Café na ICE tem dia negativo e amplia perdas da semana passada .
Os contratos futuros de café arábica negociados na ICE Futures US encerraram esta segunda-feira com novas e fortes perdas. As liquidações de fundos e de especuladores continuaram a dar o tom dos negócios e nem o cenário externo relativamente mais favorável conseguiu conter o ímpeto dos vendedores. Com isso, as cotações do grão bateram nos menores níveis em quatro meses e meio e assumiu efetivamente um cenário ainda mais baixista. Muitos players trabalham com novas expectativas de curto prazo para as cotações, sendo que vários deles crêem que o nível de 230,00 centavos deverá ser buscado. Os altistas, que durante vários meses foram os operadores mais ativos, não demonstram mais um apetite comprador e as perdas surgem quase que naturalmente. Graficamente, o mercado mostra uma tendência baixista considerável, com os fechamentos se dando abaixo de importantes linhas de médias móveis de longo e de curto prazo, o que, evidentemente, é mais um sinal negativo para o mercado. Um operador sustentou que o quadro se mostra negativo, sendo que as perdas podem ser ampliadas, apesar de haver sinais de que o mercado estaria consideravelmente sobrevendido. Diante disso, uma ação corretiva não causaria estranhamento entre os players. Contudo, o mercado demonstra uma considerável força no seu viés vendedor e, mesmo diante dessa característica sobrevendida, é possível que as liquidações se mantenham. O cenário externo não trouxe maiores pressões para o café. O dólar teve uma segunda-feira de ligeiras perdas, ao passo que o índice CRB registrou pequena oscilação positiva. No encerramento do dia, o julho em Nova Iorque teve baixa de 595 pontos com 243,60 centavos, sendo a máxima em 250,35 e a mínima em 243,45 centavos por libra, com o setembro registrando oscilação negativa de 620 pontos, com a libra a 246,30 centavos, sendo a máxima em 253,00 e a mínima em 246,15 centavos por libra. Na Euronext/Liffe, em Londres, a posição julho registrou queda de 64 dólares, com 2.238 dólares por tonelada, com o setembro tendo desvalorização de 66 dólares, com 2.276 dólares por tonelada. Segundo analistas internacionais, o dia foi de ampliação do quadro registrado na sexta-feira, sendo que esse prolongamento das perdas pode ainda ter continuidade, já que o mercado demonstra pouco apetite comprador. "Ao rompermos os importantes suportes na área de 256,00 centavos abrimos espaço para liquidações mais proeminentes. O mercado é caracterizado por uma considerável fraqueza e é possível que o nível de 230,00 centavos seja buscado sem maiores problemas", disse um trader. Operadores destacaram que o cenário criado com os problemas econômicos da Grécia afeta diretamente o mercado de commodities, com matérias-primas como petróleo e café sofrendo com as incertezas sobre a situação do bloco econômico europeu. "A maior influência continua sendo a situação européia. Se nós olharmos o que aconteceu com o preço do petróleo durante a crise financeira podemos dimensionar o grande impacto desses eventos. Registramos uma tendência de desaceleração econômica", disse Ben Westmore, economista do Banco Nacional da Austrália. Cafeicultores do Vietnã estariam atrasando os embarques de parte das vendas fechadas. Desde o mês de maio cerca de 100 mil sacas teriam deixado de ser remetidas ao exterior no período correto, devido à pouca disponibilidade do produto, segundo apontou uma fonte em Ho Chi Min. Alguns players locais já demonstram preocupação em não se cumprir os contratos estabelecidos. Dados locais demonstram que os estoques do grão do país tiveram uma retração considerável e isso pode ser uma esperança para a sustentação dos preços nos próximos meses. "O volume de café disponível no país tem sido escasso e os exportadores podem ter de comprar grão no exterior para cumprir os contratos estabelecidos", indicou o vice-presidente da Associação de Café e Cacau do Vietnã, Do Ha Nam. As exportações de café do Brasil em junho, até o dia 17, somaram 827.990 sacas, contra 1.115.075 sacas registradas no mesmo período de maio, informou o Cecafé (Conselho dos Exportadores de Café do Brasil). Os estoques certificados de café na bolsa de Nova Iorque tiveram queda de 6.925 sacas indo para 1.657.495 sacas. O volume negociado no dia na ICE Futures US foi estimado em 36.509 lotes, com as opções tendo 4.084 calls e 5.719 puts. Tecnicamente, o julho na ICE Futures US tem uma resistência em 250,35, 250,50, 251,00, 251,50, 252,00, 252,50, 253,00, 253,50, 254,00, 254,50 e 254,90-255,00 centavos de dólar por libra peso, com o suporte em 243,45, 243,00, 242,50, 242,00, 241,50, 241,00, 240,50, 240,10-240,00 e 239,50 centavos por libra.
