Seguindo novamente cenário externo, café tem queda na ICE
Os contratos futuros de café arábica negociados na ICE Futures US encerraram esta quinta-feira com novas perdas, com o intervalo de 260,00 centavos de dólar novamente sendo rompido. Mais uma vez, a influência externa deu as cartas para nortear o comportamento da maior parte das commodities. Com uma abertura de dia em níveis próximos do fechamento da sessão anterior, o mercado passou a registrar uma maior pressão, acompanhando o mau humor de segmentos macroeconômicos, que refletiram os temores sobre a situação das dívidas na União Européia, assim como os reflexos da previsão do Federal Reserve (equivalente ao Banco Central) dos Estados Unidos de que a recuperação do país ainda vai demandar muitos esforços. Diante de um quadro externo complexo, com quedas para a maior parte das commodities e para as bolsas de valores internacionais, o café não ficou imune e refletiu tal quadro nas cotações. No entanto, apesar das baixas consistentes, o setembro conseguiu preservar a mínima de terça-feira, em 254,55 centavos. Tecnicamente, o mercado seguia uma linha de recuperação, de acordo com formações gráficas candlestick, entretanto, a pressão externa demonstrou uma modificação de quadro, ainda que operadores sustentem a importância da manutenção do suporte, como um fator potencial para a retomada da recuperação. Fundamentalmente, o mercado carece de novidades. Apesar de ser um período denominado como "climático", tal fator não vem, nos últimos dias, mudando os humores da bolsa. O Brasil registra um mês de julho relativamente quente em várias áreas produtoras e, ao menos no curto prazo, qualquer ocorrência de geadas está devidamente descartada. O mercado se mostra atento aos atrasos em alguns embarques do Vietnã, no entanto, esse fator estaria assimilado e precificado. No encerramento do dia, o setembro em Nova Iorque teve perda de 560 pontos com 258,35 centavos, sendo a máxima em 265,65 e a mínima em 256,60 centavos por libra, com o dezembro registrando oscilação negativa de 550 pontos, com a libra a 262,10 centavos, sendo a máxima em 269,30 e a mínima em 260,40 centavos por libra. Na Euronext/Liffe, em Londres, a posição setembro registrou queda de 25 dólares, com 2.306 dólares por tonelada, com o novembro tendo retração de 23 dólares, com 2.337 dólares por tonelada. De acordo com analistas internacionais, o dia foi iniciado com estabilidade, sendo que uma alta foi, inclusive, ensaiada, com o setembro chegando a romper os 265,00 centavos. Entretanto, com a influência externa, que derrubou também mercados como soja, trigo e milho, a tendência de muitos players foi de retomar as liquidações, sendo que as perdas vieram rapidamente e até se acentuaram ligeiramente no after-hours. "Se tecnicamente o mercado conseguiu ter um respiro na quarta-feira, nesta quinta voltamos a sofrer com o cenário externo. Há muitos operadores temerosos em se manter em negócios de maior risco, sendo que eles preferem portos mais tranqüilos neste momento", disse um trader. A Itália aprovou um plano de austeridade para tentar conter o contágio da crise das dívidas européias. O plano de ajuste deverá permitir ao país alcançar o déficit zero em 2014 e será de 47 bilhões de euros, em vez dos 40 bilhões inicialmente previstos. O pacote antecipará para 2013 um programa de privatização de empresas estatais e municipais, introduzirá o pagamento, pela população, de uma parte das consultas médicas, congelando a remuneração do funcionalismo público e cortando os recursos destinados a entidades locais. O pacote também traz também aperto no que se refere à seguridade social. Mesmo depois da aprovação, o mercado continuou receoso, com as bolsas de valores na Europa e nos Estados Unidos fechando o dia com retração. A produção de café da Colômbia em junho teve queda de 40%, indo para 471 mil sacas, contra 780 mil sacas do mesmo mês do ano anterior, indicou a Federacafe (Federação Nacional dos Cafeicultores da Colômbia). A baixa foi refletida nas exportações, que no mês caíram 12%, indo para 572 mil sacas, ante 648 mil sacas de junho de 2010. Na primeira metade do ano safra, o país sul-americano registra alta de 18% em seus embarques cafeeiros para todos os destinos, com 4,16 milhões de sacas. As exportações de café do Brasil em julho, até o dia 13, somaram 611.671 sacas, contra 423.118 sacas registradas no mesmo período de junho, informou o Cecafé (Conselho dos Exportadores de Café do Brasil). Os estoques certificados de café na bolsa de Nova Iorque tiveram queda de 215 sacas indo para 1.591.761 sacas. O volume negociado no dia na ICE Futures US foi estimado em 13.347 lotes, com as opções tendo 4.817 calls e 2.235 puts. Tecnicamente, o setembro na ICE Futures US tem uma resistência em 265,65, 266,00, 266,20, 266,50, 267,00, 267,50, 268,00, 268,50, 269,00, 269,50, 269,90-270,00, 270,50, 271,00 e 271,50 centavos de dólar por libra peso, com o suporte em 256-60256,50, 256,00, 255,50, 255,10-255,00, 254,55-254,50, 254,00, 253,50, 253,00, 252,50 e 252,00 centavos por libra.
sexta-feira, 15 de julho de 2011
ICE paga US$ 512 mi por 12% da Cetip
ICE paga US$ 512 mi por 12% da Cetip
A Intercontinental Exchange (ICE), plataforma internacional de negociação de ativos avaliada em US$ 9, 3 bilhões, comprou 12,4% da Cetip por US$ 512 milhões. O negócio faz da ICE a maior acionista da principal casa de renda fixa e de derivativos de balcão do Brasil. Isso dá pistas de que a concorrência no segmento de bolsas no país pode esquentar.A gestora de fundos de "private equity" Advent vendeu a totalidade do restante das ações que possuía na empresa, ou seja, 10% da Cetip. Em meados de 2009, a gestora comprou 30% da Cetip, processo que acabou levando a plataforma à abertura de capital na bolsa de valores. Outros 2,5% foram vendidos pelo banco Itaú Unibanco, que ainda permanecerá com 3,4% da companhia. A negociação, segundo o Valor apurou, durou menos de dois meses.Em abril deste ano, a ICE anunciou a criação da Brix, uma bolsa brasileira de energias e futuros, em parceria com os empresários Eike Batista, Josué Gomes da Silva, da Coteminas, Roberto Teixeira da Costa e Marcelo Parodi, da Compass. Desde 2009 a ICE já está presente no Brasil, com a instalação de telas de acesso a seu sistema de negociação. Antes disso, ainda em 2008, a ICE chegou a negociar a aquisição da própria Cetip, um negócio que não foi para a frente.Apesar de a ICE já ter presença no Brasil, a aquisição de parcela da Cetip dará à plataforma uma participação muito mais marcante no país. "Isso vai estender nosso trabalho no segmento de liquidação e nos mercados financeiro e de commodities no Brasil", afirmou Jeffrey Sprecher, presidente da ICE em comunicado.Principal casa de ativos de renda fixa e de derivativos de balcão no Brasil, com um lucro de R$ 180,6 milhões no ano passado, a Cetip já está conectada tecnologicamente aos agentes do mercado. Isso pode ser a largada de uma concorrência mais acirrada com a BM&FBovespa, principalmente no segmento de derivativos, já que a ICE é conhecida por seus negócios na área de contratos futuros e de balcão.Porém, com uma fatia de 12,4% da Cetip, a ICE não terá poder de comando na companhia. Se quiser ter voz dentro da Cetip, a ICE terá dois caminhos. Um deles é convencer os demais acionistas dos seus planos. Outra opção é aumentar sua participação, o que vai esbarrar no estatuto da companhia, que prevê que qualquer acionista que adquirir uma participação superior a 20% do capital da companhia terá de realizar uma oferta para todos os demais sócios.Poder de fogo é o que não deve faltar para a ICE. Juntamente com a Nasdaq OMX Group, a ICE tentou comprar a New York Stock Exchange (Nyse) por US$ 11,3 bilhões neste ano, transação que acabou fracassando. Fato curioso é que, nessa ocasião, a ICE enfrentou como maior concorrente a Deustche Borse, que é um dos principais parceiros da Cetip.
