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segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Mercado fecha a segunda com forte baixa

Mercado fecha a segunda com forte baixa
O mercado fechou hoje com forte queda em 197.70 com 575 pontos de baixa.
Mercado continua trabalhando dentro de uma consolidação sem tendência no curto prazo definida fazendo uma correção lateral há oito dias.
A consolidação esta entre 195,50 e 204,50 neste intervalo de preços, o rompimento para um dos lados dara a tendência do curto prazo, o rompimento para baixo de 195,50 joga para uma correção mais aguda com alvo em 184,50, o rompimento para cima de 205,00 continua na tendência de alta que vem desde junho buscando novos topos.
A CRP corretora esta dentro de um trade contra tendência vendido em 202,20 com stop em 205,00 aguardando o rompimento de 195,50.
O feriado e as chuvas do começo da semana deixam o mercado físico com poucos negócios
Wagner Pimentel
WWW.cafezinhocomamigos.blogspot.com

Estados Unidos estão melhor que Europa, afirma Nouriel Roubini

Estados Unidos estão melhor que Europa, afirma Nouriel Roubini

Nouriel Roubini, o economista que previu a crise financeira mundial, prevê uma recuperação econômica lenta e uma nova grande crise nas finanças. Polêmico, pouco querido em Wall Street, visionário e tremendamente pessimista - apelidado de Doutor Apocalipse -, ele afirma que a questão é apenas quando ela virá.

Não sou um pessimista, me considero um realista - afirma. - Ainda não saímos desta e já vem outra crise: a questão é apenas quando.

Roubini, de 52 anos, afirma que devemos esperar anos de baixo crescimento econômico por melhor que sejam as medidas de política fiscal e monetária que foram colocadas em prática.

Anos dolorosos estão por vir, devido à ressaca do alto endividamento público e privado no mundo rico. A boa notícia é que podemos evitar uma recaída rumo à recessão. A má é que não se pode fazer muito mais que isso - dispara.

Para o economista nascido em Istambul, crises são criaturas que têm hábitos. Elas parecem furacões: "Atuam de maneira relativa, até previsível, mas podem mudar de direção, abrandar e até mesmo ressurgir sem avisar".

Estamos exatamente antes da próxima etapa, agora vem o momento em que, em muitos dos países mais castigados, a dívida privada se converte em dívida pública e ressurgem os problemas fiscais - adverte.

Para se deter o furacão da crise, Roubini dá uma receita geral: mais regulação. Ele considera que os bancos são a raiz do problema, o olho do furacão e que tudo que se faça para dar um aperto na regulação chegará tarde demais e será pouco.

Ainda assim, é preciso construir diques financeiros para fazer frente a crises futuras. No ritmo que vamos, a próxima crise financeira será ainda pior que esta - prevê.

E Roubini segue vendo um horizonte sombrio:

Os Estados Unidos estão um pouco melhor que a Europa. E a periferia da Europa está pior que o centro. Ainda dentro da Europa, a Grécia e alguns países do Leste estão pior que a Irlanda e Portugal, e estes dois países têm mais problemas que a Espanha.

O economista ressalta o risco de uma crise do dólar, o que provocaria sérios problemas em todo o mundo. Mas isso não ocorrerá a curto prazo, diz. Também vê, para os EUA, o risco de uma recaída, se a economia não for estimulada. Para a Europa, vê mais dificuldades. Uma década perdida à japonesa ou até algo pior: uma espiral parecida com a que a Argentina sofreu em 2001.

ESTRUTURA E DIFERENCIAIS MAIS FRACOS

ESTRUTURA E DIFERENCIAIS MAIS FRACOS

O G-20, grupo das 20 maiores economias do planeta, fez um compromisso no último final de semana de evitar maiores desvalorizações da moeda de cada um dos membros. Porém na prática o que se vê é o contrário, já que o yuan chinês voltou a desvalorizar – coincidência ou não o premiê do país disse que uma valorização de 20% a 40% causaria desemprego e transtorno social – e há rumores de que o Brasil pode incrementar ou criar mais taxações para a entrada de capital externo caso o real volte a firmar (sem falar da Coréia e da África do Sul).

