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quinta-feira, 30 de junho de 2011

Torrefadores teme ser ''esmagado'' pela fusão

Torrefadores teme ser ''esmagado'' pela fusão
Mesmo sem ter sido concretizada, a união entre Pão de Açúcar e Carrefour no Brasil já começa a mobilizar fornecedores, órgãos de defesa do consumidor e sindicatos. Do lado dos consumidores, há o risco de que a megafusão encareça produtos nas prateleiras. Os trabalhadores estão preocupados com o corte de funcionários nas duas redes e a indústria teme perder o poder de barganha nas negociações. Ontem o assunto dominou a pauta entre compradores e vendedores do varejo, que tentavam prever as consequências do negócio para a indústria e para os concorrentes. "Todos os fornecedores já estão de cabelo em pé. Há uma clara preocupação com o poder de pressão que esse mega varejista poderá exercer", diz uma fonte do setor de alimentos que preferiu não se identificar. O diretor executivo da Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic), Nathan Herszkowicz, acredita que, com a megafusão, os contratos comerciais serão cada vez mais difíceis de serem cumpridos pelos fornecedores. "O que se teme é o efeito de desigualdade de negociação, fazendo com que principalmente pequenas e médias empresas se tornem inviáveis como fornecedoras das grandes redes. " As negociações do setor com os varejistas, segundo Herszkowicz, já são complicadas. "Os contratos apresentam diversos níveis de exigências." Um exemplo disso é o chamado "enxoval" - mercadorias fornecidas gratuitamente para a inauguração de novas lojas. "Os grandes compradores vão espremer quem tem menos força", diz o professor da Fundação Getúlio Vargas e ex-conselheiro do Cade, Arthur Barrionuevo.

País usa agrotóxicos proibidos no exterior

País usa agrotóxicos proibidos no exterior
Representantes de 75 países determinaram a restrição ao comércio de três agrotóxicos associados a prejuízos provocados à saúde. No momento, os três ainda são usados no Brasil. Com a decisão, adotada na reunião da Convenção de Roterdã, na semana passada, esses pesticidas – usados em lavouras de café e soja, por exemplo – passam a ser considerados “severamente perigosos”.A partir de outubro, os agrotóxicos terão de ser submetidos a regras rígidas para a venda. Dois deles (endossulfam e aldicarbe) estão em processo de retirada no Brasil. E o terceiro (alacloro) ainda está sendo avaliado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).Ratificada pelo Brasil em 2004, a Convenção de Roterdã regula o comércio internacional de produtos químicos perigosos. Na semana passada, nações também discutiram a proposta de uso controlado e do banimento do amianto de crisotila, mas não chegaram a um acordo.Para haver uma decisão, é preciso consenso entre todos os participantes.A posição do Brasil foi criticada: a delegação optou pela neutralidade, considerada uma aposta na falta de acordo. Para ativistas na luta contra banimento do produto, classificado com cancerígeno, o País perdeu uma oportunidade histórica. De quebra, recebeu o prêmio ‘Culpado por Provocar Câncer’, promovido por uma organização não governamental. Em relação aos agrotóxicos, o Brasil defendeu a restrição ao comércio.Com a mudança, rótulos dos agrotóxicos terão de apresentar informações claras sobre os perigos de seu uso à saúde. “Os países precisam saber e assumir os riscos a que estão expostos quando comercializam esses produtos”, avalia o gerente-geral de toxicologia da Anvisa, Luiz Cláudio Meirelles.O comércio do endossulfam será banido a partir de 2013. A retirada programada do produto foi determinada pela Anvisa em 2010. O aldicarbe (conhecido por seu uso irregular na formulação do ‘chumbinho’) teve seu uso restringido pela agência e, em dezembro, a fabricante decidiu suspender sua venda. “Esse agrotóxico deverá permanecer no mercado ainda este ano, quando o estoque deve se esgotar”, explica Meirelles. No caso do alacloro, em fase de revisão pela Anvisa, a expectativa é de que seja feita a determinação para a retirada do produto do mercado.Análise difícilA avaliação da segurança de agrotóxicos no Brasil é feita com dificuldade pelo governo. Em 2000 foi criado pela Anvisa um sistema de avaliação, mas desde então poucas substâncias foram banidas. A lentidão é resultado de divergências dentro do próprio governo, pressões políticas e, principalmente, por ações na Justiça.Além da Anvisa, participam da análise das reavaliações o Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e o Ministério da Agricultura. Em 2008, uma lista de reavaliação foi feita, com 14 produtos, mas apenas 6 foram avaliados e, desses, 4 estão sob análise na Justiça. “A análise do processo em si não é demorada. Mas é preciso aguardar todo o processo judicial, o que é bastante trabalhoso”, afirma Meirelles.

Decisão grega reforça apetite por ativos de risco no mundo

Decisão grega reforça apetite por ativos de risco no mundo

Os ativos de risco retomaram ontem sua marcha de alta depois de uma breve pausa, como reação à vitória parlamentar do governo grego. Antes da decisão, os mercados computavam nos preços a aprovação das medidas de austeridade fiscal. Assim, num primeiro momento, uma onda de realização de lucros derrubou as ações globais, o euro e os rendimentos dos principais bônus governamentais na metade da tarde, enquanto os investidores digeriam as notícias que vinham de Atenas.Mas depois os negócios de risco foram retomados com vingança, com as ações ficando um pouco abaixo do melhor desempenho em mais de dois meses e o euro voltando ao patamar de US$ 1,44.Simon Smith da FxPro afirmou: "A movimentação dos preços antes do resultado antecipou em grande parte um resultado positivo e o euro já é um dos ativos de melhor desempenho na semana até agora".Os preços do petróleo subiram mais de US$ 3 o barril e lideraram os ganhos entre as commodities, depois que o fornecimento de óleo bruto caiu mais que o esperado nos Estados Unidos na semana passada.A votação abriu caminho para a Grécia receber mais dinheiro da União Europeia (UE) e do Fundo Monetário Internacional (FMI), mas analistas alertaram para os perigos de se "jogar para frente" a resolução dos problemas do país.Smith disse: "A coisa parece uma vitória vazia. A Grécia aprovou mais medidas de austeridade que, com toda probabilidade continuarão esmagando a economia, enquanto a carga do endividamento continua aumentando. A proposta de reestruturação voluntária da dívida não parece ser a panaceia que muitos acreditam ser, porque trata-se de uma rolagem que reduzirá a carga de juros, mas não vai impor um corte na dívida pendente".Outros especialistas observaram que os movimentos dos preços nos últimos dias mostram que os mercados estão sinalizando um aumento do perigo de Portugal e Irlanda serem sugados para um drama de reestruturação de suas dívidas.Simon Derrick do Bank of New York Mellon disse: "Embora a diferença entre os rendimentos dos títulos gregos e alemães tenha diminuído modestamente nos últimos dias, os spreads equivalentes para as dívidas da Irlanda e de Portugal continuam aumentando bastante".Divyang Shah, da IFR Markets, disse: "É difícil argumentar com os preços do mercado se movimentando tanto que há uma tendência em direção a uma maior preocupação com Portugal em comparação a Irlanda. Dada a natureza 'voluntária' da participação do setor privado no problema da Grécia, faria sentido para os bancos e instituições financeiras correr para a porta de saída agora (em relação a Portugal e a Irlanda) - na próxima vez, as coisas poderão ser um pouco menos 'voluntárias'".Nos mercados de câmbio, o euro subiu 0,4% ontem para US$ 1,4422, alcançando o maior nível em uma semana imediatamente após a votação do parlamento grego. As atenções sobre os acontecimentos em Atenas permitiram à moeda única europeia ignorar uma importante leitura sobre a confiança do consumidor no relatório sobre as perspectivas econômicas para a zona do euro, que em junho atingiu o nível mais baixo em sete meses.Jennifer McKeown da Capital Economics disse: "Vemos uma redução acentuada do crescimento do PIB da zona do euro nos próximos trimestres, na medida em que a fraqueza persistente da Grécia e da Espanha será acompanhada por uma desaceleração em outros países".No mercado de bônus soberanos, houve ontem uma pausa para os títulos de dívidas das economias periféricas do euro. O rendimento dos bônus de 10 anos do governo grego caiu 20 pontos-base, para 15,91%, ao mesmo tempo em que houve também um certo alívio para os bônus referenciais irlandeses e italianos, cujos rendimentos diminuíram 13 pontos-base para 11,47% e 4 pontos-base para 4,94%, respectivamente.Os rendimentos dos Bunds de 10 anos aumentaram 3 pontos-base para 2,99%, enquanto o rendimento dos títulos do Tesouro dos Estados Unidos subiu 4 pontos-base para 3,08%, antes de um leilão de US$ 29 bilhões em títulos de 7 anos.Nos mercados de commodities, os ganhos no petróleo bruto do tipo Brent permitiram que ele recuperasse todas as perdas pelo choque provocado pela divulgação, pela Agência Internacional de Energia, das reservas estratégicas na quinta-feira.