A Intercontinental Exchange (ICE), plataforma internacional de negociação de ativos avaliada em US$ 9, 3 bilhões, comprou 12,4% da Cetip por US$ 512 milhões. O negócio faz da ICE a maior acionista da principal casa de renda fixa e de derivativos de balcão do Brasil. Isso dá pistas de que a concorrência no segmento de bolsas no país pode esquentar.A gestora de fundos de "private equity" Advent vendeu a totalidade do restante das ações que possuía na empresa, ou seja, 10% da Cetip. Em meados de 2009, a gestora comprou 30% da Cetip, processo que acabou levando a plataforma à abertura de capital na bolsa de valores. Outros 2,5% foram vendidos pelo banco Itaú Unibanco, que ainda permanecerá com 3,4% da companhia. A negociação, segundo o Valor apurou, durou menos de dois meses.Em abril deste ano, a ICE anunciou a criação da Brix, uma bolsa brasileira de energias e futuros, em parceria com os empresários Eike Batista, Josué Gomes da Silva, da Coteminas, Roberto Teixeira da Costa e Marcelo Parodi, da Compass. Desde 2009 a ICE já está presente no Brasil, com a instalação de telas de acesso a seu sistema de negociação. Antes disso, ainda em 2008, a ICE chegou a negociar a aquisição da própria Cetip, um negócio que não foi para a frente.Apesar de a ICE já ter presença no Brasil, a aquisição de parcela da Cetip dará à plataforma uma participação muito mais marcante no país. "Isso vai estender nosso trabalho no segmento de liquidação e nos mercados financeiro e de commodities no Brasil", afirmou Jeffrey Sprecher, presidente da ICE em comunicado.Principal casa de ativos de renda fixa e de derivativos de balcão no Brasil, com um lucro de R$ 180,6 milhões no ano passado, a Cetip já está conectada tecnologicamente aos agentes do mercado. Isso pode ser a largada de uma concorrência mais acirrada com a BM&FBovespa, principalmente no segmento de derivativos, já que a ICE é conhecida por seus negócios na área de contratos futuros e de balcão.Porém, com uma fatia de 12,4% da Cetip, a ICE não terá poder de comando na companhia. Se quiser ter voz dentro da Cetip, a ICE terá dois caminhos. Um deles é convencer os demais acionistas dos seus planos. Outra opção é aumentar sua participação, o que vai esbarrar no estatuto da companhia, que prevê que qualquer acionista que adquirir uma participação superior a 20% do capital da companhia terá de realizar uma oferta para todos os demais sócios.Poder de fogo é o que não deve faltar para a ICE. Juntamente com a Nasdaq OMX Group, a ICE tentou comprar a New York Stock Exchange (Nyse) por US$ 11,3 bilhões neste ano, transação que acabou fracassando. Fato curioso é que, nessa ocasião, a ICE enfrentou como maior concorrente a Deustche Borse, que é um dos principais parceiros da Cetip.
QE3 - Bernanke recua, mas viciados querem liquidez
QE3 - Bernanke recua, mas viciados querem liquidez
Não foi bem isso o que eu disse. Isso resume bem o segundo dia de discursos do presidente do Federal Reserve (Fed), banco central americano, Ben Bernanke. Em nova audiência no Senado, o mandatário disse: "não estamos preparados, neste momento, para tomar novas medidas". A fala foi vista como um recuo da sinalização dada na quarta-feira de que novas ações para estimular a atividade estavam disponíveis. Aceno que levou o mercado a acreditar que a impressora de dólares seria ligada, liberando mais liquidez. Vale esclarecer que Bernanke não falou textualmente que iria tomar medidas, mas a mudança no seu discurso (o feito na quarta-feira), quando listou ações que poderiam ser tomadas, criou essa ideia entre os agentes de mercado.Bernanke diz não saber para onde vai a economia dos EUAOntem, no Senado, Bernanke voltou a afirmar que quer ver se, de fato, a economia toma fôlego no decorrer do semestre, conforme o cenário do próprio bc americano. "Não estamos propondo nada hoje", disse.Esse recuo também traz de volta a percepção dada pela ata do Fed, que saiu na terça-feira, de que não se sabe o que está acontecendo. Bernanke foi literal: "Não sabemos para onde a economia está indo". Colocação reconfortante.Nas praças de negociação, o recuo de Bernanke tirou ímpeto das bolsas de valores e deu algum fôlego ao dólar, mas nada muito exagerado. O Dollar Index, que mede o desempenho da divisa americana ante uma cesta de moedas, que tinha tombado mais de 1% na quarta, ganhou 0,32%, para 75,20 pontos.Avaliando esse quiproquó todo, o sócio da Teórica Investimentos, Rogério Freitas, aponta que o mercado está querendo ver mais uma rodada de estímulo. Não que isso seja crucial para a retomada da atividade, mas sim porque isso significa liquidez na veia."O surreal de tudo isso é que os afrouxamentos quantitativos já efetuados mostraram pouco impacto na economia real. As medidas pegaram, mesmo, o preço dos ativos financeiros", diz Freitas, lembrando que os efeitos secundários das injeções de liquidez do Fed são apenas o "efeito riqueza" e a melhora na confiança do consumidor via valorização do mercado de ações. Ainda de acordo com o especialista, a ideia que embasa a compra de títulos e juros próximos de zero é muito boa. O baixo custo do dinheiro levaria as empresas a tomar dívida para investir ou comprar concorrentes, estimulando, assim, a atividade. Se a empresa não vê futuro nessas duas opções, pode transformar caixa em maiores dividendos, devolvendo recursos aos acionistas, algo que de alguma forma viraria consumo.Segundo Freitas, é a primeira vez que tal modelo é colocado em prática. O especialista, lembra da carreira acadêmica de Bernanke, período no qual ele produziu estudos criticando a falta de ação do Japão durante sua crise nos anos 90. Bernanke escrevia que faltou expansão quantitativa ao Japão. Vemos que no atual caso americano não foi esse o problema. Mas Freitas nota que o resultado, por ora, não difere muito do japonês."O Fed está criando um sistema zumbi. Bancos que não emprestam, pois ainda estão cheios de títulos podres em carteira, baixo crescimento e baixa inflação. Não há uma solução dos problemas estruturais. Não se cria um ambiente para que as empresas acreditem na retomada, mesmo que no longo prazo. Por isso, não há geração de emprego", explica, apontando que esse ambiente de elevada liquidez é artificial.Para Freitas, a resposta monetária chegou ao seu limite. Só que o lado fiscal também está no limite. Os EUA têm uma dívida astronômica e um déficit de curto prazo que não pode ser resolvido, pois uma redução de gastos e aumento de impostos debilitariam ainda mais a economia.A saída, ainda na visão do especialista, é criar um ambiente favorável para o longo prazo. Os EUA poderiam propor um plano para seguir gastando, ou seja, estimular a economia pelo lado fiscal, que tradicionalmente gera mais demanda, mas com a promessa de um ajuste fiscal em prazo mais dilatado. Claro que esse modelo de resposta também tem seus custos. Freitas cita estudos que mostram como o excesso de endividamento reduz o tamanho do PIB (procurar por Carmen Reinhart e Kenneth Rogoff). No entanto essa parece ser a saída mais sensata no momento, ainda mais quando se tem um mercado viciado em liquidez e que não consegue enxergar além do bônus do trimestre. No front local, o câmbio segue no limbo. Não se amplia a venda, mas ninguém compra com consistência. Ontem, o dólar comercial teve leve alta de 0,25%, para R$ 1,578 na venda.
