Katia Baggio | Londrina (PR)
O Instituto Agronômico do Paraná colhe a primeira safra do IPR 107. A novidade é que a cultivar foi 100% desenvolvida no Paraná. Ele é resistente à ferrugem, o que ajuda a reduzir a pulverização de produtos químicos para combater a doença e assim, favorece o meio ambiente.
O IPR 107 é resultado do cruzamento do Iapar 59, de grão pequeno, compensado com o produto graúdo do Mundo Novo. Já a fragilidade à ferrugem da variedade paulista foi eliminada pelo gene resistente à doença que o Iapar 59 carrega. O pesquisador em melhoramento genético do Iapar, Tumoru Sera, diz que aplicou o método genealógico a partir de sementes híbridas das variedades. O resultado veio em tempo recorde.
– Nós temos 13 cultivares registradas no Ministério da Agricultura, mas o IPR 107 realmente é nossa criação genuína, totalmente iniciada no Iapar a partir do cruzamento. Nas outras recebemos materiais segregantes, principalmente do Instituto Agronômico de Campinas e selecionamos para adaptação. Esta é diferente porque cruzamos nossa primeira cultivar, o Iapar 59, a primeira cultivar registrada do Iapar, resistente à ferrugem, para café adensado, com o Mundo Novo, que é a variedade que todos gostam. Levamos 15 anos ao invés de 30 – comenta o pesquisador.
Segundo pesquisas, a ferrugem do café pode ser três vezes pior do que uma geada. A doença provoca mais de 40% de danos na produtividade e 10% na qualidade do grão. E, o porte mais baixo do IPR 107 facilita tanto a colheita manual como a mecanizada.
Outra vantagem do cultivar é que ele é de maturação semi-precoce, por isso mais uniforme, o que leva a grãos com tamanho mais homogêneo. Essas características facilitam a produção de cafés especiais a um custo mais baixo.
Porém, é preciso atenção no plantio para se atingir a melhor produtividade e qualidade. Em propriedades familiares, o espaçamento das filas deve ser de dois metros. Por ser adensado, ele vai render mais em menos espaço. De 10 a 100 hectares, o espaço é de dois metros e meio. Para grandes propriedades cafeeiras, três metros. O espaçamento entre plantas é o mesmo, meio metro.
O IPR 107 é recomendado para as tradicionais regiões cafeeiras do Brasil, inclusive as mais frias, já que é semi-precoce. Sementes em escala comercial estarão disponíveis para o produtor em 2012.
terça-feira, 21 de junho de 2011
Frente Parlamentar da Cafeicultura será lançada na 4ª-feira
Jornal Correio do Sul
20/06/2011
O café não vem se destacando nos últimos meses, somente com o bom preço e sua crescente valorização. Em Brasília, mais de 300 deputados aderiram a Frente parlamentar mista em defesa da cafeicultura, que será instalada nesta próxima quarta-feira (22), a partir das 8 horas, na Cafeteria do 10º andar, anexo IV da Câmara dos Deputados.
Diversas autoridades estarão presentes no evento, entre elas o Ministro da Agricultura, Wagner Rossi, integrantes da FAEMG, CNA, CECAFÉ, CCCMG, alem de vários representantes de diversas cooperativas e sindicatos das regiões cafeeiras do país. O deputado federal, Diego Andrade, será o presidente da Frente parlamentar mista em defesa da cafeicultura.
A Frente Parlamentar Mista trabalhará no sentido de buscar apoio aos produtores no intuito de fomentar a atividade, acompanhar junto ao Governo as políticas para o café, buscar novas tecnologias e financiamentos e também lutar por uma política de preços que remunere adequadamente o produtor.
A iniciativa recebeu o apoio de várias entidades do segmento como o Conselho Nacional do Café, cooperativas de cafeicultores e diversos produtores nacionais. As entidades reconhecem que o segmento necessita de representatividade e apoio no Governo Federal.
Em uma reunião feita mês passado com o ministro Wagner Rossi, o deputado Diego Andrade discutiu questões importantes que envolvem a abertura de novos mercados para o produto brasileiro. Segundo o parlamentar países como a China apresentam-se como consumidores em potencial, passíveis de serem amplamente explorados. Esta abertura, ainda de acordo com ele, poderia ser elaborada através de um plano de ação interministerial envolvendo o Ministério da Agricultura e o Ministério do Desenvolvimento da Indústria e Comércio Exterior.
Além do foco no produto no âmbito internacional, Diego ressaltou a importância da redução de impostos na cadeia produtiva para a manutenção do preço do café. Uma das ações para esta finalidade seria a desoneração do Pis e Cofins. O ministro assegurou que estará empenhado na implementação desta medida.
Ao final do encontro, Diego propôs a Wagner Rossi organizar uma reunião em parceria com a Frente Parlamentar para elaborar um plano de ação com a participação de sindicatos, cooperativas e produtores. O ministro colocou sua equipe à disposição e concluiu reconhecendo a importância da atuação do deputado e do senador Clésio Andrade para fortalecer ainda mais o setor cafeeiro.
20/06/2011
O café não vem se destacando nos últimos meses, somente com o bom preço e sua crescente valorização. Em Brasília, mais de 300 deputados aderiram a Frente parlamentar mista em defesa da cafeicultura, que será instalada nesta próxima quarta-feira (22), a partir das 8 horas, na Cafeteria do 10º andar, anexo IV da Câmara dos Deputados.
Diversas autoridades estarão presentes no evento, entre elas o Ministro da Agricultura, Wagner Rossi, integrantes da FAEMG, CNA, CECAFÉ, CCCMG, alem de vários representantes de diversas cooperativas e sindicatos das regiões cafeeiras do país. O deputado federal, Diego Andrade, será o presidente da Frente parlamentar mista em defesa da cafeicultura.
A Frente Parlamentar Mista trabalhará no sentido de buscar apoio aos produtores no intuito de fomentar a atividade, acompanhar junto ao Governo as políticas para o café, buscar novas tecnologias e financiamentos e também lutar por uma política de preços que remunere adequadamente o produtor.
A iniciativa recebeu o apoio de várias entidades do segmento como o Conselho Nacional do Café, cooperativas de cafeicultores e diversos produtores nacionais. As entidades reconhecem que o segmento necessita de representatividade e apoio no Governo Federal.
Em uma reunião feita mês passado com o ministro Wagner Rossi, o deputado Diego Andrade discutiu questões importantes que envolvem a abertura de novos mercados para o produto brasileiro. Segundo o parlamentar países como a China apresentam-se como consumidores em potencial, passíveis de serem amplamente explorados. Esta abertura, ainda de acordo com ele, poderia ser elaborada através de um plano de ação interministerial envolvendo o Ministério da Agricultura e o Ministério do Desenvolvimento da Indústria e Comércio Exterior.
Além do foco no produto no âmbito internacional, Diego ressaltou a importância da redução de impostos na cadeia produtiva para a manutenção do preço do café. Uma das ações para esta finalidade seria a desoneração do Pis e Cofins. O ministro assegurou que estará empenhado na implementação desta medida.
Ao final do encontro, Diego propôs a Wagner Rossi organizar uma reunião em parceria com a Frente Parlamentar para elaborar um plano de ação com a participação de sindicatos, cooperativas e produtores. O ministro colocou sua equipe à disposição e concluiu reconhecendo a importância da atuação do deputado e do senador Clésio Andrade para fortalecer ainda mais o setor cafeeiro.
Vietnã atrasa embarques de café; há risco de default
HANÓI (Reuters) - Exportadores de café do Vietnã têm atrasado o embarque de parte dos volumes contratados, totalizando cerca de 100 mil toneladas desde maio, devido à baixa oferta local, disse nesta segunda-feira uma autoridade da indústria.
Isso estimulou pelo menos dois traders a elevarem as preocupações sobre possíveis defaults nos embarques.
Os baixos estoques no Vietnã, segundo maior produtor mundial, junto com a previsão de queda da produção global na safra 2011/12, feita pela Organização Internacional do Café (OIC), podem voltar a suportar os preços, que operavam em queda com os temores relacionados à crise financeira da Grécia.
Por volta das 10h10 (horário de Brasília) o contrato setembro do café robusta perdia 34 dólares, a 2.308 dólares por tonelada.
"A oferta de café tem sido escassa no Vietnã e exportadores podem ter que comprar mais de empresas estrangeiras para suprir a demanda de embarques", disse Do Ha Nam, vice-presidente executivo da Associação de Café e Cacau do Vietnã (Vicofa).
Até agora, exportadores compraram 10 mil toneladas de uma trading estrangeira.
Parte das 100 mil toneladas era para ter sido exportada no mês passado, disse Nam, por telefone, sem dar mais detalhes sobre os embarques.
Os atrasos têm sido comuns agora e, dada a situação atual, caso exportadores continuem sem conseguir garantir os grãos, podem ocorrer defaults", disse um trader, em Ho Chi Minh.
Um trader em Buon Ma Thuot, capital de Daklak, disse que exportadores podem ter que comprar grãos vietnamitas de grau 2 agora de empresas estrangeiras com um prêmio de 40 dólares por tonelada, podendo revendê-los a um prêmio de 60 dólares ante o contrato setembro, em Londres.
"A falta de grãos é real e o problema pode piorar em setembro ou outubro, sem nenhum estoque", disse.
Segundo traders, as exportações de café do Vietnã em junho podem cair para entre 65 mil toneladas e 80 mil, ou entre 1,08 milhão e 1,33 milhão de sacas, ante 110 mil toneladas em carregamentos
Isso estimulou pelo menos dois traders a elevarem as preocupações sobre possíveis defaults nos embarques.
Os baixos estoques no Vietnã, segundo maior produtor mundial, junto com a previsão de queda da produção global na safra 2011/12, feita pela Organização Internacional do Café (OIC), podem voltar a suportar os preços, que operavam em queda com os temores relacionados à crise financeira da Grécia.
Por volta das 10h10 (horário de Brasília) o contrato setembro do café robusta perdia 34 dólares, a 2.308 dólares por tonelada.
"A oferta de café tem sido escassa no Vietnã e exportadores podem ter que comprar mais de empresas estrangeiras para suprir a demanda de embarques", disse Do Ha Nam, vice-presidente executivo da Associação de Café e Cacau do Vietnã (Vicofa).
Até agora, exportadores compraram 10 mil toneladas de uma trading estrangeira.
