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quinta-feira, 28 de julho de 2011

Café cai em NY em meio a incertezas e colheita

Café cai em NY em meio a incertezas e colheita
Os preços futuros do café arábica registraram ontem a maior queda desde o dia 19 de julho na bolsa de Nova York. Os contratos para entrega em dezembro fecharam o dia a US$ 2,4555 por libra-peso, uma perda diária de 370 pontos ou 1,5%. De acordo com o analista da Safras & Mercado, Diogo Medzdorff, o café foi influenciado pelo ambiente de incertezas no mercado financeiro. As preocupações com a Europa fizeram o dólar se valorizar, o que reduziu o apetite dos investidores pelas commodities.Com quase três quartos da safra brasileira já colhida e a recomposição dos estoques, os fundamentos não ofereceram grande resistência à pressão baixista. As expectativas otimistas em relação à safra 2012/13 também foram levadas em conta. Ontem, a Somar Meteorologia divulgou relatório de acordo com o qual o Brasil tem grande chance de colher uma produção recorde no ano que vem, graças ao clima favorável para o desenvolvimento das lavouras. Além disso, a próxima safra deverá ter produtividades mais elevadas por causa do ciclo bienal do café. No mês, o preço do café registra queda de 7,55%, mas ainda acumula uma alta de 1,55% em 2011 em Nova York. Além disso, os preços médios praticados em julho são aproximadamente 55% mais altos do que os observados em igual período do ano passado. Analistas de mercado avaliam que, apesar do cenário favorável para a próxima safra, o equilíbrio global entre oferta e demanda ainda é delicado.

Calote seria "devastador"

Calote seria "devastador"
O presidente e CEO da rede varejista americana Wal-Mart, Michael Duke, disse ontem que um calote na dívida dos EUA seria "devastador" para os consumidores, que seriam afetados pela elevação das taxas de juros. "Um default e o efeito em onda [causado por ele] seriam impactantes", afirmou Duke em depoimento à Comissão de Finanças do Senado. Segundo ele, tanto a confirmação quanto a percepção de um default castigariam a economia dos Estados Unidos. Outros executivos que participaram da sessão foram Thomas Falk, presidente e CEO da Kimberly-Clark, Gregory Lang, presidente e CEO da PMC-Sierra, e Larry Merlo, presidente e CEO da CVS. O presidente da comissão, Max Baucus, disse que o corte no imposto de renda pretendido pelas empresas dificilmente será possível, mesmo com eliminação de benefícios fiscais.