Não foi bem isso o que eu disse. Isso resume bem o segundo dia de discursos do presidente do Federal Reserve (Fed), banco central americano, Ben Bernanke. Em nova audiência no Senado, o mandatário disse: "não estamos preparados, neste momento, para tomar novas medidas". A fala foi vista como um recuo da sinalização dada na quarta-feira de que novas ações para estimular a atividade estavam disponíveis. Aceno que levou o mercado a acreditar que a impressora de dólares seria ligada, liberando mais liquidez. Vale esclarecer que Bernanke não falou textualmente que iria tomar medidas, mas a mudança no seu discurso (o feito na quarta-feira), quando listou ações que poderiam ser tomadas, criou essa ideia entre os agentes de mercado.Bernanke diz não saber para onde vai a economia dos EUAOntem, no Senado, Bernanke voltou a afirmar que quer ver se, de fato, a economia toma fôlego no decorrer do semestre, conforme o cenário do próprio bc americano. "Não estamos propondo nada hoje", disse.Esse recuo também traz de volta a percepção dada pela ata do Fed, que saiu na terça-feira, de que não se sabe o que está acontecendo. Bernanke foi literal: "Não sabemos para onde a economia está indo". Colocação reconfortante.Nas praças de negociação, o recuo de Bernanke tirou ímpeto das bolsas de valores e deu algum fôlego ao dólar, mas nada muito exagerado. O Dollar Index, que mede o desempenho da divisa americana ante uma cesta de moedas, que tinha tombado mais de 1% na quarta, ganhou 0,32%, para 75,20 pontos.Avaliando esse quiproquó todo, o sócio da Teórica Investimentos, Rogério Freitas, aponta que o mercado está querendo ver mais uma rodada de estímulo. Não que isso seja crucial para a retomada da atividade, mas sim porque isso significa liquidez na veia."O surreal de tudo isso é que os afrouxamentos quantitativos já efetuados mostraram pouco impacto na economia real. As medidas pegaram, mesmo, o preço dos ativos financeiros", diz Freitas, lembrando que os efeitos secundários das injeções de liquidez do Fed são apenas o "efeito riqueza" e a melhora na confiança do consumidor via valorização do mercado de ações. Ainda de acordo com o especialista, a ideia que embasa a compra de títulos e juros próximos de zero é muito boa. O baixo custo do dinheiro levaria as empresas a tomar dívida para investir ou comprar concorrentes, estimulando, assim, a atividade. Se a empresa não vê futuro nessas duas opções, pode transformar caixa em maiores dividendos, devolvendo recursos aos acionistas, algo que de alguma forma viraria consumo.Segundo Freitas, é a primeira vez que tal modelo é colocado em prática. O especialista, lembra da carreira acadêmica de Bernanke, período no qual ele produziu estudos criticando a falta de ação do Japão durante sua crise nos anos 90. Bernanke escrevia que faltou expansão quantitativa ao Japão. Vemos que no atual caso americano não foi esse o problema. Mas Freitas nota que o resultado, por ora, não difere muito do japonês."O Fed está criando um sistema zumbi. Bancos que não emprestam, pois ainda estão cheios de títulos podres em carteira, baixo crescimento e baixa inflação. Não há uma solução dos problemas estruturais. Não se cria um ambiente para que as empresas acreditem na retomada, mesmo que no longo prazo. Por isso, não há geração de emprego", explica, apontando que esse ambiente de elevada liquidez é artificial.Para Freitas, a resposta monetária chegou ao seu limite. Só que o lado fiscal também está no limite. Os EUA têm uma dívida astronômica e um déficit de curto prazo que não pode ser resolvido, pois uma redução de gastos e aumento de impostos debilitariam ainda mais a economia.A saída, ainda na visão do especialista, é criar um ambiente favorável para o longo prazo. Os EUA poderiam propor um plano para seguir gastando, ou seja, estimular a economia pelo lado fiscal, que tradicionalmente gera mais demanda, mas com a promessa de um ajuste fiscal em prazo mais dilatado. Claro que esse modelo de resposta também tem seus custos. Freitas cita estudos que mostram como o excesso de endividamento reduz o tamanho do PIB (procurar por Carmen Reinhart e Kenneth Rogoff). No entanto essa parece ser a saída mais sensata no momento, ainda mais quando se tem um mercado viciado em liquidez e que não consegue enxergar além do bônus do trimestre. No front local, o câmbio segue no limbo. Não se amplia a venda, mas ninguém compra com consistência. Ontem, o dólar comercial teve leve alta de 0,25%, para R$ 1,578 na venda.
