Grão miúdo amplia queda na safra de café
Cooperativas dizem que quebra da safra chega a 35% na região, o que encarece o preço da saca de 60 quilosSituação faz commodity atingir preço recorde neste ano; saca do café foi comercializada ontem a R$ 443,73 A colheita de café arábica está rendendo menos que o esperado em cidades da região de Ribeirão e em lavouras de Minas Gerais e Espírito Santo. O motivo é o tamanho do grão, menor que a média.Segundo as cooperativas de cafeicultores, os produtores estão deixando de lucrar com a commodity, que atingiu neste ano o recorde em sua cotação -R$ 555,19 a saca, no início de maio.A produção "encolheu" porque, com grãos miúdos, é preciso mais café para preencher uma saca de 60 kg. Isso fez com que, na Alta Mogiana, a quebra chegasse a 30%, além da já prevista pela bienalidade da cultura -um ano produz muito e, em outro, pouco. O tipo arábica é o predominante na região.Segundo a Cocapec (Cooperativa de Cafeicultores e Agropecuaristas), que representa produtores de 25 municípios de São Paulo e Minas Gerais, na atual safra, de 20% a 25% dos grãos estão graúdos, enquanto em 2010 a safra colhida na região rendeu até 35% de grãos de melhor qualidade.De acordo com Airton Costa, gestor em comercialização e degustação da Cocapec, faltou chuva no período de enchimento e maturação do grão, que começou em novembro de 2010 e seguiu até março deste ano.O mesmo acontece com os produtores da Cooparaíso, que abrange 37 cidades de Minas Gerais, 14 do Espírito Santo e sete de São Paulo.De acordo com Rogério Araújo, diretor de assistência técnica da cooperativa, a redução nesta safra foi de 35% sobre o esperado para a baixa produção da bienalidade.Segundo ele, hoje são necessários 600 litros do café em coco para fazer uma saca de 60 kg. "No ano passado, esse número era de 480 a 500 litros para o mesmo peso."Embora o recorde de preço tenha sido atingido em maio, ontem a saca chegou a R$ 443,73, ainda acima do preço de um ano atrás (R$ 305,78), segundo o Cepea, da USP.
sexta-feira, 29 de julho de 2011
Plano de emergência dos EUA deve priorizar pagar dívida
Plano de emergência dos EUA deve priorizar pagar dívida
O Tesouro dos EUA vai priorizar o pagamento de juros aos detentores de títulos governamentais no vencimento, caso o Congresso não chegue a acordo para elevar o teto de endividamento do país, segundo uma fonte do governo. A autoridade não quis ser identificada pois ainda não há anúncio oficial.O Tesouro informou que cerca de US$ 90 bilhões em dívidas vencem em 4 de agosto e mais de US$ 30 bilhões em juros vencem em 15 de agosto. No total, mais de US$ 500 bilhões vencem em agosto.Os US$ 90 bilhões em notas do Tesouro de seis meses, com vencimento em 4 de agosto, reduziram as perdas, após os comentários. Autoridades do governo Obama falarão hoje publicamente, apenas depois do fechamento dos mercados, sobre as prioridades para pagar as notas do Tesouro do país, caso o limite de US$ 14,3 trilhões não seja elevado, segundo um representante do Partido Democrata havia dito anteriormente."O anúncio é reconfortante, mas não há realmente alternativa a [não ser] privilegiar os detentores de bônus", disse Christian Cooper, chefe de negociação de derivativos em dólar do Jefferies Group, em Nova York, que como um dos 20 "dealers" primários é obrigado a apresentar ofertas nos lançamentos do Tesouro. "A alternativa indicaria uma inadimplência."O secretário do Tesouro, Timothy Geithner, disse reiteradamente que a autoridade do governo para captar acabará em 2 de agosto, a menos que o Congresso eleve o teto de endividamento. Republicanos e democratas não conseguem chegar a acordo sobre a elevação do teto ou cortes no orçamento, o que traz receios de que os EUA percam sua nota de crédito AAA.O Tesouro havia anunciado anteriormente que não pode ficar selecionando que notas pagar ou não, caso não possa captar o suficiente para cobrir suas obrigações, processo que os congressistas chamaram de "priorização"."Essa proposta de 'priorização' propõe um afastamento radical e profundamente irresponsável do compromisso de presidentes, dos dois partidos, ao longo da história americana, de honrar todos os compromissos feitos por nossa nação", afirmou Geithner em carta ao Congresso, em junho.Decidir que obrigações pagar primeiro traz desafios práticos e jurídicos, forçando o governo a escolher, por exemplo, entre os beneficiários da Previdência Social, detentores de títulos e militares."Você seleciona ganhadores e perdedores", disse Stephen Myrow, diretor-gerente e diretor de operações da ACG Analytics, em Washington, que foi chefe de gabinete do vice-secretário do Tesouro Robert M. Kimmitt, no governo de George W. Bush. "É uma proposta em que todos saem perdendo."Em agosto, o Tesouro tem de pagar US$ 49,2 bilhões em benefícios da Previdência Social, incluindo US$ 23 bilhões em 3 de agosto, segundo o Bipartisan Policy Center, grupo que reúne ex-autoridades orçamentárias. Também vencem US$ 50 bilhões em pagamentos aos programas de assistência médica Medicare e Medicaid, US$ 12,8 bilhões em seguro-desemprego, US$ 2,9 bilhões em salários de militares na ativa e US$ 14,2 bilhões em salários e benefícios federais."O tamanho e a complexidade do governo federal para priorizar pagamentos, especialmente, em um período de tempo pequeno e sob pressão, é difícil sem dúvida", afirmou Brian Gardner, vice-presidente sênior encarregado de análises sobre Washington na Keefe, Bruyette & Woods, de Nova York.O governo também vem se mostrando relutante em discutir a priorização porque quer manter a pressão sobre o Congresso para que seja elevado o teto da dívida antes do prazo de 2 de agosto, afirmou J. D. Foster, membro sênior da The Heritage Foundation, em Washington."A priorização se trata de como continuar funcionando se o teto não aumentar, e governo é inflexível em dizer que isso não pode acontecer", disse Foster.A autoridade legal do governo para pagar algumas dívidas e não outras é incerta, disse Jay Powell, professor visitante do Bipartisan Policy Center e subsecretário de finanças do Tesouro no governo do presidente George H. W. Bush.
O Tesouro dos EUA vai priorizar o pagamento de juros aos detentores de títulos governamentais no vencimento, caso o Congresso não chegue a acordo para elevar o teto de endividamento do país, segundo uma fonte do governo. A autoridade não quis ser identificada pois ainda não há anúncio oficial.O Tesouro informou que cerca de US$ 90 bilhões em dívidas vencem em 4 de agosto e mais de US$ 30 bilhões em juros vencem em 15 de agosto. No total, mais de US$ 500 bilhões vencem em agosto.Os US$ 90 bilhões em notas do Tesouro de seis meses, com vencimento em 4 de agosto, reduziram as perdas, após os comentários. Autoridades do governo Obama falarão hoje publicamente, apenas depois do fechamento dos mercados, sobre as prioridades para pagar as notas do Tesouro do país, caso o limite de US$ 14,3 trilhões não seja elevado, segundo um representante do Partido Democrata havia dito anteriormente."O anúncio é reconfortante, mas não há realmente alternativa a [não ser] privilegiar os detentores de bônus", disse Christian Cooper, chefe de negociação de derivativos em dólar do Jefferies Group, em Nova York, que como um dos 20 "dealers" primários é obrigado a apresentar ofertas nos lançamentos do Tesouro. "A alternativa indicaria uma inadimplência."O secretário do Tesouro, Timothy Geithner, disse reiteradamente que a autoridade do governo para captar acabará em 2 de agosto, a menos que o Congresso eleve o teto de endividamento. Republicanos e democratas não conseguem chegar a acordo sobre a elevação do teto ou cortes no orçamento, o que traz receios de que os EUA percam sua nota de crédito AAA.O Tesouro havia anunciado anteriormente que não pode ficar selecionando que notas pagar ou não, caso não possa captar o suficiente para cobrir suas obrigações, processo que os congressistas chamaram de "priorização"."Essa proposta de 'priorização' propõe um afastamento radical e profundamente irresponsável do compromisso de presidentes, dos dois partidos, ao longo da história americana, de honrar todos os compromissos feitos por nossa nação", afirmou Geithner em carta ao Congresso, em junho.Decidir que obrigações pagar primeiro traz desafios práticos e jurídicos, forçando o governo a escolher, por exemplo, entre os beneficiários da Previdência Social, detentores de títulos e militares."Você seleciona ganhadores e perdedores", disse Stephen Myrow, diretor-gerente e diretor de operações da ACG Analytics, em Washington, que foi chefe de gabinete do vice-secretário do Tesouro Robert M. Kimmitt, no governo de George W. Bush. "É uma proposta em que todos saem perdendo."Em agosto, o Tesouro tem de pagar US$ 49,2 bilhões em benefícios da Previdência Social, incluindo US$ 23 bilhões em 3 de agosto, segundo o Bipartisan Policy Center, grupo que reúne ex-autoridades orçamentárias. Também vencem US$ 50 bilhões em pagamentos aos programas de assistência médica Medicare e Medicaid, US$ 12,8 bilhões em seguro-desemprego, US$ 2,9 bilhões em salários de militares na ativa e US$ 14,2 bilhões em salários e benefícios federais."O tamanho e a complexidade do governo federal para priorizar pagamentos, especialmente, em um período de tempo pequeno e sob pressão, é difícil sem dúvida", afirmou Brian Gardner, vice-presidente sênior encarregado de análises sobre Washington na Keefe, Bruyette & Woods, de Nova York.O governo também vem se mostrando relutante em discutir a priorização porque quer manter a pressão sobre o Congresso para que seja elevado o teto da dívida antes do prazo de 2 de agosto, afirmou J. D. Foster, membro sênior da The Heritage Foundation, em Washington."A priorização se trata de como continuar funcionando se o teto não aumentar, e governo é inflexível em dizer que isso não pode acontecer", disse Foster.A autoridade legal do governo para pagar algumas dívidas e não outras é incerta, disse Jay Powell, professor visitante do Bipartisan Policy Center e subsecretário de finanças do Tesouro no governo do presidente George H. W. Bush.
