro. "Sinal que o mercado está recebendo bem a notícia." Ao mencionar o "mercado", Souza se referia aos investidores. O papel fechou o dia com alta de 12,64%. Mas a operação que torna o Pão de Açúcar sócio do Carrefour mundial, com a manutenção de Abilio Diniz à frente do negócio, provavelmente na presidência do conselho de administração do Novo Pão de Açúcar (NPA), segundo apurou o Valor , não interessa aos demais players do setor varejista - rivais e fornecedores. A nova companhia concentrará quase um terço do varejo no Brasil. Em um setor que movimentou R$ 201,6 bilhões em 2010, o Pão de Açúcar respondeu por 17,9% das vendas (considerando Casas Bahia e Ponto Frio), enquanto a fatia do Carrefour ficou em 14,4%. O terceiro colocado no ranking, o Walmart, tem 11%.Na justificativa da possível concentração, o sócio do BTG Claudio Galeazzi - um dos responsáveis pela área de "merchant banking" do banco, onde estão as operações de varejo - disse que, nos Estados Unidos, o Walmart é dono de 32% das vendas. Na França, o Carrefour teria 26%. Daí ser natural, diz, que o Brasil tenha uma operação forte nacional, com participação inclusive no exterior. "A concentração é muito menor do que pensávamos no começo", afirmou. Em relação a sinergias entre as duas empresas, que ficarão reunidas no NPA, Galeazzi estima € 560 milhões, ou algo em torno de R$ 1,3 bilhão a R$ 1,8 bilhão. "Também teremos a chance de implantar as melhores práticas de gestão nas bandeiras do Carrefour Brasil, a fim de aumentar a eficiência da empresa." No ano passado, a filial brasileira da rede francesa foi responsável por um rombo contábil de € 550 milhões nas contas da matriz, devido a créditos de fornecedores contabilizados de maneira indevida. Segundo Galeazzi, essa conta ficou com o Carrefour na FrançaSegundo apurou o Valor, Galeazzi, famoso pelas reestruturações de empresas como Lojas Americanas e o próprio Pão de Açúcar, do qual participou do conselho de administração até ir para o BTG, na metade de 2010, foi o responsável pela entrada do banco no negócio. No início deste mês, Galeazzi teria mandado um e-mail para Abilio Diniz e para Pércio de Souza demonstrando o interesse do banco em participar da operação.Foi prontamente atendido por Souza, que colocou o BTG na estrutura do negócio, com uma participação de 3,2%, o equivalente a € 300 milhões. Além disso, o banco se comprometeu a captar € 500 milhões para o NPA. Mas a missão não foi tão simples. Galeazzi teve que vencer a resistência do banqueiro André Esteves, controlador do BTG, para participar do negócio. "Há um certo conflito de vaidades", diz um interlocutor que acompanhou a operação, referindo-se a Esteves e DinizSe a proposta da associação entre Carrefour e Pão de Açúcar for aprovada, Galeazzi, que completou 71 anos na segunda-feira, terá capitaneado o seu primeiro grande negócio à frente do BTG. A operação ainda terá que enfrentar as possíveis restrições impostas pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) e uma forte pressão dos grandes fornecedores. Galeazzi afirmou que, no NPA, as compras ficarão a cargo do Brasil - mesmo considerando que o Carrefour costuma costurar acordos mundiais com fornecedores multinacionais, a exemplo da Nestlé. "O Brasil manteria certa independência", afirmou.Em relação às lojas, Galeazzi afirmou que deve haver sobreposição especialmente no Rio e em São Paulo. "Nada impede que possamos transferir bandeiras, mudar formatos de loja ou, eventualmente, fechar algum ponto." Enquanto BTG, Estáter e Diniz pensam no futuro de uma companhia única, o Casino, sócio de Diniz na Wilkes, atual controladora do Pão de Açúcar, já pediu a Diniz uma reunião de acionistas. Diniz tem sete dias para responder. Na nova estrutura, além de ter sua participação diluída, o Casino perderia a oportunidade de assumir o controle do Pão de Açúcar, que já era, sozinho, líder nacional do varejo. O Brasil é a mais importante operação do Casino no mundo. Na França, sede da companhia, a empresa tem apenas 12% do mercado, contra 60% do Carrefour. As conversas entre Diniz e o Carrefour vieram a público no fim de maio. Quando soube, Jean-Charles Henri Naouri, o presidente do Casino, pediu explicações a Diniz. O brasileiro teria confirmado a aproximação, mas não deu detalhes. Em 31 de maio, o Casino recorreu à Câmara Internacional de Comércio, em São Paulo, pedindo arbitragem contra Diniz para manter os acordos fechados entre as partes em novembro de 2006 na Wilkes. Cade pode congelar negócio para análise Assim que for anunciada, a fusão entre o Pão de Açúcar e o Carrefour deve ser congelada pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) no Brasil.Em seguida, o negócio terá de seguir uma análise minuciosa pela qual a Secretaria de Acompanhamento Econômico (Seae) do Ministério da Fazenda vai verificar todas as cidades do país onde estão os supermercados das duas redes e recomendar a venda de unidades nas quais a presença de lojas de concorrentes é fraca. Essas unidades seriam vendidas para redes