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segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Café tem dia de ligeira correção na ICE e fecha com ganhos

Café tem dia de ligeira correção na ICE e fecha com ganhos
Os contratos futuros de café negociados na ICE Futures US encerraram esta segunda-feira com altas. Após as intensas perdas de sexta-feira, algumas recompras corretivas foram verificadas, o que permitiu que as cotações tivessem valorização durante praticamente todo o dia. Esses ganhos, no entanto, não foram dos mais incisivos e a posição dezembro não conseguiu testar o patamar de 275,00 centavos, por exemplo. Alguns especuladores e indústrias de torrefação atuaram no lado comprador, aproveitando a retração registrada durante a semana passada. Os mercados externos, que foram decisivos para as liquidações recentes, nesta segunda-feira não tiveram maior influência no segmento de commodities. As bolsas de valores dos Estados Unidos chegaram a registrar algumas perdas mais consideráveis na parte da manhã, com o temor de que a Grécia anunciasse um calote em sua dívida. Tal fato não foi efetivamente comprovado, apesar de muitos analistas já o considerarem como crível, mas foi suficiente para, por exemplo, pressionar consistentemente as bolsas na Europa. Com o fechamento mais tarde, Nova Iorque passou a levar em consideração outros fatores e conseguiu fechar o dia com ganhos de mais de meio por cento. O índice CRB se manteve estável, assim como o dólar. Fundamentalmente, o mercado continua sem maiores novidades. Alguns players destacaram a aproximação da temporada de chuvas na Colômbia e a possibilidade de existir a retomada da presença da ferrugem em áreas produtoras. No Brasil, várias zonas cafeeiras continuam a registrar temperaturas altas e clima seco, sendo que agrônomos avaliam que seria positiva a ocorrência de chuvas para os processos de adubação, assim como para o pegamento das floradas. No encerramento do dia, o dezembro em Nova Iorque teve alta de 95 pontos com 270,95 centavos, sendo a máxima em 274,75 e a mínima em 268,15 centavos por libra, com o março registrando oscilação positiva de 85 pontos, com a libra a 273,90 centavos, sendo a máxima em 277,60 e a mínima em 271,20 centavos por libra. Na Euronext/Liffe, em Londres, a posição novembro registrou alta de 19 dólares, com 2.190 dólares por tonelada, com o janeiro tendo valorização de 19 dólares, com 2.214 dólares por tonelada. De acordo com analistas internacionais, o mercado chegou a flertar com algumas baixas ao longo do início da sessão. No entanto, os bearish (baixistas) se mostraram reticentes, não ampliando consideravelmente o seu potencial vendedor demonstrado na sexta-feira. Isso deu espaço para algumas recompras especulativas e também para a aquisição de indústrias, mas com os ganhos sendo limitados nas máximas. "É uma sessão que funciona um pouco como uma ressaca. As perdas da sessão passada foram muito intensas e alguns operadores se sentiram estimulados a corrigir algumas rotas. Não buscamos efetivamente nem suportes nem resistências mais consideráveis ao longo do dia e, assim, flutuamos em um range de pouco mais de 600 pontos", disse um trader. "O fechamento técnico na semana foi negativo. Acho que vamos ver o “C” testando os 255/260 centavos de dólar por libra antes de encontrar suporte — podendo cair um pouco mais, caso alguém tenha comprado as histórias de seca e caso as chuvas se mostrem normais. Portanto, aos que precisam comprar sugiro colocar escalas abaixo de 260 centavos, e aos produtores que precisam fazer caixa no curtíssimo prazo é bom aproveitar o atual momento para vender um pouco", indicou Rodrigo Corrêa da Costa, analista da Archer Consulting. Os estoques de café na Europa cresceram 138.797 sacas, indo para 13,6 milhões de sacas, em julho, informou a Federação de Café Européia. O maior incremento se deu em Bremen, na Alemanha, com alta de 142.067 sacas, para 1,30 milhão de sacas. Três portos registraram baixas no volume estocado, em Antuérpia, na Bélgica, Genova, na Itália e Trieste, também em terras italianas. As exportações de café do Brasil em setembro, até o dia 9, somaram 318.490 sacas, contra 537.847 sacas registradas no mesmo período de agosto, informou o Cecafé (Conselho dos Exportadores de Café do Brasil). Os estoques certificados de café na bolsa de Nova Iorque tiveram alta de 2.279 sacas, indo para 1.445.305 sacas. O volume negociado no dia na ICE Futures US foi estimado em 27.258 lotes, com as opções tendo 5.062 calls e 9.161 puts. Tecnicamente, o setembro na ICE Futures US tem uma resistência em 274,75, 274,90-275,00, 275,50, 276,00, 276,50, 277,00, 277,50, 278,00, 278,50 e 279,00 centavos de dólar por libra peso, com o suporte em 268,15, 268,00, 267,50, 267,00, 266,50, 266,00, 265,50, 265,10-265,00, 264,50, 264,00, 263,50 e 263,00 centavos por libra.