`Risco de ruptura da zona do euro não está descartado`
`Risco de ruptura da zona do euro não está descartado`
O risco de as autoridades europeias tomarem a "má direção" continua forte e podem levar à destruição da zona euro, diz Paul de Grauwe, professor de economia da Universidade de Louvain, na Bélgica, e especialista na moeda comum europeia. Para ele, no momento, as soluções possíveis seriam mais no sentido de superar a crise, como definir como funcionará o fundo de estabilização financeiro de ? 500 bilhões para socorrer os países em crise. Só mais tarde se voltaria à real discussão sobre a governança econômica na região. Valor: A crise da dívida causará a ruptura da zona euro ou vai acelerar mudanças?De Grauwe: É a questão chave. Os dois cenários são possíveis. O cenário catastrófico é a impossibilidade de as autoridades encontrarem uma solução para a questão da Grécia e aí o contágio será forte e o risco de implosão da zona euro é evidente. O outro cenário é de os governos se conscientizarem, enfim, da intensidade do problema, dos efeitos negativos e criarem o impulso para manter a coesão do sistema. Neste momento, há uma probabilidade que se tome a má direção e se leve à destruição do euro. Valor: Por que?De Grauwe: Veja, criamos o fundo de estabilização financeira para ajudar países em crise e não conseguimos nos entender sobre a maneira como ele deve funcionar. Se deve emitir obrigações ou não. Cada país mantém o direito de veto, ou seja, não se quer transferir soberania a esse fundo. É uma questão aparentemente impossível. O fundo é necessário, mas não suficiente. Se a Europa não consegue chegar em acordo numa questão relativamente secundária, como alcançar acordo mais substancial, por exemplo, de decidir ter um sistema de eurobônus, de consolidar uma parte da dívida nacional que seria emitida de maneira conjunta, com responsabilidade coletiva, e baixando a taxa de juro? Mas não vejo nenhuma visão sobre isso. Valor: Quais as propostas que o sr. considera mais sensatas para reformar a zona do euro?De Grauwe: É preciso reformar o fundo de estabilização, é preciso fazê-lo de tomar decisões por maioria, como no Fundo Monetário Internacional. No FMI, a Venezuela não pode vetar empréstimo a Portugal, por exemplo. Aqui também isso não deveria acontecer. Também é preciso reduzir a taxa de juro que esse fundo impõe no programa de financiamento. No programa para a Irlanda é a 300 pontos básicos sobre os títulos da Alemanha. Valor: Quais as vantagens dessas mudanças?De Grauwe: Se não vamos nessa direção, a zona euro desaparecerá. É a escolha que temos. Há quem não queira a zona euro. Vários economistas alemães pensam que seria melhor voltar ao marco alemão. A Alemanha, Holanda, Finlândia são muito rígidos e dominados pela ideia de que é preciso punir os países do sul porque eles pecaram. É uma atitude que não ajuda. É verdade que a Grécia fez coisas horríveis. Fraudou estatísticas, os governos mentiram e hoje não tem nenhuma confiança. Mas é preciso resolver a crise. Valor: O federalismo tem chance de avançar?De Grauwe: O federalismo transfere uma parte da soberania ao nível europeu, criaria uma espécie de Estados Unidos da Europa, com integração política. No cenário atual, não sei se tem possibilidades de avançar. A evidência mesmo é que fazer união monetária se não há união política claramente não funciona. Valor: No caso de ruptura da zona do euro, quais as consequências imediatas?De Grauwe: Se há realmente uma catástrofe, vai ter crise bancária na Europa, risco de implosão do sistema bancário. Basta ver o valor dos títulos públicos em poder dos bancos. E quando há crise bancária, há também crise econômica, e leva anos para haver recuperação. O impacto é também sobre a União Europeia como um todo, sem sua própria moeda e com grande depreciação das moedas nacionais, distorções no comércio internacional, aumento do protecionismo. Os efeitos são terríveis. Valor: Qual o impacto até agora da crise sobre as empresas europeias?De Grauwe: Os efeitos sobre as companhias estão limitados no momento, e são muito desiguais. Na Alemanha, nos países escandinavos, a economia vai bem, com taxa de crescimento respeitável. Já no Sul da Europa, é claro que a deterioração econômica afeta empresas, causa demissões, é o desastre.
O risco de as autoridades europeias tomarem a "má direção" continua forte e podem levar à destruição da zona euro, diz Paul de Grauwe, professor de economia da Universidade de Louvain, na Bélgica, e especialista na moeda comum europeia. Para ele, no momento, as soluções possíveis seriam mais no sentido de superar a crise, como definir como funcionará o fundo de estabilização financeiro de ? 500 bilhões para socorrer os países em crise. Só mais tarde se voltaria à real discussão sobre a governança econômica na região. Valor: A crise da dívida causará a ruptura da zona euro ou vai acelerar mudanças?De Grauwe: É a questão chave. Os dois cenários são possíveis. O cenário catastrófico é a impossibilidade de as autoridades encontrarem uma solução para a questão da Grécia e aí o contágio será forte e o risco de implosão da zona euro é evidente. O outro cenário é de os governos se conscientizarem, enfim, da intensidade do problema, dos efeitos negativos e criarem o impulso para manter a coesão do sistema. Neste momento, há uma probabilidade que se tome a má direção e se leve à destruição do euro. Valor: Por que?De Grauwe: Veja, criamos o fundo de estabilização financeira para ajudar países em crise e não conseguimos nos entender sobre a maneira como ele deve funcionar. Se deve emitir obrigações ou não. Cada país mantém o direito de veto, ou seja, não se quer transferir soberania a esse fundo. É uma questão aparentemente impossível. O fundo é necessário, mas não suficiente. Se a Europa não consegue chegar em acordo numa questão relativamente secundária, como alcançar acordo mais substancial, por exemplo, de decidir ter um sistema de eurobônus, de consolidar uma parte da dívida nacional que seria emitida de maneira conjunta, com responsabilidade coletiva, e baixando a taxa de juro? Mas não vejo nenhuma visão sobre isso. Valor: Quais as propostas que o sr. considera mais sensatas para reformar a zona do euro?De Grauwe: É preciso reformar o fundo de estabilização, é preciso fazê-lo de tomar decisões por maioria, como no Fundo Monetário Internacional. No FMI, a Venezuela não pode vetar empréstimo a Portugal, por exemplo. Aqui também isso não deveria acontecer. Também é preciso reduzir a taxa de juro que esse fundo impõe no programa de financiamento. No programa para a Irlanda é a 300 pontos básicos sobre os títulos da Alemanha. Valor: Quais as vantagens dessas mudanças?De Grauwe: Se não vamos nessa direção, a zona euro desaparecerá. É a escolha que temos. Há quem não queira a zona euro. Vários economistas alemães pensam que seria melhor voltar ao marco alemão. A Alemanha, Holanda, Finlândia são muito rígidos e dominados pela ideia de que é preciso punir os países do sul porque eles pecaram. É uma atitude que não ajuda. É verdade que a Grécia fez coisas horríveis. Fraudou estatísticas, os governos mentiram e hoje não tem nenhuma confiança. Mas é preciso resolver a crise. Valor: O federalismo tem chance de avançar?De Grauwe: O federalismo transfere uma parte da soberania ao nível europeu, criaria uma espécie de Estados Unidos da Europa, com integração política. No cenário atual, não sei se tem possibilidades de avançar. A evidência mesmo é que fazer união monetária se não há união política claramente não funciona. Valor: No caso de ruptura da zona do euro, quais as consequências imediatas?De Grauwe: Se há realmente uma catástrofe, vai ter crise bancária na Europa, risco de implosão do sistema bancário. Basta ver o valor dos títulos públicos em poder dos bancos. E quando há crise bancária, há também crise econômica, e leva anos para haver recuperação. O impacto é também sobre a União Europeia como um todo, sem sua própria moeda e com grande depreciação das moedas nacionais, distorções no comércio internacional, aumento do protecionismo. Os efeitos são terríveis. Valor: Qual o impacto até agora da crise sobre as empresas europeias?De Grauwe: Os efeitos sobre as companhias estão limitados no momento, e são muito desiguais. Na Alemanha, nos países escandinavos, a economia vai bem, com taxa de crescimento respeitável. Já no Sul da Europa, é claro que a deterioração econômica afeta empresas, causa demissões, é o desastre.