que competem com Pão de Açúcar e Carrefour. No caso de grandes cidades, como São Paulo e as capitais do país com mais de um milhão de habitantes, a análise deverá ser feita bairro a bairro.O caso também vai ser encaminhado à Secretaria de Direito Econômico (SDE) do Ministério da Justiça que pode fazer novas recomendações para atenuar o domínio do Pão de Açúcar e do Carrefour na concorrência."Não é algo trivial", afirmou um integrante de um órgão antitruste do governo. Segundo ele, o governo entende que seria prudente que uma operação desse tamanho fosse apresentada previamente ao Cade. Ele explicou que o órgão antitruste pode até analisar eventuais argumentos da empresa de que os efeitos do negócio podem ser maiores na França, mas o foco do julgamento será o impacto nos consumidores brasileiros.Nessa análise, o Cade deve primeiro suspender o negócio para manter as estruturas das redes de supermercados separadas e, depois, discutir a adoção de uma decisão com restrições para evitar prejuízos a concorrentes.Essa prática foi seguida no caso da união entre Pão de Açúcar, Casas Bahia e Ponto Frio. Em fevereiro de 2010, o Cade chamou representantes das empresas para assinar um acordo em que não poderiam fechar lojas e manteriam as marcas separadas e em funcionamento até o julgamento final do negócio.Após o acordo, a Seae indicou um primeiro pacote de restrições ao negócio, que seriam: a venda de ativos em 12 cidades com lojas, instalações, carteiras de clientes e cadastros da Casas Bahia ou do Ponto Frio. Agora, o caso retornou ao Cade, onde o pacote de restrições está em debate.Durante conferência internacional do Instituto Brasileiro de Estudos de Concorrência, Consumo e Comércio Internacional (Ibrac) sobre megafusões, há duas semanas, o secretário de Acompanhamento Econômico, Antonio Henrique Silveira, pediu a advogados de empresas que discutam soluções reais para manter a competição no mercado. Essas soluções podem ser a venda de marcas, fábricas e sistemas de distribuição de produtos. "Parem de dizer que uma fusão com concentração de, por exemplo, 80% é amigável", afirmou Silveira, sem se referir a nenhum processo específico. "As pessoas têm que reconhecer que alguns processos causam prejuízos à competição e temos que ter um diálogo para achar alternativas."No mesmo debate, o presidente do Cade, Fernando Furlan, cobrou das empresas que discutam os efeitos de seus negócios no Brasil, e não apenas os benefícios no exterior. Para ele, não é o Cade que está mais rigoroso com as empresas, mas sim o movimento da economia que leva a casos complexos de megafusões. Indústria vê menor poder de barganha O temor da indústria de alimentos e bebidas - e também de varejistas concorrentes - em relação à possível fusão entre Carrefour e grupo Pão de Açúcar se resume a uma palavra: concentração. "Quanto mais concentração, pior é para os fabricantes", disse o presidente de uma indústria de bebidas, que prefere não ser identificado. "Se nosso poder de barganha diminui, o varejista acaba impondo seus preços", acrescentou. "Com certeza, essa fusão nos prejudica", disse um representante da indústria de carnes. "Havia três varejistas, agora, com esse negócio, serão só dois", lamentou outra executivo do setor. Segundo ele, a maior parte do volume de vendas das indústrias de carne se dirige ao grande varejo, ou seja: Walmart, Carrefour e grupo Pão de Açúcar. No Brasil, segundo a Associação Brasileira de Supermercados (Abras), existem hoje 7.565 supermercados que no ano passado somaram um faturamento de R$ 201,6 bilhões. O grupo Pão de Açúcar (sem incluir lojas de eletrodomésticos, como Casas Bahia e Ponto Frio) entra nessa conta com 615 lojas e vendas de R$ 36,1 bilhões em 2010. O Carrefour tem 236 lojas (sem incluir a rede Dia, que está sendo separada do grupo) e faturamento de R$ 29 bilhões. Nacionalmente, caso a fusão se concretize, as empresas teriam 851 lojas - 11,2% do total - e vendas de R$ 65,1 - o equivalente a 32,2% do faturamento do setor."Olhando para o mercado nacional, a possível fusão não resultaria em aumento da concentração", disse João Galassi, presidente da Associação Paulista de Supermercados (Apas). "Mas se considerarmos só São Paulo, o cenário seria diferente", acrescentou. Em São Paulo - Estado que concentra 36% do faturamento do varejo de bens não duráveis do país - existem 2.473 supermercados. Desse total, 426 são do grupo Pão de Açúcar (17,2%) e 109, do Carrefour (4,4%). Juntas, as duas empresas teriam 588 lojas ou 23,7% do total paulista. Nenhuma das duas companhias divulga quanto faturam só no Estado, mas a Apas calcula que as duas companhias teriam juntas 30% dessa receita. "Com certeza, a indústria vai fazer uma pressão velada ao Cade para que essa fusão não saia", disse um fabricante de alimentos, se referindo ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica. "Nenhum representante irá se posicionar publicamente contra, ou fará essa pressão explicitamente porque a não é do feitio da indústria tomar partido. Mas com