POTENCIAL CALOTE-GREGO AZEDA O CAFÉ -Rodrigo Corrêa da Costa

POTENCIAL CALOTE-GREGO AZEDA O CAFÉ Após uma década do triste ataque terrorista no World Trade Center, alguns analistas financeiros tentam traçar a relação do acontecimento com a situação econômica mundial atual. Nos últimos dez anos o ouro subiu mais de 600%, o petróleo triplicou de preço, e as ações americanas ficaram bem aquém das performances dos mercados acionários de outros países desenvolvidos e também dos emergentes. Mesmo o mercado de renda fixa de curto e longo prazo teve um melhor desempenho, o que pode dar a impressão de uma influência do evento. Na verdade a queda das torres gêmeas e a perda de milhares de vidas no dia 11 de setembro de 2001, que nos entristece extremamente até hoje (na época eu estava apenas 11 meses vivendo nos Estados Unidos), contribuiu para o endividamento da América, porém mais em função das guerras que o país entrou e do rumo que tomou com o trato de suas contas, do que por outras razões. Não podemos esquecer que 18 meses antes dos ataques, vivíamos a crise da implosão da bolha da internet, que mudou a política de juros americanos e provocou um relaxamento na regulamentação dos mercados. A consequência foi a criação de produtos estruturados que preencheram (por um tempo) o apetite de investidores que estavam (mal)acostumados com retornos inchados até o derretimento das ações tecnológicas, e que no fim inflou os mercados imobiliários e que nos trouxe à atual crise.Nesta semana uma nova rodada de pânico tomou conta dos mercados, com o seguro para o débito soberano da Grécia indicando 91% de probabilidade do país dar o calote. Os principais fatores que desencadearam o ressurgimento do medo na zona do euro foram a saída de um membro alemão do banco central europeu e o vazamento da informação de que a Alemanha está desenhando um plano para blindar os seus bancos que serão afetados pelo “default” grego. Sobrou para todo mundo. Os mercados acionários em cinco dias caíram entre 8% e 10% na Europa, e mais de 4% nos Estados Unidos. A corrida para a moeda americana fez com que o índice do dólar valorizasse 3.33% e as commodities não conseguiram se desvencilhar, com os principais índices escorregando ao redor de 1%.O café em Nova Iorque foi quem mais caiu, perdendo US$ 14.15 centavos por libra na sexta-feira, e encerrando a semana com queda acumulada de US$ 23.88 por saca. Na BM&F a performance negativa foi de US$ 21.40 por saca, trazendo a arbitragem para US$ -1.71 centavos por libra . Na LIFFE o robusta caiu menos, US$ 6.24 por saca.A conversa que dominou o noticiário cafeeiro foi o tempo seco, porém me parece que a preocupação é um pouco prematura. Quando mencionei no último comentário que este seria o próximo evento a ser acompanhado, não quis dizer que isto aconteceria no começo de setembro, mas sim para o final deste mês e o começo de outubro. Por outro lado secas diferem muito da geada no que tange o tempo de reação aos preços, e isto se deve ao fato das perdas com geadas serem identificadas mais rapidamente, enquanto os efeitos da seca são sentidos muito mais lentamente, portanto provocando uma resposta mais “gradativa”.No mercado físico brasileiro a movimentação foi boa até quinta-feira, ajudada pela bolsa que estava se mantendo próximo das máximas, e pelo enfraquecimento do real brasileiro. Entretanto como esperado os diferenciais estreitaram prontamente com a queda do terminal. Na exportação um novo recorde foi estabelecido, a receita cambial em um mês de US$ 777.53 milhões de dólares. O volume exportado em agosto foi de 2,867 milhões de sacas – uma média de US$ 271.15 por saca exportada, sendo que para o arábica a média foi de US$ 296.61 por saca, próximo de 480 reais por saca. A velocidade de utilização dos estoques certificados em bolsa (ICE e LIFFE) não tem sido alta, e com a proximidade das safras do Vietnã, de Colômbia e América Central notamos um enfraquecimento dos diferenciais para os suaves e para o robusta – sinais que se refletiram na falta de sequência de ganho dos futuros.Creio que os fundos liquidaram parcialmente os seus 10,533 lotes comprados na ICE até terça-feira, estando agora provavelmente com 9 mil lotes “long”. Como o fechamento técnico na semana foi negativo, acho que vamos ver o “C” testando os US$ 255 / 260 centavos por libra antes de encontrar suporte (podendo ser cair um pouco mais caso alguém tenha comprado as estórias de seca, e caso as chuvas se mostrem normais).Portanto aos que precisam comprar sugiro colocar escalas abaixo de 260 centavos, e aos produtores que precisam fazer caixa no curtíssimo prazo é bom aproveitar o atual momento para vender um pouco – lembrando o que o consultor que Arnaldo Corrêa sempre escreve em seus relatórios: “o único participante que sempre vende as máximas é o mentiroso”.Uma ótima semana e muito bons negócios para todos,
Rodrigo Corrêa da Costa

