OPINIÃO - A Pobreza da Cafeicultura Por Serginho T. Vaca
jul 18 2010.
Serginho T. Vaca
Estamos no começo de mais uma safra de café e para variar, como se diz no popular, a reza é a mesma. Apanhadores insatisfeitos com as condições de trabalho, salários e transportes, muitos dos quais com certa razão, e de outro lado produtores chorando os preços defasados, e muitos sem condições financeiras e até de logística e estrutura para cumprirem ao pé da letra o que manda a lei, começando por aí uma série de conflitos, os quais se tornam desgastantes para ambos os lados.
Em minha modesta opinião a chave para a amenização destes problemas vai contra o que se prega atualmente em relação a cafeicultura, ou seja, o produtor tem que manter uma produção baixa em quantidade e produzir com alta qualidade. Em poucas palavras isto é o que acontece com o azeite português, o vinho francês e o queijo suíço. Nestes três países vigoram a política da excelência, onde o produtor não é obrigado a entregar quantidade, mas sim qualidade.
O trabalhador tem regras trabalhistas claras e reais e o preço do produto não é regido pelas simples leis de mercado, mas sim pelas cooperativas e associações as quais colocam o preço que satisfaz ao produtor, sendo que o consumidor paga o preço que lhe convêm, desde que o produto lhe agrade. Assim um vinho comum custa um tanto, o vinho francês custa 7 vezes mais caro e nem por isso fica sem consumidor.
Os produtores destes países têm uma série de obrigações a serem cumpridas, chegando até, em dado momento a destruição de parte de sua safra, se esta não for de qualidade ou se exceder a quantidade estipulada. Com isto todos ganham. Até a política da cachaça atualmente esta melhor e mais atuante do que a política cafeeira no Brasil.Aí vêm os contraditórios dizendo que vinhos, queijos e azeite são supérfluos e compra quem quer. Tudo bem, são mesmos.
O erro esta do lado de cá, ao se tratar o café como produto de cesta básica, esteio da economia, enfim, em produto de consumo de larga escala. Café tem de ser tratado como ele é, ou seja, uma bebida nobre, com características próprias, apreciado por uma boa parte da população, a qual estará sempre disposta a pagar um pouco mais caro se o produto for de ótima qualidade.
Temos que acabar com esta cultura de torrefações que moem subprodutos do café a fim de baratearem preços ao consumidor,assim como os produtores precisam acabar com o comércio de cafés de terra e palhas de café, achando que estão aumentando faturamento, quando na realidade estão ajudando a defasar o preço de seu produto final. Todo produto que tem excesso de produção, naturalmente perde valor de mercado, e só é bom para as empresas que vendem adubos, inseticidas e produtos ligados á esta atividade.
Enfim o cafeicultor tem que se desfazer do fardo que lhe puseram nas costas com estas falácias de que ele é o herói da nação, imprescindível ao mercado e a sociedade.Simplesmente o cafeicultor é o produtor de uma bebida nobre que merece respeito,e nem por isso a nação cairá, ou a população morrerá de fome ,se algum dia não se produzir mais café.
Quanto ao quesito apanhadores, também estamos na contramão da história,ora, se todos tem que ser registrados pela CLT, porque os produtores ainda negociam separadamente com seus empregados de acordo com sua produção? O que é mais vantajoso para o apanhador? entregar 10 medidas diárias ao preço de 8,00 reais unitária, ou entregar 3 medidas a 15,00 reais unitária?Se o horário trabalhado e o esforço dos exemplos acima são equivalentes.O correto pela CLT seria um salário base fixo negociado na carteira de trabalho para todos os safristas independente da produção ,deixando para livre negociação apenas a participação nos lucros, como acontece, aliás nas empresas urbanas.
São mudanças difíceis de serem implementadas,não pelo seu custo ou mecânica de implementação, mas sim pela cultura implantada nos últimos 150 anos, pautada pelo paternalismo estatal e pela servidão de mão de obra atrasada.
COMENTÁRIOS
1. Alexandre Guimarães disse:
18/07/2010 às 6:41 pm
Olá Serginho,
A situação do café, do cafeicultor e seus trabalhadores é, de fato, uma calamidade. Existem programas tipo o Certifica Café, da Emater, que tem ajudado muito produtor a melhorar a qualidade de seu produto, além de obrigá-lo e ter responsabilidade social e ambiental. Mas só isto não basta, falta uma diretriz, um plano de longo prazo para mudar esta realidade, não adianta melhorar o café se ainda tiverem pequenos produtores entregando seus produtos para os atravessadores, etc. E mais, se não houver um planejamento decente para mudar o perfil socio-econômico da região, principalmente do pequeno agricultor, a situação ficará cada vez pior, teremos o pequeno produtor dependente de ações de um estado falido e de políticos interessados nesta dependência. Existem iniciativas isoladas, de algumas poucas associações cadastrando o pessoal no PAA ou empresários externos plantando tomates. Precisamos ter novas lideranças comunitárias e temáticas para mobilizar todos nas discussões das soluções. Vamos ver quando isto acontecerá.