Ninguém sabe nada - Cenário é de dúvida, incerteza e volatilidade
Ninguém sabe nada - Cenário é de dúvida, incerteza e volatilidade Ninguém sabe nada. Essa é a melhor definição tanto para os acontecimentos do mercado local, quanto para os eventos no campo externo. Daí a montanha russa no preço dos ativos.Começando pelo quadro externo, a briga política segue nos Estados Unidos e nada de um acordo sobre a elevação do teto do endividamento federal. Para piorar a situação, as agências de rating apontam que mesmo que o teto seja elevado, a nota americana segue sob risco de rebaixamento, pois o que elas querem ver é algum plano de redução de gastos de longo prazo.Dólar sobe pelo segundo dia e vale R$ 1,566 na vendaAo mesmo tempo surgem fontes da administração americana tentando "acalmar" os ânimos dizendo que um plano de contingência já está em elaboração e que a prioridade é fazer os pagamentos aos credores de papéis americanos se um acordo não for fechado até dia 2 de agosto, prazo fatal para se tratar do tema.Como bem notou o sócio da Global Financial Advisor, Miguel Daoud, o Congresso americano não mostra o mínimo de responsabilidade. Suas brigas políticas podem ter toda a legitimidade para a plateia local, mas eles parecem se esquecer de que o que está em jogo é a economia global e, principalmente, a credibilidade da moeda que serve de lastro para o restante do mundo.A reação nos mercados a esse impasse é qualquer coisa, menos racional. A semana começou com dólar caindo, bolsas americanas afundando e aumento no custo de se fazer um seguro contra o calote nos EUA. Agora, o dólar completou dois dias de alta e os CDS (Credit Default Swaps) rondam a estabilidade. Alguma coerência na bolsa, já que o Dow Jones bem que tentou, mas não conseguir fechar em alta.Na zona do euro, mal faz uma semana que a Grécia foi resgatada em um tipo de "default ordenado" e já temos analistas voltando a falar em contágio da crise da dívida soberana na região. Nessa bagunça toda temos o euro, que saiu de US$ 1,39 para US$ 1,45 dois dias atrás. Já ontem a moeda voltou a ser alvo de venda, retornando à linha de US$ 1,43. Por aqui, o dólar completou o segundo dia seguido de alta. Ontem, a moeda ganhou 0,57%, para R$ 1,566 na venda. Por ora, o efeito mais evidente das recentes canetadas do governo são dúvidas e mais dúvidas sobre como entregar o que está sendo pedido. Outro efeito inegável é o aumento de custos para quem precisa fazer operações seja de compra seja de venda de moeda.Dúvidas também no mercado de juros futuros. A esperada ata do Comitê de Política Monetária (Copom) mostra um colegiado em cima do muro. Não afirma que as cinco altas de juros foram suficientes, nem se compromete em apertar mais.Como em julho do ano passado, o Copom ampliou o horizonte de referência. Agora é no primeiro semestre de 2013 que temos IPCA ao redor do centro da meta de 4,5%. Os prognósticos tanto de 2011 quanto de 2012 mostram inflação acima do valor central da meta.Na visão do diretor de pesquisas de mercados emergentes do Goldman Sachs, Paulo Leme, a ata sinaliza que o Copom gostaria de encerrar o ciclo de alta de juros. Por isso mesmo, o banco está mudando sua perspectiva quanto ao rumo da Selic. A previsão de três novas altas foi reduzida para apenas mais uma em agosto, com taxa indo a 12,75%, e uma probabilidade de cerca de 30% de um aperto também em outubro.Em relatório, Leme aponta que, como o ajuste será menor do que o considerado necessário, sua expectativa é que a inflação não vá convergir para a meta nem em 2012. Por isso mesmo, a Selic não deve cair tão cedo. Os 12,75% previstos devem continuar valendo até o fim do próximo ano.Eduardo Campos
Mercado de câmbio "trava" e pesa no bolso do exportador
Mercado de câmbio "trava" e pesa no bolso do exportador
As dúvidas sobre como o pacote cambial será implementado continuam pesando sobre o mercado, travando os negócios e deixando as operações mais caras. Enquanto não fica claro como será feita a contabilização da exposição cambial a ser tributada, o mercado prefere não operar. E, quem não pode deixar de fechar um contrato, paga mais caro.Sobre a cotação, entretanto, o impacto do novo arsenal adotado pelo governo foi considerado ainda modesto. O dólar comercial subiu 0,57% para R$ 1,566, em um dia em que o dólar subiu frente a outras moedas globais por causa do impasse em torno da dívida americana.Segundo relatos de profissionais nas mesas de câmbio, os bancos já estão repassando para seus clientes o custo que terão com a incidência de 1% de IOF sobre posições vendidas assumidas por meio de contratos de derivativos. Esse repasse acaba afetando todo tipo de operação, inclusive os contratos à vista e de ACC (Antecipação de Contrato de Câmbio), instrumentos utilizados pelos exportadores. Para zerar uma compra de dólares de um exportador, o banco, em geral, tem de recorrer ao mercado futuro. E aí ele pagará o IOF. "A reação natural, portanto, é embutir o custo maior em todo tipo de contrato cambial", explica um operador de um grande banco de varejo.Essa estratégia foi sentida no bolso de uma comercializadora ligada ao setor de agronegócio. As cotações para a venda da moeda americana oferecidas pelos bancos nos últimos dois dias têm ficado muito abaixo das praticadas pelo mercado, segundo um operador dessa empresa. "Antes das medidas, era possível conseguir taxas até superiores", compara.Quando o assunto é derivativos, a paradeira é ainda mais evidente. Além do custo mais alto, a dúvida sobre qual será o padrão a ser adotado para a definição de preços de opções de câmbio deixa o investidor retraído. Atualmente, cada instituição adota um modelo diferente para determinar o preço antes do vencimento do contrato e, com a medida, será preciso padronizar esse processo.Segundo um banco estrangeiro, o volume de transações com derivativos da instituição no Brasil no pregão de ontem foi próximo ao realizado no Chile ou na Colômbia - mercados que movimentam, normalmente, um décimo do volume de negócios aqui.Outro termômetro da distorção é o grande aumento da diferença de preço entre cotações à vista e futuro.Outro mercado afetado é o "casado", que é o dólar pronto contra o futuro. Só há liquidez em uma das pontas, a de venda de dólar à vista e compra de futuro. A ponta inversa (compra dólar à vista e venda de dólar futuro) está praticamente parada, pois ninguém quer se arriscar na venda de moeda futura em função do IOF que passou a ser cobrado.Esses custos e a falta de liquidez em algumas modalidades cambiais já levam o mercado a um tipo de retrocesso. Os agentes voltaram a casar entradas e remessas em vez de cotar as operações no mercado.Um exemplo prático é que, no caso de uma exportação no valor de US$ 100 milhões, antes o banco dava um preço cotado no mercado e fechava a operação. Agora, vai em busca de um parte que esteja precisando de US$ 100 milhões para fechar a operação. Dessa forma, as duas operações transitam apenas no câmbio à vista e ninguém se expõem à nova regulação que ainda precisa ser detalhada.Diante desse ambiente de apreensão, o Goldman Sachs reduziu a recomendação para as ações da BM&FBovespa de "compra" para "neutro". Para o banco, a taxação sobre os derivativos cambiais deve ter um efeito negativo imediato nas negociações, que nos cálculos do banco representam 14% da receita bruta da bolsa.Os analistas do Goldman acreditam que o potencial para novas intervenções após a edição da Medida Provisória que amplia os poderes do Conselho Monetário Nacional (CMN) sobre o mercado de derivativos é uma ameaça significativa para as operações da BM&FBovespa.
As dúvidas sobre como o pacote cambial será implementado continuam pesando sobre o mercado, travando os negócios e deixando as operações mais caras. Enquanto não fica claro como será feita a contabilização da exposição cambial a ser tributada, o mercado prefere não operar. E, quem não pode deixar de fechar um contrato, paga mais caro.Sobre a cotação, entretanto, o impacto do novo arsenal adotado pelo governo foi considerado ainda modesto. O dólar comercial subiu 0,57% para R$ 1,566, em um dia em que o dólar subiu frente a outras moedas globais por causa do impasse em torno da dívida americana.Segundo relatos de profissionais nas mesas de câmbio, os bancos já estão repassando para seus clientes o custo que terão com a incidência de 1% de IOF sobre posições vendidas assumidas por meio de contratos de derivativos. Esse repasse acaba afetando todo tipo de operação, inclusive os contratos à vista e de ACC (Antecipação de Contrato de Câmbio), instrumentos utilizados pelos exportadores. Para zerar uma compra de dólares de um exportador, o banco, em geral, tem de recorrer ao mercado futuro. E aí ele pagará o IOF. "A reação natural, portanto, é embutir o custo maior em todo tipo de contrato cambial", explica um operador de um grande banco de varejo.Essa estratégia foi sentida no bolso de uma comercializadora ligada ao setor de agronegócio. As cotações para a venda da moeda americana oferecidas pelos bancos nos últimos dois dias têm ficado muito abaixo das praticadas pelo mercado, segundo um operador dessa empresa. "Antes das medidas, era possível conseguir taxas até superiores", compara.Quando o assunto é derivativos, a paradeira é ainda mais evidente. Além do custo mais alto, a dúvida sobre qual será o padrão a ser adotado para a definição de preços de opções de câmbio deixa o investidor retraído. Atualmente, cada instituição adota um modelo diferente para determinar o preço antes do vencimento do contrato e, com a medida, será preciso padronizar esse processo.Segundo um banco estrangeiro, o volume de transações com derivativos da instituição no Brasil no pregão de ontem foi próximo ao realizado no Chile ou na Colômbia - mercados que movimentam, normalmente, um décimo do volume de negócios aqui.Outro termômetro da distorção é o grande aumento da diferença de preço entre cotações à vista e futuro.Outro mercado afetado é o "casado", que é o dólar pronto contra o futuro. Só há liquidez em uma das pontas, a de venda de dólar à vista e compra de futuro. A ponta inversa (compra dólar à vista e venda de dólar futuro) está praticamente parada, pois ninguém quer se arriscar na venda de moeda futura em função do IOF que passou a ser cobrado.Esses custos e a falta de liquidez em algumas modalidades cambiais já levam o mercado a um tipo de retrocesso. Os agentes voltaram a casar entradas e remessas em vez de cotar as operações no mercado.Um exemplo prático é que, no caso de uma exportação no valor de US$ 100 milhões, antes o banco dava um preço cotado no mercado e fechava a operação. Agora, vai em busca de um parte que esteja precisando de US$ 100 milhões para fechar a operação. Dessa forma, as duas operações transitam apenas no câmbio à vista e ninguém se expõem à nova regulação que ainda precisa ser detalhada.Diante desse ambiente de apreensão, o Goldman Sachs reduziu a recomendação para as ações da BM&FBovespa de "compra" para "neutro". Para o banco, a taxação sobre os derivativos cambiais deve ter um efeito negativo imediato nas negociações, que nos cálculos do banco representam 14% da receita bruta da bolsa.Os analistas do Goldman acreditam que o potencial para novas intervenções após a edição da Medida Provisória que amplia os poderes do Conselho Monetário Nacional (CMN) sobre o mercado de derivativos é uma ameaça significativa para as operações da BM&FBovespa.