O que está acontecendo com os EUA?

O que está acontecendo com os EUA?

A economia dos Estados Unidos desacelerou-se de forma drástica recentemente e, a cada nova rodada de dados, aumenta a probabilidade de um outro período de baixa atividade econômica. É uma mudança acentuada em relação à situação da economia no fim de 2010 - e representa a volta a um ritmo frágil de expansão, depois do início da recuperação, desencadeada no terceiro trimestre de 2009.O crescimento econômico dos EUA durante os três primeiros trimestres de 2010 não foi apenas lento, mas também dominado pelo acúmulo de estoques, em vez das vendas para consumidores ou outras formas de venda final. O último trimestre de 2010 trouxe mudanças bem-vindas, com ritmo de alta anual de 4% no consumo, o suficiente para elevar o Produto Interno Bruto (PIB) total real em 3,1% em comparação ao terceiro trimestre. A economia parecia ter escapado de sua dependência em relação ao acúmulo de estoques.Esse desempenho favorável levou autoridades do governo e analistas privados a prever continuidade do forte crescimento em 2011, com os aumentos na produção, emprego e renda levando a mais gastos dos consumidores e a uma recuperação autossustentável. Foi aprovada redução de dois pontos percentuais no imposto de renda, por um ano, para garantir essas perspectivas favoráveis.Infelizmente, a recuperação projetada no consumo não ocorreu. A alta nos preços dos alimentos e fontes de energia superou o ganho dos salários nominais e os salários semanais médios reais caíram em janeiro, enquanto a continuidade no declínio dos preços residenciais corroeu o patrimônio da maioria das famílias. Como resultado, os gastos reais dos consumidores apresentaram alta anual em torno de apenas 1% em janeiro, bem abaixo dos 4% do quarto trimestre. O padrão de alta nos preços e de declínio nos salários reais repetiu-se em fevereiro e março, com a alta acentuada no índice de preços ao consumidor levando a uma queda superior a 5% no salário semanal médio real. Não é de surpreender que pesquisas sobre o otimismo do consumidor tenham desabado e os gastos dos consumidores, ficado quase estagnados de um mês a outro.As hipotecas nos EUA são, de fato, créditos garantidos apenas pelo bem hipotecado. Como resultado, 10% das hipotecas agora estão inadimplentes ou em execução, criando um excesso de propriedades que terão de ser vendidas a preços cada vez menores.O recuo nos preços residenciais pressionou para baixo as vendas de casas, tanto novas como usadas. Isso, por sua vez, provocou um declínio drástico tanto no volume de residências em construção como nas obras sendo iniciadas. Esses declínios provavelmente continuarão, porque quase 30% das casas com hipotecas valem menos do que a hipoteca. Isso cria fortes incentivos à inadimplência, porque as hipotecas nos EUA são, de fato, créditos garantidos apenas pelo bem hipotecado: o credor pode tomar a propriedade se o captador não pagar, mas não pode tomar outros bens ou uma parte de seu salário. Como resultado, 10% das hipotecas agora estão inadimplentes ou em execução, criando um excesso de propriedades que terão de ser vendidas a preços cada vez menores.As empresas reagiram de forma negativa à fragilidade na demanda das famílias, com os índices de atividade dos setores de serviços e indústria elaborados pelo Instituto de Gestão de Fornecimento (ISM, na sigla em inglês) recuando. Embora as grandes empresas continuem com caixa bastante substancial em seus balanços patrimoniais, seu fluxo de caixa com operações correntes caiu no primeiro trimestre. O mais recente indicador de encomendas de bens de capital não militares apontou declínio nos investimentos empresariais.O padrão de fragilidade acelerou-se em abril e maio. O aumento relativamente forte nas folhas de pagamento visto entre janeiro e abril foi interrompido em maio, quando foram criados apenas 54 mil novos empregos, cerca de 30% do crescimento médio dos quatro primeiros meses. Como resultado, o índice de desemprego subiu para 9,1% da força de trabalho.O mercado de bônus e os preços das ações reagiram a todas essas más notícias de forma previsível. As taxas de juros dos bônus governamentais de dez anos caíram para 3% e o mercado acionário recuou por seis semanas consecutivas, maior sequência negativa desde 2002, com desvalorização acumulada superior a 6%. As cotações menores das ações, por sua vez, agora terão efeito negativo no consumo e investimento das empresas.Não se pode esperar que as políticas fiscais e monetárias revertam a situação. O Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA) se aterá à sua política de manter as taxas de juros de um dia próximas a zero; mas, tendo em vista o medo de bolhas no preço dos ativos, não reverterá a decisão de acabar com a política de compra de bônus do Tesouro americano - a chamada "flexibilização quantitativa" - no fim de junho.Além disso, a política fiscal na verdade será contracionista nos próximos meses. O programa de estímulos fiscais aprovado em 2009 está chegando ao fim, com os gastos em estímulos caindo de US$ 400 bilhões em 2010 para apenas US$ 137 bilhões neste ano. Também há negociações em andamento para reduzir os gastos ainda mais e elevar os impostos, de forma a reduzir os déficits fiscais projetados para 2011 e os anos seguintes.Portanto, o panorama de curto prazo para a economia dos EUA ainda é, na melhor hipótese, frágil. Mudanças fundamentais de política provavelmente terão de esperar até depois das eleições presidenciais e parlamentares de novembro de 2012.Martin Feldstein é professor de economia em Harvard, foi presidente do Conselho de Assessores Econômicos do ex-presidente dos Estados Unidos Ronald Reagan e foi presidente do Gabinete Nacional de Análises Econômicas dos EUA.

