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quarta-feira, 3 de março de 2010

Países produtores insatisfeitos com preços

Conferência Mundial
Países produtores insatisfeitos com preços

Na manhã de sábado, 27 de fevereiro, teve início a primeira rodada de palestras da Conferência Mundial do Café da Organização Internacional do Café (OIC), na Guatemala.

Entre os palestrantes da sessão da manhã, que contou com intervenções de representantes de países africanos, Brasil, Vietnã, Colômbia e de nações da América Central, ficou claro o clamor de que o preço do café tem que subir para viabilizar a cafeicultura mundial.

O representante dos países africanos responsabilizou a queda da produção de café em seu continente pelo enfraquecimento ou o desaparecimento de instituições reguladoras.

Os dois palestrantes do Vietnã frisaram que o segundo maior país produtor do mundo está com sua cafeicultura estagnada, possuindo uma expressiva área de plantio com cafeeiros envelhecidos. O Vietnã apresentou, inclusive, um projeto de transformação de seu disperso esquema de atuação institucional para um novo arranjo integrado e centralizado.

Já o representante da América Central listou os problemas de produção de cada país e ressaltou que as indicações de incremento da demanda mundial por cafés lavados, nos próximos anos, só poderá ser atendida via estimulo de preço, já que a presente remuneração ao produtor de café não será capaz de viabilizar o aumento de produção.

A intervenção do gerente geral da Federação dos Cafeicultores da Colômbia foi francamente defensiva quanto à explicação da quebra do volume produzido por seu país. Do regime inadequado de chuvas, ataques de ferrugem e broca, aumentos dos custos de produção, o único ponto dinâmico apresentado pelo dirigente colombiano foi a chamada preferência dos consumidores mundiais por cafés lavados, o que, na sua avaliação, os altos diferenciais de preço do último ano demonstram.

O gerente da Federação foi eloqüente quanto à fidelidade do consumidor mundial ao café colombiano e na apresentação da tendência de aumento da demanda mundial por estes cafés nos próximos anos.

A intervenção do Brasil foi bem feita, apresentando o desempenho da produção e das exportações do país nos últimos anos em comparação com o período em que o mercado mundial era regido pelo sistema de cláusulas econômicas da OIC.

Manoel Bertone, secretário de Produção e Agroenergia do MAPA, conclamou os demais países do mundo a organizarem arranjos institucionais como o que o Brasil conta, fazendo referência ao Funcafé, ao CDPC e à EMBRAPA.

Bertone lançou no ar o desafio dos países produtores conseguirem aumentar o preço do café sem gerar aumentos de produção, o que poderia levar o mundo a se ver em novo ciclo de desequilíbrio entre oferta e demanda.

O representante brasileiro não desenvolveu, contudo, o quadro de crise porque passa o produtor brasileiro de café e acabou sua intervenção dando apoio irrestrito à OIC.

Como conclusão da primeira rodada de palestras da Conferência Mundial do Café, podemos ressaltar que o conjunto dos países produtores não está satisfeito com os atuais preços do produto, mesmo aqueles que vêm comercializando o café com elevados prêmios, uma vez que renda a global destes países é prejudicada por menor volume de produção, o que implica em custos unitários de produção por saca mais elevados.

Ainda é cedo para uma avaliação do resultado desta Conferência, mas a continuar a linha de palestras que assistimos até aqui, todos os presentes estão de acordo que a cafeicultura mundial não pode mais funcionar com os presentes patamares de preço, porém ninguém se atreve a buscar uma ação coletiva pela valorização do café ao nível do produtor com a conseqüente diminuição das margens operacionais dos demais agentes da cadeia ou pela elevação do preço ao nível do consumidor.

É evidente que os consumidores ou importadores não vão ceder de mão beijada, portanto somente uma forte articulação dos produtores de café é que poderá levar o desafio à agenda internacional.

Até lá, certamente ainda teremos muitas palestra tocando a sustentabilidade via elevação de produtividade, redução de custos de colheita, certificação e aumento do consumo mundial, particularmente em países produtores.

Atenciosamente,

Francisco Ourique1
Consultor Técnico


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1Francisco Ourique está na Cidade da Guatemala (GUA) representando o Conselho Nacional do Café (CNC) na Conferência Mundial da OIC.

Osório defende entrada em vigor do novo Acordo Internacional

O diretor executivo da Organização Internacional do Café (OIC), Nestor Osório, defendeu a entrada de vigência do novo acordo internacional durante o seu discurso de abertura da Conferência Mundial do Café, que ocorreu no último fim de semana na cidade da Guatemala.

Osório pediu urgência para que os países que ainda não depositaram seus instrumentos de ratificação, aceitação ou aprovação do novo acordo, especialmente os exportadores, intensifiquem o processo, possibilitando a entrada em vigor do novo acordo.

O Acordo Internacional do Café foi estabelecido em setembro de 2007, porém ele passará a vigorar definitivamente apenas depois que mais países participantes da OIC ratifiquem a proposta. Até agora, apenas cerca de 50% dos países exportadores assinaram o acordo, necessitando-se um mínimo de 66,6% destes países para que ele possa entrar em vigor. Isto não ocorrendo, a vigência do acordo em vigor, assinado em 2001, continua sendo prorrogada até que o bloco de países exportadores atinja os dois terços de ratificação necessários, já que a grande maioria dos países importadores já depositou seus instrumentos de ratificação, aceitação ou aprovação do novo acordo.

O novo acordo internacional foi um dos principais assuntos tratados na Conferência, que foi divida em quatro sessões: A Sustentabilidade econômica: A economia da produção; Sustentabilidade econômica: A economia da demanda; Sustentabilidade ambiental; e Sustentabilidade social.

O gerente geral, Aymbiré Fonseca e a gerente adjunta técnica, Mirian Eira, participaram da Conferência Mundial do Café representando a Embrapa Café e os interesses do Consórcio Pesquisa Café.