Após oscilações, café na ICE consegue registrar ganhos modestos
Os contratos futuros de café arábica negociados na ICE Futures US encerraram esta quarta-feira com uma variação não uniforme. Enquanto a posição de maior liquidez conseguir garantir uma alta razoável, as demais posições ficaram próximas da estabilidade, com o dezembro tendo uma ligeira retração. Apesar dessas discrepâncias, o dia foi marcado por uma nova recuperação dos preços, após um início pressionado, que culminou no acionamento de algumas ordens de venda e com o consequente rompimento do nível psicológico de 260,00 centavos por libra, sem contudo, ter sido registrada uma força vendedora maior para se testar o suporte de 256,00 e 253,30 centavos por libra.
Ao longo da maior parte da manhã as cotações se mostraram em baixa, no entanto, com a não continuidade das liquidações, algumas compras e recompras passaram a ser observadas e o mercado se equilibrou, conseguindo, inclusive, altas mais pronunciadas para o contrato de maior liquidez. No cenário externo, o dia foi de altas. O índice CRB subiu 0,59% ao final dos negócios, amparado com ganhos expressivos dos mercados de commodities softs e de grãos. O milho teve mais de 3% de ganho, ao passo que a soja se valorizou mais de 1% e com o cacau tendo oscilação positiva de quase 1%. Nesse contexto, ainda que mais modestamente, o café conseguiu reverter o quadro inicial e fechou a quarta-feira com novos ganhos, num movimento ainda de recuperação após as fortes perdas da primeira sessão desta semana.
No encerramento do dia, o julho em Nova Iorque teve alta de 85 pontos com 263,85 centavos, sendo a máxima em 264,80 e a mínima em 258,00 centavos por libra, com o setembro registrando oscilação positiva de 10 pontos, com a libra a 266,50 centavos, sendo a máxima em 267,30 e a mínima em 261,45 centavos por libra. Na Euronext/Liffe, em Londres, a posição julho registrou alta de 11 dólares, com 2.444 dólares por tonelada, com o setembro tendo valorização de 12 dólares, com 2.491 dólares por tonelada.
Segundo analistas internacionais, o dia só não foi mais sólido para as commodities devido ao dólar, que, após sucessivas retrações, teve uma quarta-feira de ganhos. Operadores indicaram que, apesar das alegações um tanto quanto pessimistas quanto à recuperação econômica apresentadas na última segunda-feira pelo Federal Reserve, a percepção é que essa instituição econômica não deverá adotar medidas que afetem o atual quadro, ao menos no curto prazo. Essa demonstração de manutenção de rumo foi lida como positiva para o mercado e influenciou o dólar. No café, a influência do dólar em alta se reflete em compras mais modestas. "Diante da recuperação que verificamos na segunda metade do dia, a expectativa era que tivéssemos até ganhos mais consistentes caso o dólar não tivesse fechado com essa alta de mais de 0,50% em relação a uma cesta de divisas internacionais. Apesar disso, no after-hours conseguimos ampliar os ganhos", disse um trader.
Um operador ressaltou que, apesar de não haver previsão de geadas para os próximos dias no centro-sul do Brasil, o mercado continua bastante atento ao clima. O temor da chegada de massas de ar polar se amplia acentuadamente a partir de agora e, além disso, algumas zonas produtoras reportaram chuvas. "Este período é tradicionalmente seco e as chuvas afetam, certamente, o bom andamento do processo de secagem dos grãos que estão sendo colhidos neste momento", sustentou.
As exportações de café do Brasil em junho, até o dia 7, somaram 275.504 sacas, contra 77.839 sacas registradas no mesmo período de maio, informou o Cecafé (Conselho dos Exportadores de Café do Brasil).
Os estoques certificados de café na bolsa de Nova Iorque tiveram queda de 135 sacas indo para 1.671.409 sacas. O volume negociado no dia na ICE Futures US foi estimado em 30.715 lotes, com as opções tendo 3.245 calls e 2.642 puts. Tecnicamente, o julho na ICE Futures US tem uma resistência em 264,80, 265,00, 265,50, 266,00, 266,50, 267,00, 267,50, 268,00, 268,50, 269,00, 269,50, 269,90-270,00, 270,50 e 270,75 centavos de dólar por libra peso, com o suporte em 258,00, 257,50, 257,00, 256,50, 256,00, 255,50, 255,10-255,00, 254,50, 254,00, 253,50 e 253,00 centavos por libra.
quarta-feira, 8 de junho de 2011
Falta de mão de obra afeta colheita de café
Falta de mão de obra afeta colheita de café
Há atraso no Espírito Santo, responsável por 25% da produção; em Minas, o gasto com o trabalhador aumentou
Escolarização leva a população rural a buscar trabalhos mais atrativos, segundo cooperativas do setor
A falta de mão de obra para a colheita de café traz problemas aos cafeicultores das principais regiões produtoras do país.
No Espírito Santo -responsável por 25% da produção brasileira-, a escassez atrasa a colheita. Já em Minas Gerais, líder nacional e responsável pela colheita de 50% do café, a mão de obra está mais cara.
De acordo com cooperativas de cafeicultores, o problema é reflexo do aumento da escolarização da população rural, que busca trabalhos mais atrativos e de remuneração maior.
No Espírito Santo, as indústrias de tecelagem e de extração de mármore e de granito são as que mais atraem trabalhadores, diz Antonio Joaquim Neto, presidente da Cooabriel (Cooperativa Agrária de São Gabriel).
Em Minas, o trabalhador recebe 46% a mais por dia de trabalho. Se ano passado eles ganhavam em média R$ 65, agora pedem R$ 95, diz Marciane Gonçalves, técnica agrícola da Cooxupe (Cooperativa de Cafei- cultores de Guaxupé).
Na região da Alta Mogiana em São Paulo, Estado com 8% da produção nacional, a falta de mão de obra durante a colheita já é percebida há cerca de três anos.
Os trabalhadores são atraídos pela indústria calçadista de Franca (400 km de São Paulo) ou por culturas que demandam trabalho o ano inteiro, como a cana. O café oferece trabalho temporário por três meses ao ano.
Há atraso no Espírito Santo, responsável por 25% da produção; em Minas, o gasto com o trabalhador aumentou
Escolarização leva a população rural a buscar trabalhos mais atrativos, segundo cooperativas do setor
A falta de mão de obra para a colheita de café traz problemas aos cafeicultores das principais regiões produtoras do país.
No Espírito Santo -responsável por 25% da produção brasileira-, a escassez atrasa a colheita. Já em Minas Gerais, líder nacional e responsável pela colheita de 50% do café, a mão de obra está mais cara.
De acordo com cooperativas de cafeicultores, o problema é reflexo do aumento da escolarização da população rural, que busca trabalhos mais atrativos e de remuneração maior.
No Espírito Santo, as indústrias de tecelagem e de extração de mármore e de granito são as que mais atraem trabalhadores, diz Antonio Joaquim Neto, presidente da Cooabriel (Cooperativa Agrária de São Gabriel).
Em Minas, o trabalhador recebe 46% a mais por dia de trabalho. Se ano passado eles ganhavam em média R$ 65, agora pedem R$ 95, diz Marciane Gonçalves, técnica agrícola da Cooxupe (Cooperativa de Cafei- cultores de Guaxupé).
Na região da Alta Mogiana em São Paulo, Estado com 8% da produção nacional, a falta de mão de obra durante a colheita já é percebida há cerca de três anos.
Os trabalhadores são atraídos pela indústria calçadista de Franca (400 km de São Paulo) ou por culturas que demandam trabalho o ano inteiro, como a cana. O café oferece trabalho temporário por três meses ao ano.
IBGE APONTA SAFRA DE 2,649 MILHÕES DE TONELADAS EM 2011
IBGE APONTA SAFRA DE 2,649 MILHÕES DE TONELADAS EM 2011
A estimativa para a safra que começou a ser colhida em maio
totaliza 2.649.055 t, ou 44,2 milhões de sacas de 60kg do produto em grãos
beneficiados, um acréscimo de 3,5% em relação a abril. A área total com a
cultura no país cresceu 0,1%, a área destinada à colheita, 0,5%, e o
rendimento médio, 3,0% em relação à estimativa anterior. No comparativo com
o ano anterior, a área destinada à colheita é 1,2% inferior. Com
informações do Departamento de Comunicação Social do IBGE
A estimativa para a safra que começou a ser colhida em maio
totaliza 2.649.055 t, ou 44,2 milhões de sacas de 60kg do produto em grãos
beneficiados, um acréscimo de 3,5% em relação a abril. A área total com a
cultura no país cresceu 0,1%, a área destinada à colheita, 0,5%, e o
rendimento médio, 3,0% em relação à estimativa anterior. No comparativo com
o ano anterior, a área destinada à colheita é 1,2% inferior. Com
informações do Departamento de Comunicação Social do IBGE
STJ anula toda a Operação Satiagraha
STJ anula toda a Operação Satiagraha
Segundo decisão da Corte, prisão de Daniel Dantas ocorreu a partir de provas ilegais obtidas com presença indevida da Abin
O Superior Tribunal de Justiça (STJ) anulou a Operação Satiagraha, deflagrada pela Polícia Federal em julho de 2008, atendendo a um pedido de habeas corpus do banqueiro Daniel Dantas, do grupo Opportunity. A operação tinha resultado na condenação de Dantas a 10 anos de prisão, por corrupção. A decisão de ontem, por sua vez, anulou provas e a condenação do banqueiro. Os ministros da Quinta Turma entenderam, por maioria de 3 votos a 2, que a operação foi comprometida devido à participação da Agência Brasileira de Inteligência (Abin). Outros inquéritos e ações penais que tiveram como base a Operação Satiagraha poderão ser influenciados pela decisão do STJ, se forem alvo de recurso no Supremo Tribunal Federal.
Os argumentos da defesa de Dantas tinham sido negados pelo Tribunal Regional Federal da 3ª Região, e o julgamento teve início no STJ em março deste ano. Até ontem, a votação na corte estava empatada quando, às 19h15, o presidente da turma, Jorge Mussi, decidiu em favor do banqueiro. Para Mussi, a participação da Abin só seria permitida com autorização da Justiça.
Freio
"Não é possível que esse arremedo de prova, colhido de forma impalpável, possa levar a uma condenação. Essa volúpia desenfreada pela produção de provas acaba por ferir de morte a Constituição. É preciso que se dê um basta, colocando freios nisso antes que seja tarde. Coitado do país em que seus filhos vierem a ser condenados com provas colhidas na ilegalidade", afirmou Mussi. Os ministros Gilson Dipp e Laurita Vaz defenderam a manutenção das provas. Para eles, os autos não sustentavam a participação da Abin nas investigações. Procuradas pela reportagem, a Abin e a Polícia Federal não comentaram a decisão.
A condenação de Daniel Dantas tinha sido decidida pelo juiz Fausto De Sanctis, da 6ª Vara Federal Criminal de São Paulo. O banqueiro, por sua vez, abriu processo contra o desembargador, que foi acusado de desobedecer decisões do Supremo Tribunal Federal (STF) e negar informações sigilosas sobre a investigação. Ontem, o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) arquivou o processo disciplinar contra o magistrado. Por unanimidade, os conselheiros do CNJ entenderam que o juiz desrespeitou o STF e mereceria pena de censura. No entanto, a lei não prevê esse tipo de punição para desembargadores — durante a operação da PF, Dantas foi preso e libertado por decisão liminar do então presidente do STF, ministro Gilmar Mendes. De Sanctis determinou novamente a prisão preventiva de Dantas, alegando novos fatos.
Segundo decisão da Corte, prisão de Daniel Dantas ocorreu a partir de provas ilegais obtidas com presença indevida da Abin
O Superior Tribunal de Justiça (STJ) anulou a Operação Satiagraha, deflagrada pela Polícia Federal em julho de 2008, atendendo a um pedido de habeas corpus do banqueiro Daniel Dantas, do grupo Opportunity. A operação tinha resultado na condenação de Dantas a 10 anos de prisão, por corrupção. A decisão de ontem, por sua vez, anulou provas e a condenação do banqueiro. Os ministros da Quinta Turma entenderam, por maioria de 3 votos a 2, que a operação foi comprometida devido à participação da Agência Brasileira de Inteligência (Abin). Outros inquéritos e ações penais que tiveram como base a Operação Satiagraha poderão ser influenciados pela decisão do STJ, se forem alvo de recurso no Supremo Tribunal Federal.
Os argumentos da defesa de Dantas tinham sido negados pelo Tribunal Regional Federal da 3ª Região, e o julgamento teve início no STJ em março deste ano. Até ontem, a votação na corte estava empatada quando, às 19h15, o presidente da turma, Jorge Mussi, decidiu em favor do banqueiro. Para Mussi, a participação da Abin só seria permitida com autorização da Justiça.
Freio
"Não é possível que esse arremedo de prova, colhido de forma impalpável, possa levar a uma condenação. Essa volúpia desenfreada pela produção de provas acaba por ferir de morte a Constituição. É preciso que se dê um basta, colocando freios nisso antes que seja tarde. Coitado do país em que seus filhos vierem a ser condenados com provas colhidas na ilegalidade", afirmou Mussi. Os ministros Gilson Dipp e Laurita Vaz defenderam a manutenção das provas. Para eles, os autos não sustentavam a participação da Abin nas investigações. Procuradas pela reportagem, a Abin e a Polícia Federal não comentaram a decisão.
A condenação de Daniel Dantas tinha sido decidida pelo juiz Fausto De Sanctis, da 6ª Vara Federal Criminal de São Paulo. O banqueiro, por sua vez, abriu processo contra o desembargador, que foi acusado de desobedecer decisões do Supremo Tribunal Federal (STF) e negar informações sigilosas sobre a investigação. Ontem, o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) arquivou o processo disciplinar contra o magistrado. Por unanimidade, os conselheiros do CNJ entenderam que o juiz desrespeitou o STF e mereceria pena de censura. No entanto, a lei não prevê esse tipo de punição para desembargadores — durante a operação da PF, Dantas foi preso e libertado por decisão liminar do então presidente do STF, ministro Gilmar Mendes. De Sanctis determinou novamente a prisão preventiva de Dantas, alegando novos fatos.
Endividamentos virtuosos?
Endividamentos virtuosos?
Os endividamentos podem ser ou não virtuosos. Em busca das virtudes, podemos
decompor em três grupos os devedores: o setor público, as empresas e as
famílias. É fácil entender que, na trama de funcionamento de uma economia
complexa, são múltiplas as relações de débito-crédito entre seus integrantes.
Na perspectiva do devedor, ele é responsável pela quitação da dívida, segundo
as condições acordadas em termos de juros, parcelas de quitação e prazos. Na
perspectiva do credor, ele é proprietário de um item de riqueza na magnitude do
seu empréstimo. A dívida depende de o devedor honrá-la e, quase sempre, há
alguma garantia adicional que reforça a "confiança" do credor: fianças,
hipotecas e cauções.
Vejamos relações de débito-crédito virtuosas. A dívida do setor público é
geralmente constituída de uma componente de títulos de dívida do Tesouro e
restos a pagar. A receita do Tesouro é constituída por variados impostos cuja
arrecadação reflete o desempenho da economia. Haverá virtude se for para
financiar investimentos públicos e/ou gastos sociais. O investimento público
predominante em infraestrutura energética, logística e de comunicações tem o
mérito de estimular o investimento das empresas; a economia cresce, criam-se
novas atividades, empregos e aumentam os salários e rendas de capital - logo,
eleva a arrecadação. O aumento da atividade e do crescimento das forças
produtivas foi estimulado pela iniciativa pública e o pagamento do serviço da
dívida será feito com o aumento da arrecadação fiscal. Gastos sociais que
protejam e aperfeiçoem a população têm o duplo mérito de melhorar a qualidade
de vida e qualificar os nacionais em suas múltiplas dimensões.
O endividamento das empresas é virtuoso quando permite a normalidade do
processo produtivo e/ou a ampliação ou aperfeiçoamento da capacidade produtiva
de bens e de serviços. Normalmente, se a empresa se endividar e corretamente
obtiver lucros de suas atividades, poderá quitar os empréstimos, notadamente
aqueles contraídos para a ampliação da capacidade produtiva e aperfeiçoamento
tecnológico de processos e produtos em sua atividade. Tal como no endividamento
público supracitado, gerará encomendas nos setores que estão ligados aos
investimentos realizados.
A política monetária vê na ampliação do crescimento algo que estimula o
processo inflacionário
Finalmente, a família pode se endividar comprando a casa própria e, nesse caso,
fora a qualidade de vida, obterá a redução de gastos com aluguéis e,
provavelmente, no futuro poderá vir a ter um ganho patrimonial. Em tese, é
igualmente meritória a dívida ligada à qualificação profissional. O trabalhador
autônomo pode se endividar para comprar os instrumentos de sua atividade, como
o taxista para comprar um veículo; o artesão para ferramentas; a quituteira
ingredientes para fazer doces, etc. O autônomo faz, em escala reduzida, o mesmo
que a empresa que se endivida virtuosamente.
Não é virtuoso o endividamento do setor público para pagar o serviço da dívida.
Quando o juro básico cresce, o montante do serviço da dívida se expande e,
frente ao não crescimento ou ao medíocre desempenho da economia, se expande o
peso da dívida pública. Esse tem sido o caso do Brasil, aonde o Estado
privatizou e permitiu a desnacionalização em massa de setores-chave da economia
brasileira, sem ter reduzido o peso da dívida pública. É extremamente
inquietante saber que o Brasil ocupa o podium mundial de taxas de juros. É
particularmente cruel a entrada de aplicadores estrangeiros e o crescimento das
reservas internacionais do Banco Central. Essa é uma operação perdedora para o
Tesouro nacional, pois paga uma taxa de juros elevada e recebe pelas aplicações
das reservas brasileiras uma remuneração insignificante. Nosso Banco Central
aplica o grosso de suas reservas em obrigações do tesouro americano e, assim
sendo, temos uma sangria financeira.
