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terça-feira, 21 de junho de 2011

Um longo e tortuoso caminho, Economia mundial

Um longo e tortuoso caminho

A economia mundial recuperou-se com solidez do pior momento atingido em 2009, mas o crescimento ainda é desequilibrado e os dados mais recentes das economias avançadas vêm mostrando-se decepcionantes. Para onde se dirige, então, a economia mundial?Certamente, ninguém esperava que a recuperação fosse suave: historicamente, arrumar a casa depois de crises dessa magnitude leva um bom tempo, especialmente quando há alto endividamento, desemprego prolongado e sistemas bancários abalados. Os riscos, no entanto, aumentaram e são necessárias medidas de política econômica para manter a economia mundial nos trilhos.É em meio a esse quadro que o Fundo Monetário Internacional (FMI) divulga suas previsões e avaliações atualizadas para a economia mundial. A análise está disposta em três documentos complementares: o Panorama Econômico Mundial, o Relatório de Estabilidade Financeira Mundial e o informe Monitor Fiscal.Os números gerais não parecem tão ruins. Prevemos crescimento mundial em torno a 4,5% em 2011 e 2012, embora a recuperação prossiga em dois ritmos, com as economias avançadas arrastando-se para ter expansão anual de 2,5% no Produto Interno Bruto (PIB) e as economias emergentes e em desenvolvimento avançado com a impressionante taxa de 6,5%.As políticas econômicas, no entanto, carecem da força suficiente e deixam riscos sob a superfície. Detectamos uma fragilidade maior que a prevista nos Estados Unidos e Japão. Mesmo que isso se deva a fatores temporários, como interrupções na oferta decorrentes do terremoto no Japão, os mercados de trabalho e de imóveis ainda estão inertes nos Estados Unidos e em partes da Europa.Reparos fiscais são cruciais. O ritmo de consolidação fiscal deve ser determinado sem deixar de lado o crescimento e o emprego. Um ritmo muito lento acabaria com sua credibilidade, um ritmo muito rápido acabaria com o crescimento.Além disso, mais países na chamada periferia da Europa continuam em dificuldades, com o ressurgimento de dúvidas sobre a sustentabilidade de seus programas de ajuste. Esse aumento na incerteza poderia disseminar-se pelas atividades econômicas no resto da União Europeia, com os riscos das dívidas soberanas e do sistema bancário, influenciando negativamente um ao outro. Além disso, o crescimento em países avançados não é suficiente para conseguir progressos em diminuir o alto desemprego, com custos sociais elevados.Os mercados emergentes encabeçam a recuperação, mas alguns deles enfrentam riscos de superaquecimento e de desequilíbrios fiscais crescentes. A inflação sobe além do que pode ser explicado pela alta das commodities e alimentos, enquanto a expansão do crédito e de alguns preços de ativos começa a ficar alta demais em relação aos padrões históricos. E as economias de baixa renda sofrem com a alta dos preços dos combustíveis e dos alimentos, que têm forte peso nas cestas de consumo das populações locais.Nessas circunstâncias, a inércia política não é uma opção. Isso é especialmente verdadeiro nas economias avançadas, onde as autoridades monetárias precisam abordar essas questões com mais rigor. Alguns dos problemas são políticos, como a demora em alcançar uma solução consistente e abrangente para a crise da dívida soberana da Europa e o impasse em restaurar a sustentabilidade fiscal nos Estados Unidos. Alguns dos problemas decorrem do setor financeiro, que voltou a aproveitar-se das baixas taxas de juros para aumentar sua alavancagem, na busca por lucros maiores.Precisa-se, com urgência, de um sistema financeiro mundial mais sólido. Houve alguns progressos no "conserto" dos bancos, mas são lentos demais, especialmente na Europa. Em alguns casos, prosseguem os problemas de financiamento e os balanços patrimoniais não foram totalmente depurados. O ritmo de recapitalização precisa ser acelerado e uma nova rodada de "testes de estresse" dos bancos europeus marcará uma linha clara de separação.Reparos fiscais também são cruciais. Um prioridade para as economias avançadas seria continuar o processo de ajuste fiscal iniciado pela maioria delas neste ano. As duas maiores economias, Estados Unidos e Japão, contudo, ainda não iniciaram essa jornada. Deveria, assim que possível, adotar planos confiáveis de consolidação que sejam bastante específicos, não apenas em termos de objetivos, mas também de ferramentas para alcançá-los.O ritmo de consolidação fiscal deve ser determinado sem deixar de lado o crescimento e o emprego. Um ritmo muito lento acabaria com sua credibilidade, um ritmo muito rápido acabaria com o crescimento. As ferramentas usadas para levar adiante esse ajuste fiscal, portanto, deveriam impulsionar a eficiência econômica ou, pelo menos, não prejudicá-la. Nos países emergentes e nas economias de baixa renda, o desafio é evitar o superaquecimento, conter os riscos financeiros e abordar as necessidades prementes de gastos sociais sem comprometer a sustentabilidade. O aumento nos preços dos alimentos e das fontes de energia é questão de emergência para muitos desses países e precisa ser administrado com cuidado.Em conclusão, a recuperação continua, mas não está sob terreno firme. É frágil, desequilibrada e limitada. Não achamos que isso indique uma recaída recessiva. Mas os riscos para o futuro econômico aumentam e precisamos de ações políticas decididas para enfrentá-los. O tempo é crucial.Olivier Blanchard é economista chefe do Fundo Monetário Internacional.José Viñals é conselheiro financeiro e diretor do Departamento de Mercados de Capitais e Monetários do FMI. Carlo Cottarelli é diretor do Departamento de Assuntos Fiscais do FMI.

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