Depois de ser pressionado, café fecha estável na ICE Futures
Os contratos futuros de café arábica encerraram esta segunda-feira com ligeiras quedas, em um movimento de recuperação, após ter registrado perdas consideráveis na parte da manhã. Mesmo em um dia de indicadores externos negativos, o café conseguiu mostrar solidez ao ver o intervalo de 270,00 centavos para o maio rompido. Passo a passo, o mercado foi tendo recuperação e encerrou os negócios bem próximo da estabilidade. Logo na abertura, algumas vendas especulativas e de fundos foram verificadas e ampliadas. No entanto, os bearish (baixistas) mais uma vez demonstraram pouco fôlego e não conseguiram ampliar as liquidações. Com isso, um movimento de recompra foi registrado, o que permitiu que o fechamento do intraday se desse próximo do nível de encerramento da sexta-feira. No after-hours, algumas vendas novas foram detectas e as baixas foram relativamente mais consistentes.
Um operador indicou que o mercado se comportou com consistência nesta segunda-feira, já que conseguiu estabilizar um quadro de pressão, mesmo em um cenário negativo. Ao longo do dia, por exemplo, o índice CRB recuou, influenciado, diretamente, pelo petróleo, que acumulou perdas de quase 3%. Além disso, o dólar, que vinha registrando um quadro de fraqueza nos últimos dias, conseguiu encerrar com ligeiros ganhos em relação a uma cesta de moedas internacionais.
No encerramento do dia, o maio em Nova Iorque teve queda de 35 pontos com 274,60 centavos, sendo a máxima em 276,90 e a mínima em 269,85 centavos por libra, com o julho tendo oscilação negativa de 25 pontos, com a libra a 277,60 centavos, sendo a máxima em 279,80 e a mínima em 272,80 centavos por libra. Na Euronext/Liffe, em Londres, a posição maio registrou baixa de 41 dólares, com 2.427 dólares por tonelada, com o julho tendo desvalorização de 21 dólares, com 2.426 dólares por tonelada.
Segundo analistas internacionais, o mercado deu uma boa demonstração técnica de força nesta segunda-feira. O julho conseguiu manter o intervalo de 272,80 centavos, apesar de alguma atividade considerável dos bearish, com isso, os contratos conseguiram voltar a registrar estabilidade. Os baixistas, por sua vez, mostram que o ímpeto vendedor recente parece já não ter mais tanta solidez. "Mesmo com um cenário externo de pressão, conseguimos uma recuperação considerável e, assim, ao longo da segunda parte do dia flutuamos próximos da estabilidade ou com algumas baixas não tão intensas.
Caso as commodities voltem a se reacomodar, principalmente com o petróleo não caindo tanto, é possível que voltemos a contar com uma força maior dos compradores", disse um trader. "A volatilidade alta dos mercados futuros acontece em um momento que os agentes, leia-se exportadores, dealers, e torradores, evitam ter posições grandes em aberto com o receio do aperto do fluxo de caixa — sem falar que há uma falta de consenso com relação ao preço 'justo' da commodity. Muitos compradores também têm tido o cuidado de não aumentar a exposição depois de um período complicado em termos de recebimento de café, que ou não foram entregues, ou resultaram em entregas de qualidades inferiores às contratadas" indicou Rodrigo Corrêa da Costa, analista da Archer Consulting, em Nova Iorque.
A produção de café do Burundi mais que triplicou e atingiu as 24 mil toneladas métricas, contra 6,3 mil toneladas da temporada passada, com o auxílio do clima favorável e também da temporada bianual de alta. A entidade de representação do café do país africano indicou que a safra 2010/2011 tinha a perspectiva de ficar em 25 mil toneladas métricas, mas, devido à presença de pragas em algumas lavouras, houve uma retificação no número em 1 mil toneladas. O país, que produz majoritariamente café arábica, tem um parque cafeeiro velho, com 50% das plantas tendo mais de 40 anos. O governo recentemente realizou um programa de estímulo à renovação de lavouras, visando o aumento da produtividade e da produção.
