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sexta-feira, 16 de setembro de 2011

BCs socorrem bancos. Há de se comemorar?

BCs socorrem bancos. Há de se comemorar?
Eduardo Campos
E não é que o aniversário de três anos da crise teve até bolo! Uma pilha de dólares liberada pelo Banco Central Europeu (BCE), Federal Reserve (Fed), banco central americano, Banco da Inglaterra (BoE) e Banco Nacional da Suíça.A reação dos mercados foi positiva. Afinal, há semanas a liquidez na zona do euro vinha rareando, elevando taxas no interbancário e aumento a preocupação com o risco sistêmico. Mas o fato é que a crise continua lá. A questão, novamente, não é falta de dinheiro, mas sim falta de crescimento. O problema é de solvência.Profecia de Milton Friedman parece tomar forma Interessante notar que ao contrário de 2008, os BCs não esperaram algum banco ir para o buraco para abrirem as torneiras. De fato, os leilões de liquidez foram a primeira ação tomada após a implosão do Lehman Brothers.Outro ponto interessante, segundo o sócio da Teórica Investimentos, Rogério Freitas, é que os personagens por trás da ação são os mesmos. Ben Bernanke, Trichet, Tim Geithner. E eles parecem estar rezando a mesma cartilha, só que com um passo de antecedência."Fazer as mesmas coisas enxergando o quadro atual como em 2008 não vai resolver o problema. O receituário não funcionou em 2008 e não vai adiantar agora", diz Freitas.Tal postura das autoridades monetárias denota duas coisas: falta de criatividade e/ou esgotamento de ferramentas para responder às inseguranças do mercado. Há de se lembrar, também, a questão do risco moral. A cada ação dessas parece piscar a frase: "bancos façam o que bem entendam. Todo mundo aqui é "too big to fail", nos vamos salvar vocês".Os desafios são bem semelhantes, mas a grande diferença entre 2008 e 2011 é que o epicentro da crise não está nos Estados Unidos, mas sim a zona do euro. Isso implica no fato de que não existe um Tesouro único, um Estado único, uma legislação única, um centro unilateral de tomada de decisão.A zona do euro é um condomínio com estatuto incompleto.A tomada de decisão é morosa e para piorar o quadro, as questões políticas permeiam toda e qualquer discussão, conforme cresce a insatisfação popular com esse "casamento" europeu. Nesta semana teve até protesto contra o euro em frente ao BCE em Frankfurt, Alemanha. Fato inédito.Segundo Freitas, talvez essa seja a oportunidade para a zona do euro completar a sua integração. Quem sabe surja um Tesouro único, capaz de amarrar a questão fiscal, com o gerenciamento de dívidas.A questão para essa "unificação completa" é o custo. A conta ainda está sobre a mesa e alguém tem de pagar. "O ponto é como será dividida essa conta. Tem gente devendo muito e que não consegue pagar. Por ora, o alemão vem pagando todas as contas, mas isso já está gerando uma série de questionamentos", explica.Ainda na visão de Freitas, o cenário mais provável continua sendo a saída de alguns membros da zona do euro com a recomposição de moedas nacionais (importante variável de ajuste) e socorre a bancos.A grande pergunta é como toda essa situação vai bater na economia real, se esse problema pode levar a zona do euro e os EUA a uma recessão. Algo que invariavelmente chegaria aos mercados emergentes. "Isso ainda não está no preço. Essa é a grande questão na tomada de decisões de investimento", conclui Freitas.No fim dos anos 90, duas avaliações sobre o euro feitas por ganhadores de prêmio Nobel se notabilizaram pela divergência. De um lado Robert Mundell apontava que estavam atendidas, na Europa, as condições técnicas para a formação de uma "optimum currency area". De forma simplificada, estavam reunidos os quesitos para a moeda única, teoria advogada pelo próprio Mundell.No outro lado do balcão estava ninguém menos que Milton Friedman, que falou que o euro seria realmente testado pela primeira grande recessão mundial. Pouco depois, em 2002, Friedman foi taxativo ao dizer que o euro entraria em colapso dentro de cinco a 15 anos. Para Friedman, ao se estabelecer a moeda comum entre diferentes países é jogado fora um importante mecanismo de ajuste a choques econômicos. Por ora, há de se admitir que a profecia de Friedman está se mostrando correta.Passando para o mercado local, o dólar encerrou a sequência de alta ante o real que durava dez pregões.A moeda fechou o dia com baixa de 0,87%, a R$ 1,709 na venda. Mas ainda tem um longo caminho para devolver o ganho de 8,5% visto em dez dias.