EUA preparam plano de ação para o dia do calote

O Departamento de Tesouro, que é o Ministério da Fazenda dos Estados Unidos, vai detalhar o que fará com os 100 milhões de cheques que emite todos os meses se o Congresso não aumentar o teto de endividamento público, e isso vai abrir a cortina de um plano mantido em segredo e que pode ter consequências dramáticas para a economia, a nota de crédito dos EUA e a situação política do país.O governo Barack Obama espera que essas decisões - isto é, quem pagar ou não - possam ser evitadas se um acordo para elevar o teto de endividamento antes de 2 de agosto for fechado, mas o prazo está acabando. Membros do governo ainda não decidiram quando divulgar o plano e podem reverter o curso se houver progresso nas negociações para aumentar o teto.Se a turbulência nos mercados piorar esta semana, contudo, a Casa Branca pode divulgar os planos nos próximos dias. Pessoas do governo não quiseram dar detalhes sobre ele.O Federal Reserve, ou Fed, como é conhecido o banco central americano, deve ter um papel importante qualquer que seja o plano do Tesouro, mas já avisou que não tem ferramentas especiais para resgatar o governo. O Fed pode optar por tentar acalmar o mercado financeiro garantindo que os bancos tenham dinheiro para continuar operando.Executivos de Wall Street acreditam que o Tesouro vai reestruturar a maneira como paga suas contas, de modo que detentores de títulos de dívida, inclusive governos como o da China, tenham prioridade. Isso evitaria que o país ficasse inadimplente em seus títulos de dívida - algo que até a Grécia conseguiu evitar.Terry Belton, diretor mundial de estratégia de renda fixa do J.P. Morgan Chase, disse acreditar que há "chance virtualmente zero" de uma moratória em títulos de dívida americana, mesmo se o teto da dívida não for ampliado até 2 de agosto."O Tesouro tem outras coisas disponíveis que são bastante nocivas, mas são melhores do que deixar de fazer um pagamento de juros", disse ele. Pagar detentores de títulos antes de beneficiários da Previdência, por exemplo, pode gerar ira política e levar a processos na Justiça e turbulência nos mercados, além de um possível rebaixamento da nota de crédito.O governo está sob pressão de detentores de dívida, cidadãos idosos, parlamentares e outros grupos para detalhar como vai priorizar os pagamentos. Detalhar seus planos poderia ajudar o Tesouro a conter a crescente incerteza nos mercados financeiros quanto ao que pode acontecer na semana que vem, mas também poderia abrir espaço para críticas políticas e poderia deflagrar um tipo de crise que ele existe para evitar.Funcionários do governo acreditam que podem perder a capacidade de tomar dinheiro emprestado se o teto de endividamento não for suspenso. Embora a receita com impostos tenha sido maior do que o esperado nas últimas semanas, acredita-se que o Tesouro vai contrair radicalmente seus pagamentos depois de 2 de agosto para conservar caixa o máximo possível. O Centro Político Bipartidário, um centro de estudos de Washington, estima que o Tesouro vai ter um déficit de cerca de US$ 130 bilhões em agosto e provavelmente não terá o dinheiro para cobrir todas as suas obrigações.Autoridades de primeiro escalão do governo têm se reunido há semanas para traçar planos para operar depois de 2 de agosto, mas não divulgaram nenhuma de suas estratégias. Detalhes só circularam entre um grupo fechado de autoridades, entre elas o presidente Obama, o secretário do Tesouro, Timothy Geithner, e um grupo de confidentes deste no ministério.Dois auxiliares importantes são Mary Miller e Matthew Rutherford, ambos especialistas em mercados de dívida. Rutherford tem sido um conselheiro bem próximo de Geithner desde que ambos trabalharam juntos no filial do Fed em Nova York. Miller é uma especialista no mercado financeiro que passou 26 anos no fundo T. Rowe Price Group.Ex-membros do governo dizem que parece não haver resposta simples para como a equipe de Geithner pode navegar uma situação como esta, e que a ideia de priorizar alguns pagamentos do governo sobre outros poderia ser um pesadelo técnico e logístico. Muitos pagamentos são computadorizados e não está claro quais sistemas poderiam ser reprogramados a tempo.Isso já levou membros do governo a dizer, recentemente, que acham que estarão prontos para o que acontecerá depois de 2 de agosto, mas descreveram como "impensáveis" as decisões que teriam de tomar nesse caso."Então o que você diz? Quem você paga? Essa é uma situação impossível que este país nunca enfrentou, e nunca terá de enfrentar se o Congresso fizer o que foi eleito para fazer", disse o porta-voz da Casa Branca, Jay Carney.O senador Orrin Hatch, do Partido Republicano e membro da comissão de finança do Senado, pediu a Geithner para especificar até às 17 horas de hoje, horário de Washington, seus planos de contingência. Ele também pediu detalhes sobre quanto dinheiro o Tesouro esperava receber e gastar entre o fim de julho e o fim de agosto, algo que o Tesouro ainda não fez."Muitos americanos e membros do Congresso estão, infelizmente, apoiando-se em estimativas e projeções de grandes instituições financeiras de Wall Street ou de organizações não-governamentais muitas vezes rotuladas de 'centros de estudos'", escreveu Hatch a Geithner e outras autoridades financeiras. "A falta de informação é insatisfatória."Embora a Casa Branca tenha tido o cuidado de não divulgar seus planos, ela tem sugerido que há coisas que ela não faria depois de 2 de agosto. Por exemplo, autoridades do governo já disseram que Obama não invocaria a 14 emenda da Constituição, que diz que o teto de endividamento é anticonstitucional. Eles também já disseram que não planejam vender as reservas de ouro do país ou ativos parecidos para levantar dinheiro rapidamente.