O governo brasileiro tem a difícil situação de tentar segurar a valorização do real, que atrai investidores famintos pelos altos juros do país, que está entre os maiores do mundo. Por sinal o mercado de bonds dos países emergentes estão bem inflados, e tem gente achando que este será a próxima bolha – cuidado aqueles que estão agressivos na tomada de recursos em dólar no médio/longo. Uma mudança eventual de governo poderia causar uma desvalorização, dado que o investidor em geral não gosta de novidades, mas as pesquisas mostram que isso é pouquíssimo provável.

Para finalizar o comentário macro, os mercados estão em tom de espera da reunião que acontece na nesta semana do FED (banco central americano) para saber o tamanho das novas medidas de expansão monetária, motivo pelo qual o índice do dólar (cesta de moedas contra a americana) não oscilou tanto.

O café teve uma semana agitada, com performances que enganaram os altistas e os baixistas em dias distintos. O fechamento da semana e do mês de outubro acabou trazendo mais compras de fundos e assegurou ganhos nos últimos 5 dias de US$ 6.08 por saca em Nova Iorque, US$ 7.74 em Londres, e US$ 4.50 em São Paulo.

O mercado físico teve bom giro, muito embora os altos preços da bolsa e da saca de café exigem linhas de crédito maiores, e para complicar há os atrasos dos embarques no Brasil que prejudicam fechar o ciclo das operações de financiamento. Parece que há algo próximo de 500 mil sacas prontas para serem embarcadas, mas o alto fluxo de exportação do açúcar ensacado, que usa contêineres, tornou escasso não só os próprios contêineres, como também espaço nos navios.

Apesar da ginástica dos exportadores brasileiros para gerenciar seus fluxos de caixa, os diferenciais abriram mais na semana, com notícias de negócios a largos 33 centavos/lb de desconto para o sweedish. Nas outras origens também se vê um barateamento dos diferenciais, com Colômbia negociando o seu café mais fino (Supremo) a 32 cents acima de NY, e o 2º linha (UGQ) negociando nas mínimas vistas no começo de 2009, ou 25 cents acima da bolsa. Ainda falando de Colômbia ouvimos que andou saindo bons volumes de negócios para embarque imediato e para o primeiro trimestre de 2011, ou seja está começando a aparecer mais café.

O clima no Brasil continua favorável para o desenvolvimento dos pés de café, e algumas fontes começam a mencionar que a safra 11/12, embora menor, pode ser do mesmo tamanho da 2009/2010 – logo, logo alguém vai reclamar destas “previsões-prematuras”.

Outro fator que pode ser lido como baixista é o enfraquecimento da estrutura da bolsa de Nova Iorque, principalmente do spread de Dezembro / Março. Como os fundos tem uma posição comprada grande, e uma boa parte ainda está no contrato de dezembro, eu creio que poderemos ver este spread enfraquecer pelo menos para uns US$ -2.50 centavos, o que ajuda aqueles que carregam estoques.

No robusta, a subida do terminal também provocou um barateamento dos diferenciais, que negociaram a US$ 120 por tonelada de desconto contra a bolsa.

Com o efeito de sustentação do final do mês neutralizado, fundos com uma posição próxima das máximas recentes, e com mais disponibilidade de café, poderemos ver uma tomada de lucro no mercado futuro, o que poderia trazer Nova Iorque para baixo de US$ 190.00 centavos por libra.

Os altistas discordam e apontam a necessidade de compra da indústria e dos dealers como o principal motivo para duvidar da baixa, assim com uma limitação no volume de vendas provocados pelo aperto de caixa.