Parte das 100 mil toneladas era para ter sido exportada no mês passado, disse Nam, por telefone, sem dar mais detalhes sobre os embarques.
Os atrasos têm sido comuns agora e, dada a situação atual, caso exportadores continuem sem conseguir garantir os grãos, podem ocorrer defaults", disse um trader, em Ho Chi Minh.
Um trader em Buon Ma Thuot, capital de Daklak, disse que exportadores podem ter que comprar grãos vietnamitas de grau 2 agora de empresas estrangeiras com um prêmio de 40 dólares por tonelada, podendo revendê-los a um prêmio de 60 dólares ante o contrato setembro, em Londres.
"A falta de grãos é real e o problema pode piorar em setembro ou outubro, sem nenhum estoque", disse.
Segundo traders, as exportações de café do Vietnã em junho podem cair para entre 65 mil toneladas e 80 mil, ou entre 1,08 milhão e 1,33 milhão de sacas, ante 110 mil toneladas em carregamentos
A taxa de juro natural e a Amazônia por Antonio Delfim Netto
A taxa de juro natural e a Amazônia
A mais óbvia razão pela qual os economistas não foram capazes de antecipar a tragédia que se preparava no mercado financeiro internacional, e que se concretizou em 2008, talvez resida no fato que a Teoria Macroeconômica e a Teoria da Economia Financeira foram separadas, a ponto de se ignorarem, contrariamente ao sugerido por Keynes e Fisher. James Tobin chamou a atenção para isso em meados dos anos 80 do século passado. Uma provocação curiosa a respeito dessa questão. Aquela separação não encontrou eco na conflagrada economia marxista (Hilferding, Luxemburgo, etc.). Marx, aliás, já advertira que "quando há um colapso total do crédito, nada mais conta, só o pagamento em moeda...e que legislações bancárias como a de 1844-45 (na Inglaterra) podem intensificar a crise monetária. Profeticamente, acrescentou, "nenhuma legislação bancária pode eliminar a crise", como mais um século depois estamos aprendendo...O Brasil está vivendo um momento interessante depois de ter superado muito bem a crise. Há, entretanto, uma dúvida ampla, geral e irrestrita sobre: 1) a natureza do processo inflacionário que atinge, em grau maior ou menor, todos os países do mundo e 2) as consequências no longo prazo da supervalorização do Real que está destruindo a sofisticada indústria nacional. Todo processo inflacionário se explica por uma combinação variável de três causas: 1) um desequilíbrio persistente entre a oferta e a demanda global de bens e serviços; 2) uma desancoragem (por múltiplas razões, inclusive a anterior) da "expectativa" inflacionária, e 3) um "choque de oferta" interno ou externo. No caso brasileiro é preciso incluir a indexação ainda generalizada que sobrou como resíduo do bem-sucedido Plano Real e para cuja eliminação se fez muito pouco (de fato, acrescentou-se mais veneno) nos últimos oito anos."Temos hoje, praticamente, uma taxa de câmbio fixa. Trata-se de um mecanismo de legítima defesa." No regime de câmbio flutuante, quando o choque externo é um grande aumento das relações de troca, ele é "filtrado" por uma valorização da taxa de câmbio. O cabo de guerra estabelecido entre os "falcões" e o governo parece estar amainando, com o reconhecimento que o ajuste dos juros pelo Banco Central (BC) será suficientemente prolongado para promover a convergência da taxa de inflação para o centro da meta de 2012. Aparentemente isto está sendo conseguido: a taxa de juros real produzida pela Selic (que importa mais para o custo da dívida pública) tem sido elevada moderadamente, mas a taxa de juros real do setor privado que controla o consumo e boa parte dos investimentos (não privilegiado por programas especiais), tem se elevado mais fortemente. Este ano a despesa com juros da dívida pública deve beirar a R$ 180 bilhões, uma respeitável Bolsa-Rentista.A comunicação do Banco Central deve ser dirigida à sociedade e não apenas ao sistema financeiro. No fundo, os seus clientes são os cidadãos comuns que só podem ser informados por meio da mídia. São eles (e não apenas os analistas financeiros) que lhe conferem credibilidade. É fundamental para o sucesso da política econômica a informação preventiva, rápida, transparente e honesta do Banco Central, para contrarrestar a natural diversidade de opiniões.Há muitos anos os economistas reconheceram as estreitas relações que existem entre o movimento de capitais, os regimes da taxa de câmbio e a autonomia monetária de cada país. Teorizando sobre situações limites: 1) liberdade absoluta ou controle absoluto dos movimentos de capitais nas relações externas; 2) taxa de câmbio absolutamente flutuante ou taxa de câmbio absolutamente fixa; 3) liberdade absoluta ou constrangimento absoluto para que a política monetária atenda às condições econômicas domésticas e estabilize a economia; e 4) adicionando a hipótese que os agentes são absolutamente racionais e exploram qualquer oportunidade de lucro que possa ser apropriado pela livre arbitragem, demonstra-se, logicamente, que a política econômica de um país não pode satisfazer, simultaneamente, mais do que duas, das três primeiras condições expostas acima. Essa construção lógica constitui o já velho e famoso trilema que condiciona o exercício da política econômica."A ascensão social da última década produz um desequilíbrio entre a demanda e a oferta." Em outras palavras, ela pode incorporar quatro situações resumidas a seguir:1) Liberdade de movimento de capitais e câmbio fixo. Nessa circunstância, o país não pode ter uma política monetária que cuide dos seus interesses internos. Para que haja equilíbrio no longo prazo, a sua taxa de inflação deve ser igual à externa e a taxa real de juros deve ser igual à do "resto do mundo". Se a taxa de juros interna for maior do que a externa, a acumulação de reservas produzida pela entrada de capital precisa ser neutralizada com o aumento crescente da dívida pública (e do seu custo) e, no limite, será monetizada, criando as condições para a emergência de um processo inflacionário2) Controle do movimento de capitais e câmbio fixo. Nesse caso há plena liberdade para a política monetária perseguir os interesses internos do país. Nestas circunstâncias, a taxa de câmbio fixo deve ser o preço relativo que equilibra o valor do fluxo dos bens e serviços exportados com os importados. Se a taxa de inflação gerada pela política monetária autônoma for sistematicamente maior do que a do mundo, a taxa real de câmbio sofre uma lenta valorização e, mais dia, menos dia, acumula-se um déficit em conta corrente. Este regime induz a política monetária a perseguir uma taxa de inflação parecida com a do "resto do mundo". Trata-se do sistema construído originalmente no Acordo de Bretton Woods que foi erodido pela dominança abusiva do dólar como unidade de conta internacional e moeda reserva3) Liberdade de movimento de capitais e câmbio flutuante. Nesse caso a política monetária precisa manter a taxa real de juros interna igual à externa para construir o equilíbrio de longo prazo. Para reduzir a volatilidade da taxa de câmbio ele deve manter também sua taxa de inflação parecida com a de seus parceiros internacionais; e 4) Controle do movimento de capitais e taxa de câmbio flutuante. Nesse caso pode-se ter uma política monetária que atenda aos interesses internos do país. A taxa de câmbio flutuante volta a ser o velho preço relativo que equilibra o valor do fluxo de bens e serviços exportados com o valor do fluxo de bens e serviços importados.A experiência mostra que nenhum país pratica políticas econômicas com a "pureza" suposta na construção lógica do "trilema". Todos tendem a acomodar (de acordo com as circunstâncias que enfrentam dentro e fora do país e dos interesses do poder incumbente), uma combinação variável da liberdade do movimento de capitais, do regime cambial e da política monetária.Assistimos isso agora no Brasil. Com três instrumentos de intervenção, o Banco Central transformou o regime cambial. Temos hoje, praticamente, uma taxa de câmbio fixa. Trata-se de um mecanismo de "legítima defesa" justificado pela destruição interna causada pela supervalorização do Real. Ninguém discute que a tendência do Real é de valorizar-se, se não por outras causas, apenas pela velha teoria e empiricamente reconhecida relação da taxa de câmbio real com a elevação do Produto Interno Bruto (PIB) per capita. No momento essa tendência é ajudada pela enorme melhoria das relações de troca (enquanto durarem). O que se discute é a "super" valorização causada pelo imenso diferencial entre as taxas de juros reais interna e externa.O "trilema" não é apenas uma proposição logicamente deduzida. Pesquisas empíricas que se vão acumulando, mostram sua relevância. É preciso insistir que não importa qual seja a combinação escolhida pela nossa política econômica: é pouco provável que ela seja exitosa no longo prazo se a taxa de juro real interna continuar 4 vezes maior que a externa!Há dezenas de explicações para tal "fenômeno" produzidas por sofisticados e tecnicamente bem apetrechados economistas, às vezes apoiados numa econometria de "pé quebrado". Em algumas de suas "regressões" só não acrescentaram, ainda, como variável "explicativa", os quilômetros quadrados desmatados na Amazônia. Todo o resto já foi tentado".Do nosso ponto de vista a melhor explicação para o fato é a que tem sido trabalhada e promovida há muito tempo, entre outros, pelo ilustre professor Yoshiaki Nakano: continuamos a praticar as regras operacionais que, também em "legítima defesa", inventamos no período de hiper-inflação e que foram funcionais naquele momento. Para começar a desmontá-las precisamos reduzir o financiamento da dívida pública com títulos remunerados à taxa Selic, exatamente o objetivo perseguido pela Secretaria do Tesouro Nacional (STN). É preciso criar condições e estímulos para que o mercado reduza em seu portfólio os papéis remunerados pela taxa Selic, o que será muito positivo, inclusive, para aumentar a potência da política monetária convencional.A notícia mais importante do Plano Anual de Financiamento (PAF) da STN para 2011, é que existe tal possibilidade durante o atual mandato da presidente Dilma Rousseff: 80% da dívida remunerada em Selic vence entre 2011 e 2014. Como afirma a STN, o ajustamento será lento, cauteloso e oportunístico, refletindo o "desenvolvimento do mercado financeiro". O fundamental é saber que a janela está aí e que o seu aproveitamento depende, apenas, de uma forte coordenação entre um seguro esforço fiscal e uma fina política monetária que deem musculatura à STN para fechá-la.A nossa situação cambial é ainda mais delicada devido à extrema liquidez proporcionada pelo Federal Reserve (Fed, banco central americano) para acelerar a taxa de crescimento dos EUA, sem o que não haverá solução para sua dívida interna. O problema dos EUA é que sua política econômica não conseguiu, até agora, conquistar credibilidade e reduzir o nível de incerteza que continua a cercá-la. O gráfico tenta mostrar nossas dificuldades.A falta de confiança tem levado a uma recuperação lenta de economia americana (particularmente no nível de emprego). Isso produziu uma política monetária extremamente laxista - o "quantitative easing" 1 e 2 (QE1 e QE2) - que levou a taxa de juro nominal a zero, o que tende a desvalorizar o dólar. Como ele é a unidade de conta no mercado internacional, a sua desvalorização aumenta ainda mais os preços nominais das commodities (petróleo, metais e alimentos), já pressionados por uma aceleração da demanda global dos emergentes (China, India etc.). O aumento do petróleo por sua vez, corta