Governo faz nova tentativa de conter a alta do real
Governo faz nova tentativa de conter a alta do real
O governo voltou suas baterias para o mercado de câmbio com o objetivo de esfriar as cotações do real, que chegou ao patamar mais elevado em 12 anos nesta semana. O mercado de câmbio reagiu imediatamente e o dólar subiu. Mas ainda é cedo para saber se as medidas serão efetivas ou terão impacto apenas temporário e, principalmente, para dimensionar seus efeitos colaterais. Alguns tiros foram logo disparados, mas provavelmente o principal ponto do pacote foi o governo revelar que está armado para muito mais. Como disse o ministro da Fazenda, Guido Mantega: "Fizemos uma coisa mais completa, temos agora um arsenal maior". Para montar o pacote foram necessários uma medida provisória (539) e um decreto (7.536).Desde o fim do ano passado, o governo vem tomando medidas para conter a apreciação cambial, que afeta a competitividade das exportações de vários setores. Além de estar atuando ativamente na compra de dólar nos mercados à vista, a termo e na venda de swaps reversos, criou um compulsório pesado (60%) sobre as operações vendidas no mercado à vista de câmbio que excedessem certos parâmetros. A postura mais acomodatícia do governo em relação à inflação, evidenciada na posição da presidente Dilma e na ata do Comitê de Política Monetária (Copom), ontem divulgada, abriu espaço para medidas que vão elevar o real. O alvo das novas medidas foi o mercado futuro de câmbio, que movimenta US$ 15 bilhões diariamente e pode determinar as cotações das moedas nas operações à vista, que giram apenas US$ 2 bilhões. Nos últimos dias, as apostas na valorização do real chegaram a US$ 23 bilhões, sendo US$ 18,7 bilhões no mercado futuro. O governo acredita que as apostas sejam, em boa parte, especulação de investidores estrangeiros. "Vamos retirar parte da rentabilidade da especulação", disse Mantega, que assim dá razão às suspeitas levantadas até pelo economista-chefe do Fundo Monetário Internacional (FMI), Olivier Blanchard, de que parte do dinheiro que entra no Brasil é especulativo. Foi então para inibir esses negócios que o governo instituiu o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) de 1% sobre a variação das posições vendidas a descoberto. A taxação, que pode chegar a 25%, anunciada com grande pompa para começar ontem mesmo, esbarrou em dificuldades operacionais para apuração e cobrança do tributo. Não restou outra saída para a Fazenda senão adiar para 5 de outubro o recolhimento do IOF, embora a aplicação da alíquota já esteja em vigor. Além disso, o governo deu ao Conselho Monetário Nacional (CMN) amplos poderes de regular os derivativos, que, surpreendentemente, nem o Banco Central (BC) nem a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) possuíam. Em outra medida, o governo fechou uma brecha que havia para a especulação com empréstimos em moeda estrangeira. Em março deste ano foi instituído o IOF de 6% sobre os empréstimos em moeda estrangeira e emissão de títulos no exterior com prazo até 360 dias; em abril, a medida foi estendida às operações com até 720 dias de prazo. Mas o mercado financeiro encontrou uma brecha ao fazer a captação ou o empréstimo no prazo mínimo para evitar o imposto e, depois, liquidar antecipadamente a operação. Agora, operações liquidadas antes do prazo de 720 dias também pagarão o IOF.Nada surpreendentes foram as críticas ao pacote por parte do setor financeiro, que teme o esvaziamento do mercado local de hedge e a provável transferência dos negócios para o exterior. Realmente, um dos efeitos colaterais das novas medidas é a elevação do custo do hedge, o que vai afetar exportadores, importadores, empresas que captam recursos externos e multinacionais que precisam proteger o capital.Há ainda quem lembre acertadamente que a tendência de queda do dólar é generalizada e reflexo do desempenho econômico ruim dos Estados Unidos. Mas o mercado brasileiro não podia ficar à mercê dessa situação, que pode piorar mais caso o governo americano não consiga elevar o teto do endividamento - hipótese remota, mas não totalmente descartável. O outro lado desse espelho é o sucesso do Brasil - e de outros emergentes - em sair rápido da crise internacional, o que explica a atração de US$ 68,8 bilhões em investimentos estrangeiros diretos nos últimos 12 meses. Mas o Brasil têm o direito de em momentos delicados coibir ainda mais os especuladores. Um sinal de que podem ter realmente sentido o golpe e começado a buscar outros mercados é a alta do dólar australiano e da lira turca depois do pacote brasileiro.
O governo voltou suas baterias para o mercado de câmbio com o objetivo de esfriar as cotações do real, que chegou ao patamar mais elevado em 12 anos nesta semana. O mercado de câmbio reagiu imediatamente e o dólar subiu. Mas ainda é cedo para saber se as medidas serão efetivas ou terão impacto apenas temporário e, principalmente, para dimensionar seus efeitos colaterais. Alguns tiros foram logo disparados, mas provavelmente o principal ponto do pacote foi o governo revelar que está armado para muito mais. Como disse o ministro da Fazenda, Guido Mantega: "Fizemos uma coisa mais completa, temos agora um arsenal maior". Para montar o pacote foram necessários uma medida provisória (539) e um decreto (7.536).Desde o fim do ano passado, o governo vem tomando medidas para conter a apreciação cambial, que afeta a competitividade das exportações de vários setores. Além de estar atuando ativamente na compra de dólar nos mercados à vista, a termo e na venda de swaps reversos, criou um compulsório pesado (60%) sobre as operações vendidas no mercado à vista de câmbio que excedessem certos parâmetros. A postura mais acomodatícia do governo em relação à inflação, evidenciada na posição da presidente Dilma e na ata do Comitê de Política Monetária (Copom), ontem divulgada, abriu espaço para medidas que vão elevar o real. O alvo das novas medidas foi o mercado futuro de câmbio, que movimenta US$ 15 bilhões diariamente e pode determinar as cotações das moedas nas operações à vista, que giram apenas US$ 2 bilhões. Nos últimos dias, as apostas na valorização do real chegaram a US$ 23 bilhões, sendo US$ 18,7 bilhões no mercado futuro. O governo acredita que as apostas sejam, em boa parte, especulação de investidores estrangeiros. "Vamos retirar parte da rentabilidade da especulação", disse Mantega, que assim dá razão às suspeitas levantadas até pelo economista-chefe do Fundo Monetário Internacional (FMI), Olivier Blanchard, de que parte do dinheiro que entra no Brasil é especulativo. Foi então para inibir esses negócios que o governo instituiu o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) de 1% sobre a variação das posições vendidas a descoberto. A taxação, que pode chegar a 25%, anunciada com grande pompa para começar ontem mesmo, esbarrou em dificuldades operacionais para apuração e cobrança do tributo. Não restou outra saída para a Fazenda senão adiar para 5 de outubro o recolhimento do IOF, embora a aplicação da alíquota já esteja em vigor. Além disso, o governo deu ao Conselho Monetário Nacional (CMN) amplos poderes de regular os derivativos, que, surpreendentemente, nem o Banco Central (BC) nem a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) possuíam. Em outra medida, o governo fechou uma brecha que havia para a especulação com empréstimos em moeda estrangeira. Em março deste ano foi instituído o IOF de 6% sobre os empréstimos em moeda estrangeira e emissão de títulos no exterior com prazo até 360 dias; em abril, a medida foi estendida às operações com até 720 dias de prazo. Mas o mercado financeiro encontrou uma brecha ao fazer a captação ou o empréstimo no prazo mínimo para evitar o imposto e, depois, liquidar antecipadamente a operação. Agora, operações liquidadas antes do prazo de 720 dias também pagarão o IOF.Nada surpreendentes foram as críticas ao pacote por parte do setor financeiro, que teme o esvaziamento do mercado local de hedge e a provável transferência dos negócios para o exterior. Realmente, um dos efeitos colaterais das novas medidas é a elevação do custo do hedge, o que vai afetar exportadores, importadores, empresas que captam recursos externos e multinacionais que precisam proteger o capital.Há ainda quem lembre acertadamente que a tendência de queda do dólar é generalizada e reflexo do desempenho econômico ruim dos Estados Unidos. Mas o mercado brasileiro não podia ficar à mercê dessa situação, que pode piorar mais caso o governo americano não consiga elevar o teto do endividamento - hipótese remota, mas não totalmente descartável. O outro lado desse espelho é o sucesso do Brasil - e de outros emergentes - em sair rápido da crise internacional, o que explica a atração de US$ 68,8 bilhões em investimentos estrangeiros diretos nos últimos 12 meses. Mas o Brasil têm o direito de em momentos delicados coibir ainda mais os especuladores. Um sinal de que podem ter realmente sentido o golpe e começado a buscar outros mercados é a alta do dólar australiano e da lira turca depois do pacote brasileiro.