As exportações de café do Brasil em abril, até o dia 8, somaram 425.304 sacas, contra 321.264 sacas registradas no mesmo período de março, informou o Cecafé (Conselho dos Exportadores de Café do Brasil).
Os estoques certificados de café na bolsa de Nova Iorque tiveram alta de 5.050 sacas indo para 1.567.578 sacas.
O volume negociado no dia na ICE Futures US foi estimado em 39.216 lotes, com as opções tendo 1.483 calls e 2.531 puts. Tecnicamente, o maio na ICE Futures US tem uma resistência em 276,90-277,00, 277,50, 278,00, 278,50, 279,00, 279,50, 279,90-280,00, 280,50, 281,00, 281,50 e 282,00 centavos de dólar por libra peso, com o suporte em 269,85, 269,50, 269,00, 268,50, 268,00, 267,50, 267,00, 266,50, 266,00, 265,50 e 265,10-265,00 centavos por libra.
terça-feira, 12 de abril de 2011
Leite Derramado
Leite Derramado
Celso Luis Rodrigues Vegro
Eng. Agr., MS Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade
Pesquisador Científico do IEA
Empresto o título do último livro do escritor e compositor Chico Buarque (premiado com o Jabuti em 2010) para, igualmente, nomear esta análise do mercado de café. O escritor, em seu livro, discorre sobre a evolução de uma família ao longo de dois séculos, enfatizando sua decadência e seu futuro pessimista. A metáfora é evidente, o autor sugere por meio da saga familiar a própria trajetória do esforço em construir a nação brasileira. Por acaso, também, temos nosso leite derramado no agronegócio café e por essa razão faço proveito desse título.
Derramar leite no café é o hábito rotineiro de milhões de brasileiros logo pela manhã. Sem um quente pingado muitos se recusam em começar seu dia. Mas a derrama da qual pretendo tratar é de outra natureza, mais séria e menos humorada.
Um dos maiores dilemas do crescimento econômico brasileiro consiste na dificuldade em construir uma indústria com relevância global. Dos anos 30 ao final dos 70, nossas elites políticas e intelectuais imaginaram que se havia alcançado essa etapa do desenvolvimento, pois o país crescia, ano a ano, a dois dígitos ou muito próximo desse patamar. Ao início dos anos 80 o Brasil era a décima primeira potência mundial! Todavia, a autarquia sob a qual se erigia o setor industrial criava gigantes conglomerados com pés de barro e a pequena abertura que se iniciou nos anos 90 mostrou suas patentes deficiências.
Os anos 80 até meados dos 90, assinalaram o período hiperinflacionário na economia brasileira e foram marcados pelas inúmeras tentativas em se debelar as causas desse processo. A chamada inércia inflacionária fazia parte do cálculo empresarial e financeiro, criando uma espécie de ciranda em que havia pouquíssimos ganhadores. Naturalmente o país parou de crescer economicamente. A indústria dita: “complexa e integrada”, substitui a insubstituível melhoria contínua pelas facilidades do resultado financeiro, oriundo da aplicação desbragada de seus ativos no atrativo mercado dos títulos.
A implantação do Plano Real foi um marco divisório na trajetória recente da economia brasileira. Naquele momento a autoridade econômica conseguiu colocar a inflação em posição de xeque mate. Recupera-se o horizonte para o investimento e a indústria passa a apostar em perspectivas de um crescimento vigoroso nas décadas vindouras. Foi o que de fato ocorreu, sendo o caso da indústria automobilística um paradigma dessa transformação (das carroças dos anos Collor para veículos de classe internacional na atualidade).
Adentrando nos anos 2000, a política econômica passa a se sujeitar a uma espécie de sinuca cambial incontornável. O patamar de juros referenciais exigidos para frear o crescimento e segurar a inflação associado ao acúmulo monumental de reservas internacionais, passa a pressionar de tal modo o real que não se tem escapatória, seu destino é ganhar mais e mais valor frente ao combalido dólar.