Encomendas caem e Fed vê mercado imobiliário fraco

Encomendas caem e Fed vê mercado imobiliário fraco
A economia dos Estados Unidos teve desde o mês passado uma piora em aproximadamente metade do país, prejudicada por um mercado imobiliário fraco e pela desaceleração da produção industrial. A conclusão faz parte do relatório conhecido como Livro Bege, divulgado ontem pelo Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA).O relatório cobre junho e a primeira quinzena de julho. Segundo o Fed, a demanda por crédito ficou estagnada. O volume de empréstimos concedidos pelos bancos americanos somava US$ 6,78 trilhões no dia 13, pouco inalterado frente ao montante de US$ 6,77 trilhões do início de janeiro.O documento mostrou ainda que há poucas forças empurrando a inflação para cima. "As pressões de preços moderaram-se."Outra dados também sinalizam desaquecimento da economia.As encomendas de bens duráveis recuaram 2,1% nos EUA em junho na comparação com maio, para um valor sazonalmente ajustado de US$ 191,98 bilhões, contrariando a expectativa de analistas, que era de leve aumento.Segundo o Departamento de Comércio, essa foi a segunda queda mensal dos últimos três meses. Em maio, as encomendas haviam crescido 1,9%. Excluindo transporte, as encomendas aumentaram 0,1%; excluindo defesa, houve queda de 1,8%.

Sem acordo, custo de proteção contra default americano bate recorde

Sem acordo, custo de proteção contra default americano bate recorde
O custo do seguro contra um default dos Estados Unidos atingiu um patamar recorde ontem, num sinal de que a inquietação crescente com o impasse em Washington em relação à elevação do teto da dívida federal poderá resultar numa incapacidade do Tesouro americano de pagar juros aos detentores de bônus. O mercado de compra e venda de seguro sobre a qualidade do crédito dos Estados Unidos tem pouca movimentação, é denominado em euros e dominado por bancos europeus e britânicos. Mas os negócios com os chamados swaps de defaults de crédito (CDS) aumentaram com a possibilidade maior de um default americano.Em um CDS, um comprador de proteção é compensado pelo vendedor se houver um calote ou não pagamento, conhecido como evento de crédito. "O mercado de CDS dos EUA tem uma liquidez bem menor que outros mercados soberanos, uma vez que até recentemente ninguém imaginaria que a possibilidade de um evento de crédito dos EUA poderia ser tão alta", diz Ira Jersey, estrategista do Crédit Suisse. "O mercado está ficando nervoso diante do risco de um calote."Os prêmios dos CDS soberanos de um ano dos EUA tiveram um repique esta semana, sendo negociados ontem em torno de 90 pontos-base em Londres, superando a alta anterior estabelecida em março de 2009.Num sinal da maior preocupação com um default no curto prazo, o CDS de um ano dos EUA foi negociado a um preço maior que os prêmios dos títulos de cinco anos, que têm mais liquidez: 65 pontos-base, pela primeira vez. Otis Casey, diretor de análise de crédito da Markit, disse: "Normalmente você vê uma inversão da ponta inferior em emissores que estão com muitos problemas".O tamanho líquido do mercado de CDS dos EUA, ou a exposição de fato do mercado, é de US$ 4,9 bilhões. Os EUA estão acima da exposição da Grécia, de US$ 4,6 bilhões, mas abaixo da exposição do Reino Unido, de US$ 12,3 bilhões, segundo dados da Depositary Trust and Clearing Corp.Analistas disseram ontem que, dado o custo da compra de proteção para um ano e o risco do Tesouro perder um pagamento da dívida no mês que vem, há a possibilidade de um pagamento enorme para os investidores neste cenário.Mas isso precisa ser considerado contra a probabilidade do teto da dívida ser elevado e a possibilidade do Tesouro se esforçar para cumprir com suas obrigações durante o período de carência de três dias antes de um evento de crédito ser oficialmente declarado.Estava previsto ainda para ontem a divulgação pela International Swaps and Derivatives Association (ISDA) de um guia para responder dúvidas sobre um possível default dos EUA. Na segunda-feira, a ISDA postou em seu site na internet uma série atualizada de esclarecimentos sobre a dívida soberana da Grécia.No cado dos EUA, um evento de crédito ocorreria se o Tesouro não conseguisse realizar um pagamento de bônus do governo. Nesta situação, um comitê sob os auspícios da ISDA decidiria que um evento de default ocorrera somente se o pagamento não tivesse sido feito após o período de carência de três dias. A essa altura, os negócios com CDS dos EUA seriam desencadeados e então liquidados.

