Páginas

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Resultados do setor rural podem ser separados do urbano

Resultados do setor rural podem ser separados do urbano
Puxada pela renda maior e emprego formal, a área urbana teve superávit de arrecadação, enquanto a rural registrou déficit A proposta de mudança na contabilidade da Previdência prevê que o resultado no setor rural passe a ser contabilizado em separado do urbano. Hoje, o Ministério da Previdência já faz a distinção, mas o Tesouro não. De janeiro a maio, o sistema urbano teve superávit de R$ 4 bilhões. Esse segmento vem apresentando bom desempenho graças ao aumento do emprego formal e aos ganhos salariais impulsionados pelo crescimento da economia. No setor rural, a conta foi deficitária em R$ 21,8 bilhões, o que resultou num déficit do sistema de R$ 17,8 bilhões. "Não queremos que a previdência rural saia daqui", esclarece o secretário de Previdência Social, Leonardo Rolim. "Trata-se de um sistema semi contributivo, por isso deve ser contabilizado em separado." A maior parte dos aposentados no setor rural contribuiu pouco ou nada para o sistema, diferente dos segurados da área urbana. Simples. Pela proposta do ministério da Previdência, ficaria com a Fazenda a maior renúncia de receitas previdenciárias, a do Simples Nacional. Micro e pequenas empresas inscritas no programa recolhem menos INSS do que se estivessem no regime contábil tradicional. Microempresas na área de comércio, por exemplo, quitam tributos recolhendo 4% do faturamento. O Simples produziu renúncia de receitas previdenciárias de R$ 4,7 bilhões até maio. Outra conta que iria para a Fazenda é a dos incentivos a empresas de tecnologia da informação e comunicação. Por uma decisão de política industrial em 2008, o setor tem direito a redução de 20% para 10% na contribuição patronal ao INSS recolhida sobre empregados que atuem apenas no desenvolvimento de produtos e serviços exportados. Segundo Rolim, a Fazenda repassou à Previdência os R$ 32,3 milhões referentes à renúncia de receitas na área de tecnologia da informação. O recurso foi classificado como "cobertura de déficit" da Previdência. Ele defende que a transferência seja feita como "receita previdenciária". O efeito seria diferente sobre a contabilidade da pasta.

Ilude-se quem acha que controla o mercado

Ilude-se quem acha que controla o mercado
Muitos investidores, especialmente as pessoas físicas, se sentem tentados a controlar as suas aplicações em bolsa, o que em finanças comportamentais é conhecido como "ilusão de controle". Eles acreditam que, acompanhando de perto o movimento do mercado, conseguem comprar antes de as ações subirem e vender antes de haver uma onda de queda. Essa ambição de surfar apenas as boas ondas é ainda maior em momentos negativos da bolsa, como o atual, em que todo mundo deseja antecipar as horas de baixa, para fugir delas.Pesquisas recentes, no entanto, mostram que não passa realmente de uma vã ilusão a ideia de que o investidor consegue antever os movimentos. Os números revelam como são grandes as chances de se cometer erros nessa estratégia de entra e sai do mercado.Tentar antever o futuro é tarefa arriscada na bolsa"É praticamente impossível acertar o momento certo de vender e comprar", diz o estrategista de investimentos pessoais da Santander Asset Management e especialista em finanças comportamentais, Aquiles Mosca. "Quem se aventura a fazer isso corre um grande risco de perder os melhores movimentos da bolsa e ainda por cima participar dos piores", explica Mosca.Ou seja, tanta esperteza pode fazer o tiro sair pela culatra. Um levantamento feito pelo estrategista da Santander Asset com a Bovespa desde 1999 - quando começou a política de câmbio flutuante, metas de inflação e responsabilidade fiscal -, até maio deste ano, mostra que nesse período o Indice Bovespa apresentou um retorno médio anual de 20,26%.Para aqueles que tentaram adivinhar os movimentos, o resultado pode ter sido bem diferente. Pelos cálculos de Mosca, se o investidor deu muito azar nessa estratégia e perdeu as dez maiores altas do Ibovespa em cada um dos anos, teve um retorno médio anual de 13,36% ao ano. Esse ganho fica abaixo do retorno do CDI no período, que foi de 16,19% ao ano, segundo o estrategista.Se o investidor foi ainda mais azarado e perdeu as 20 maiores altas da Bovespa em cada um dos anos, o seu ganho médio anual recua dos 20,26% para 8,16%, abaixo do CDI e pouca coisa acima da inflação média do período, de 6,58% ao ano."A conclusão é que, se o investidor gosta de bolsa, precisa estar disposto a passar pelas realizações para ter certeza de que conseguirá capturar todos os movimentos de alta desde o começo", explica Mosca.Obviamente que proatividade vale tanto para o mal quanto para o bem. Entre 1999 a 2011, se o investidor teve muita sorte e conseguiu ficar fora dos dez piores pregões do ano, o retorno subiu de 20% para 29%.Como investimento é algo que deve ser levado a sério, aplicar em ações deve ir muito além de um jogo de sorte ou azar, como apontam os números acima.Segundo Mosca, apesar das orientações, os investidores menos preparados estão saindo da bolsa neste momento de incertezas. "Eles esquecem que correm um grande risco de perder uma boa parte da festa, na hora que o mercado resolver se recuperar", completa Mosca.