Se o fim da inflação crônica permitiu um salto no patamar da produção e da produtividade da indústria brasileira, a apreciação da moeda está, na contramão, sufocando o êxito anterior. A trilha para o desastre somente não é mais direta devido ao vigor com que o mercado interno se expande, inclusive, a taxas que sinalizam prováveis bolhas de ativos (financiamento de veículos e imóveis) em futuro próximo.
Sob a sinuca cambial cria-se situação em que não há como se inserir no mercado internacional por perda de competitividade em preços. Algumas raras exceções podem ser relacionadas, como: Vale; Petrobras; Embraer; BR Foods; JBS; empreiteiras e mais poucas outras que não cobrem sequer os dedos das mãos, faz da indústria brasileira algo descartável no panorama internacional. Essa tese formulada pelo brilhante professor Antônio Barros de Castro é sem dúvida uma constatação legítima e verificável empiricamente(1). Matérias primas básicas e de baixo valor agregado ou de reduzido conteúdo tecnológico compõe a fatia majoritária de nossas exportações.
Para exemplificar o atraso de nossa indústria tomo o exemplo da Coréia. Nos anos 80, recém saída de uma brutal guerra, tinha em sua Hunday uma das suas empresas mais relevantes, porém, comparativamente a brasileira Votorantim, sequer alcançava à época metade do faturamento dessa última. Em 2010, a coreana vendeu US$112,6 bilhões e a brasileira apenas US$17,5 bilhões(2), ou seja, em 20 anos ocorre uma dramática inversão com a coreana já negociando 6,5 vezes mais que a brasileira. Essa é a dificuldade brasileira, grupos empresariais anêmicos e sem expressão global.
Sem a robustez necessária para se posicionar na teatro internacional, os grupos empresariais industriais brasileiros não conferirão o suporte para que a economia nacional seja verdadeiramente pujante. Porém há um segmento em que essa possibilidade se concretizou: o agronegócio. A liderança mundial em suco de laranja; complexo soja e carnes; café; sucroalcooleiro e celulose, por exemplo, faz do Brasil referência sem igual no competitivo mercado mundial das commodities e suas congêneres.
Não se pode desprezar o papel dos bancos públicos na estruturação das empresas bem sucedidas do agronegócio. Recentemente ocorreu o investimento direto do BNDES no frigorífico JBS, financiando suas aquisições nacionais e internacionais. Por meio desse maciço investimento público o grupo empresarial assumiu a liderança mundial no abate e processamento de carne bovina.
Análise sobre os benefícios dessa concentração de capital sustentada pelo apoio governamental foi recentemente delineada pelo economista José Mendonça de Barros(3) . O consultor destacou o pífio resultado da vultosa injeção de recursos públicos nessa estratégia, perguntando-se sobre a validade de tal política. O crescimento em tamanho não repercutiu nos esperados ganhos de escala, sinalizando, ao contrário, deseconomias com unidades inclusive sendo paralisadas. O resultado mais expressivo do portentoso grupo foi à falência de outros médios e pequenos frigoríficos menos capitalizados.
O aparente fracasso na constituição desse musculoso grupo empresarial brasileiro em carnes, não descarta que em outros segmentos o esforço não deveria ser tentado. A intenção de desmembramento da Sara Lee, com a venda de seus ativos em café no Brasil, deveria ter sido aproveitada. Algum apoio do BNDES deveria ser oferecido a grupo empresarial que fosse capaz de assumir esses ativos, com o compromisso de exportar pelo menos 30% de seu processamento anual e, ainda, promover de forma engajada a melhoria do café oferecido aos brasileiros, traria resultados formidáveis para o agronegócio. A dificuldade maior se centraria em selecionar esse grupo empresarial(5) com ímpeto necessário para tomar conta do negócio e fazê-lo crescer exatamente nos moldes do atual ícone mundial do segmento: a NESPRESSO.
Sem empresas globais no mercado de café as chances do Brasil se converter numa plataforma de negócios do produto são muito reduzidas, senão inexistentes. Continuaremos a nos chatear ao constatar que a Alemanha continua ganhando mais que o Brasil, atuando exatamente com o nosso café. As exportações de torrado e moído (T&M), por exemplo, após longos dez anos de apoio público por meio da Agência de Promoção das Exportações (APEX)(6), se reduziram de US$40 milhões em 2009 para metade disso em 2010. Pior ainda, por miopia de lideranças da lavoura, fortalece-se a proibição do drawback café, regulamento demandado pela indústria do solúvel, atuando assim como carrasco do segmento incumbindo em puxar a alavanca do cadafalso que dela dará cabo.