As empresas brasileiras estão vivendo em uma economia de lento crescimento cuja
retomada tem prazo curto (o conhecido voo de galinha) dado que nossa política
monetária vê na ampliação do crescimento um aquecimento que estimula o processo
inflacionário e eleva os juros para encurtar e desanimar a tomada de crédito.
Qualquer empresário sabe do risco de se endividar para ampliar e melhorar a
produção. Na verdade, o sonho de qualquer empresa brasileira é não ter dívidas
e, pelo contrário, desfrutar de aplicações financeiras saborosas. É péssimo
para o país a empresa que, em última instância, pretende ampliar seu patrimônio
com empréstimos a terceiros, seja adquirindo títulos e dívida pública, seja
emprestando a outras empresas ou a famílias. A empresa, quando desloca seu
olhar da renda e lucros operacionais para pretender a renda não operacional e
os ganhos patrimoniais com especulação financeira, presta um desserviço à
sociedade como um todo. Claro que ela dirá a seu favor que a política
macroeconômica a empurra para essa atitude e que sua sobrevivência como empresa
depende da qualidade de seu patrimônio não produtivo.
A família que se endivida (à exceção da compra da casa própria, qualificação
profissional ou instrumentos de trabalho) comprando objeto de desejo como
automóvel, eletrodoméstico, mobiliário e amplia seus gastos; antecipa um sonho
e assume o ônus das parcelas de dívida, que dependem da estabilidade dos
empregos e rendas familiares. São dívidas para itens que se depreciam, como o
automóvel zero quilômetro que, ao sair da agência já perde 20% de seu valor.
Das formas de endividamento familiar, a mais perversa é operar com cartões de
crédito e lançar mão do cheque especial. Muitas famílias brasileiras se
endividam nessas modalidades com gastos ligados ao cotidiano e pretendem sua
quitação com o 13 salário. Sondagem feita em maio de 2011 pela Confederação
Nacional de Comércio sobre endividamento familiar situou em 64,2% o índice de
famílias brasileira endividadas, que em 2010 era de 58,7%. Das famílias
endividadas, 17,5% se disseram sem "oxigênio". A taxa de juros média subiu nos
cartões de crédito e no cheque especial quase atingiu 200% ao ano.
Foi extremamente veloz o crescimento do endividamento familiar. O nível de
atividade da economia brasileira neste novo milênio esteve calcado nesse
componente. Por exemplo, a população automobilística cresceu 9% ao ano durante
dez anos; houve momentos em que foi possível comprar em 90 prestações. Os
congestionamentos urbanos e as mortes nas rodovias estão ligados a essa
explosão de veículos desacompanhada de melhorias intra e interurbanas.
O consumidor brasileiro que se endivida com leque de juros brutalmente
elevados, é uma figura bem-vinda aos financiadores. Afinal, o brasileiro não
olha o juro embutido e somente considera o tamanho da prestação.
Ser inadimplente é um fantasma para qualquer família, pois o "nome sujo" lhe
veta o acesso aos objetos de desejo. É óbvio que nenhum prestamista (banco ou
empresa) gosta das famílias inadimplentes, a não ser como pretexto para
justificar juros leoninos. Está em processamento o chamado Cadastro Positivo de
Bons Pagadores. Algumas leituras desse cadastro em combinação com a política
monetária podem representar uma ameaça às famílias endividadas, principalmente
àquelas que rolam sua dívida até o 13 salário ou na esperança de algum ganho
ocasional.
O endividamento, no Brasil, não tem sido virtuoso neste novo milênio.
Carlos F. T. M. Ribeiro de Lessa é professor emérito de economia brasileira e
ex-reitor da UFRJ. Foi presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento
Econômico e Social - BNDES
Os endividamentos podem ser ou não virtuosos. Em busca das virtudes, podemos
decompor em três grupos os devedores: o setor público, as empresas e as
famílias. É fácil entender que, na trama de funcionamento de uma economia
complexa, são múltiplas as relações de débito-crédito entre seus integrantes.
Na perspectiva do devedor, ele é responsável pela quitação da dívida, segundo
as condições acordadas em termos de juros, parcelas de quitação e prazos. Na
perspectiva do credor, ele é proprietário de um item de riqueza na magnitude do
seu empréstimo. A dívida depende de o devedor honrá-la e, quase sempre, há
alguma garantia adicional que reforça a "confiança" do credor: fianças,
hipotecas e cauções.
Vejamos relações de débito-crédito virtuosas. A dívida do setor público é
geralmente constituída de uma componente de títulos de dívida do Tesouro e
restos a pagar. A receita do Tesouro é constituída por variados impostos cuja
arrecadação reflete o desempenho da economia. Haverá virtude se for para
financiar investimentos públicos e/ou gastos sociais. O investimento público
predominante em infraestrutura energética, logística e de comunicações tem o
mérito de estimular o investimento das empresas; a economia cresce, criam-se
novas atividades, empregos e aumentam os salários e rendas de capital - logo,
eleva a arrecadação. O aumento da atividade e do crescimento das forças
produtivas foi estimulado pela iniciativa pública e o pagamento do serviço da
dívida será feito com o aumento da arrecadação fiscal. Gastos sociais que
protejam e aperfeiçoem a população têm o duplo mérito de melhorar a qualidade
de vida e qualificar os nacionais em suas múltiplas dimensões.
O endividamento das empresas é virtuoso quando permite a normalidade do
processo produtivo e/ou a ampliação ou aperfeiçoamento da capacidade produtiva
de bens e de serviços. Normalmente, se a empresa se endividar e corretamente
obtiver lucros de suas atividades, poderá quitar os empréstimos, notadamente
aqueles contraídos para a ampliação da capacidade produtiva e aperfeiçoamento
tecnológico de processos e produtos em sua atividade. Tal como no endividamento
público supracitado, gerará encomendas nos setores que estão ligados aos
investimentos realizados.
A política monetária vê na ampliação do crescimento algo que estimula o
processo inflacionário
Finalmente, a família pode se endividar comprando a casa própria e, nesse caso,
fora a qualidade de vida, obterá a redução de gastos com aluguéis e,
provavelmente, no futuro poderá vir a ter um ganho patrimonial. Em tese, é
igualmente meritória a dívida ligada à qualificação profissional. O trabalhador
autônomo pode se endividar para comprar os instrumentos de sua atividade, como
o taxista para comprar um veículo; o artesão para ferramentas; a quituteira
ingredientes para fazer doces, etc. O autônomo faz, em escala reduzida, o mesmo
que a empresa que se endivida virtuosamente.
Não é virtuoso o endividamento do setor público para pagar o serviço da dívida.
Quando o juro básico cresce, o montante do serviço da dívida se expande e,
frente ao não crescimento ou ao medíocre desempenho da economia, se expande o
peso da dívida pública. Esse tem sido o caso do Brasil, aonde o Estado
privatizou e permitiu a desnacionalização em massa de setores-chave da economia
brasileira, sem ter reduzido o peso da dívida pública. É extremamente
inquietante saber que o Brasil ocupa o podium mundial de taxas de juros. É
particularmente cruel a entrada de aplicadores estrangeiros e o crescimento das
reservas internacionais do Banco Central. Essa é uma operação perdedora para o
Tesouro nacional, pois paga uma taxa de juros elevada e recebe pelas aplicações
das reservas brasileiras uma remuneração insignificante. Nosso Banco Central
aplica o grosso de suas reservas em obrigações do tesouro americano e, assim
sendo, temos uma sangria financeira.
As empresas brasileiras estão vivendo em uma economia de lento crescimento cuja
retomada tem prazo curto (o conhecido voo de galinha) dado que nossa política
monetária vê na ampliação do crescimento um aquecimento que estimula o processo
inflacionário e eleva os juros para encurtar e desanimar a tomada de crédito.
Qualquer empresário sabe do risco de se endividar para ampliar e melhorar a
produção. Na verdade, o sonho de qualquer empresa brasileira é não ter dívidas
e, pelo contrário, desfrutar de aplicações financeiras saborosas. É péssimo
para o país a empresa que, em última instância, pretende ampliar seu patrimônio
com empréstimos a terceiros, seja adquirindo títulos e dívida pública, seja
emprestando a outras empresas ou a famílias. A empresa, quando desloca seu
olhar da renda e lucros operacionais para pretender a renda não operacional e
os ganhos patrimoniais com especulação financeira, presta um desserviço à
sociedade como um todo. Claro que ela dirá a seu favor que a política
macroeconômica a empurra para essa atitude e que sua sobrevivência como empresa
depende da qualidade de seu patrimônio não produtivo.
A família que se endivida (à exceção da compra da casa própria, qualificação
profissional ou instrumentos de trabalho) comprando objeto de desejo como
automóvel, eletrodoméstico, mobiliário e amplia seus gastos; antecipa um sonho
e assume o ônus das parcelas de dívida, que dependem da estabilidade dos
empregos e rendas familiares. São dívidas para itens que se depreciam, como o
automóvel zero quilômetro que, ao sair da agência já perde 20% de seu valor.
Das formas de endividamento familiar, a mais perversa é operar com cartões de
crédito e lançar mão do cheque especial. Muitas famílias brasileiras se
endividam nessas modalidades com gastos ligados ao cotidiano e pretendem sua
quitação com o 13 salário. Sondagem feita em maio de 2011 pela Confederação
Nacional de Comércio sobre endividamento familiar situou em 64,2% o índice de
famílias brasileira endividadas, que em 2010 era de 58,7%. Das famílias
endividadas, 17,5% se disseram sem "oxigênio". A taxa de juros média subiu nos
cartões de crédito e no cheque especial quase atingiu 200% ao ano.
Foi extremamente veloz o crescimento do endividamento familiar. O nível de
atividade da economia brasileira neste novo milênio esteve calcado nesse
componente. Por exemplo, a população automobilística cresceu 9% ao ano durante
dez anos; houve momentos em que foi possível comprar em 90 prestações. Os
congestionamentos urbanos e as mortes nas rodovias estão ligados a essa
explosão de veículos desacompanhada de melhorias intra e interurbanas.
O consumidor brasileiro que se endivida com leque de juros brutalmente
elevados, é uma figura bem-vinda aos financiadores. Afinal, o brasileiro não
olha o juro embutido e somente considera o tamanho da prestação.
Ser inadimplente é um fantasma para qualquer família, pois o "nome sujo" lhe
veta o acesso aos objetos de desejo. É óbvio que nenhum prestamista (banco ou
empresa) gosta das famílias inadimplentes, a não ser como pretexto para
justificar juros leoninos. Está em processamento o chamado Cadastro Positivo de
Bons Pagadores. Algumas leituras desse cadastro em combinação com a política
monetária podem representar uma ameaça às famílias endividadas, principalmente
àquelas que rolam sua dívida até o 13 salário ou na esperança de algum ganho
ocasional.
O endividamento, no Brasil, não tem sido virtuoso neste novo milênio.
Carlos F. T. M. Ribeiro de Lessa é professor emérito de economia brasileira e
ex-reitor da UFRJ. Foi presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento
Econômico e Social - BNDES
IBGE: Estoque de café em 31 de dezembro de 2010 estava em 17,934 milhões de saca
IBGE: Estoque de café em 31 de dezembro de 2010 estava em 17,934 milhões de saca
No segundo semestre de 2010, a Pesquisa de Estoques indica que houve avanço de 3,5% no número de estabelecimentos ativos em relação ao primeiro trimestre, segundo informou, nesta quarta-feira (8) o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Os maiores estoques registrados em 31 de dezembro de 2010 foram os de milho em grão (7.879.753 t), de trigo em grão (6.026.097 t), de soja em grão (4.214.744 t), de arroz em casca (2.536.411) e os de café em grão (1.076.260 t), que representa 17,934 milhões de sacas de café. Em relação aos estoques de 31 de dezembro de 2009, o café cresceu 5,1%. No final do segundo semestre, a rede armazenadora de produtos agrícolas contava com 9.092 estabelecimentos ativos: 43,9% encontravam-se na região Sul, 22,9% na região Sudeste, 21,6% na Centro-Oeste, 8,3% na Nordeste e 3,3% na região Norte. Segundo o IBGE, a capacidade útil dos armazéns convencionais, estruturais e infláveis somou 78.834.250 metros cúbicos - pouco mais de 70% estava concentrado nas regiões Sudeste e Sul. Os armazéns graneleiros e granelizados totalizaram 55.639.166 toneladas de capacidade útil - a região Centro-Oeste concentrou 49,2% desta capacidade e a Sul, 33,6%. Os silos para grãos registraram 50.093.522 toneladas de capacidade útil total - região Sul deteve 56,6% deste total e as regiões Centro-Oeste e Sudeste 25,6% e 12,8%, respectivamente.
No segundo semestre de 2010, a Pesquisa de Estoques indica que houve avanço de 3,5% no número de estabelecimentos ativos em relação ao primeiro trimestre, segundo informou, nesta quarta-feira (8) o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Os maiores estoques registrados em 31 de dezembro de 2010 foram os de milho em grão (7.879.753 t), de trigo em grão (6.026.097 t), de soja em grão (4.214.744 t), de arroz em casca (2.536.411) e os de café em grão (1.076.260 t), que representa 17,934 milhões de sacas de café. Em relação aos estoques de 31 de dezembro de 2009, o café cresceu 5,1%. No final do segundo semestre, a rede armazenadora de produtos agrícolas contava com 9.092 estabelecimentos ativos: 43,9% encontravam-se na região Sul, 22,9% na região Sudeste, 21,6% na Centro-Oeste, 8,3% na Nordeste e 3,3% na região Norte. Segundo o IBGE, a capacidade útil dos armazéns convencionais, estruturais e infláveis somou 78.834.250 metros cúbicos - pouco mais de 70% estava concentrado nas regiões Sudeste e Sul. Os armazéns graneleiros e granelizados totalizaram 55.639.166 toneladas de capacidade útil - a região Centro-Oeste concentrou 49,2% desta capacidade e a Sul, 33,6%. Os silos para grãos registraram 50.093.522 toneladas de capacidade útil total - região Sul deteve 56,6% deste total e as regiões Centro-Oeste e Sudeste 25,6% e 12,8%, respectivamente.
Estoques de soja, trigo e café em 2010 crescem frente a 2009
Os resultados da Pesquisa de Estoques do segundo semestre de 2010 indicam que houve um acréscimo de 3,5% no número de estabelecimentos ativos, comparativamente ao primeiro semestre. No final do segundo semestre, a rede armazenadora de produtos agrícolas contava com 9.092 estabelecimentos ativos, dos quais 43,9% encontravam-se na região Sul, 22,9% na região Sudeste, 21,6% na Centro-Oeste, 8,3% na Nordeste e 3,3% na região Norte.
A capacidade útil dos armazéns convencionais, estruturais e infláveis somou 78.834.250 metros cúbicos, sendo que pouco mais de 70,0% estava concentrado nas regiões Sudeste e Sul. Os armazéns graneleiros e granelizados totalizaram 55.639.166 toneladas de capacidade útil, sendo que a região Centro-Oeste deteve 49,2% desta capacidade e a Sul, 33,6%. Os silos para grãos apresentaram 50.093.522 toneladas de capacidade útil total, detendo a região Sul 56,6% deste total e as regiões Centro-Oeste e Sudeste 25,6% e 12,8%, respectivamente.
Os maiores estoques registrados em 31 de dezembro de 2010 foram os de milho em grão (7.879.753 t), de trigo em grão (6.026.097 t), de soja em grão (4.214.744 t), de arroz em casca (2.536.411) e os de café em grão (1.076.260 t). Comparados com os estoques de 31 de dezembro de 2009, soja, trigo e café cresceram 113,7%, 15,6% e 5,1%, respectivamente, enquanto os estoques de arroz e de milho apresentaram queda de 2,1% e de 24,3%.
A capacidade útil dos armazéns convencionais, estruturais e infláveis somou 78.834.250 metros cúbicos, sendo que pouco mais de 70,0% estava concentrado nas regiões Sudeste e Sul. Os armazéns graneleiros e granelizados totalizaram 55.639.166 toneladas de capacidade útil, sendo que a região Centro-Oeste deteve 49,2% desta capacidade e a Sul, 33,6%. Os silos para grãos apresentaram 50.093.522 toneladas de capacidade útil total, detendo a região Sul 56,6% deste total e as regiões Centro-Oeste e Sudeste 25,6% e 12,8%, respectivamente.
Os maiores estoques registrados em 31 de dezembro de 2010 foram os de milho em grão (7.879.753 t), de trigo em grão (6.026.097 t), de soja em grão (4.214.744 t), de arroz em casca (2.536.411) e os de café em grão (1.076.260 t). Comparados com os estoques de 31 de dezembro de 2009, soja, trigo e café cresceram 113,7%, 15,6% e 5,1%, respectivamente, enquanto os estoques de arroz e de milho apresentaram queda de 2,1% e de 24,3%.