a renda dos americanos e diminui o consumo de outros bens, dificultando ainda mais a recuperação. Além do mais, deteriora o saldo comercial dos EUA e exige maior desvalorização do dólar.Quais os efeitos disso sobre a nossa taxa de câmbio? Primeiro, uma valorização do Real pela melhoria das nossas relações de troca. Paralelamente, os preços externos são internalizados pela taxa de câmbio. Quando o câmbio não pode mais valorizar-se pelo estrago que está produzindo, aumenta a taxa de inflação interna. Isso leva o Banco Central a aumentar a taxa de juro real, o que estimula ainda mais o fluxo de capitais que vem arbitrar a diferença de juros e reforça a valorização do Real. A arbitragem não termina porque o juro real interno não cai devido à política monetária que absorve os reais vendendo papéis do governo à taxa Selic. Estamos presos numa armadilha. Ela se agravará ainda mais se o FED, diante da fraqueza da economia americana, decidir por um terceiro "quantitative easing" (QE3).Com relação à inflação, a política econômica destina-se a controlar diretamente a demanda global e ajustá-la à oferta global, e, indiretamente (por sua credibilidade), fixar a expectativa de inflação que ancora a formação dos preços e dos salários. Trata-se de um processo não trivial, cheio de armadilhas conceituais e largamente determinado pelas crenças sobre o estado da economia e sobre as respostas dos agentes à própria política (o efeito do déficit fiscal nominal, os efeitos da relação dívida/PIB os efeitos das manobras de juros etc.), de forma que os efeitos diretos e indiretos se auto-estimulam.Choques internos, rapidamente superados, como é o caso de uma quebra de safra em que os preços têm a tendência de retornar à média, precisam de um tratamento cauteloso porque, se incorporados pela indexação aos salários, elimina-se o papel principal do aumento dos preços que é cortar temporariamente a demanda física para ajustá-la à oferta física. O mesmo acontece quando se trata de desequilíbrios estruturais produzidos por uma redistribuição de renda que altera a demanda de serviços. É exatamente o aumento dos seus preços relativos que estimulará a expansão da oferta para atendê-la. Logo, o ajuste deve ser acompanhado por ações não monetárias ("estruturais") que ajudem e acelerem o efeito das manobras com a taxa de juros. Toda mudança de preços relativos exerce uma pressão sobre a inflação devido à rigidez para baixo de todos os preços. Um movimento de ascensão social como vimos vivendo na última década, tende a produzir um desequilíbrio qualitativo entre a demanda e a oferta de serviços e nos preços dos produtos consumidos pelas classes em ascensão. Imagine a destruição de PIB, do emprego e o aumento da pobreza que seriam necessários para desconstruir aquele processo civilizatório apenas com manobra da taxa de juros.Um problema interessante com relação à escassez de mão de obra refere-se, por exemplo, à engenharia. Devido à pequena demanda e baixos salários da profissão nos anos 90 do século passado, quase 40% do estoque de nossos engenheiros trabalham fora da sua especialidade, principalmente na administração e finanças. Para trazê-los de volta (e estimular a formação de novos) o sistema de preços já está funcionando e os salários deverão ajustar-se relativamente às outras atividades. Isso, entretanto, também não é "prova" de que exista um desajuste sério entre a demanda e a oferta globais de mão de obra, o que exigiria uma redução da taxa de crescimento do PIB. É preciso pensar em outras soluções, inclusive estimular a volta ao trabalho dos engenheiros que se aposentaram e dos que abandonaram o País por falta de oportunidades. E por que não importar profissionais estrangeiros oferecendo-lhes condições adequadas de vida e de trabalho como fazem vários países? Isso fez inteligentemente o Canadá (inclusive conosco).O Brasil está com sinais vitais bastante razoáveis. Seu problema principal, entretanto, é preparar a nossa estrutura produtiva interna para dar emprego de boa qualidade a 145 milhões de brasileiros - com idade entre 15 e 64 anos - em 2030. Isso não será feito apenas com o nosso modelo agrominerador extremamente eficiente, mas induzido e dependente do crescimento externo. Não tenhamos ilusões. Com tempo suficiente (e que não será coisa muito superior a 4 anos ou 5 anos) a oferta mundial de alimento e petróleo criada pelos próprios países que hoje exercem a pressão de demanda, crescerá estimulada pelo aumento dos preços. Aí tudo mudará.É hora, portanto, de aproveitar o tamanho e estimular a expansão do nosso mercado interno para ampliar o setor industrial e o de serviços (sem desestimular a agricultura e a mineração) para atender ao crescimento inclusivo que nos impõe a própria Constituição de 1988. Para atender ao aumento da oferta demográfica de mão de obra, o Brasil precisa de um crescimento anual nos próximos 20 anos, da ordem de 5% ao ano, com estabilidade interna e externa.Para consegui-lo temos de fazer muita coisa. Fundamentalmente, elevar a taxa de poupança interna para qualquer coisa parecida como 24% a 25% do PIB (com um déficit em conta corrente não maior do que 1%), o que exige estímulo à poupança privada e um grande aumento da poupança governamental (sem aumentar a carga tributária), ou seja, cumprir o que foi anunciado pela presidente Dilma: "Fazer um pouco mais com um pouco menos". Em poucas palavras, gerir mais eficientemente o setor público.Pode parecer pedestre (e até enganoso), mas todos os nossos problemas (inclusive o cambial) podem ser minorados com tal programa. Ao fim e ao cabo - como insiste em dizer um velho amigo -, tudo se resume em: 1) ter uma rigorosa política fiscal (equilíbrio fiscal cíclico e relação dívida/PIB estritamente controlada; 2) melhorar a qualidade da gestão pública e reduzir o crescimento dos gastos de custeio e transferências abaixo do crescimento do PIB; 3) assegurar a boa regulação concorrencial do mercado e coordenar, com ele, o papel do Estado-Indutor com o uso de estímulos adequados; e 4) resistir à permanente sedução (que costuma cegar o poder incumbente), de tentar violar as identidades da contabilidade nacional.O resto é creme chantilly para enfeitar a receita...
Antonio Delfim Netto é professor emérito da FEA-USP, ex-ministro da Fazenda, Agricultura e Planejamento.
A mais óbvia razão pela qual os economistas não foram capazes de antecipar a tragédia que se preparava no mercado financeiro internacional, e que se concretizou em 2008, talvez resida no fato que a Teoria Macroeconômica e a Teoria da Economia Financeira foram separadas, a ponto de se ignorarem, contrariamente ao sugerido por Keynes e Fisher. James Tobin chamou a atenção para isso em meados dos anos 80 do século passado. Uma provocação curiosa a respeito dessa questão. Aquela separação não encontrou eco na conflagrada economia marxista (Hilferding, Luxemburgo, etc.). Marx, aliás, já advertira que "quando há um colapso total do crédito, nada mais conta, só o pagamento em moeda...e que legislações bancárias como a de 1844-45 (na Inglaterra) podem intensificar a crise monetária. Profeticamente, acrescentou, "nenhuma legislação bancária pode eliminar a crise", como mais um século depois estamos aprendendo...O Brasil está vivendo um momento interessante depois de ter superado muito bem a crise. Há, entretanto, uma dúvida ampla, geral e irrestrita sobre: 1) a natureza do processo inflacionário que atinge, em grau maior ou menor, todos os países do mundo e 2) as consequências no longo prazo da supervalorização do Real que está destruindo a sofisticada indústria nacional. Todo processo inflacionário se explica por uma combinação variável de três causas: 1) um desequilíbrio persistente entre a oferta e a demanda global de bens e serviços; 2) uma desancoragem (por múltiplas razões, inclusive a anterior) da "expectativa" inflacionária, e 3) um "choque de oferta" interno ou externo. No caso brasileiro é preciso incluir a indexação ainda generalizada que sobrou como resíduo do bem-sucedido Plano Real e para cuja eliminação se fez muito pouco (de fato, acrescentou-se mais veneno) nos últimos oito anos."Temos hoje, praticamente, uma taxa de câmbio fixa. Trata-se de um mecanismo de legítima defesa." No regime de câmbio flutuante, quando o choque externo é um grande aumento das relações de troca, ele é "filtrado" por uma valorização da taxa de câmbio. O cabo de guerra estabelecido entre os "falcões" e o governo parece estar amainando, com o reconhecimento que o ajuste dos juros pelo Banco Central (BC) será suficientemente prolongado para promover a convergência da taxa de inflação para o centro da meta de 2012. Aparentemente isto está sendo conseguido: a taxa de juros real produzida pela Selic (que importa mais para o custo da dívida pública) tem sido elevada moderadamente, mas a taxa de juros real do setor privado que controla o consumo e boa parte dos investimentos (não privilegiado por programas especiais), tem se elevado mais fortemente. Este ano a despesa com juros da dívida pública deve beirar a R$ 180 bilhões, uma respeitável Bolsa-Rentista.A comunicação do Banco Central deve ser dirigida à sociedade e não apenas ao sistema financeiro. No fundo, os seus clientes são os cidadãos comuns que só podem ser informados por meio da mídia. São eles (e não apenas os analistas financeiros) que lhe conferem credibilidade. É fundamental para o sucesso da política econômica a informação preventiva, rápida, transparente e honesta do Banco Central, para contrarrestar a natural diversidade de opiniões.Há muitos anos os economistas reconheceram as estreitas relações que existem entre o movimento de capitais, os regimes da taxa de câmbio e a autonomia monetária de cada país. Teorizando sobre situações limites: 1) liberdade absoluta ou controle absoluto dos movimentos de capitais nas relações externas; 2) taxa de câmbio absolutamente flutuante ou taxa de câmbio absolutamente fixa; 3) liberdade absoluta ou constrangimento absoluto para que a política monetária atenda às condições econômicas domésticas e estabilize a economia; e 4) adicionando a hipótese que os agentes são absolutamente racionais e exploram qualquer oportunidade de lucro que possa ser apropriado pela livre arbitragem, demonstra-se, logicamente, que a política econômica de um país não pode satisfazer, simultaneamente, mais do que duas, das três primeiras condições expostas acima. Essa construção lógica constitui o já velho e famoso trilema que condiciona o exercício da política econômica."A ascensão social da última década produz um desequilíbrio entre a demanda e a oferta." Em outras palavras, ela pode incorporar quatro situações resumidas a seguir:1) Liberdade de movimento de capitais e câmbio fixo. Nessa circunstância, o país não pode ter uma política monetária que cuide dos seus interesses internos. Para que haja equilíbrio no longo prazo, a sua taxa de inflação deve ser igual à externa e a taxa real de juros deve ser igual à do "resto do mundo". Se a taxa de juros interna for maior do que a externa, a acumulação de reservas produzida pela entrada de capital precisa ser neutralizada com o aumento crescente da dívida pública (e do seu custo) e, no limite, será monetizada, criando as condições para a emergência de um processo inflacionário2) Controle do movimento de capitais e câmbio fixo. Nesse caso há plena liberdade para a política monetária perseguir os interesses internos do país. Nestas circunstâncias, a taxa de câmbio fixo deve ser o preço relativo que equilibra o valor do fluxo dos