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segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

MÍNIMA DE UM ANO PÕE FUNDOS NA BERLINDA

Na última hora do pregão nos Estados Unidos, ou durante a noite na Bélgica, União Europeia e Grécia chegaram a um acordo para prorrogar por quatro meses as linhas de crédito que evitarão por ora um default grego. Muitos acreditam que apenas está sendo jogado para frente o inevitável, a não ser que o novo governo decida abaixar a cabeça a Troika e virar as costas para quem o elegeu – qualquer uma das escolhas será dolorosa. Os seguros da dívida grega precificam uma chance de 69% de default dos títulos do país nos próximos cinco anos, bem menos do que os 99% que eram precificados em março de 2012.

Antecipando a “conciliação” as bolsas de ações mundiais subiram na curta semana, com o S&P500 atingindo um novo recorde de alta. Os índices de commodities por outro lado caíram, liderados pelas perdas de 8.09% do café em Nova Iorque, 5.07% do níquel e 4.32% do açúcar demerara. O óleo de aquecimento, suíno magro e o gás natural tiveram altas significativas, mas insuficientes para contrabalançar as matérias-primas que cederam.

O contrato de arábica que vinha se mantendo acima de US$ 160.00 centavos por libra caiu no vácuo na terça-feira fazendo novas mínimas de exatos 12 meses (desde 18 de fevereiro de 2014). Fundos de índice, de acordo com o COT divulgado na sexta-feira, foram os principais responsáveis pela baixa com a liquidação de uma nova parcela de suas posições compradas.

O argumento que usei no comentário da semana passada de que novas vendas de fundos seriam contidas pela resiliência dos preços, evapora com a queda que presenciamos, e tecnicamente deve estimular novas vendas de agora em diante. Com referência a posição bruta vendida dos fundos na última terça-feira esta era de “apenas” 26 mil lotes, muito menos do que os 70 mil lotes vendidos que os fundos tinham em seus livros em novembro de 2013. Isto não significa necessariamente que eles vão vender este montante, até porque lá atrás estava todo mundo baixista e tinha-se uma promessa de produção grande mundial, diferente de agora. Por outro lado os machucados altistas ficam mais desconfortáveis e têm sido forçados a diminuir suas apostas na alta.

A percepção de que o Real brasileiro está apenas começando a desvalorizar, com alguns analistas de bancos acreditando que até o final de 2015 a moeda pode chegar a 3.50 e outros mencionando que para a balança comercial equilibrar uma queda até 3.96 seria o ideal, torna ineficaz falarmos apenas dos preços de café em dólares.

Comparando os preços atuais do contrato “C” em reais por libra-peso a cotação hoje é de R$ 439.88 centavos por libra, mais ou menos no mesmo nível que negociava em 31 de dezembro último e bem acima dos R$ 354.11 centavos por libra de 15 de julho de 2014. Como referência: no dia 18 de fevereiro de 2014 Nova Iorque encerrou o pregão a R$ 370.03 centavos por libra (US$ 154.85 /lb contra o dólar-real a R$ 2.3896). Esta leitura também assusta os altistas, ainda que o retrato atual do físico esteja positivo.

A semana de dois dias e meio no Brasil e as celebrações do ano novo lunar (ano do carneiro no horóscopo chinês) no Vietnã afugentaram vendas agressivas de origem, mas de nada serviram como fatores potencialmente altistas. A movimentação do físico também foi praticamente nula nas origens, com alguma atividade notada no spot.

O começo do período de entrega do contrato de março da ICE deu outro sinal de fraqueza para os participantes com o spread Março/Maio alargando para US$ -4.20 centavos. É verdade que é peculiar a forma como os certificados são encarados para os hedgers, mas se houvesse uma demanda realmente muito forte os operadores estariam prontos para aproveitar o alargamento da estrutura no curto-prazo.

Para finalizar a onda de notícias negativas, e que serve de alerta a todos nós sobre possíveis novas quedas, uma importante trading europeia publicou sua estimativa da safra brasileira para o ciclo 2015/2016 em 49.5 milhões de sacas, 2.5 milhões acima do ano passado. Para um mercado que há seis meses achava impossível o Brasil produzir mais arábica em 15/16 do que colheu em 14/15 o acréscimo de 3.2 milhões de sacas depois de um ano de seca acaba jogando outro balde de água fria nos fundos, que estão comprados há muito tempo apostando em um déficit maior.

É difícil ficar baixista nos atuais níveis, mas temos que respeitar os sinais que tiram neste momento uma chance significativa de uma alta sustentada dos preços. Os altistas terão que ter paciência para ver uma diminuição da cobertura dos comerciais, um aumento da posição vendida dos fundos e o Real ao menos não enfraquecendo muito mais, para então voltarem a comprar com mais segurança.

No fim são muitas variáveis que impedem fazer uma análise mais concisa e com menor chance de erro.

Uma boa semana com excelentes negócios a todos.

Rodrigo Corrêa da Costa escreve este relatório sobre café semanalmente como colaborador da Archer Consulting