Commodities Agrícolas
Commodities Agrícolas
Influência do dólar
Os contratos futuros do café com vencimento em setembro
encerraram o pregão de ontem a US$ 2,6640 por libra-peso na bolsa de Nova York,
com alta de 260 pontos, após uma forte queda no pregão anterior. De acordo com
analistas ouvidos pela Dow Jones Newswires, o resultado se deveu à
desvalorização do dólar, que torna os produtos americanos mais atraentes para
investidores estrangeiros. Rodrigo Costa, analista da Newedge, observou, porém
que há poucas notícias sobre uma potencial geada no Brasil antes do início da
colheita, em meados de junho, por isso o arábica tende a continuar pressionado.
No mercado doméstico, o indicador Cepea/Esalq para a saca de 60 quilos do café
ficou em R$ 528,56, com alta de 1,95%. Em junho, o café já acumula uma
desvalorização de 0,54%.
Demanda menor
Os futuros do algodão fecharam ontem com a maior queda permitida
na bolsa de Nova York. De acordo com a Bloomberg, isso se deveu a sinais de que
a demanda internacional pela fibra americana poderá desacelerar. Os EUA são os
maiores exportadores mundiais de algodão. Na semana passada, os compradores
estrangeiros cancelaram 46.035 fardos encomendados no ano fiscal encerrado em
31 de julho. "Não há sinais de melhora na demanda", disse Chris Kramedjian,
consultor de risco da FCStone Fibers & Textiles, em entrevista à agência. Em
Nova York, os papéis com vencimento em outubro encerraram a US$ 1,3883 por
libra-peso, recuo de 700 pontos. No mercado doméstico, o indicador Cepea/Esalq
para o algodão ficou em R$ 2,3419 por libra-peso, com alta de 0,03%.
Estoques inalterados
Os contratos futuros de soja com vencimento em agosto
encerraram o pregão de ontem a US$ 13,88 por bushel na bolsa de Chicago, com
alta de 10,25 centavos de dólar. O resultado foi influenciado pela expectativa
do mercado de que o Departamento de Agricultura dos EUA (USDA) faça mudanças
pequenas em sua projeção sobre abastecimento da soja no próximo relatório sobre
a safra atual, que sai amanhã. O órgão deverá fazer um modesto aumento nos
estoques. Segundo 19 analistas e traders ouvidos pela Bloomberg, a expectativa
é de uma oferta de 173 milhões de bushels. Já no mercado doméstico, o indicador
Esalq/BM&FBovespa para a saca de 60 quilos ficou em R$ 47,88, com queda de
2,17%. No mês, a oleaginosa já acumula desvalorização de 2,29%.
Produção maior
Previsão divulgada pela FAO, a agência das Nações Unidas para
Agricultura e Alimentação, de aumento na produção global de trigo nesta safra
fez os futuros do cereal recuarem mais uma vez ontem no mercado americano. Na
bolsa de Chicago, os contratos futuros com vencimento em setembro fecharam o
dia a US$ 7,8050 por bushel, com recuo diário de 9,75 centavos de dólar. Em
Kansas, que comercializa o trigo americano de melhor qualidade, contratos para
o mesmo período ficaram em US$ 8,9325 por bushel, com recuo de 15,50 centavos
de dólar. No mercado doméstico, a saca de 60 quilos do trigo ficou em R$ 26,96,
alta de 0,04%, segundo levantamento do Deral, ligado à Secretaria da
Abastecimento e do Abastecimento do Paraná (Seab).
Mato Grosso produz mais carne em menos área
Os pecuaristas de Mato Grosso estão produzindo mais carne em menor área de pastagem. Nos últimos oito anos, a produção subiu 29% por hectare. A área de pastagem evoluiu apenas 7%.
É o que mostra estudo do Imea (Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária) e da Acrimat (Associação dos Criadores de Mato Grosso).
O resultado comparativo dos números do setor de 2002 a 2010 indica que o rebanho de Mato Grosso cresceu 29%, de 22,2 milhões de cabeças para 28,7 milhões.
Nesse mesmo período, a área de pastagem no Estado subiu de 24 milhões de hectares para 25,8 milhões.
"A cobrança para que o setor produza mais em menos área é antiga e essa exigência da sociedade e do mercado, que está cada dia mais forte, vem sendo cumprida pelos pecuaristas de Mato Grosso", diz Mauricio Campiolo, diretor da Acrimat.
Os números mostram também "uma eficiência inquestionável na produção de carne", segundo ele. O abate de bovinos em Mato Grosso aumentou 67% em oito anos, saindo de 2,4 milhões de cabeças em 2002 para 4,08 milhões no ano passado.
A taxa de ocupação também aumentou, subindo de 0,93 animal por hectare em 2002 para 1,12 em 2010. A evolução foi de 20,5%. Essa taxa está acima da média nacional, que é de 0,7 animal.
A produção de carne por hectare cresceu 29%. "Saímos de 1,65 arroba por hectare em 2008 para 2,13 arrobas em 2010", diz o superintendente da Acrimat, Luciano Vacari. Tudo isso foi feito pelo incremento de tecnologia pelo produtor, segundo ele.
Vacari diz que esses avanços ocorreram mesmo com as crises vividas pelo setor. Entre elas, a de 2006, quando a arroba do boi gordo chegou a ser vendida por R$ 36, e a de 2008, que reduziu a demanda externa por proteínas nos países desenvolvidos.
Para Vacari, esses números mostram uma produção mais sustentável e com mais preservação ambiental. "O setor vive, no entanto, sem segurança jurídica e com pesadas regras e cobranças de mercados internacionais."
Recorde
As exportações de café renderam US$ 707 milhões em maio, valor inédito para o setor. O acumulado em 12 meses atinge US$ 7 bilhões, segundo dados da Secex e do Cecafé.
Volume
As exportações totais de maio, que incluem café arábica, robusta e solúvel, atingiram 2,6 milhões de sacas. Em 12 meses, foram 34,4 milhões, número também recorde para o setor.
Pelo celular
Toda a cadeia de produção e distribuição de frutas, de legumes e de verduras que chega às lojas do Pão de Açúcar agora pode ser verificada pelo celular pelos consumidores.
Detalhes
Por meio do código do produto, ou "escaneando" a embalagem, o consumidor obtém detalhes da produção e do fornecedor.
Genética
O mercado nacional de sêmen de ovinos "é cada vez mais consistente", diz Edson Siqueira Filho, da Alta Genetics. A região Nordeste absorve 40%.
Mistura de tanque
A Yara, do setor de fertilizantes, desenvolveu um aplicativo para iPhone, iPad e iPod Touch que permite ao produtor verificar a compatibilidade de mistura entre os produtos da sua linha de produção de fertilizantes foliares e defensivos agrícolas.
Diferenciado
Para ampliar o número de pecuaristas em seu portfólio, o banco JBS vai oferecer, durante a Feicorte, desconto que pode chegar a 10% sobre a taxa de financiamento. Já os aplicadores terão bonificação de até 10%.
Queda
O algodão recuou 4,5% ontem em Nova York, liderando as quedas no setor.
Efeito da alta das commodities na inflação pode perder fôlego
Os preços das commodities agrícolas poderão continuar "altos e voláteis" no que
resta de 2011 e em 2012, de acordo com a FAO, a agência da ONU para alimentação
e agricultura. Mas, de acordo com analistas, mesmo que os preços dos alimentos
permaneçam próximos do nível elevado de hoje, o impacto sobre os índices
inflacionários globais tende a diminuir até o fim deste ano.
Para a FAO, a queda dos estoques e o crescimento modesto da maioria das
colheitas justifica a expectativa de manutenção de preços elevados. Embora as
perspectivas sejam consideradas encorajadoras para alguns produtores, como
Rússia e Ucrânia - que enfrentaram sérios problemas climáticos no ano passado
-, a situação meteorológica ainda poderá causar danos à oferta de trigo na
Europa e na América do Norte.
Os índices de preços de alimentos da FAO registraram pequena baixa em maio.
Cereais e açúcar influenciaram o resultado, mais do que compensando a
valorização internacional de carnes e lácteos. Nesse contexto, a consultoria
Capital Economics, de Londres, vê boas razões para considerar que os preços
estão próximos de seus picos ou já chegaram lá. Para a produção global de
cereais, a expectativa é de alta de 3,5%.
A consultoria também considera que boa parte da recente pressão sobre as
cotações resulta de fatores "temporários", como o desastre natural no Japão, a
instabilidade no Oriente Médio e a elevação do preço do petróleo, que eleva
custos na agricultura. E diversas commodities agrícolas já começaram a recuar,
como arroz, trigo e açucar.
Embarque de suíno cai 4% até maio
No momento em que indústrias exportadoras de carnes e governo discutem o que
fazer para pôr fim ao embargo da Rússia a 85 estabelecimentos de três Estados
brasileiros, a Abipecs (reúne exportadores de carne suína) divulga números que
revelam a forte - e preocupante - dependência do mercado russo.
De janeiro a maio, o Brasil exportou 214.101 toneladas de carne suína, 3,88%
menos do que em igual intervalo de 2010. A receita com as vendas externas somou
US$ 583, 13 milhões, alta de 7,20% na mesma comparação, segundo a Abipecs.
A Rússia comprou 84 mil toneladas de carne suína do Brasil de janeiro a maio,
18,18% menos que um ano antes. A receita também caiu, 7%, para US$ 261,58
milhões. O volume importado pelos russos corresponde a quase 40% das
exportações de carne suína. Já a receita equivale a 44,86% do que o Brasil
fatura com a exportação de suínos.
Em nota, a Abipecs diz que "a ainda excessiva dependência das exportações de
carne suína para a Rússia deve provocar pressão sobre o segmento". Segundo a
entidade, é difícil redirecionar linhas de produção para outros mercados ou
para o mercado interno, onde o consumo de carne suína in natura ainda é
reduzido.
Temer intervém por fim de embargo russo
Cobrado pelas indústrias exportadoras para ajudar a reverter o embargo da
Rússia às carnes brasileiras, o vice-presidente Michel Temer enviará uma carta
ao primeiro-ministro russo Vladimir Putin solicitando o adiamento da suspensão
das compras até o fim de "negociações técnicas" nos próximos dias.
Após apelos do ministro da Agricultura, Wagner Rossi, o vice decidiu ontem
enviar uma carta em tom diplomático, mas recheada de "recados" ao parceiro
comercial, apurou o Valor. Ao mesmo tempo em que agradece a "acolhida" recebida
durante visita a Moscou em meados de maio, Temer pede que o comércio não seja
suspenso até o fim dos "entendimentos" iniciados por ele e Putin.
Em declaração conjunta, ambos combinaram procedimentos de "consultas regulares"
em questões de segurança alimentar e "prioridade, de forma recíproca" a
solicitações de registro e habilitação de produtos e estabelecimentos. O
objetivo era justamente evitar medidas unilaterais como o embargo a 85
estabelecimentos exportadores brasileiros de Mato Grosso, Paraná e Rio Grande
do Sul.
Em correspondência, o vice-presidente afirma que o embargo prejudica as vendas
brasileiras à Rússia, mas também implica impactos às importações russas. Temer
afirma haver "situação crítica" nos três Estados, "particularmente" no segmento
de carne suína, lembrando a Putin ter ficado combinada a volta de uma missão
técnica para negociar os detalhes de um acordo definitivo na área sanitária.
Cuidadoso para evitar reações irritadas no parceiro comercial, que importa US$
4,4 bilhões em carnes nacionais, Michel Temer afirma que o governo brasileiro
fará "esforços para preservar relacionamentos" com a Rússia.
A intervenção direta do vice-presidente em uma questão sanitária, considerado
um "simples problema comercial" por fontes do Itamaraty, embute uma avaliação
interna de equívoco do próprio governo ao tratar com os russos. Nos bastidores,
fontes oficiais avaliam ter havido um "erro de avaliação" do governo ao não
enviar um negociador de assuntos na Organização Mundial do Comércio (OMC) na
missão comandada pelo vice-presidente Temer. O Itamaraty preferiu, segundo
essas fontes, tirar o assunto OMC da pauta oficial de negociações para
"preservar" Temer de eventuais constrangimentos diplomáticos.
Como esse era considerado o principal tema da pauta com o vice-presidente por
Moscou, já que há uma década a Rússia tenta ingressar na OMC, houve uma forte
reação na cúpula do governo russo. A avaliação interna do governo é que o
Itamaraty acabou provocando a "fúria" dos russos, que só pensam em entrar logo
na OMC.
A estratégia deveria ter sido, avalia-se no governo, mandar um negociador
experiente para "tourear" os russos, deixando o tema OMC como uma "carta na
manga" do vice-presidente. Assim, a pendência poderia ser resolvida no
"undécimo minuto", quando os russos já tivessem chegado ao fim de suas
negociações com Estados Unidos e com a Europa, dois dos principais atores na
OMC.
Dessa maneira, seria menos difícil negociar as cotas de carnes pretendidas pelo
Brasil. Os russos oferecem manter o atual sistema até 2020, mas o Brasil
insiste em melhorar a proposta russa para abocanhar uma fatia mais gorda das
importações russas de carne, sobretudo em frangos e suínos. No dia anterior ao
anúncio do embargo, negociadores brasileiros insistiram nessa melhora, mas os
russos rejeitaram os apelos. No dia seguinte, anunciaram o embargo dos 85
frigoríficos, o que foi considerada uma "medida desproporcional" pela
diplomacia brasileira.
Aquecido, setor de leite teme importação
O mercado de lácteos vive um momento favorável, com demanda firme, empresas
investindo e preços que incentivam a produção de matéria-prima, mas uma
incerteza paira no horizonte do setor. As crescentes importações de leite em pó
do Brasil preocupam, afirma o novo presidente da Associação Brasileira da
Indústria de Leite Longa Vida (ABLV), Laércio Barbosa.
Segundo o executivo, se as compras de produto do exterior continuarem crescendo
no período de safra na região Sudeste e Centro-Oeste - a partir de setembro e
outubro -, os preços ao produtor tendem a cair, desestimulando o investimento
de pecuaristas na alimentação do rebanho leiteiro. "Se o preço está ruim, o
pecuarista deixa de dar ração, só deixa no pasto e a produção de leite cai",
diz Barbosa, para quem o "limite da importação é quando ela começa a afetar a
produção nacional".
Só nos primeiros quatro meses deste ano, o déficit do Brasil na balança de
lácteos alcançou US$ 179 milhões, quase o déficit total registrado em 2010, que
ficou em US$ 190 milhões. Barbosa estima que em maio, o déficit já deve ter
atingido o total do ano passado.
Além do dólar barato em relação ao real, a demanda também sustenta as
importações. "Se não importasse, faltaria leite neste período de entressafra",
reconhece o presidente da ABLV. Grande parte das importações é feita pela
indústria de alimentos.
Cerca de 60% do que o Brasil importa em lácteos são provenientes de Argentina e
Uruguai. Com a Argentina, o governo brasileiro fez um acordo, prorrogado até 31
de julho, que limita as importações em 3,3 mil toneladas mensais. Afirmando que
o mercado de leite é "sensível", Barbosa defende acordo parecido com o Uruguai.
Por enquanto, as importações não afetam a produção. No momento, o que torna a
oferta apertada, elevando preços do leite ao produtor são questões climáticas.
O índice de captação de leite do Cepea/Esalq recuou quase 2,8% entre março e
abril. No acumulado até abril, o índice caiu 0,6% na comparação com o mesmo
período do ano passado.
Laércio Barbosa acredita que, apesar do quadro atual, até o fim do ano a
produção deve ter crescimento na casa dos 3%. No ano que passou, a produção
total de leite no Brasil somou 30,6 bilhões de litros, 5,1% mais do que em 2009.
No período, a produção de leite longa vida subiu 3,7%, para 5,455 bilhões de
litros, segundo dados da ABLV. Já a produção de leite sem tratamento caiu
10,7%, para 1,890 bilhão de litros e a de leite pasteurizado, 5,6%, para 1,690
bilhão de litros.
A participação do longa vida no chamado leite de consumo alcançou 55,4% ano
passado, enquanto o consumo per capita de lácteos em geral subiu 4,4%, para
165,1 litros, conforme a ABLV.
A estimativa é de que a produção [e consumo] de longa vida voltem a crescer,
entre 3% a 4%, mantendo o ritmo do primeiro trimestre, segundo Barbosa. "Pode
ficar até acima disso porque as medidas para reduzir o crédito podem levar ao
aumento de consumo de produtos básicos", acrescenta.
Ele destaca ainda a melhora na qualidade do leite longa vida no país. Desde
2008, a ABLV realiza um programa de monitoramento do leite, que coleta, nos
pontos de venda, cerca de 500 amostras por ano de 80 marcas pelo país.
"Praticamente, não se encontra problemas em relação à qualidade", diz.
Lucro da Cosan sobe 63% no 4º trimestre
Os resultados positivos de todas as unidades de negócios da Cosan contribuíram
para que a companhia registrasse no quarto trimestre da safra 2010/11,
encerrada em março deste ano, um lucro líquido de R$ 480,9 milhões, alta de
63,5% em relação ao resultado de igual trimestre do ciclo passado. No entanto,
a variação cambial e a adesão ao Refis trouxeram para os doze meses da safra um
lucro líquido menor do que na temporada passada. A companhia, que detém 50% da
Raízen, empresa em associação com a petroleira Shell, teve lucro de R$ 771,6
milhões no ano fiscal, queda de 26% ante os R$ 1,05 bilhão da safra 2009/10.
"Se não fossem essas duas variáveis [mudança cambial e Refis], o resultado da
companhia teria sido maior do que o do ano anterior", garante Marcos Lutz,
presidente da Cosan.