Eduardo Campos

A hora da virada cambial

A hora da virada cambial
Roberto Giannetti da Fonseca
Dias atrás em reunião do Conselho Superior de Economia da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) realizamos uma discussão extremamente esclarecedora acerca do mercado de derivativos cambiais. Muitos leitores talvez não compreendam a importância ímpar deste tema para o país e para suas próprias vidas, uma vez que a indústria brasileira há tempos sofre os efeitos deletérios de um câmbio sobrevalorizado, tendo os derivativos cambiais um papel predominante na formação da taxa de câmbio do real. Por conta dessa situação, mercados para produtos brasileiros foram perdidos, muitas fábricas foram fechadas e milhões de empregos desapareceram. A atual conjuntura econômica é propícia para discutir o papel dos derivativos cambiais na economia, de forma a entender a formação da taxa de câmbio brasileira, mas também para evitar que novas rodadas de apreciação da moeda brasileira prejudiquem ainda mais os setores industriais e a geração de empregos.Primeiramente, o tema dos derivativos de câmbio não deve ser tratado de forma estigmatizada. Esses instrumentos financeiros não são de natureza inerentemente especulativa, muito pelo contrário, eles são fundamentais para a atividade econômica na medida em que reduzem incertezas associadas ao processo produtivo. Tampouco se deve minorar a importância da BM&F como principal centro de negociação de derivativos e de oferta de hedge para os agentes econômicos no Brasil. Essa instituição é símbolo da sofisticação do sistema financeiro brasileiro e faz do mercado de derivativos no Brasil um dos mais transparentes do mundo.É preciso criar instrumentos para identificar os agentes e segregar os que fazem hedge dos que especulamContudo, deve-se reconhecer o caráter dual e muitas vezes ambíguo do mercado de derivativos; ao mesmo tempo em que ele reduz incertezas microeconômicas dos agentes que buscam hedge, ele potencialmente aumenta as instabilidades macroeconômicas. Nos derivativos de câmbio, esse problema ocorre quando um excesso de posições especulativas formam tendências na taxa de câmbio e uma excessiva volatilidade da moeda. Quando a especulação é dominante e, sobretudo, quando as apostas são feitas todas na mesma direção, abre-se espaço para distorções da taxa de câmbio e para uma arbitragem de agentes que ganham sempre, sem correr riscos. Dessa forma, pode haver mercados de derivativos, onde a participação dos agentes de hedge seja muito pequena e as transações sejam dominadas por agentes que tem como propósito apenas a especulação e a arbitragem.No Brasil, o processo de apreciação cambial recente foi em parte conduzido por uma especulação sistemática, conhecida como "carry trade", que no mercado de derivativos se expressa na venda de contratos futuros de dólar para auferir o diferencial de juros e apostar na apreciação do câmbio. A pressão vendedora dos especuladores abre espaço para oportunidades de arbitragem contínuas de agentes que compram dólar futuro para arbitrar entre as taxa de juros externas e o cupom cambial. Com isso, os arbitradores são responsáveis por transmitir as tendências do mercado futuro para o mercado à vista. Nesse contexto, diferentemente da máxima que estabelece que "especulação boa é aquela que se anula por ser bidirecional, e a arbitragem boa é