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quinta-feira, 30 de junho de 2011

Recuperação dos EUA depende de gasto público"

Recuperação dos EUA depende de gasto público"
O que o Japão da década de 1990 tem a ensinar aos Estados Unidos e à Europa de hoje? Para Richard Koo, economista-chefe do Nomura Research Institute, do banco Nomura, americanos e europeus estão vivendo o mesmo desafio econômico que japoneses enfrentaram na última década do século passado. Para encará-lo, políticas monetárias tradicionais já não servem. A única maneira de estimular a retomada dos investimentos nessas economias, em sua opinião, é a ampliação dos gastos estatais e de estímulos fiscais ao setor privado - instrumentos adotados pelo governo japonês para superar a recessão.Em entrevista ao Valor em São Paulo, onde participou de um fórum do banco, Koo diz que o Japão enfrentou uma bolha financeira em 1990, principalmente de papéis ligados ao setor imobiliário. Logo após seu estouro, o setor privado simplesmente parou de tomar novos empréstimos e passou a se preocupar em pagar dívidas que carregava da década de 80, época de forte prosperidade. "Por isso, não adiantava mais abaixar a taxa de juros para níveis próximos de zero. Havia liquidez no mercado, crédito abundante, mas as empresas simplesmente pararam de tomar empréstimos. Estavam traumatizadas com dívidas antigas e temerosas de fazer novas." Para denominar todo esse contexto, Koo criou o termo "recessão de balanços de pagamentos" (ou balance sheet recession, em inglês).Para Koo, se a política monetária americana continuar baseada em uma taxa de juros próxima a zero, não haverá resposta dinâmica por parte do setor privado. "Os juros por lá caíram para próximo de zero há dois anos e meio, e ainda assim não vemos melhoras claras". Sobre as medidas de injeção de liquidez na economia por parte do Fed, ele considera que muito desse dinheiro continua retido no próprio sistema financeiro - e o mesmo é válido para países europeus como Espanha, Irlanda e Reino Unido."Para tratar essa nova doença, é necessário muito estímulo fiscal e um governo que empresta e gasta, mas essa é uma medida muito impopular. Foi assim que o governo japonês conseguiu manter um padrão no Produto Interno Bruto (PIB) sem deixá-lo despencar totalmente", diz. No Brasil, ele não reconhece um cenário do mesmo tipo, já que o país não passou pelo estouro de uma bolha financeira e, portanto, o Estado não deve assumir a mesma postura. "Mas se o passar por uma bolha parecida, enfrentará as mesmas dificuldades."Quando perguntado sobre as chances desse estouro acontecer por aqui, Koo dá uma breve e discreta risada, para de falar por alguns segundos e solta: "Bem, estou aqui como um representante do Nomura, e talvez seja a hora de parar de falar." Do começo de sua carreira, na década de 80 - quando era funcionário no Fed de Nova York - Koo conta que pôde acompanhar de perto as turbulências econômico-financeiras nos países latinos, e que aprendeu na época que "é muito importante para quem concede o crédito saber muito bem o que está sendo feito com o dinheiro emprestado." O mesmo é válido para investidores de um modo geral."Muitas vezes, o credor ou investidor não tem a mínima ideia de como é a estrutura financeira e bancária do lugar para onde está indo o dinheiro. Quando ele chega é ótimo, o preço de ações sobe, há uma euforia econômica. Mas se algo der errado, todos entram em pânico. E é basicamente esse tipo de dinheiro que tem ido em busca dos mercados emergentes como o Brasil."

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