Freio na indústria deve afetar commodities

Freio na indústria deve afetar commodities
A produção industrial está desacelerando da China à Europa, tendência que deve pressionar para baixo os preços das commodities e pode conter uma nova rodada de alta nas taxas de juros.Em junho, a atividade industrial chinesa cresceu ao ritmo mais lento desde fevereiro de 2009. Já na zona do euro, o ritmo foi o menor em 18 meses. A produção alemã expandiu-se ao ritmo mais fraco em 17 meses. A freada repetiu-se no Reino Unido e na India. Itália, Irlanda, Espanha e Grécia apresentaram contração na indústria."Há uma ampla desaceleração ocorrendo no setor manufatureiro", disse Silvio Peruzzo, economista do Royal Bank of Scotland, em Londres. "Mas ainda é cedo demais para concluirmos que estamos na direção de um cenário em que a atividade irá se contrair."A exceção ficou por conta dos EUA. O índice ISM acelerou em junho, indo de 53,5 para 55,3. Isso indica que a indústria americana está se recuperando da escassez de partes e componentes importados do Japão, provocada pelo terremoto e tsunami de março.A Federação Chinesa de Logística e Compras informou que o seu Indice de Gerentes de Compras (PMI) ficou em 50,9 em junho - contra 52 em maio (qualquer número acima de 50 significa expansão do setor). A produção industrial, que responde por aproximadamente metade da economia chinesa, está esfriando por conta de políticas governamentais para conter a demanda por imóveis e carros, do racionamento de energia e de restrições ao crédito.O PMI para a indústria da zona do euro, calculado pelo instituto de pesquisas Markit, caiu para 52,0 em junho, o menor nível em um ano e meio. Em maio, o PMI da região havia ficado em 54,6.Em reação à desaceleração na produção, especialmente na China - o país é o maior consumidor de energia do mundo -, os preços de várias commodities caíram na sexta-feira. O petróleo caiu pela primeira vez em quadro dias. "O índice chinês é economicamente baixista e isso explica parte das vendas de hoje [sexta], já que os preços vinham subindo", disse Jason Schenker, presidente da Prestige Economics, em Austin (EUA).O índice GSCI da Standard & Poor's de 24 commodities caiu 0,7%. Catorze das commodities caíram, nove subiram e uma ficou estável. "Estou ouvindo de fundos hedge que há potencial para grande onda de vendas nas commodities. No mínimo, eles terão de começar a negociar com base mais em fundamentos de oferta e demanda e menos em fatores externos", disse Richard Ilczyszyn, estrategista-sênior da Lind-Waldock, de Chicago.