Tanto que a geração de caixa, explica ele, foi maior. O Ebitda (lucro antes de
juros, impostos, depreciação e amortização) foi de R$ 1,06 bilhão entre janeiro
e março deste ano, ante os R$ 646,1 milhões do mesmo intervalo de 2010. No
acumulado da safra, o Ebitda foi de R$ 2,67 bilhões, ante os R$ 2,18 bilhões da
temporada passada. Para o próximo ano fiscal, a empresa prevê Ebitda entre R$
1,8 bilhão e R$ 2,2 bilhão, resultado que virá das áreas que não foram para a
joint venture - Rumo, Radar, Cosan Alimentos e Lubrificantes - e de 50% do
resultado esperado da Raízen, que reúne os ativos sucroalcooleiros e de
distribuição da Cosan e os de distribuição de combustíveis da Shell.
O balanço segue o novo padrão contábil IFRS o que alterou alguns números. Entre
eles, explica Lutz, está o impacto positivo de R$ 370,9 milhões no ano (R$
292,4 milhões no ano anterior) de os tratos culturais no canavial serem
considerados investimento e, por consequência, sua amortização ser considerada
para cálculo do Ebitda, o que melhorou o custo caixa e o Ebitda da área de
Açúcar e Álcool.
No quatro trimestre da safra 2010/11, a Cosan registrou uma receita de R$ 4,61
bilhões, ante as R$ 4,39 bilhões de igual intervalo do exercício anterior. O
salto, entretanto, foi maior no acumulado do ano, quando a receita líquida
atingiu R$ 18,06 bilhões, 18% mais do que os R$ 15,3 bilhões do ano-safra
anterior.
Para a próxima temporada, a projeção da companhia é de uma receita entre R$
25,5 bilhões e R$ 27,5 bilhões - número que também considera a receita esperada
dos negócios da Cosan e 50% da originada na Raízen.
Os investimentos em cogeração de energia, na Rumo Logística e com a aquisição
da usina Zanin, elevaram o endividamento líquido da Cosan para R$ 5,2 bilhões,
R$ 1 bilhão a mais do que um ano antes. Marcelo Martins, diretor financeiro da
companhia, pondera que o endividamento ainda equivale a apenas 1,97 vez o
Ebitda. Ele explica que a empresa ainda tem outros investimentos a fazer nos
próximos anos, na própria Cosan, sobretudo em logística, e também na Raízen,
aportes que devem ter como foco açúcar, álcool e cogeração de energia. A
empresa prevê despesas de capital entre R$ 2 bilhões e R$ 2,3 bilhões na
próxima safra, entre volumes a serem investidos na Cosan e na Raízen. No ciclo
recém finalizado, esse valor foi de R$ 3 bilhões.
Total aposta em cana com maior valor agregado
Dono de um faturamento de ? 159 bilhões no ano passado, o grupo francês Total
tem planos definidos para sua área de processamento de cana-de-açúcar no
Brasil. Diferentemente do que fazem seus concorrentes, como Petrobras, Shell e
BP, voltadas ao etanol de primeira geração para abastecer veículos, a Total vai
usar caldo da cana para fabricar produtos de maior valor agregado, como
bioquerosene, biocombustível para aviação, biodiesel e biolubrificantes, disse
ao Valor o presidente de gás e energia da empresa, Philippe Boisseau.
Suas metas são ambiciosas quanto à participação de mercado. Entre elas, está a
de atingir em dez anos uma fatia de 5% a 10% no processamento de cana no país.
A companhia não tem previsão exata de quanto deve investir no Brasil nos
próximos anos. "Mas como uma referência, temos planos de aplicar ? 5 bilhões em
todas as áreas definidas por nós em bioenergia até 2020", afirmou Boisseau. Ele
não descartou a possibilidade de comprar empresas no país, mas não quis
comentar casos específicos. "Aquisição é uma opção, pois ainda não sabemos como
produzir e processar cana-de-açúcar."
Preço alto deve desestimular fusão de usinas
Empresas se capitalizam com cotações elevadas do açúcar e do álcool; lucro da Cosan sobe
O alto valor de mercado adquirido pelas usinas de cana-de-açúcar na safra passada deve esfriar o processo de aquisições e fusões de empresas neste ano, segundo avaliação de especialistas do setor ouvidos pela Folha.
Ontem, por exemplo, a direção da Cosan -maior produtora de açúcar e etanol do mundo- informou que não está disposta a comprometer investimentos com aquisições, e, sim, com a expansão das unidades já existentes.
A empresa divulgou alta de 64% no lucro no quarto trimestre fiscal (R$ 480,9 milhões) ante o mesmo período do ano anterior.
As empresas voltaram a ter peso após o preço do açúcar e do etanol atingir patamares históricos na última safra.
Para 2011, as perspectivas de faturamento são positivas por causa da elevada demanda por açúcar e etanol.
Segundo levantamento da consultoria FG/Agro, de Ribeirão Preto, o preço médio do açúcar na safra atingiu US$ 600 a tonelada, enquanto o etanol hidratado nas usinas chegou a R$ 1,63 o litro, e o anidro, R$ 2,72.
"Com esses preços, as usinas geraram caixa suficiente para pagar parte das dívidas e se capitalizar após o período de baixa ocorrido durante a crise financeira, entre 2008 e 2009", disse o diretor da FG/Agro, Juliano Merlotto.
Para o diretor da PwC (PricewaterhouseCoopers) Alessandro Ribeiro Duarte, as fusões e as aquisições serão menores mesmo com o assédio dos grandes grupos produtores, que precisam de mais usinas para ampliar suas produções.
"Hoje há mais demanda para compra de usina do que para venda, justamente por causa da rentabilidade obtida pelas empresas na última safra e as boas expectativas para este ano", disse Duarte.
Para a oferta de etanol aumentar, é preciso reduzir os custos
THAÍS MARZOLA ZARA
Os problemas de abastecimento de etanol no início deste ano deveram-se, em parte, a problemas pontuais, mas também a fatores estruturais.
A origem dos atuais problemas enfrentados pelo setor se deu durante a crise de 2008, quando os produtores encontravam-se altamente endividados.
Os recursos estrangeiros que entraram no país desde então, direcionados ao setor, têm sido utilizados fundamentalmente para a consolidação (fusões e aquisições) dos grupos existentes.
Dessa forma, a produtividade do setor recuou bastante -apesar de a área plantada ter crescido 20% nos últimos quatro anos, a produção avançou apenas 12,5%, prejudicada pelo envelhecimento das lavouras.
Aliás, a renovação das lavouras, que ocorria na faixa de 16,5% a 18% ao ano, recuou para apenas 4,5% após a crise -como resultado, lavouras que deveriam ter sido renovadas no sexto corte já estão no 12º corte.
Agora que as empresas já estão razoavelmente capitalizadas -embora ainda exista espaço para a continuidade do processo de consolidação-, resta saber quais serão os determinantes de expansão de investimentos no futuro.
Usualmente, o preço de mercado é a sinalização balizadora desse tipo de decisão. Contudo, no caso do etanol há um preço máximo estabelecido -70% do preço da gasolina, que é definido pela Petrobras (e que evita repassar aos preços internos as oscilações dos preços no mercado internacional, bem como da taxa de câmbio).
Com isso, se os custos (incluídos aí a margem de lucro do produtor, ou custo de oportunidade) forem superiores ao preço máximo, não há por que ampliar a produção.
Hoje, estamos muito próximos desse limiar de preço, como mostram as oscilações fortes que o levam a patamares muito superiores no período de entressafra.
Não é por outro motivo que as propostas em estudo visam a redução dos custos do setor: financiamento via crédito mais barato do BNDES para investimentos; ampliação e aprimoramento da infraestrutura de escoamento; e, por fim, redução da alíquota de tributos (federais e estaduais) que incidem sobre o etanol.
Fica claro que a mera alteração do status de etanol a combustível (e, portanto, sua sujeição a regulamentações impostas pela ANP) ou a simples alteração do percentual de etanol adicionado à gasolina não são suficientes.
O planejamento de longo prazo para um setor privado, quando esse é de interesse do governo, precisa necessariamente passar pela ampliação dos incentivos econômicos.
THAÍS MARZOLA ZARA é economista-chefe da Rosenberg Consultores Associados e mestre em economia pela USP.
Influência do dólar
Os contratos futuros do café com vencimento em setembro
encerraram o pregão de ontem a US$ 2,6640 por libra-peso na bolsa de Nova York,
com alta de 260 pontos, após uma forte queda no pregão anterior. De acordo com
analistas ouvidos pela Dow Jones Newswires, o resultado se deveu à
desvalorização do dólar, que torna os produtos americanos mais atraentes para
investidores estrangeiros. Rodrigo Costa, analista da Newedge, observou, porém
que há poucas notícias sobre uma potencial geada no Brasil antes do início da
colheita, em meados de junho, por isso o arábica tende a continuar pressionado.
No mercado doméstico, o indicador Cepea/Esalq para a saca de 60 quilos do café
ficou em R$ 528,56, com alta de 1,95%. Em junho, o café já acumula uma
desvalorização de 0,54%.
Demanda menor
Os futuros do algodão fecharam ontem com a maior queda permitida
na bolsa de Nova York. De acordo com a Bloomberg, isso se deveu a sinais de que
a demanda internacional pela fibra americana poderá desacelerar. Os EUA são os
maiores exportadores mundiais de algodão. Na semana passada, os compradores
estrangeiros cancelaram 46.035 fardos encomendados no ano fiscal encerrado em
31 de julho. "Não há sinais de melhora na demanda", disse Chris Kramedjian,
consultor de risco da FCStone Fibers & Textiles, em entrevista à agência. Em
Nova York, os papéis com vencimento em outubro encerraram a US$ 1,3883 por
libra-peso, recuo de 700 pontos. No mercado doméstico, o indicador Cepea/Esalq
para o algodão ficou em R$ 2,3419 por libra-peso, com alta de 0,03%.
Estoques inalterados
Os contratos futuros de soja com vencimento em agosto
encerraram o pregão de ontem a US$ 13,88 por bushel na bolsa de Chicago, com
alta de 10,25 centavos de dólar. O resultado foi influenciado pela expectativa
do mercado de que o Departamento de Agricultura dos EUA (USDA) faça mudanças
pequenas em sua projeção sobre abastecimento da soja no próximo relatório sobre
a safra atual, que sai amanhã. O órgão deverá fazer um modesto aumento nos
estoques. Segundo 19 analistas e traders ouvidos pela Bloomberg, a expectativa
é de uma oferta de 173 milhões de bushels. Já no mercado doméstico, o indicador
Esalq/BM&FBovespa para a saca de 60 quilos ficou em R$ 47,88, com queda de
2,17%. No mês, a oleaginosa já acumula desvalorização de 2,29%.
Produção maior
Previsão divulgada pela FAO, a agência das Nações Unidas para
Agricultura e Alimentação, de aumento na produção global de trigo nesta safra
fez os futuros do cereal recuarem mais uma vez ontem no mercado americano. Na
bolsa de Chicago, os contratos futuros com vencimento em setembro fecharam o
dia a US$ 7,8050 por bushel, com recuo diário de 9,75 centavos de dólar. Em
Kansas, que comercializa o trigo americano de melhor qualidade, contratos para
o mesmo período ficaram em US$ 8,9325 por bushel, com recuo de 15,50 centavos
de dólar. No mercado doméstico, a saca de 60 quilos do trigo ficou em R$ 26,96,
alta de 0,04%, segundo levantamento do Deral, ligado à Secretaria da
Abastecimento e do Abastecimento do Paraná (Seab).
Mato Grosso produz mais carne em menos área
Os pecuaristas de Mato Grosso estão produzindo mais carne em menor área de pastagem. Nos últimos oito anos, a produção subiu 29% por hectare. A área de pastagem evoluiu apenas 7%.
É o que mostra estudo do Imea (Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária) e da Acrimat (Associação dos Criadores de Mato Grosso).
O resultado comparativo dos números do setor de 2002 a 2010 indica que o rebanho de Mato Grosso cresceu 29%, de 22,2 milhões de cabeças para 28,7 milhões.
Nesse mesmo período, a área de pastagem no Estado subiu de 24 milhões de hectares para 25,8 milhões.
"A cobrança para que o setor produza mais em menos área é antiga e essa exigência da sociedade e do mercado, que está cada dia mais forte, vem sendo cumprida pelos pecuaristas de Mato Grosso", diz Mauricio Campiolo, diretor da Acrimat.
Os números mostram também "uma eficiência inquestionável na produção de carne", segundo ele. O abate de bovinos em Mato Grosso aumentou 67% em oito anos, saindo de 2,4 milhões de cabeças em 2002 para 4,08 milhões no ano passado.
A taxa de ocupação também aumentou, subindo de 0,93 animal por hectare em 2002 para 1,12 em 2010. A evolução foi de 20,5%. Essa taxa está acima da média nacional, que é de 0,7 animal.
A produção de carne por hectare cresceu 29%. "Saímos de 1,65 arroba por hectare em 2008 para 2,13 arrobas em 2010", diz o superintendente da Acrimat, Luciano Vacari. Tudo isso foi feito pelo incremento de tecnologia pelo produtor, segundo ele.
Vacari diz que esses avanços ocorreram mesmo com as crises vividas pelo setor. Entre elas, a de 2006, quando a arroba do boi gordo chegou a ser vendida por R$ 36, e a de 2008, que reduziu a demanda externa por proteínas nos países desenvolvidos.
Para Vacari, esses números mostram uma produção mais sustentável e com mais preservação ambiental. "O setor vive, no entanto, sem segurança jurídica e com pesadas regras e cobranças de mercados internacionais."
Recorde
As exportações de café renderam US$ 707 milhões em maio, valor inédito para o setor. O acumulado em 12 meses atinge US$ 7 bilhões, segundo dados da Secex e do Cecafé.
Volume
As exportações totais de maio, que incluem café arábica, robusta e solúvel, atingiram 2,6 milhões de sacas. Em 12 meses, foram 34,4 milhões, número também recorde para o setor.
Pelo celular
Toda a cadeia de produção e distribuição de frutas, de legumes e de verduras que chega às lojas do Pão de Açúcar agora pode ser verificada pelo celular pelos consumidores.
Detalhes
Por meio do código do produto, ou "escaneando" a embalagem, o consumidor obtém detalhes da produção e do fornecedor.
Genética
O mercado nacional de sêmen de ovinos "é cada vez mais consistente", diz Edson Siqueira Filho, da Alta Genetics. A região Nordeste absorve 40%.
Mistura de tanque
A Yara, do setor de fertilizantes, desenvolveu um aplicativo para iPhone, iPad e iPod Touch que permite ao produtor verificar a compatibilidade de mistura entre os produtos da sua linha de produção de fertilizantes foliares e defensivos agrícolas.
Diferenciado
Para ampliar o número de pecuaristas em seu portfólio, o banco JBS vai oferecer, durante a Feicorte, desconto que pode chegar a 10% sobre a taxa de financiamento. Já os aplicadores terão bonificação de até 10%.
Queda
O algodão recuou 4,5% ontem em Nova York, liderando as quedas no setor.
Efeito da alta das commodities na inflação pode perder fôlego
Os preços das commodities agrícolas poderão continuar "altos e voláteis" no que
resta de 2011 e em 2012, de acordo com a FAO, a agência da ONU para alimentação
e agricultura. Mas, de acordo com analistas, mesmo que os preços dos alimentos
permaneçam próximos do nível elevado de hoje, o impacto sobre os índices
inflacionários globais tende a diminuir até o fim deste ano.
Para a FAO, a queda dos estoques e o crescimento modesto da maioria das
colheitas justifica a expectativa de manutenção de preços elevados. Embora as
perspectivas sejam consideradas encorajadoras para alguns produtores, como
Rússia e Ucrânia - que enfrentaram sérios problemas climáticos no ano passado
-, a situação meteorológica ainda poderá causar danos à oferta de trigo na
Europa e na América do Norte.
Os índices de preços de alimentos da FAO registraram pequena baixa em maio.
Cereais e açúcar influenciaram o resultado, mais do que compensando a
valorização internacional de carnes e lácteos. Nesse contexto, a consultoria
Capital Economics, de Londres, vê boas razões para considerar que os preços
estão próximos de seus picos ou já chegaram lá. Para a produção global de
cereais, a expectativa é de alta de 3,5%.
A consultoria também considera que boa parte da recente pressão sobre as
cotações resulta de fatores "temporários", como o desastre natural no Japão, a
instabilidade no Oriente Médio e a elevação do preço do petróleo, que eleva
custos na agricultura. E diversas commodities agrícolas já começaram a recuar,
como arroz, trigo e açucar.
Embarque de suíno cai 4% até maio
No momento em que indústrias exportadoras de carnes e governo discutem o que
fazer para pôr fim ao embargo da Rússia a 85 estabelecimentos de três Estados
brasileiros, a Abipecs (reúne exportadores de carne suína) divulga números que
revelam a forte - e preocupante - dependência do mercado russo.
De janeiro a maio, o Brasil exportou 214.101 toneladas de carne suína, 3,88%
menos do que em igual intervalo de 2010. A receita com as vendas externas somou
US$ 583, 13 milhões, alta de 7,20% na mesma comparação, segundo a Abipecs.
A Rússia comprou 84 mil toneladas de carne suína do Brasil de janeiro a maio,
18,18% menos que um ano antes. A receita também caiu, 7%, para US$ 261,58
milhões. O volume importado pelos russos corresponde a quase 40% das
exportações de carne suína. Já a receita equivale a 44,86% do que o Brasil
fatura com a exportação de suínos.
Em nota, a Abipecs diz que "a ainda excessiva dependência das exportações de
carne suína para a Rússia deve provocar pressão sobre o segmento". Segundo a
entidade, é difícil redirecionar linhas de produção para outros mercados ou
para o mercado interno, onde o consumo de carne suína in natura ainda é
reduzido.