Para mercado, medida é difícil de ser implementada

Para mercado, medida é difícil de ser implementada
Do jeito que foi editado, será muito difícil implementar o decreto que tem como objetivo conter a especulação cambial que provoca a valorização do real. Para especialistas consultados pelo Valor, a divulgação da mais abrangente ação cambial já adotada pelo governo na atual "guerra cambial" gerou tantas dúvidas que a reação imediata do mercado foi parar de operar. Segundo relato de profissionais, até o início da tarde de ontem, os negócios travaram e era difícil obter uma cotação de qualquer produto cambial junto a bancos. "A medida é tão ampla e vaga que deixou um certo descrédito em relação à capacidade do governo de implementá-la", afirma o gestor de um fundo estrangeiro.Embora o dólar tenha reagido em forte alta por conta das medidas, analistas consideram que os efeitos sobre a cotação da moeda americana devem se restringir ao curto prazo e não eliminam a tendência de queda por conta do cenário internacional. A principal dificuldade vista pelos profissionais é quem fará a consolidação das informações sobre exposição cambial. Apurar o saldo da exposição cambial de um agente que opera com dólar futuro, swap cambial, títulos públicos atrelados ao dólar, opções, entre outros, é uma tarefa considerada "impossível" com os instrumentos disponíveis no momento. Em relatório divulgado ontem, o economista do Itaú Unibanco, Darwin Dib, observa que a definição do preço de alguns desses ativos tem uma boa dose de subjetividade. "Até o vencimento, a precificação deste tipo de contrato varia de acordo com a metodologia utilizada por cada agente. A BM&F e a Cetip têm condições de fazer esta precificação? Como definir a precificação adequada?", questiona. A sensação do mercado é de que o governo correu para anunciar alguma nova arma diante da possibilidade de que a apreciação cambial em curso se agravar, diante do quadro externo. Só que, na pressa, pode ter vindo apenas um "rascunho" geral para que, ao longo dos próximos dias, definições e exceções sejam anunciadas. Até que venham os ajustes, a medida deve alcançar todo o mercado: do exportador ao investidor estrangeiro. "No fim, ele pode penalizar o exportador, que é quem deveria ser protegido", diz um especialista.Segundo o estrategista da Nomura Securities, Tony Volpon, tecnicamente, até uma operação de ACC (Antecipação de Contrato de Câmbio) pode ser classificado como um derivativo, uma vez que é a antecipação de uma receita futura em moeda estrangeira. E, portanto, poderia estar sujeita à tributação com IOF. "A rigor, qualquer instrumento de hedge é derivativo", afirma. "Se ficar como está, a medida vai encarecer muito o custo de hedge e de captação externa."A medida também pode gerar distorções. Analistas são unânimes em observar que um investidor que tenha projetos no exterior, que gere saída de dólares do país, assumirá uma posição vendida aqui, com o objetivo de zerar a exposição cambial. Nesse caso, o governo teria acesso apenas à posição vendida e esse investidor pagaria o tributo. "Se um banco ou uma indústria fizer uma aquisição no exterior e fizer um hedge aqui, ele será penalizado", observa. Situação semelhante pode ser vivida por fundos multimercados que compram cotas de fundos no exterior, em dólar. Para zerar a exposição cambial, esse fundo faria uma posição vendida no mercado de futuros e, consequentemente, estaria sujeito ao IOF.Para Luiz Fernando Figueiredo, ex-diretor do Banco Central e sócio da Mauá Sekular Investimentos, um efeito colateral da medida, portanto, pode ser a exportação do mercado brasileiro de derivativos, reduzindo a capacidade do governo de monitorar as posições das empresas e instituições locais, que passariam a fazer hedge no exterior. Diante das dúvidas, é possível dizer que a ação do governo deve, no curto prazo, reduzir os negócios realizados tanto no mercado futuro de câmbio na BM&F como nas operações de balcão realizadas na Cetip. Inicialmente, a BM&FBovespa é a maior perdedora com a medida. Em menor escala, a Cetip também deve ser afetada, enquanto o impacto para os bancos, que terão menos flexibilidade para operar tanto por meio da carteira própria como em nome de clientes, ainda é incerto.Nas estimativas do Barclays, os contratos cambiais representam aproximadamente 28% das receitas com derivativos negociados no segmento BM&F. Como consequência, existe um risco de queda de até 10% do total das receitas projetadas para a bolsa no pior cenário, segundo o analista Henrique Caldeira.No pregão de ontem, as ações da BM&FBovespa fecharam em forte queda de 5,45%, enquanto as da Cetip recuaram 0,72%. Procuradas, ambas as instituições informaram que não comentariam o assunto.