bens e serviços exportados com os importados. Se a taxa de inflação gerada pela política monetária autônoma for sistematicamente maior do que a do mundo, a taxa real de câmbio sofre uma lenta valorização e, mais dia, menos dia, acumula-se um déficit em conta corrente. Este regime induz a política monetária a perseguir uma taxa de inflação parecida com a do "resto do mundo". Trata-se do sistema construído originalmente no Acordo de Bretton Woods que foi erodido pela dominança abusiva do dólar como unidade de conta internacional e moeda reserva3) Liberdade de movimento de capitais e câmbio flutuante. Nesse caso a política monetária precisa manter a taxa real de juros interna igual à externa para construir o equilíbrio de longo prazo. Para reduzir a volatilidade da taxa de câmbio ele deve manter também sua taxa de inflação parecida com a de seus parceiros internacionais; e 4) Controle do movimento de capitais e taxa de câmbio flutuante. Nesse caso pode-se ter uma política monetária que atenda aos interesses internos do país. A taxa de câmbio flutuante volta a ser o velho preço relativo que equilibra o valor do fluxo de bens e serviços exportados com o valor do fluxo de bens e serviços importados.A experiência mostra que nenhum país pratica políticas econômicas com a "pureza" suposta na construção lógica do "trilema". Todos tendem a acomodar (de acordo com as circunstâncias que enfrentam dentro e fora do país e dos interesses do poder incumbente), uma combinação variável da liberdade do movimento de capitais, do regime cambial e da política monetária.Assistimos isso agora no Brasil. Com três instrumentos de intervenção, o Banco Central transformou o regime cambial. Temos hoje, praticamente, uma taxa de câmbio fixa. Trata-se de um mecanismo de "legítima defesa" justificado pela destruição interna causada pela supervalorização do Real. Ninguém discute que a tendência do Real é de valorizar-se, se não por outras causas, apenas pela velha teoria e empiricamente reconhecida relação da taxa de câmbio real com a elevação do Produto Interno Bruto (PIB) per capita. No momento essa tendência é ajudada pela enorme melhoria das relações de troca (enquanto durarem). O que se discute é a "super" valorização causada pelo imenso diferencial entre as taxas de juros reais interna e externa.O "trilema" não é apenas uma proposição logicamente deduzida. Pesquisas empíricas que se vão acumulando, mostram sua relevância. É preciso insistir que não importa qual seja a combinação escolhida pela nossa política econômica: é pouco provável que ela seja exitosa no longo prazo se a taxa de juro real interna continuar 4 vezes maior que a externa!Há dezenas de explicações para tal "fenômeno" produzidas por sofisticados e tecnicamente bem apetrechados economistas, às vezes apoiados numa econometria de "pé quebrado". Em algumas de suas "regressões" só não acrescentaram, ainda, como variável "explicativa", os quilômetros quadrados desmatados na Amazônia. Todo o resto já foi tentado".Do nosso ponto de vista a melhor explicação para o fato é a que tem sido trabalhada e promovida há muito tempo, entre outros, pelo ilustre professor Yoshiaki Nakano: continuamos a praticar as regras operacionais que, também em "legítima defesa", inventamos no período de hiper-inflação e que foram funcionais naquele momento. Para começar a desmontá-las precisamos reduzir o financiamento da dívida pública com títulos remunerados à taxa Selic, exatamente o objetivo perseguido pela Secretaria do Tesouro Nacional (STN). É preciso criar condições e estímulos para que o mercado reduza em seu portfólio os papéis remunerados pela taxa Selic, o que será muito positivo, inclusive, para aumentar a potência da política monetária convencional.A notícia mais importante do Plano Anual de Financiamento (PAF) da STN para 2011, é que existe tal possibilidade durante o atual mandato da presidente Dilma Rousseff: 80% da dívida remunerada em Selic vence entre 2011 e 2014. Como afirma a STN, o ajustamento será lento, cauteloso e oportunístico, refletindo o "desenvolvimento do mercado financeiro". O fundamental é saber que a janela está aí e que o seu aproveitamento depende, apenas, de uma forte coordenação entre um seguro esforço fiscal e uma fina política monetária que deem musculatura à STN para fechá-la.A nossa situação cambial é ainda mais delicada devido à extrema liquidez proporcionada pelo Federal Reserve (Fed, banco central americano) para acelerar a taxa de crescimento dos EUA, sem o que não haverá solução para sua dívida interna. O problema dos EUA é que sua política econômica não conseguiu, até agora, conquistar credibilidade e reduzir o nível de incerteza que continua a cercá-la. O gráfico tenta mostrar nossas dificuldades.A falta de confiança tem levado a uma recuperação lenta de economia americana (particularmente no nível de emprego). Isso produziu uma política monetária extremamente laxista - o "quantitative easing" 1 e 2 (QE1 e QE2) - que levou a taxa de juro nominal a zero, o que tende a desvalorizar o dólar. Como ele é a unidade de conta no mercado internacional, a sua desvalorização aumenta ainda mais os preços nominais das commodities (petróleo, metais e alimentos), já pressionados por uma aceleração da demanda global dos emergentes (China, India etc.). O aumento do petróleo por sua vez, corta a renda dos americanos e diminui o consumo de outros bens, dificultando ainda mais a recuperação. Além do mais, deteriora o saldo comercial dos EUA e exige maior desvalorização do dólar.Quais os efeitos disso sobre a nossa taxa de câmbio? Primeiro, uma valorização do Real pela melhoria das nossas relações de troca. Paralelamente, os preços externos são internalizados pela taxa de câmbio. Quando o câmbio não pode mais valorizar-se pelo estrago que está produzindo, aumenta a taxa de inflação interna. Isso leva o Banco Central a aumentar a taxa de juro real, o que estimula ainda mais o fluxo de capitais que vem arbitrar a diferença de juros e reforça a valorização do Real. A arbitragem não termina porque o juro real interno não cai devido à política monetária que absorve os reais vendendo papéis do governo à taxa Selic. Estamos presos numa armadilha. Ela se agravará ainda mais se o FED, diante da fraqueza da economia americana, decidir por um terceiro "quantitative easing" (QE3).Com relação à inflação, a política econômica destina-se a controlar diretamente a demanda global e ajustá-la à oferta global, e, indiretamente (por sua credibilidade), fixar a expectativa de inflação que ancora a formação dos preços e dos salários. Trata-se de um processo não trivial, cheio de armadilhas conceituais e largamente determinado pelas crenças sobre o estado da economia e sobre as respostas dos agentes à própria política (o efeito do déficit fiscal nominal, os efeitos da relação dívida/PIB os efeitos das manobras de juros etc.), de forma que os efeitos diretos e indiretos se auto-estimulam.Choques internos, rapidamente superados, como é o caso de uma quebra de safra em que os preços têm a tendência de retornar à média, precisam de um tratamento cauteloso porque, se incorporados pela indexação aos salários, elimina-se o papel principal do aumento dos preços que é cortar temporariamente a demanda física para ajustá-la à oferta física. O mesmo acontece quando se trata de desequilíbrios estruturais produzidos por uma redistribuição de renda que altera a demanda de serviços. É exatamente o aumento dos seus preços relativos que estimulará a expansão da oferta para atendê-la. Logo, o ajuste deve ser acompanhado por ações não monetárias ("estruturais") que ajudem e acelerem o efeito das manobras com a taxa de juros. Toda mudança de preços relativos exerce uma pressão sobre a inflação devido à rigidez para baixo de todos os preços. Um movimento de ascensão social como vimos vivendo na última década, tende a produzir um desequilíbrio qualitativo entre a demanda e a oferta de serviços e nos preços dos produtos consumidos pelas classes em ascensão. Imagine a destruição de PIB, do emprego e o aumento da pobreza que seriam necessários para desconstruir aquele processo civilizatório apenas com manobra da taxa de juros.Um problema interessante com relação à escassez de mão de obra refere-se, por exemplo, à engenharia. Devido à pequena demanda e baixos salários da profissão nos anos 90 do século passado, quase 40% do estoque de nossos engenheiros trabalham fora da sua especialidade, principalmente na administração e finanças. Para trazê-los de volta (e estimular a formação de novos) o sistema de preços já está funcionando e os salários deverão ajustar-se relativamente às outras atividades. Isso, entretanto, também não é "prova" de que exista um desajuste sério entre a demanda e a oferta globais de mão de obra, o que exigiria uma redução da taxa de crescimento do PIB. É preciso pensar em outras soluções, inclusive estimular a volta ao trabalho dos engenheiros que se aposentaram e dos que abandonaram o País por falta de oportunidades. E por que não importar profissionais estrangeiros oferecendo-lhes condições adequadas de vida e de trabalho como fazem vários países? Isso fez inteligentemente o Canadá (inclusive conosco).O Brasil está com sinais vitais bastante razoáveis. Seu problema principal, entretanto, é preparar a nossa estrutura produtiva interna para dar emprego de boa qualidade a 145 milhões de brasileiros - com idade entre 15 e 64 anos - em 2030. Isso não será feito apenas com o nosso modelo agrominerador extremamente eficiente, mas induzido e dependente do crescimento externo. Não tenhamos ilusões. Com tempo suficiente (e que não será coisa muito superior a 4 anos ou 5 anos) a oferta mundial de alimento e petróleo criada pelos próprios países que hoje exercem a pressão de demanda, crescerá estimulada pelo aumento dos preços. Aí tudo mudará.É hora, portanto, de aproveitar o tamanho e estimular a expansão do nosso mercado interno para ampliar o setor industrial e o de serviços (sem desestimular a agricultura e a mineração) para atender ao crescimento inclusivo que nos impõe a própria Constituição de 1988. Para atender ao aumento da oferta demográfica de mão de obra, o Brasil precisa de um crescimento anual nos próximos 20 anos, da ordem de 5% ao ano, com estabilidade interna e externa.Para consegui-lo temos de fazer muita coisa. Fundamentalmente, elevar a taxa de poupança interna para qualquer coisa parecida como 24% a 25% do PIB (com um déficit em conta corrente não maior do que 1%), o que exige estímulo à poupança privada e um grande aumento da poupança governamental (sem aumentar a carga tributária), ou seja, cumprir o que foi anunciado pela presidente Dilma: "Fazer um pouco mais com um pouco menos". Em poucas palavras, gerir mais eficientemente o setor público.Pode parecer pedestre (e até enganoso), mas todos os nossos problemas (inclusive o cambial) podem ser minorados com tal programa. Ao fim e ao cabo - como insiste em dizer um velho amigo -, tudo se resume em: 1) ter uma rigorosa política fiscal (equilíbrio fiscal cíclico e relação dívida/PIB estritamente controlada; 2) melhorar a qualidade da gestão pública e reduzir o crescimento dos gastos de custeio e transferências abaixo do crescimento do PIB; 3) assegurar a boa regulação concorrencial do mercado e coordenar, com ele, o papel do Estado-Indutor com o uso de estímulos adequados; e 4) resistir à permanente sedução (que costuma cegar o poder incumbente), de tentar violar as identidades da contabilidade nacional.O resto é creme chantilly para enfeitar a receita...