A crescente inflação chinesa
A crescente inflação chinesa
Ao mesmo tempo em que pairam, ameaçadoras, crises de endividamento na Europa e nos EUA e perde fôlego a recuperação da economia mundial, a inflação está voltando a se fazer sentir em todo o mundo. Com efeito, as economias de mercado emergentes estão se preparando para um grave surto inflacionário - juntamente com as sombrias consequências políticas que isso produzirá.O índice pleno de preços ao consumidor (IPC) na China subiu 6,4% em junho, atingindo seu nível mais alto desde julho de 2008. No contexto de uma recuperação mundial instável, têm crescido consideravelmente as preocupações em relação a uma possível aterrissagem brusca da economia chinesa, causada pelo aperto monetário que busca controlar a inflação.Na China, os preços dos alimentos representam cerca de um terço da cesta do IPC, e o preço da carne de porco revela um peso substancial. Por isso, o IPC está sendo comicamente denominado "índice de preços da carne de porco". Em junho, o preço da carne de porco subiu 57%, contribuindo com quase dois pontos percentuais para a taxa de inflação geral. Infelizmente, a política macroeconômica pouco pode fazer a respeito do "ciclo do porco" e, normalmente, não deveria reagir a ele.Embora o problema inflacionário chinês não deva ser exagerado, uma complacência seria perigosa. A inflação corrente tem uma base mais ampla do que parece, independentemente da controvérsia em torno da adequação dos componentes na cesta do IPC chinês para refletir a realidade dos movimentos de preços subjacentes. Com efeito, os aumentos anuais nos preços, não incluídos os alimentos, aceleraram para 3% em junho, contra 2,9% em maio. De acordo com o Birô Estatístico Nacional Chinês (BENC), o custo de vida aumentou 6,1% em maio. Muitos preocupam-se com a possibilidade de os preços dos itens não alimentícios subirem ainda mais.Salvo choques inesperados, acredito que a inflação na China pode em breve começar a cair. De uma perspectiva macroeconômica, a inflação corrente na China é atribuível tanto à fatores relacionados, a um só tempo, com demanda e custos.Os problemas de Pequim são mais estruturais do que cíclicos. Sem progressos nítidos na reestruturação e reequilíbrio da economia doméstica, os próximos cinco anos serão difíceis e a janela de oportunidade para o ajuste será fechada rapidamente. Historicamente, a inflação na China tem acompanhado o crescimento do PIB com certa defasagem. As pressões inflacionárias atuais são, em parte, resultado do impacto desfasado do pacote de estímulo que a China adotou em 2009 para combater os efeitos da crise financeira mundial. Mas o crescimento do PIB chinês já começou a cair para seu nível potencial, que, de acordo com a visão consensual, é de aproximadamente 9%. Na verdade, a maioria dos economistas chineses previu, no ano passado, que a inflação atingiria um pico no início de 2011.Mudanças nas condições financeiras na China reforçam essa visão. Historicamente, há uma defasagem de 8 a 12 meses entre crescimento monetário (M1) e inflação. A taxa de crescimento do M1 começou a cair no fim de 2009. Se a experiência passada é um guia confiável, um declínio da inflação já devia ter se manifestado.A interferência de fatores do lado dos custos contribuíram para a persistência inesperada da inflação. O aumento nos preços das commodities desde meados de 2010 - o índice de preços de commodities na China cresceu mais de 100% desde seu mínimo em 2009 - teve um impacto importante. Além disso, os salários chineses estão aumentando rapidamente.A atual situação macroeconômica da China compartilha muitas semelhanças com a situação que enfrentou em 2007 e a maior parte de 2008, quando, devido aos fortes investimentos e à demanda de exportações, o PIB cresceu significativamente além de seu potencial. Preocupado com um agravamento da inflação e uma incipiente bolha imobiliária, o Banco Popular da China (BPC, o banco central do país) gradualmente apertou sua política monetária.No entanto, a inflação continuou a agravar-se, atingindo um máximo de 8,7% em fevereiro de 2008. O período mais difícil para as autoridades governamentais chinesas foi entre fevereiro e setembro de 2008, quando, apesar dos sinais abundantes de um abrandamento da demanda interna, a demanda mundial manteve-se forte, assim como a inflação.Apertar ou não apertar: essa era a questão. O banco central manteve o aperto. Mas o colapso do Lehman Brothers em setembro de 2008 e toda a crise americana frearam bruscamente o crescimento econômico mundial. Foi assim que o crescimento do PIB chinês caiu drasticamente devido ao súbito colapso da demanda externa. Para compensar o choque negativo, o governo chinês promulgou um pacote de estímulo de quatro trilhões de yuans e o banco central mudou abruptamente sua política. Não há dúvida sobre a necessidade da reversão. No entanto, retrospectivamente, pode-se perguntar se um afrouxamento anterior pelo banco central teria sido mais sábio.Tendo o controle da inflação como sua principal prioridade, o banco central elevou por seis vezes a proporção de reserva obrigatória de capital dos bancos, neste ano. Os bancos comerciais devem depositar, na forma de reservas no banco central, 21,5% de seus depósitos. Recentemente, o BC elevou a taxa de empréstimos por um ano e o depósito durante um ano para, respectivamente, 6,56% e 3,5%.Atualmente, a inflação na China não é tão grave quanto a de 2007-2008. A alta nos preços dos imóveis está se estabilizando e o impacto do aumento das commodities está diminuindo.É improvável que a demanda externa neste segundo semestre de 2011 seja forte, devido à instável recuperação mundial. O aumento constante dos custos de produção, em parte atribuível aos elevados custos dos empréstimos deverá estreitar as margens de lucro das empresas, em especial das pequenas e médias. Quedas nos lucros e crescentes falências de empresas são um problema para a autoridade monetária chinesa.Tendo em vista a necessidade de ajuste estrutural, o banco central deverá manter uma postura monetária apertada. Mas, diante das perspectivas de queda na inflação plena decorrente de turbulência econômica mundial e das crescentes preocupações com o crescimento, é provável que o banco central revele-se um pouco mais flexível no segundo semestre.Em suma, embora a China não vá conseguir cumprir sua meta de inflação de 4% para este ano, o crescimento dos preços continuará sob controle. No segundo semestre de 2011, a taxa de crescimento chinesa pode cair mais, mas não haverá pouso forçado.Os problemas econômicos da China são mais estruturais do que cíclicos. Devido à inexistência de progressos nítidos na reestruturação e reequilíbrio da economia doméstica, os próximos cinco anos serão difíceis e a janela de oportunidade para o ajuste será fechada rapidamente. Mas, observando o desempenho da China no contexto dos últimos 30 anos, não há razões para acreditar que o país não possa se safar, ainda que improvisadamente, mais uma vez. Yu Yongding atual presidente da Sociedade Chinesa de Economia Mundial, foi membro do comitê de política monetária do Banco Popular da China e ex-diretor do Instituto de Economia e Política Mundiais da Academia Chinesa de Ciências.