segunda-feira, 20 de junho de 2011
Precursor de variedade cafeeira investe em qualidade para o grão
Precursor de variedade cafeeira investe em qualidade para o grão Pioneiro no plantio de café conillon no Espírito Santo, o produtor rural Dário Martinelli, recebeu a visita do diretor presidente, Evair Vieira de Melo, e o diretor técnico, Aureliano Nogueira, do Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper). A visita da diretoria do Instituto ao Sítio Boa Sorte, em São Gabriel da Palha, foi acompanhada pelo gerente estadual de pecuária, Pedro Cani, e do chefe de escritório do Centro Regional de Desenvolvimento Rural (CRDR) Noroeste do Incaper, José Carlos Grobério. O intuito foi conhecer as instalações da propriedade do primeiro produtor de café conillon do Estado, conhecer as técnicas de produção e o modo de plantio, colheita e beneficiamento do café produzido por Martinelli. Os visitantes observaram o secador de café, o despolpador, o estoque do sítio, além de conhecerem os trabalhadores rurais que cuidam da lavoura. A variedade cultivada no Sítio Boa Sorte é o conillon cereja descascado, usado na propriedade desde 2002, e atualmente atinge uma produção anual de três mil sacas ano. Dário Martinelli enquanto prefeito de São Gabriel da Palha, em 1971, iniciou os plantios comerciais de conillon com sementes da Fazenda Monte Líbano, em Cachoeiro do Itapemirim e da Escola Agrotécnica Federal de Santa Teresa e em pouco tempo o conillon passou a ocupar as lavouras da região do município de São Gabriel da Palha. Mas somente a partir de 1972 que o produtor rural começou a cultivar o conillon em sua propriedade. “Iniciei o cultivo de conillon há quase 30 anos e de lá pra cá, com o avanço tecnológico o plantio pode ser feito com variedades clonais mais resistentes a pragas e doenças e o beneficiamento trouxe mais qualidade para o café e assim disponibiliza um produto melhor para o mercado, que está cada vez mais exigente”, afirma Martinelli. “É sempre bom conhecer os processos de produção e beneficiamento desse grande cafeicultor capixaba e receber a experiência de Dário é a certeza de que o café produzido em sua propriedade é bem plantado e bem colhido”, afirma Evair Vieira de Melo. O beneficiamento do café realizado pelo produtor é diferenciado, pois o produtor rural consegue aproveitar o café Bóia, ou seja, o grão mal formado, pois ele realiza seu processo de maturação antes do ideal devido há algumas variação do tempo que desfavorece o seu perfeito desenvolvimento. Com o processo diferente é possível extrair um produto final de qualidade mesmo se tratando de um café que não realizou o amadurecimento no tempo ideal.
QE2 - O Fed atua novamente ou paga para ver?
QE2 - O Fed atua novamente ou paga para ver?
A semana marca o fim oficial do "Quantitative Easing 2", programa de compra de títulos do Tesouro americano pelo Federal Reserve (Fed), banco central dos EUA. Desde setembro do ano passado foram comprados US$ 600 bilhões em Treasuries, movimento que ajudou a transformar o Fed no maior credor do Tesouro americano.As consequências desse programa, bem como dos outros esforços não convencionais para colocar a economia americana de volta à ativa, já foram amplamente discutidos. Como a queda acentuada do dólar, a alta das commodities e uma onda inflacionária mundial. Pelo lado da atividade parecem existir dois momentos distintos nos EUA. E o mês de maio é um divisor.Do fim do ano passado até o referido mês a percepção era de firme retomada. Os indicadores surpreendiam para cima, a criação de empregos tomava vulto e a bolsas subiam com força, ajudando a melhorar a confiança do consumidor. As commodities mais caras afastaram o fantasma da deflação e o dólar baixo permitiu maiores exportações.IPCA-15 pode recuar de 0,70% para 0,15% em junhoDe maio em diante parece que o "freio" foi ativado. A perda de dinamismo econômico foi paulatinamente confirmada pela divulgação dos dados econômicos e a baixa criação de empregos no mês passado coroou esse processo.Mal começou a agitação sobre a possibilidade de um "Quantitative Easing 3" e o presidente do Fed, Ben Bernanke, indicou que um novo plano não está em gestação. Para o mandatário, a situação volta a se normalizar no segundo semestre.E tudo indica que essa postura será mantida na coletiva que Bernanke faz na quarta-feira, após a decisão de juros, que manterá a taxa básica entre zero e 0,25% ao ano.Dentro do próprio Fed há dissenso quanto à necessidade de novos estímulos. E essa falta de consenso também existe dentro do mercado.O fato é que o Fed parece ser a última linha de defesa da atividade em um momento em que o governo não mostra capacidade de impulsionar a economia pela tradicional receita de Keynes, de elevação do gasto público. Evidência disso é a falta de acordo para aumentar o teto do endividamento federal.Para um gestor baseado em Nova York, tudo aponta para uma perda de momento da atividade dos EUA. "Então, por que essa depressão seria passageira?", indaga.Na visão desse especialista, a economia sofreu um choque extremo e tem sido sustentada por uma política monetária ultra expansionista. Houve uma mudança estrutural nos EUA, setores foram destruídos. O desemprego é estrutural. E o consumo aumentou porque os consumidores deixaram de pagar suas hipotecas, uma espécie de default estratégico.E esse quadro ganha um contorno ainda mais preocupante conforme começam a pipocar notícias de que as demissões devem crescer, conforme as empresas e bancos revisam para baixo suas estimativas de receita para o ano."Um QE3 deveria ser executado. Mas parece que vão resistir até o último minuto, como no plano para salvar os bancos em 2008 e como agora, nessa questão do teto da dívida. Concordo que não é uma panaceia, mas é bem melhor que ficar olhando ir tudo abaixo, todo esse trabalho de meses e mais meses. O correto seria uma solução fiscal. Mas essa não será feita porque não há espaço político e orçamentário para isso", conclui.Será que o Fed "paga para ver" ou tira uma carta da manga? Cabe lembrar, também, que em 2012 os americanos vão às urnas e que nenhum presidente foi reeleito com taxas de desemprego na linha dos 9%.Mudando para a agenda local, atenções voltadas ao Indice de Preços ao Consumidor Amplo -15 (IPCA-15) de junho. Nas contas da Platina Investimentos, a prévia da inflação oficial deve recuar de 0,70% em maio para 0,15%. E Marco Franklin, sócio da Platina, não descarta possibilidade de deflação para o índice fechado do mês. "Pode ser um mês com IGP-M, IPC Fipe e IPCA negativos. Algo que não acontece há pelo menos cinco anos. A cara da inflação está melhor", diz Franklin, lembrando que para o quadro ficar ainda melhor, só falta a inflação de serviços começa a cair. Mas essa é uma história mais complicada por causa dos dissídios no segundo semestre e do salário mínimo de 2011.Olhando adiante, com as commodities agrícolas caindo, o IPA agrícola poderá ter mais um mês negativo em julho. Com isso, a pressão para baixo do grupo no varejo deverá continuar nos próximos dois meses. Vale notar, diz Franklin, que o IPA agrícola pelo IGP-10 já caiu 4% em dois meses e que até agora a transmissão desse movimento para o varejo foi um tanto tímida.