certeza o setor vai procurar se defender", afirmou o empresário. Entre os varejistas concorrentes, há interpretações diferentes. "Todo movimento de fusão ou de compra nesses últimos 12 anos se concentrou entre as maiores empresas do setor, que detém cerca de 40% das vendas", afirmou Galassi, que também é dono de uma rede de quatro supermercados em Campinas (SP). "Mesmo com tudo que aconteceu nesse período, os pequenos continuaram crescendo e conquistaram seu espaço", disse ele. Outro varejista, que preferiu não se identificar, prevê que a tradicional "pesquisa de preços" possa estar com os dias contados. "No Brasil, a concentração é ainda pequena, o que faz com que cada loja tenha seu preço. No México, por outro lado, o varejo é muito concentrado e os preços não variam."
Mais uma vez o empresário Abílio Diniz surpreende o mercado com a proposta feita pelo Pão de Açúcar de fusão de suas operações com as do Carrefour no Brasil. Apesar de todos os obstáculos que existem para que o negócio realmente ocorra, os analistas gostaram da notícia. As ações preferenciais (PN, sem voto) do Pão de Açúcar chegaram a subir mais de 14% durante o pregão e fecharam em alta de 12,65%, de longe a maior alta no Indice Bovespa, que também teve um dia positivo e subiu 1,77%.Na proposta, as operações do Pão de Açúcar e do Carrefour no Brasil migrariam para uma nova companhia batizada de Novo Pão de Açúcar (NPA), que teria as ações negociadas na bolsa. A empresa de participações do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico Social (a BNDESPar) injetaria ? 1,7 bilhão nessa NPA e o banco BTG Pactual outros ? 300 milhões.A aposta é que Casino acabará concordando com a ofertaA grande pedra no sapato dessa operação é o Casino, sócio do Pão de Açúcar, e que já se mostrou fortemente contra o negócio. O Grupo Casino disse que tem autoridade suficiente para se opor ao acordo e que qualquer tipo de negociação sobre o futuro do Grupo Pão de Açúcar precisa contar obrigatoriamente com a sua anuência. Ou seja, se Abílio Diniz e Casino não chegarem a bom termo, nada feito.Apesar de ressaltarem esse risco nada desprezível, os analistas se mostraram otimistas com a possibilidade do negócio entre Pão de Açúcar e Carrefour. Em relatório, os analistas da Fator Corretora Renato Prado e Ronaldo Kasinsky dizem que a oferta traz valor para todos os envolvidos, "especialmente ao criar o maior varejista brasileiro, com possibilidade de geração de sinergias operacionais decorrentes de melhor negociação com fornecedores, ganhos de escala e logísticos, além de uma melhor precificação em diversos segmentos de operação em função de um maior nível de informações". Eles acreditam que a oferta deve fazer com que as ações do Pão de Açúcar tenham, no curto prazo, um desempenho melhor do que o Ibovespa, sem contar que os papéis da varejista estão bastante descontados.Para um gestor de recursos, o pulo do gato nessa operação e que deve fazer o Casino dizer sim é que, por meio do Novo Pão de Açúcar, o grupo francês entrará no bloco de controle do seu concorrente Carrefour. "Conseguir entrar no concorrente, estando ainda por cima no grupo de controle, é o sonho de consumo de qualquer companhia", diz o gestor.A outra grande questão por trás dessa oferta é se faz algum sentido o BNDES, um banco em tese criado para fomentar o setor privado brasileiro, financiar uma empresa do porte do Pão de Açúcar? E para ela, no fim das contas, se tornar uma companhia francesa?Chovem críticas de analistas à estratégia do BNDES de, não é de hoje, financiar grandes conglomerados em operações que parecem agregar pouco ou nada ao mundo corporativo brasileiro. Com apoio do BNDES, Diniz afaga Carrefour Um grande negócio foi anunciado ontem em São Paulo: a combinação entre Pão de Açúcar e Carrefour no Brasil. A operação, contudo, ainda não passa de uma grande ideia, com R$ 5,75 bilhões disponíveis na mesa, oferecidos pela BNDESPar (68%) e pelo BTG Pactual (32%), ainda que o negócio não envolva dinheiro, apenas troca de ações. Por enquanto, trata-se apenas de uma proposta que precisa ser aprovada por todos os envolvidos - Carrefour e seus acionistas e Pão de Açúcar e seus controladores, família Diniz e grupo Casino. A proposta tem validade de 60 dias.Como o negócio foi desenhado por Abilio Diniz e um grupo de acionistas do Carrefour liderado pela Blue Capital, a sua concretização está nas mãos do Casino, que vem publicamente mostrando seu descontentamento pelas negociações há cerca de um mês - tendo, inclusive, iniciado um processo de arbitragem contra Diniz.A operação pretendida colocaria as rivais francesas Carrefour e Casino como acionistas do grupo Pão de Açúcar, junto dos Diniz. Além disso, os atuais acionistas da varejista brasileira se tornariam o maior sócio individual do Carrefour na França, com no mínimo 11,7% e no máximo 18% do capital.O poder de sim ou não está todo com o Casino. O rede que controla o Pão de Açúcar com a família Diniz recebeu a proposta na madrugada de ontem, quase junto com a