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terça-feira, 2 de abril de 2013


Café “respira” na ICE, mas não se sustenta acima dos 140 cents

Os contratos futuros de café arábica negociados na ICE Futures US encerraram esta segunda-feira com altas, em um dia em que a posição maio chegou a testar níveis acima do nível psicológico de 140,00 centavos. Em uma sessão com boa volatilidade, os preços conseguiram romper esse referencial ainda pela manhã. No entanto, nas máximas, foram verificadas realizações de lucro, o que permitiu uma desaceleração dos ganhos, ainda que o fechamento do dia se desse no lado positivo da escala de preços. A expectativa em torno de um programa de apoio do governo brasileiro para o setor cafeeiro não se concretizou, ao menos por enquanto.

O Conselho Monetário Nacional não avaliou, em sua reunião da última quinta-feira, um voto sobre o aumento do preço mínimo do grão. Apenas foi aprovado um aumento do prazo para os pagamentos de financiamento de estocagem. Tecnicamente, o café conseguiu empreender uma correção, ainda que não tão efetiva quanto a esperada. Players ressaltam que algumas projeções recentes de instituições financeiras sobre a disponibilidade de café arábica na atual temporada influenciaram as movimentações de operadores. O cenário de oferta mais ampla do grão deu lugar a um quadro bem menos efetivo, o que poderia influenciar na interrupção das vendas mais intensivas observadas até os últimos dias.

No encerramento do dia em Nova Iorque, a posição maio teve alta de 125 pontos, com 138,40 centavos de dólar por libra peso, com a máxima em 141,35 centavos e a mínima de 135,50 centavos, com o julho tendo avanço de 125 pontos, com 140,90 centavos por libra, com a máxima em 143,70 centavos e a mínima em 138,15 centavos. Na Euronext/Liffe, em Londres, não houve pregão devido ao feriado bancário na Grã-Bretanha.

De acordo com analistas internacionais, o dia foi marcado pela queda do dólar em relação a uma cesta de moedas internacionais, o que contribuiu para que alguns players entrassem comprando de forma mais efetiva e permitissem, inclusive, que uma máxima de 141,35 centavos fosse testada. As bolsas de valores, no entanto, não tiveram um dia tão positivo e, diante do temor em relação à economia européia, várias delas fecharam seus pregões no lado negativo. Os bons ganhos do intraday para o café não se repetiu no after-hours, que teve o maio fechando no nível de 137,55 centavos.

"Foi uma nova sessão técnica, mas com alguns subsídios interessantes. Tivemos uma boa volatilidade e o mercado assimilou o golpe de não conseguir se sustentar acima dos 140,00 centavos, diante de algumas realizações de lucro. O quadro ainda não é animador, mas parece menos negro que aquele que se apresentava até há pouco", disse um trader.

"Diferenciais em geral andaram de lado, se mantendo menos atrativos do que se espera para os embarques no primeiro semestre, e mais largos para a segunda metade do ano. A indústria não parece estar atrasada em sua reposição para o curto, e com os preços do terminal frágeis não há porque mudar de atitude. A proximidade do começo da colheita do conillon no Brasil, o enfraquecimento do Real, e o mercado Londrino perdendo força devem levar o contrato 'C' a novas mínimas", apontou Rodrigo Corrêa da Costa, da Archer Consulting.

Os estoques certificados de café na bolsa de Nova Iorque tiveram alta de 2.930 sacas, indo para 2.739.772 sacas. O volume negociado no dia na ICE Futures US foi estimado em 26.125 lotes, com as opções tendo 2.413 calls e 2.118 puts — floor mais eletrônico. Tecnicamente, o maio na ICE Futures US tem resistência em 141,35, 141,50, 141,65, 142,00, 142,50, 143,00, 143,30, 143,50, 144,00, 144,45-144,50, 144,90-145,00, 145,50, 146,00, 146,50, 147,00 e 147,50 com o suporte em 135,50, 135,85, 135,50, 135,10-135,00, 134,50, 134,00, 133,50, 133,00, 132,50, 132,00, 131,50 e 131,00 centavos.