A volatilidade implícita mais alta indica para uma nova alta ou uma queda forte, mas não para um mercado negociando por muito tempo próximo de US$ 200.00 centavos por libra.

Uma ótima semana e muito bons negócios para todos.

Rodrigo Corrêa da Costa escreve este relatório sobre café semanalmente como colaborador da Archer Consulting

Aonde foi parar a crise dos derivativos?

Aonde foi parar a crise dos derivativos?

Há dois anos podíamos perceber a formação de uma tempestade sem precedentes em
Wall Street, centro nervoso do mercado financeiro mundial. Os sinais de
desequilíbrio e de uma catástrofe iminente se intensificavam nos radares dos
especialistas. Finalmente, em setembro de 2008, o impensável aconteceu, veio ao
chão o gigante Lehman Brothers. Junto com ele foram varridos do mapa da elite
financeira, ao menos da maneira como conhecíamos, ícones como: Merrill Lynch,
Washington Mutual, AIG, Bear Stearns, Wachovia, Fannie Mae e Freddie Mac entre
outros.
No Brasil, um dos principais efeitos de tais acontecimentos foi o deslocamento
imediato do mercado de câmbio. O dólar, que seguia por meses com baixíssima
volatilidade, em torno de R$ 1,60, subitamente disparou atingindo o pico de R$
2,50 nos meses subsequentes. Tal desequilíbrio desorganizou, embora
momentaneamente, a lógica das operações de proteção, via derivativos,
realizadas entre empresas e bancos.
Tanto o ambiente de bolsa como o de balcão, onde as negociações são bilaterais,
houve intensa necessidade de ajustes de forma a reduzir o risco de contraparte.
Em bolsa, isso ocorreu via alteração do patamar de ajustes diários; e, em
balcão, via verificações, espécie de ajuste contratual definidos entre os
bancos e seus clientes.
Primeira resolução exigindo o registro das operações é de 1994, muito à frente
do mercado internacional
Algumas grandes empresas haviam avançado muito além das operações de hedge
propriamente ditas e se alavancaram de forma insustentável no novo cenário. Na
esteira do pânico criado pela divulgação dos imensos problemas que enfrentavam
essas empresas, dezenas de outras, menores, passaram a alegar que os contratos
firmados com os bancos em um momento de baixa volatilidade haviam se tornado
inviáveis. Não fosse o movimento firme e determinado do Banco Central (BC), o
fantasma do rompimento unilateral de contratos teria colocado por terra anos de
desenvolvimento institucional. Todo esse debate no Brasil foi perigosamente
impulsionado pelos acontecimentos nos EUA.
A despeito de os veículos de securitização de créditos duvidosos terem sido os
principais instrumentos de disseminação da crise, um tipo especial de
derivativos, os de crédito, foram largamente utilizados como suporte dessas
operações. Impactados pela crise, eminentes políticos americanos iniciaram uma
cruzada de demonização dos derivativos de balcão, não negociados em bolsa. Na
verdade uma simplificação do problema, uma vez que os derivativos de crédito
constituíam apenas uma parte menor do total do valor dos derivativos de balcão
no mundo à época. (Volume total de derivativos de balcão em julho de 2008: US$
684 trilhões em comparação com algo em torno de US$ 57 trilhões de "credit
defaul swap").
Ocorre que na Europa e Estados Unidos, diferentemente do Brasil, os derivativos
de balcão são contratos bilaterais, sem nenhum tipo de registro centralizado e
em muitos casos não se subordinavam a nenhum tipo de regulação.