Exterior dá trégua e leva dólar à mínima em 12 anos

Exterior dá trégua e leva dólar à mínima em 12 anos
A aprovação das medidas de austeridade fiscal pelo Parlamento Grego e indicadores de atividade econômica animadores nos EUA determinaram a queda do dólar no mercado internacional e, principalmente, no Brasil. Há 12 anos a moeda americana não chegava a preço tão baixo. Na sexta-feira, era preciso R$ 1,558 para se comprar um dólar - menor valor desde 19 de janeiro de 1999, ano em que a moeda nacional passou a flutuar.A evolução do dólar reflete também o forte ingresso de divisas no país por basicamente dois filtros: aplicações de investidores estrangeiros interessados no juro real brasileiro e captações de recursos externos sobretudo por bancos. Nesse caso, o incentivo à captação é o juro baixo praticado nas maiores economias.Desde o último trimestre do ano passado, especialistas estão atentos à movimentação do governo brasileiro no sentido de conter o fluxo de capitais. As autoridades brasileiras basicamente elevaram as alíquotas do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF). Até por essa razão, persiste a expectativa de que o Ministério da Fazenda ou o Banco Central poderão adotar mais medidas para conter a apreciação do real. As declarações feitas pelo ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Fernando Pimentel, de que o aumento do IOF não foi suficiente para reduzir o fluxo de capitais ao Brasil, renovou as preocupações dos especialistas. "Com certeza, se não fossem tais ações [de aumento do IOF], o dólar poderia estar ainda mais desvalorizado. Agora, esperamos medidas do governo e uma atuação mais forte por parte do BC para breve", disse um operador de mercado que prefere não ser identificado."A curto prazo, o cenário não deve mudar, a tendência como um todo é de apreciação. Temos uma economia crescendo, com um sistema financeiro e bancário sólido e com taxas de juros elevadas: tudo o que é atrativo para capital externo. Enquanto houver excesso de liquidez, o Brasil continuará sendo um lugar interessante", disse Luis Otávio de Souza Leal, economista-chefe do Banco ABC Brasil. No fim da sexta-feira, o dólar apresentava desvalorização de 0,14% em relação a uma sexta composta por diferentes moedas do mundo."Há sim uma expectativa de novas medidas pela frente. Ainda não se sabe muito bem como, mas devem vir", diz Flávio Serrano, economista-sênior do Espírito Santo Investment Bank. Ele considera que o perfil do investimento não mudou: ainda que tenha ocorrido um aumento do investimento direto (que não paga IOF), muito desse dinheiro tem sido descolado para carteiras financeiras, o que impacta na cotação da moeda. "Uma empresa com sede estrangeira faz um aporte aqui e, se for esperar alguns meses para fazer o investimento, acaba indo para o mercado financeiro enquanto isso. Como não tem como carimbar esse dinheiro, é impossível saber o tamanho desse impacto", diz. No curto prazo, analistas consideram que os investidores, antes temerosos de um calote grego, agora voltam suas atenções para a votação da ampliação do teto de endividamento público nos EUA, assunto que tem gerado amplo debate político por lá. "À medida em que a economia americana melhorar, esse dinheiro deve voltar para lá aos poucos", diz Serrano.