A semana marca o fim oficial do "Quantitative Easing 2", programa de compra de títulos do Tesouro americano pelo Federal Reserve (Fed), banco central dos EUA. Desde setembro do ano passado foram comprados US$ 600 bilhões em Treasuries, movimento que ajudou a transformar o Fed no maior credor do Tesouro americano.As consequências desse programa, bem como dos outros esforços não convencionais para colocar a economia americana de volta à ativa, já foram amplamente discutidos. Como a queda acentuada do dólar, a alta das commodities e uma onda inflacionária mundial. Pelo lado da atividade parecem existir dois momentos distintos nos EUA. E o mês de maio é um divisor.Do fim do ano passado até o referido mês a percepção era de firme retomada. Os indicadores surpreendiam para cima, a criação de empregos tomava vulto e a bolsas subiam com força, ajudando a melhorar a confiança do consumidor. As commodities mais caras afastaram o fantasma da deflação e o dólar baixo permitiu maiores exportações.IPCA-15 pode recuar de 0,70% para 0,15% em junhoDe maio em diante parece que o "freio" foi ativado. A perda de dinamismo econômico foi paulatinamente confirmada pela divulgação dos dados econômicos e a baixa criação de empregos no mês passado coroou esse processo.Mal começou a agitação sobre a possibilidade de um "Quantitative Easing 3" e o presidente do Fed, Ben Bernanke, indicou que um novo plano não está em gestação. Para o mandatário, a situação volta a se normalizar no segundo semestre.E tudo indica que essa postura será mantida na coletiva que Bernanke faz na quarta-feira, após a decisão de juros, que manterá a taxa básica entre zero e 0,25% ao ano.Dentro do próprio Fed há dissenso quanto à necessidade de novos estímulos. E essa falta de consenso também existe dentro do mercado.O fato é que o Fed parece ser a última linha de defesa da atividade em um momento em que o governo não mostra capacidade de impulsionar a economia pela tradicional receita de Keynes, de elevação do gasto público. Evidência disso é a falta de acordo para aumentar o teto do endividamento federal.Para um gestor baseado em Nova York, tudo aponta para uma perda de momento da atividade dos EUA. "Então, por que essa depressão seria passageira?", indaga.Na visão desse especialista, a economia sofreu um choque extremo e tem sido sustentada por uma política monetária ultra expansionista. Houve uma mudança estrutural nos EUA, setores foram destruídos. O desemprego é estrutural. E o consumo aumentou porque os consumidores deixaram de pagar suas hipotecas, uma espécie de default estratégico.E esse quadro ganha um contorno ainda mais preocupante conforme começam a pipocar notícias de que as demissões devem crescer, conforme as empresas e bancos revisam para baixo suas estimativas de receita para o ano."Um QE3 deveria ser executado. Mas parece que vão resistir até o último minuto, como no plano para salvar os bancos em 2008 e como agora, nessa questão do teto da dívida. Concordo que não é uma panaceia, mas é bem melhor que ficar olhando ir tudo abaixo, todo esse trabalho de meses e mais meses. O correto seria uma solução fiscal. Mas essa não será feita porque não há espaço político e orçamentário para isso", conclui.Será que o Fed "paga para ver" ou tira uma carta da manga? Cabe lembrar, também, que em 2012 os americanos vão às urnas e que nenhum presidente foi reeleito com taxas de desemprego na linha dos 9%.Mudando para a agenda local, atenções voltadas ao Indice de Preços ao Consumidor Amplo -15 (IPCA-15) de junho. Nas contas da Platina Investimentos, a prévia da inflação oficial deve recuar de 0,70% em maio para 0,15%. E Marco Franklin, sócio da Platina, não descarta possibilidade de deflação para o índice fechado do mês. "Pode ser um mês com IGP-M, IPC Fipe e IPCA negativos. Algo que não acontece há pelo menos cinco anos. A cara da inflação está melhor", diz Franklin, lembrando que para o quadro ficar ainda melhor, só falta a inflação de serviços começa a cair. Mas essa é uma história mais complicada por causa dos dissídios no segundo semestre e do salário mínimo de 2011.Olhando adiante, com as commodities agrícolas caindo, o IPA agrícola poderá ter mais um mês negativo em julho. Com isso, a pressão para baixo do grupo no varejo deverá continuar nos próximos dois meses. Vale notar, diz Franklin, que o IPA agrícola pelo IGP-10 já caiu 4% em dois meses e que até agora a transmissão desse movimento para o varejo foi um tanto tímida.