UBS e Credit Suisse podem fechar mais vagas
UBS e Credit Suisse podem fechar mais vagas
O UBS e o Credit Suisse, os maiores bancos da Suíça, devem realizar nova onda de demissões diante dos reflexos dos anêmicos negócios dos clientes e da valorização do franco suíço. "Seguramente era de se esperar que a administração de custos mantivesse o alto grau de atividade", disse Matthew Clark, analista da Keefe, Bruyette & Woods de Londres. "Todos esses bancos de investimentos se posicionaram no ano passado tendo como base uma previsão de recuperação mundial, mas essa recuperação não se materializou ainda." O Credit Suisse aumentou o contingente de pessoal em 2,5 mil funcionários, para 50,1 mil pessoas, enquanto o UBS admitiu mais de 6 mil pessoas no mundo entre o fim de 2009 e 31 de março deste ano. Os lucros dos bancos podem sair prejudicados em vista da fraca recuperação da economia e das mazelas da Europa com a dívida soberana, que reduzem as transações dos clientes, enquanto a alta do franco suíço, que subiu para valor recorde em relação ao euro e ao dólar, diminui a receita.Clark, da KBW, estima que o lucro líquido a ser registrado pelo UBS no segundo trimestre cairá para 1,14 bilhão de francos (US$ 1,4 bilhão) em relação aos 2,01 bilhões de francos do mesmo período do ano passado. Os lucros do Credit Suisse deverão recuar para 1,22 bilhão de francos, em comparação ao 1,59 bilhão de francos de 2010, segundo suas estimativas.O UBS reduziu seu quadro de funcionários em cerca de 6% no primeiro trimestre no banco de investimentos, onde empregava 17.628 pessoas no fim de março, e disse no mês passado que fechará cerca de 500 vagas no setor de tecnologia de informação em todas as regiões e divisões, a fim de baixar os custos anuais "em dois dígitos de milhões de francos". Segundo o jornal suíço "Tages-Anzeiger" o UBS deverá fechar 5 mil vagas para poupar 1 bilhão de francos em custos anuais.O Credit Suisse pretende eliminar cerca de 500 vagas em sua divisão de administração de recursos para clientes de alta renda, disse pessoa familiarizada com a questão. O banco disse à equipe de seu banco de investimentos, que empregava 20,8 mil pessoas no fim de março, que iniciaria consultas sobre reduções de vagas. A instituição pretende eliminar mais de 600 postos de trabalho na divisão, entre os quais mais de 100 no Reino Unido, disse uma fonte. No total a instituição deverá fechar até 1,5 mil vagas, citou a agência "Dow Jones", citando pessoa familiarizada com o assunto. Os porta-vozes dos bancos preferiram não comentar o número de cargos a ser eliminado."A perspectiva de crescimento continua reduzida", disse o presidente do conselho de administração do UBS, Kaspar Villiger, ao "SonntagsZeitung", em entrevista no início do mês. "É bom se preparar para isso em vez de se iludir. O corte de custos é inevitável. Não posso descartar novos fechamentos de vagas."Enquanto isso nos EUA, a juíza federal de primeira instância disse que reexaminará os processos contra o UBS AG movidos pelo liquidante da empresa de Bernard Madoff. É a quarta vez que um banco relacionado ao caso Madoff obtém acesso a um tribunal de instância superior. O síndico da massa falida Irving Picard processou o UBS no Tribunal de Falências, exigindo US$ 2,6 bilhões e alegando que o banco contribuiu para a fraude de Madoff ao montar fundos.
O UBS e o Credit Suisse, os maiores bancos da Suíça, devem realizar nova onda de demissões diante dos reflexos dos anêmicos negócios dos clientes e da valorização do franco suíço. "Seguramente era de se esperar que a administração de custos mantivesse o alto grau de atividade", disse Matthew Clark, analista da Keefe, Bruyette & Woods de Londres. "Todos esses bancos de investimentos se posicionaram no ano passado tendo como base uma previsão de recuperação mundial, mas essa recuperação não se materializou ainda." O Credit Suisse aumentou o contingente de pessoal em 2,5 mil funcionários, para 50,1 mil pessoas, enquanto o UBS admitiu mais de 6 mil pessoas no mundo entre o fim de 2009 e 31 de março deste ano. Os lucros dos bancos podem sair prejudicados em vista da fraca recuperação da economia e das mazelas da Europa com a dívida soberana, que reduzem as transações dos clientes, enquanto a alta do franco suíço, que subiu para valor recorde em relação ao euro e ao dólar, diminui a receita.Clark, da KBW, estima que o lucro líquido a ser registrado pelo UBS no segundo trimestre cairá para 1,14 bilhão de francos (US$ 1,4 bilhão) em relação aos 2,01 bilhões de francos do mesmo período do ano passado. Os lucros do Credit Suisse deverão recuar para 1,22 bilhão de francos, em comparação ao 1,59 bilhão de francos de 2010, segundo suas estimativas.O UBS reduziu seu quadro de funcionários em cerca de 6% no primeiro trimestre no banco de investimentos, onde empregava 17.628 pessoas no fim de março, e disse no mês passado que fechará cerca de 500 vagas no setor de tecnologia de informação em todas as regiões e divisões, a fim de baixar os custos anuais "em dois dígitos de milhões de francos". Segundo o jornal suíço "Tages-Anzeiger" o UBS deverá fechar 5 mil vagas para poupar 1 bilhão de francos em custos anuais.O Credit Suisse pretende eliminar cerca de 500 vagas em sua divisão de administração de recursos para clientes de alta renda, disse pessoa familiarizada com a questão. O banco disse à equipe de seu banco de investimentos, que empregava 20,8 mil pessoas no fim de março, que iniciaria consultas sobre reduções de vagas. A instituição pretende eliminar mais de 600 postos de trabalho na divisão, entre os quais mais de 100 no Reino Unido, disse uma fonte. No total a instituição deverá fechar até 1,5 mil vagas, citou a agência "Dow Jones", citando pessoa familiarizada com o assunto. Os porta-vozes dos bancos preferiram não comentar o número de cargos a ser eliminado."A perspectiva de crescimento continua reduzida", disse o presidente do conselho de administração do UBS, Kaspar Villiger, ao "SonntagsZeitung", em entrevista no início do mês. "É bom se preparar para isso em vez de se iludir. O corte de custos é inevitável. Não posso descartar novos fechamentos de vagas."Enquanto isso nos EUA, a juíza federal de primeira instância disse que reexaminará os processos contra o UBS AG movidos pelo liquidante da empresa de Bernard Madoff. É a quarta vez que um banco relacionado ao caso Madoff obtém acesso a um tribunal de instância superior. O síndico da massa falida Irving Picard processou o UBS no Tribunal de Falências, exigindo US$ 2,6 bilhões e alegando que o banco contribuiu para a fraude de Madoff ao montar fundos.