Crise será prolongada, diz Tombini

Crise será prolongada, diz Tombini
O corte de 0,5 ponto percentual na taxa de juros, na reunião do Copom do dia 31, teve um claro objetivo: "neutralizar a desaceleração da atividade econômica decorrente da piora no quadro internacional". O Comitê de Política Monetária calculou que se o rebaixamento geral do crescimento nas economias centrais representar para a economia brasileira 25% dos efeitos da crise de 2008/2009, isso resultaria numa perda de 1,25 ponto percentual no PIB, disse o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, ao Valor. O desaquecimento adicional, decorrente esperada redução nos próximos meses da corrente de comércio, dos investimentos externos e do crédito, viria se sobrepor à desaceleração em curso e que será sentida com maior intensidade no segundo semestre. A inflação, que entre agosto e setembro bateu no teto da meta, começa a ceder a partir de outubro. Ele explicou que no cenário alternativo (que consta da ata do Copom), mesmo com os juros em queda e o câmbio depreciando como nos últimos dias, a projeção de inflação é mais baixa do que seria se os juros tivessem sido mantidos em 12,50%. "Não estamos apostando em catástrofe. Apostamos numa desaceleração do crescimento mundial e numa crise mais prolongada do que em 2008." Na entrevista ao Valor, o presidente do BC tinha em mãos tabela com as projeções de inflação e juros em mais de vinte países. Em todos, os juros reais estão negativos ou muito baixos, o que retrata a pouca ou nenhuma capacidade de reação das políticas monetárias para reanimar o nível de atividade. No Brasil, a situação é diferente: os juros são de 12% para uma inflação que está no pico de 7,23%, mas que deve cair para a casa dos 5% até abril ou maio de 2012. "Faz quem pode."Apesar das muitas críticas e poucos aplausos à decisão do Copom, Tombini não demonstrou qualquer dúvida. "Para aqueles que ainda não entenderam, vai haver um entendimento da nossa estratégia. Estamos num processo de moderação do crescimento, que já estava encomendado. Adiciona-se a isso uma deterioração do cenário internacional de forma importante nos últimos 40 dias. Isso nos leva a uma trajetória de inflação de queda em busca da meta". Garantiu que não houve abandono da meta de inflação de 4,5% em 2012, que o BC não tem mais de um objetivo e que não há interferência política. "Com a presidenta Dilma Rousseff discutimos cenários". Tombini conta com estabilidade, e não queda, nos preços das commodities; com desaquecimento do mercado de trabalho e não desemprego; e com uma moderação no setor de serviços, que carrega uma inflação na casa dos 9%.