Novos empregos criados em 2011 estão concentrados na faixa até dois mínimos
Novos empregos criados em 2011 estão concentrados na faixa até dois mínimos
No primeiro quadrimestre do ano, foram abertas 820,8 mil vagas formais pagando até três salários mínimos, segundo o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), mas como nas faixas salariais seguintes o saldo entre demitidos e admitidos foi negativo, o total de novos empregos no país ficou 2,8% menor e somou 797,7 mil no período. A parcela positiva de empregos entre dois e três mínimos, contudo, foi ínfima - apenas 172 vagas.O começo de 2011 manteve, portanto, o padrão de geração de vagas dos últimos anos, absolutamente concentrado nas faixas de menor remuneração (até dois salários mínimos), apesar do constante alarde feito por empregadores sobre a necessidade de mão de obra qualificada. A formalização do emprego, o aumento da oferta de vagas e os constantes reajustes do salário mínimo podem explicar por que o saldo positivo de postos de trabalho com carteira assinada continua concentrado nas faixas que vão até dois mínimos, concordam analistas consultados pelo Valor. No substrato que vai de três a quatro mínimos, o saldo de vagas criadas nos primeiros quatro meses de 2011 chega ao máximo de 16.162 postos cortados, sendo menor nos grupos seguintes.No mesmo período do ano passado, quando foram criados 962,3 mil postos com carteira assinada, a tendência observada foi igual: o saldo de vagas nas faixas de meio a dois salários superou o total do quadrimestre em 14%, ao passo que as faixas de dois a mais de 20 mínimos registraram saldo negativo de 25,7 mil postos. Se em 2009 - ano em que o Brasil sentiu o efeito da crise financeira - a principal explicação para a má qualidade das vagas formais criadas eram as demissões de cargos mais altos para que as empresas reduzissem os custos de suas folhas de pagamento, agora analistas avaliam essa estatística como algo não passageiro, mas sim inerente à economia brasileira, que cresce apoiada no setor de serviços e em salários menores, como qualquer país emergente."O salário mais baixo tem a ver com a estrutura ocupacional que está gerando postos de trabalho. Esse dado desnuda o quão longe ainda estamos de ser um país desenvolvido", diz Sérgio Mendonça, supervisor técnico do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese). O economista destaca que os principais setores contratantes da economia são os que pagam menos, como o de serviços, comércio e construção civil.Das vagas abertas nos primeiros quatro meses de 2011, 47% estão no segmento de serviços (382.321), enquanto na indústria da transformação - setor que, segundo Mendonça, costuma pagar entre dois a três mínimos - o saldo positivo é 53% menor, de 179.066 vagas, que representam 22% do total do primeiro quadrimestre do ano.No mesmo período de 2010, do total de vagas criadas, 36% foram geradas no setor de serviços (346.474), e 29% na indústria da transformação (287.443 postos). João Saboia, professor do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e especialista em mercado de trabalho, afirma que nos últimos cinco anos, de cada três empregos criados, um foi gerado pela construção civil. Além disso, segundo Alcides Leite, professor de economia da Trevisan Escola de Negócios, as empresas mantêm muitas alternativas fora da formalidade para contratar mão de obra especializada, porque o custo tributário desse trabalhador é muito alto. "A tentativa de fuga desses tributos sobre o trabalho é feita principalmente por parte do próprio empregado, por conta do Imposto de Renda", comenta Leite.Saboia, da UFRJ, lembra que esses movimentos não são novidade. "A novidade é o crescimento da geração de emprego com carteira assinada e a taxa de desemprego baixa. Isso é positivo." Os economistas também explicam que o efeito estatístico do reajuste do mínimo aumenta o saldo positivo nas faixas salariais inferiores, o que não é ruim do ponto de vista da formalização do mercado de trabalho e da consequente maior proteção que o trabalhador passa a ter com sua carteira assinada, além do ganho real de renda.Mendonça observa que o salário mínimo, hoje em R$ 545, acumulou aumento 53% acima do Indice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) desde 2003. Com reajuste de cerca de 14% do mínimo em vista para 2012, a fatia dos que ganham salários até dois mínimos deve engrossar ainda mais no próximo ano, o que, para os especialistas consultados, não é necessariamente uma situação negativa. "O importante é que o salário mínimo vem crescendo acima da inflação, fazendo com que o piso também venha crescendo. Isso faz com que as pessoas vivam melhor, ajudando a corrigir o erro histórico de concentração de renda do país", defende Leite, da Trevisan.