Só austeridade já não basta; país precisa de um plano radical de reformas
Desde que a crise da dívida soberana se abateu sobre a Europa, no segundo trimestre de 2010, o pesadelo que persegue as autoridades econômicas do continente é a possibilidade de a crise alcançar a Itália. Nas últimas semanas, as chances desse evento acontecer aumentaram dramaticamente. Se Roma quiser evitá-lo, medidas urgentes e decisivas são necessárias.Depois de uma pequena queda após o pânico de segunda-feira, os rendimentos dos títulos italianos voltaram a subir ontem. A Itália foi forçada a pagar 4,93%, o maior nível em três anos e um ponto porcentual a mais que há um mês, para vender títulos de cinco anos. Um leilão simultâneo de títulos de 15 anos foi o mais caro já registrado.O Estado italiano pode arcar por um tempo com o peso dos leilões caros. O perfil de vencimento de sua dívida é favorável e o custo dos rendimentos mais altos só ficaria perigoso se sustentado por um período prolongado. Mas qualquer dúvida sobre a sustentabilidade da dívida da Itália poderia prejudicar a capacidade dos bancos italianos de se financiar. Isso poderia ser sentido muito mais cedo. Quando os rendimentos disparam, uma perda de confiança pode rapidamente passar a se alimentar sozinha. Conforme a experiência da Irlanda mostra, assim que um país perde a confiança do mercado, é quase impossível reconquistá-la.Para evitar tal resultado, os líderes da Itália precisam agir rapidamente e com ousadia. O pânico de segunda-feira concentrou as atenções e o pacote de austeridade proposto por Giulio Tremonti, o ministro das Finanças, está tramitando rapidamente no Parlamento. O programa está longe de perfeito. Ele vislumbra um aperto fiscal de € 45 bilhões - ainda assim, medidas avaliadas em € 15 bilhões exigirão legislação complementar. A maior parte do aperto restante não ocorrerá antes das próximas eleições gerais, em 2013. E o plano pouco faz para estimular a taxa de crescimento anêmica da ItáliCom os mercados nervosos, o Parlamento da Itália precisa aprovar o pacote de Tremonti sem atrasos. O governo precisa, em seguida, propor as leis complementares necessárias para a sua implementação o quanto antes. Como essa implementação poderá muito bem passar para o próximo Parlamento, é crucial que a oposição também apoie as medidas.No entanto, para convencer os mercados de que é confiável, a Itália precisa mais que apenas austeridade. Roma precisa enviar uma mensagem clara sobre as suas intenções. O ideal seria a remoção de Silvio Berlusconi, o primeiro-ministro, e sua substituição por um governo com um ampla base de apoio, liderado por um tecnocrata. A tentativa de Berlusconi, na semana passada, de inserir no pacote de austeridade uma medida que permitiria a uma empresa sua adiar um multa de € 560 milhões foi mais do que irresponsável. Sua disposição de colocar em risco a credibilidade fiscal do país para proteger a sua fortuna pessoal está abaixo de qualquer críticaSe, como parece provável, planejar a saída de Berlusconi está além do possível para a classe política da Itália, ela precisa encontrar outras maneiras de demonstrar sua determinação. A melhor estratégia seria complementar o esforço de austeridade de Tremonti com um programa de reformas estruturais radicais, elaborado para elevar a taxa de crescimento da economia italiana no longo prazo.Um lugar óbvio para começar é a falta de competição em várias atividades profissionais no país. Elas precisam ser liberalizadas. Infelizmente, uma tentativa de reformar a advocacia esta semana soçobrou aos interesses próprios dos advogados no Parlamento. Mas a postura estava certa e deveria ser repetida. Em segundo lugar, o rígido mercado de trabalho da Itália, que prejudica a produtividade italiana, precisa ser reformulado.Terceiro, o sistema legal pesado, que impõe custos enormes às companhias que o usam, precisa ser reorganizado. É uma desgraça que os esforços de Berlusconi nessa direção tenham sido quase que totalmente elaborados para a proteção de seus próprios e complicados interesses.As reformas estruturais inevitavelmente levarão tempo para surtir efeito e não serão populares. Mas se a Itália quiser reconquistar a confiança dos mercados, elas são indispensáveis. Num mundo ideal, Silvio Berlusconi, o errático primeiro-ministro do país, iria embora.
Nos EUA, mais um risco para a economia global
Nos EUA, mais um risco para a economia global
Os holofotes internacionais estão voltados para a Itália e demais atores do palco do euro, mas os Estados Unidos não estão em melhor situação. A maior economia do planeta está a cerca de 15 dias do prazo final para elevar seu limite de endividamento e ainda não há sinais de que o governo de Barack Obama chegará a um acordo com o Congresso. As agências de rating já ameaçam rebaixar a avaliação do país e, apesar de terem sua credibilidade profundamente arranhada na crise internacional, conseguem tumultuar os mercados. A taxa de desemprego voltou a aumentar e a política de afrouxamento da liquidez pode ser retomada.Nos últimos dias surgiu a proposta meia-sola do líder dos republicanos, senador Mitch McConnell, que pode evitar o calote americano. A ideia é permitir que o governo ganhe fôlego para cobrir as obrigações que vencem até o próximo ano, sem necessitar autorização do Congresso, desde que corte o orçamento em igual montante. Os primeiros números na mesa indicam que o teto do endividamento, atualmente de astronômicos US$ 14,3 trilhões, pode aumentar em US$ 2,4 trilhões. Apesar das questões constitucionais a serem superadas para que a proposta fique de pé, essa parece uma saída possível, já que está difícil um acordo entre o governo e a oposição a respeito de uma redução mais ampla de despesas. A linha dura americana, assim como a europeia, parece não ver quão próxima está do precipício.O pano de fundo são as difíceis condições da economia. Nos Estados Unidos, os esforços feitos para salvar os bancos e as montadoras e tentar reanimar os negócios levaram o déficit público de 2,7% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2007, antes da crise, para 12,7% no ano passado e ao redor de 11% atualmente. A dívida pública, que era equivalente a 62,2% do PIB, agora praticamente se iguala a ele. Até o Fundo Monetário Internacional (FMI) puxou as orelhas de Washington, como faria com um mercado emergente. No mais recente relatório de avaliação do país, o Fundo disse que a dívida americana é um risco para a economia global e que falta um plano de ajuste fiscal de médio prazo. Além disso, criticou o uso prolongado da política de injetar dinheiro no mercado para reanimar a economia. O afrouxamento quantitativo ("quantitative easing", ou QE) promovido pelo Federal Reserve (Fed, banco central americano) inundou o mundo de dólares. Com a compra de títulos em circulação, o Fed injetou US$ 2 trilhões na primeira etapa e US$ 600 bilhões na segunda, concluída em junho. Essas operações foram criticadas pelos emergentes como o Brasil não só por desvalorizar o dólar como também por originar um turbilhão de capital especulativo. Em busca de melhores retornos, esse capital se movimenta pelo mundo, contribuindo para apreciar a moeda dos países onde se aloja, como o real, e as commodities. O afrouxamento quantitativo parecia ter sido posto de lado na última reunião do Federal Open Market Committee (Fomc, o Copom americano), realizada em junho, quando apenas se decidiu manter no mesmo tamanho a carteira de US$ 2,6 trilhões em títulos que estão no balanço do Fed, reinvestindo os recursos apurados com as amortizações; e continuar com os juros no patamar estabelecido desde 2008, entre zero e 0,25%.Mas o presidente do Fed, Ben Bernanke, em pronunciamentos no Congresso americano, nesta semana, voltou a considerar a possibilidade de retomar as injeções de dinheiro e o eventual lançamento do QE3. A reação tímida da economia americana, que ressuscita o temor de um duplo mergulho, e a mudança do cenário global certamente estão por trás da revisão de estratégia. O próprio Fomc já reduziu a previsão de crescimento da economia americana neste ano de 3,1% a 3,3% para 2,7% a 2,9%. No primeiro trimestre, o crescimento anualizado foi de apenas 1,9%, desempenho inferior ao registrado em 2010, quando a economia cresceu 2,8%, e dos 3,5% projetados pelo mercado no início do ano.Um crescimento da economia inferior a 2% é insuficiente para absorver os jovens que entram anualmente no mercado de trabalho. Por isso, a taxa de desemprego, que chegou a recuar para 8,8% no início do ano, acaba de subir para 9,2%. O aumento do preço do petróleo e o terremoto no Japão tiveram impacto negativo na economia americana, no início do ano. Mas a turbulência na Europa também afeta os negócios. Sinal disso é que o Fed mudou seu discurso depois do acirramento da crise europeia nos últimos dias.