Ao mesmo tempo em que pairam, ameaçadoras, crises de endividamento na Europa e nos EUA e perde fôlego a recuperação da economia mundial, a inflação está voltando a se fazer sentir em todo o mundo. Com efeito, as economias de mercado emergentes estão se preparando para um grave surto inflacionário - juntamente com as sombrias consequências políticas que isso produzirá.O índice pleno de preços ao consumidor (IPC) na China subiu 6,4% em junho, atingindo seu nível mais alto desde julho de 2008. No contexto de uma recuperação mundial instável, têm crescido consideravelmente as preocupações em relação a uma possível aterrissagem brusca da economia chinesa, causada pelo aperto monetário que busca controlar a inflação.Na China, os preços dos alimentos representam cerca de um terço da cesta do IPC, e o preço da carne de porco revela um peso substancial. Por isso, o IPC está sendo comicamente denominado "índice de preços da carne de porco". Em junho, o preço da carne de porco subiu 57%, contribuindo com quase dois pontos percentuais para a taxa de inflação geral. Infelizmente, a política macroeconômica pouco pode fazer a respeito do "ciclo do porco" e, normalmente, não deveria reagir a ele.Embora o problema inflacionário chinês não deva ser exagerado, uma complacência seria perigosa. A inflação corrente tem uma base mais ampla do que parece, independentemente da controvérsia em torno da adequação dos componentes na cesta do IPC chinês para refletir a realidade dos movimentos de preços subjacentes. Com efeito, os aumentos anuais nos preços, não incluídos os alimentos, aceleraram para 3% em junho, contra 2,9% em maio. De acordo com o Birô Estatístico Nacional Chinês (BENC), o custo de vida aumentou 6,1% em maio. Muitos preocupam-se com a possibilidade de os preços dos itens não alimentícios subirem ainda mais.Salvo choques inesperados, acredito que a inflação na China pode em breve começar a cair. De uma perspectiva macroeconômica, a inflação corrente na China é atribuível tanto à fatores relacionados, a um só tempo, com demanda e custos.Os problemas de Pequim são mais estruturais do que cíclicos. Sem progressos nítidos na reestruturação e reequilíbrio da economia doméstica, os próximos cinco anos serão difíceis e a janela de oportunidade para o ajuste será fechada rapidamente. Historicamente, a inflação na China tem acompanhado o crescimento do PIB com certa defasagem. As pressões inflacionárias atuais são, em parte, resultado do impacto desfasado do pacote de estímulo que a China adotou em 2009 para combater os efeitos da crise financeira mundial. Mas o crescimento do PIB chinês já começou a cair para seu nível potencial, que, de acordo com a visão consensual, é de aproximadamente 9%. Na verdade, a maioria dos economistas chineses previu, no ano passado, que a inflação atingiria um pico no início de 2011.Mudanças nas condições financeiras na China reforçam essa visão. Historicamente, há uma defasagem de 8 a 12 meses entre crescimento monetário (M1) e inflação. A taxa de crescimento do M1 começou a cair no fim de 2009. Se a experiência passada é um guia confiável, um declínio da inflação já devia ter se manifestado.A interferência de fatores do lado dos custos contribuíram para a persistência inesperada da inflação. O aumento nos preços das commodities desde meados de 2010 - o índice de preços de commodities na China cresceu mais de 100% desde seu mínimo em 2009 - teve um impacto importante. Além disso, os salários chineses estão aumentando rapidamente.A atual situação macroeconômica da China compartilha muitas semelhanças com a situação que enfrentou em 2007 e a maior parte de 2008, quando, devido aos fortes investimentos e à demanda de exportações, o PIB cresceu significativamente além de seu potencial. Preocupado com um agravamento da inflação e uma incipiente bolha imobiliária, o Banco Popular da China (BPC, o banco central do país) gradualmente apertou sua política monetária.No entanto, a inflação continuou a agravar-se, atingindo um máximo de 8,7% em fevereiro de 2008. O período mais difícil para as autoridades governamentais chinesas foi entre fevereiro e setembro de 2008, quando, apesar dos sinais abundantes de um abrandamento da demanda interna, a demanda mundial manteve-se forte, assim como a inflação.Apertar ou não apertar: essa era a questão. O banco central manteve o aperto. Mas o colapso do Lehman Brothers em setembro de 2008 e toda a crise americana frearam bruscamente o crescimento econômico mundial. Foi assim que o crescimento do PIB chinês caiu drasticamente devido ao súbito colapso da demanda externa. Para compensar o choque negativo, o governo chinês promulgou um pacote de estímulo de quatro trilhões de yuans e o banco central mudou abruptamente sua política. Não há dúvida sobre a necessidade da reversão. No entanto, retrospectivamente, pode-se perguntar se um afrouxamento anterior pelo banco central teria sido mais sábio.Tendo o controle da inflação como sua principal prioridade, o banco central elevou por seis vezes a proporção de reserva obrigatória de capital dos bancos, neste ano. Os bancos comerciais devem depositar, na forma de reservas no banco central, 21,5% de seus depósitos. Recentemente, o BC elevou a taxa de empréstimos por um ano e o depósito durante um ano para, respectivamente, 6,56% e 3,5%.Atualmente, a inflação na China não é tão grave quanto a de 2007-2008. A alta nos preços dos imóveis está se estabilizando e o impacto do aumento das commodities está diminuindo.É improvável que a demanda externa neste segundo semestre de 2011 seja forte, devido à instável recuperação mundial. O aumento constante dos custos de produção, em parte atribuível aos elevados custos dos empréstimos deverá estreitar as margens de lucro das empresas, em especial das pequenas e médias. Quedas nos lucros e crescentes falências de empresas são um problema para a autoridade monetária chinesa.Tendo em vista a necessidade de ajuste estrutural, o banco central deverá manter uma postura monetária apertada. Mas, diante das perspectivas de queda na inflação plena decorrente de turbulência econômica mundial e das crescentes preocupações com o crescimento, é provável que o banco central revele-se um pouco mais flexível no segundo semestre.Em suma, embora a China não vá conseguir cumprir sua meta de inflação de 4% para este ano, o crescimento dos preços continuará sob controle. No segundo semestre de 2011, a taxa de crescimento chinesa pode cair mais, mas não haverá pouso forçado.Os problemas econômicos da China são mais estruturais do que cíclicos. Devido à inexistência de progressos nítidos na reestruturação e reequilíbrio da economia doméstica, os próximos cinco anos serão difíceis e a janela de oportunidade para o ajuste será fechada rapidamente. Mas, observando o desempenho da China no contexto dos últimos 30 anos, não há razões para acreditar que o país não possa se safar, ainda que improvisadamente, mais uma vez. Yu Yongding atual presidente da Sociedade Chinesa de Economia Mundial, foi membro do comitê de política monetária do Banco Popular da China e ex-diretor do Instituto de Economia e Política Mundiais da Academia Chinesa de Ciências.
Custo de captação da Itália volta a disparar
Custo de captação da Itália volta a disparar
Os custos de captação da Itália dispararam em um leilão de bônus que concentrou todas as atenções ontem, movidos pelas preocupações dos investidores com a crise da dívida da zona do euro e pelo impasse que cerca a definição do teto de endividamento dos Estados Unidos. O leilão, de € 8 bilhões (US$ 11,4 bilhões), foi realizado em mercados voláteis agitados ainda mais por rumores, negados pelos políticos italianos, de que o ministro da Economia do país, Giulio Tremonti, se preparava para renunciar ao cargo. A pressão sobre as ações e bônus italianos refletiu tanto a preocupação com a capacidade de Roma de reduzir sua dívida soberana - que perde apenas para a da Grécia, ao representar 120% da produção anual - quanto às dúvidas em torno da possibilidade de a reunião de cúpula da semana passada dos dirigentes da zona do euro ter chegado a uma solução sustentável para a crise da dívida grega. Surgiram críticas ao mais recente plano de salvamento da zona do euro para Atenas no Fundo Monetário Internacional (FMI), bem como entre economistas e analistas dos países-membros da zona do euro, que dizem que seu poder de reduzir a dívida da Grécia, de € 340 bilhões, é muito pequenUma pesquisa da "Reuters" junto a 55 economistas mostrou que a maioria sente que, embora o pacote de salvamento seja um passo na direção certa, ele não representa um ponto de inflexão a partir do qual a crise possa se solucionar. Chipre pode ser o próximo candidato a um pacote de socorro financeiro depois que seu gabinete renunciou coletivamente ontem, na esteira da explosão, com vítimas fatais, de munição que destruiu a principal central de energia elétrica da ilha e agravou seus problemas econômicos, entre os quais a pesada exposição à dívida grega. Os retornos pagos pelos títulos italianos oferecidos no leilão saltaram para 5,77% para bônus de 10 anos, o mais elevado desde fevereiro de 2000, e para 4,80% para papéis de três anos, o mais alto desde julho de 2008. "Pode-se argumentar que eles conseguiram colocar bônus no mercado, mas a tendência dos rendimentos está começando a ficar realmente contundente", disse Alessandro Giansanti, estrategista do ING em Amsterdã. "Eles não têm condições de arcar com esse tipo de aumento todos os meses."Tremonti, há muito visto como o fiador da prudência fiscal do rebelde governo do primeiro-ministro Silvio Berlusconi, está sofrendo pressões em torno de seu uso de um apartamento, em Roma, pertencente a um auxiliar que está sendo investigado por acusações de corrupção. Umberto Bossi, diretor da Liga do Norte, parte da coalização de governo da Itália, desqualificou rumores de que Tremonti poderia perder o emprego, dizendo que o caso não era "nada de muito sério".O ministro da Economia enfrenta crescente pressão da oposição e da mídia para se explicar, e suas relações com Berlusconi são tensas há meses. Tremonti fez uma brincadeira sobre os rumores sobre sua possível saída do governo ao dizer numa entrevista à imprensa concedida ontem: "Eu renunciei... como inquilino."
Os custos de captação da Itália dispararam em um leilão de bônus que concentrou todas as atenções ontem, movidos pelas preocupações dos investidores com a crise da dívida da zona do euro e pelo impasse que cerca a definição do teto de endividamento dos Estados Unidos. O leilão, de € 8 bilhões (US$ 11,4 bilhões), foi realizado em mercados voláteis agitados ainda mais por rumores, negados pelos políticos italianos, de que o ministro da Economia do país, Giulio Tremonti, se preparava para renunciar ao cargo. A pressão sobre as ações e bônus italianos refletiu tanto a preocupação com a capacidade de Roma de reduzir sua dívida soberana - que perde apenas para a da Grécia, ao representar 120% da produção anual - quanto às dúvidas em torno da possibilidade de a reunião de cúpula da semana passada dos dirigentes da zona do euro ter chegado a uma solução sustentável para a crise da dívida grega. Surgiram críticas ao mais recente plano de salvamento da zona do euro para Atenas no Fundo Monetário Internacional (FMI), bem como entre economistas e analistas dos países-membros da zona do euro, que dizem que seu poder de reduzir a dívida da Grécia, de € 340 bilhões, é muito pequenUma pesquisa da "Reuters" junto a 55 economistas mostrou que a maioria sente que, embora o pacote de salvamento seja um passo na direção certa, ele não representa um ponto de inflexão a partir do qual a crise possa se solucionar. Chipre pode ser o próximo candidato a um pacote de socorro financeiro depois que seu gabinete renunciou coletivamente ontem, na esteira da explosão, com vítimas fatais, de munição que destruiu a principal central de energia elétrica da ilha e agravou seus problemas econômicos, entre os quais a pesada exposição à dívida grega. Os retornos pagos pelos títulos italianos oferecidos no leilão saltaram para 5,77% para bônus de 10 anos, o mais elevado desde fevereiro de 2000, e para 4,80% para papéis de três anos, o mais alto desde julho de 2008. "Pode-se argumentar que eles conseguiram colocar bônus no mercado, mas a tendência dos rendimentos está começando a ficar realmente contundente", disse Alessandro Giansanti, estrategista do ING em Amsterdã. "Eles não têm condições de arcar com esse tipo de aumento todos os meses."Tremonti, há muito visto como o fiador da prudência fiscal do rebelde governo do primeiro-ministro Silvio Berlusconi, está sofrendo pressões em torno de seu uso de um apartamento, em Roma, pertencente a um auxiliar que está sendo investigado por acusações de corrupção. Umberto Bossi, diretor da Liga do Norte, parte da coalização de governo da Itália, desqualificou rumores de que Tremonti poderia perder o emprego, dizendo que o caso não era "nada de muito sério".O ministro da Economia enfrenta crescente pressão da oposição e da mídia para se explicar, e suas relações com Berlusconi são tensas há meses. Tremonti fez uma brincadeira sobre os rumores sobre sua possível saída do governo ao dizer numa entrevista à imprensa concedida ontem: "Eu renunciei... como inquilino."