Recuperação dos EUA depende de gasto público"

Recuperação dos EUA depende de gasto público"
O que o Japão da década de 1990 tem a ensinar aos Estados Unidos e à Europa de hoje? Para Richard Koo, economista-chefe do Nomura Research Institute, do banco Nomura, americanos e europeus estão vivendo o mesmo desafio econômico que japoneses enfrentaram na última década do século passado. Para encará-lo, políticas monetárias tradicionais já não servem. A única maneira de estimular a retomada dos investimentos nessas economias, em sua opinião, é a ampliação dos gastos estatais e de estímulos fiscais ao setor privado - instrumentos adotados pelo governo japonês para superar a recessão.Em entrevista ao Valor em São Paulo, onde participou de um fórum do banco, Koo diz que o Japão enfrentou uma bolha financeira em 1990, principalmente de papéis ligados ao setor imobiliário. Logo após seu estouro, o setor privado simplesmente parou de tomar novos empréstimos e passou a se preocupar em pagar dívidas que carregava da década de 80, época de forte prosperidade. "Por isso, não adiantava mais abaixar a taxa de juros para níveis próximos de zero. Havia liquidez no mercado, crédito abundante, mas as empresas simplesmente pararam de tomar empréstimos. Estavam traumatizadas com dívidas antigas e temerosas de fazer novas." Para denominar todo esse contexto, Koo criou o termo "recessão de balanços de pagamentos" (ou balance sheet recession, em inglês).Para Koo, se a política monetária americana continuar baseada em uma taxa de juros próxima a zero, não haverá resposta dinâmica por parte do setor privado. "Os juros por lá caíram para próximo de zero há dois anos e meio, e ainda assim não vemos melhoras claras". Sobre as medidas de injeção de liquidez na economia por parte do Fed, ele considera que muito desse dinheiro continua retido no próprio sistema financeiro - e o mesmo é válido para países europeus como Espanha, Irlanda e Reino Unido."Para tratar essa nova doença, é necessário muito estímulo fiscal e um governo que empresta e gasta, mas essa é uma medida muito impopular. Foi assim que o governo japonês conseguiu manter um padrão no Produto Interno Bruto (PIB) sem deixá-lo despencar totalmente", diz. No Brasil, ele não reconhece um cenário do mesmo tipo, já que o país não passou pelo estouro de uma bolha financeira e, portanto, o Estado não deve assumir a mesma postura. "Mas se o passar por uma bolha parecida, enfrentará as mesmas dificuldades."Quando perguntado sobre as chances desse estouro acontecer por aqui, Koo dá uma breve e discreta risada, para de falar por alguns segundos e solta: "Bem, estou aqui como um representante do Nomura, e talvez seja a hora de parar de falar." Do começo de sua carreira, na década de 80 - quando era funcionário no Fed de Nova York - Koo conta que pôde acompanhar de perto as turbulências econômico-financeiras nos países latinos, e que aprendeu na época que "é muito importante para quem concede o crédito saber muito bem o que está sendo feito com o dinheiro emprestado." O mesmo é válido para investidores de um modo geral."Muitas vezes, o credor ou investidor não tem a mínima ideia de como é a estrutura financeira e bancária do lugar para onde está indo o dinheiro. Quando ele chega é ótimo, o preço de ações sobe, há uma euforia econômica. Mas se algo der errado, todos entram em pânico. E é basicamente esse tipo de dinheiro que tem ido em busca dos mercados emergentes como o Brasil."

Com aposta de US$ 21 bi, `vendido` manda no câmbio

Com aposta de US$ 21 bi, `vendido` manda no câmbio

Junho acaba e salvo algum desastre nesta quinta-feira, os "vendidos" (que apostaram na baixa) foram os grandes ganhadores no mercado de câmbio. O dólar, que chegou a ser cotado acima de R$ 1,60, fechou, ontem, na linha de R$ 1,57, voltando a se aproximar das mínimas do anoNa Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F), os estrangeiros voltaram a ampliar a posição vendida, que atingiu novo recorde, a US$ 21,314 bilhões, ao fim do pregão. Cabe ressaltar que mesmo com todas as incertezas que pontuaram o mês, essa posição nunca foi menor que US$ 18,8 bilhões.Com tamanha aposta na valorização do real se deu bem quem viu todo o movimento de alta do dólar, como firme oportunidade de venda. A melhor janela surgiu no fim da semana passada, quando o preço testou a linha de R$ 1,60.Taxa Ptax terá novo modo de cálculo já na sexta-feiraAlém da natural e conhecida disposição dos vendidos em defender suas posições, a movimentação desses agentes contou com uma melhora de percepção externa, conforme os agentes passaram a acreditar na aprovação de medidas de austeridade pelo parlamento grego. Algo que se confirmou na manhã de quarta-feira. Com isso, a possibilidade de se observar o primeiro default da zona do euro saiu do radar, ao menos no curto prazo. Mas não será surpresa se já em agosto a Grécia voltar a apresentar dificuldades, ou se nesse meio tempo algum dos outros Piigs (Portugal, Itália, Irlanda, Grécia e Espanha) cair em descrédito. De volta ao mercado local, o derradeiro dia da Ptax como se conhece é hoje. Nesta quinta-feira, será a última vez que a taxa utilizada na liquidação de contratos futuros e outros compromissos cambiais será aferida como média das cotações ponderada pelo volume. A nova fórmula de cálculo será uma média aritmética de quatro consultas que o Banco Central (BC) fará junto ao mercado entre 10 horas e 13 horas. Com esse novo método se pretende uma formação de Ptax mais transparente e menos passível de manipulação por parte dos agentes. Se isso vai funcionar, só saberemos com certeza na passagem de julho para agostos, tendo em vista que é o no fim do mês que a batalha pela Ptax se acirra, descolando o câmbio de fundamentos domésticos e externos.Nas posições na BM&F, os bancos apresentavam estoque comprado de US$ 15,599 bilhões. Esse agentes, no entanto, têm outras formas de exposição cambial, como mercado à vista (onde estão vendidos em US$ 13,69 bilhões) e derivativos de balcão. Por isso, não se sabe a exposição cambial líquida das instituições.Ainda na BM&F, as pessoas jurídicas não financeiras mostraram firme compra de dólar futuro nos últimos dias. A posição comprada saiu de US$ 62 milhões na sexta-feira para US$ 882 milhões na terça-feira. Tal movimentação pode ser atribuída a empresas fazendo ajustes na sua exposição cambial antes do fechamento de balanços do trimestre e do semestre. Compra-se um contrato de dólar futuro que serve de contrapartida a alguma exposição. Essa posição "protegida" aparece na "fotografia" que é o dia 30 de junho para o balanço. Como esse contrato de dólar já terá cumprido o seu papel, "morre" no vencimento do mesmo dia. No mercado de juros futuros, o Relatório Trimestral de Inflação não colocou ninguém para correr. O sinal extraído do documento é de que o ajuste de alta na Selic pode ser estendido para além do encontro de julho. No entanto, a curva futura de juros não mostrou grande alteração. A estrutura a termo embute uma alta de 0,25 ponto na Selic em julho, mas ainda não incorpora completamente um novo aperto em agosto.Para parte do mercado, isso é reflexo da falta de novidades no Relatório de Inflação, ou seja, melhor esperar mais dados antes de fechar a aposta.Para um economista, a questão é um pouco mais complexa. Apesar da melhora da comunicação do BC, o mercado ainda desconfia do espaço de manobra que a autoridade monetária tem para implementar a sua política livremente."O mercado interpreta que o BC gostaria até de ir além da reunião de agosto no aumento dos juros. Mas será que ele terá espaço para isso? Com isso, os participantes vão ajustando a sua expectativa de reunião em reunião de modo que a parte curta da curva perdeu toda a graça", disse.No relatório do BC, dois boxes chamaram a atenção. O primeiro mostrou que os salários sobem acima da produtividade, algo claramente inflacionário. O segundo tratou das medidas prudenciais e parece que serviu para acabar com qualquer dúvida quanto ao seu uso e função. São medidas preventivas, voltadas a conter riscos no mercado de crédito. De forma alguma substitutas à tradicional alta dos juros.Eduardo Campos é repórter do Valor