aquela que termina no tempo como consequência do próprio processo de arbitragem", no Brasil há longos períodos de especulação unidirecional e arbitragem ininterrupta no tempo, por conta da rigidez de suas variáveis, no caso, a elevada taxa de juros reais. Essa forma de especulação e arbitragem permanente é anômala e insustentável a médio e longo prazoNesses termos, a nova regulamentação sobre o mercado de derivativos de câmbio tem a difícil tarefa de corrigir os excessos e desvios do mercado, atentando para seu caráter desestabilizador. Ao taxar os aumentos de posições vendidas dos agentes, o governo acertou em cheio a engrenagem especulativa que influi na dinâmica da apreciação cambial. No entanto, essas medidas devem ser aperfeiçoadas de forma a preservar ao máximo as características benignas do mercado de derivativos de câmbio, quais sejam: de oferta de hedge para o setor produtivo e para atividades financeiras.Para tal, é preciso criar instrumentos para identificar os diferentes agentes no mercado de derivativos, de forma a segregar os agentes que fazem hedge daqueles que especulam. Uma vez identificados, a intervenção do governo no mercado de derivativos de câmbio deve isentar do pagamento do tributo os agentes que utilizam o mercado para operações de hedge. Em especial, as empresas não financeiras que fazem cobertura de suas atividades comerciais e produtivas. Além disso, deve-se atentar para o papel dos bancos comerciais no mercado de derivativos que, por muitas vezes, operam para fazer hedge de suas operações de crédito, como por exemplo, ao fazer cobertura cambial das operações de ACC, ou de passivos em moeda estrangeira junto a seus clientes.No decorrer do processo de implementação das novas regras sobre os derivativos de câmbio, é natural que haja reações contrárias de alguns setores da sociedade, afinal, há agentes financeiros que são diretamente prejudicados. Da mesma forma, se o objetivo for de reduzir a especulação com o câmbio, é inevitável que haja uma redução do volume financeiro da BM&F. Porém, o benefício de uma taxa de câmbio isenta de distorções financeiras supera os pontuais efeitos negativos das medidas. Ademais, o debate acerca do tema deve superar velhos dogmas, como a visão de um mercado financeiro harmônico onde a especulação é estabilizadora, cenário este que há tempos já foi abandonado por economistas de diversas escolas de pensamento e que hoje reconhecem o potencial desestabilizador de mercados excessivamente desregulados e especulativos.Recentemente afirmei num outro artigo que o especulador é um covarde, e que ao pressentir um aumento de risco, desfaz sua aposta e sai do mercado. Neste caso dos derivativos cambiais, bastou o anúncio das medidas de intervenção e de regulação no mercado em fins de julho passado, para que as operações de "carry trade" fossem drasticamente reduzidas e a tendência de desvalorização do real se acentuasse a partir da segunda quinzena de agosto. Podemos concluir que a covardia superou a ganância, e que a indústria brasileira respira aliviada pela mudança de ventos na tendência da taxa de câmbio e de juros praticados na economia brasileira. Roberto Giannetti da Fonseca é economista e empresário, presidente da Kaduna Consultoria, e diretor titular de Relações Internacionais e Comércio Exterior da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo.