Dois anos depois, para decepção daqueles que previam o caos, o sistema
financeiro brasileiro está bem. A exigência de registro de todas as operações
entre bancos e seus clientes em ambiente autorizado pelo BC, BM&FBovespa e
Cetip, provou-se extremamente benéfica, trazendo alto grau de transparência e
sobretudo resiliência ao sistema como um todo. Vale mencionar que a primeira
resolução exigindo o registro data de 1994, portanto muito a frente do mercado
internacional.
Ainda assim o mercado não parou. Buscando diminuir as brechas existentes nos
derivativos diretamente contratados no exterior, O Banco Central produziu três
normas importantes em tempo mínimo - Circular 3.474 e as Resoluções 3.824 e
3.833. A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) publicou a Instrução 475
aprimorando a apresentação de informações sobre instrumentos financeiros por
parte das empresas. E, no âmbito da Febraban, um grupo de profissionais, entre
os quais me incluo, conceberam e implementaram a Central de Exposição de
Derivativos (CED), algo ainda hoje impensável nos Estado Unidos e Europa.
Nos Estados Unidos, onde desde a crise a tendência é de forçar a migração de
todos derivativos de balcão para o ambiente de bolsa, o presidente Obama só
conseguiu aprovar a proposta de reforma do sistema financeiro - Dodd-Frank Act
- no último 21 de Julho. O documento preconiza a migração dos derivativos de
balcão para o ambiente de bolsas bem como a separação nos bancos de algumas
atividades relacionadas com derivativos em empresas afiliadas.
Tal regulação deve ser detalhada até julho de 2011, mas antigas questões
permanecem em aberto, tais como que tipo de derivativo pode ser considerado
padronizado e, portanto passível de migrar para ambiente de contraparte
central? Como deverão ser as plataformas de negociação eletrônicas de
derivativos não padronizados? O que caracteriza um swap-dealer e quanto
capital será requerido?, para citar apenas algumas questões que têm tirado o
sono dos legisladores nos últimos dois anos.
Na Europa, por sua vez, um grupo de multinacionais alertou a Comissão Europeia
quanto aos riscos da padronização dos derivativos de balcão e da exigência de
sua negociação via centrais contrapartes. Além da falta de customização
necessária em operações complexas, a gestão de caixa das empresas seria
comprometida pela necessidade dos ajustes e margens diárias inerentes a uma
operação de uma entidade de contraparte central. No extremo, o comprometimento
do capital de giro pode prejudicar a própria capacidade de investimento
produtivo das empresas.
De qualquer forma, enquanto os números voltam a crescer - o valor de
derivativos de balcão no mundo alcançou o patamar pré-crise em julho de 2009,
com US$ 614 trilhões - ficamos cada vez mais distantes de uma regulação
global, capaz de evitar arbitragens regulatórias e aumentar a transparência dos
mercados.
No Brasil, temos que evoluir, principalmente no que diz respeito à capacitação
dos profissionais em empresas não financeiras e aprimoramento dos processos de
governança corporativa, mas não podemos deixar de mencionar o elevado grau de
maturidade dos agentes participantes do mercado financeiro, que em meio a mais
severa crise dos últimos 50 anos, foram capazes de engendrar soluções tão
inovadoras como a Central de Exposição de Derivativos.
Jorge Sant'Anna é "head" de reengenharia do Citi e ex-diretor superintendente
da Cetip.