Impasse da dívida americana inibe bolsas globais
Impasse da dívida americana inibe bolsas globais
O impasse do teto de endividamento dos Estados Unidos deu o tom negativo dos mercados ontem, e os principais índices, com exceção do Nasdaq, fecharam em baixa. O otimismo com uma possível solução para o debate entre democratas e republicanos, que ajudou alguns índices europeus a subirem no começo do dia, foi perdendo espaço para visões mais céticas, de que o debate deve ser prolongado, influenciando pregões dos Estados Unidos.Os investidores americanos não acreditavam que a votação do plano dos republicanos na Câmara dos Deputados, marcada para depois do pregão, pudesse solucionar a discussão do endividamento. Os republicanos acabaram adiando o voto, mas o Senado, controlado pelos democratas, já deu sinais de que não aprovará o plano proposto pelos Deputados."O plano será rejeitado ao ser encaminhado para o Senado. Essa parece ser a razão para a força das vendas de papéis", disse Quincy Krosby, estrategista de mercado na Prudential Financial.O índice Standard & Poors 500 recuou 0,3%, para 1.300,67 pontos, na quarta sessão consecutiva de perdas. A perda acumulada na semana é de 3,3%. O Dow Jones recuou 0,51% aos 12.240 pontos. O Nasdaq subiu 0,05%, para 2.766 pontos.A Green Mountain, empresa importante do setor de café, foi o maior ganho do Nasdaq, contribuindo para a leve alta do índice. Depois de apresentar um aumento de 18% nas vendas terceiro trimestre, as ações da companhia subiram 16,4%.Entre as quedas, os papéis da Exxon, maior companhia de petróleo negociada em bolsa, recuaram 2,2%. A companhia apresentou lucro abaixo do estimado por analistas. A disputa pelo teto de endividamento dos EUA aumentou a volatilidade dos mercados. Antes de cair com o temor de um calote americano, os índices começaram o dia com ganhos, causados pela divulgação de queda nos pedidos de auxílio desemprego e fortes dados de vendas no mercado imobiliário americano, um dia após o S&P 500 registrar sua maior queda em oito semanas.Na Europa, o principal índice de ações do continente fechou em alta, mas os índices regionais mostraram tendências contrárias. A esperança de solução para o impasse americano ofuscou resultados corporativos ruins.O índice FTSEurofirst 300 teve variação positiva de 0,06%, a 1.089 pontos, quebrando série negativa de três dias. Entre os índices regionais, o londrino Financial Times fechou em alta de 0,28%, a 5.873 pontos. Já o DAX, da Alemanha, e o CAC-40, da França, tiveram quedas de 0,86% e 0,57% respectivamente.Entre as empresas com resultados ruins esteve a BASF, do setor químico. As ações da empresa caíram 4,2%, pior desempenho dentro do mercado alemão.
O impasse do teto de endividamento dos Estados Unidos deu o tom negativo dos mercados ontem, e os principais índices, com exceção do Nasdaq, fecharam em baixa. O otimismo com uma possível solução para o debate entre democratas e republicanos, que ajudou alguns índices europeus a subirem no começo do dia, foi perdendo espaço para visões mais céticas, de que o debate deve ser prolongado, influenciando pregões dos Estados Unidos.Os investidores americanos não acreditavam que a votação do plano dos republicanos na Câmara dos Deputados, marcada para depois do pregão, pudesse solucionar a discussão do endividamento. Os republicanos acabaram adiando o voto, mas o Senado, controlado pelos democratas, já deu sinais de que não aprovará o plano proposto pelos Deputados."O plano será rejeitado ao ser encaminhado para o Senado. Essa parece ser a razão para a força das vendas de papéis", disse Quincy Krosby, estrategista de mercado na Prudential Financial.O índice Standard & Poors 500 recuou 0,3%, para 1.300,67 pontos, na quarta sessão consecutiva de perdas. A perda acumulada na semana é de 3,3%. O Dow Jones recuou 0,51% aos 12.240 pontos. O Nasdaq subiu 0,05%, para 2.766 pontos.A Green Mountain, empresa importante do setor de café, foi o maior ganho do Nasdaq, contribuindo para a leve alta do índice. Depois de apresentar um aumento de 18% nas vendas terceiro trimestre, as ações da companhia subiram 16,4%.Entre as quedas, os papéis da Exxon, maior companhia de petróleo negociada em bolsa, recuaram 2,2%. A companhia apresentou lucro abaixo do estimado por analistas. A disputa pelo teto de endividamento dos EUA aumentou a volatilidade dos mercados. Antes de cair com o temor de um calote americano, os índices começaram o dia com ganhos, causados pela divulgação de queda nos pedidos de auxílio desemprego e fortes dados de vendas no mercado imobiliário americano, um dia após o S&P 500 registrar sua maior queda em oito semanas.Na Europa, o principal índice de ações do continente fechou em alta, mas os índices regionais mostraram tendências contrárias. A esperança de solução para o impasse americano ofuscou resultados corporativos ruins.O índice FTSEurofirst 300 teve variação positiva de 0,06%, a 1.089 pontos, quebrando série negativa de três dias. Entre os índices regionais, o londrino Financial Times fechou em alta de 0,28%, a 5.873 pontos. Já o DAX, da Alemanha, e o CAC-40, da França, tiveram quedas de 0,86% e 0,57% respectivamente.Entre as empresas com resultados ruins esteve a BASF, do setor químico. As ações da empresa caíram 4,2%, pior desempenho dentro do mercado alemão.
Mesmo com acordo, EUA deixam de ser porto seguro
Mesmo com acordo, EUA deixam de ser porto seguro
Mesmo que o Congresso dos Estados Unidos chegue a um acordo que eleve o teto da dívida e evite que o país entre em "default", aos olhos de todo o mundo talvez o porto jamais volte a ser tão seguro quanto pareceu até aqui. Para Harrison Hong, professor da universidade de Princeton e especialista em finanças comportamentais, a quebra desse paradigma pode deixar o mercado atônito durante um tempo, replicando usos e costumes que adota hoje, mas, a médio prazo, os investidores buscarão alternativas ao dólar para se sentirem protegidos."Mesmo que eu acredite que haverá um acordo, não é tão óbvio que os Estados Unidos manterão seu rating AAA", disse Hong em entrevista na sede da Behavior Capital, empresa brasileira de gestão de recursos da qual é sócio. "Acho que há mais incerteza sobre isso hoje que a respeito do acordo."Segundo Hong, uma vez que se deixe de atribuir à classificação de risco americana o conceito máximo de tranquilidade, tem início uma temporada de busca de novas referências, ponto de partida para decisões de investimento. A longo prazo, essa busca deve resultar em carteiras montadas com uma maior diversificação de moedas.A curto prazo, pode haver um pouco mais do que já se tem observado nos mercados, com a transformação de ativos de risco em caixa ou sua troca pelo ouro. Mesmo nesse caixa, se notará a proporção de moedas como o franco suíço, o iene japonês ou o yuan chinês.Mas Hong acredita que não será por essa insegurança que o mercado terá mais volatilidade. Ao contrário, o medo deve reduzir a oscilação de preços, bem como a liquidez global, que vai continuar repercutindo o que ele chama de eventos verdadeiramente relevantes, como a crise europeia ou a tentativa de recuperação do mercado imobiliário americano, após a crise de 2008. "O que parece estar acontecendo é que há muita atividade em certos tipos de ativos que são como portos seguros. O ouro é um exemplo". Segundo ele, outras reações são pouco visíveis, como a inflação chinesa, pressionada pela demanda em torno da moeda, "controlada obsessivamente" pelo governo. Mas não aumenta a volatilidade de mercados como o de ações."A volatilidade tende a ser muito maior em períodos muito especulativos, com as bolhas", disse Hong, que analisa o comportamento de investidores e transforma distorções de mercado como essa em uma ferramenta para gestão, inclusive do fundo de R$ 52 milhões da Behavior Capital, do qual é estrategista. "A volatilidade não tende a ser tão alta quando as pessoas estão procurando por segurança."No Brasil para participar de encontro promovido pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), Hong diz encarar o país como "o outro lado da China"."A China é o lado da demanda e o Brasil, o do fornecimento". Isso, segundo ele, faz com que o país funcione como o outro lado de uma gangorra, abrigando o dinheiro que quer estar nos Brics (grupo composto por Brasil, Rússia, India e China), mas não pode ser refém do yuan, manipulado pelo governo chinês.