divulgação ao público, o que mais uma vez deixou-a indignada. Agora, recai sobre o grupo francês a pressão de aceitar ou recusar uma operação capaz de gerar sinergias estimadas de R$ 1,3 bilhão a R$ 1,8 bilhão e que tem R$ 3,9 bilhões de aval do banco de fomento estatal, o BNDES, em tempos de capital escasso no Hemisfério Norte.No negócio proposto, a BNDESPar se tornaria acionista do que seria o Novo Pão de Açúcar (NPA), com 18%. O BTG colocaria outros R$ 690 milhões e receberia 3,2% das ações. Além do aporte, o banco de investimentos ainda emprestaria R$ 1,15 bilhão à empresa. O argumento para o dinheiro novo é "preparar a empresa para novos desafios". E o apelo político é a criação de um grupo de varejo com atuação nacional e internacional. Ainda que, ao final, os franceses - Carrefour e Casino - devam ficar com 65% do capital da empresa operacional.Há grande expectativa de que o Casino diga não à proposta. Resta saber se as características da operação serão suficientes para seduzir o sócio francês ou se alguns termos poderão ser revisados. Casino deve resistir ao projeto de fusão com o rival francês A guerra foi declarada e deverá ser longa e envolver artilharia pesada. O grupo francês Casino, sócio do Pão de Açúcar, promete defender com todas as forças seus interesses no Brasil e também resistir ao projeto "manifestamente hostil" de fusão entre a varejista brasileira e seu rival Carrefour, anunciado ontem oficialmente, após mais de um mês de rumores.O Casino não demorou para lembrar seu "direito de se opor à proposta" de fusão. Por enquanto, o grupo francês "estuda" as medidas que pretende tomar, sobre as quais prefere não dar detalhes. O descontentamento do presidente do Casino, Jean-Charles Naouri, é tão grande que ele nem quis receber o sócio brasileiro em Paris.O empresário Abilio Diniz passou os últimos dois dias na capital francesa tentando marcar um encontro com Naouri. Mas a "agenda" do presidente do Casino, segundo uma fonte ligada à empresa, não previa nada com o sócio. Restou a Diniz voltar ontem ao Brasil, sem explicar as razões da aproximação com o Carrefour. "Jean-Charles Naouri se nega a dialogar e prefere me atacar pela imprensa. Não entendo o propósito disso", afirmou Diniz em uma carta enviada ontem à Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Diniz deverá voltar a Paris na sexta-feira ou na próxima semana e tentará novamente se reunir com o sócio francês.Na sede do Casino, o anúncio da proposta de fusão com a rede brasileira soou como uma bomba. Diniz ainda divulgou, praticamente no mesmo instante que o Carrefour, comunicado em francês no qual afirma "sempre estar à busca de novas oportunidades de crescimento para o Pão de Açúcar" e que as conversas iniciadas com os principais acionistas do Carrefour (admitidas pela primeira vez oficialmente) acabaram evoluindo para uma "ideia de associação global".Mas para o Casino, as negociações são "ilegais", já que realizadas sem o conhecimento do grupo, diz a fonte. "Uma operação desse tipo é preparada em conjunto, com discussões, não de uma maneira violenta", afirma. Por isso, o contra-ataque veio rápido e em tom agressivo. Logo nas primeiras linhas do comunicado, o Casino marca seu território relembrando sua participação na varejista. O grupo francês afirma "ter descoberto o projeto de operação financeira que implica a Companhia Brasileira de Distribuição (grupo Pão de Açúcar), empresa na qual o Casino é o principal acionista, compartilha o controle com Abilio Diniz e adquiriu, em 2005, junto à família Diniz, o direito de ser o único acionista controlador em 2012".Essa é a parte mais amena do texto, que menciona, ainda, "negociações secretas e ilícitas" e "um projeto preparado de longa data e ilegalmente por Carrefour e Abilio Diniz". O Casino diz também que "nenhuma negociação sobre o futuro da CBD pode ocorrer sem a participação do Casino" e que, apesar disso, as negociações continuaram, "ignorando tanto o direito quanto a ética elementar dos negócios".O Pão de Açúcar, por sua vez, contesta o fato de que simples prospecções de negócios precisariam ser levadas ao conhecimento do Casino. Nas operações com a Casas Bahia ou o Ponto Frio, a proposta foi apresentada ao grupo francês quando já estava madura, como é o caso agora, afirma uma fonte ligada à varejista brasileira.Mas essas transações no Brasil não envolviam o rival do Casino na França. "Essa operação é um movimento desesperado do Carrefour para se reequilibrar", diz uma fonte ligada ao caso, fazendo alusão aos problemas da rede varejista em seu principal mercado, a França.O Casino prevê que o caso "deverá durar longos meses" e poderá ser bloqueado por inúmeros procedimentos, a começar pelos acionistas das empresas, "que podem não aceitar o projeto", ou pelas autoridades de defesa da concorrência no Brasil.Naouri é o principal acionista e controlador do Casino. Em abril, ele adquiriu, por meio de operações com holdings intermediárias, participação de 50,19% do capital do Casino e 61,57% das ações