Mudou o mundo, o Brasil ou o BC?

Mudou o mundo, o Brasil ou o BC?
Gustavo Loyola

As últimas decisões do Comitê de Política Monetária (Copom) parecem indicar que
o Banco Central (BC) teria se tornado mais "dovish" quando comparado a sua
atuação anterior na gestão Henrique Meirelles. A mesma percepção permeia os
documentos escritos da instituição, assim como as manifestações verbais de seus
principais dirigentes ao longo de 2010.
Diante disso, cabe indagar quais as razões teriam levado o BC a alterar suas
ações e seu discurso na execução da política monetária. Teria a economia
brasileira mudado estruturalmente, abrindo espaço para uma taxa de juros
"neutra" mais baixa? Seria a conjuntura internacional, onde sobressaem os
riscos deflacionários, a responsável pela atual postura do BC? Ou seria essa
mudança apenas uma consequência da alteração na composição da diretoria da
autoridade monetária?
Obviamente, não é simples a resposta a essas questões, até porque a execução da
política monetária pode estar sendo influenciada simultaneamente por uma
multiplicidade de fatores. Não obstante, parece ser interessante examinar os
meandros do processo que, aparentemente, tem levado o BC a se mostrar menos
avesso ao risco inflacionário do que no passado recente.
Inicialmente, abordemos a questão da taxa de juros "neutra". Como salientado na
literatura econômica, trata-se de um conceito de difícil mensuração prática. Em
linhas gerais, define-se "taxa de juros real neutra" como sendo o nível da taxa
básica de juros que assegura o crescimento não inflacionário da economia,
presentes certas condições estruturais. Há razoável consenso, e dele fazemos
parte, que nos últimos anos os avanços institucionais, a consolidação do regime
de metas para inflação e da credibilidade do BC, a redução do prêmio de risco
soberano e o desenvolvimento do mercado de crédito, entre outros fatores,
conduziram à queda da mencionada taxa de juros "neutra" no Brasil.
Aumentou a probabilidade de o BC ser surpreendido pela trajetória de inflação
em 2011
Porém, há o problema prático de se conhecer exatamente qual é o nível de taxa
real de juros que estaria adequado com o atual estágio dos fundamentos da
economia brasileira. Num exercício econométrico realizado pela Tendências
Consultoria, encontramos um nível em torno de 7% ao ano que, considerada uma
meta de inflação de 4,5%, significaria uma taxa nominal básica ao redor dos
11,5% ao ano. O próprio BC realizou uma pesquisa entre os agentes de mercado
para coletar suas estimativas da taxa de juros "neutra". Seu resultado não se
desvia muito do número estimado pela Tendências. A média das estimativas do
mercado ficou em 6,55% ao ano, com uma mediana de 6,75% ao ano, apresentando a
distribuição de expectativas duas modas: 6,5% e 7% ao ano.
Ora, a taxa Selic está no momento em 10,75% ao ano, o que subtraída a meta de
inflação de 4,5%, (pressupondo que as expectativas tenham convergido para a
meta) resulta em taxa real de juros de 6,25% ao ano, percentual abaixo da média
da pesquisa do BC. E se considerarmos a expectativa de inflação para os
próximos 12 meses, o número é ainda menor, de 5,6% ao ano. Desse modo, parece
razoável inferir que o BC está apostando que a taxa "neutra" é, de fato, abaixo
do que acredita maioria dos agentes de mercado pesquisados.
Porém, outra explicação possível é considerar que a autoridade monetária
entende que a conjuntura desinflacionária internacional (pelo menos nos países
desenvolvidos), aliada ao movimento de depreciação do dólar americano, estaria
se consubstanciando num cenário inflacionário doméstico mais benigno. Nesse
sentido, aliás, na ata da última reunião do Copom, o BC afirma que "permanece
elevada a probabilidade de que se observe alguma influência desinflacionária do
ambiente externo sobre a inflação doméstica".
O problema com essa assertiva é que, não obstante a anemia econômica dos países
desenvolvidos, não há de fato um ambiente desinflacionário quando se trata dos
preços das "commodities", cuja trajetória é volátil e num sentido inverso ao
comportamento do dólar dos EUA. O próprio BC, na referida ata do Copom,
reconhece tal volatilidade, o que recomendaria, a meu ver, maior cautela na
política monetária. Ademais, no contexto de crescente intervenção no mercado
cambial, inclusive com o uso de medidas heterodoxas, não se pode mais contar
como certa a apreciação do real para amortecer as pressões externas dos preços
das "commodities" sobre a inflação doméstica.
Em vista das questões aqui discutidas, a postura mais "dovish" do BC poderia
ser também consequência da mudança da composição do Copom, cujos integrantes
atuais seriam menos avessos ao risco inflacionário do que seus antecessores e,
por isso, mais dispostos a correrem o risco da manutenção dos juros no limiar
inferior do que poderia ser considerada a taxa "neutra". Não estamos,
obviamente, afirmando que o BC tenha deixado de praticar uma política monetária
responsável, nem que haja riscos de descontrole inflacionário no futuro. Porém,
como refletido nas expectativas inflacionárias coletadas na pesquisa "Focus",
aumentou a probabilidade de o BC ser surpreendido pela trajetória de inflação
em 2011, hipótese que demandaria um ajuste maior da taxa básica de juros.