Os holofotes internacionais estão voltados para a Itália e demais atores do palco do euro, mas os Estados Unidos não estão em melhor situação. A maior economia do planeta está a cerca de 15 dias do prazo final para elevar seu limite de endividamento e ainda não há sinais de que o governo de Barack Obama chegará a um acordo com o Congresso. As agências de rating já ameaçam rebaixar a avaliação do país e, apesar de terem sua credibilidade profundamente arranhada na crise internacional, conseguem tumultuar os mercados. A taxa de desemprego voltou a aumentar e a política de afrouxamento da liquidez pode ser retomada.Nos últimos dias surgiu a proposta meia-sola do líder dos republicanos, senador Mitch McConnell, que pode evitar o calote americano. A ideia é permitir que o governo ganhe fôlego para cobrir as obrigações que vencem até o próximo ano, sem necessitar autorização do Congresso, desde que corte o orçamento em igual montante. Os primeiros números na mesa indicam que o teto do endividamento, atualmente de astronômicos US$ 14,3 trilhões, pode aumentar em US$ 2,4 trilhões. Apesar das questões constitucionais a serem superadas para que a proposta fique de pé, essa parece uma saída possível, já que está difícil um acordo entre o governo e a oposição a respeito de uma redução mais ampla de despesas. A linha dura americana, assim como a europeia, parece não ver quão próxima está do precipício.O pano de fundo são as difíceis condições da economia. Nos Estados Unidos, os esforços feitos para salvar os bancos e as montadoras e tentar reanimar os negócios levaram o déficit público de 2,7% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2007, antes da crise, para 12,7% no ano passado e ao redor de 11% atualmente. A dívida pública, que era equivalente a 62,2% do PIB, agora praticamente se iguala a ele. Até o Fundo Monetário Internacional (FMI) puxou as orelhas de Washington, como faria com um mercado emergente. No mais recente relatório de avaliação do país, o Fundo disse que a dívida americana é um risco para a economia global e que falta um plano de ajuste fiscal de médio prazo. Além disso, criticou o uso prolongado da política de injetar dinheiro no mercado para reanimar a economia. O afrouxamento quantitativo ("quantitative easing", ou QE) promovido pelo Federal Reserve (Fed, banco central americano) inundou o mundo de dólares. Com a compra de títulos em circulação, o Fed injetou US$ 2 trilhões na primeira etapa e US$ 600 bilhões na segunda, concluída em junho. Essas operações foram criticadas pelos emergentes como o Brasil não só por desvalorizar o dólar como também por originar um turbilhão de capital especulativo. Em busca de melhores retornos, esse capital se movimenta pelo mundo, contribuindo para apreciar a moeda dos países onde se aloja, como o real, e as commodities. O afrouxamento quantitativo parecia ter sido posto de lado na última reunião do Federal Open Market Committee (Fomc, o Copom americano), realizada em junho, quando apenas se decidiu manter no mesmo tamanho a carteira de US$ 2,6 trilhões em títulos que estão no balanço do Fed, reinvestindo os recursos apurados com as amortizações; e continuar com os juros no patamar estabelecido desde 2008, entre zero e 0,25%.Mas o presidente do Fed, Ben Bernanke, em pronunciamentos no Congresso americano, nesta semana, voltou a considerar a possibilidade de retomar as injeções de dinheiro e o eventual lançamento do QE3. A reação tímida da economia americana, que ressuscita o temor de um duplo mergulho, e a mudança do cenário global certamente estão por trás da revisão de estratégia. O próprio Fomc já reduziu a previsão de crescimento da economia americana neste ano de 3,1% a 3,3% para 2,7% a 2,9%. No primeiro trimestre, o crescimento anualizado foi de apenas 1,9%, desempenho inferior ao registrado em 2010, quando a economia cresceu 2,8%, e dos 3,5% projetados pelo mercado no início do ano.Um crescimento da economia inferior a 2% é insuficiente para absorver os jovens que entram anualmente no mercado de trabalho. Por isso, a taxa de desemprego, que chegou a recuar para 8,8% no início do ano, acaba de subir para 9,2%. O aumento do preço do petróleo e o terremoto no Japão tiveram impacto negativo na economia americana, no início do ano. Mas a turbulência na Europa também afeta os negócios. Sinal disso é que o Fed mudou seu discurso depois do acirramento da crise europeia nos últimos dias.
À espera do dia em que a China tomará café -
À espera do dia em que a China tomará café -
Café ainda espera pelo `efeito China` O velho sonho de todo produtor de café, de que cada chinês tome ao menos uma xícara da bebida por dia, ainda está longe de virar realidade. Ao contrário do que se pode avistar em quase todas as commodities, da soja ao petróleo, o efeito da demanda chinesa sobre esse mercado ainda beira a irrelevância. Nos últimos anos, foram os consumidores tradicionais - Europa, Estados Unidos e Japão - os grandes responsáveis pelo aumento nas exportações brasileiras da mercadoria, que bateram recorde na temporada 2010/11. De acordo com dados do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé), entre 2002 e 2010, os embarques domésticos cresceram 23% para a Alemanha, 34% para o Japão, 36% para a Itália, 95% para os EUA e 130% para a Bélgica. Juntos, esses países representaram mais de 60% das 33 milhões de sacas exportadas em 2010, participação idêntica à observada no início da série. Embora as exportações globais tenham crescido apenas 8% nesse período, o volume carregado nos portos brasileiros cresceu em quase 80%, aproveitando-se das lacunas abertas por Colômbia e países da América Central, tradicionais fornecedores de café de qualidade. Os embarques para a China praticamente dobraram entre 2002 e 2008, é verdade, mas ainda não passaram de 40 mil sacas, o que equivale a 0,1% das exportações totais ou a menos de um dia de consumo no Brasil. De acordo com o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), os chineses devem importar cerca de 675 mil sacas de café na safra 2011/12. Não há estatísticas confiáveis, mas fontes do setor estimam que o consumo naquele país não passe de 1 milhão de sacas. Muito pouco para o país que se tornou o grande motor da economia mundial."Sempre tive os pés no chão em relação à China. É um país muito grande, com uma forte tradição de chá, e vai levar algum tempo até se introduzirem os valores e modas ocidentais", afirma José Sette, diretor-executivo da Organização Internacional do Café (OIC). Segundo ele, o consumo naquele país ainda se concentra basicamente entre turistas e estrangeiros residentes.A barreira cultural ainda é forte, especialmente entre os mais velhos. Em 2005, a Cooxupé e a belga CPE Exibition abriram duas cafeterias em Xi'An, cidade com mais de 5 milhões de habitantes, com o objetivo de promover a bebida, mas o negócio não prosperou e fechou as portas menos de dois anos depois."Não tínhamos conhecimento suficiente sobre o mercado chinês e fizemos uma escolha equivocada. Xi'An ainda é uma cidade muito fechada, deveríamos ter ido logo para Pequim", explica Lúcio Dias, superintendente comercial da cooperativa. "Sou otimista em relação à China, mas esse é um namoro que vai demorar um pouco para fazer noivado". "Todo país que tem o hábito cultural de tomar chá acaba se adaptando ao café, como demonstra a experiência da Inglaterra e do Japão", observa Eduardo Carvalhaes, do Escritório Carvalhaes. A aposta é de que os jovens urbanos, frequentadores de bares e restaurantes, irão, aos poucos, introduzir a cultura do café também nos lares. A rede de cafeterias Starbucks, que desembarcou na China há 11 anos, pretende chegar a 2015 com mais de 1,5 mil lojas abertas no país. De olho nessa tendência, o diretor geral do Cecafé, Guilherme Braga, acredita que o consumo chinês pode chegar às 10 milhões de sacas anuais até o fim da década, superando o Japão. Mesmo assim, nada garante que o gigante asiático se tornará em um grande importador do Brasil. "Não se pode descartar que eles se tornem um produtor importante ou venham a estimular a produção nos países periféricos, como Vietnã, Indonésia, Laos e Tailândia", alerta.