A concentração do capital na indústria de T&M no mercado doméstico segue em ritmo forte, mas ainda incapaz de constituir grupos empresariais que façam alguma diferença no cenário internacional. A escalada das cotações tratará de colocar inúmeras delas à venda, pois o oligopólio competitivo do varejo resistirá duramente à remarcação dos preços. O contexto é ainda piorado pelo falta de tradição dos torrefadores em não se proteger das oscilações nas cotações e não transferir seus riscos por meio de títulos adquiridos em bolsa, pois a qualidade oferecida nos contratos daquele mercado encontra-se muito acima de suas aquisições usuais.
Leite derramado! Agora já é tarde para lastimar a oportunidade perdida. Arrependimento, nem pensar. A chance de sermos grandes no segmento de T&M esteve em nossos colos. Daqui em diante como desde sempre tem sido, veremos um salve-se quem puder, com a tradicional indústria tecnologicamente atrasada piorando seu blend de forma escandalosa; o governo se omitindo em fazer valer imediatamente a Instrução Normativa 16; os órgãos de defesa do consumidor totalmente alheios à desfaçatez empresarial em encharcar bastante o café e a população subjugada a um produto, majoritariamente, além de caro, vil e miserável.
(1)LEO, S. Desenvolvimento asiático pode ajudar a indústria brasileira. Jornal Valor Econômico, 03/04/2011, pg. A3.
(2)Consultar os respectivos balanços disponíveis em: worldwide.hyundai.com e www.votorantim.com.br
(3)BARROS, J.R.M. de. JBS: vale a pena um campeão nacional. Jornal o Estado de São Paulo, 07/11/2010.
(4)Disponível no sítio: www.agricultura.gov.br
(5)Torrefadoras como Café Maratá e Oderbrecht certamente não devem sequer ser cogitadas para essa parceria por motivos que todo os concorrentes desse mercado conhecem.
(6)Mais um caso daqueles em quem decide como aplicar os recursos públicos não se submete aos interesses da sociedade, privilegiando castas burocráticas e suas viagens internacionais, recheadas pelas polpudas diárias, estandes luxuosos rodeados por pares de modelos selecionadas nas mais destacadas agências mundiais.
Celso Luis Rodrigues Vegro
Eng. Agr., MS Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade
Pesquisador Científico do IEA
Empresto o título do último livro do escritor e compositor Chico Buarque (premiado com o Jabuti em 2010) para, igualmente, nomear esta análise do mercado de café. O escritor, em seu livro, discorre sobre a evolução de uma família ao longo de dois séculos, enfatizando sua decadência e seu futuro pessimista. A metáfora é evidente, o autor sugere por meio da saga familiar a própria trajetória do esforço em construir a nação brasileira. Por acaso, também, temos nosso leite derramado no agronegócio café e por essa razão faço proveito desse título.
Derramar leite no café é o hábito rotineiro de milhões de brasileiros logo pela manhã. Sem um quente pingado muitos se recusam em começar seu dia. Mas a derrama da qual pretendo tratar é de outra natureza, mais séria e menos humorada.
Um dos maiores dilemas do crescimento econômico brasileiro consiste na dificuldade em construir uma indústria com relevância global. Dos anos 30 ao final dos 70, nossas elites políticas e intelectuais imaginaram que se havia alcançado essa etapa do desenvolvimento, pois o país crescia, ano a ano, a dois dígitos ou muito próximo desse patamar. Ao início dos anos 80 o Brasil era a décima primeira potência mundial! Todavia, a autarquia sob a qual se erigia o setor industrial criava gigantes conglomerados com pés de barro e a pequena abertura que se iniciou nos anos 90 mostrou suas patentes deficiências.