Gustavo Loyola, doutor em Economia pela EPGE/FGV. Ex-presidente do BC, é
sócio-diretor da Tendências Consultoria Integrada, em São Paulo.

Preços de exportação voltam ao nível pré-crise

Preços de exportação voltam ao nível pré-crise

O preço médio das exportações brasileiras alcançou, em setembro, um nível
semelhante ao praticado antes da crise. O preço médio dos embarques totais
ficou, em setembro, apenas 0,5% abaixo do praticado no mesmo mês de 2008. No
mesmo mês do ano passado, a redução era de 19,1%, na comparação com setembro de
2008. Os básicos puxam a recuperação na cotação em dólar, com alta de 4,4%, na
mesma base de comparação, mas os manufaturados também estão bem próximos do
patamar pré-crise, com preços médios de exportação apenas 2,1% mais baixos. Em
setembro de 2009, o preço médios dos manufaturados embarcados estava 9,8%
abaixo do mesmo mês de 2008.
Os índices de preços de setembro não refletem uma alta isolada, eles são
resultado de um movimento consolidado de alta dos últimos meses nos preços dos
embarques. Os preços médios do total exportado pelo país no terceiro trimestre
deste ano apresentam queda de 3,3% em relação ao mesmo período de 2008. No ano
passado, a queda, no mesmo período, era de 20,7%. Na mesma comparação, o preço
médio dos embarques de básicos estão 2,1% menores e os dos manufaturados, 2,9%.
Em 2009, as reduções foram, respectivamente, de 27,6% e de 8,4%.
O melhor desempenho dos básicos mostra claramente que são as commodities
agrícolas e metálicas que puxam esse movimento, diz José Augusto de Castro,
vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB). "Embora
ainda não tenha voltado ao patamar anterior ao da crise, a soja recuperou-se
bastante em termos de preço", diz Castro. "Há uma explosão de preços em
produtos como algodão, minério de ferro e trigo, por exemplo."
A alta das commodities leva também à recomposição de preços dos manufaturados,
que sempre são vinculados direta ou indiretamente à evolução de preços de
produtos básicos, diz o economista Júlio Callegari, do J.P. Morgan. Isso,
explica, acontece tanto com produtos de menor valor agregado, como suco de
laranja e açúcar refinado, por exemplo, quanto com manufaturados mais
industrializados. Para Castro, além da ligação com os básicos, a reação do
preço dos manufaturados também é resultado da tentativa dos exportadores de
passar para o preço ao menos uma parte da perda com a a valorização do real
frente ao dólar. "É também uma tentativa de compensar volumes menores de vendas
ao exterior."
"As exportações de manufaturados estão relacionadas à lucratividade", concorda
Callegari. Ele lembra que o mercado interno está fortemente aquecido e, com um
câmbio desfavorável, as indústrias tendem a manter somente exportações que
forneçam o mínimo de rentabilidade. O resultado natural disso, explica, é a
redução de volume de exportação e a manutenção de embarques que estejam num