Crise faz aniversário e mostra seu lado fiscal-por Eduardo Campos

Crise faz aniversário e mostra seu lado fiscal
A semana não é uma semana qualquer. O período guarda a efeméride de eventos que marcaram a história do mundo e que têm seus desdobramentos sentidos até hoje. São fatos que ainda mexem com o imaginário coletivo e não é incomum traçar paralelos quando o planeta atravessa datas tão célebres como os ataques terrorista de 11 de setembro de 2001 - com uma década completada ontem -, e a quebra do Lehman Brothers em 15 de setembro de 2008.Passados três anos do colapso do sistema financeiro os mercados se agitam temendo evento semelhante. O gatilho agora não é a crise das hipotecas subprime e seus derivativos tóxicos. Mas sim os países europeus, notadamente a Grécia e outras economias periféricas, que não conseguem lidar com o elevado endividamento.De fato, esse momento de crise é apenas um desdobramento do episódio de três anos atrás. De forma simplificada, os países saíram correndo para salvar os bancos e o sistema financeiro. Mas agora precisam de alguém que os salvem.Dólar subiu pelo sétimo dia e mira linha de R$ 1,70Interessante que os algozes dos estados soberanos são os mesmos "mercados" que foram salvos da desgraça total causada pela própria ganância, acusações de fraudes e certa leniência dos órgãos reguladores.Curioso pensar, também, que um país com um Produto Interno Bruto (PIB) de US$ 300 bilhões põe em xeque uma união monetária pensada e costurada por décadas e mesmo o sistema financeiro de boa parte do mundo.Na sexta-feira, o calote grego foi o assunto nas mesas e o temor continuou pautando a tomada de posição mesmo depois de o governo negar tal possibilidade e reafirmar seu compromisso com a "implementação completa" dos termos acertados em julho, necessários ao recebimento de nova rodada de recursos do Banco Central Europeu (BCE) e do Fundo Monetário Internacional (FMI).O ministro das Finanças da Grécia, Evangelos Venizelos, falou em uma "onda organizada de rumores sobre o default da Grécia". Chamou isso de um "jogo de mau gosto, especulação organizada".Mera especulação ou não, o fato é que o mercado encerrou a sexta-feira vendo a Grécia como um país quebrado. Esse foi o recado extraído do mercado de Credit Default Swap (CDS, espécie de seguro contra calotes). Pelos valores dos títulos, a probabilidade de um default da Grécia já estaria em 100%.O mercado local não se safou desse novo episódio de desconfiança, que derrubou bolsas e ações do setor financeiro, deu fôlego ao dólar e restringiu a liquidez no mercado interbancário europeu.No câmbio brasileiro, o dólar comercial subiu pelo sétimo dia seguido, algo que não ocorria desde janeiro de 2010. A moeda subiu 2,60% na semana e fechou a R$ 1,678. As análises gráficas sugerem que o próximo objetivo está no R$ 1,70, marca não vista desde dezembro do ano passado.E pensar que cerca de 40 dias atrás, a moeda rondava a linha de R$ 1,53. Nesse período, o preço da moeda subiu 9,17%. Em 2011, o dólar passou a cumular ganho de 0,72%.Queda expressiva, também para o euro. A moeda comum europeia voltou a cotações não vistas desde fevereiro, na faixa de US$ 1,36. Na semana, o euro perdeu quase 4%.No mercado futuro de juros, as taxas futuras voltaram a cair. Afinal de contas, foi vislumbrando esse caos externo que o Banco Central (BC) cortou a taxa básica da economia em 0,50 ponto percentual, a 12% ao ano.Resumindo bem a questão, o vice-presidente de tesouraria do Banco West LB, Ures Folchini, aponta que mesmo que você discorde do BC, o fato é que ele vai reduzir os juros. "Você pode não acreditar nele, mas é isso que ele vai fazer", diz.O sócio-gestor da Leme Investimentos, Paulo Petrassi, aponta que é muito arriscado ficar "comprado" em juros, pois a cada notícia negativa sobre a conjuntura externa as taxas caem.
Eduardo Campos