Temer intervém por fim de embargo russo
Cobrado pelas indústrias exportadoras para ajudar a reverter o embargo da
Rússia às carnes brasileiras, o vice-presidente Michel Temer enviará uma carta
ao primeiro-ministro russo Vladimir Putin solicitando o adiamento da suspensão
das compras até o fim de "negociações técnicas" nos próximos dias.
Após apelos do ministro da Agricultura, Wagner Rossi, o vice decidiu ontem
enviar uma carta em tom diplomático, mas recheada de "recados" ao parceiro
comercial, apurou o Valor. Ao mesmo tempo em que agradece a "acolhida" recebida
durante visita a Moscou em meados de maio, Temer pede que o comércio não seja
suspenso até o fim dos "entendimentos" iniciados por ele e Putin.
Em declaração conjunta, ambos combinaram procedimentos de "consultas regulares"
em questões de segurança alimentar e "prioridade, de forma recíproca" a
solicitações de registro e habilitação de produtos e estabelecimentos. O
objetivo era justamente evitar medidas unilaterais como o embargo a 85
estabelecimentos exportadores brasileiros de Mato Grosso, Paraná e Rio Grande
do Sul.
Em correspondência, o vice-presidente afirma que o embargo prejudica as vendas
brasileiras à Rússia, mas também implica impactos às importações russas. Temer
afirma haver "situação crítica" nos três Estados, "particularmente" no segmento
de carne suína, lembrando a Putin ter ficado combinada a volta de uma missão
técnica para negociar os detalhes de um acordo definitivo na área sanitária.
Cuidadoso para evitar reações irritadas no parceiro comercial, que importa US$
4,4 bilhões em carnes nacionais, Michel Temer afirma que o governo brasileiro
fará "esforços para preservar relacionamentos" com a Rússia.
A intervenção direta do vice-presidente em uma questão sanitária, considerado
um "simples problema comercial" por fontes do Itamaraty, embute uma avaliação
interna de equívoco do próprio governo ao tratar com os russos. Nos bastidores,
fontes oficiais avaliam ter havido um "erro de avaliação" do governo ao não
enviar um negociador de assuntos na Organização Mundial do Comércio (OMC) na
missão comandada pelo vice-presidente Temer. O Itamaraty preferiu, segundo
essas fontes, tirar o assunto OMC da pauta oficial de negociações para
"preservar" Temer de eventuais constrangimentos diplomáticos.
Como esse era considerado o principal tema da pauta com o vice-presidente por
Moscou, já que há uma década a Rússia tenta ingressar na OMC, houve uma forte
reação na cúpula do governo russo. A avaliação interna do governo é que o
Itamaraty acabou provocando a "fúria" dos russos, que só pensam em entrar logo
na OMC.
A estratégia deveria ter sido, avalia-se no governo, mandar um negociador
experiente para "tourear" os russos, deixando o tema OMC como uma "carta na
manga" do vice-presidente. Assim, a pendência poderia ser resolvida no
"undécimo minuto", quando os russos já tivessem chegado ao fim de suas
negociações com Estados Unidos e com a Europa, dois dos principais atores na
OMC.
Dessa maneira, seria menos difícil negociar as cotas de carnes pretendidas pelo
Brasil. Os russos oferecem manter o atual sistema até 2020, mas o Brasil
insiste em melhorar a proposta russa para abocanhar uma fatia mais gorda das
importações russas de carne, sobretudo em frangos e suínos. No dia anterior ao
anúncio do embargo, negociadores brasileiros insistiram nessa melhora, mas os
russos rejeitaram os apelos. No dia seguinte, anunciaram o embargo dos 85
frigoríficos, o que foi considerada uma "medida desproporcional" pela
diplomacia brasileira.
Aquecido, setor de leite teme importação
O mercado de lácteos vive um momento favorável, com demanda firme, empresas
investindo e preços que incentivam a produção de matéria-prima, mas uma
incerteza paira no horizonte do setor. As crescentes importações de leite em pó
do Brasil preocupam, afirma o novo presidente da Associação Brasileira da
Indústria de Leite Longa Vida (ABLV), Laércio Barbosa.
Segundo o executivo, se as compras de produto do exterior continuarem crescendo
no período de safra na região Sudeste e Centro-Oeste - a partir de setembro e
outubro -, os preços ao produtor tendem a cair, desestimulando o investimento
de pecuaristas na alimentação do rebanho leiteiro. "Se o preço está ruim, o
pecuarista deixa de dar ração, só deixa no pasto e a produção de leite cai",
diz Barbosa, para quem o "limite da importação é quando ela começa a afetar a
produção nacional".
Só nos primeiros quatro meses deste ano, o déficit do Brasil na balança de
lácteos alcançou US$ 179 milhões, quase o déficit total registrado em 2010, que
ficou em US$ 190 milhões. Barbosa estima que em maio, o déficit já deve ter
atingido o total do ano passado.
Além do dólar barato em relação ao real, a demanda também sustenta as
importações. "Se não importasse, faltaria leite neste período de entressafra",
reconhece o presidente da ABLV. Grande parte das importações é feita pela
indústria de alimentos.
Cerca de 60% do que o Brasil importa em lácteos são provenientes de Argentina e
Uruguai. Com a Argentina, o governo brasileiro fez um acordo, prorrogado até 31
de julho, que limita as importações em 3,3 mil toneladas mensais. Afirmando que
o mercado de leite é "sensível", Barbosa defende acordo parecido com o Uruguai.
Por enquanto, as importações não afetam a produção. No momento, o que torna a
oferta apertada, elevando preços do leite ao produtor são questões climáticas.
O índice de captação de leite do Cepea/Esalq recuou quase 2,8% entre março e
abril. No acumulado até abril, o índice caiu 0,6% na comparação com o mesmo
período do ano passado.
Laércio Barbosa acredita que, apesar do quadro atual, até o fim do ano a
produção deve ter crescimento na casa dos 3%. No ano que passou, a produção
total de leite no Brasil somou 30,6 bilhões de litros, 5,1% mais do que em 2009.
No período, a produção de leite longa vida subiu 3,7%, para 5,455 bilhões de
litros, segundo dados da ABLV. Já a produção de leite sem tratamento caiu
10,7%, para 1,890 bilhão de litros e a de leite pasteurizado, 5,6%, para 1,690
bilhão de litros.
A participação do longa vida no chamado leite de consumo alcançou 55,4% ano
passado, enquanto o consumo per capita de lácteos em geral subiu 4,4%, para
165,1 litros, conforme a ABLV.
A estimativa é de que a produção [e consumo] de longa vida voltem a crescer,
entre 3% a 4%, mantendo o ritmo do primeiro trimestre, segundo Barbosa. "Pode
ficar até acima disso porque as medidas para reduzir o crédito podem levar ao
aumento de consumo de produtos básicos", acrescenta.
Ele destaca ainda a melhora na qualidade do leite longa vida no país. Desde
2008, a ABLV realiza um programa de monitoramento do leite, que coleta, nos
pontos de venda, cerca de 500 amostras por ano de 80 marcas pelo país.
"Praticamente, não se encontra problemas em relação à qualidade", diz.
Lucro da Cosan sobe 63% no 4º trimestre
Os resultados positivos de todas as unidades de negócios da Cosan contribuíram
para que a companhia registrasse no quarto trimestre da safra 2010/11,
encerrada em março deste ano, um lucro líquido de R$ 480,9 milhões, alta de
63,5% em relação ao resultado de igual trimestre do ciclo passado. No entanto,
a variação cambial e a adesão ao Refis trouxeram para os doze meses da safra um
lucro líquido menor do que na temporada passada. A companhia, que detém 50% da
Raízen, empresa em associação com a petroleira Shell, teve lucro de R$ 771,6
milhões no ano fiscal, queda de 26% ante os R$ 1,05 bilhão da safra 2009/10.
"Se não fossem essas duas variáveis [mudança cambial e Refis], o resultado da
companhia teria sido maior do que o do ano anterior", garante Marcos Lutz,
presidente da Cosan.
Tanto que a geração de caixa, explica ele, foi maior. O Ebitda (lucro antes de
juros, impostos, depreciação e amortização) foi de R$ 1,06 bilhão entre janeiro
e março deste ano, ante os R$ 646,1 milhões do mesmo intervalo de 2010. No
acumulado da safra, o Ebitda foi de R$ 2,67 bilhões, ante os R$ 2,18 bilhões da
temporada passada. Para o próximo ano fiscal, a empresa prevê Ebitda entre R$
1,8 bilhão e R$ 2,2 bilhão, resultado que virá das áreas que não foram para a
joint venture - Rumo, Radar, Cosan Alimentos e Lubrificantes - e de 50% do
resultado esperado da Raízen, que reúne os ativos sucroalcooleiros e de
distribuição da Cosan e os de distribuição de combustíveis da Shell.
O balanço segue o novo padrão contábil IFRS o que alterou alguns números. Entre
eles, explica Lutz, está o impacto positivo de R$ 370,9 milhões no ano (R$
292,4 milhões no ano anterior) de os tratos culturais no canavial serem
considerados investimento e, por consequência, sua amortização ser considerada
para cálculo do Ebitda, o que melhorou o custo caixa e o Ebitda da área de
Açúcar e Álcool.
No quatro trimestre da safra 2010/11, a Cosan registrou uma receita de R$ 4,61
bilhões, ante as R$ 4,39 bilhões de igual intervalo do exercício anterior. O
salto, entretanto, foi maior no acumulado do ano, quando a receita líquida
atingiu R$ 18,06 bilhões, 18% mais do que os R$ 15,3 bilhões do ano-safra
anterior.
Para a próxima temporada, a projeção da companhia é de uma receita entre R$
25,5 bilhões e R$ 27,5 bilhões - número que também considera a receita esperada
dos negócios da Cosan e 50% da originada na Raízen.
Os investimentos em cogeração de energia, na Rumo Logística e com a aquisição
da usina Zanin, elevaram o endividamento líquido da Cosan para R$ 5,2 bilhões,
R$ 1 bilhão a mais do que um ano antes. Marcelo Martins, diretor financeiro da
companhia, pondera que o endividamento ainda equivale a apenas 1,97 vez o
Ebitda. Ele explica que a empresa ainda tem outros investimentos a fazer nos
próximos anos, na própria Cosan, sobretudo em logística, e também na Raízen,
aportes que devem ter como foco açúcar, álcool e cogeração de energia. A
empresa prevê despesas de capital entre R$ 2 bilhões e R$ 2,3 bilhões na
próxima safra, entre volumes a serem investidos na Cosan e na Raízen. No ciclo
recém finalizado, esse valor foi de R$ 3 bilhões.
Total aposta em cana com maior valor agregado
Dono de um faturamento de ? 159 bilhões no ano passado, o grupo francês Total
tem planos definidos para sua área de processamento de cana-de-açúcar no
Brasil. Diferentemente do que fazem seus concorrentes, como Petrobras, Shell e
BP, voltadas ao etanol de primeira geração para abastecer veículos, a Total vai
usar caldo da cana para fabricar produtos de maior valor agregado, como
bioquerosene, biocombustível para aviação, biodiesel e biolubrificantes, disse
ao Valor o presidente de gás e energia da empresa, Philippe Boisseau.
Suas metas são ambiciosas quanto à participação de mercado. Entre elas, está a
de atingir em dez anos uma fatia de 5% a 10% no processamento de cana no país.
A companhia não tem previsão exata de quanto deve investir no Brasil nos
próximos anos. "Mas como uma referência, temos planos de aplicar ? 5 bilhões em
todas as áreas definidas por nós em bioenergia até 2020", afirmou Boisseau. Ele
não descartou a possibilidade de comprar empresas no país, mas não quis
comentar casos específicos. "Aquisição é uma opção, pois ainda não sabemos como
produzir e processar cana-de-açúcar."
Preço alto deve desestimular fusão de usinas
Empresas se capitalizam com cotações elevadas do açúcar e do álcool; lucro da Cosan sobe
O alto valor de mercado adquirido pelas usinas de cana-de-açúcar na safra passada deve esfriar o processo de aquisições e fusões de empresas neste ano, segundo avaliação de especialistas do setor ouvidos pela Folha.
Ontem, por exemplo, a direção da Cosan -maior produtora de açúcar e etanol do mundo- informou que não está disposta a comprometer investimentos com aquisições, e, sim, com a expansão das unidades já existentes.
A empresa divulgou alta de 64% no lucro no quarto trimestre fiscal (R$ 480,9 milhões) ante o mesmo período do ano anterior.
As empresas voltaram a ter peso após o preço do açúcar e do etanol atingir patamares históricos na última safra.
Para 2011, as perspectivas de faturamento são positivas por causa da elevada demanda por açúcar e etanol.
Segundo levantamento da consultoria FG/Agro, de Ribeirão Preto, o preço médio do açúcar na safra atingiu US$ 600 a tonelada, enquanto o etanol hidratado nas usinas chegou a R$ 1,63 o litro, e o anidro, R$ 2,72.
"Com esses preços, as usinas geraram caixa suficiente para pagar parte das dívidas e se capitalizar após o período de baixa ocorrido durante a crise financeira, entre 2008 e 2009", disse o diretor da FG/Agro, Juliano Merlotto.
Para o diretor da PwC (PricewaterhouseCoopers) Alessandro Ribeiro Duarte, as fusões e as aquisições serão menores mesmo com o assédio dos grandes grupos produtores, que precisam de mais usinas para ampliar suas produções.
"Hoje há mais demanda para compra de usina do que para venda, justamente por causa da rentabilidade obtida pelas empresas na última safra e as boas expectativas para este ano", disse Duarte.
Para a oferta de etanol aumentar, é preciso reduzir os custos
THAÍS MARZOLA ZARA
Os problemas de abastecimento de etanol no início deste ano deveram-se, em parte, a problemas pontuais, mas também a fatores estruturais.
A origem dos atuais problemas enfrentados pelo setor se deu durante a crise de 2008, quando os produtores encontravam-se altamente endividados.
Os recursos estrangeiros que entraram no país desde então, direcionados ao setor, têm sido utilizados fundamentalmente para a consolidação (fusões e aquisições) dos grupos existentes.
Dessa forma, a produtividade do setor recuou bastante -apesar de a área plantada ter crescido 20% nos últimos quatro anos, a produção avançou apenas 12,5%, prejudicada pelo envelhecimento das lavouras.
Aliás, a renovação das lavouras, que ocorria na faixa de 16,5% a 18% ao ano, recuou para apenas 4,5% após a crise -como resultado, lavouras que deveriam ter sido renovadas no sexto corte já estão no 12º corte.
Agora que as empresas já estão razoavelmente capitalizadas -embora ainda exista espaço para a continuidade do processo de consolidação-, resta saber quais serão os determinantes de expansão de investimentos no futuro.
Usualmente, o preço de mercado é a sinalização balizadora desse tipo de decisão. Contudo, no caso do etanol há um preço máximo estabelecido -70% do preço da gasolina, que é definido pela Petrobras (e que evita repassar aos preços internos as oscilações dos preços no mercado internacional, bem como da taxa de câmbio).
Com isso, se os custos (incluídos aí a margem de lucro do produtor, ou custo de oportunidade) forem superiores ao preço máximo, não há por que ampliar a produção.
Hoje, estamos muito próximos desse limiar de preço, como mostram as oscilações fortes que o levam a patamares muito superiores no período de entressafra.
Não é por outro motivo que as propostas em estudo visam a redução dos custos do setor: financiamento via crédito mais barato do BNDES para investimentos; ampliação e aprimoramento da infraestrutura de escoamento; e, por fim, redução da alíquota de tributos (federais e estaduais) que incidem sobre o etanol.
Fica claro que a mera alteração do status de etanol a combustível (e, portanto, sua sujeição a regulamentações impostas pela ANP) ou a simples alteração do percentual de etanol adicionado à gasolina não são suficientes.
O planejamento de longo prazo para um setor privado, quando esse é de interesse do governo, precisa necessariamente passar pela ampliação dos incentivos econômicos.
THAÍS MARZOLA ZARA é economista-chefe da Rosenberg Consultores Associados e mestre em economia pela USP.
Hora de faxina no Goldman Sachs
Hora de faxina no Goldman Sachs
A reputação do Goldman Sachs Group sofreu duro golpe em 2010, quando a empresa
pagou US$ 550 milhões em acordo para encerrar acusação de fraude da Securities
and Exchange Commission (SEC, a comissão de valores mobiliários dos Estados
Unidos) por vender um produto ligado a bônus hipotecários chamado Abacus. A
integridade de seus balanços financeiros, no entanto, nunca ficou sob nenhuma
grave contestação.
Os investidores, contudo, talvez devessem pensar duas vezes ao considerar os
antecedentes de alguns dos conselheiros responsáveis por assegurar a santidade
dos números do Goldman Sachs.
Vejamos James Schiro, por exemplo, que se juntou ao conselho de administração
do Goldman Sachs em 2009 e é presidente de seu comitê de auditoria. Uma de suas
tarefas é certificar que o Goldman Sachs e seu auditor externo, a
PricewaterhouseCoopers (PwC), continuem "independentes" entre si e não tenham
interesse mútuos comprometedores. Seria até possível dizer que suas
qualificações para o cargo são únicas, embora isso não seria um elogio.
Schiro foi executivo-chefe da PwC entre 1998 e 2002. Durante seu comando, uma
investigação da SEC encontrou mais de 8 mil violações nas regras de
independência de auditoria cometidas pela empresa, uma das "Quatro Grandes" no
mercado de contabilidade. A maioria das violações se relacionava com sócios que
detinham ações nos clientes de auditoria da PwC.