Mesmo que o Congresso dos Estados Unidos chegue a um acordo que eleve o teto da dívida e evite que o país entre em "default", aos olhos de todo o mundo talvez o porto jamais volte a ser tão seguro quanto pareceu até aqui. Para Harrison Hong, professor da universidade de Princeton e especialista em finanças comportamentais, a quebra desse paradigma pode deixar o mercado atônito durante um tempo, replicando usos e costumes que adota hoje, mas, a médio prazo, os investidores buscarão alternativas ao dólar para se sentirem protegidos."Mesmo que eu acredite que haverá um acordo, não é tão óbvio que os Estados Unidos manterão seu rating AAA", disse Hong em entrevista na sede da Behavior Capital, empresa brasileira de gestão de recursos da qual é sócio. "Acho que há mais incerteza sobre isso hoje que a respeito do acordo."Segundo Hong, uma vez que se deixe de atribuir à classificação de risco americana o conceito máximo de tranquilidade, tem início uma temporada de busca de novas referências, ponto de partida para decisões de investimento. A longo prazo, essa busca deve resultar em carteiras montadas com uma maior diversificação de moedas.A curto prazo, pode haver um pouco mais do que já se tem observado nos mercados, com a transformação de ativos de risco em caixa ou sua troca pelo ouro. Mesmo nesse caixa, se notará a proporção de moedas como o franco suíço, o iene japonês ou o yuan chinês.Mas Hong acredita que não será por essa insegurança que o mercado terá mais volatilidade. Ao contrário, o medo deve reduzir a oscilação de preços, bem como a liquidez global, que vai continuar repercutindo o que ele chama de eventos verdadeiramente relevantes, como a crise europeia ou a tentativa de recuperação do mercado imobiliário americano, após a crise de 2008. "O que parece estar acontecendo é que há muita atividade em certos tipos de ativos que são como portos seguros. O ouro é um exemplo". Segundo ele, outras reações são pouco visíveis, como a inflação chinesa, pressionada pela demanda em torno da moeda, "controlada obsessivamente" pelo governo. Mas não aumenta a volatilidade de mercados como o de ações."A volatilidade tende a ser muito maior em períodos muito especulativos, com as bolhas", disse Hong, que analisa o comportamento de investidores e transforma distorções de mercado como essa em uma ferramenta para gestão, inclusive do fundo de R$ 52 milhões da Behavior Capital, do qual é estrategista. "A volatilidade não tende a ser tão alta quando as pessoas estão procurando por segurança."No Brasil para participar de encontro promovido pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), Hong diz encarar o país como "o outro lado da China"."A China é o lado da demanda e o Brasil, o do fornecimento". Isso, segundo ele, faz com que o país funcione como o outro lado de uma gangorra, abrigando o dinheiro que quer estar nos Brics (grupo composto por Brasil, Rússia, India e China), mas não pode ser refém do yuan, manipulado pelo governo chinês.
BC prevê deterioração na Europa e aperto pode ter chegado ao fim Com a moderação do nível de atividade econômica já em curso e a expectativa de uma piora acentuada do cenário internacional, sobretudo na Europa, o Banco Central considera a hipótese de o aumento da taxa Selic de julho ter sido a última rodada do ciclo de aperto monetário. A ata do Comitê de Política Monetária (Copom), divulgada ontem, sinalizou essa possibilidade.A desaceleração do crescimento "está encomendada" e se mostrará nítida entre julho e setembro, garantiu uma alta fonte oficial. Na avaliação do governo, o segundo trimestre ainda teve um desempenho forte, mas ligeiramente abaixo de 1%. No terceiro trimestre, a taxa de crescimento já deverá cair para algo mais próximo de 0,5% e a queda será ainda mais forte no último trimestre, devendo o ano encerrar com um crescimento de 4% do PIB. As coletas de inflação "estão vindo bem", disse a fonte, e o IPCA acumulado em doze meses ainda cresce em agosto, mas deve ceder a partir de setembro.A avaliação do governo é que o comportamento da inflação está obedecendo ao cenário traçado pelo Banco Central no início do ano, quando anunciou que a convergência da inflação para o centro da meta de 4,5% só ocorreria em 2012. "Só não contávamos com uma deflação", comentou a fonte. O IGP-M de julho, divulgado ontem, teve deflação de 0,12%. Apesar de esperar uma piora acentuada da crise de dívida soberana na Europa, não é visível uma pressão deflacionária para o país. Sob esse aspecto, a crise, por enquanto, é neutra. "Mas diante da quantidade de riscos envolvidos, pode deixar de ser", comentou um ministro.Embora o pacote de socorro à Grécia e a criação de mecanismos que evitem o contágio para economias maiores, como Espanha e Itália, anunciado na semana passada, seja um bom indício, o fato é que ele é uma mera carta de intenção. Chamou a atenção das autoridades econômicas do país o parágrafo sexto do comunicado de Bruxelas, que deixa claro que as condições excepcionais colocadas no texto valem só para a Grécia.Em 16 meses o Copom aumentou os juros em 3,75 pontos percentuais e de janeiro a junho o governo federal produziu superávit primário de R$ 55,5 bilhões - o equivalente a 68% da meta fixada para o ano (de R$ 81,8 bilhões). O crédito, embora ainda em elevada expansão, na margem indica desaceleração e a taxa de câmbio, este ano, está mais valorizada que no ano passado. Essa conjunção de fatores, para o governo, começou a fazer efeitos.A inflação, sazonalmente, é maior no último e no primeiro trimestres do ano. Isso está nas considerações do governo. Não há, no horizonte, riscos de se repetir, este ano, os sete meses (outubro de 2010 a abril de 2011) de taxas elevadas, de 0,77% na média. Nesse período houve um exacerbado aumento dos preços das commodities que, espera-se, não se reproduzirá, a não ser que a crise externa leve os investidores a buscarem proteção nas commodities.
BC prevê deterioração na Europa e aperto pode ter chegado ao fim Com a moderação do nível de atividade econômica já em curso e a expectativa de uma piora acentuada do cenário internacional, sobretudo na Europa, o Banco Central considera a hipótese de o aumento da taxa Selic de julho ter sido a última rodada do ciclo de aperto monetário. A ata do Comitê de Política Monetária (Copom), divulgada ontem, sinalizou essa possibilidade.A desaceleração do crescimento "está encomendada" e se mostrará nítida entre julho e setembro, garantiu uma alta fonte oficial. Na avaliação do governo, o segundo trimestre ainda teve um desempenho forte, mas ligeiramente abaixo de 1%. No terceiro trimestre, a taxa de crescimento já deverá cair para algo mais próximo de 0,5% e a queda será ainda mais forte no último trimestre, devendo o ano encerrar com um crescimento de 4% do PIB. As coletas de inflação "estão vindo bem", disse a fonte, e o IPCA acumulado em doze meses ainda cresce em agosto, mas deve ceder a partir de setembro.A avaliação do governo é que o comportamento da inflação está obedecendo ao cenário traçado pelo Banco Central no início do ano, quando anunciou que a convergência da inflação para o centro da meta de 4,5% só ocorreria em 2012. "Só não contávamos com uma deflação", comentou a fonte. O IGP-M de julho, divulgado ontem, teve deflação de 0,12%. Apesar de esperar uma piora acentuada da crise de dívida soberana na Europa, não é visível uma pressão deflacionária para o país. Sob esse aspecto, a crise, por enquanto, é neutra. "Mas diante da quantidade de riscos envolvidos, pode deixar de ser", comentou um ministro.Embora o pacote de socorro à Grécia e a criação de mecanismos que evitem o contágio para economias maiores, como Espanha e Itália, anunciado na semana passada, seja um bom indício, o fato é que ele é uma mera carta de intenção. Chamou a atenção das autoridades econômicas do país o parágrafo sexto do comunicado de Bruxelas, que deixa claro que as condições excepcionais colocadas no texto valem só para a Grécia.Em 16 meses o Copom aumentou os juros em 3,75 pontos percentuais e de janeiro a junho o governo federal produziu superávit primário de R$ 55,5 bilhões - o equivalente a 68% da meta fixada para o ano (de R$ 81,8 bilhões). O crédito, embora ainda em elevada expansão, na margem indica desaceleração e a taxa de câmbio, este ano, está mais valorizada que no ano passado. Essa conjunção de fatores, para o governo, começou a fazer efeitos.A inflação, sazonalmente, é maior no último e no primeiro trimestres do ano. Isso está nas considerações do governo. Não há, no horizonte, riscos de se repetir, este ano, os sete meses (outubro de 2010 a abril de 2011) de taxas elevadas, de 0,77% na média. Nesse período houve um exacerbado aumento dos preços das commodities que, espera-se, não se reproduzirá, a não ser que a crise externa leve os investidores a buscarem proteção nas commodities. Com a moderação do nível de atividade econômica já em curso e a expectativa de uma piora acentuada do cenário internacional, sobretudo na Europa, o Banco Central considera a hipótese de o aumento da taxa Selic de julho ter sido a última rodada do ciclo de aperto monetário. A ata do Comitê de Política Monetária (Copom), divulgada ontem, sinalizou essa possibilidade.A desaceleração do crescimento "está encomendada" e se mostrará nítida entre julho e setembro, garantiu uma alta fonte oficial. Na avaliação do governo, o segundo trimestre ainda teve um desempenho forte, mas ligeiramente abaixo de 1%. No terceiro trimestre, a taxa de crescimento já deverá cair para algo mais próximo de 0,5% e a queda será ainda mais forte no último trimestre, devendo o ano encerrar com um crescimento de 4% do PIB. As coletas de inflação "estão vindo bem", disse a fonte, e o IPCA acumulado em doze meses ainda cresce em agosto, mas deve ceder a partir de setembro.A avaliação do governo é que o comportamento da inflação está obedecendo ao cenário traçado pelo Banco Central no início do ano, quando anunciou que a convergência da inflação para o centro da meta de 4,5% só ocorreria em 2012. "Só não contávamos com uma deflação", comentou a fonte. O IGP-M de julho, divulgado ontem, teve deflação de 0,12%. Apesar de esperar uma piora acentuada da crise de dívida soberana na Europa, não é visível uma pressão deflacionária para o país. Sob esse aspecto, a crise, por enquanto, é neutra. "Mas diante da quantidade de riscos envolvidos, pode deixar de ser", comentou um ministro.Embora o pacote de socorro à Grécia e a criação de mecanismos que evitem o contágio para economias maiores, como Espanha e Itália, anunciado na semana passada, seja um bom indício, o fato é que ele é uma mera carta de intenção. Chamou a atenção das autoridades econômicas do país o parágrafo sexto do comunicado de Bruxelas, que deixa claro que as condições excepcionais colocadas no texto valem só para a Grécia.Em 16 meses o Copom aumentou os juros em 3,75 pontos percentuais e de janeiro a junho o governo federal produziu superávit primário de R$ 55,5 bilhões - o equivalente a 68% da meta fixada para o ano (de R$ 81,8 bilhões). O crédito, embora ainda em elevada expansão, na margem indica desaceleração e a taxa de câmbio, este ano, está mais valorizada que no ano passado. Essa conjunção de fatores, para o governo, começou a fazer efeitos.A inflação, sazonalmente, é maior no último e no primeiro trimestres do ano. Isso está nas considerações do governo. Não há, no horizonte, riscos de se repetir, este ano, os sete meses (outubro de 2010 a abril de 2011) de taxas elevadas, de 0,77% na média. Nesse período houve um exacerbado aumento dos preços das commodities que, espera-se, não se reproduzirá, a não ser que a crise externa leve os investidores a buscarem proteção nas commodities.