Meu nome é Bond Treasury Bond-por David Kupfer

Meu nome é Bond Treasury Bond.
Assim como o James, o famoso personagem 007 dos livros e filmes que Ian Fleming concebeu como invencível, os títulos do tesouro americano deram mais uma exibição de força ao se valorizarem em resposta ao seu próprio rebaixamento, no desastrado episódio promovido pela agência de classificação de riscos Standard & Poor's no início de agosto último. O problema é que essa demonstração de força não necessariamente traz boas notícias para os EUA e muito menos para outros países, que vem sendo obrigados a arcar com os custos cada vez maiores impostos pelo confuso, para não dizer errático, processo de ajustamento que a economia americana vem percorrendo.Na virada desse segundo semestre de 2011, diversos analistas brasileiros ainda vinham reproduzindo mecanicamente o diagnóstico dominante na mídia internacional de que o epicentro de um possível segundo mergulho da economia mundial estaria na União Europeia, em consequencia do imbróglio fiscal que lá se armou. Para esses, os EUA enfrentavam um cenário que, mesmo longe de benigno, não se mostrava suficientemente sombrio para suscitar maiores preocupações. O problema com esse tipo de diagnóstico não é exatamente a sua pertinência mas o fato dele estar a anos luz do cerne da questão. O mergulho da economia mundial que poderá vir a ocorrer não é simplesmente mais um desdobramento da crise financeira que irrompeu em 2008: é a verdadeira crise mostrando a sua cara, após o estouro de uma onda secundária que estava mascarando os impactos recessivos das profundas transformações já ocorridas na economia mundial. Dados da Unido sobre a participação dos diversos países na geração do valor adicionado industrial ajudam a perceber essas tensões: em 2000, os EUA respondiam por 26,6% e a China por 6,6% do total do valor adicionado gerado pela indústria mundial. Em 2009, os números modificaram-se para 18,9% e 15,6%, respectivamente. Os dois países em conjunto praticamente mantiveram a participação (de 33,2% para 34,5%), evidenciando a extensão com que se deu a transferência de atividade industrial dos EUA para a China. Esse processo evidentemente não tem volta e aí reside a principal das dificuldades com que a economia americana precisa lidar no presente.Os EUA estão às voltas com um processo de deflação de ativos como o que levou o Japão a anos de estagnaçãoEsses analistas agora se mostram surpresos com a tendência estagnacionista revelada pela economia americana. A despeito do trilhão e pico de dólares já injetados pelo FED (banco central americano) em sucessivas rodadas da política de afrouxamento monetário (quantitative easing), o fato é que a armadilha da liquidez, tão enfaticamente prevista pelos economistas keynesianos, prevaleceu: os EUA estão às voltas com um processo de deflação de ativos semelhante ao que condenou o Japão a uma década ou mais de estagnação. Os bancos não repassam a liquidez para os agentes econômicos simplesmente porque não há investimentos a realizar. O mercado imobiliário não se recuperou nem dá sinais de que irá fazê-lo tão cedo enquanto o mini-ciclo que havia se instituído no mercado de bens duráveis de consumo (veículos, gadgets eletrônicos) já deu sinais de esgotamento.Já os investimentos produtivos não saem do papel porque a economia mostra-se pouco capaz de conferir rentabilidade e segurança a essas inversões. As fichas agora estão depositadas no pacote de estímulos fiscais para a geração do emprego, de quase US$ 500 bilhões, apresentado pelo presidente Obama ao Congresso na quinta feira passada.Para o Brasil, a mais importante consequência desse torneio entre União Europeia e Estados Unidos para se ver quem vai ficar em maior recessão e por mais tempo é a certeza de que o país vai depender mais do que nunca da qualidade da sua política econômica para navegar nos turbulentos anos que vem pela frente.No caso do controle da inflação, dentro do arsenal de medidas disponíveis, a taxa de juros é sabidamente um instrumento vocacionado para atuar sobre a demanda agregada, quer dizer, tende a ter eficácia quando os índices estão sendo puxados pelos preços de bens e serviços de consumo que se mostrem elásticos em relação à renda ou pelos preços de bens e serviços intermediários cujo ritmo de produção esteja próximo do limite dado pela capacidade instalada existente. Uma inflação de alimentos, que é hoje a principal origem da alta de preços no Brasil, dificilmente pode ser combatida adequadamente pela elevação da taxa de juros. Idem para os preços de insumos que são commodities cotadas em mercados internacionais, outro grupo de produtos que vem contribuindo fortemente para o recente repique inflacionário.Talvez antes de perguntar se o Banco Central errou ao reduzir os juros em 0,5 ponto percentual na última reunião do Copom, caberia questionar se o erro não foi o de elevar esses juros em 0,25 na reunião de julho. A boa política macroeconômica está assentada na arte de conjugar nível e variação dos parâmetros de controle da economia. É evidente que um olhar exclusivamente focado no comportamento da inflação faz parecer ilógico não aumentar ou, que dirá, diminuir a taxa de juros. Mas quando se abre os olhos e se enxerga mais amplamente o conjunto da economia, brasileira e mundial, parece igualmente ilógico manter o nível da taxa de juros nos valores estratosféricas de 12% atuais.O maior problema com que a economia brasileira se defronta nesse momento é a rigidez da taxa de investimento. Na medida em que não se consiga retomar o dinamismo pré-crise (de 2008) essa sim poderá contribuir no futuro próximo para tornar crônicas as tensões inflacionárias que hoje ainda podem ser consideradas pontuais ou episódicas. As autoridades econômicas não podem desconsiderar esse dado da realidade.
David Kupfer é professor do Instituto de Economia da UFRJ e coordenador do Grupo de Indústria e Competitividade