Em um exemplo, o próprio Schiro tinha ações de um cliente de auditoria, a
Emcore. Depois de a SEC ter ordenado, em 1999, que a Emcore trocasse a PwC e
contratasse outra auditoria para rever suas contas, a empresa processou Schiro
pessoalmente. Após chegar a acordo judicial em 2001, a Emcore retirou o
processo, que também colocava a firma e vários outros sócios da PwC como réus.
Os termos não foram revelados.
A história ganhou mais relevância, depois dos recentes problemas enfrentados
por um homem: Rajat Gupta, ex-membro do comitê de auditoria do Goldman Sachs,
que deixou o conselho de administração do banco de investimento em 2010. Se
houve algum período em que o Goldman Sachs precisava ter um comitê de auditoria
integrado por pessoas indiscutivelmente limpas, esse era o momento.
Gupta é acusado pela divisão de execução da SEC de vazar informações
confidenciais dos encontros na sala de reuniões da diretoria do Goldman Sachs
para Raj Rajaratnam, ex-gestor de fundo hedge do Galleon Group, condenado neste
mês por acusações de negociação com informação privilegiada (Gupta nega as
acusações). A questão que naturalmente se segue é quantas pessoas no comitê de
auditoria do Goldman Sachs, formado por oito membros, possuem históricos que
poderiam dar o que pensar aos investidores.
James Johnson, diretor do Goldman Sachs desde 1999, foi executivo-chefe da
Fannie Mae entre 1991 e 1998. Uma investigação interna da Fannie Mae, em 2006,
liderada pelo ex-senador Warren Rudman identificou várias violações contábeis
ocorridas durante o comando de Johnson. Johnson não foi acusado de má conduta
pelas autoridades reguladoras.
O líder entre os integrantes do conselho de administração do Goldman Sachs,
John Bryan, integrou o conselho da General Motors entre 1993 e 2009 e o comitê
de auditoria da montadora entre 1996 e 2001. A SEC acusou a GM de relatar
equivocadamente seus resultados financeiros durante vários anos, incluindo 2000
e 2001, como parte de uma acusação, encerrada com acordo em 2009; nenhuma
pessoa física foi indicada como acusada.
Stephen Friedman, que continuou no comitê de auditoria do Goldman Sachs depois
de Schiro tê-lo sucedido em setembro passado como presidente do comitê, recebeu
duras críticas em 2009 com a revelação de que havia comprado ações do Goldman
Sachs enquanto era presidente do conselho do Fed regional de Nova York, um dos
órgãos reguladores do banco de investimento. Embora a compra não tenha violado
regras, foi amplamente considerada como algo inadequado e ele renunciou ao Fed
regional em meio a pressões.
Friedman também foi presidente do conselho do Goldman Sachs. Ele se aposentou
da firma em 1994, quando ainda tinha capital fechado. Tecnicamente, pelas
regras, tem qualificação para ser membro independente do conselho de
administração do Goldman Sachs, o que lhe permite estar no comitê de auditoria.
Em essência, no entanto, dizer que o sujeito que costumava comandar o Goldman
Sachs é independente do Goldman Sachs parece um pouco demais. (O comitê de
auditoria do Goldman Sachs é incomum, porque todos os diretores não executivos
da empresa o integram.)
O comitê de auditoria do Goldman Sachs, em condições ideais, não teria nenhum
membro com credenciais de independência questionáveis ou laços com escândalos
passados contábeis ou de negociação de papéis. No entanto, isso ocorre com
metade deles. Os quatro não quiseram comentar o assunto, nem retornaram
ligações telefônicas. Um porta-voz do Goldman Sachs, Lucas van Praag, também
não quis comentar, assim como Caroline Nolan, porta-voz da PwC.
Os anos em que Schiro - que foi executivo-chefe da Zurich Financial Services
entre 2002 e 2009 - esteve no comando da PwC estiveram entre os mais
problemáticos em sua história.
Entre os clientes de auditoria da firma estiveram Tyco International, Raytheon,
Warnaco Group e Take-Two Interactive Software, empresas que tiveram de fazer
acordos para encerrar acusações de fraude contábil da SEC, sem admitir nem
negar as acusações.
O ex-executivo-chefe da Tyco Dennis Kozlowski foi para a prisão por roubar a
empresa. O sócio auditor da PwC que assinava os livros contábeis da Tyco fez
acordo para encerrar as acusações de fraude da SEC, que o proibiu
permanentemente de auditar empresas de capital aberto.
Em 1999, a SEC criticou a firma sobre uma série de violações de questões de
independência envolvendo sócios com ações de empresas clientes de auditoria da
PwC. Multou a PwC em US$ 5 milhões em 2002 por outra série de violações de
independência e auditorias falhas, abrangendo 14 companhias.
A SEC voltou a repreender a PwC em 2003 por má conduta profissional relacionada
ao trabalho de auditoria em 1998 de uma empresa chamada SmarTalk TeleServices.
No ano seguinte, a PwC pagou US$ 2,4 milhões em acordo para encerrar acusações
da SEC de ter colaborado em violações da lei de valores mobiliários na Warnaco,
em 1999. Eu poderia continuar, mas vocês já entenderam.
Já passou da hora de se fazer uma limpeza geral.
Jonathan Weil é colunista da Bloomberg News.
A reputação do Goldman Sachs Group sofreu duro golpe em 2010, quando a empresa
pagou US$ 550 milhões em acordo para encerrar acusação de fraude da Securities
and Exchange Commission (SEC, a comissão de valores mobiliários dos Estados
Unidos) por vender um produto ligado a bônus hipotecários chamado Abacus. A
integridade de seus balanços financeiros, no entanto, nunca ficou sob nenhuma
grave contestação.
Os investidores, contudo, talvez devessem pensar duas vezes ao considerar os
antecedentes de alguns dos conselheiros responsáveis por assegurar a santidade
dos números do Goldman Sachs.
Vejamos James Schiro, por exemplo, que se juntou ao conselho de administração
do Goldman Sachs em 2009 e é presidente de seu comitê de auditoria. Uma de suas
tarefas é certificar que o Goldman Sachs e seu auditor externo, a
PricewaterhouseCoopers (PwC), continuem "independentes" entre si e não tenham
interesse mútuos comprometedores. Seria até possível dizer que suas
qualificações para o cargo são únicas, embora isso não seria um elogio.
Schiro foi executivo-chefe da PwC entre 1998 e 2002. Durante seu comando, uma
investigação da SEC encontrou mais de 8 mil violações nas regras de
independência de auditoria cometidas pela empresa, uma das "Quatro Grandes" no
mercado de contabilidade. A maioria das violações se relacionava com sócios que
detinham ações nos clientes de auditoria da PwC.
Em um exemplo, o próprio Schiro tinha ações de um cliente de auditoria, a
Emcore. Depois de a SEC ter ordenado, em 1999, que a Emcore trocasse a PwC e
contratasse outra auditoria para rever suas contas, a empresa processou Schiro
pessoalmente. Após chegar a acordo judicial em 2001, a Emcore retirou o
processo, que também colocava a firma e vários outros sócios da PwC como réus.
Os termos não foram revelados.
A história ganhou mais relevância, depois dos recentes problemas enfrentados
por um homem: Rajat Gupta, ex-membro do comitê de auditoria do Goldman Sachs,
que deixou o conselho de administração do banco de investimento em 2010. Se
houve algum período em que o Goldman Sachs precisava ter um comitê de auditoria
integrado por pessoas indiscutivelmente limpas, esse era o momento.
Gupta é acusado pela divisão de execução da SEC de vazar informações
confidenciais dos encontros na sala de reuniões da diretoria do Goldman Sachs
para Raj Rajaratnam, ex-gestor de fundo hedge do Galleon Group, condenado neste
mês por acusações de negociação com informação privilegiada (Gupta nega as
acusações). A questão que naturalmente se segue é quantas pessoas no comitê de
auditoria do Goldman Sachs, formado por oito membros, possuem históricos que
poderiam dar o que pensar aos investidores.
James Johnson, diretor do Goldman Sachs desde 1999, foi executivo-chefe da
Fannie Mae entre 1991 e 1998. Uma investigação interna da Fannie Mae, em 2006,
liderada pelo ex-senador Warren Rudman identificou várias violações contábeis
ocorridas durante o comando de Johnson. Johnson não foi acusado de má conduta
pelas autoridades reguladoras.
O líder entre os integrantes do conselho de administração do Goldman Sachs,
John Bryan, integrou o conselho da General Motors entre 1993 e 2009 e o comitê
de auditoria da montadora entre 1996 e 2001. A SEC acusou a GM de relatar
equivocadamente seus resultados financeiros durante vários anos, incluindo 2000
e 2001, como parte de uma acusação, encerrada com acordo em 2009; nenhuma
pessoa física foi indicada como acusada.
Stephen Friedman, que continuou no comitê de auditoria do Goldman Sachs depois
de Schiro tê-lo sucedido em setembro passado como presidente do comitê, recebeu
duras críticas em 2009 com a revelação de que havia comprado ações do Goldman
Sachs enquanto era presidente do conselho do Fed regional de Nova York, um dos
órgãos reguladores do banco de investimento. Embora a compra não tenha violado
regras, foi amplamente considerada como algo inadequado e ele renunciou ao Fed
regional em meio a pressões.
Friedman também foi presidente do conselho do Goldman Sachs. Ele se aposentou
da firma em 1994, quando ainda tinha capital fechado. Tecnicamente, pelas
regras, tem qualificação para ser membro independente do conselho de
administração do Goldman Sachs, o que lhe permite estar no comitê de auditoria.
Em essência, no entanto, dizer que o sujeito que costumava comandar o Goldman
Sachs é independente do Goldman Sachs parece um pouco demais. (O comitê de
auditoria do Goldman Sachs é incomum, porque todos os diretores não executivos
da empresa o integram.)
O comitê de auditoria do Goldman Sachs, em condições ideais, não teria nenhum
membro com credenciais de independência questionáveis ou laços com escândalos
passados contábeis ou de negociação de papéis. No entanto, isso ocorre com
metade deles. Os quatro não quiseram comentar o assunto, nem retornaram
ligações telefônicas. Um porta-voz do Goldman Sachs, Lucas van Praag, também
não quis comentar, assim como Caroline Nolan, porta-voz da PwC.
Os anos em que Schiro - que foi executivo-chefe da Zurich Financial Services
entre 2002 e 2009 - esteve no comando da PwC estiveram entre os mais
problemáticos em sua história.
Entre os clientes de auditoria da firma estiveram Tyco International, Raytheon,
Warnaco Group e Take-Two Interactive Software, empresas que tiveram de fazer
acordos para encerrar acusações de fraude contábil da SEC, sem admitir nem
negar as acusações.
O ex-executivo-chefe da Tyco Dennis Kozlowski foi para a prisão por roubar a
empresa. O sócio auditor da PwC que assinava os livros contábeis da Tyco fez
acordo para encerrar as acusações de fraude da SEC, que o proibiu
permanentemente de auditar empresas de capital aberto.
Em 1999, a SEC criticou a firma sobre uma série de violações de questões de
independência envolvendo sócios com ações de empresas clientes de auditoria da
PwC. Multou a PwC em US$ 5 milhões em 2002 por outra série de violações de
independência e auditorias falhas, abrangendo 14 companhias.
A SEC voltou a repreender a PwC em 2003 por má conduta profissional relacionada
ao trabalho de auditoria em 1998 de uma empresa chamada SmarTalk TeleServices.
No ano seguinte, a PwC pagou US$ 2,4 milhões em acordo para encerrar acusações
da SEC de ter colaborado em violações da lei de valores mobiliários na Warnaco,
em 1999. Eu poderia continuar, mas vocês já entenderam.
Já passou da hora de se fazer uma limpeza geral.
Jonathan Weil é colunista da Bloomberg News.
A longa estrada para a recuperação
A longa estrada para a recuperação
O que se deve entender dos últimos dados econômicos, particularmente os dos
países avançados? A economia mundial está em desaceleração? Se estiver, a
política monetária deveria fazer algo a respeito e, se deveria, quais seriam as
alternativas?
Gavyn Davies, em seu blog no "Financial Times", destacou em 5 de junho que a
"velocidade e extensão do declínio no crescimento industrial foram
extraordinariamente severos, especialmente nos EUA". Ainda mais importante
politicamente, foi a estimativa de que o setor privado dos EUA criou apenas 38
mil empregos em maio, bem abaixo da previsão de 175 mil. Davies ressalta que
"se adicionarmos todas as evidências das pesquisas empresariais em maio, temos
um quadro em que a economia global provavelmente continua em expansão, mas não
a um ritmo muito rápido".
Em seu conjunto, escreve, "o declínio mostrado nas pesquisas empresariais foi
maior que o ocorrido na primavera do ano passado, quando a recuperação da
economia mundial caiu em um buraco temporário". Mas "eles ainda não recuaram a
nenhum ponto próximo dos níveis que desencadeariam preocupações sérias sobre
uma recaída recessiva."
A avaliação parece correta. Ressalta o fato de que, nos países avançados como
um todo, a recuperação vem sendo frágil, particularmente tendo em vista a
profundidade da recessão. Das seis maiores economias avançadas - EUA, Japão,
Alemanha, França, Reino Unido e Itália - apenas EUA e Alemanha tiveram o
Produto Interno Bruto (PIB) do primeiro trimestre de 2011 maior do que o do
mesmo período há três anos e, mesmo assim, por pouca diferença. Considero os
quatro retardatários como ainda estando em recessão.
Nos países avançados, a recuperação vem sendo frágil, tendo em vista a
profundidade da recessão. Das seis maiores economias avançadas só EUA e
Alemanha tiveram o PIB do primeiro trimestre de 2011 maior do que o do mesmo
período há três anos
O fato de que os EUA, entre esses seis países, tiveram o maior aumento do PIB
em relação ao ponto inicial de comparação pode ser surpresa para alguns, tendo
em vista seu índice de desemprego de 9% em abril. Isso revela a flexibilidade
do mercado trabalhista dos EUA. Também sinaliza que a demanda e, portanto, a
produção continuam deprimidos. Pelos padrões de seu próprio passado - não pelo
padrão atual dos outros países ricos - a recuperação dos EUA é extremamente
decepcionante.
Então, o que ocorre? A resposta mais ampla é que os duradouros e fortes ventos
contrários à recuperação pós-crise ganharam o reforço de novos ventos mais ou
menos temporários.
As recessões originadas em estouros de bolhas infladas por crédito normalmente
são mais rigorosas e duram mais que as geradas por tentativas de restringir o
sobreaquecimento inflacionário. Normalmente, são necessários vários anos para a
estabilização dos preços dos ativos, principalmente os preços das propriedades,
e para que a alavancagem em excesso seja reduzida por meio de falências maciças
e o lento pagamento das dívidas em excesso. Durante esse tempo, os gastos
privados tendem a ser baixos, como é o caso agora nos EUA, Reino Unido e
Espanha. O resultado também tende a ser um imenso aumento nos déficits fiscais,
uma vez que a arrecadação despenca e os gastos aumentam em relação a um PIB bem
abaixo do previsto. Esse choque de produção é uma fonte bem mais relevante para
os imensos déficits fiscais nos países mais afetados pela crise do que os tão
difamados e modestos estímulos fiscais.
Esse é, então, o vento contrário estrutural. A ele se somaram, no entanto, a
alta das commodities, mais notavelmente dos combustíveis, e o impacto na rede
de abastecimento mundial decorrente do terremoto e tsunami no Japão, em 11 de
março. A recente elevação nos preços do petróleo, por si só um imposto sobre os
consumidores, em parte reflete a "primavera árabe", mas o mais relevante é uma
mudança estrutural permanente: o impacto crescente dos gigantes emergentes na
demanda por commodities mundiais.
A solução mágica seriam as políticas estruturais? A Organização para Cooperação
e Desenvolvimento Econômico (OCDE) argumenta que "receios sobre o alto
desemprego, tornando-se arraigados, e uma redução permanente pós-crise na
produção potencial, combinados com a necessidade de fortalecer a confiança na
sustentabilidade da dinâmica das dívidas do setor público aumentam a urgência
de aprovar reformas estruturais, bem elaboradas, de aperfeiçoamento do
crescimento". Isso está correto.
Políticas estruturais não são suficientes. A demanda também é importante para
as mazelas pós-crise. Políticas estruturais que fortaleçam os incentivos para
investir são duplamente bem-vindas, uma vez que elevam a demanda e a oferta
potencial ao mesmo tempo. Precisam ser uma prioridade ao se elaborar planos de
gastos e impostos. Também é crucial, contudo, realizar de forma apropriada a
saída da atual política monetária e fiscal. Nas atuais circunstâncias, é bem
mais provável que as medidas de apoio sejam retiradas de forma mais precoce do
que tardia, minando a recuperação e gerando uma estagnação prolongada, com
longos efeitos negativos estruturais.
Em resumo, os argumentos para combinar medidas estruturais para melhorar as
posições fiscais e a produção potencial no longo prazo com a continuidade de
apoio fiscal e monetário sólido à recuperação econômica parecem, para mim pelo
menos, claríssimos em países com espaço de manobra. O maior perigo continua
sendo a semiestagnação prolongada na era pós-crise, não o crescimento excessivo
e a inflação elevada. Isso, é claro, é um juízo. Mas juízo é o que temos.
Usem-no.
Martin Wolf é editor e principal comentarista econômico do FT
O que se deve entender dos últimos dados econômicos, particularmente os dos
países avançados? A economia mundial está em desaceleração? Se estiver, a
política monetária deveria fazer algo a respeito e, se deveria, quais seriam as
alternativas?