O recente boom de crédito

O recente boom de crédito
Uma das diferenças da teoria keynesiana em relação à teoria convencional é a importância fundamental que moeda e instituições financeiras têm no funcionamento da economia. Um sistema financeiro funcional ao crescimento é aquele com capacidade de atender via crédito a demanda de liquidez necessária para realização dos gastos dos agentes, e de criar mecanismos financeiros apropriados para realização da consolidação das dívidas das firmas investidoras, permitindo um ritmo de acumulação a um nível superior àquele que seria viável pela simples acumulação de poupanças prévias. Em economias em desenvolvimento, contudo, bancos podem aumentar sua lucratividade ofertando financiamento de curto prazo, sem estímulo para oferecer crédito de mais longo prazo. Assim, as firmas para expandirem suas atividades têm que recorrer à renovação de crédito de curto prazo, autofinanciamento e endividamento externo, elevando sua fragilidade financeira. O Brasil tem um sistema financeiro baseado no crédito bancário, com forte participação do Estado, em particular em algumas modalidades, como financiamento ao investimento (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, BNDES), crédito imobiliário (Caixa Federal) e agrícola (Banco do Brasil). É ingênuo acreditar que o mercado crie espontaneamente os mecanismos de financiamento Nos anos 1980 até meados dos anos 2000 o sistema financeiro brasileiro ficou caracterizado por sua desfuncionalidade: a oferta de crédito era baixa -menor que 35% do Produto Interno Bruto (PIB) - ao mesmo tempo em que mantinha uma rentabilidade elevada. Isso foi possível em função dos ganhos inflacionários, aplicações em títulos públicos e empréstimos de curta duração com spreads elevados. Após o breve boom de crédito durante a implementação do Plano Real, o volume de crédito caiu continuamente, atingindo 21% do PIB em abril de 2003, em período marcado por frequentes crises externas. O contágio da crise mexicana no início de 1995 levou o governo a adotar programas de reestruturação bancária e estimular a entrada de bancos estrangeiros, para fortalecer o combalido setor bancário. O êxito em evitar uma crise bancária e a entrada controlada de bancos estrangeiros permitiu uma reação dos bancos domésticos que participaram ativamente da onda de aquisições bancárias e se tornaram os lideres do setor, uma reação sem paralelo em outros países emergentes nos anos 1990.A partir de 2004 um conjunto de fatores estimulou o crescimento do crédito: aumento da renda, criação do crédito consignado em folha, melhoria no perfil da dívida pública, e uma certa redução nas taxas de juros. Todos os três segmentos do sistema financeiro (bancos públicos, privados nacionais e estrangeiros) ampliaram a carteira de crédito no período, movimento liderado pelos bancos privados nacionais. O boom de crédito foi puxado pelos empréstimos de pessoas físicas, mas a partir de 2007 cresceram bastante os empréstimos das pessoas jurídicas, sendo as principais modalidades crédito pessoal (incluindo consignado), aquisição de veículos e capital de giro. Já a partir de meados de 2008 houve um forte crescimento dos bancos públicos, que tiveram um papel contracíclico fundamental em 2009, evitando uma forte contração creditícia que contaminaria toda a economia. Cabe perguntar se houve uma mudança significativa no comportamento dos bancos no período recente. De fato, houve um alongamento no prazo médio dos empréstimos - de 200 dias em abril de 2003 para 476 dias em abril de 2011 - o que contribuiu para o crescimento na demanda por crédito. Por outro lado, embora as taxas de empréstimos tenham declinado no período, elas ainda se situaram em patamares bastante elevados. Das três principais modalidades de crédito, duas (consignado e aquisição de veículos) são de baixo risco. Nesse contexto, a rentabilidade dos bancos tem-se mantido elevada, face à combinação de aumento no volume das operações, spreads ainda elevados e relativamente baixo risco.Nesse contexto, os grandes conglomerados financeiros buscam segmentar sua clientela. Para clientes de alta renda, ofertam produtos customizados; para clientes de mais baixa renda, produtos padronizados. A incorporação de segmentos de baixa renda é feita em condições de exploração financeira, uma situação em que tarifas e taxas de empréstimos são bem maiores do que para os demais clientes. Eles podem incorrer, assim, em situações de armadilha da dívida, em que comprometem uma boa parte de sua renda com pagamento de juros.Historicamente não se pode atribuir uma situação de alta funcionalidade do sistema financeiro. Não se pode esperar que o setor bancário vá desenvolver linhas de financiamento de longo prazo, até mesmo em função do seu funding. Nesse particular deverá haver uma combinação entre instrumentos do mercado de capitais com financiamento do BNDES. É ingênuo pensar que economias em desenvolvimento como a brasileira possa se dar ao luxo de não contar com a atuação de bancos públicos e acreditar que o mercado espontaneamente crie os mecanismos apropriados de financiamento de longo prazo. Luiz Fernando de Paula, professor de Economia da UERJ, é presidente da Associação Keynesiana Brasileira (AKB) e co-editor do livro Sistema Financeiro (Elsevier). Email: luizfpaula@terra.com.br