Antonio Delfim Netto é professor emérito da FEA-USP, ex-ministro da Fazenda, Agricultura e Planejamento.
Um longo e tortuoso caminho, Economia mundial
Um longo e tortuoso caminho
A economia mundial recuperou-se com solidez do pior momento atingido em 2009, mas o crescimento ainda é desequilibrado e os dados mais recentes das economias avançadas vêm mostrando-se decepcionantes. Para onde se dirige, então, a economia mundial?Certamente, ninguém esperava que a recuperação fosse suave: historicamente, arrumar a casa depois de crises dessa magnitude leva um bom tempo, especialmente quando há alto endividamento, desemprego prolongado e sistemas bancários abalados. Os riscos, no entanto, aumentaram e são necessárias medidas de política econômica para manter a economia mundial nos trilhos.É em meio a esse quadro que o Fundo Monetário Internacional (FMI) divulga suas previsões e avaliações atualizadas para a economia mundial. A análise está disposta em três documentos complementares: o Panorama Econômico Mundial, o Relatório de Estabilidade Financeira Mundial e o informe Monitor Fiscal.Os números gerais não parecem tão ruins. Prevemos crescimento mundial em torno a 4,5% em 2011 e 2012, embora a recuperação prossiga em dois ritmos, com as economias avançadas arrastando-se para ter expansão anual de 2,5% no Produto Interno Bruto (PIB) e as economias emergentes e em desenvolvimento avançado com a impressionante taxa de 6,5%.As políticas econômicas, no entanto, carecem da força suficiente e deixam riscos sob a superfície. Detectamos uma fragilidade maior que a prevista nos Estados Unidos e Japão. Mesmo que isso se deva a fatores temporários, como interrupções na oferta decorrentes do terremoto no Japão, os mercados de trabalho e de imóveis ainda estão inertes nos Estados Unidos e em partes da Europa.Reparos fiscais são cruciais. O ritmo de consolidação fiscal deve ser determinado sem deixar de lado o crescimento e o emprego. Um ritmo muito lento acabaria com sua credibilidade, um ritmo muito rápido acabaria com o crescimento.Além disso, mais países na chamada periferia da Europa continuam em dificuldades, com o ressurgimento de dúvidas sobre a sustentabilidade de seus programas de ajuste. Esse aumento na incerteza poderia disseminar-se pelas atividades econômicas no resto da União Europeia, com os riscos das dívidas soberanas e do sistema bancário, influenciando negativamente um ao outro. Além disso, o crescimento em países avançados não é suficiente para conseguir progressos em diminuir o alto desemprego, com custos sociais elevados.Os mercados emergentes encabeçam a recuperação, mas alguns deles enfrentam riscos de superaquecimento e de desequilíbrios fiscais crescentes. A inflação sobe além do que pode ser explicado pela alta das commodities e alimentos, enquanto a expansão do crédito e de alguns preços de ativos começa a ficar alta demais em relação aos padrões históricos. E as economias de baixa renda sofrem com a alta dos preços dos combustíveis e dos alimentos, que têm forte peso nas cestas de consumo das populações locais.Nessas circunstâncias, a inércia política não é uma opção. Isso é especialmente verdadeiro nas economias avançadas, onde as autoridades monetárias precisam abordar essas questões com mais rigor. Alguns dos problemas são políticos, como a demora em alcançar uma solução consistente e abrangente para a crise da dívida soberana da Europa e o impasse em restaurar a sustentabilidade fiscal nos Estados Unidos. Alguns dos problemas decorrem do setor financeiro, que voltou a aproveitar-se das baixas taxas de juros para aumentar sua alavancagem, na busca por lucros maiores.Precisa-se, com urgência, de um sistema financeiro mundial mais sólido. Houve alguns progressos no "conserto" dos bancos, mas são lentos demais, especialmente na Europa. Em alguns casos, prosseguem os problemas de financiamento e os balanços patrimoniais não foram totalmente depurados. O ritmo de recapitalização precisa ser acelerado e uma nova rodada de "testes de estresse" dos bancos europeus marcará uma linha clara de separação.Reparos fiscais também são cruciais. Um prioridade para as economias avançadas seria continuar o processo de ajuste fiscal iniciado pela maioria delas neste ano. As duas maiores economias, Estados Unidos e Japão, contudo, ainda não iniciaram essa jornada. Deveria, assim que possível, adotar planos confiáveis de consolidação que sejam bastante específicos, não apenas em termos de objetivos, mas também de ferramentas para alcançá-los.O ritmo de consolidação fiscal deve ser determinado sem deixar de lado o crescimento e o emprego. Um ritmo muito lento acabaria com sua credibilidade, um ritmo muito rápido acabaria com o crescimento. As ferramentas usadas para levar adiante esse ajuste fiscal, portanto, deveriam impulsionar a eficiência econômica ou, pelo menos, não prejudicá-la. Nos países emergentes e nas economias de baixa renda, o desafio é evitar o superaquecimento, conter os riscos financeiros e abordar as necessidades prementes de gastos sociais sem comprometer a sustentabilidade. O aumento nos preços dos alimentos e das fontes de energia é questão de emergência para muitos desses países e precisa ser administrado com cuidado.Em conclusão, a recuperação continua, mas não está sob terreno firme. É frágil, desequilibrada e limitada. Não achamos que isso indique uma recaída recessiva. Mas os riscos para o futuro econômico aumentam e precisamos de ações políticas decididas para enfrentá-los. O tempo é crucial.Olivier Blanchard é economista chefe do Fundo Monetário Internacional.José Viñals é conselheiro financeiro e diretor do Departamento de Mercados de Capitais e Monetários do FMI. Carlo Cottarelli é diretor do Departamento de Assuntos Fiscais do FMI.