Abandono de técnicas tradicionais causa perdas na colheita de café da A. Central

  O abandono das técnicas tradicionais do cultivo do café e o uso indiscriminado de pesticidas e fungicidas está aumentando de forma drástica a proliferação do fungo da ferrugem, que está afetando plantações e colheita de café na América Central e México, informou o ecologista John Vandermeer da Universidade de Michigan. O ecologista fez estudos científicos numa plantação de café orgânico no sul de Chiapas, México, durante 15 anos. “Nos últimos 20 a 25 anos, muitos produtores de café da América Latina abandonaram as técnicas tradicionais de cultivo, que era feita sob a sombra projetada por diversas espécies de árvores.” No afã de aumentar a produção, grande parte da plantação se converteu no chamado “café de sol”, em que não há mais cobertura que proteja o café dos fungos, criando maior dependência de pesticidas e fungicidas para manter as pragas sob controle. Vandermeer disse que mais de 60% das árvores que foram estudadas possuem agora 80% de queda das folhas devido ao fungo da ferrugem. O fungo da ferrugem ataca as folhas da planta e interfere na capacidade da mesma de realizar a fotossíntese. 30% das plantas não possuem mais qualquer folha e cerca de 10% já morreram. Segundo Vandermeer, o cultivo na sombra possui um panorama muito diferente, pois ativa um fungo de halo branco que ajuda a conter a proliferação do fundo da ferrugem, bem como o ataque de certos insetos prejudiciais. Para o ecologista, o resultado das perdas na colheita se dá pelo uso indiscriminado de pesticidas e fungicidas e pelo baixo nível de biodiversidade encontrado nas plantações de café ao sol. “Sem o fungo de halo branco para frear a proliferação do fungo da ferrugem, este tem sido capaz de dizimar as plantações de café da Colômbia e México”, diz Vandermeer. A situação atual é a pior vista na América Central desde que a praga chegou à região há mais de 40 anos; recentemente, a Guatemala se uniu a Honduras e a Costa Rica declarando “emergência nacional” devido à praga. “O presidente guatemalteco disse que, devido à praga, a produção de café poderia ter uma perda de 40% no país durante a safra de 2013-2014”, disse o ecologista. “Tenho informações pessoais de amigos que trabalham com café na Colômbia, Costa Rica, El Salvador, Guatemala, Nicarágua e México. Todos dizem que esta é a maior perda que já tiveram”, disse Vandermeer. O que ainda não se sabe, é se esta infestação diminuirá com o decorrer deste ano e se voltará aos níveis anteriores. “Talvez isto se converta em algo relativamente permanente e fixo na região”, disse Vandermeer, advertindo sobre as pesadas consequências para os produtores de café. O fungo da ferrugem foi descoberto nas proximidades do Lago Victoria na África Oriental em 1861 e mais tarde foi identificado e estudado no Sri Lanka em 1867, segundo dados do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos, citados pela Universidade de Michigan. A praga se espalhou por grande parte do sudeste da Ásia e África. O fungo da ferrugem ficou conhecido no hemisfério ocidental em 1970, quando foi encontrado na Bahia, Brasil. Desde então, começou a se espalhar para todos os cafezais da América. O mofo infecta principalmente as folhas de café, mas também afeta frutos, brotos e outras culturas diversas. Os esporos do fungo se propagam pelo vento e pela chuva.