Resiliente, Ásia está mais vulnerável à crise global
Resiliente, Ásia está mais vulnerável à crise global
Se os mercados de bônus e ações da Ásia servirem de guia, então, os investidores parecem estar bem despreocupados quanto aos riscos de falta de dinheiro do Tesouro dos Estados Unidos e ao descontrole da crise da dívida de região do euro.O impasse nas negociações para elevar o teto de endividamento dos EUA ainda não afetou seriamente os mercados financeiros da região. As ações de empresas asiáticas, na verdade, subiram nas últimas semanas, com o índice FTSE All-World Asia Pacific, que não inclui o Japão, em alta de mais de 3% desde o início do ano.Embora o custo de proteção contra a inadimplência de empresas na Ásia tenha ficado mais caro e se mostrado mais volátil nos últimos dois meses, o índice iTraxx Asia (sem o Japão), termômetro do risco de crédito, continua abaixo dos níveis vistos em 2010."Certamente, não estamos precificados para uma inadimplência total ou rebaixamento de crédito dos EUA", diz Shane Oliver, da AMP Capital Investors, de Sydney.Assim como a maioria dos agentes de mercado, Oliver está confiante de que os políticos dos EUA chegarão a uma solução para elevar o limite de captações no país até o fim do prazo, no início da próxima semana.Oliver admite, no entanto, que uma crise mais grave nos EUA ou Europa atingiria os mercados financeiros com a mesma intensidade observada há três anos. Outros são mais pessimistas e julgam que a região estaria mais vulnerável a um contágio desta vez, porque os governos agora têm menos capacidade para aplicar outra rodada de medidas de estímulo econômico.Em 2008 e 2009, com a falência do Lehman Brothers, a inércia dos mercados de financiamento mundiais e a contração do comércio internacional, os bônus e ações asiáticos caíram mais que os papéis no centro da tempestade nos EUA.As fortes quedas foram mais incômodas para os investidores na região porque nos anos prévios à crise a ideia geral era de que a Ásia estava se "descolando" do Ocidente.A Ásia segue com forte dependência da Europa e EUA, mais nitidamente em relação às exportações de bens e serviços a consumidores ocidentais, mas também cada vez mais no que se refere a fluxos de capital e sistema financeiro.O analista de crédito Viktor Hjort, do Morgan Stanley, em Hong Kong, diz que "a fonte de contágio mais rápida e perigosa" para os mercados de bônus asiáticos é a falta de liquidez nos mercados de financiamento mundiais. Na crise de 2008, os bancos europeus reduziram a concessão de empréstimos para a Ásia em 20%, o que levou a um contágio generalizado e impediu algumas empresas de rolar suas dívidas.Hjort destaca que as economias asiáticas estejam em melhor posição para enfrentar um aperto na liquidez mundial em comparação a 2008, porque as reservas internacionais aumentaram e os sistemas bancários estão menos dependentes do financiamento de externo.Os rendimentos dos bônus também estão mais elevados agora, já que os investidores assumiram uma abordagem mais cautelosa. Além disso, por uma série de critérios, as ações da região estão mais baratas do que há três anos, o que sugere desvalorizações menores em um cenário de crise.Ainda assim, analistas dizem que há uma diferença importante, em relação a 2008, que ameaça tornar qualquer nova crise muito mais perigosa: depois de liberar volume recorde de dinheiro para combater o desmoronamento financeiro, os governos e bancos centrais gastaram grande parte de seu poder de fogo anticrises.O Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA) reduziu seus juros para quase zero e o governo, endividado, provavelmente enfrentaria oposição feroz a qualquer novo gasto com estímulos.Embora os governos asiáticos tenham mais espaço que os do Ocidente para embarcar em nova rodada de estímulos financiados por dívidas ou cortes de juros, a capacidade para fazê-lo foi reduzida.De fato, as medidas de estímulo que ajudaram os países asiáticos a se recuperar rapidamente da crise passada agora trazem efeitos colaterais incômodos. A China promoveu o maior pacote de estímulos do mundo, ordenando a seus bancos a conceder empréstimos de centenas de bilhões de dólares a projetos de investimento estatais. As dívidas de difícil recuperação agora são cada vez maiores.O núcleo da inflação, que exclui alimentos e energia, aumentou em grande parte da Ásia, mesmo com a economia começado a se desacelerar. Na China, os preços ao consumidor de junho apresentaram a maior alta em três anos, de 6,4%, acima da meta de Pequim, de 4%. Se os EUA ou Europa mergulharem em nova crise, dificilmente os países asiáticos se recuperarão com o mesmo vigor de três anos atrás.
Se os mercados de bônus e ações da Ásia servirem de guia, então, os investidores parecem estar bem despreocupados quanto aos riscos de falta de dinheiro do Tesouro dos Estados Unidos e ao descontrole da crise da dívida de região do euro.O impasse nas negociações para elevar o teto de endividamento dos EUA ainda não afetou seriamente os mercados financeiros da região. As ações de empresas asiáticas, na verdade, subiram nas últimas semanas, com o índice FTSE All-World Asia Pacific, que não inclui o Japão, em alta de mais de 3% desde o início do ano.Embora o custo de proteção contra a inadimplência de empresas na Ásia tenha ficado mais caro e se mostrado mais volátil nos últimos dois meses, o índice iTraxx Asia (sem o Japão), termômetro do risco de crédito, continua abaixo dos níveis vistos em 2010."Certamente, não estamos precificados para uma inadimplência total ou rebaixamento de crédito dos EUA", diz Shane Oliver, da AMP Capital Investors, de Sydney.Assim como a maioria dos agentes de mercado, Oliver está confiante de que os políticos dos EUA chegarão a uma solução para elevar o limite de captações no país até o fim do prazo, no início da próxima semana.Oliver admite, no entanto, que uma crise mais grave nos EUA ou Europa atingiria os mercados financeiros com a mesma intensidade observada há três anos. Outros são mais pessimistas e julgam que a região estaria mais vulnerável a um contágio desta vez, porque os governos agora têm menos capacidade para aplicar outra rodada de medidas de estímulo econômico.Em 2008 e 2009, com a falência do Lehman Brothers, a inércia dos mercados de financiamento mundiais e a contração do comércio internacional, os bônus e ações asiáticos caíram mais que os papéis no centro da tempestade nos EUA.As fortes quedas foram mais incômodas para os investidores na região porque nos anos prévios à crise a ideia geral era de que a Ásia estava se "descolando" do Ocidente.A Ásia segue com forte dependência da Europa e EUA, mais nitidamente em relação às exportações de bens e serviços a consumidores ocidentais, mas também cada vez mais no que se refere a fluxos de capital e sistema financeiro.O analista de crédito Viktor Hjort, do Morgan Stanley, em Hong Kong, diz que "a fonte de contágio mais rápida e perigosa" para os mercados de bônus asiáticos é a falta de liquidez nos mercados de financiamento mundiais. Na crise de 2008, os bancos europeus reduziram a concessão de empréstimos para a Ásia em 20%, o que levou a um contágio generalizado e impediu algumas empresas de rolar suas dívidas.Hjort destaca que as economias asiáticas estejam em melhor posição para enfrentar um aperto na liquidez mundial em comparação a 2008, porque as reservas internacionais aumentaram e os sistemas bancários estão menos dependentes do financiamento de externo.Os rendimentos dos bônus também estão mais elevados agora, já que os investidores assumiram uma abordagem mais cautelosa. Além disso, por uma série de critérios, as ações da região estão mais baratas do que há três anos, o que sugere desvalorizações menores em um cenário de crise.Ainda assim, analistas dizem que há uma diferença importante, em relação a 2008, que ameaça tornar qualquer nova crise muito mais perigosa: depois de liberar volume recorde de dinheiro para combater o desmoronamento financeiro, os governos e bancos centrais gastaram grande parte de seu poder de fogo anticrises.O Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA) reduziu seus juros para quase zero e o governo, endividado, provavelmente enfrentaria oposição feroz a qualquer novo gasto com estímulos.Embora os governos asiáticos tenham mais espaço que os do Ocidente para embarcar em nova rodada de estímulos financiados por dívidas ou cortes de juros, a capacidade para fazê-lo foi reduzida.De fato, as medidas de estímulo que ajudaram os países asiáticos a se recuperar rapidamente da crise passada agora trazem efeitos colaterais incômodos. A China promoveu o maior pacote de estímulos do mundo, ordenando a seus bancos a conceder empréstimos de centenas de bilhões de dólares a projetos de investimento estatais. As dívidas de difícil recuperação agora são cada vez maiores.O núcleo da inflação, que exclui alimentos e energia, aumentou em grande parte da Ásia, mesmo com a economia começado a se desacelerar. Na China, os preços ao consumidor de junho apresentaram a maior alta em três anos, de 6,4%, acima da meta de Pequim, de 4%. Se os EUA ou Europa mergulharem em nova crise, dificilmente os países asiáticos se recuperarão com o mesmo vigor de três anos atrás.
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