com direito a voto, diz a AMF, a CVM francesa.No início dos anos 90, Naouri assumiu o controle do grupo Rallye (principal acionista da rede Go Sport). O restante está dividido entre a família dos fundadores da empresa, a Galeries Lafayette, o grupo CNP, entre outros, que têm participações menores que 2%, e investidores. A ação do grupo caiu 5,61% ontem. O Casino, que há um mês abriu processo de arbitragem contra Diniz, alegando quebra de contrato por conta da aproximação deste do Carrefour, obteve apenas na sexta-feira a confirmação das negociações, após a apreensão de documentos na sede do Carrefour pelo Tribunal de Comércio de Nanterre. Ontem, deparou-se com o anúncio da proposta de fusão. Abilio Diniz igualaria poder ao Casino na nova empresa Abílio Diniz, que atuou no desenho da proposta para combinação de Pão de Açúcar e Carrefour, pode conseguir uma reviravolta em seu futuro no varejo brasileiro caso obtenha aprovação do sócio Casino para a transação. No lugar de sócio minoritário do Pão de Açúcar, pois está previsão em acordo de acionistas que o Casino assumirá o controle do negócio a partir de 2012, Diniz pode igualar seus poderes ao grupo francês numa companhia maior, sem nenhum desembolso.A previsão é que o controle das empresas combinadas seja dividido igualmente entre Carrefour França e os atuais acionistas do Pão de Açúcar, que serão agrupados numa nova empresa - chamada Novo Pão de Açúcar (NPA). Esse veículo ainda se tornaria a maior acionista do Carrefour França, com direito a três cadeiras no conselho de administração. A fatia final na companhia internacional deve variar entre 11,7% e 18%. Haverá ainda um acordo de acionistas entre NPA e os atuais maiores sócios do Carrefour França, liderados por Blue Capital. Em dois anos, essa participação poderia dobrar.A proposta foi desenhada pela Estáter, assessora de longa data do Pão de Açúcar, e pelo BTG Pactual, que entrou na negociação há um mês. A estrutura final é complexa e possui diversas etapas. Diniz, Casino e todos os atuais acionistas de Pão de Açúcar migrarão para a holding chamada NPA. Nessa nova empresa, que só teria ações ordinárias e o controle disperso na bolsa, Abilio Diniz e família teriam direta e indiretamente 16,9% e Casino, 29,8%. A fatia de Wilkes, participação indireta de ambos, sairia de 25,2% para 20,5%.O estatuto dessa nova companhia, porém, limita o poder de votar de um acionista a 15% do capital, independentemente da participação econômica detida. Esse dispositivo abre espaço para que Diniz e Casino tenham o mesmo poder político - ainda que o grupo francês tenha quase o dobro em dinheiro investido. Para preservar a estrutura dispersa do capital, NPA ainda terá em estatuto a previsão de que quem superar 39% de participação deve lançar oferta pública para todos os acionistas.O primeiro passo, porém, seria transformar o Pão de Açúcar numa companhia apenas com ações ordinárias, embora não listada no Novo Mercado. As preferenciais seriam convertidas em ordinárias na proporção de uma para 0,95.O segundo movimento é a incorporação da empresa aberta por NPA, que seria sucessora como empresa listada na BM&FBovespa. Nessa companhia, os atuais acionistas seriam diluídos pela entrada da BNDESPar e do Pactual, com aporte total de R$ 4,6 bilhões, que ficariam com 18% e 3,2% do capital, respectivamente.Abilio Diniz e família teriam a participação reduzida de 21,4% para 16,9% e Casino sairia de 36,9% para 29,8%. Os minoritários, que hoje detêm 41,6% do Pão de Açúcar, ficariam com 32,1% de NPA. Em seguida, Pão de Açúcar deveria incorporar Carrefour Brasil, numa transação que daria 31% do negócio ao Carrefour na França.Nesse momento NPA teria os outros 69% do negócio. Para igualar a participação em 50% para cada lado, os 19% excedentes do NPA seriam trocados por uma participação de 11,7% no capital do Carrefour França em ações preferenciais, incluindo voto mais direitos para participação na gestão. Há a expectativa - mas não a obrigação - de que NPA compre mais ações do Carrefour França no mercado, ampliando sua participação para algo entre 16% e 18%. Como NPA terá 50% do Pão de Açúcar, a participação efetiva de cada sócio na empresa operacional será equivalente à metade do que possuem nessa holding. O motivo de o Casino não gostar da proposta num primeiro olhar - embora a decisão final ainda não esteja tomada - é justamente o fato dela significar o fim de seu direito de ser o dono do Pão de Açúcar a partir de 2012. "Não abriremos mão de nosso direito de controle", disse um interlocutor do grupo francês. Apesar disso, os acionistas que desenharam o negócio acreditam que a pressão política - pela sinalização de apoio do BNDES - e a chance de o Casino tornar-se indiretamente (via NPA) o segundo maior acionista de Carrefour França levarão o Casino a conceder seu aval para a transação. Acordo pode representar revitalização para o Carrefour Com inúmeros problemas na França, maior mercado do Carrefour, a proposta de fusão entre o grupo francês e o Pão de Açúcar pode