CNC - Boletim Conjuntural do Mercado de Café
Março de 2013

    O mês de março foi marcado por queda nos preços do arábica e retração
de oferta por parte dos cafeicultores, que permaneceram em compasso de espera
pelo lançamento de instrumentos de política pública para a garantia de renda
por parte do Governo Federal.
   Durante o mês prevaleceu a tendência de queda das cotações do Contrato
"C", com vencimento em maio/2013, em Nova York (ICE Futures US),
apresentando leve recuperação apenas na última semana. Entre os principais
fatores baixistas se destacam: (I) movimento especulativo de aposta de queda no
curto prazo, com investidores detendo grande quantidade de posições vendidas;
(II) a elevação dos estoques certificados na bolsa de NY; e (III) o resgate
financeiro do Chipre, que elevou a percepção do risco para os investimentos em
commodities.
    Já o mercado do robusta, na bolsa de Londres (Euronext Liffe), foi marcado
por elevada volatilidade. A queda nos estoques, indicador do aquecimento da
demanda por essa variedade, e os problemas climáticos que tendem a afetar a
safra 2013/14 do Vietnã, motivaram a alta do contrato com vencimento em maio,
até a segunda semana do mês. Porém, com o início das precipitações nas
regiões produtoras vietnamitas (consideradas insuficientes para reverter a
situação de déficit hídrico) e o aumento das exportações, as cotações
sofreram queda significativa, atingindo níveis inferiores aos negociados no
início do mês.
    O Vietnã, maior produtor mundial de conillon, enfrenta uma severa estiagem
que afeta cinco províncias produtoras, incluindo Dak Lak, que concentra cerca
de 34% da área ocupada com a cafeicultura no país. Embora tenham ocorrido
precipitações nas regiões produtoras no final de março, o Centro Nacional de
Previsões Hidrometeorológicas do Vietnã estima que o déficit hídrico tenda
a continuar nos próximos meses, podendo durar até julho e agosto nas áreas
do Planalto Central (região produtora de café). Como o déficit de
precipitações foi muito elevado em 2012 (de 500 a 1.300 mm), a quantidade de
chuva prevista a partir de março de 2013 não será suficiente para compensar a
perda do ano anterior. Agentes de mercado consultados pela Bloomberg estimam
que a safra 2013/14 vietnamita terá uma quebra de 30%, devido às condições
climáticas adversas, devendo atingir 17 milhões de sacas. Caso essas
previsões se concretizem, o país terá o segundo ano consecutivo de retração
na quantidade produzida de café, com redução de 24% em relação à
temporada 2012/13.
    O Ministério da Agricultura do Vietnã divulgou que as exportações de
março deverão atingir 2,13 milhões de sacas, volume 28% superior ao de
fevereiro. No acumulado de outubro de 2012 a março de 2013, o volume exportado
pelo país está estimado em 14 milhões de sacas, 11% a mais do que no mesmo
período da temporada anterior. Esse aumento de oferta ajudou a pressionar as
cotações do robusta na Liffe, a partir do final do mês.
    A arbitragem entre as bolsas continuou no menor nível dos últimos quatro
anos, encontrando-se abaixo dos 45 centavos de dólar/libra-peso. Devido à
pequena diferença entre os preços das variedades de café, as torrefadoras
passaram a adquirir mais arábica, usado em blends gourmet, permitindo leve
recuperação das cotações na ICE US na última semana de março. A
divulgação de dados que mostram o reaquecimento da economia norte-americana
também contribuiu para esse cenário. Porém, o principal fator de alta,
conforme já previsto pelo CNC, é o impacto dos problemas fitossanitários nos
cafezais da América Central na entrega da safra 2013/14 em Nova York. Apenas
nos últimos dias do mês de março os traders voltaram a atenção para o
impacto da retração da quantidade ofertada por esses países nos estoques da
bolsa nova-iorquina da próxima temporada.
    Mas, como a demanda pelo robusta mantém-se fortemente aquecida, e com a
pressão especulativa frente à proximidade da colheita brasileira e da safra
intermediária colombiana - com o agravante de que a Colômbia produzirá um
volume 30% superior ao da safra 2012/13 -, o Contrato C do arábica com
vencimento em maio não conseguiu alcançar o suporte de US$ 1,40/lb no
fechamento do mês passado.
    Dados da Comissão de Comércio de Futuros de Commodities (CFTC, na sigla
em inglês) demonstram que a posição líquida de vendas para o café arábica
em Nova York era de 28.769 contratos futuros e de opções em 26 de março,
contra uma média de 22 mil entre novembro e fevereiro. Frente à maior aposta
especulativa na queda das cotações, torna-se imprescindível a adoção de
instrumentos de política pública pelo governo brasileiro para a recuperação
dos preços domésticos.
    O primeiro passo foi dado na última quinta-feira, 28 de março, quando o
Conselho Monetário Nacional (CMN) aprovou a Resolução 4208/2013, que
reprograma o prazo de reembolso do crédito para a estocagem de café para até
12 parcelas mensais, vencendo a primeira em junho de 2013. A medida é
importante, uma vez que os vencimentos são semestrais e metade das parcelas
venceria em abril, forçando a venda do café estocado para sua quitação.
Dessa forma, será permitido melhor ordenamento da oferta de café, com a
entrada da safra 2013/14.
    O setor continua aguardando o reajuste do preço mínimo. Nesse ínterim,
é fundamental que os cafeicultores mantenham um acompanhamento contínuo dos
custos de produção e estimativa das margens almejadas, para que possam efetuar
a venda no momento adequado à sua realidade, garantindo o sucesso da
comercialização.
Quadro Resumo do Voto Aprovado pelo CMN para o setor café, em 28 de março de
2013.
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Resolução 
4208/2013
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Disposições
Autoriza a reprogramação do reembolso de operações de crédito rural para
estocagem de café contratadas no período de 1/1/2012 a 28/3/2013, ao amparo
de recursos do Funcafé, dos Recursos Obrigatórios ou da Poupança Rural.  A
reprogramação também abrange as operações com prazos de reembolso
alongados, conforme Resolução 4183/2013.
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Prazo de Reembolso
Até 12 parcelas mensais, vencendo a primeira em junho de 2013.
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Prazo de contratação
Até 31/5/2013
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Material elaborado pela assessoria técnica do Conselho Nacional do Café