A economia mundial recuperou-se com solidez do pior momento atingido em 2009, mas o crescimento ainda é desequilibrado e os dados mais recentes das economias avançadas vêm mostrando-se decepcionantes. Para onde se dirige, então, a economia mundial?Certamente, ninguém esperava que a recuperação fosse suave: historicamente, arrumar a casa depois de crises dessa magnitude leva um bom tempo, especialmente quando há alto endividamento, desemprego prolongado e sistemas bancários abalados. Os riscos, no entanto, aumentaram e são necessárias medidas de política econômica para manter a economia mundial nos trilhos.É em meio a esse quadro que o Fundo Monetário Internacional (FMI) divulga suas previsões e avaliações atualizadas para a economia mundial. A análise está disposta em três documentos complementares: o Panorama Econômico Mundial, o Relatório de Estabilidade Financeira Mundial e o informe Monitor Fiscal.Os números gerais não parecem tão ruins. Prevemos crescimento mundial em torno a 4,5% em 2011 e 2012, embora a recuperação prossiga em dois ritmos, com as economias avançadas arrastando-se para ter expansão anual de 2,5% no Produto Interno Bruto (PIB) e as economias emergentes e em desenvolvimento avançado com a impressionante taxa de 6,5%.As políticas econômicas, no entanto, carecem da força suficiente e deixam riscos sob a superfície. Detectamos uma fragilidade maior que a prevista nos Estados Unidos e Japão. Mesmo que isso se deva a fatores temporários, como interrupções na oferta decorrentes do terremoto no Japão, os mercados de trabalho e de imóveis ainda estão inertes nos Estados Unidos e em partes da Europa.Reparos fiscais são cruciais. O ritmo de consolidação fiscal deve ser determinado sem deixar de lado o crescimento e o emprego. Um ritmo muito lento acabaria com sua credibilidade, um ritmo muito rápido acabaria com o crescimento.Além disso, mais países na chamada periferia da Europa continuam em dificuldades, com o ressurgimento de dúvidas sobre a sustentabilidade de seus programas de ajuste. Esse aumento na incerteza poderia disseminar-se pelas atividades econômicas no resto da União Europeia, com os riscos das dívidas soberanas e do sistema bancário, influenciando negativamente um ao outro. Além disso, o crescimento em países avançados não é suficiente para conseguir progressos em diminuir o alto desemprego, com custos sociais elevados.Os mercados emergentes encabeçam a recuperação, mas alguns deles enfrentam riscos de superaquecimento e de desequilíbrios fiscais crescentes. A inflação sobe além do que pode ser explicado pela alta das commodities e alimentos, enquanto a expansão do crédito e de alguns preços de ativos começa a ficar alta demais em relação aos padrões históricos. E as economias de baixa renda sofrem com a alta dos preços dos combustíveis e dos alimentos, que têm forte peso nas cestas de consumo das populações locais.Nessas circunstâncias, a inércia política não é uma opção. Isso é especialmente verdadeiro nas economias avançadas, onde as autoridades monetárias precisam abordar essas questões com mais rigor. Alguns dos problemas são políticos, como a demora em alcançar uma solução consistente e abrangente para a crise da dívida soberana da Europa e o impasse em restaurar a sustentabilidade fiscal nos Estados Unidos. Alguns dos problemas decorrem do setor financeiro, que voltou a aproveitar-se das baixas taxas de juros para aumentar sua alavancagem, na busca por lucros maiores.Precisa-se, com urgência, de um sistema financeiro mundial mais sólido. Houve alguns progressos no "conserto" dos bancos, mas são lentos demais, especialmente na Europa. Em alguns casos, prosseguem os problemas de financiamento e os balanços patrimoniais não foram totalmente depurados. O ritmo de recapitalização precisa ser acelerado e uma nova rodada de "testes de estresse" dos bancos europeus marcará uma linha clara de separação.Reparos fiscais também são cruciais. Um prioridade para as economias avançadas seria continuar o processo de ajuste fiscal iniciado pela maioria delas neste ano. As duas maiores economias, Estados Unidos e Japão, contudo, ainda não iniciaram essa jornada. Deveria, assim que possível, adotar planos confiáveis de consolidação que sejam bastante específicos, não apenas em termos de objetivos, mas também de ferramentas para alcançá-los.O ritmo de consolidação fiscal deve ser determinado sem deixar de lado o crescimento e o emprego. Um ritmo muito lento acabaria com sua credibilidade, um ritmo muito rápido acabaria com o crescimento. As ferramentas usadas para levar adiante esse ajuste fiscal, portanto, deveriam impulsionar a eficiência econômica ou, pelo menos, não prejudicá-la. Nos países emergentes e nas economias de baixa renda, o desafio é evitar o superaquecimento, conter os riscos financeiros e abordar as necessidades prementes de gastos sociais sem comprometer a sustentabilidade. O aumento nos preços dos alimentos e das fontes de energia é questão de emergência para muitos desses países e precisa ser administrado com cuidado.Em conclusão, a recuperação continua, mas não está sob terreno firme. É frágil, desequilibrada e limitada. Não achamos que isso indique uma recaída recessiva. Mas os riscos para o futuro econômico aumentam e precisamos de ações políticas decididas para enfrentá-los. O tempo é crucial.Olivier Blanchard é economista chefe do Fundo Monetário Internacional.José Viñals é conselheiro financeiro e diretor do Departamento de Mercados de Capitais e Monetários do FMI. Carlo Cottarelli é diretor do Departamento de Assuntos Fiscais do FMI.
O jogo da confiança
O jogo da confiança
O que leva um investidor que mal sabe onde fica o Brasil a destinar parte de seus recursos ao país? E que fatores o fazem sair do país tão rápido quanto entrou? Ou por que o estrangeiro confia mais que o brasileiro no mercado local?Para responder a essas perguntas, a advogada Anna Lygia Costa Rego, do escritório Trench, Rossie Watanabe Advogados, procurou 50 investidores, locais e estrangeiros e reguladores do mercado, para saber o que os faz confiar no país e o que mais eles temem. O resultado da pesquisa revela que alguns vícios dos grandes investidores são iguais aos de qualquer pequeno aplicador na hora de tomar decisões. O trabalho transformou-se em tese de doutorado defendida no ano passado na Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo.Perguntados sobre se confiam no Brasil, 75% dos estrangeiros responderam que sim, número que cai para 45% no caso dos brasileiros. Segundo Lygia, isso mostra que os motivos para estrangeiros e locais confiarem no país são diferentes, apesar de os dados econômicos analisados serem os mesmos.Para Lygia, há um certo exagero nas duas pontas. "De 1990 para cá, a confiança dos estrangeiros no Brasil melhorou muito, mas nem tanto com os locais", diz. Entre os brasileiros ouvidos estão representantes de corretoras, escritórios de advocacia e bancos. "Os outros 55% locais confiam desconfiando, são muito céticos com o futuro do país."O principal problema do Brasil para os brasileiros é a morosidade do Judiciário, enquanto, para o estrangeiro, é a corrupção, diz Lygia. Já com relação à confiança, para o estrangeiro, é mais importante o retorno do investimento do que o arcabouço legal. Já para o brasileiro, o fator de confiança é a estabilidade econômica e o controle da inflação.Um ponto importante na pesquisa de Lygia é que, depois do controle da inflação, o principal fator de confiança dos investidores locais é o crescimento econômico. Somente em terceiro lugar aparece a segurança jurídica, que deveria ser justamente o que garantiria o cumprimento das regras dos mercados. A explicação de Lygia é que, apesar de não ser citada, a segurança jurídica aparece subliminarmente. "Os reguladores também afirmaram que os fatores econômicos vêm antes na definição da confiança", diz.Para Lygia, o governo Lula melhorou a expectativa e a confiança em relação ao Brasil, especialmente no exterior, ao respeitar os contratos, controlar a inflação e levar o país a retomar o crescimento. Agora, a estabilidade da inflação é novamente o desafio do novo governo para conquistar a confiança. "Outro passo é mostrar que a intervenção do Estado na economia não é uma regra, mas exceção, e aparar as arestas que estão afetando a confiança dos agentes locais e estrangeiros."O fundamento do trabalho de Lygia é que, apesar de toda a base racional dos investimentos, tudo está lastreado na confiança. "Se não confia na contraparte, ou o banco exige tanta garantia que torna a operação inviável ou nem faz." Confiança, admite ela, pode ser um tema abstrato, mas está presente no dia a dia de todos. "Um empresário tem de confiar em seus funcionários, senão a empresa não funciona, pois não há como fiscalizar todos o tempo todo", diz.Ao mesmo tempo, sabe-se que reconquistar a confiança é um processo muito mais complexo do que criá-la. "Por isso resolvi trabalhar com essa variável no campo do investimento", afirma.De acordo com ela, a primeira observação é que aumentar a regulamentação é a primeira medida para tentar recuperar a confiança abalada entre os agentes econômicos. Um exemplo disso é a lei americana Sarbanes-Oxley depois do caso da quebra fraudulenta da empresa de energia Enron em 2001. E que se repete hoje com a tentativa do governo americano de reforçar a fiscalização sobre os bancos e os derivativos depois da crise de 2008.Segundo Lygia, apesar de a questão da confiança ser tratada por muitos grandes gestores internacionais de recursos como derivada de fatores técnicos, há uma questão afetiva e que envolve a psicologia do investidor. "Recorri a dois autores, os israelenses Daniel Kahneman e Amos Tversky, e sua ciência cognitiva, as escolhas irracionais humanas, para explicar como se dá a criação da confiança", explica.Os estudos dos dois autores, que renderam a Kahneman o Prêmio Nobel de Economia de 2002, conseguiram convencer os economistas mais ortodoxos de que nem sempre a racionalidade é que comanda as decisões.Ela dá os exemplos também de outros autores como Kenneth Arrow, que classifica que os países mais atrasados do mundo são os que apresentam maior falta de confiança de seus agentes. Cita também o ex-presidente do Fed, o banco central americano, Alan Greenspan, que se surpreendeu ao analisar os mercados dos EUA e concluir que todas as transações são feitas por necessidades espontâneas dos agentes e muitas delas são acordos verbais que depois são registrados oficialmente. Dessa forma, a confiança seria o maior valor de uma empresa.Um exemplo de como essa confiança pesa no mercado é novamente o caso Enron. A descoberta das irregularidades em uma das maiores empresas do mercado americano abalou não só a confiança nas empresas, como também nas auditorias em geral e no mercado.O que Lygia tenta mostrar é como a confiança entra na questão dos erros dos investidores, usando as teorias de Kahneman e da irracionalidade na hora da tomada das discussões. E como isso leva um investidor a confiar em determinado mercado e não em outro. O que fica claro é que, se um país perde a confiança dos investidores, ele demora a recuperá-la, mesmo que os fatores que tenham levado ao problema já tenham sido eliminados. Foi assim com o Brasil na década de 90 após a crise da dívida externa. Isso é reforçado pelo fato de todos os investidores internacionais olharem apenas duas ou três fontes de informações, em geral grandes bancos ou agências de rating. Isso tudo acentua movimentos de manada como os que ocorreram na época das crises dos mercados emergentes nos anos 90 e mais recentemente em 2008. "O medo das perdas faz os investidores tomarem decisões rápidas e acompanhando o mercado", diz.Lygia chama a atenção para o fato de que os investidores usam as mesmas palavras para definir a confiança, tanto na China quanto no Brasil. Uma das razões para isso é o efeito da imprensa como formadora de opinião e fonte das probabilidades de ocorrência de problemas.Por isso, as pessoas usam exemplos de confiança dados pela imprensa para basear suas opiniões. "Hoje a confiança não é vista como uma questão técnica pelos investidores, assim como a transparência também não era há alguns anos", diz Lygia. A proposta de Lygia é tentar criar um sistema para analisar os fatores que influenciam a confiança e usar isso como política pública, corrigindo os fatores que possam distorcer a imagem do país lá fora ou internamente. Na hora H, emoção dita reação do grande investidor Olhando a forma como as decisões de investimento são tomadas e os erros mais comuns, a advogada Anna Lygia Costa Rego detectou que os grandes gestores em geral têm de tomar muitas decisões em pouco tempo, o que os obriga a usar uma fórmula para decidir mais rapidamente, uma espécie de atalho nas análises complexas. E esse atalho é que leva aos erros mais comuns. O primeiro desses comportamentos é o da representatividade. "É aquele que, em uma festa, nos faz procurar os que seriam do nosso grupo", diz Lygia. Esse comportamento leva à criação de estereótipos de investimentos. É o que faz com que um problema na Venezuela derrube os papéis de toda a América Latina. "O investidor tem um estereótipo da região e coloca todos os países no mesmo saco, ignorando a história de cada um e até o nexo causal dos problemas."Há também a malícia, em que o investidor elege um mercado para ser a "bola da vez" do próximo problema ou da recuperação. Com a crise de 2008, por exemplo, e os países desenvolvidos perdendo credibilidade, o Brasil se tornou a "bola da vez" positiva entre os países com bom potencial e passou a atrair recursos de todo o mundo, mesmo de quem nem conhecia o país.Outro fator comportamental que influencia o investidor externo é a disponibilidade. É ele que mexe com a opinião das pessoas sobre o risco de voar quando há um acidente de avião, por exemplo. Probabilidades baixas passam a ser altas por um período.Na mesma linha, riscos são ignorados por sua baixa chance de ocorrência. "No Brasil, após o Plano Collor, que congelou os investimentos, por exemplo, todos passaram a perguntar sobre o risco de confisco de aplicações financeiras", lembra Lygia. Essa preocupação diminuiu com o tempo, mas continua existindo.Esse tipo de reação deu origem à teoria dos cisnes negros, de Nicholas Taleb. Os cisnes negros seriam os eventos não previsíveis do mercado. E, se não há probabilidade avaliável de ocorrerem, não é possível criar contingência para eles. É o caso de uma quebra institucional do mercado. "É preciso fazer um esforço para tentar pensar o improvável e imaginar qual seria a capacidade de improviso para lidar com ele", diz. Um terceiro viés adotado pelos investidores é a ancoragem. O investidor tende a se apoiar em valores e informações dadas por terceiros. Foi o caso quando houve a melhora do rating do Brasil em 2008, que fez a bolsa local subir, mesmo que isso não significasse a melhora imediata do país. Nesses casos, fala mais alto a disponibilidade das informações. "Somos pouco críticos em relação aos dados que recebemos e tomamos como verdade o que vem do advogado, do jornalista ou do banco."Outro fator é a moldura, que nos faz responder aos fatos com base no contexto em que vivemos. Para testar isso, Lygia montou dois grupos de alunos da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP) e abordou com eles a questão da derrubada de Manuel Zelaya da Presidência de Honduras. No primeiro, Lygia montou um questionário criando uma moldura negativa, induzindo a uma conclusão ruim sobre Honduras. Em seguida, aplicou um questionário sobre o Brasil e as respostas também foram negativas. Já no segundo grupo, que não viu o questionário sobre Zelaya, as avaliações sobre o Brasil foram bem melhores. Esses fatores, diz Lygia, poderiam ser usados para reforçar a confiança no país.