patamar de preços mais elevados.
De julho a setembro deste ano, o volume das exportações totais do Brasil teve
queda de 4,6% na comparação com o terceiro trimestre de 2008. Essa redução foi
influenciada pela queda, no mesmo período, de 17,2% no quantum de manufaturados
embarcados. A exportação dos básicos teve comportamento diverso, com elevação
de 9,9% em termos de volume.
A alta dos preços médios das exportações propiciou uma melhora no índice de
rentabilidade dos embarques. O índice teve queda de 1,4% em setembro na
comparação com o mês anterior, em razão da valorização da taxa de câmbio e do
aumento do índice de custo das exportações. Na comparação com o mês de setembro
do ano passado, porém, há um ganho de 6,9%.
Callegari acredita que um dos efeitos mais importantes da recomposição de
preços nas exportações é a elevação de termos de troca. "Com a recuperação dos
preços das exportações, e uma contenção dos preços de importações, estamos com
termos de troca em nível historicamente alto", diz o economista. "Isso
significa um resultado comercialmente melhor, com mais renda líquida para o
país como um todo."
Welber Barral, secretário de Comércio Exterior, acredita que a maior demanda
por exportados no próximo ano deve ajudar a manter a recuperação nos preços dos
embarques. Para ele, o crescimento médio de 7,5% do Produto Interno Bruto (PIB)
dos países asiáticos deve garantir a demanda por commodities agrícolas e
alimentos processados. Em relação aos manufaturados, diz, a expectativa é que o
Brasil consiga manter as exportações para a América Latina. "Disso depende a
manutenção da competitividade brasileira e a questão do câmbio."
O secretário acredita que as exportações de manufaturados também podem ser
alavancadas pelo crescimento da Europa e dos Estados Unidos. "Mesmo que haja
crescimento de 1,5% ou 2%, são mercados grandes e que fazem diferença para as
exportações brasileiras", observa Barral.
Fábio Silveira, sócio da RC Consultores, acredita que a tendência de alta de
preços nas exportações brasileiras deve ser mantida até o fim de 2010, o que
deve ajudar o Brasil na obtenção de superávit comercial melhor. Para ele,
porém, o mesmo efeito não deverá repetir-se no ano que vem ou em 2012.
"Temos uma valorização de commodities de caráter puramente especulativo e não
sabemos quanto tempo dura essa bolha", diz Silveira. Ele explica que a alta de
preços das commodities acontece em função da grande aposta sobre esses
produtos, como ativos financeiros que poderão ter valorização nos mercados
futuros. "Há uma imensa liquidez no mercado e esses recursos estão sendo
intensamente direcionados para as commodities."
Para Silveira, a alta das commodities tem sustentado a elevação de preços dos
embarques brasileiros, mas em algum momento ela será interrompida. "Não sabemos
nem como e nem quando, mas isso acontecerá e não há como analisar o impacto que
isso poderá ter para o Brasil."