Para todos os efeitos, Carrefour francês será controlador

Para todos os efeitos, Carrefour francês será controlador

A criação de uma multinacional verde-amarela do setor de varejo tem sido o principal argumento para defender que o BNDES coloque R$ 3,91 bilhões dos seus recursos no negócio que está sendo negociado entre Abilio Diniz, BTG Pactual e Carrefour.Embora a proposta preveja que gestão das duas redes de supermercados no Brasil fique a cargo de pessoas indicadas pelo Novo Pão de Açúcar (que terá como principais acionistas Casino, BNDES, Abilio e BTG), o controlador de fato das operações será o Carrefour da França.O que motiva esse desenho é uma premissa do padrão internacional de contabilidade IFRS, usado na Europa e no Brasil.Por essas regras, uma empresa só pode consolidar os números de uma investida se a primeira de fato controlar a segunda, independentemente da participação acionária detida. E é isso que deve ocorrer na transação em questão, com o Carrefour França na posição de controlador e a Companhia Brasileira de Distribuição (CBD, razão social do Pão de Açúcar) na condição de controlada, tendo, por sua vez, o Carrefour Brasil como subsidiária integral.O Pão de Açúcar já é maior que o Carrefour no Brasil e essa diferença seria acentuada com o aporte de R$ 3,91 bilhões do BNDES e R$ 690 milhões do BTG.Conforme a proposta, ao se combinar as duas empresas, a contribuição do Novo Pão de Açúcar (já incluindo o aporte de R$ 4,6 bilhões) equivaleria a 69% do valor econômico envolvido, enquanto as operações brasileiras do Carrefour representariam 31%. Esse arranjo não interessaria ao Carrefour na França, já que o IFRS não permite que, com uma participação minoritária, seja feita a consolidação das receitas da operação brasileira, nem mesmo de forma proporcional. Isso é importante porque a maior parte das comparações que se faz no setor é por volume de vendas.Assim, a proposta prevê um rebalanceamento da posição, com os acionistas do Novo Pão de Açúcar trocando 19% de participação na CBD por 11,4% das ações do Carrefour francês. Com a troca, NPA e Carrefour da França passariam a ter 50% cada um da CBD.Até 2012, uma fatia meio a meio garante a consolidação proporcional a cada uma das partes envolvidas. Mas a regra do IFRS sobre esse tema acaba de ser alterada e, a partir de 2013, isso não será mais permitido. Ou uma empresa controla a outra e consolida 100% ou não consolida nada, registrando o efeito apenas no lucro e patrimônio.Para desequilibrar o jogo e garantir o controle, seria firmado um acordo de acionistas pelo qual, a partir de 2013, um membro do conselho de administração do Carrefour da França teria "preponderância" em votação de matérias ligadas ao Brasil. A sacada é que esse membro será indicado pelo NPA. Casino compra o Pão de AçucarNo dia seguinte ao anúncio da proposta de combinação de Pão de Açúcar e Carrefour, as ações da varejista brasileira baterem recorde absoluto de volume negociado. Giraram quase R$ 1,7 bilhão, quatro vezes o movimento da Vale e cinco vezes o da Petrobras. Foi nada menos do que 25% do total negociado na BM&FBovespa ontem, ou o equivalente a 9,2% de todo o valor de mercado da companhia.Mas, no lugar de ser um aval dos investidores comemorando a potencial transação, a grande demanda veio do Casino, sócio e atual rival de Abilio Diniz no controle do Pão de Açúcar. Ontem à noite, a rede francesa informou ao Pão de Açúcar que comprou mais 6% do capital da empresa em bolsa, em ações preferenciais, nos últimos dias. Com isso, sua fatia na companhia subiu de 37% para 43%. Trata-se de um investimento de R$ 1,1 bilhão.Independentemente do que decidirá sobre a proposta de combinação com o Carrefour, o Casino está se preparando para a guerra, embora o discurso é de que tais aquisições - é o segundo grande investimento em bolsa, o outro foi de 3,7% do capital, com gasto da ordem de R$ 800 milhões - visam apenas comprovar seu comprometimento com o Pão de Açúcar e com o Brasil e o reforço de sua posição de controlador.Juntos, os dois movimentos elevaram a participação do Casino nas últimas duas semanas em 10%, aproximadamente, com um desembolso de quase R$ 2 bilhões.Com eles, a fatia do Casino no Novo Pão de Açúcar (NPA) - holding que dividiria o controle do Pão de Açúcar mais o Carrefour Brasil, com o Carrefour França - está perto de se igualar ao que teriam juntos Abilio Diniz, BNDES e BTG Pactual.Antes dessa aquisição, o Casino seria diluído de 37% para 29,8% com a operação sugerida. Agora, sua fatia ficaria em 34,4% - os demais sócios, sem contar o mercado, somariam 38%.Durante o dia, ainda sem a confirmação do Casino, o mercado já dava como certo que a empresa era o comprador, por conta do grande volume de ontem. Além disso, os investidores destacavam que não havia motivo para comprar as ações ao preço atual, uma vez que ainda existe um risco expressivo de a operação não se concretizar - já que a palavra final é do Casino. Até o começo da tarde, quando houve a maior concentração das compras, as ações do Pão de Açúcar chegaram a registrar forte alta novamente: a máxima mostrava valorização de 12%, repetindo o movimento de terça-feira. Mas os papéis fecharam o dia em baixa de 3,07%.Na guerra para a qual o Casino estaria se preparando, ele poderia utilizar as ações preferenciais que possui para votar contra a proposta de conversão em ordinárias. A unificação das espécies de ações seria o primeiro passo da proposta de combinação com o Carrefour.Por conta de uma decisão da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), baseada na Lei das Sociedades por Ações, os ordinaristas não podem votar na assembleia que aprovar a conversão das preferenciais porque têm um prêmio na conversão dos papéis. Cada preferencial receberia 0,95 ordinária. Mas Abilio Diniz também estaria pensando em revidar. Os advogados que assessoram o empresário - do escritório Mattos Filho e Barbosa, Müssnich & Aragão - estudam a possibilidade de fazer uma consulta na CVM justamente para questionar se acionistas preferencialistas, também detentores de ações ordinárias, poderiam votar na assembleia geral que decidirá se aprova a integração das operações do Pão de Açúcar com o Carrefour.O objetivo de Diniz seria levantar a discussão para que o colegiado da CVM avalie que o Casino e o Pão de Açúcar devem ser impedidos de votar, independentemente da classe de ação que possuem, pelo conflito de interesse.No mercado, também circulavam outros exercícios sobre os motivos do Casino de fazer essas compras. Entre eles estaria demonstrar sua capacidade financeira própria, sem a necessidade