Gavyn Davies, em seu blog no "Financial Times", destacou em 5 de junho que a
"velocidade e extensão do declínio no crescimento industrial foram
extraordinariamente severos, especialmente nos EUA". Ainda mais importante
politicamente, foi a estimativa de que o setor privado dos EUA criou apenas 38
mil empregos em maio, bem abaixo da previsão de 175 mil. Davies ressalta que
"se adicionarmos todas as evidências das pesquisas empresariais em maio, temos
um quadro em que a economia global provavelmente continua em expansão, mas não
a um ritmo muito rápido".
Em seu conjunto, escreve, "o declínio mostrado nas pesquisas empresariais foi
maior que o ocorrido na primavera do ano passado, quando a recuperação da
economia mundial caiu em um buraco temporário". Mas "eles ainda não recuaram a
nenhum ponto próximo dos níveis que desencadeariam preocupações sérias sobre
uma recaída recessiva."
A avaliação parece correta. Ressalta o fato de que, nos países avançados como
um todo, a recuperação vem sendo frágil, particularmente tendo em vista a
profundidade da recessão. Das seis maiores economias avançadas - EUA, Japão,
Alemanha, França, Reino Unido e Itália - apenas EUA e Alemanha tiveram o
Produto Interno Bruto (PIB) do primeiro trimestre de 2011 maior do que o do
mesmo período há três anos e, mesmo assim, por pouca diferença. Considero os
quatro retardatários como ainda estando em recessão.
Nos países avançados, a recuperação vem sendo frágil, tendo em vista a
profundidade da recessão. Das seis maiores economias avançadas só EUA e
Alemanha tiveram o PIB do primeiro trimestre de 2011 maior do que o do mesmo
período há três anos
O fato de que os EUA, entre esses seis países, tiveram o maior aumento do PIB
em relação ao ponto inicial de comparação pode ser surpresa para alguns, tendo
em vista seu índice de desemprego de 9% em abril. Isso revela a flexibilidade
do mercado trabalhista dos EUA. Também sinaliza que a demanda e, portanto, a
produção continuam deprimidos. Pelos padrões de seu próprio passado - não pelo
padrão atual dos outros países ricos - a recuperação dos EUA é extremamente
decepcionante.
Então, o que ocorre? A resposta mais ampla é que os duradouros e fortes ventos
contrários à recuperação pós-crise ganharam o reforço de novos ventos mais ou
menos temporários.
As recessões originadas em estouros de bolhas infladas por crédito normalmente
são mais rigorosas e duram mais que as geradas por tentativas de restringir o
sobreaquecimento inflacionário. Normalmente, são necessários vários anos para a
estabilização dos preços dos ativos, principalmente os preços das propriedades,
e para que a alavancagem em excesso seja reduzida por meio de falências maciças
e o lento pagamento das dívidas em excesso. Durante esse tempo, os gastos
privados tendem a ser baixos, como é o caso agora nos EUA, Reino Unido e
Espanha. O resultado também tende a ser um imenso aumento nos déficits fiscais,
uma vez que a arrecadação despenca e os gastos aumentam em relação a um PIB bem
abaixo do previsto. Esse choque de produção é uma fonte bem mais relevante para
os imensos déficits fiscais nos países mais afetados pela crise do que os tão
difamados e modestos estímulos fiscais.
Esse é, então, o vento contrário estrutural. A ele se somaram, no entanto, a
alta das commodities, mais notavelmente dos combustíveis, e o impacto na rede
de abastecimento mundial decorrente do terremoto e tsunami no Japão, em 11 de
março. A recente elevação nos preços do petróleo, por si só um imposto sobre os
consumidores, em parte reflete a "primavera árabe", mas o mais relevante é uma
mudança estrutural permanente: o impacto crescente dos gigantes emergentes na
demanda por commodities mundiais.
A solução mágica seriam as políticas estruturais? A Organização para Cooperação
e Desenvolvimento Econômico (OCDE) argumenta que "receios sobre o alto
desemprego, tornando-se arraigados, e uma redução permanente pós-crise na
produção potencial, combinados com a necessidade de fortalecer a confiança na
sustentabilidade da dinâmica das dívidas do setor público aumentam a urgência
de aprovar reformas estruturais, bem elaboradas, de aperfeiçoamento do
crescimento". Isso está correto.
Políticas estruturais não são suficientes. A demanda também é importante para
as mazelas pós-crise. Políticas estruturais que fortaleçam os incentivos para
investir são duplamente bem-vindas, uma vez que elevam a demanda e a oferta
potencial ao mesmo tempo. Precisam ser uma prioridade ao se elaborar planos de
gastos e impostos. Também é crucial, contudo, realizar de forma apropriada a
saída da atual política monetária e fiscal. Nas atuais circunstâncias, é bem
mais provável que as medidas de apoio sejam retiradas de forma mais precoce do
que tardia, minando a recuperação e gerando uma estagnação prolongada, com
longos efeitos negativos estruturais.
Em resumo, os argumentos para combinar medidas estruturais para melhorar as
posições fiscais e a produção potencial no longo prazo com a continuidade de
apoio fiscal e monetário sólido à recuperação econômica parecem, para mim pelo
menos, claríssimos em países com espaço de manobra. O maior perigo continua
sendo a semiestagnação prolongada na era pós-crise, não o crescimento excessivo
e a inflação elevada. Isso, é claro, é um juízo. Mas juízo é o que temos.
Usem-no.
Martin Wolf é editor e principal comentarista econômico do FT
Louis Dreyfus e CCAB fazem parceria de US$ 40 milhões
Louis Dreyfus e CCAB fazem parceria de US$ 40 milhões
A multinacional de origem francesa Louis Dreyfus Commodities e a CCAB Agro,
braço de insumos agrícolas do grupo brasileiro CCAB Participações, anunciaram
ontem a formação de uma parceria que tem por objetivo o crescimento de ambos
sobretudo nas áreas de defensivos e fertilizantes.
A CCAB Participações reúne 16 cooperativas de agricultores presentes nos
Estados de Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Bahia, Minas e Santa Catarina. Nas
últimas quatro safras, a CCAB informou que intermediou vendas de defensivos que
superaram US$ 500 milhões.
A partir do acordo, a Louis Dreyfus destinará US$ 30 milhões, por meio da CCAB,
a uma linha de crédito para incrementar os negócios de troca de insumos por
produção agrícola no Brasil. "Vamos fomentar o negócio de 'barter', com foco em
produtores de algodão, soja, milho e café", afirmou Adrian Isman, principal
executivo operacional (COO) da múlti no país.
Para Isman, esse tipo de troca, no qual a LD utilizará sua estrutura de
importações e exportações para otimizar os negócios com os insumos com
associados à CCAB, ainda é pouco explorado no Brasil e tem bom potencial,
especialmente com a atual tendência de crescimento do tamanho dos agricultores
do país.
Além da linha, a LD também deverá fazer um aporte de US$ 10 milhões na CCAB
Agro em debêntures conversíveis em ações. A eventual conversão poderá acontecer
em um prazo mínimo de quatro anos e em até sete anos. Além da clientela, a CCAB
Agro tem a oferecer aos franceses uma lista de 66 produtos agroquímicos em
processo de registro no governo, o que aumenta as possibilidades de negócios
com novos defensivos no futuro próximo.
Conforme Jorge Moura, diretor executivo da CCAB Agro, a associação deverá
acelerar o avanço do braço da CCAB Participações no mercado de insumos,
inclusive fertilizantes. Apenas as vendas totais de defensivos superam US$ 7
bilhões por ano no Brasil. O Itau BBA atuou como assessor financeiro do grupo
na parceria com a LD.
A multinacional de origem francesa Louis Dreyfus Commodities e a CCAB Agro,
braço de insumos agrícolas do grupo brasileiro CCAB Participações, anunciaram
ontem a formação de uma parceria que tem por objetivo o crescimento de ambos
sobretudo nas áreas de defensivos e fertilizantes.
A CCAB Participações reúne 16 cooperativas de agricultores presentes nos
Estados de Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Bahia, Minas e Santa Catarina. Nas
últimas quatro safras, a CCAB informou que intermediou vendas de defensivos que
superaram US$ 500 milhões.
A partir do acordo, a Louis Dreyfus destinará US$ 30 milhões, por meio da CCAB,
a uma linha de crédito para incrementar os negócios de troca de insumos por
produção agrícola no Brasil. "Vamos fomentar o negócio de 'barter', com foco em
produtores de algodão, soja, milho e café", afirmou Adrian Isman, principal
executivo operacional (COO) da múlti no país.
Para Isman, esse tipo de troca, no qual a LD utilizará sua estrutura de
importações e exportações para otimizar os negócios com os insumos com
associados à CCAB, ainda é pouco explorado no Brasil e tem bom potencial,
especialmente com a atual tendência de crescimento do tamanho dos agricultores
do país.
Além da linha, a LD também deverá fazer um aporte de US$ 10 milhões na CCAB
Agro em debêntures conversíveis em ações. A eventual conversão poderá acontecer
em um prazo mínimo de quatro anos e em até sete anos. Além da clientela, a CCAB
Agro tem a oferecer aos franceses uma lista de 66 produtos agroquímicos em
processo de registro no governo, o que aumenta as possibilidades de negócios
com novos defensivos no futuro próximo.
Conforme Jorge Moura, diretor executivo da CCAB Agro, a associação deverá
acelerar o avanço do braço da CCAB Participações no mercado de insumos,
inclusive fertilizantes. Apenas as vendas totais de defensivos superam US$ 7
bilhões por ano no Brasil. O Itau BBA atuou como assessor financeiro do grupo
na parceria com a LD.
STJ revoga benefícios fiscais federais
STJ revoga benefícios fiscais federais
O Superior Tribunal de Justiça (STJ) anulou benefícios fiscais federais
concedidos em 2002 à Telemar Norte Leste (atual Oi), que previam um desconto de
75% no Imposto de Renda incidente sobre o lucro de um empreendimento em
Vitória, no Espírito Santo, até o fim de 2013. Os benefícios foram concedidos
com base na legislação que criou a extinta Superintendência de Desenvolvimento
do Nordeste (Sudene). A Agência de Desenvolvimento do Nordeste (Adene), que
sucedeu a Sudene, ampliou a área territorial de abrangência do plano de
desenvolvimento do Nordeste. Com isso, o Estado do Espírito Santo também passou
a ser contemplado.
Na época dessa mudança, a Telemar Norte Leste pleiteou o direito ao desconto do
IR para um empreendimento em Vitória, tendo como base a ampliação territorial
do programa de desenvolvimento. Segundo informações do processo, o benefício
foi reconhecido em laudos constitutivos da inventariança extrajudicial da
Sudene, responsável pelas questões relacionadas à entidade após sua extinção.
Esses documentos foram referendados pela Advocacia-Geral da União (AGU), pela
Receita Federal e pelo Ministério da Integração Nacional, por meio de sua
consultoria jurídica, de acordo com o processo.
Mas em 2004, dois anos após a concessão do incentivo fiscal, os benefícios
foram revogados. Um parecer do próprio ministério anulou os laudos
constitutivos que concediam o desconto do IR. A Telemar Norte Leste entrou na
Justiça argumentando que os benefícios fiscais onerosos - ou seja, concedidos
em troca de condições a serem cumpridas pelas empresas - não podem ser
revogados a qualquer tempo. O argumento tem como base o artigo 178 do Código
Tributário Nacional, que normatiza a revogação de benefícios fiscais. A empresa
também citou a Súmula n 544 do Supremo Tribunal Federal, que impede a
revogação dos chamados benefícios onerosos antes do prazo de vencimento.
A empresa argumentou que investiu mais de R$ 100 milhões no Espírito Santo
devido à promessa de benefício fiscal. O advogado da operadora, Luiz Gustavo
Bichara, do escritório Bichara, Barata, Costa & Rocha Advogados, sustenta que a
situação gera um direito adquirido. Segundo ele, como contrapartida ao
incentivo, a empresa ficava proibida de distribuir aos acionistas o valor do
desconto no tributo, e era obrigada a aplicar o valor da redução fiscal na
região. De acordo com Bichara, os descontos do IR não chegaram a ser usados,
pois a empresa teve resultados negativos nos dois anos em que o incentivo
durou. Por isso, com o processo judicial, a Telemar Norte Leste pretende usar o
incentivo nos outros anos, até 2013. Outras 23 empresas obtiveram benefícios
posteriormente anulados - entre elas, a Aracruz e a Arcelor.
Ao analisar o caso ontem, a 2 Turma do STJ rejeitou os argumentos da Telemar
Norte Leste. O relator do caso, ministro Humberto Martins, foi seguido por
unanimidade pelos demais integrantes da turma. Em seu voto, Martins mencionou a
decisão questionada, segundo a qual o benefício não poderia ter sido concedido
pela extinta Sudene, já que ela foi sucedida por outra entidade. Também afirmou
que a administração pública pode declarar a nulidade de seus próprios atos.
"Não se trata de revogação de isenção, mas de anulação de ato administrativo",
afirmou o ministro, acrescentando que isso pode ser feito a qualquer tempo,
quando identificados vícios. O ministro Castro Meira comentou que a empresa
estava localizada em Vitória, mas em seu entendimento o programa de incentivo
abarcava somente o Norte do Espírito Santo.
A Telemar Norte Leste irá recorrer da decisão, segundo Bichara. "É uma situação
imoral, porque o contribuinte confia na indicação estatal, investe na região e
depois perde o benefício."
Responder Encaminhar Convidar NetcaféBR
O Superior Tribunal de Justiça (STJ) anulou benefícios fiscais federais
concedidos em 2002 à Telemar Norte Leste (atual Oi), que previam um desconto de
75% no Imposto de Renda incidente sobre o lucro de um empreendimento em
Vitória, no Espírito Santo, até o fim de 2013. Os benefícios foram concedidos
com base na legislação que criou a extinta Superintendência de Desenvolvimento
do Nordeste (Sudene). A Agência de Desenvolvimento do Nordeste (Adene), que
sucedeu a Sudene, ampliou a área territorial de abrangência do plano de
desenvolvimento do Nordeste. Com isso, o Estado do Espírito Santo também passou
a ser contemplado.
Na época dessa mudança, a Telemar Norte Leste pleiteou o direito ao desconto do
IR para um empreendimento em Vitória, tendo como base a ampliação territorial
do programa de desenvolvimento. Segundo informações do processo, o benefício
foi reconhecido em laudos constitutivos da inventariança extrajudicial da
Sudene, responsável pelas questões relacionadas à entidade após sua extinção.
Esses documentos foram referendados pela Advocacia-Geral da União (AGU), pela
Receita Federal e pelo Ministério da Integração Nacional, por meio de sua
consultoria jurídica, de acordo com o processo.
Mas em 2004, dois anos após a concessão do incentivo fiscal, os benefícios
foram revogados. Um parecer do próprio ministério anulou os laudos
constitutivos que concediam o desconto do IR. A Telemar Norte Leste entrou na
Justiça argumentando que os benefícios fiscais onerosos - ou seja, concedidos
em troca de condições a serem cumpridas pelas empresas - não podem ser
revogados a qualquer tempo. O argumento tem como base o artigo 178 do Código
Tributário Nacional, que normatiza a revogação de benefícios fiscais. A empresa
também citou a Súmula n 544 do Supremo Tribunal Federal, que impede a
revogação dos chamados benefícios onerosos antes do prazo de vencimento.
A empresa argumentou que investiu mais de R$ 100 milhões no Espírito Santo
devido à promessa de benefício fiscal. O advogado da operadora, Luiz Gustavo
Bichara, do escritório Bichara, Barata, Costa & Rocha Advogados, sustenta que a
situação gera um direito adquirido. Segundo ele, como contrapartida ao
incentivo, a empresa ficava proibida de distribuir aos acionistas o valor do
desconto no tributo, e era obrigada a aplicar o valor da redução fiscal na
região. De acordo com Bichara, os descontos do IR não chegaram a ser usados,
pois a empresa teve resultados negativos nos dois anos em que o incentivo
durou. Por isso, com o processo judicial, a Telemar Norte Leste pretende usar o
incentivo nos outros anos, até 2013. Outras 23 empresas obtiveram benefícios
posteriormente anulados - entre elas, a Aracruz e a Arcelor.
Ao analisar o caso ontem, a 2 Turma do STJ rejeitou os argumentos da Telemar
Norte Leste. O relator do caso, ministro Humberto Martins, foi seguido por
unanimidade pelos demais integrantes da turma. Em seu voto, Martins mencionou a
decisão questionada, segundo a qual o benefício não poderia ter sido concedido
pela extinta Sudene, já que ela foi sucedida por outra entidade. Também afirmou
que a administração pública pode declarar a nulidade de seus próprios atos.
"Não se trata de revogação de isenção, mas de anulação de ato administrativo",
afirmou o ministro, acrescentando que isso pode ser feito a qualquer tempo,
quando identificados vícios. O ministro Castro Meira comentou que a empresa
estava localizada em Vitória, mas em seu entendimento o programa de incentivo
abarcava somente o Norte do Espírito Santo.
A Telemar Norte Leste irá recorrer da decisão, segundo Bichara. "É uma situação
imoral, porque o contribuinte confia na indicação estatal, investe na região e
depois perde o benefício."