Pacote europeu não deve evitar novas turbulências

Pacote europeu não deve evitar novas turbulências
A duras penas os governos europeus chegaram a um consenso de como socorrer novamente a Grécia, dar um alívio no peso das enormes dívidas de Irlanda e Portugal e, ao mesmo tempo, sinalizar aos mercados que estão dispostos a tomar todas as iniciativas possíveis para impedir que o contágio se espalhe da periferia para as economias do centro da zona do euro. Foi a primeira ação um pouco mais ousada dos líderes europeus, depois de um ano de irresponsáveis delongas, hesitações e divergências. Ainda assim, as chances de novas turbulências persistem no horizonte. O pacote amarrado para a Grécia combinou nova ajuda de € 109 bilhões, cerca de € 50 bilhões de redução de dívida em mãos dos bancos privados, via reescalonamento e alongamento dos débitos, com taxas de juros menores. Digerido o plano, há uma crescente desconfiança dos mercados de que ainda não foi desta vez que os governos da união monetária poderão respirar aliviadosO primeiro ponto é que a ameaça de calote grego foi adiada, mas não afastada. A redução proporcionada pelo pacote à montanha de € 340 bilhões de compromissos, ou 150% do Produto Interno Bruto do país, foi pequena demais. Mesmo trazendo os credores privados para ajudarem a pagar parte da conta, a porção dos bancos e investidores foi considerada diminuta. Os títulos gregos podem ser comprados no mercado secundário com 40% de deságio. Os bancos aceitaram redução de 21% no valor presente das dívidas que têm em mãos e tiveram quatro opções para trocar títulos. No final das contas, porém, a dívida grega foi reduzida em apenas € 13,5 bilhões, segundo cálculos do Instituto de Finanças Internacional, que reúne os bancos que participaram do acordA Grécia ganhou maior prazo de pagamento, um alívio na carga de juros e uma necessidade ao longo do tempo de produzir superávits um pouco menores para pagar seus débitos. Mas o esforço que terá que realizar para pagar suas dívidas permanece árduo e as chances de sucesso, bastante improváveis. Pelas contas do Deutsche Bank ("Financial Times", 27 de julho), para que a dívida grega fique em 120% do PIB, o governo grego terá de obter um superávit primário não mais de 9% do PIB, mas de 5% do PIB de 2015 a 2020. É um esforço superior ao que o governo brasileiro, por exemplo, fez diante da desconfiança dos mercados diante da ascensão de Luiz Inácio Lula da Silva à Presidência. Nos primeiros anos de Lula, o superávit primário foi de 4,25% do PIB. Além disso, a dívida grega subirá em 2012 para 172% do PIB e, pelas estimativas da Barclays Capital (FT, 27 de julho) se manterá em 150% do PIB por mais dez anos. Para tornar-se administrável, os analistas acreditam que a relação precisaria cair para algo em torno dos 80% do PIB.O ponto forte do pacote, porém, foi a tentativa de erguer uma barreira para os futuros contágios - Espanha e Itália estão na mira dos investidores há algum tempo. As dívidas dos governos da zona do euro deixaram na prática de ser nacionais, um exemplo em negativo da união fiscal que precisará a duras penas ser conquistada, mas para a qual já se deram alguns passos. O fundo de estabilização ganhou papel fundamental com as incumbências de atuar nos mercados secundários comprando dívidas de governos castigados pelos mercados e abrir linhas de crédito preventivo para eles e para recapitalização de bancos - uma função algo semelhante ao cogitado Fundo Monetário europeu. Nem tudo é o que parece, porém. O fundo de estabilização não recebeu o dinheiro à altura de suas tarefas. Analistas acreditam que o montante precisaria ser o dobro ou o triplo dos atuais € 440 bilhões. Ele terá de atuar, de forma ainda nebulosa, em conjunto com o Banco Central Europeu, que foi contra a compra de títulos soberanos desde o início, em um sinal de mais confusão à frente. A prova de que o caminho apontado pelo pacote não é plano veio, por exemplo, de um documento do ministro das Finanças alemão, Wolfgang Schaeuble, obtido pela agência Reuters, mostrando a oposição de seu país a que o fundo de estabilização tenha carta branca para atuar no mercado secundário de títulos. Com isso, os rendimentos dos papéis italianos subiram para 5,76% e o dos espanhóis, para 6%. O pior indício de baixa confiança no plano, no entanto, veio após sua divulgação, quando o custo cobrado pelos investidores para comprar esses papéis praticamente não se mexeu.