de um financiador.A configuração final da proposta de fusão entre Pão de Açúcar e Carrefour nasceu a partir da entrada do BTG no negócio, que aconteceu por volta do dia 10 de junho. Foi a partir daí que se desenhou a criação do Novo Pão de Açúcar (NPA) com uma classe apenas de ações, capital inicial de € 2 bilhões (de BNDESPar e BTG) e € 500 milhões em dívida, captados pelo banco de André EstevesSe o Casino aprovar o negócio, o acordo da Wilkes deixaria de existir. Seria feito um novo acordo entre NPA e Carrefour França. O Casino passa a ser o maior acionista individual na NPA, com 29,8%, mas terá que respeitar a governança da nova empresa. Ou seja, se submeter a um acordo prévio desenhado por Abilio Diniz, atual presidente do conselho do Pão de Açúcar, e o Carrefour mundial. O NPA terá um novo CNPJ (o da Gama, sociedade para fins específicos criada pelo BTG), mas não vai para o Novo Mercado. A intenção é adotar partes do Novo Mercado - tag along de 100%, uma classe só de ações. A empresa não iria para o Novo Mercado porque não quer sofrer as restrições desse ambiente de negócios. Como, por exemplo, a exigência de laudo de três bancos diferentes para aprovar algumas operações. Isso tornaria a empresa mais "engessada". Além disso, cada acionista tem direito a um voto (independentemente da quantidade de ações). O BNDESPar, por exemplo, tem 18% da empresa, mas vota com 15% (limite para todos os acionistas).No Carrefour França, que também é listado em bolsa, o NPA será o segundo maior acionista, após a Blue Capital. É por conta da negociação com a Blue Capital, iniciada em fevereiro, que o NPA terá o direito de indicar dois conselheiros para o Carrefour. A partir de 2013, o NPA indicaria três conselheiros. O conselho do Carrefour se baseia no trabalho de quatro comitês de estudo para tomar suas principais decisões. São quatro comitês, dos quais participam alguns membros da gestão e do conselho: de estratégia, de nomeação, de remuneração e de auditoria. Está acordado que o NPA vai dirigir o comitê de estratégia. Além disso, participaria dos outros três. Com isso, o NPA ganharia poder nas tomadas de decisão do Carrefour. Mas o contrário não aconteceria - pelo menos, não na mesma proporção. É o NPA quem daria as cartas na gestão da mega varejista criada a partir da união de Pão de Açúcar e Carrefour Brasil. A ideia é tornar a administração da empresa no país mais eficiente, dizem fontes que acompanham o negócio. A administração executiva da Companhia Brasileira de Distribuição (CBD), que pretende incorporar o Carrefour Brasil, seria indicada pela NPA. O único cargo a ser indicado diretamente pelo Carrefour seria o de diretor financeiro. O presidente do conselho seria Abilio Diniz, enquanto o Carrefour daria o nome do vice-presidente do conselho de administração. O Carrefour indicaria ainda um membro para um comitê financeiro a ser criado no CBD. Sob a responsabilidade desse comitê, está a avaliação e aprovação do plano de negócios, apresentado pelo presidente executivo e diretores, o orçamento anual, além de questões relevantes como fusões e aquisições e outros grandes investimentos. Analistas preveem reação do WalmartSe uma fusão entre Carrefour Brasil e Pão de Açúcar for concretizada, será um negócio muito bom para o grupo francês. Mas a americana Walmart pode reagir e fazer oferta alternativa para adquirir todos os ativos de Carrefour na América Latina, avaliam diferentes analistas na Europa. Financeiramente, boa parte dos analistas acha que a avaliação relativa é favorável para o grupo Pão de Açúcar, mas o Carrefour se beneficiará de sua fatia de sinergias.Matthew Truman, do J.P. Morgan Cazanove, nota que o Carrefour tem negócio mais fraco do que o Pão de Açúcar, tanto em lucro como fatia de mercado, e está efetivamente "vendendo" seu negócio no Brasil para uma nova companhia por 8,6 vezes o EV/Ebitda (valor da empresa/ lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortização). Em contrapartida, o Carrefour estará pagando fisicamente apenas 5,4 vezes antes das sinergias por 17% de parte incremental do grupo, oferecendo forte criação de valor desde o início, estimado em até R$ 1,8 bilhão sobre todo o acordo. No pós-sinergia, isso significaria apenas 3,3 vezes o EV/Ebitda. No total, isso é materialmente abaixo dos múltiplos estabelecidos para o mercado latino-americano de alimentos no varejo.Cristopher Hogbin, da BernsteinResearch, firma de pesquisa famosa de Wall Street, calcula que apenas a parte de 'sinergia capitalizada" de Carrefour poderia exceder seu custo de aquisição. Usando múltiplo conservador de 7 vezes, sua conclusão é clara: como o negócio atual de Carrefour contribui com um terço da nova companhia (tanto em vendas como em Ebit), mas deterá 50% do controle, o grupo francês receberá efetivamente a diferença de 16% a "custo zero".A questão é se a sinergia estimada de ? 700 milhões é crível. Isso representa 2,2% do faturamento combinado das duas companhias (? 31 bilhões). Analistas tendem a achar que o plano é possível, pelo potencial de aumento de barganhas nas compras, redução de custos administrativos e logísticos e poder de preço a partir de posição forte no mercado.Do ponto de vista estratégico, analistas destacam a importancia do mercado varejista no Brasil com crescimento de 5% ao ano e devendo continuar nesse ritmo no médio prazo. O acordo proposto cria um campeão nacional com ? 33 bilhões de vendas, ? 2,1 bilhões de Ebitda (6,4%) e 28% de fatia do mercado de alimentos no Brasil.Para Carrefour, o Brasil representaria 37% das vendas do grupo e os emergentes como um todo fariam ? 47 bilhões de vendas. As vendas no Brasil combinadas com Ásia e mais outras áreas na América Latina representariam 41% do total, comparado a apenas 27% vindo dos emergentes atualmente. Para Truman, do J.P. Morgan Cazenove, o grupo francês estará comprando uma posição de líder, colocando-se confortavelmente à frente do Walmart (11%).O acordo proposto deixa o Walmart em posição difícil no Brasil, e analistas acham que isso pode levar a companhia americana fazer ofertas alternativas. "Não excluímos uma oferta defensiva em dinheiro do Walmart por todos os ativos de Carrefour na América Latina", diz Jaime Vasquez, do Santander, em Madri. Ele calcula que a oferta poderia girar em torno de ? 12 bilhões.Analistas preveem período prolongado de negociações, diante da resistência de Casino. Se vender sua participação, o grupo pode pegar ? 