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Fed descarta novos estímulos apesar da fraqueza econômica
fraqueza econômica
O presidente do Federal Reserve (Fed, banco central dos Estados Unidos), Ben
Bernanke, reconheceu ontem a desaceleração da economia dos Estados Unidos, mas
não deu sinais de que a instituição considere novos estímulos monetários para
sustentar o crescimento. Bernanke também fez um duro alerta aos congressistas
em Washington que estudam cortes elevados no orçamento, dizendo que as reduções
têm potencial para tirar a recuperação econômica dos trilhos, caso sejam
aprovadas cedo demais.
A recente enxurrada de dados econômicos fracos, que culminou com o informe na
sexta-feira mostrando que os empregadores nos EUA aumentaram suas folhas de
pagamento em apenas 54 mil funcionários em maio, renovou as especulações de que
a economia poderia precisar de mais apoio do Fed. "O crescimento econômico dos
EUA até agora neste ano parece ser um pouco mais lento do que o esperado",
disse Bernanke, em conferência do setor bancário. "Vários indicadores também
sugerem certa perda de força nos mercados de trabalho nas últimas semanas."
Em Washington, o presidente Barack Obama afirmou que está avaliando a extensão
das medidas de estímulo à economia diante do fraco crescimento. O presidente
afirmou, porém, que ainda é cedo para saber se os dados ruins de emprego são
pontuais ou representam uma tendência. O governo cortou impostos sobre salários
e estendeu benefícios fiscais a empresas em dezembro passado.
Para Bernanke, a recuperação ainda é fraca o suficiente para exigir a
manutenção das fortes medidas de apoio monetário e a economia ainda está
crescendo abaixo de seu potencial total.
O presidente do Fed, no entanto, argumentou que a recente série de números
ruins provavelmente não durará muito e deverá dar lugar a um crescimento maior
na segunda metade do ano. Da mesma forma, a recente alta na inflação dos EUA,
embora preocupante, deve ser transitória, disse Bernanke. O baixo aumento dos
salários e as baixas expectativas inflacionárias indicam poucas pressões
inflacionárias duradouras, acrescentou.
Quanto ao orçamento, Bernanke reiterou a defesa de um plano de longo prazo para
que os EUA entrem em uma rota fiscal sustentável e alertou políticos contra
cortes maciços de curto prazo nos gastos.
"Uma consolidação fiscal profunda, centrada em um prazo muito curto, poderia
ser contraproducente, se acabasse minando a recuperação ainda frágil", de
acordo com Bernanke.
"Tomando decisões, hoje, que levem a uma consolidação fiscal ao longo de um
horizonte mais longo, as autoridades podem evitar uma contração fiscal
repentina, que poderia colocar em risco a recuperação."
O banco central americano já cortou as taxas de juros de um dia para zero e
comprou mais de US$ 2 trilhões em bônus governamentais para tirar a economia de
sua profunda recessão e incentivar uma recuperação mais sólida.
Com o balanço patrimonial do Fed já inchado, as autoridades deixaram claro que
já pressionaram demais os limites, o que os restringe de afrouxar ainda mais a
política monetária. A atual rodada de compras de bônus governamentais, de US$
600 bilhões, conhecida com "Flexibilização Quantitativa 2", acaba ainda neste
mês.
As fortes críticas à segunda rodada de flexibilização são um dos fatores que
provavelmente deixarão as autoridades monetárias relutantes em testar os
limites de políticas não convencionais. Uma piora nas condições econômicas,
contudo, particularmente se vier acompanhada da reversão da recente pressão de
alta na inflação, poderia mudar esse panorama.
O informe do governo sobre empregos na sexta-feira foi quase inteiramente
desolador. O ritmo de contratações foi pouco mais de um terço do esperado por
economistas e o índice de desemprego subiu a 9,1%, contrariando as previsões de
ligeira queda.
Em uma pesquisa da Reuters realizada após o informe sobre emprego, com bancos
que são "dealers" primários nos Estados Unidos, os analistas viram apenas 10%
de chance de outra rodada de compras de bônus do governo pelo Fed nos próximos
dois anos.
O enfraquecimento da recuperação dos EUA chega em meio a um quadro de
incertezas sobre o rumo da política fiscal e de disputas no Congresso sobre o
limite de endividamento do país, com os republicanos pressionando duramente por
cortes profundos no orçamento.
Também surgiram obstáculos no exterior para o estado da economia americana. A
Europa está às voltas com sua crise de dívidas soberanas, enquanto o Japão
ainda se recupera do impacto traumático do terremoto e tsunami que atingiram o
país.
Entre os países emergentes, a China tenta domar seu crescimento extraordinário
para evitar problemas inflacionários. Autoridades do Fed admitiram ter ficado
surpresas com a aparência frágil da economia, mas nenhuma defendeu ainda novos
estímulos.
O presidente do Federal Reserve (Fed, banco central dos Estados Unidos), Ben
Bernanke, reconheceu ontem a desaceleração da economia dos Estados Unidos, mas
não deu sinais de que a instituição considere novos estímulos monetários para
sustentar o crescimento. Bernanke também fez um duro alerta aos congressistas
em Washington que estudam cortes elevados no orçamento, dizendo que as reduções
têm potencial para tirar a recuperação econômica dos trilhos, caso sejam
aprovadas cedo demais.
A recente enxurrada de dados econômicos fracos, que culminou com o informe na
sexta-feira mostrando que os empregadores nos EUA aumentaram suas folhas de
pagamento em apenas 54 mil funcionários em maio, renovou as especulações de que
a economia poderia precisar de mais apoio do Fed. "O crescimento econômico dos
EUA até agora neste ano parece ser um pouco mais lento do que o esperado",
disse Bernanke, em conferência do setor bancário. "Vários indicadores também
sugerem certa perda de força nos mercados de trabalho nas últimas semanas."
Em Washington, o presidente Barack Obama afirmou que está avaliando a extensão
das medidas de estímulo à economia diante do fraco crescimento. O presidente
afirmou, porém, que ainda é cedo para saber se os dados ruins de emprego são
pontuais ou representam uma tendência. O governo cortou impostos sobre salários
e estendeu benefícios fiscais a empresas em dezembro passado.
Para Bernanke, a recuperação ainda é fraca o suficiente para exigir a
manutenção das fortes medidas de apoio monetário e a economia ainda está
crescendo abaixo de seu potencial total.
O presidente do Fed, no entanto, argumentou que a recente série de números
ruins provavelmente não durará muito e deverá dar lugar a um crescimento maior
na segunda metade do ano. Da mesma forma, a recente alta na inflação dos EUA,
embora preocupante, deve ser transitória, disse Bernanke. O baixo aumento dos
salários e as baixas expectativas inflacionárias indicam poucas pressões
inflacionárias duradouras, acrescentou.
Quanto ao orçamento, Bernanke reiterou a defesa de um plano de longo prazo para
que os EUA entrem em uma rota fiscal sustentável e alertou políticos contra
cortes maciços de curto prazo nos gastos.
"Uma consolidação fiscal profunda, centrada em um prazo muito curto, poderia
ser contraproducente, se acabasse minando a recuperação ainda frágil", de
acordo com Bernanke.
"Tomando decisões, hoje, que levem a uma consolidação fiscal ao longo de um
horizonte mais longo, as autoridades podem evitar uma contração fiscal
repentina, que poderia colocar em risco a recuperação."
O banco central americano já cortou as taxas de juros de um dia para zero e
comprou mais de US$ 2 trilhões em bônus governamentais para tirar a economia de
sua profunda recessão e incentivar uma recuperação mais sólida.
Com o balanço patrimonial do Fed já inchado, as autoridades deixaram claro que
já pressionaram demais os limites, o que os restringe de afrouxar ainda mais a
política monetária. A atual rodada de compras de bônus governamentais, de US$
600 bilhões, conhecida com "Flexibilização Quantitativa 2", acaba ainda neste
mês.
As fortes críticas à segunda rodada de flexibilização são um dos fatores que
provavelmente deixarão as autoridades monetárias relutantes em testar os
limites de políticas não convencionais. Uma piora nas condições econômicas,
contudo, particularmente se vier acompanhada da reversão da recente pressão de
alta na inflação, poderia mudar esse panorama.
O informe do governo sobre empregos na sexta-feira foi quase inteiramente
desolador. O ritmo de contratações foi pouco mais de um terço do esperado por
economistas e o índice de desemprego subiu a 9,1%, contrariando as previsões de
ligeira queda.
Em uma pesquisa da Reuters realizada após o informe sobre emprego, com bancos
que são "dealers" primários nos Estados Unidos, os analistas viram apenas 10%
de chance de outra rodada de compras de bônus do governo pelo Fed nos próximos
dois anos.
O enfraquecimento da recuperação dos EUA chega em meio a um quadro de
incertezas sobre o rumo da política fiscal e de disputas no Congresso sobre o
limite de endividamento do país, com os republicanos pressionando duramente por
cortes profundos no orçamento.
Também surgiram obstáculos no exterior para o estado da economia americana. A
Europa está às voltas com sua crise de dívidas soberanas, enquanto o Japão
ainda se recupera do impacto traumático do terremoto e tsunami que atingiram o
país.
Entre os países emergentes, a China tenta domar seu crescimento extraordinário
para evitar problemas inflacionários. Autoridades do Fed admitiram ter ficado
surpresas com a aparência frágil da economia, mas nenhuma defendeu ainda novos
estímulos.
Uma visão menos europeia da nova zona do euro
Uma visão menos europeia da nova zona do euro
A França deveria facilitar para as empresas a tarefa de demitir funcionários.
Os impostos cobrados pela Alemanha dos trabalhadores de baixa e média renda são
altos demais. A Bélgica deveria tornar mais fácil para os varejistas aumentarem
seu horário de funcionamento. As empresas italianas precisam ter maior acesso
ao capital de risco.
A zona do euro recomendada pela Comissão Europeia (CE), o braço executivo da
União Europeia, em uma série de relatórios específicos por país e publicada
ontem, teria uma aparência muito diferente da zona do euro de apenas alguns
anos atrás.
Os sistemas de aposentadoria e pensão teriam a idade mínima para aposentadoria
elevada. Setores há muito protegidos seriam desregulamentados. Os aumentos
salariais garantidos, extensa e penosamente negociados pelos sindicatos, seriam
renegociados.
Em outras palavras, o modelo ou modelos para a economia da zona do euro teriam
uma aparência muito menos europeia.
"O que estamos fazendo hoje é parte de nossa reação à crise, que teve caráter
mundial, mas cujos severos efeitos foram, sobretudo, locais", disse José Manuel
Barroso, presidente da CE. "Estou muito confiante de que esse exercício de fato
imponha uma importante mudança na maneira pela qual nós, da União Europeia,
fazemos política econômica."
A CE, sediada em Bruxelas, tentou nos últimos dez anos levar os países-membros
da UE a liberalizar sua economia, reduzir os gastos e reformular a política
tributária - um processo que assumiu maior premência depois da crise financeira
-, mas com um efeito apenas limitado.
Os críticos dos esforços da CE argumentaram que esses preceitos de Bruxelas não
apenas são sistematicamente ignorados mas também são parte de uma investida dos
partidos políticos de centro-direita com objetivo de empregar o braço
executivo, teoricamente tecnocrata, para aprovar políticas que coincidem com a
sua visão de mundo.
É pouco provável que a queda de braço política arrefeça, principalmente tendo
em vista que Barroso - ex-premiê de centro-direita de Portugal - e a maioria
dos dirigentes nacionais dos maiores países da zona do euro provêm da parcela
conservadora do espectro político.
Todas as atenções, no entanto, agora estarão voltadas para saber se Bruxelas,
pela primeira vez, será capaz de influenciar diretamente a tomada de decisões
econômicas nas capitais nacionais.
Os 27 informes divulgados ontem fazem parte do que foi chamado prosaicamente de
"Semestre Europeu", um novo processo de seis meses no qual os governos
nacionais precisam apresentar seus orçamentos e programas de reformas nacionais
à CE de Barroso, para avaliação.
O processo pouco fará para aliviar a crise de dívidas da região do euro, mas,
em teoria, evitará a próxima, presumindo que os governos nacionais sejam
cuidadosos.
Se as leis sendo negociadas no Parlamento Europeu forem aprovadas, Barroso
também terá um novo poder para fazer com que as recomendações sejam cumpridas -
uma série de multas e penalidades, que Bruxelas poderá impor aos países que não
cumpram as decisões da CE.
Para Jean-Claude Trichet, o presidente do Banco Central Europeu (BCE), que está
deixando o cargo, o novo Semestre Europeu é o início do que poderia ser uma
política fiscal centralizada, que muitos economistas acreditam ser essencial
para acompanhar uma moeda única.
Na semana passada, Trichet sugeriu que a UE criasse um Ministério das Finanças
único. E deixou claro que o novo processo de fiscalização do orçamento e a lei
que o acompanha dando a Bruxelas autoridade para aplicar multas, poderia ser o
veículo para alcançar isso.
"Esse é o meio para permitir que todos os países colham os benefícios integrais
da moeda única", disse Trichet. "E proíbe países de promover políticas que
prejudiquem eles e a região do euro como um todo."
Conseguir esse objetivo agora está nas mãos dos próprios 27 países da UE.
Embora Barroso possa recomendar mudanças, cabe ao Conselho Europeu endossar as
conclusões em seu encontro marcado para daqui a duas semanas.
Os líderes nacionais poderiam optar por diluir as recomendações. E os
Parlamentos nacionais poderiam ignorar as recomendações. Mas, na opinião de
vários altos diplomatas em Bruxelas, a UE, pela primeira vez, tem chances
sérias de impor sua vontade econômica a todos os países-membros.
A França deveria facilitar para as empresas a tarefa de demitir funcionários.
Os impostos cobrados pela Alemanha dos trabalhadores de baixa e média renda são
altos demais. A Bélgica deveria tornar mais fácil para os varejistas aumentarem
seu horário de funcionamento. As empresas italianas precisam ter maior acesso
ao capital de risco.
A zona do euro recomendada pela Comissão Europeia (CE), o braço executivo da
União Europeia, em uma série de relatórios específicos por país e publicada
ontem, teria uma aparência muito diferente da zona do euro de apenas alguns
anos atrás.
Os sistemas de aposentadoria e pensão teriam a idade mínima para aposentadoria
elevada. Setores há muito protegidos seriam desregulamentados. Os aumentos
salariais garantidos, extensa e penosamente negociados pelos sindicatos, seriam
renegociados.
Em outras palavras, o modelo ou modelos para a economia da zona do euro teriam
uma aparência muito menos europeia.
"O que estamos fazendo hoje é parte de nossa reação à crise, que teve caráter
mundial, mas cujos severos efeitos foram, sobretudo, locais", disse José Manuel
Barroso, presidente da CE. "Estou muito confiante de que esse exercício de fato
imponha uma importante mudança na maneira pela qual nós, da União Europeia,
fazemos política econômica."
A CE, sediada em Bruxelas, tentou nos últimos dez anos levar os países-membros
da UE a liberalizar sua economia, reduzir os gastos e reformular a política
tributária - um processo que assumiu maior premência depois da crise financeira
-, mas com um efeito apenas limitado.
Os críticos dos esforços da CE argumentaram que esses preceitos de Bruxelas não
apenas são sistematicamente ignorados mas também são parte de uma investida dos
partidos políticos de centro-direita com objetivo de empregar o braço
executivo, teoricamente tecnocrata, para aprovar políticas que coincidem com a
sua visão de mundo.
É pouco provável que a queda de braço política arrefeça, principalmente tendo
em vista que Barroso - ex-premiê de centro-direita de Portugal - e a maioria
dos dirigentes nacionais dos maiores países da zona do euro provêm da parcela
conservadora do espectro político.
Todas as atenções, no entanto, agora estarão voltadas para saber se Bruxelas,
pela primeira vez, será capaz de influenciar diretamente a tomada de decisões
econômicas nas capitais nacionais.
Os 27 informes divulgados ontem fazem parte do que foi chamado prosaicamente de
"Semestre Europeu", um novo processo de seis meses no qual os governos
nacionais precisam apresentar seus orçamentos e programas de reformas nacionais
à CE de Barroso, para avaliação.
O processo pouco fará para aliviar a crise de dívidas da região do euro, mas,
em teoria, evitará a próxima, presumindo que os governos nacionais sejam
cuidadosos.
Se as leis sendo negociadas no Parlamento Europeu forem aprovadas, Barroso
também terá um novo poder para fazer com que as recomendações sejam cumpridas -
uma série de multas e penalidades, que Bruxelas poderá impor aos países que não
cumpram as decisões da CE.
Para Jean-Claude Trichet, o presidente do Banco Central Europeu (BCE), que está
deixando o cargo, o novo Semestre Europeu é o início do que poderia ser uma
política fiscal centralizada, que muitos economistas acreditam ser essencial
para acompanhar uma moeda única.
Na semana passada, Trichet sugeriu que a UE criasse um Ministério das Finanças
único. E deixou claro que o novo processo de fiscalização do orçamento e a lei
que o acompanha dando a Bruxelas autoridade para aplicar multas, poderia ser o
veículo para alcançar isso.
"Esse é o meio para permitir que todos os países colham os benefícios integrais
da moeda única", disse Trichet. "E proíbe países de promover políticas que
prejudiquem eles e a região do euro como um todo."
Conseguir esse objetivo agora está nas mãos dos próprios 27 países da UE.
Embora Barroso possa recomendar mudanças, cabe ao Conselho Europeu endossar as
conclusões em seu encontro marcado para daqui a duas semanas.
Os líderes nacionais poderiam optar por diluir as recomendações. E os
Parlamentos nacionais poderiam ignorar as recomendações. Mas, na opinião de
vários altos diplomatas em Bruxelas, a UE, pela primeira vez, tem chances
sérias de impor sua vontade econômica a todos os países-membros.
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