representar uma grande oportunidade de revitalização para o vice-líder mundial do varejo. O Carrefour reiterou na semana passada que "um dos pilares de sua estratégia" é reforçar suas atividades em mercados emergentes com forte potencial de crescimento.Analistas avaliam que a operação de fusão seria benéfico para o Carrefour, que ampliaria seu tamanho em um mercado-chave e se beneficiaria da experiência - e da liderança - do Pão de Açúcar. As ações do grupo, que caíram 25% de novembro até a semana passada, fecharam ontem em alta, de 3,74%.Nem mesmo o anúncio da agência de classificação de riscos Fitch - que reduziu ontem a nota do grupo de A- para BBB+, indicando uma tendência negativa - estragou a festa dos acionistas. O rebaixamento ocorreu em razão das previsões, do próprio Carrefour, de queda de 35% no resultado operacional neste semestre na França, do desmembramento da rede de descontos Dia, aprovada semana passada, e, ainda, de preocupações sobre o ritmo de recuperação das atividades em sua terra natal.O ritmo é considerado "lento" pelos os próprios acionistas. Na assembleia realizada semana passada, eles bombardearam de críticas a direção da empresa.As vendas do grupo vêm perdendo velocidade na França. Para tentar frear a queda nas vendas, a companhia lançou um vasto programa de modernização de seus hipermercados, batizados de "Planet" - que representam a maior parte de seu faturamento -, que custará € 1,5 bilhãoO fraco desempenho dos hipermercados ocorre em razão da mudança de comportamento do consumidor em países desenvolvidos, que vêm preferindo as lojas de bairro. O Carrefour aposta nesse segmento, com a abertura de supermercados nesse modelo. Segundo as previsões pouco otimistas para o semestre, porém, a recuperação do grupo ainda não é palpável, apesar de o Carrefour ressaltar que alguns novos hipermercados têm obtido bons resultados e que a expansão das lojas de bairro vai continuar.Por isso, a pressão do principal acionista do Carrefour, a Blue Capital, holding formada pelo grupo do empresário Bernard Arnault (da LVMH, líder mundial do setor de luxo) e pelo fundo americano Colony Capital. Juntos, eles detêm 14,1% do capital e 20,2% das ações com direito a voto do grupo. Eles teriam perdido, segundo analistas, mais de € 2 bilhões com a desvalorização do CarrefourO mercado estima que Arnault e o Blue Capital estão por trás da iniciativa do Carrefour de cisão da rede de descontos Dia, cujas ações devem ser lançadas na bolsa de Madri em 5 de julho. A operação poderia permitir a alta das ações Carrefour, já que o rendimento do grupo é maior do que o da rede de descontos. O diretor-geral e novo presidente do Carrefour, o sueco Lars Olofsson, havia declarado que o objetivo da operação com a rede Dia "é tornar o grupo mais focado em suas atividades operacionais e criar valor para os acionistas".Por enquanto, o projeto de cisão de 25% da Carrefour Property, de bens imobiliários, foi suspenso. Em 2010, o Carrefour havia vendido suas atividades na Tailândia justamente ao Casino, por € 868 milhõesPara o grupo Casino, a proposta de fusão entre o Carrefour e o Pão de Açúcar "é um movimento desesperado" do rival para reequilibrar suas atividades e também "a confissão do fracasso em recuperar as contas da filial brasileira". Em 2010, o Carrefour anunciou um rombo de € 550 milhões nas contas no Brasil, relativas a encargos, o que levou o grupo a realizar alertas de lucrosOntem, em Paris, na sede do Carrefour, a conta foi outra: o faturamento atual no Brasil, de €12,4 bilhões, incluindo a rede Dia, passaria para € 30 bilhões se o projeto de fusão for aprovado. Olofsson disse na semana passada que o Carrefour manteria o controle de suas operações no Brasil. Agora, o eventual controle em conjunto não representa um problema. Galeazzi costurou entrada do BTG no negócio No início da tarde de ontem, o engenheiro Pércio de Souza, sócio da butique de investimentos Estáter, explicava aos jornalistas a intrincada operação de associação entre Pão de Açúcar e Carrefour, estruturada por ele. Depois de uma rápida saída da sala para um café, Souza voltou confiante: "As ações do Pão de Açúcar estão subindo 11%", disse o engenheiro. "Sinal que o mercado está recebendo bem a notícia." Ao mencionar o "mercado", Souza se referia aos investidores. O papel fechou o dia com alta de 12,64%. Mas a operação que torna o Pão de Açúcar sócio do Carrefour mundial, com a manutenção de Abilio Diniz à frente do negócio, provavelmente na presidência do conselho de administração do Novo Pão de Açúcar (NPA), segundo apurou o Valor , não interessa aos demais players do setor varejista - rivais e fornecedores. A nova companhia concentrará quase um terço do varejo no Brasil. Em um setor que movimentou R$ 201,6 bilhões em 2010, o Pão de Açúcar respondeu por 17,9% das vendas (considerando Casas Bahia e Ponto Frio), enquanto a fatia do Carrefour ficou em 14,4%. O terceiro colocado no ranking, o Walmart, tem 11%.Na justificativa da possível concentração, o sócio do BTG