Os anos 80 até meados dos 90, assinalaram o período hiperinflacionário na economia brasileira e foram marcados pelas inúmeras tentativas em se debelar as causas desse processo. A chamada inércia inflacionária fazia parte do cálculo empresarial e financeiro, criando uma espécie de ciranda em que havia pouquíssimos ganhadores. Naturalmente o país parou de crescer economicamente. A indústria dita: “complexa e integrada”, substitui a insubstituível melhoria contínua pelas facilidades do resultado financeiro, oriundo da aplicação desbragada de seus ativos no atrativo mercado dos títulos.
A implantação do Plano Real foi um marco divisório na trajetória recente da economia brasileira. Naquele momento a autoridade econômica conseguiu colocar a inflação em posição de xeque mate. Recupera-se o horizonte para o investimento e a indústria passa a apostar em perspectivas de um crescimento vigoroso nas décadas vindouras. Foi o que de fato ocorreu, sendo o caso da indústria automobilística um paradigma dessa transformação (das carroças dos anos Collor para veículos de classe internacional na atualidade).
Adentrando nos anos 2000, a política econômica passa a se sujeitar a uma espécie de sinuca cambial incontornável. O patamar de juros referenciais exigidos para frear o crescimento e segurar a inflação associado ao acúmulo monumental de reservas internacionais, passa a pressionar de tal modo o real que não se tem escapatória, seu destino é ganhar mais e mais valor frente ao combalido dólar.
Se o fim da inflação crônica permitiu um salto no patamar da produção e da produtividade da indústria brasileira, a apreciação da moeda está, na contramão, sufocando o êxito anterior. A trilha para o desastre somente não é mais direta devido ao vigor com que o mercado interno se expande, inclusive, a taxas que sinalizam prováveis bolhas de ativos (financiamento de veículos e imóveis) em futuro próximo.
Sob a sinuca cambial cria-se situação em que não há como se inserir no mercado internacional por perda de competitividade em preços. Algumas raras exceções podem ser relacionadas, como: Vale; Petrobras; Embraer; BR Foods; JBS; empreiteiras e mais poucas outras que não cobrem sequer os dedos das mãos, faz da indústria brasileira algo descartável no panorama internacional. Essa tese formulada pelo brilhante professor Antônio Barros de Castro é sem dúvida uma constatação legítima e verificável empiricamente(1). Matérias primas básicas e de baixo valor agregado ou de reduzido conteúdo tecnológico compõe a fatia majoritária de nossas exportações.
Para exemplificar o atraso de nossa indústria tomo o exemplo da Coréia. Nos anos 80, recém saída de uma brutal guerra, tinha em sua Hunday uma das suas empresas mais relevantes, porém, comparativamente a brasileira Votorantim, sequer alcançava à época metade do faturamento dessa última. Em 2010, a coreana vendeu US$112,6 bilhões e a brasileira apenas US$17,5 bilhões(2), ou seja, em 20 anos ocorre uma dramática inversão com a coreana já negociando 6,5 vezes mais que a brasileira. Essa é a dificuldade brasileira, grupos empresariais anêmicos e sem expressão global.
Sem a robustez necessária para se posicionar na teatro internacional, os grupos empresariais industriais brasileiros não conferirão o suporte para que a economia nacional seja verdadeiramente pujante. Porém há um segmento em que essa possibilidade se concretizou: o agronegócio. A liderança mundial em suco de laranja; complexo soja e carnes; café; sucroalcooleiro e celulose, por exemplo, faz do Brasil referência sem igual no competitivo mercado mundial das commodities e suas congêneres.
Não se pode desprezar o papel dos bancos públicos na estruturação das empresas bem sucedidas do agronegócio. Recentemente ocorreu o investimento direto do BNDES no frigorífico JBS, financiando suas aquisições nacionais e internacionais. Por meio desse maciço investimento público o grupo empresarial assumiu a liderança mundial no abate e processamento de carne bovina.