Café sob pressão na ICE tem mais um dia de perdas consideráveis 15-09

Café sob pressão na ICE tem mais um dia de perdas consideráveis
Os contratos futuros de café arábica negociados na ICE Futures US encerraram esta quinta-feira com perdas consideráveis, ampliando ainda mais o cenário de fraqueza do grão. Após flutuar durante a primeira metade do dia entre ligeiras perdas e altas modestas, o café passou a ser pressionado com a ampliação de liquidações de fundos e especuladores que, notadamente, buscaram testar o intervalo de 260,00 centavos por libra. Próximo a esse nível foram reportadas algumas ações compradoras, o que permitiu, ao menos momentaneamente, a manutenção desse intervalo. No entanto, técnica e graficamente o café demonstra um viés baixista e alguns operadores já trabalham com a perspectiva de se testar patamares ainda mais baixos. Esses operadores acreditam que o dezembro deva buscar o nível de 254,10, obtido em 17 de agosto, o que abriria a possibilidade para que liquidações mais consideráveis pudessem ser desenvolvidas, num movimento de aproveitamento do cenário negativo. As indústrias de torrefação atuaram num patamar próximo de 260,00 centavos, mas elas se mostram bastante reticentes, adquirindo apenas o necessário, numa sinalização de que também trabalham com a perspectiva de preços substancialmente mais baixos no curto prazo. Fundamentalmente, o mercado não conta com novidades, sendo que alguns players ressaltaram a manutenção do cenário de seca na maior parte das zonas produtoras de café do Brasil. Apesar de alguns alertas emitidos por profissionais do país, vários participantes ainda não acreditam que esse quadro deverá prejudicar a safra de 2012, já que floradas ainda deverão ser registradas no país e com precipitações nas próximas semanas o pegamento dificilmente estaria comprometido. No encerramento do dia, o dezembro em Nova Iorque teve queda de 515 pontos com 260,55 centavos, sendo a máxima em 269,65 e a mínima em 260,20 centavos por libra, com o março registrando oscilação negativa de 510 pontos, com a libra a 263,25 centavos, sendo a máxima em 272,05 e a mínima em 262,90 centavos por libra. Na Euronext/Liffe, em Londres, a posição novembro registrou queda de 38 dólares, com 2.048 dólares por tonelada, com o janeiro tendo desvalorização de 36 dólares, com 2.074 dólares por tonelada. De acordo com analistas internacionais, o café vai perdendo, de forma acelerada, todas as gorduras acumuladas no movimento recente de alta. As perdas constantes ocorrem sem maiores empecilhos, com os bullishs (altistas) simplesmente ficando de lado. Nesta quinta-feira, o nível de 270,00 centavos, que é uma resistência básica, não conseguiu ser testado, o que abriu espaço para que os bearishs (baixistas) se sentissem estimulados a continuar seu movimento de liquidação e posicionar o dezembro próximo do suporte de 260,00 centavos. O café operou seguindo alguns grupos de commodities que tiveram uma quinta negativa. O índice CRB recuou 0,43%, mesmo com o dólar tendo registrado perdas consideráveis em relação a uma cesta de moedas internacionais e as bolsas de valores terem subido consideravelmente. Grãos e metais deram suporte para o dia negativo das matérias-primas. "Temos de tentar dimensionar qual será o limite para as quedas do café, mas alguns players já trabalham com perspectivas de preço abaixo do nível de 250,00 centavos para o dezembro no curtíssimo prazo e esse quadro negativo pode ser ampliado se os mercados externos voltarem a apresentar mau humor", sustentou um trader. Os estoques de café nos Estados Unidos tiveram uma queda de 74.476 sacas no final de agosto, totalizando 4.737.341 sacas, informou a GCA (Green Coffee Association). No final de julho os estoques do país eram de 4.811.817 sacas. A maior queda de estoques foi verificada no armazém de Jacksonville, com retração de 58.000.sacas, com o retração nos armazém de Nova Orleans sendo de 16.905 sacas. A maior alta foi observada no armazém de São Francisco, com avanço de 13.775 sacas. As exportações de café do Brasil em setembro, até o dia 14, somaram 867.330 sacas, contra 906.727 sacas registradas no mesmo período de agosto, informou o Cecafé (Conselho dos Exportadores de Café do Brasil). Os estoques certificados de café na bolsa de Nova Iorque tiveram alta de 615 sacas, indo para 1.446.313 sacas. O volume negociado no dia na ICE Futures US foi estimado em 15.095 lotes, com as opções tendo 2.830 calls e 3.926 puts. Tecnicamente, o setembro na ICE Futures US tem uma resistência em 269,65, 269,90-270,00, 270,50, 271,00-271,10, 271,50, 272,00, 272,50, 273,00, 273,50, 274,00, 274,50, 274,75, 274,90-275,00 e 275,50 centavos de dólar por libra peso, com o suporte em 260,20, 260-260,00, 259,50, 259,00, 258,50, 258,00, 257,50, 257,00, 256,50, 256,00, 255,50, 255,10-255,00, 254,50 e 254,10 centavos por libra.