Claudio Galeazzi - um dos responsáveis pela área de "merchant banking" do banco, onde estão as operações de varejo - disse que, nos Estados Unidos, o Walmart é dono de 32% das vendas. Na França, o Carrefour teria 26%. Daí ser natural, diz, que o Brasil tenha uma operação forte nacional, com participação inclusive no exterior. "A concentração é muito menor do que pensávamos no começo", afirmou. Em relação a sinergias entre as duas empresas, que ficarão reunidas no NPA, Galeazzi estima € 560 milhões, ou algo em torno de R$ 1,3 bilhão a R$ 1,8 bilhão. "Também teremos a chance de implantar as melhores práticas de gestão nas bandeiras do Carrefour Brasil, a fim de aumentar a eficiência da empresa." No ano passado, a filial brasileira da rede francesa foi responsável por um rombo contábil de € 550 milhões nas contas da matriz, devido a créditos de fornecedores contabilizados de maneira indevida. Segundo Galeazzi, essa conta ficou com o Carrefour na FrançaSegundo apurou o Valor, Galeazzi, famoso pelas reestruturações de empresas como Lojas Americanas e o próprio Pão de Açúcar, do qual participou do conselho de administração até ir para o BTG, na metade de 2010, foi o responsável pela entrada do banco no negócio. No início deste mês, Galeazzi teria mandado um e-mail para Abilio Diniz e para Pércio de Souza demonstrando o interesse do banco em participar da operação.Foi prontamente atendido por Souza, que colocou o BTG na estrutura do negócio, com uma participação de 3,2%, o equivalente a € 300 milhões. Além disso, o banco se comprometeu a captar € 500 milhões para o NPA. Mas a missão não foi tão simples. Galeazzi teve que vencer a resistência do banqueiro André Esteves, controlador do BTG, para participar do negócio. "Há um certo conflito de vaidades", diz um interlocutor que acompanhou a operação, referindo-se a Esteves e DinizSe a proposta da associação entre Carrefour e Pão de Açúcar for aprovada, Galeazzi, que completou 71 anos na segunda-feira, terá capitaneado o seu primeiro grande negócio à frente do BTG. A operação ainda terá que enfrentar as possíveis restrições impostas pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) e uma forte pressão dos grandes fornecedores. Galeazzi afirmou que, no NPA, as compras ficarão a cargo do Brasil - mesmo considerando que o Carrefour costuma costurar acordos mundiais com fornecedores multinacionais, a exemplo da Nestlé. "O Brasil manteria certa independência", afirmou.Em relação às lojas, Galeazzi afirmou que deve haver sobreposição especialmente no Rio e em São Paulo. "Nada impede que possamos transferir bandeiras, mudar formatos de loja ou, eventualmente, fechar algum ponto." Enquanto BTG, Estáter e Diniz pensam no futuro de uma companhia única, o Casino, sócio de Diniz na Wilkes, atual controladora do Pão de Açúcar, já pediu a Diniz uma reunião de acionistas. Diniz tem sete dias para responder. Na nova estrutura, além de ter sua participação diluída, o Casino perderia a oportunidade de assumir o controle do Pão de Açúcar, que já era, sozinho, líder nacional do varejo. O Brasil é a mais importante operação do Casino no mundo. Na França, sede da companhia, a empresa tem apenas 12% do mercado, contra 60% do Carrefour. As conversas entre Diniz e o Carrefour vieram a público no fim de maio. Quando soube, Jean-Charles Henri Naouri, o presidente do Casino, pediu explicações a Diniz. O brasileiro teria confirmado a aproximação, mas não deu detalhes. Em 31 de maio, o Casino recorreu à Câmara Internacional de Comércio, em São Paulo, pedindo arbitragem contra Diniz para manter os acordos fechados entre as partes em novembro de 2006 na Wilkes. Cade pode congelar negócio para análise Assim que for anunciada, a fusão entre o Pão de Açúcar e o Carrefour deve ser congelada pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) no Brasil.Em seguida, o negócio terá de seguir uma análise minuciosa pela qual a Secretaria de Acompanhamento Econômico (Seae) do Ministério da Fazenda vai verificar todas as cidades do país onde estão os supermercados das duas redes e recomendar a venda de unidades nas quais a presença de lojas de concorrentes é fraca. Essas unidades seriam vendidas para redes que competem com Pão de Açúcar e Carrefour. No caso de grandes cidades, como São Paulo e as capitais do país com mais de um milhão de habitantes, a análise deverá ser feita bairro a bairro.O caso também vai ser encaminhado à Secretaria de Direito Econômico (SDE) do Ministério da Justiça que pode fazer novas recomendações para atenuar o domínio do Pão de Açúcar e do Carrefour na concorrência."Não é algo trivial", afirmou um integrante de um órgão antitruste do governo. Segundo ele, o governo entende que seria prudente que uma operação desse tamanho fosse apresentada previamente ao Cade. Ele explicou que o órgão antitruste pode até analisar eventuais argumentos da empresa de que os efeitos do negócio podem ser maiores na França, mas o foco do julgamento será o impacto nos consumidores brasileiros.Nessa análise, o Cade deve