Café ainda espera pelo `efeito China` O velho sonho de todo produtor de café, de que cada chinês tome ao menos uma xícara da bebida por dia, ainda está longe de virar realidade. Ao contrário do que se pode avistar em quase todas as commodities, da soja ao petróleo, o efeito da demanda chinesa sobre esse mercado ainda beira a irrelevância. Nos últimos anos, foram os consumidores tradicionais - Europa, Estados Unidos e Japão - os grandes responsáveis pelo aumento nas exportações brasileiras da mercadoria, que bateram recorde na temporada 2010/11. De acordo com dados do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé), entre 2002 e 2010, os embarques domésticos cresceram 23% para a Alemanha, 34% para o Japão, 36% para a Itália, 95% para os EUA e 130% para a Bélgica. Juntos, esses países representaram mais de 60% das 33 milhões de sacas exportadas em 2010, participação idêntica à observada no início da série. Embora as exportações globais tenham crescido apenas 8% nesse período, o volume carregado nos portos brasileiros cresceu em quase 80%, aproveitando-se das lacunas abertas por Colômbia e países da América Central, tradicionais fornecedores de café de qualidade. Os embarques para a China praticamente dobraram entre 2002 e 2008, é verdade, mas ainda não passaram de 40 mil sacas, o que equivale a 0,1% das exportações totais ou a menos de um dia de consumo no Brasil. De acordo com o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), os chineses devem importar cerca de 675 mil sacas de café na safra 2011/12. Não há estatísticas confiáveis, mas fontes do setor estimam que o consumo naquele país não passe de 1 milhão de sacas. Muito pouco para o país que se tornou o grande motor da economia mundial."Sempre tive os pés no chão em relação à China. É um país muito grande, com uma forte tradição de chá, e vai levar algum tempo até se introduzirem os valores e modas ocidentais", afirma José Sette, diretor-executivo da Organização Internacional do Café (OIC). Segundo ele, o consumo naquele país ainda se concentra basicamente entre turistas e estrangeiros residentes.A barreira cultural ainda é forte, especialmente entre os mais velhos. Em 2005, a Cooxupé e a belga CPE Exibition abriram duas cafeterias em Xi'An, cidade com mais de 5 milhões de habitantes, com o objetivo de promover a bebida, mas o negócio não prosperou e fechou as portas menos de dois anos depois."Não tínhamos conhecimento suficiente sobre o mercado chinês e fizemos uma escolha equivocada. Xi'An ainda é uma cidade muito fechada, deveríamos ter ido logo para Pequim", explica Lúcio Dias, superintendente comercial da cooperativa. "Sou otimista em relação à China, mas esse é um namoro que vai demorar um pouco para fazer noivado". "Todo país que tem o hábito cultural de tomar chá acaba se adaptando ao café, como demonstra a experiência da Inglaterra e do Japão", observa Eduardo Carvalhaes, do Escritório Carvalhaes. A aposta é de que os jovens urbanos, frequentadores de bares e restaurantes, irão, aos poucos, introduzir a cultura do café também nos lares. A rede de cafeterias Starbucks, que desembarcou na China há 11 anos, pretende chegar a 2015 com mais de 1,5 mil lojas abertas no país. De olho nessa tendência, o diretor geral do Cecafé, Guilherme Braga, acredita que o consumo chinês pode chegar às 10 milhões de sacas anuais até o fim da década, superando o Japão. Mesmo assim, nada garante que o gigante asiático se tornará em um grande importador do Brasil. "Não se pode descartar que eles se tornem um produtor importante ou venham a estimular a produção nos países periféricos, como Vietnã, Indonésia, Laos e Tailândia", alerta.
Cenário de importação de café continua a ser observado
Cenário de importação de café continua a ser observado
Ricardo Setti
País subdesenvolvido é, entre outras coisas, aquele que exporta matéria-prima e importa produtos industrializados — muitas vezes, produtos feitos com a própria matéria-prima que exportou, não é mesmo? O Brasil, felizmente, já deixou de ser subdesenvolvido, não é mesmo? Mas, não fosse séria, a gritaria da Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic) seria para rir: os industriais brasileiros estão chiando porque sobem vertiginosamente as importações brasileiras de… café. Bem, café processado, mas café, de que o país é o maior produtor do mundo. Só no primeiro semestre, as importações subiram 114% em relação ao primeiro semestre de 2010. O Brasil importa café processado, vejam vocês, principalmente de 3 países ricos que não produzem um só grão: Suíça, Grã-Bretanha e Itália. O pior é que esse café importado pelo país é, em boa parte, café… brasileiro. O rolo se explica: os três países europeus compram café do Brasil, da Colômbia, da Jamaica (produtora de cafés finíssimos) e de produtores africanos para misturá-lo em diferentes proporções, conforme a procedência, torrá-lo, moê-lo e processá-lo como artigo de luxo, de grife — e é assim que ele volta a “este país”. A chiadeira dos industriais brasileiros de café é inteiramente procedente. As indústrias do país dispõem de tecnologia de ponta e podem fazer produtos de altíssima qualidade, mas são impedidas por uma medida burocrática burra — para variar, o governo atrapalha quem quer trabalhar: elas são proibidas de importar cafés finos em grãos, para misturá-los com diferentes tipos de café brasileiros e transformá-los em produtos de grife, exportáveis e passíveis de gerarem divisas. É que os doutores do Ministério da Agricultura não fazem análise de “risco de praga” sobre o chamado café “verde”. Como não fazem, não deixam importar. A Abic diz que o café processado importado faz concorrência desleal com produtos brasileiros, e tem razão.
Ricardo Setti
País subdesenvolvido é, entre outras coisas, aquele que exporta matéria-prima e importa produtos industrializados — muitas vezes, produtos feitos com a própria matéria-prima que exportou, não é mesmo? O Brasil, felizmente, já deixou de ser subdesenvolvido, não é mesmo? Mas, não fosse séria, a gritaria da Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic) seria para rir: os industriais brasileiros estão chiando porque sobem vertiginosamente as importações brasileiras de… café. Bem, café processado, mas café, de que o país é o maior produtor do mundo. Só no primeiro semestre, as importações subiram 114% em relação ao primeiro semestre de 2010. O Brasil importa café processado, vejam vocês, principalmente de 3 países ricos que não produzem um só grão: Suíça, Grã-Bretanha e Itália. O pior é que esse café importado pelo país é, em boa parte, café… brasileiro. O rolo se explica: os três países europeus compram café do Brasil, da Colômbia, da Jamaica (produtora de cafés finíssimos) e de produtores africanos para misturá-lo em diferentes proporções, conforme a procedência, torrá-lo, moê-lo e processá-lo como artigo de luxo, de grife — e é assim que ele volta a “este país”. A chiadeira dos industriais brasileiros de café é inteiramente procedente. As indústrias do país dispõem de tecnologia de ponta e podem fazer produtos de altíssima qualidade, mas são impedidas por uma medida burocrática burra — para variar, o governo atrapalha quem quer trabalhar: elas são proibidas de importar cafés finos em grãos, para misturá-los com diferentes tipos de café brasileiros e transformá-los em produtos de grife, exportáveis e passíveis de gerarem divisas. É que os doutores do Ministério da Agricultura não fazem análise de “risco de praga” sobre o chamado café “verde”. Como não fazem, não deixam importar. A Abic diz que o café processado importado faz concorrência desleal com produtos brasileiros, e tem razão.
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