Análise sobre os benefícios dessa concentração de capital sustentada pelo apoio governamental foi recentemente delineada pelo economista José Mendonça de Barros(3) . O consultor destacou o pífio resultado da vultosa injeção de recursos públicos nessa estratégia, perguntando-se sobre a validade de tal política. O crescimento em tamanho não repercutiu nos esperados ganhos de escala, sinalizando, ao contrário, deseconomias com unidades inclusive sendo paralisadas. O resultado mais expressivo do portentoso grupo foi à falência de outros médios e pequenos frigoríficos menos capitalizados.
O aparente fracasso na constituição desse musculoso grupo empresarial brasileiro em carnes, não descarta que em outros segmentos o esforço não deveria ser tentado. A intenção de desmembramento da Sara Lee, com a venda de seus ativos em café no Brasil, deveria ter sido aproveitada. Algum apoio do BNDES deveria ser oferecido a grupo empresarial que fosse capaz de assumir esses ativos, com o compromisso de exportar pelo menos 30% de seu processamento anual e, ainda, promover de forma engajada a melhoria do café oferecido aos brasileiros, traria resultados formidáveis para o agronegócio. A dificuldade maior se centraria em selecionar esse grupo empresarial(5) com ímpeto necessário para tomar conta do negócio e fazê-lo crescer exatamente nos moldes do atual ícone mundial do segmento: a NESPRESSO.
Sem empresas globais no mercado de café as chances do Brasil se converter numa plataforma de negócios do produto são muito reduzidas, senão inexistentes. Continuaremos a nos chatear ao constatar que a Alemanha continua ganhando mais que o Brasil, atuando exatamente com o nosso café. As exportações de torrado e moído (T&M), por exemplo, após longos dez anos de apoio público por meio da Agência de Promoção das Exportações (APEX)(6), se reduziram de US$40 milhões em 2009 para metade disso em 2010. Pior ainda, por miopia de lideranças da lavoura, fortalece-se a proibição do drawback café, regulamento demandado pela indústria do solúvel, atuando assim como carrasco do segmento incumbindo em puxar a alavanca do cadafalso que dela dará cabo.
A concentração do capital na indústria de T&M no mercado doméstico segue em ritmo forte, mas ainda incapaz de constituir grupos empresariais que façam alguma diferença no cenário internacional. A escalada das cotações tratará de colocar inúmeras delas à venda, pois o oligopólio competitivo do varejo resistirá duramente à remarcação dos preços. O contexto é ainda piorado pelo falta de tradição dos torrefadores em não se proteger das oscilações nas cotações e não transferir seus riscos por meio de títulos adquiridos em bolsa, pois a qualidade oferecida nos contratos daquele mercado encontra-se muito acima de suas aquisições usuais.
Leite derramado! Agora já é tarde para lastimar a oportunidade perdida. Arrependimento, nem pensar. A chance de sermos grandes no segmento de T&M esteve em nossos colos. Daqui em diante como desde sempre tem sido, veremos um salve-se quem puder, com a tradicional indústria tecnologicamente atrasada piorando seu blend de forma escandalosa; o governo se omitindo em fazer valer imediatamente a Instrução Normativa 16; os órgãos de defesa do consumidor totalmente alheios à desfaçatez empresarial em encharcar bastante o café e a população subjugada a um produto, majoritariamente, além de caro, vil e miserável.
(1)LEO, S. Desenvolvimento asiático pode ajudar a indústria brasileira. Jornal Valor Econômico, 03/04/2011, pg. A3.
(2)Consultar os respectivos balanços disponíveis em: worldwide.hyundai.com e www.votorantim.com.br
(3)BARROS, J.R.M. de. JBS: vale a pena um campeão nacional. Jornal o Estado de São Paulo, 07/11/2010.
(4)Disponível no sítio: www.agricultura.gov.br
(5)Torrefadoras como Café Maratá e Oderbrecht certamente não devem sequer ser cogitadas para essa parceria por motivos que todo os concorrentes desse mercado conhecem.
(6)Mais um caso daqueles em quem decide como aplicar os recursos públicos não se submete aos interesses da sociedade, privilegiando castas burocráticas e suas viagens internacionais, recheadas pelas polpudas diárias, estandes luxuosos rodeados por pares de modelos selecionadas nas mais destacadas agências mundiais.
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