A insustentável leveza da dívida

A insustentável leveza da dívida
Em 1987 aprendemos no Brasil uma grande lição, quando finalmente entendemos o momento em que uma dívida se torna impagável. Após a decretação oficial de moratória de nossa dívida externa em fevereiro de 1987, retornamos à mesa de negociação com os credores internacionais não mais em busca de um novo e inútil reescalonamento do principal e juros, mas sim de uma nova e inédita forma de reestruturação de toda dívida bancária externa, vencida e vincenda. Para os leitores mais jovens, que não viveram esse dramático momento da economia brasileira, é necessário recordar que desde o início da década de 80 o Brasil já se encontrava tecnicamente insolvente com os bancos internacionais. Em dezembro de 1982 havia sido reconhecida oficialmente pelo governo brasileiro a incapacidade de realizar com pontualidade as novas liquidações vincendas em moeda estrangeira, e pedimos auxílio ao FMI - Fundo Monetário Internacional, que impôs rígidas condições ao Brasil para seu apoio e aval ao processo de reescalonamento consentido da dívida externa. De 1983 a 1987 ficamos sujeitos a condições humilhantes de monitoramento econômico, seja pelo FMI como pelo Comitê de Bancos Credores, realizando periodicamente a rolagem do principal e de parte dos juros, estes cada vez mais altos, face ao chamado spread de risco aplicado sobre o total da dívida. Finalmente quando então foi declarada a moratória unilateral da divida brasileira em 1987 o mundo veio abaixo, no momento em que muitos bancos começaram a vendê-la no mercado secundário com deságio de 70% para se ver livre daquele "lixo" contábil.Diante dessa realidade, o próprio mercado já buscava uma solução heterodoxa para a dívida do Brasil, como dos demais países latinos americanos, também encalacrados fazia já quase 7 anos com os bancos internacionais e o FMI. Foi quando na troca de comando do ministério da Fazenda em abril de 1987, a nova equipe econômica então comandada pelo ministro Bresser-Pereira vislumbrou com coragem e sabedoria que era chegada a hora da reestruturação da dívida brasileira por meio da sua securitização, com base na emissão de um menu de bônus de longo prazo e com variantes de taxas juros fixas ou variáveis, valor de corte no principal da dívida, opções de conversão e resgate antecipado e garantias de instituições multilaterais. Infelizmente, em 1987 o então secretário do Tesouro americano chamava-se James Baker, um intransigente e arrogante líder republicano que colocou-se frontalmente contra a proposta brasileira. Em fins de 1987, o governo Sarney veio a sucumbir diante do poderoso lobby dos bancos e dos economistas conservadores de plantão, encerrando sem qualquer solução minimamente plausível o estado de moratória da divida externa. Ficamos com o ônus e sem nenhum bônus. Repete-se o mesmo erro passado, dos reescalonamentos infindáveis e do aumento sucessivo dos spreads de risco das dívidas da Grécia, Irlanda, Portugal, Espanha, e Itália. Quanto mais tempo passa, mais se deterioram as respectivas economias dessas nações europeias Em 1988, empossado como novo secretário do Tesouro dos EUA, Nicholas