Arabica x Conilon - Rotulagem - Uma visão "de fora da caixa"
Gustavo Figueira de Paula comentou em: 02/10/2009 09:41
Bom dia a todos.
Tenho acompanhado os artigos referente à "batalha épica" arabica x conilon, e o tom dos discursos, se transformado em imagens, lembraria algo como uma luta de boxe entre Myke Tyson e George Foreman.
De tudo que li, pinço alguns aspectos que me parecem o mais sensatos e realistas - e é a partir destes aspectos que deveríamos repensar todas as discussões
[29/09/2009)
Humberto Soares
Aimorés - Minas Gerais - Estudante
precisamos de uma vez por todas entender que não existe mais para a indústria a tão propalada diferença entre café conilon e arábica, com pesquisa e muito trabalho chegaram a resultados que permitem no processo industrial entregar um blend final que atenda aos anseios do consumidor, inclusive os mais exigentes.Quem tem oportunidade de participar como mero assistente em testes cegos de bebida ultimamente está vendo que este discurso "ARABIQUEIRO" só existe no meio daqueles que preferem fugir da realidade e não enxergar o impressionante salto, quantitativo, produtivo, qualitativo e sensorial que experimentou o conilon no Brasil nos últimos anos.
Quanto à quantidade de um e outro nos blends ele é medido pela quantidade de conilon produzido no mundo, e desculpem pelas palavras duras a seguir, não há como frear o aumento de produção de conilon nos próximos anos e a consequente sobra de arábica se as condições climáticas se mantiverem dentro da normalidade.
Esta informação não tem caráter de abrir um debate e muito menos de expressar uma opinião, é sim uma constatação mercadológica que esta implicando profundas mudanças no agronegócio do café que já está em andamento há alguns anos, e que vai trazer o desaparecimento de uma parcela de cafeicultores, não ineficientes como disse o ministro, e sim não competitivos por razões que todos conhecem, e ás vezes também se negam a enxergar.
A única chance do arábica virar este jogo é ficar mais barato que o conilon, mas isso nos parece um pouco difícil, devido às características que trazem diferenças de custo bem visíveis, mas com pesquisa e muito trabalho, quem sabe... não podemos duvidar da capacidade humana em criar soluções e achar caminhos novos para velhos problemas.
Também vale a pena ler um outro comentário:
[30/09/2009]
Marden Cicarelli
Monte Carmelo - Minas Gerais - Produção de café
"Senhores,
De fato esta discussão está tomando rumos desnecessariamente belicosos. Como consumidor, eu quero ter o direito de saber o que estou tomando. A informação no rótulo não obrigaria a indústria a nunca alterar suas composições - isso é um ataque à minha inteligência, pois o lote e a data de validade se alteram e isso não inviabilizou a indústria. Aliás, é possível que, se a lei não lhes obrigasse, nem mesmo essa informação os rótulos trariam - em nome do aumento da margem de lucros." (...)
"Repito: a indústria não está de lado nenhum que não o seu. Interessa a ela comprar o produto no melhor preço e vender idem (interessante como "melhor" tem duas acepções nesse caso!) Danem-se os produtores, danem-se os consumidores. É da natureza do capitalismo. Se não enxergamos isso, problema nosso."
Aqui começo o meu comentário.
Primeiramente, na linha do que disse Humberto Soares, pesquisa e muito trabalham resultaram na capacidade de produzir blends de alto nível. BLENDS. MISTURAS. Nem arábica, nem conilon. Uma mistura. Ambos são importantes. E não se iludam, nem uns, nem outros - a pesquisa e o trabalho não param. Chegara, e não tardará, o momento que uma variedade que combina o melhor das duas espécies, tanto a nível de produtividade e robustez, quanto a nível de qualidade de bebida, tomara o espaço de ambas.
Isto não é uma profecia. É uma constatação de quem olha de fora, lá de longe, para onde o trabalho sério aponta, desconectado da busca imediata e desesperado por fatias de mercado. Sim, meus caros, logo a preocupação não será em como contrapor (ou compor) arábica e robusta, mas em como resistir ao avanço incontrolável de uma nova variedade melhor que ambas!! Certamente ela virá (a genética não respeita estas questões) e trará uma nova realidade para a cafeicultura.
Tomara que isto ocorra no Brasil, e não no Vietnã. Se não, meus caros, estaremos todos "ferrados".
Agora puxo uma linha a partir do comentário de Marden Cicarelli.
Primeiro aspecto é que de fato, a indústria não quer saber de ninguém - só dela mesma. E não adianta indignação ou surpresa nesta hora - a função da empresa é gerar lucro, e só. Todo o resto faz por estrita obrigação legal ou por questões de vantagem comercial. E é assim mesmo que o coisa funciona a 1.000 anos!! E vai continuar assim.
Mas lembre-se que o produtor de café, sim, também é um empresário!! Um industrial!! Agroindustrial!! Também quer seu lucro! E dane-se o resto... não me venha falar de consciência, cooperativismo, etc. Tudo isso, como os outros industriais, se faz por sobrevivência e imagem no mercado. Isso é um fato. E que me provem do contrário os que não concordam. Então, como empresários que são, defendem seu lado... apenas questiono se o método utilizado é o mais adequado. Acho que existem métodos mais inteligentes do que ataques desenfreados.
Não defendo aqui nem um lado nem outro. Não tenho competência para tais julgamentos. Mas uma coisa é inegável: a estratégia da ABIC em informar o consumidor com suas campanhas e propagar a imagem de qualidade do café industrializado é muito INTELIGENTE. INTELIGÊNCIA é a maior arma!! Produtores, usem a vossa! Usem mais! Usem melhor!
O homem sábio escuta. O ignorante, grita. Essa é um ditado velho como o mundo...
Não me estenderei muito. Mas deixo aqui uma informação que tomara seja relevante para alguém.
Existe ou não uma tecnologia capaz de analisar o blend de café??
Uns dizem que sim, outros que não. Mas ninguém mostra nada...
Bom, existe sim. Modestamente, tenho acompanhado as evoluções neste segmento específico a nível mundial nos últimos anos, e garanto que é plenamente viável. Mais que isso, sou um dos raríssimos doidos que cria (ou inventa, se preferir) métodos de analisar café. E garanto que é possível e melhor, economicamente viável.
Mais que isso, assim como o código de barras é impresso, pode-se imprimir na embalagem de cada pacote de café vendido no Brasil (e são milhões)
- Blend
- Sabor
- Aroma
- Corpo
- Fragrância
- Acidez
- Doçura
- Amargor
- Teor de impurezas (seja lá que impureza for)
- Torra
- e o que mais se quiser imprimir...
Veja, digo que pode porque a validade e lote são impressos - então qualquer informação pode ser impressa. E porque existe tecnologia para determinar cada parâmetro destes no café embalado!!
Digo que existe e mostro para quem quiser. Só que isso não é uma coisa que se mostra em um fórum. Mostra-se ao vivo, cara-a-cara. Deixo o convite a quem quiser ver.
Por último fica a provocação: se a tecnologia existe, quem vai pagar por ela? Os produtores? Os torrefadores? Ambos? Nenhum? Aí é com o mercado. Cada empresário que decida o que é bom para si, e que corra para agarrar seu pedaço. Afinal, toda empresa visa lucro...
Ao consumidor, fica o direito de escolher de quem comprar. Que no fim é quem detem o poder. Se comprar, sucesso, se não comprar, fracasso. É a lógica do mercado, para os produtores e para torrefadores.
Abraços a todos.
Gustavo de Paula
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Diretor Científico
BRSensor Ltda.