No primeiro quadrimestre do ano, foram abertas 820,8 mil vagas formais pagando até três salários mínimos, segundo o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), mas como nas faixas salariais seguintes o saldo entre demitidos e admitidos foi negativo, o total de novos empregos no país ficou 2,8% menor e somou 797,7 mil no período. A parcela positiva de empregos entre dois e três mínimos, contudo, foi ínfima - apenas 172 vagas.O começo de 2011 manteve, portanto, o padrão de geração de vagas dos últimos anos, absolutamente concentrado nas faixas de menor remuneração (até dois salários mínimos), apesar do constante alarde feito por empregadores sobre a necessidade de mão de obra qualificada. A formalização do emprego, o aumento da oferta de vagas e os constantes reajustes do salário mínimo podem explicar por que o saldo positivo de postos de trabalho com carteira assinada continua concentrado nas faixas que vão até dois mínimos, concordam analistas consultados pelo Valor. No substrato que vai de três a quatro mínimos, o saldo de vagas criadas nos primeiros quatro meses de 2011 chega ao máximo de 16.162 postos cortados, sendo menor nos grupos seguintes.No mesmo período do ano passado, quando foram criados 962,3 mil postos com carteira assinada, a tendência observada foi igual: o saldo de vagas nas faixas de meio a dois salários superou o total do quadrimestre em 14%, ao passo que as faixas de dois a mais de 20 mínimos registraram saldo negativo de 25,7 mil postos. Se em 2009 - ano em que o Brasil sentiu o efeito da crise financeira - a principal explicação para a má qualidade das vagas formais criadas eram as demissões de cargos mais altos para que as empresas reduzissem os custos de suas folhas de pagamento, agora analistas avaliam essa estatística como algo não passageiro, mas sim inerente à economia brasileira, que cresce apoiada no setor de serviços e em salários menores, como qualquer país emergente."O salário mais baixo tem a ver com a estrutura ocupacional que está gerando postos de trabalho. Esse dado desnuda o quão longe ainda estamos de ser um país desenvolvido", diz Sérgio Mendonça, supervisor técnico do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese). O economista destaca que os principais setores contratantes da economia são os que pagam menos, como o de serviços, comércio e construção civil.Das vagas abertas nos primeiros quatro meses de 2011, 47% estão no segmento de serviços (382.321), enquanto na indústria da transformação - setor que, segundo Mendonça, costuma pagar entre dois a três mínimos - o saldo positivo é 53% menor, de 179.066 vagas, que representam 22% do total do primeiro quadrimestre do ano.No mesmo período de 2010, do total de vagas criadas, 36% foram geradas no setor de serviços (346.474), e 29% na indústria da transformação (287.443 postos). João Saboia, professor do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e especialista em mercado de trabalho, afirma que nos últimos cinco anos, de cada três empregos criados, um foi gerado pela construção civil. Além disso, segundo Alcides Leite, professor de economia da Trevisan Escola de Negócios, as empresas mantêm muitas alternativas fora da formalidade para contratar mão de obra especializada, porque o custo tributário desse trabalhador é muito alto. "A tentativa de fuga desses tributos sobre o trabalho é feita principalmente por parte do próprio empregado, por conta do Imposto de Renda", comenta Leite.Saboia, da UFRJ, lembra que esses movimentos não são novidade. "A novidade é o crescimento da geração de emprego com carteira assinada e a taxa de desemprego baixa. Isso é positivo." Os economistas também explicam que o efeito estatístico do reajuste do mínimo aumenta o saldo positivo nas faixas salariais inferiores, o que não é ruim do ponto de vista da formalização do mercado de trabalho e da consequente maior proteção que o trabalhador passa a ter com sua carteira assinada, além do ganho real de renda.Mendonça observa que o salário mínimo, hoje em R$ 545, acumulou aumento 53% acima do Indice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) desde 2003. Com reajuste de cerca de 14% do mínimo em vista para 2012, a fatia dos que ganham salários até dois mínimos deve engrossar ainda mais no próximo ano, o que, para os especialistas consultados, não é necessariamente uma situação negativa. "O importante é que o salário mínimo vem crescendo acima da inflação, fazendo com que o piso também venha crescendo. Isso faz com que as pessoas vivam melhor, ajudando a corrigir o erro histórico de concentração de renda do país", defende Leite, da Trevisan.
Segredos escandalosos de uma relação cinquentenária
Segredos escandalosos de uma relação cinquentenária
Mais um escândalo financeiro. Mais uma acobertação pelas autoridades reguladoras. Quatro anos atrás, inspetores da principal agência reguladora do setor de auditoria dos Estados Unidos descobriram que a KPMG havia permitido à Motorola registrar uma receita recorde no terceiro trimestre de 2006, graças a uma transação com a Qualcomm, muito embora o contrato só tenha sido assinado no começo do quarto trimestre. Isso não é uma pequena questão técnica. Sem o negócio, a Motorola não teria atingido a meta de lucros do terceiro trimestre.Posteriormente, a autoridade reguladora, o Conselho de Supervisão de Contabilidade das Companhias Abertas (PCAOB, na sigla em inglês), criticou a KPMG por permitira à Motorola contabilizar a receita no momento em que fez isso. A KPMG discutiu a tempestividade da transação com a Motorola e a Qualcomm, mas o PCAOB disse que a firma "falhou ao não obter evidências convincentes de um acerto para propósito de reconhecimento de receita no terceiro trimestre". Em outras palavras, a KPMG não teve um bom motivo para acreditar que o negócio não deveria ter sido registrado no quarto trimestre.No entanto, o conselho supervisor não revelou ao público que isso ocorreu na Motorola. A fabricante de equipamentos de comunicação sem fio, hoje conhecida como Motorola Solutions, não reformulou os lucros para o período em questão. E não há sinais de que a Securities and Exchange Commission (SEC) fez uma