3 bilhões, mas sairia com prejuízo no investimento, acha Truman. O sentimento é que o Casino vai tentar assegurar um melhor acordo, e alterações na proposta não podem ser excluídas.Em todo caso, a expectativa é que Abilio Diniz usará seu poder de pressão para arrancar apoio do Casino. Estima-se que Diniz possua R$ 2 bilhões em imóveis, alugados para o Pão de Açúcar, o que significa pelo menos R$ 80 milhões por ano de renda. Se o Casino resistir, Diniz poderia aumentar o aluguel e colocar o sócio no córner.A visão generalizada na Europa é que, com a participação do BNDES na proposta, dificuldades com a política de concorrência poderiam ser facilmente evitadas.Em todo caso, insistem que integrar dois negócios com faturamento combinado anual de mais de ? 30 bilhões e Ebitda de ? 2 bilhões não será tarefa fácil, como mostram as histórias de fusão no setor varejista. Diniz planeja reestruturação do CarrefourConhecido como "mãos de tesoura", por conta das mais de 20 mil demissões que assinou ao longo dos quase cinquenta anos de carreira, Claudio Galeazzi é o primeiro nome na lista de Abilio Diniz para comandar a reestruturação do Carrefour Brasil. Se aprovada a incorporação da filial brasileira do Carrefour pela Companhia Brasileira de Distribuição (CBD), dando origem ao Novo Pão de Açúcar (NPA), o primeiro passo será sanear o Carrefour Brasil, segundo apurou o Valor. Na avaliação de Diniz, é preciso "limpar" a filial brasileira da rede francesa, para que ela não contamine a CBD. Galeazzi, fundador da consultoria Galeazzi & Associados e atual sócio do BTG na área de negócios de varejo do banco, será o responsável por introduzir "as melhores práticas" de gestão no Carrefour Brasil. Ao que tudo indica, não faltará trabalho ao consultor - que traz no currículo as reestruturações de Lojas Americanas, Artex, Laticínios Mococa, Cecrisa, Vila Romana, além do próprio Pão de Açúcar, companhia que presidiu entre o fim de 2007 e o início de 2010. Em todo o mundo, o Carrefour se especializou no formato de hipermercados, negócio que está em decadência na Europa, nos Estados Unidos e também no Brasil. Sem ter que lidar com uma inflação "galopante", que eliminou a necessidade de antecipar compras temendo o aumento de preços, o brasileiro vem preferindo cada vez mais o consumo por conveniência, perto de casa. Os hipermercados, que exigem áreas de mais de oito mil metros quadrados, fora dos grandes centros, perderam a atratividade. Houve uma tentativa de transformá-los em "mini-shoppings", com a locação de espaço para lojas de serviços, sem sucesso. Para interlocutores, Galeazzi já afirmou que "se pudesse, acabava com os hipermercados". A intenção do reestruturador seria transformar as enormes lojas do Carrefour (são 114 hoje) em hipermercados compactos, como tem feito o Pão de Açúcar com o Extra (bandeira que também foi adotada para o formato supermercado, em substituição às marcas CompreBem e Sendas). Uma alternativa também estudada pelo executivo é juntar, em um mesmo espaço, duas bandeiras diferentes - lojas do Carrefour e do Atacadão, por exemplo. Mas o maior problema visto por Galeazzi está na política de compras e preços adotada pelo Carrefour. Na avaliação do consultor, segundo fontes, a filial brasileira da rede francesa faz valer o seu peso de segunda maior varejista de alimentos do país na negociação com fornecedores, mas não tem uma política eficiente de abastecimento, está mal preparada para as vendas sazonais, o que gera "ruptura", ou falta de produto nas gôndolas, e tem uma má gestão do mix de produtos, por não adequá-lo às preferências e poder aquisitivo do público no entorno das lojas.São questões que, para Galeazzi, comprometem a eficiência operacional da empresa. Cerca de 70% dos imóveis do Carrefour são próprios, contra uma média de 30% do Pão de Açúcar. Ainda assim, a margem Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) do grupo de Diniz gira em torno de 7%, enquanto que no Carrefour está em 2%. Em 2010, o Ebtida do Carrefour Brasil foi de R$ 600 milhões. Mas a operação brasileira do Carrefour não se resume a problemas. A compra da bandeira Atacadão, em 2007, é considerada a melhor façanha da rede francesa no país. "É um formato que vem crescendo muito no Brasil e respondendo pela maior parte dos ganhos da empresa", diz o consultor Eugênio Foganholo, da Mixxer. O Atacadão, com 72 lojas, respondeu por cerca de 69% do Ebitda do Carrefour no ano passado.Galeazzi não pretende mexer no Atacadão. Mas deve reposicionar a bandeira Assaí, do Pão de Açúcar, para direcioná-la para a periferia, enquanto que o Atacadão se concentraria no público transformador (ambulantes de alimentos). Já a abertura de farmácias em rua, estratégia anunciada pelo Carrefour Brasil em 2010, não agrada Galeazzi. Segundo interlocutores, o consultor só aprova a opção de grandes varejistas como donos de farmácias e postos de gasolina se esses formatos estiverem no mesmo espaço das lojas, como conveniência para o consumidor. Para Foganholo, uma das principais razões para os problemas enfrentados pelo Carrefour no mundo está na falta de flexibilidade da empresa em operar outros formatos. "Eles só vão bem com bandeiras que eles não criaram, como o Atacadão e o Dia%", diz. Na opinião de Foganholo, o Carrefour têm dificuldade de operar lojas menores, que exigem maior agilidade na reposição do mix e proximidade com o consumidor. Na verdade, o Carrefour nunca quis supermercados. Nos anos 90, compraram a rede Comptoirs Modern no mundo. Esta, por sua vez, tinha acabado de comprar 22 pontos da Lojas Americanas em supermercados. "Eles tinham a opção de vender esses pontos no Brasil ou expandir", lembra Foganholo. Fizeram a segunda opção - primeiro com a bandeira Champion e, depois, com Carrefour Bairro, dona de 49 lojas hoje - e não se deram bem. O conserto ficará para Galeazzi. Estudo aponta pouca sobreposição de lojaA união entre o Pão de Açúcar e o Carrefour vai afetar menos da metade das cidades brasileiras onde as duas redes estão presentes, permitir o envio de produtos brasileiros para o exterior e diminuir os custos das duas empresas, o que pode levar a redução nos preços aos consumidores. Esses argumentos devem ser levados ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) assim que o negócio for fechado. Eles fazem parte de um estudo preliminar sobre os efeitos da fusão à concorrência. A análise foi feita por especialistas contratados pelas consultorias financeiras que atuaram na modelagem da fusão. Uma vez fechado o negócio, eles pretendem alegar aos conselheiros do Cade que a união não vai representar uma redução das três principais redes de supermercados para duas, restando apenas o Walmart como forte competidor. Esse ponto é crucial, pois, nas fusões e