Brady entendeu de pronto a inevitabilidade da reestruturação da dívida latino americana e em vez de se tornar um espectador passivo dos fatos, se posicionou como protagonista da história e lançando mão da mal sucedida proposta brasileira no ano anterior, remodelou-a como o histórico Plano Brady, que em poucos anos pôs fim àquele dramático período conhecido pelos latinos americanos como "década perdida".Isso tudo me volta à memória agora em 2011, quando assisto ao "flashback reverso" dessa história, só que com outros personagens. Temos agora os países europeus e os Estados Unidos, nossos credores de 20 anos atrás, como países devedores a beira do colapso, enquanto o Brasil tornou-se um doador líquido de recursos ao FMI e figura hoje em dia entre os cinco maiores portadores de letras do Tesouro americano. E desde meados de 2008, e com mais ênfase a partir de maio de 2010, o mundo discute qual será a forma definitiva de resgate de alguns países europeus mais endividados e vulneráveis economicamente. Repete-se o mesmo erro passado, dos reescalonamentos infindáveis e do aumento sucessivo dos spreads de risco das dívidas da Grécia, Irlanda, Portugal, Espanha, e Itália. Quanto mais tempo passa, mais se deterioram as respectivas economias dessas nações europeias e de sua capacidade de enfrentamento convencional do pagamento das obrigações externas. Queda de investimentos, desemprego crescente, forte desequilíbrio fiscal, aguda recessão, são algumas das notícias que todos os dias nos acostumamos a assistir sobre esses países nos últimos meses. Na terceira semana de Julho, finalmente a União Europeia, reconheceu o inevitável calote da divida grega e anunciou timidamente uma forma de reestruturação voluntária de sua dívida, no estilo do Plano Brady. Melhor teria sido se finalmente os europeus, liderados pela Alemanha e pela França, viessem logo com um plano mais ambicioso e abrangente, de securitização gradual das dívidas de países europeus insolventes, de forma a repartir o custo desse resgate econômico entre os respectivos países devedores, seus respectivos credores, e os países da União Europeia como um todo, já que são sócios na união monetária e no Banco Central Europeu. Um reforço do mecanismo European Financial Stability Facility - EFSF- poderia proporcionar uma sólida garantia a novos títulos de longo prazo (Exchange Bonds) da dívida desses países devedores. Tais títulos seriam emitidos e trocados com descontos implícitos ou explícitos sobre o principal e juros da dívida velha, de maneira que tornassem sustentável tal dívida reestruturada no período de sua amortização, tal como ocorreu no caso do Plano Brady nos anos 90. Os países europeus em vias de default seriam automaticamente elegíveis ao uso dessa facilidade, desde que viessem a adotar medidas de disciplina fiscal e monetária compatíveis com as regras da União Europeia. Quem viver, verá, a insustentável leveza das dividas europeias e americana! Roberto Giannetti da Fonseca é empresário e economista, presidente da Kaduna Consultoria, e diretor titular de Relações Internacionais e de Comércio Exterior da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).