O que leva um investidor que mal sabe onde fica o Brasil a destinar parte de seus recursos ao país? E que fatores o fazem sair do país tão rápido quanto entrou? Ou por que o estrangeiro confia mais que o brasileiro no mercado local?Para responder a essas perguntas, a advogada Anna Lygia Costa Rego, do escritório Trench, Rossie Watanabe Advogados, procurou 50 investidores, locais e estrangeiros e reguladores do mercado, para saber o que os faz confiar no país e o que mais eles temem. O resultado da pesquisa revela que alguns vícios dos grandes investidores são iguais aos de qualquer pequeno aplicador na hora de tomar decisões. O trabalho transformou-se em tese de doutorado defendida no ano passado na Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo.Perguntados sobre se confiam no Brasil, 75% dos estrangeiros responderam que sim, número que cai para 45% no caso dos brasileiros. Segundo Lygia, isso mostra que os motivos para estrangeiros e locais confiarem no país são diferentes, apesar de os dados econômicos analisados serem os mesmos.Para Lygia, há um certo exagero nas duas pontas. "De 1990 para cá, a confiança dos estrangeiros no Brasil melhorou muito, mas nem tanto com os locais", diz. Entre os brasileiros ouvidos estão representantes de corretoras, escritórios de advocacia e bancos. "Os outros 55% locais confiam desconfiando, são muito céticos com o futuro do país."O principal problema do Brasil para os brasileiros é a morosidade do Judiciário, enquanto, para o estrangeiro, é a corrupção, diz Lygia. Já com relação à confiança, para o estrangeiro, é mais importante o retorno do investimento do que o arcabouço legal. Já para o brasileiro, o fator de confiança é a estabilidade econômica e o controle da inflação.Um ponto importante na pesquisa de Lygia é que, depois do controle da inflação, o principal fator de confiança dos investidores locais é o crescimento econômico. Somente em terceiro lugar aparece a segurança jurídica, que deveria ser justamente o que garantiria o cumprimento das regras dos mercados. A explicação de Lygia é que, apesar de não ser citada, a segurança jurídica aparece subliminarmente. "Os reguladores também afirmaram que os fatores econômicos vêm antes na definição da confiança", diz.Para Lygia, o governo Lula melhorou a expectativa e a confiança em relação ao Brasil, especialmente no exterior, ao respeitar os contratos, controlar a inflação e levar o país a retomar o crescimento. Agora, a estabilidade da inflação é novamente o desafio do novo governo para conquistar a confiança. "Outro passo é mostrar que a intervenção do Estado na economia não é uma regra, mas exceção, e aparar as arestas que estão afetando a confiança dos agentes locais e estrangeiros."O fundamento do trabalho de Lygia é que, apesar de toda a base racional dos investimentos, tudo está lastreado na confiança. "Se não confia na contraparte, ou o banco exige tanta garantia que torna a operação inviável ou nem faz." Confiança, admite ela, pode ser um tema abstrato, mas está presente no dia a dia de todos. "Um empresário tem de confiar em seus funcionários, senão a empresa não funciona, pois não há como fiscalizar todos o tempo todo", diz.Ao mesmo tempo, sabe-se que reconquistar a confiança é um processo muito mais complexo do que criá-la. "Por isso resolvi trabalhar com essa variável no campo do investimento", afirma.De acordo com ela, a primeira observação é que aumentar a regulamentação é a primeira medida para tentar recuperar a confiança abalada entre os agentes econômicos. Um exemplo disso é a lei americana Sarbanes-Oxley depois do caso da quebra fraudulenta da empresa de energia Enron em 2001. E que se repete hoje com a tentativa do governo americano de reforçar a fiscalização sobre os bancos e os derivativos depois da crise de 2008.Segundo Lygia, apesar de a questão da confiança ser tratada por muitos grandes gestores internacionais de recursos como derivada de fatores técnicos, há uma questão afetiva e que envolve a psicologia do investidor. "Recorri a dois autores, os israelenses Daniel Kahneman e Amos Tversky, e sua ciência cognitiva, as escolhas irracionais humanas, para explicar como se dá a criação da confiança", explica.Os estudos dos dois autores, que renderam a Kahneman o Prêmio Nobel de Economia de 2002, conseguiram convencer os economistas mais ortodoxos de que nem sempre a racionalidade é que comanda as decisões.Ela dá os exemplos também de outros autores como Kenneth Arrow, que classifica que os países mais atrasados do mundo são os que apresentam maior falta de confiança de seus agentes. Cita também o ex-presidente do Fed, o banco central americano, Alan Greenspan, que se surpreendeu ao analisar os mercados dos EUA e concluir que todas as transações são feitas por necessidades espontâneas dos agentes e muitas delas são acordos verbais que depois são registrados oficialmente. Dessa forma, a confiança seria o maior valor de uma empresa.Um exemplo de como essa confiança pesa no mercado é novamente o caso Enron. A descoberta das irregularidades em uma das maiores empresas do mercado americano abalou não só a confiança nas empresas, como também nas auditorias em geral e no mercado.O que Lygia tenta mostrar é como a confiança entra na questão dos erros dos investidores, usando as teorias de Kahneman e da irracionalidade na hora da tomada das discussões. E como isso leva um investidor a confiar em determinado mercado e não em outro. O que fica claro é que, se um país perde a confiança dos investidores, ele demora a recuperá-la, mesmo que os fatores que tenham levado ao problema já tenham sido eliminados. Foi assim com o Brasil na década de 90 após a crise da dívida externa. Isso é reforçado pelo fato de todos os investidores internacionais olharem apenas duas ou três fontes de informações, em geral grandes bancos ou agências de rating. Isso tudo acentua movimentos de manada como os que ocorreram na época das crises dos mercados emergentes nos anos 90 e mais recentemente em 2008. "O medo das perdas faz os investidores tomarem decisões rápidas e acompanhando o mercado", diz.Lygia chama a atenção para o fato de que os investidores usam as mesmas palavras para definir a confiança, tanto na China quanto no Brasil. Uma das razões para isso é o efeito da imprensa como formadora de opinião e fonte das probabilidades de ocorrência de problemas.Por isso, as pessoas usam exemplos de confiança dados pela imprensa para basear suas opiniões. "Hoje a confiança não é vista como uma questão técnica pelos investidores, assim como a transparência também não era há alguns anos", diz Lygia. A proposta de Lygia é tentar criar um sistema para analisar os fatores que influenciam a confiança e usar isso como política pública, corrigindo os fatores que possam distorcer a imagem do país lá fora ou internamente. Na hora H, emoção dita reação do grande investidor Olhando a forma como as decisões de investimento são tomadas e os erros mais comuns, a advogada Anna Lygia Costa Rego detectou que os grandes gestores em geral têm de tomar muitas decisões em pouco tempo, o que os obriga a usar uma fórmula para decidir mais rapidamente, uma espécie de atalho nas análises complexas. E esse atalho é que leva aos erros mais comuns. O primeiro desses comportamentos é o da representatividade. "É aquele que, em uma festa, nos faz procurar os que seriam do nosso grupo", diz Lygia. Esse comportamento leva à criação de estereótipos de investimentos. É o que faz com que um problema na Venezuela derrube os papéis de toda a América Latina. "O investidor tem um estereótipo da região e coloca todos os países no mesmo saco, ignorando a história de cada um e até o nexo causal dos problemas."Há também a malícia, em que o investidor elege um mercado para ser a "bola da vez" do próximo problema ou da recuperação. Com a crise de 2008, por exemplo, e os países desenvolvidos perdendo credibilidade, o Brasil se tornou a "bola da vez" positiva entre os países com bom potencial e passou a atrair recursos de todo o mundo, mesmo de quem nem conhecia o país.Outro fator comportamental que influencia o investidor externo é a disponibilidade. É ele que mexe com a opinião das pessoas sobre o risco de voar quando há um acidente de avião, por exemplo. Probabilidades baixas passam a ser altas por um período.Na mesma linha, riscos são ignorados por sua baixa chance de ocorrência. "No Brasil, após o Plano Collor, que congelou os investimentos, por exemplo, todos passaram a perguntar sobre o risco de confisco de aplicações financeiras", lembra Lygia. Essa preocupação diminuiu com o tempo, mas continua existindo.Esse tipo de reação deu origem à teoria dos cisnes negros, de Nicholas Taleb. Os cisnes negros seriam os eventos não previsíveis do mercado. E, se não há probabilidade avaliável de ocorrerem, não é possível criar contingência para eles. É o caso de uma quebra institucional do mercado. "É preciso fazer um esforço para tentar pensar o improvável e imaginar qual seria a capacidade de improviso para lidar com ele", diz. Um terceiro viés adotado pelos investidores é a ancoragem. O investidor tende a se apoiar em valores e informações dadas por terceiros. Foi o caso quando houve a melhora do rating do Brasil em 2008, que fez a bolsa local subir, mesmo que isso não significasse a melhora imediata do país. Nesses casos, fala mais alto a disponibilidade das informações. "Somos pouco críticos em relação aos dados que recebemos e tomamos como verdade o que vem do advogado, do jornalista ou do banco."Outro fator é a moldura, que nos faz responder aos fatos com base no contexto em que vivemos. Para testar isso, Lygia montou dois grupos de alunos da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP) e abordou com eles a questão da derrubada de Manuel Zelaya da Presidência de Honduras. No primeiro, Lygia montou um questionário criando uma moldura negativa, induzindo a uma conclusão ruim sobre Honduras. Em seguida, aplicou um questionário sobre o Brasil e as respostas também foram negativas. Já no segundo grupo, que não viu o questionário sobre Zelaya, as avaliações sobre o Brasil foram bem melhores. Esses fatores, diz Lygia, poderiam ser usados para reforçar a confiança no país.