aquisições em que o órgão antitruste verificou essa redução de três para duas, as empresas sofreram restrições em seus negócios ou mesmo tiveram a operação reprovada. No caso Nestlé - Garoto, por exemplo, o Cade entendeu que a união da segunda com a terceira empresa de chocolates do país iria prejudicar a concorrência, pois apenas a Kraft, dona da marca Lacta, teria condições de competir. Ao fim, o Cade concluiu que o negócio levou à formação de um duopólio no mercado de chocolates e vetou à operação. Segundo a análise feita pelos especialistas, o Walmart é um concorrente "forte o suficiente para manter os preços em nível baixo". Mas eles vão além e dizem que "a expansão de concorrentes já instalados é plausível e provável no curto prazo". Ou seja, outras redes têm capacidade para crescer e fazer frente a uma possível fusão entre dois dos líderes do mercado brasileiro. A análise preliminar diz que o Pão de Açúcar e o Carrefour dividem lojas em 70 municípios. É menos da metade das 180 cidades em que ambos atuam. Em apenas 25 cidades, a concentração seria superior a 50%. E nos 70 municípios onde ambos estão presentes, há outras grandes redes, como o Walmart, que "oferece pressão competitiva suficiente em uma parte significativa dos municípios".Outra alegação é a de que a maioria dos fornecedores não depende exclusivamente de Carrefour ou do Pão de Açúcar para vender os seus produtos. As duas redes respondem por menos de 3% das vendas da Ambev e menos de 7% das vendas da Nestlé. Esse cenário seria o mesmo para a maioria dos fornecedores do Pão de Açúcar. Ele demonstraria que os fornecedores têm diversas alternativas para escoar os seus produtos e dependem pouco das duas grandes redes.A sinergia entre as duas redes é vista de modo a reduzir "de forma significativa os custos de Carrefour e, portanto, aumentar a rentabilidade dos acionistas sem que ocorra aumento de preços aos consumidores".Com relação aos consumidores, os especialistas indicam que as empresas terão custos menores de distribuição, gestão e relacionamento com fornecedores. "As sinergias podem ser facilmente repassadas aos consumidores na forma de baixos preços, maior variedade de produtos e um maior número de lojas."Essa expectativa sobre o comportamento dos preços, após a fusão, será fundamental na análise do Cade. O órgão antitruste não costuma acreditar que, por ter custos mais baixos, as empresas vão simplesmente reduzir o que cobram dos consumidores. Mas, serão feitos estudos tanto da parte do Cade quanto das empresas para estimar uma possível redução ou até eventuais aumentos nos preços dos produtos. A análise das consultorias indica ainda que o negócio com o Carrefour vai permitir que produtos brasileiros tenham um canal a mais para chegar no mercado externo, em particular o francês.Ontem, o Cade adiou a conclusão do julgamento da compra da rede Sendas pelo Pão de Açúcar. Esse caso pode retornar à pauta na próxima sessão, em 13 de julho. O órgão antitruste também está analisando a união entre o Pão de Açúcar, o Ponto Frio e as Casas Bahia, mas ainda não há prazo para esse caso ser julgado. A compra da Sadia pela Perdigão, e a consequente criação da BRF- Brasil Foods, pode retornar ao plenário do Cade em 13 de julho. Nesta semana, representantes dessas empresas estiveram com conselheiros do Cade discutindo a venda de ativos para impedir um eventual veto à compra da Sadia. Em dia de tiroteio, Pão de Açúcar gira R$ 1,7 biMal se recuperaram da surpreendente proposta de fusão das operações do Pão de Açúcar com o Carrefour no Brasil, os investidores ontem se depararam com um verdadeiro tiroteio com as ações da varejista brasileira. Durante a manhã, as preferenciais (PN, sem voto) da empresa chegaram a subir 12%. Nesse momento, a sensação que se tinha no mercado é que grandes investidores, com muita bala na agulha, estavam comprando as ações, certos de que o grupo Casino diria sim aos negócios. No entanto, de uma hora para outra, as ações viraram para o campo negativo, fechando em baixa de 3,07%, a maior queda do Indice Bovespa.Esse sobe e desce deixou os investidores sem saber o que pensar. Afinal de contas, as apostas são de que a fusão vai ou não dar certo?O giro de negócios com os papéis do Pão de Açúcar reforça o tamanho do bangue-bangue que ocorreu entre os investidores. As ações movimentaram R$ 1,7 bilhão, o equivalente a 26% do giro da Bovespa. Esse volume superou, e muito, os negócios com tradicionais papéis, como as PNs série A da Vale que giraram R$ 408,3 milhões e as PNs da Petrobras, com R$ 330,6 milhões.Casino confirma a compra de 6% do capital da varejistaO volume é significativo também quando comparado com o histórico da companhia. No ano, a média diária de negócios com as ações do Pão de Açúcar era de R$ 49,7 milhões.Esse giro gigantesco e o comportamento errático das ações deixou o mercado intrigado. Quem seria forte o suficiente para estar por trás desses negócios e fazer o volume dar tamanho salto?Para os analistas, o Casino era o grande protagonista desse burburinho. "Só alguém com muito dinheiro e muito interessado na operação poderia ser o responsável por esse giro", diz o diretor de uma corretora.Bingo! Por volta das 20h30, o Casino informou o Pão de Açúcar que comprou nos últimos dias o equivalente a 6% do capital total do Pão de Açúcar.Outra sinalização que levantava suspeitas sobre o Casino era a grande movimentação de ações por corretoras estrangeiras, que costumam intermediar operações de investidores internacionais. Corretoras como Credit Suisse, Morgan Stanley, Barclays e Link (comprada pelo UBS) foram os grandes destaques tanto na ponta de compra quanto na de venda das ações.Existem várias teses para essa compra de ações confirmada pelo Casino. Alguns acreditam que o aumento de participação seria para o grupo francês ter maior poder de fogo na negociação com o Pão de Açúcar. Já outros apostam que esta é apenas a forma encontrada pelo Casino para mostrar ao Pão de Açúcar que o grupo continua bem vivo e disposto a brigar.Coincidência ou não, as ações passaram a cair depois que o Pão de Açúcar enviou uma carta aos controladores, acionistas e partes relacionadas proibindo a negociação com as ações, já que podem ter informações privilegiadas neste momento. Inclui-se nesse grupo o Casino.Daniele Camba é repórter de Investimentos Dilma foi informada antes sobre operação A presidente Dilma Rousseff foi informada previamente da operação de fusão do Pão de Açúcar com o grupo francês Carrefour. Segundo uma fonte do Palácio do Planalto, a presidente pediu "cautela", mas não se opôs ao