primeiro suspender o negócio para manter as estruturas das redes de supermercados separadas e, depois, discutir a adoção de uma decisão com restrições para evitar prejuízos a concorrentes.Essa prática foi seguida no caso da união entre Pão de Açúcar, Casas Bahia e Ponto Frio. Em fevereiro de 2010, o Cade chamou representantes das empresas para assinar um acordo em que não poderiam fechar lojas e manteriam as marcas separadas e em funcionamento até o julgamento final do negócio.Após o acordo, a Seae indicou um primeiro pacote de restrições ao negócio, que seriam: a venda de ativos em 12 cidades com lojas, instalações, carteiras de clientes e cadastros da Casas Bahia ou do Ponto Frio. Agora, o caso retornou ao Cade, onde o pacote de restrições está em debate.Durante conferência internacional do Instituto Brasileiro de Estudos de Concorrência, Consumo e Comércio Internacional (Ibrac) sobre megafusões, há duas semanas, o secretário de Acompanhamento Econômico, Antonio Henrique Silveira, pediu a advogados de empresas que discutam soluções reais para manter a competição no mercado. Essas soluções podem ser a venda de marcas, fábricas e sistemas de distribuição de produtos. "Parem de dizer que uma fusão com concentração de, por exemplo, 80% é amigável", afirmou Silveira, sem se referir a nenhum processo específico. "As pessoas têm que reconhecer que alguns processos causam prejuízos à competição e temos que ter um diálogo para achar alternativas."No mesmo debate, o presidente do Cade, Fernando Furlan, cobrou das empresas que discutam os efeitos de seus negócios no Brasil, e não apenas os benefícios no exterior. Para ele, não é o Cade que está mais rigoroso com as empresas, mas sim o movimento da economia que leva a casos complexos de megafusões. Indústria vê menor poder de barganha O temor da indústria de alimentos e bebidas - e também de varejistas concorrentes - em relação à possível fusão entre Carrefour e grupo Pão de Açúcar se resume a uma palavra: concentração. "Quanto mais concentração, pior é para os fabricantes", disse o presidente de uma indústria de bebidas, que prefere não ser identificado. "Se nosso poder de barganha diminui, o varejista acaba impondo seus preços", acrescentou. "Com certeza, essa fusão nos prejudica", disse um representante da indústria de carnes. "Havia três varejistas, agora, com esse negócio, serão só dois", lamentou outra executivo do setor. Segundo ele, a maior parte do volume de vendas das indústrias de carne se dirige ao grande varejo, ou seja: Walmart, Carrefour e grupo Pão de Açúcar. No Brasil, segundo a Associação Brasileira de Supermercados (Abras), existem hoje 7.565 supermercados que no ano passado somaram um faturamento de R$ 201,6 bilhões. O grupo Pão de Açúcar (sem incluir lojas de eletrodomésticos, como Casas Bahia e Ponto Frio) entra nessa conta com 615 lojas e vendas de R$ 36,1 bilhões em 2010. O Carrefour tem 236 lojas (sem incluir a rede Dia, que está sendo separada do grupo) e faturamento de R$ 29 bilhões. Nacionalmente, caso a fusão se concretize, as empresas teriam 851 lojas - 11,2% do total - e vendas de R$ 65,1 - o equivalente a 32,2% do faturamento do setor."Olhando para o mercado nacional, a possível fusão não resultaria em aumento da concentração", disse João Galassi, presidente da Associação Paulista de Supermercados (Apas). "Mas se considerarmos só São Paulo, o cenário seria diferente", acrescentou. Em São Paulo - Estado que concentra 36% do faturamento do varejo de bens não duráveis do país - existem 2.473 supermercados. Desse total, 426 são do grupo Pão de Açúcar (17,2%) e 109, do Carrefour (4,4%). Juntas, as duas empresas teriam 588 lojas ou 23,7% do total paulista. Nenhuma das duas companhias divulga quanto faturam só no Estado, mas a Apas calcula que as duas companhias teriam juntas 30% dessa receita. "Com certeza, a indústria vai fazer uma pressão velada ao Cade para que essa fusão não saia", disse um fabricante de alimentos, se referindo ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica. "Nenhum representante irá se posicionar publicamente contra, ou fará essa pressão explicitamente porque a não é do feitio da indústria tomar partido. Mas com certeza o setor vai procurar se defender", afirmou o empresário. Entre os varejistas concorrentes, há interpretações diferentes. "Todo movimento de fusão ou de compra nesses últimos 12 anos se concentrou entre as maiores empresas do setor, que detém cerca de 40% das vendas", afirmou Galassi, que também é dono de uma rede de quatro supermercados em Campinas (SP). "Mesmo com tudo que aconteceu nesse período, os pequenos continuaram crescendo e conquistaram seu espaço", disse ele. Outro varejista, que preferiu não se identificar, prevê que a tradicional "pesquisa de preços" possa estar com os dias contados. "No Brasil, a concentração é ainda pequena, o que faz com que cada loja tenha seu preço. No México, por outro lado, o varejo é muito concentrado e os preços não variam."
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