O investimento na bolsa de valores equivale a um jogo?
O investimento na bolsa de valores equivale a um jogo?
Era muito comum há alguns anos ouvirmos alguém se vangloriar de que jamais havia "jogado" na bolsa. O medo de perder dinheiro com ações e a falta de conhecimento fazia com que as pessoas se distanciassem da bolsa e, ainda, em suas relações abordassem o tema de forma pejorativa. Hoje há um consenso de que a bolsa traz uma real oportunidade de retorno, mesmo com juros internos tão altos. Nos últimos dez anos, os investidores em bolsa no Brasil aumentaram de aproximadamente 70 mil para 600 mil. Evidentemente, esses novos investidores não veem a bolsa como um jogo; porém, para alguns, sua forma de atuação pode ser vista como a de um jogador. E é isso que me preocupa. Aos poucos, os investidores brasileiros pessoas físicas buscam alternativas de diversificação e a bolsa tornou-se uma boa opção. Porém, essa opção é bem arriscada, especialmente se a estratégia de investimento é de curto prazo.A bolsa é realmente um negócio fascinante. As pessoas, mesmo sem informações, têm interesse por ela, principalmente quando ouvem que podem ficar milionárias rapidamente. Há uma enorme safra de livros de investimentos pessoais e de cursos dizendo que investidores pessoas físicas não financistas podem ficar ricos. Realmente, há como ficar rico na bolsa, mas é uma falácia afirmar que isso pode acontecer com qualquer um, especialmente no curto prazo. O mercado de bolsa de valores é altamente especializado. Os grandes investidores, também chamados de investidores institucionais, têm uma influência enorme nas movimentações dos preços das ações no curto prazo. Suas estratégias nem sempre são de longo prazo, mas geralmente motivadas por notícias que podem trazer instabilidade no curto prazo ou mesmo por uma simples mudança de estratégia.Nós, investidores pessoas físicas, concorremos neste mercado de bolsa em que investidores profissionais usam sistemas avançados e equipamentos de última geração, além de terem uma enorme carga de informações para tomarem as suas decisões. É evidente que em uma concorrência como essa estamos em desvantagem, principalmente quando, sem esse aparato tecnológico, nos aventuramos a "operar", comprando e vendendo ações para termos ganhos rápidos. Nessa concorrência de curto prazo, nossa chance de ganhar é baixa. Mas será que mesmo sem termos todos os recursos dos grandes investidores podemos nos beneficiar dos ganhos da bolsa? Sim. O preço de uma ação é o resultado de uma convergência de percepções e expectativas dos investidores em relação à valorização da companhia e pela sua geração de resultados futuros, o que, a rigor, deveria sustentar-se no longo prazo pelos seus fundamentos, ou seja, por sua capacidade de competir nos mercados em que atua. Assim, quando analisamos uma empresa devemos tentar entender como sua estratégia terá impacto nos seus resultados futuros. Fazer projeções é sempre muito difícil, principalmente para quem não vive no mundo das finanças e mais ainda para quem não tem tempo para acompanhar os mercados de perto. Mesmo assim, é sempre importante que tenhamos boas e confiáveis informações sobre as empresas nas quais investimos. Definitivamente, a bolsa não é um jogo. Pelas nossas limitações de tempo e informação, deveríamos optar por fazer investimentos em ações com estratégia de longo prazo, o que aumenta a probabilidade de ganhos e permite uma diversificação mais eficiente nos nossos portfólios. Devemos investir em empresas que acreditamos ter possibilidade de geração de resultados consistentes no futuro e não somente pelas ilusórias chances de obtermos pequenos ganhos diários. As tentações são enormes para que mudemos nossos portfólios constantemente, principalmente quando o mercado está em baixa. Atuamos como investidores jogadores quando mudamos nossos investimentos em bolsa sem buscarmos e analisarmos informações. É consenso que os maiores ganhos estão no longo prazo. A grande questão é como montamos uma estratégia de investimento que nos permita obtê-los. Claramente, as chances de ganharmos no longo prazo diminuem quando fazemos apostas sucessivas no curto prazo. Ricardo Mollo é professor de finanças corporativas do Insper, tem MBA pela University of Dallas, PhD candidate na University of London e trabalhou por 20 anos no mercado financeiro, tendo sido diretor do Unibanco. Responder Encaminhar Convidar NetcaféBR
Era muito comum há alguns anos ouvirmos alguém se vangloriar de que jamais havia "jogado" na bolsa. O medo de perder dinheiro com ações e a falta de conhecimento fazia com que as pessoas se distanciassem da bolsa e, ainda, em suas relações abordassem o tema de forma pejorativa. Hoje há um consenso de que a bolsa traz uma real oportunidade de retorno, mesmo com juros internos tão altos. Nos últimos dez anos, os investidores em bolsa no Brasil aumentaram de aproximadamente 70 mil para 600 mil. Evidentemente, esses novos investidores não veem a bolsa como um jogo; porém, para alguns, sua forma de atuação pode ser vista como a de um jogador. E é isso que me preocupa. Aos poucos, os investidores brasileiros pessoas físicas buscam alternativas de diversificação e a bolsa tornou-se uma boa opção. Porém, essa opção é bem arriscada, especialmente se a estratégia de investimento é de curto prazo.A bolsa é realmente um negócio fascinante. As pessoas, mesmo sem informações, têm interesse por ela, principalmente quando ouvem que podem ficar milionárias rapidamente. Há uma enorme safra de livros de investimentos pessoais e de cursos dizendo que investidores pessoas físicas não financistas podem ficar ricos. Realmente, há como ficar rico na bolsa, mas é uma falácia afirmar que isso pode acontecer com qualquer um, especialmente no curto prazo. O mercado de bolsa de valores é altamente especializado. Os grandes investidores, também chamados de investidores institucionais, têm uma influência enorme nas movimentações dos preços das ações no curto prazo. Suas estratégias nem sempre são de longo prazo, mas geralmente motivadas por notícias que podem trazer instabilidade no curto prazo ou mesmo por uma simples mudança de estratégia.Nós, investidores pessoas físicas, concorremos neste mercado de bolsa em que investidores profissionais usam sistemas avançados e equipamentos de última geração, além de terem uma enorme carga de informações para tomarem as suas decisões. É evidente que em uma concorrência como essa estamos em desvantagem, principalmente quando, sem esse aparato tecnológico, nos aventuramos a "operar", comprando e vendendo ações para termos ganhos rápidos. Nessa concorrência de curto prazo, nossa chance de ganhar é baixa. Mas será que mesmo sem termos todos os recursos dos grandes investidores podemos nos beneficiar dos ganhos da bolsa? Sim. O preço de uma ação é o resultado de uma convergência de percepções e expectativas dos investidores em relação à valorização da companhia e pela sua geração de resultados futuros, o que, a rigor, deveria sustentar-se no longo prazo pelos seus fundamentos, ou seja, por sua capacidade de competir nos mercados em que atua. Assim, quando analisamos uma empresa devemos tentar entender como sua estratégia terá impacto nos seus resultados futuros. Fazer projeções é sempre muito difícil, principalmente para quem não vive no mundo das finanças e mais ainda para quem não tem tempo para acompanhar os mercados de perto. Mesmo assim, é sempre importante que tenhamos boas e confiáveis informações sobre as empresas nas quais investimos. Definitivamente, a bolsa não é um jogo. Pelas nossas limitações de tempo e informação, deveríamos optar por fazer investimentos em ações com estratégia de longo prazo, o que aumenta a probabilidade de ganhos e permite uma diversificação mais eficiente nos nossos portfólios. Devemos investir em empresas que acreditamos ter possibilidade de geração de resultados consistentes no futuro e não somente pelas ilusórias chances de obtermos pequenos ganhos diários. As tentações são enormes para que mudemos nossos portfólios constantemente, principalmente quando o mercado está em baixa. Atuamos como investidores jogadores quando mudamos nossos investimentos em bolsa sem buscarmos e analisarmos informações. É consenso que os maiores ganhos estão no longo prazo. A grande questão é como montamos uma estratégia de investimento que nos permita obtê-los. Claramente, as chances de ganharmos no longo prazo diminuem quando fazemos apostas sucessivas no curto prazo. Ricardo Mollo é professor de finanças corporativas do Insper, tem MBA pela University of Dallas, PhD candidate na University of London e trabalhou por 20 anos no mercado financeiro, tendo sido diretor do Unibanco. Responder Encaminhar Convidar NetcaféBR
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