investigação da contabilidade da Motorola, muito embora supervisione o conselho e tenha acesso às suas constatações.Tudo isso é rotina para os policiais dos números da América. Desde a criação do PCAOB pela lei Sarbanes-Oxley em 2002, seus inspetores constataram falhas de auditoria por grandes firmas de contabilidade em centenas de companhias abertas dos Estados Unidos. Mesmo assim, sua política é manter em segredo as identidades desses clientes.Do mesmo modo, em agosto de 2008 quando o conselho divulgou seu relatório anual de inspeção sobre a KPMG, ele se referiu à Motorola como "emissor C" na seção sobre o trabalho do auditor para a companhia. Para isso, a Motorola pagou à firma US$ 244,2 milhões de 2000 a 2010.Esta é a terceira coluna que escrevo revelando o nome de um cliente cujas práticas contábeis foram alvo de relatório de inspeção de uma grande firma de auditoria. A Motorola é a maior até agora. Espero que algum informante me passe mais nomes algum dia. Os investidores precisam saber desse tipo de informação.A lei Sarbanes-Oxley autoriza o PCAOB a revelar "informações confidenciais e exclusivas que o conselho julgar apropriadas" nas partes abertas ao público de seus relatórios de inspeção. Portanto, o conselho é que decide se revela ou não os nomes dos clientes, embora a SEC possa prevalecer sobre ele.A identidade da Motorola foi revelada nos cartórios públicos no mês passado como parte de uma ação coletiva movida por acionistas contra a companhia no tribunal distrital federal de Chicago. Os autores da ação, liderados pelo Sistema de Aposentadoria dos Funcionários do Condado de Macomb, em Michigan, entregaram formalmente uma transcrição de um testemunho feito em setembro de 2010 por um auditor da KPMG, David Pratt, que disse que o "Emissor C" era a Motorola. A KPMG não é acusada na ação.Pratt também identificou os clientes da Motorola citados no relatório de inspeção do conselho. Foi seu testemunho que e permitiu descrever as constatações do relatório usando os nomes reais. O conselho de supervisão disse que uma parcela significativa dos lucros obtidos pela companhia no terceiro trimestre de 2006 veio de dois acordos de licenciamento registrados nos últimos três dias do trimestre. Um deles foi o negócio com a Qualcomm, que só foi assinado no quarto trimestre. O conselho também citou outras deficiências na análise pela KPMG da contabilidade da Motorola sobre as transações.A Motorola contabilizou um ganho de US$ 275 milhões no terceiro trimestre de 2006, como resultado do negócio com a Qualcomm, segundo estimativas dos autores da ação coletiva. Eles alegam que todo ele foi registrado numa violação dos princípios contábeis amplamente aceitos. Esse ganho representa 28% do lucro líquido registrado pela Motorola no trimestre.Nicholas Sweers, porta-voz da Motorola, disse que a contabilidade da companhia está dentro dos princípios contábeis amplamente aceitos e que as demonstrações financeiras dos períodos cobertos no relatório de inspeção nunca foram alvo de investigação da SEC. Ele não quis discutir detalhes da contabilidade da Motorola, alegando não poder fazer isso por causa do litígio. George Ledwith, porta-voz da KPMG, não quis fazer comentários. O mesmo aconteceu com Colleen Brennan, porta-voz do PCAOB e John Nester, porta-voz da SEC.Mas a história não termina aqui. Na semana passada, o novo presidente do PCAOB, James Doty, fez um pronunciamento em que disse que o conselho vai analisar o estabelecimento de limites aos mandatos de auditores de companhias abertas. Para provar isso, ele citou dois exemplos que são "irritantes em sua simplicidade", nos quais auditores "falharam em exercer o ceticismo exigido pela profissão e aceitaram evidências nada convincentes".Um dos exemplos bate exatamente com o padrão dos fatos da análise feita pela KPMG em 2006 na Motorola. "Os inspetores do PCAOB constataram em uma grande firma que a equipe de compromisso estava ciente de que um contrato significativo só fora assinado nas primeiras horas do quarto trimestre", disse Doty. "Mesmo assim, o sócio auditor permitiu à companhia contabilizar a transação no terceiro trimestre, o que possibilitou a essa empresa cumprir sua meta de lucros."Doty concluiu o relato dizendo: "A companhia era cliente de auditoria da firma havia 50 anos". A KPMG é auditora da Motorola desde 1959; ela era auditora da Motorola havia 47 anos na ocasião do negócio com a Qualcomm.Se Doty e seus colegas estão de fato interessados em proteger os investidores, eles deveriam deixar de tanta timidez e começar a citar nomes. Jonathan Weil é colunista da Bloomberg News.
Mais um escândalo financeiro. Mais uma acobertação pelas autoridades reguladoras. Quatro anos atrás, inspetores da principal agência reguladora do setor de auditoria dos Estados Unidos descobriram que a KPMG havia permitido à Motorola registrar uma receita recorde no terceiro trimestre de 2006, graças a uma transação com a Qualcomm, muito embora o contrato só tenha sido assinado no começo do quarto trimestre. Isso não é uma pequena questão técnica. Sem o negócio, a Motorola não teria atingido a meta de lucros do terceiro trimestre.Posteriormente, a autoridade reguladora, o Conselho de Supervisão de Contabilidade das Companhias Abertas (PCAOB, na sigla em inglês), criticou a KPMG por permitira à Motorola contabilizar a receita no momento em que fez isso. A KPMG discutiu a tempestividade da transação com a Motorola e a Qualcomm, mas o PCAOB disse que a firma "falhou ao não obter evidências convincentes de um acerto para propósito de reconhecimento de receita no terceiro trimestre". Em outras palavras, a KPMG não teve um bom motivo para acreditar que o negócio não deveria ter sido registrado no quarto trimestre.No entanto, o conselho supervisor não revelou ao público que isso ocorreu na Motorola. A fabricante de equipamentos de comunicação sem fio, hoje conhecida como Motorola Solutions, não reformulou os lucros para o período em questão. E não há sinais de que a Securities and Exchange Commission (SEC) fez uma investigação da contabilidade da Motorola, muito embora supervisione o conselho e tenha acesso às suas constatações.Tudo