Relegado, agronegócio centra fogo no câmbio

Relegado, agronegócio centra fogo no câmbio

Pouco abordado no período de propaganda eleitoral gratuita e nada discutido nos
debates entre os postulantes à Presidência, o setor de agronegócios confia em
seu peso econômico e no fortalecimento de sua organização política para driblar
o que considerou um descaso e ver suas demandas atendidas durante o governo de
Dilma Rousseff.
"Não vi nenhum programa que falasse de política para a agricultura como posição
estratégica. Não houve nenhuma manifestação clara ou política de longo prazo.
Só se falou de agricultura familiar como solução social", diz o presidente da
Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB), Márcio Lopes de Freitas.
A atual agenda do campo traz poucas mudanças em relação a uma lista permanente
de reivindicações formada por pedidos como ampliação do crédito rural e
abertura de novos mercados para as cadeias exportadoras, além de questões
estruturais como redução da carga tributária e melhorias da infraestrutura.
No capítulo cambial, porém, o volume das críticas aumentou e o início da gestão
Dilma tende a ser bombardeado por estudos com os aspectos que o setor considera
negativos sobre o movimento, num raciocínio que busca anular os benefícios
inflacionários do real forte pelos efeitos negativos em regiões muito
dependentes das cadeias exportadoras. No primeiro e no segundo turno, o fator
câmbio rendeu mais votos a José Serra do que a Dilma em Estados como Paraná e
Mato Grosso, que lideram a produção de grãos no Brasil.
"Dilma terá de ouvir o setor", diz Cesário Ramalho, presidente da Sociedade
Rural Brasileira (SRB). Ele lembra que o agronegócio do país ganhou ainda mais
relevância no exterior nos últimos anos, mas critica o tratamento recebido em
alguns fóruns domésticos de discussão.
"Temos condições de nos posicionar e já encontramos interlocutores para isso",
diz Ramalho, em referência ao ex-ministro Antonio Palocci, com quem se reuniu
pela última vez há dois meses, "com boa aceitação". Já Freitas, da OCB, diz que
tentou aproximações com a coordenação da campanha de Dilma e não obteve
respostas. Segundo ele, as cooperativas apostam no Congresso para reforçar sua
atuação. "Tivemos uma boa eleição, com gente nova, boa. Estamos bem
reforçados", disse, referindo-se à bancada ruralista.
Uma das lideranças dessa bancada, e identificada com a oposição ao governo Lula
e a Dilma, a presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária (CNA),
senadora Kátia Abreu (DEM-TO), limita-se a dizer que haverá uma "relação
institucional" do setor com a presidente. "A CNA está acima de qualquer partido
e nós teríamos relação institucional com qualquer dos eleitos".
Eleitor histórico do Partido dos Trabalhadores, Lawrence Pih, presidente do
Moinho Pacífico, está entre os que consideram o câmbio prioritário, ao lado das
negociações comerciais no Mercosul, já que parte do trigo usado como
matéria-prima em sua empresa vem da Argentina. Mas Pih considera pouco provável
que a presidente adote uma política abertamente favorável à desvalorização do
real. "É um desafio do novo governo: manter um dólar compatível com o custo de
produção".
Arlindo Moura, presidente da SLC, maior empresa agrícola do país, espera que
Dilma Rousseff não desperdice a oportunidade de realizar reformas política e
tributária, mesmo acreditando que ela terá mais dificuldades do que Lula para
tal. "O Lula era maior que o PT, mas perdeu a oportunidade. Tenho a expectativa
de que Dilma toque essas reformas, que estão atrasadas há anos". O executivo
também defende que a presidente ajude a pressionar pela aprovação de reformas
na legislação trabalhista de forma a adaptá-las à realidade do trabalho no
campo.
Como Roberto Rodrigues, ex-presidente da SRB e primeiro ministro da Agricultura
de Lula, Cesário Ramalho defende a integração das políticas para pequenos,
médios e grandes agricultores, pouco observada nos últimos anos. O governo
atual ampliou o crédito para as agriculturas empresarial e familiar, mas forçou
pouco a ampliação do diálogo entre as distintas correntes.
Também há dúvidas no setor quanto às interferências diretas do governo em
questões como a compra de terras por estrangeiros ou o redesenho de segmentos
como fertilizantes e frigoríficos. No primeiro, o governo Lula pressionou a
Vale a assumir a liderança da produção nacional, o que foi feito; no segundo,
grandes grupos como JBS, Marfrig, Sadia e Perdigão foram beneficiados por um
nível de apoio do BNDES não observado para os menores.
Antônio Carlos Camardelli, presidente da Associação Brasileira da Indústria dos
Exportadores de Carnes (Abiec), prega a continuidade de políticas em curso e
acredita que, passada a crise, o BNDES estenderá o suporte a empresas de
pequeno e médio portes em dificuldades. Luciano Vacari, superintendente da
Associação dos Criadores de Mato Grosso (Acrimat), concorda com Camardelli
sobre essa necessidade, mas vai além: "O atual governo avançou bastante em
algumas políticas, mas é preciso de mais. Esperamos que a nova presidente
enxergue Mato Grosso [que reúne o maior rebanho bovino do país] como o grande
produtor de alimentos do Brasil", afirma.