envolvimento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) no negócio. Na prática, deu autonomia ao banco para analisar e participar da operação.O BNDES se dispôs a entrar com € 2 bilhões (cerca de R$ 4,5 bilhões) na fusão, mas o governo avalia que esse valor pode diminuir, em função do interesse de outros investidores. Como o mercado reagiu bem ao anúncio do negócio, por entender, segundo análise oficial, o potencial de criação de valor, é possível que investidores queiram adquirir uma fatia, diminuindo a necessidade de aporte do banco estatal no fechamento da operaçãoO BNDES vai participar da fusão por meio do BNDESPar, seu braço de participações acionárias. Desta forma, explica uma fonte, não haverá empréstimo subsidiado do governo. O BNDESPar responde hoje por 20% do ativo total do BNDES e por algo entre 50% e 60% do lucro do banco. Entrará na fusão como investidor, em condições de mercado.O governo compara a união das duas redes de supermercado com a que resultou na criação da Inbev, o maior fabricantes de cervejas do mundo. Na fusão da brasileira Ambev com a belga Interbrew, em 2004, a gestão da multinacional passou a ser feita por executivos brasileiros. Segundo informações que chegaram ao Palácio do Planalto, o mesmo ocorrerá na fusão entre Pão de Açúcar e Carrefour.No negócio, o controle da operação brasileira continuará nas mãos do Pão de Açúcar, enquanto a participação deste no Carrefour, lá fora, será minoritária. Apesar disso, foi dito ao governo que a tecnologia de gestão de supermercado da operação global do grupo francês será, a partir de agora, brasileira. Este é um aspecto que, se confirmado pela associação, favorece a disposição do governo em apoiar a fusão.O Carrefour foi um grupo inovador no passado. Depois que começou a ser controlado por fundos de participações acionárias ("private equity", no jargão em inglês), passou a gerar "resultados medíocres", segundo palavras de uma fonte do governo. A associação com o Pão de Açúcar, explica uma fonte oficial, cria oportunidade de melhorar a gestão do grupo francês e, assim, gerar bons retornos, por isso, o mercado teria reagido tão bem ao anúncio da fusão.O governo avalia que o grau de concentração resultante da fusão - estimado em 32,2% - é normal. Nos Estados Unidos, o Walmart também detém 32% do mercado e, na França, o Carrefour tem 26%. Numa avaliação preliminar, não haveria superposição de lojas, mas complementaridade. O governo acredita que o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) deverá aprovar a operação, mas pode obrigar os dois grupos a se desfazer de alguns supermercados. Não haverá fechamento de lojas, mas alienação a outros atores. "Se decidir determinar algum desinvestimento, o Cade vai mandar vender lojas. Fechar não faz sentido", explicou uma fonte.Por isso, em Brasília, não se acredita na hipótese de a fusão provocar destruição de empregos. "Demissões só ocorrerão no nível das diretorias", brincou uma fonte familiarizada com o negócio. "Não tem emprego em jogo."A concentração no varejo, na avaliação oficial, não é necessariamente ruim. A avaliação é a de que o comércio varejista foi grande aliado do governo no processo de estabilização da economia deflagrado pelo Plano Real, em 1994. Os supermercados aprenderam que a inflação corrói a renda, obrigando-os a trabalhar com produtos mais populares e, portanto, com margem menor de lucro. Com a estabilização, tiveram ganhos de escala e passaram a trabalhar com produtos cada vez mais sofisticados e com margens maiores.O governo também não vê com preocupação a possibilidade de a concentração no varejo dificultar a vida de fornecedores. Grandes supermercados têm, segundo avaliação oficial, mais força para negociar preços com a indústria. "É bom lembrar que, do lado da indústria, há oligopólios poderosos, como o dos produtos de higiene e limpeza", observou uma fonte.A reação do Casino, sócio francês do Pão de Açúcar, contra a fusão surpreendeu integrantes do governo, que a consideraram "muito agressiva". Uma fonte oficial informou que o Casino, que teria o direito de assumir o controle acionário do Pão de Açúcar graças a acordo assinado em 2005, tem, em algumas condições, poder de veto dentro do grupo brasileiro.Esse acordo não proíbe a prospecção de novos negócios por parte dos dois sócios. Um assessor graduado do governo lembra que, quando o Pão de Açúcar anunciou o interesse em comprar as redes varejistas Casas Bahia e Ponto Frio, o Casino não o questionou. "Como mexeu com o concorrente deles na França [o Carrefour], o pessoal ficou abespinhado", comentou uma fonte.Um outro aspecto da fusão favorece o apoio de Brasília ao negócio. Se nada fosse feito, o Pão de Açúcar passaria a ser controlado pelo Casino no próximo ano, deixando espaço livre para um único ator - o americano Walmart - comprar o Carrefour, que passa por dificuldades."Por que a gente não pode aproveitar essa oportunidade?", indagou um integrante do governo em defesa do apoio ao negócio. "É uma oportunidade de realizar um 'turn around' (uma virada bem-sucedida) na empresa, com criação de valor, da mesma forma como ocorreu na Inbev." Governo francês fica em silêncioO governo francês é normalmente muito ágil quando se trata de defender suas empresas no exterior. Mas até ontem as autoridades não tinham feito nenhuma manifestação oficial ao governo brasileiro sobre as dificuldades do grupo Casino com seu parceiro Pão de Açúcar, segundo fontes.A diferença pode ser que desta vez são dois grupos franceses brigando, Carrefour e Casino. O caso é monitorado pela diplomacia brasileira, mas está ainda na esfera privada, incluindo tentativa de arbitragem na Camara de Comércio Internacional. A participação do BNDES é vista no mercado como reflexo do interesse do governo brasileiro no caso, mas fontes do governo insistem que se trata de operação normal com clientes.Em todo caso, a disputa envolvendo os três grupos poderá ser discutida mesmo informalmente na comissão econômica bilateral que vai se reunir na semana que vem em Paris, chefiada do lado brasileiro pelo ministro do Desenvolvimento, Industria e Comércio Exterior, Fernando Pimentel.Alem da parte oficial, haverá encontro de empresários dos dois países para rever o que aconteceu nas relações bilaterais no último ano. E o caso Carrefour, Casino e Pão de Açucar parece inescapável.Também estará na capital francesa, na semana que vem, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, para um grande seminário sobre a economia brasileira, organizado pela revista "The Economist", com participação de pesos pesados do setor empresarial europeu.