Controvérsias e oportunidades

Controvérsias e oportunidades
O Valor brindou seus leitores com um profícuo debate sobre temas que inquietam os economistas brasileiros: juros elevadíssimos, instabilidade inflacionária e câmbio valorizado. Foram 11 textos de importantes economistas brasileiros. Os autores apresentaram visões diferentes sobre as causas da inconstância dessas variáveis e seus efeitos no equilíbrio macroeconômico, apesar de haver convergência nas soluções apresentadas. Há economistas que desejam refundar o capitalismo, eliminando o bem-estar promovido pelo Estado, optando pela liberdade de fluxos financeiros na economia e acreditando nas mãos invisíveis do mercado como elemento chave para encontrar o melhor equilíbrio macroeconômico. Trata-se de uma visão conservadora para não dizer romântica sobre a prática da teoria econômica. Mas, o pensamento predominante foi daqueles que não acreditam em milagres invisíveis, mas na visível mão do Estado eficiente e, por esse caminho, nas medidas e reformas econômicas e fiscais adaptativas em nova realidade econômica mundial. Esses economistas entendem que é da essência do capitalismo ser instável e imprevisível.Na teoria, juros elevados postergam o desejo de consumir e estimulam à propensão para poupar. No Brasil, com juros altos, os brasileiros consomem e com juros baixos consomem muito mais e poupam muito menos.Um aspecto considerado pela corrente majoritária de economistas é o fato de que a contínua expansão fiscal não produtiva (gastos correntes: salários e manutenção administrativa) tem causado um equilíbrio macroeconômico ruim, tornando as taxas de juros - a Selic e a do crédito ao consumidor- as mais elevadas do mundo; e câmbio, valorizado. Essa modalidade de expansão fiscal reduz a poupança nacional e aumenta a necessidade de empréstimos externos para financiar os déficits em conta-corrente do balanço de pagamentos. Esses fatores acarretam riscos macroeconômicos e desestimulam os brasileiros de poupar e os empresários de investir para o futuro. O único caminho é priorizar a eficiência da infraestrutura e da produtividade da indústria nacional Sem ser economista, o povo brasileiro percebe esse risco e acredita que a melhor forma de poupar é obter bens de capital. O futuro é agora. Da mesma forma, o aposentado: ele não está em um ponto de chegada na vida, mas em uma nova partida laboral. Ele tem condições físicas para continuar trabalhando. A receita da aposentadoria se torna um ganho extra e um consumo adicional. Portanto, são limitadas as condições de aumentar a poupança social, mas são factíveis o aumento da poupança nacional.Todos concordaram que a poupança cresce se os investimentos crescerem, pois estes geram emprego e renda. Há duas formas de aumentar os investimentos: reduzir os gastos correntes do governo federal e diminuir a carga tributária sobre os investimentos privados e sobre a folha de pagamento. A perda de receita tributária será compensada, no médio prazo, pelo crescimento do emprego e do produto. No curto prazo, a única forma de incrementar mais recursos à poupança nacional será por meio de investimentos na construção da infraestrutura (PAC 2) com recursos privados, securitizados, ampliando os recursos no mercado de capitais. Todas essas medidas poderão elevar a poupança nacional dos atuais 18% do PIB para algo em torno de 30% do PIB ao longo do governo da presidente Dilma. A inflação brasileira tem componentes internos e internacionais. Nesse aspecto, não houve discordância entre os economistas. No tocante à inflação interna, quase todos concordaram que o processo inflacionário decorre do desequilíbrio entre oferta e demanda agregada. Se houver restrições na expansão da oferta de bens e serviços, qualquer aumento na renda social ou nos gastos públicos se refletirá nos preços. Alem disso, há um fato novo que tem modificado o perfil da demanda e dos preços no país: a ascensão econômica de todas as classes sociais. Temos a inflação de demanda. Há também o fator de custos da produção, como a regra do aumento do salário mínimo em vigor, ou a excessiva carga tributária sobre os custos da produção influenciando a elevação do preço final do produto. Os preços administrados pelo setor público estão indexados, assim como os contratos de aluguel e os rendimentos de ativos financeiros obedecem a regras de indexação. Nisso consiste a inflação de custos.Concordaram os economistas que controlar as expectativas de preços futuros e manter as taxas de longo prazo maiores que as de curto prazo devem fazer parte da missão do Banco Central. Sabendo-se quais são as causas da "praga da inflação", não se estabilizam os preços unicamente por meio de medidas micro e macroprudenciais e juros altos, mas em conjunto com o maior rigor nos gastos públicos. Será inglória a tentativa de reduzir o custo da política monetária se não houver uma forte e contínua redução dos gastos correntes do governo federal. Os economistas pouco se detiveram sobre o câmbio. A inflação internacional está sendo alimentada pelo "privilégio exorbitante" de os Estados Unidos financiarem suas irresponsabilidades fiscais e crises de insolvência, emitindo a quantidade de dólares de que necessitam. A crise americana não se resolverá em menos de dois governos. O Fed sempre contou com a crença internacional de que os Estados Unidos nunca deixaram de pagar suas dívidas. No entanto, há o risco de as agências de rating rebaixarem a credibilidade desse país. Os tempos mudaram. Em face das incertezas internacionais e das causas do mau equilíbrio macroeconômico brasileiro, a desvalorização do dólar se estenderá por mais de uma década e o real continuará apreciado por um longo período de tempo. Em face disso, o único caminho a percorrer será adotar uma nova política industrial que contenha medidas que priorizem a eficiência da infraestrutura e da produtividade da indústria nacional. Um país sem um expressivo e eficiente setor industrial na composição do produto nacional não assegurará a competitividade de nenhum dos demais setores econômicos, pois todos dependem da indústria para sobreviver. O atual governo tem a oportunidade de transformar o Brasil em um país globalmente competitivo e assegurar a contínua ascensão social de todos os brasileiros. Para tanto, precisa-se buscar um equilíbrio macroeconômico melhor e previsível. Ernesto Lozardo é professor de Economia da EAESP-FGV e ex-Secretário de Planejamento e Gestão do Estado de São Paulo