isso é rotina para os policiais dos números da América. Desde a criação do PCAOB pela lei Sarbanes-Oxley em 2002, seus inspetores constataram falhas de auditoria por grandes firmas de contabilidade em centenas de companhias abertas dos Estados Unidos. Mesmo assim, sua política é manter em segredo as identidades desses clientes.Do mesmo modo, em agosto de 2008 quando o conselho divulgou seu relatório anual de inspeção sobre a KPMG, ele se referiu à Motorola como "emissor C" na seção sobre o trabalho do auditor para a companhia. Para isso, a Motorola pagou à firma US$ 244,2 milhões de 2000 a 2010.Esta é a terceira coluna que escrevo revelando o nome de um cliente cujas práticas contábeis foram alvo de relatório de inspeção de uma grande firma de auditoria. A Motorola é a maior até agora. Espero que algum informante me passe mais nomes algum dia. Os investidores precisam saber desse tipo de informação.A lei Sarbanes-Oxley autoriza o PCAOB a revelar "informações confidenciais e exclusivas que o conselho julgar apropriadas" nas partes abertas ao público de seus relatórios de inspeção. Portanto, o conselho é que decide se revela ou não os nomes dos clientes, embora a SEC possa prevalecer sobre ele.A identidade da Motorola foi revelada nos cartórios públicos no mês passado como parte de uma ação coletiva movida por acionistas contra a companhia no tribunal distrital federal de Chicago. Os autores da ação, liderados pelo Sistema de Aposentadoria dos Funcionários do Condado de Macomb, em Michigan, entregaram formalmente uma transcrição de um testemunho feito em setembro de 2010 por um auditor da KPMG, David Pratt, que disse que o "Emissor C" era a Motorola. A KPMG não é acusada na ação.Pratt também identificou os clientes da Motorola citados no relatório de inspeção do conselho. Foi seu testemunho que e permitiu descrever as constatações do relatório usando os nomes reais. O conselho de supervisão disse que uma parcela significativa dos lucros obtidos pela companhia no terceiro trimestre de 2006 veio de dois acordos de licenciamento registrados nos últimos três dias do trimestre. Um deles foi o negócio com a Qualcomm, que só foi assinado no quarto trimestre. O conselho também citou outras deficiências na análise pela KPMG da contabilidade da Motorola sobre as transações.A Motorola contabilizou um ganho de US$ 275 milhões no terceiro trimestre de 2006, como resultado do negócio com a Qualcomm, segundo estimativas dos autores da ação coletiva. Eles alegam que todo ele foi registrado numa violação dos princípios contábeis amplamente aceitos. Esse ganho representa 28% do lucro líquido registrado pela Motorola no trimestre.Nicholas Sweers, porta-voz da Motorola, disse que a contabilidade da companhia está dentro dos princípios contábeis amplamente aceitos e que as demonstrações financeiras dos períodos cobertos no relatório de inspeção nunca foram alvo de investigação da SEC. Ele não quis discutir detalhes da contabilidade da Motorola, alegando não poder fazer isso por causa do litígio. George Ledwith, porta-voz da KPMG, não quis fazer comentários. O mesmo aconteceu com Colleen Brennan, porta-voz do PCAOB e John Nester, porta-voz da SEC.Mas a história não termina aqui. Na semana passada, o novo presidente do PCAOB, James Doty, fez um pronunciamento em que disse que o conselho vai analisar o estabelecimento de limites aos mandatos de auditores de companhias abertas. Para provar isso, ele citou dois exemplos que são "irritantes em sua simplicidade", nos quais auditores "falharam em exercer o ceticismo exigido pela profissão e aceitaram evidências nada convincentes".Um dos exemplos bate exatamente com o padrão dos fatos da análise feita pela KPMG em 2006 na Motorola. "Os inspetores do PCAOB constataram em uma grande firma que a equipe de compromisso estava ciente de que um contrato significativo só fora assinado nas primeiras horas do quarto trimestre", disse Doty. "Mesmo assim, o sócio auditor permitiu à companhia contabilizar a transação no terceiro trimestre, o que possibilitou a essa empresa cumprir sua meta de lucros."Doty concluiu o relato dizendo: "A companhia era cliente de auditoria da firma havia 50 anos". A KPMG é auditora da Motorola desde 1959; ela era auditora da Motorola havia 47 anos na ocasião do negócio com a Qualcomm.Se Doty e seus colegas estão de fato interessados em proteger os investidores, eles deveriam deixar de tanta timidez e começar a citar nomes. Jonathan Weil é colunista da Bloomberg News.
A questão da desindustrialização
Um dos itens mais importantes na agenda dos debates sobre a economia tem sido a questão da chamada desindustrialização. Termo cunhado para caracterizar uma redução importante na participação da indústria no PIB, ela tem sido apresentada como um dos mais graves problemas a serem enfrentados nos próximos anos. Na minha leitura existe uma série de erros de diagnóstico - principalmente em relação à China - que estão sendo cometidos pelos que defendem medidas radicais para reduzir a competição das importações de produtos industriais. Pretendo a seguir fazer algumas reflexões que possam ajudar nesse debate. Eu dividiria as causas que estão por trás da perda de valor agregado na indústria brasileira em dois grupos principais. O primeiro compreende algumas mudanças por que passa uma economia de mercado como a brasileira quando ela amadurece. São forças que não devem ser combatidas, pois os benefícios que trazem para a sociedade são direitos dos cidadãos. É o caso da perda de parte da produção industrial local pelo aumento das importações por conta de um processo natural da abertura comercial de um país.Vivemos em um mundo em que matérias primas e alimentos valem bem mais do que muitos produtos industriaisMas quais os benefícios que um aumento das importações pode trazer a uma sociedade como a brasileira, se ele reduz o número de empregos na indústria, questionam muitos? O maior deles é que as importações, ao aumentarem a oferta de determinados bens nos mercados internos, reforçam a competição e permitem que os consumidores tenham acesso a produtos com os mesmos preços e qualidade dos existentes em outros países. Temos