Masson disse:
18/07/2010 às 8:41 pm
eu nao vi em nenhuma escrita dizer da medida tomada pelos orgaos, que regem o cafe, que saem das torrafaçoes,foi criada uma lei que o cafe que sair das torrafaçoes tem que ter um controle de qualidade, ficando assin expressamente proibido torrar palha ou melhor cafe de ma qualidade, se nao me engano , deve ja estar en vigor. na minha opiniao eu acharia que o cafe jamais poderia se tornar moeda, pois nas coperativas hoje se paga caro para amarzena-lo, acho eu que no fundo ela ainda ganha uma boa bolada na venda, quanto a segurança e transporte deve ser seguro de acordo com as leis do CNT. talvez a ansiedade pela panha faz con que os produtores percam qualidade, fazem suas panhas com muito cafe verde , o cafe é engraçado uns acham que o preço esta bon e outros reclamam
segunda-feira, 19 de julho de 2010
Substituição de cultura preocupa o Estado, pois o cultivo de café gera empregos o ano inteiro, ao contrário do eucalipto
Substituição de cultura preocupa o Estado, pois o cultivo de café gera empregos o ano inteiro, ao contrário do eucalipto
ECONOMIA & NEGÓCIOS
18/07/2010
Mudança dispensa mão de obra e aumenta a receita
Substituição de cultura preocupa o Estado, pois o cultivo de café gera empregos o ano inteiro, ao contrário do eucalipto
Eduardo Kattah - O Estado de S.Paulo
O presidente das comissões de café da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e da Federação da Agricultura de Minas (Faemg), Breno Mesquita, defende políticas diferenciadas e incentivos para a cafeicultura de regiões como o sul mineiro e a Zona da Mata do Estado. O argumento é a ameaça de desemprego diante da falta de competitividade dos produtores.
\"Chega uma hora em que o produtor ou muda de atividade ou afunda e quebra\", afirma Mesquita. Segundo ele, o eucalipto só gera emprego no plantio. \"Depois, aquilo lá vai sozinho\".
Na cafeicultura, explica, a mão é de obra é necessária o ano inteiro, especialmente na colheita. Minas é o maior produtor nacional de café, com cerca de 50% da produção brasileira. Se fosse um país, o Estado seria o maior produtor mundial. Pelos cálculos das entidades, a cafeicultura emprega no País cerca de 8 milhões de pessoas em toda a sua cadeia de forma direta e indireta.
A política de aumento do salário mínimo, a partir de 2003, encareceu bastante os custos de produção da cafeicultura de montanha, ressalta Mesquita. Segundo ele, a substituição da cultura tradicional pelo eucalipto ainda não é \"extremamente preocupante\". \"É algo que vem acontecendo de maneira silenciosa e nos preocupa, sim\".
De acordo com a Secretaria estadual de Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Minas lidera o ranking nacional em área com floresta plantada, com 23,2% do total, sendo 89,8% de eucalipto e 10,2% de pinus. Nos cinco primeiros meses de 2010, as exportações de madeiras e derivados (principalmente celulose) por Minas foi de US$ 302,7 milhões. Um crescimento de 106% em relação ao mesmo período de 2009. Em quantidade, o volume de madeira e derivados exportado foi de 486,54 mil toneladas. Um aumento de 11,4% em relação aos cinco primeiros meses de 2009.
Segundo a Secretaria, estudos do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) da Universidade de São Paulo (USP), a indústria de celulose, papel e outros produtos do setor é responsável por 12% do PIB de todas as indústrias de base agrícola do agronegócio mineiro. Fica atrás apenas das indústrias de álcool hidratado, açúcar e álcool anidro.
ECONOMIA & NEGÓCIOS
18/07/2010
Mudança dispensa mão de obra e aumenta a receita
Substituição de cultura preocupa o Estado, pois o cultivo de café gera empregos o ano inteiro, ao contrário do eucalipto
Eduardo Kattah - O Estado de S.Paulo
O presidente das comissões de café da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e da Federação da Agricultura de Minas (Faemg), Breno Mesquita, defende políticas diferenciadas e incentivos para a cafeicultura de regiões como o sul mineiro e a Zona da Mata do Estado. O argumento é a ameaça de desemprego diante da falta de competitividade dos produtores.
\"Chega uma hora em que o produtor ou muda de atividade ou afunda e quebra\", afirma Mesquita. Segundo ele, o eucalipto só gera emprego no plantio. \"Depois, aquilo lá vai sozinho\".
Na cafeicultura, explica, a mão é de obra é necessária o ano inteiro, especialmente na colheita. Minas é o maior produtor nacional de café, com cerca de 50% da produção brasileira. Se fosse um país, o Estado seria o maior produtor mundial. Pelos cálculos das entidades, a cafeicultura emprega no País cerca de 8 milhões de pessoas em toda a sua cadeia de forma direta e indireta.
A política de aumento do salário mínimo, a partir de 2003, encareceu bastante os custos de produção da cafeicultura de montanha, ressalta Mesquita. Segundo ele, a substituição da cultura tradicional pelo eucalipto ainda não é \"extremamente preocupante\". \"É algo que vem acontecendo de maneira silenciosa e nos preocupa, sim\".
De acordo com a Secretaria estadual de Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Minas lidera o ranking nacional em área com floresta plantada, com 23,2% do total, sendo 89,8% de eucalipto e 10,2% de pinus. Nos cinco primeiros meses de 2010, as exportações de madeiras e derivados (principalmente celulose) por Minas foi de US$ 302,7 milhões. Um crescimento de 106% em relação ao mesmo período de 2009. Em quantidade, o volume de madeira e derivados exportado foi de 486,54 mil toneladas. Um aumento de 11,4% em relação aos cinco primeiros meses de 2009.
Segundo a Secretaria, estudos do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) da Universidade de São Paulo (USP), a indústria de celulose, papel e outros produtos do setor é responsável por 12% do PIB de todas as indústrias de base agrícola do agronegócio mineiro. Fica atrás apenas das indústrias de álcool hidratado, açúcar e álcool anidro.
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