um exemplo recente e emblemático dos benefícios da abertura das importações. Ele aconteceu com os preços do aço no mercado interno. Nossas siderúrgicas sempre trabalharam com um ágio de cerca de 30% em relação aos preços internacionais. Isso apesar de sermos um produtor importante de minério de ferro e que tem, nos custos de transporte marítimo, um item expressivo na formação de seus custos. Pois nos últimos anos, com as importações representando finalmente uma parte relevante da oferta de aço no mercado interno, esse ágio praticamente desapareceu. Os reflexos dessa convergência de preços internos e internacionais já podem ser identificados, por exemplo, na formação dos preços dos automóveis produzidos no Brasil. Outra força positiva na economia criada por importações maiores é a utilização de componentes produzidos de maneira mais eficiente e barata em outros países. Ao se fazer essa integração, estamos aumentando o poder competitivo dos produtos finais - de maior valor agregado - que saem das linhas de produção de nossas indústrias. Esse é mais um exemplo de como a redução da produção em algumas áreas permite que se aumente em outras com valor agregado maior, principalmente no setor de bens de capital. Ou, dito em outras palavras, um exemplo em que a perda de emprego em algumas empresas seja compensada pelo aumento em outras, sem que o consumidor seja prejudicado. Outra força natural que está por trás da perda da participação da indústria no PIB brasileiro está associada ao aumento da renda média do brasileiro nos últimos anos. Esse é um fenômeno que ocorre também em outras sociedades em que a economia de mercado prevalece. A participação da indústria em economias como a chinesa - que tem uma renda média igual a um terço da brasileira - é uma, em sociedades como a americana - com renda três vezes maior do que a nossa - é outra, bem menor. Na próxima década, quando se espera que a renda média do brasileiro dobre em termos reais, é natural que a indústria continue a perder importância relativa para o setor de serviços. Tentar evitar isso, com medidas coercitivas definidas pelo governo, seria agredir o metabolismo de uma economia de mercado em trajetória de expansão e criar desequilíbrios importantes no futuro. Finalmente, nesse grupo de forças que nascem de uma dinâmica natural de uma economia de mercado, temos a que está associada à importância dos produtos primários na matriz de produção do Brasil de hoje. Vivemos em um mundo em que as matérias primas e alimentos passaram a valer mais do que um grande número de produtos industriais. Essa nova realidade reflete-se nos chamados termos de troca, ou seja, a relação entre os preços daquilo que exportamos e os de nossas importações. Há alguns anos essa relação era próxima de 0,9, ou seja, para cada US$ 100 que exportávamos podíamos importar o equivalente a US$ 90. Hoje essa mesma relação é 1,35. A posição do Brasil hoje é muito parecida com a dos grandes exportadores de petróleo, com a diferença que a força de nossas exportações vem de um número grande de produtos primários. Mas o efeito macro econômico é o mesmo - uma moeda forte e valorizada - que prejudica nossa indústria. Nesse sentido vamos sofrer as mesmas dificuldades das encontradas pela Noruega, Rússia e países exportadores de petróleo do Oriente Médio. No segundo grupo de forças que reforçam a tendência de perda de produção industrial estão fatores que podem ser reduzidos ou mesmo eliminados por ações do governo. Voltarei a eles em nosso próximo encontro.Luiz Carlos Mendonça de Barros, engenheiro e economista, é diretor-estrategista da Quest Investimentos. Foi presidente do BNDES e ministro das Comunicações.
RIBEIRÃO PRETO - Lavouras de café da região recebem 116 autuações
RIBEIRÃO PRETO - Lavouras de café da região recebem 116 autuações Maioria das infrações se referem a equipamentos de segurança do trabalho Blitz ainda recolhe FGTS em atraso e flagra dez adolescentes maiores de 16 anos trabalhando na colheita de café A blitz feita na semana passada em dez fazendas de café da Alta Mogiana resultou em 116 multas aplicadas e no recolhimento de R$ 22,9 mil em FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço) que estava em atraso.Das 116 infrações, 69 foram por irregularidades com itens de segurança do trabalho (59%) e 47 por descumprimento à legislação (40%).Entre os problemas estão alojamentos com pouca higiene e superlotação, falta de sanitários e locais para refeição, água potável e marmita nas lavouras, além da ausência de equipamentos de proteção adequados.A blitz foi feita entre terça e quarta-feira da semana passada e o número final foi divulgado pelo Ministério do Trabalho e Emprego.O grupo de fiscalização contou com o apoio do Ministério Público do Trabalho e atendeu 715 trabalhadores -destes, 87 estavam em situação irregular.De acordo com Roberto Figueiredo, coordenador da ação de fiscalização, excesso de jornada, pagamento errado ou em atraso e falta de FGTS representaram 40% nas autuações.O número é considerado alto e demonstra, segundo Figueiredo, que falta profissionalização na área.Segundo ele, isso não é comum em outras culturas, como cana e laranja, que vinham sendo mais fiscalizadas pelos auditores."Os empregadores estão pagando para ver, mas quando vem a fiscalização a multa é pesada." O Ministério do Trabalho não divulgou o valor total das multas aplicadas aos fazendeiros.Em uma das propriedades, o fazendeiro não recolhia o FGTS dos agricultores desde 2006. Ele terá 90 dias para pagar os R$ 11.570,30 que não foram recolhidos e regularizar a situação.Em outra, os fazendeiros estavam cobrando a passagem de trabalhadores que vieram de Minas Gerais.Segundo a legislação, os proprietários são responsáveis pelos custos da mão de obra migrante.Dez adolescentes foram flagrados na colheita, todos com mais de 16 anos.Segundo Figueiredo, a legislação permite adolescentes nesta idade na lavoura desde que não carreguem peso acima de 15 quilos e não fiquem expostos à insolação. Os menores foram encaminhados a um médico do trabalho para avaliar se os limites foram respeitados.
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