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sexta-feira, 15 de julho de 2011

QE3 - Bernanke recua, mas viciados querem liquidez

QE3 - Bernanke recua, mas viciados querem liquidez
Não foi bem isso o que eu disse. Isso resume bem o segundo dia de discursos do presidente do Federal Reserve (Fed), banco central americano, Ben Bernanke. Em nova audiência no Senado, o mandatário disse: "não estamos preparados, neste momento, para tomar novas medidas". A fala foi vista como um recuo da sinalização dada na quarta-feira de que novas ações para estimular a atividade estavam disponíveis. Aceno que levou o mercado a acreditar que a impressora de dólares seria ligada, liberando mais liquidez. Vale esclarecer que Bernanke não falou textualmente que iria tomar medidas, mas a mudança no seu discurso (o feito na quarta-feira), quando listou ações que poderiam ser tomadas, criou essa ideia entre os agentes de mercado.Bernanke diz não saber para onde vai a economia dos EUAOntem, no Senado, Bernanke voltou a afirmar que quer ver se, de fato, a economia toma fôlego no decorrer do semestre, conforme o cenário do próprio bc americano. "Não estamos propondo nada hoje", disse.Esse recuo também traz de volta a percepção dada pela ata do Fed, que saiu na terça-feira, de que não se sabe o que está acontecendo. Bernanke foi literal: "Não sabemos para onde a economia está indo". Colocação reconfortante.Nas praças de negociação, o recuo de Bernanke tirou ímpeto das bolsas de valores e deu algum fôlego ao dólar, mas nada muito exagerado. O Dollar Index, que mede o desempenho da divisa americana ante uma cesta de moedas, que tinha tombado mais de 1% na quarta, ganhou 0,32%, para 75,20 pontos.Avaliando esse quiproquó todo, o sócio da Teórica Investimentos, Rogério Freitas, aponta que o mercado está querendo ver mais uma rodada de estímulo. Não que isso seja crucial para a retomada da atividade, mas sim porque isso significa liquidez na veia."O surreal de tudo isso é que os afrouxamentos quantitativos já efetuados mostraram pouco impacto na economia real. As medidas pegaram, mesmo, o preço dos ativos financeiros", diz Freitas, lembrando que os efeitos secundários das injeções de liquidez do Fed são apenas o "efeito riqueza" e a melhora na confiança do consumidor via valorização do mercado de ações. Ainda de acordo com o especialista, a ideia que embasa a compra de títulos e juros próximos de zero é muito boa. O baixo custo do dinheiro levaria as empresas a tomar dívida para investir ou comprar concorrentes, estimulando, assim, a atividade. Se a empresa não vê futuro nessas duas opções, pode transformar caixa em maiores dividendos, devolvendo recursos aos acionistas, algo que de alguma forma viraria consumo.Segundo Freitas, é a primeira vez que tal modelo é colocado em prática. O especialista, lembra da carreira acadêmica de Bernanke, período no qual ele produziu estudos criticando a falta de ação do Japão durante sua crise nos anos 90. Bernanke escrevia que faltou expansão quantitativa ao Japão. Vemos que no atual caso americano não foi esse o problema. Mas Freitas nota que o resultado, por ora, não difere muito do japonês."O Fed está criando um sistema zumbi. Bancos que não emprestam, pois ainda estão cheios de títulos podres em carteira, baixo crescimento e baixa inflação. Não há uma solução dos problemas estruturais. Não se cria um ambiente para que as empresas acreditem na retomada, mesmo que no longo prazo. Por isso, não há geração de emprego", explica, apontando que esse ambiente de elevada liquidez é artificial.Para Freitas, a resposta monetária chegou ao seu limite. Só que o lado fiscal também está no limite. Os EUA têm uma dívida astronômica e um déficit de curto prazo que não pode ser resolvido, pois uma redução de gastos e aumento de impostos debilitariam ainda mais a economia.A saída, ainda na visão do especialista, é criar um ambiente favorável para o longo prazo. Os EUA poderiam propor um plano para seguir gastando, ou seja, estimular a economia pelo lado fiscal, que tradicionalmente gera mais demanda, mas com a promessa de um ajuste fiscal em prazo mais dilatado. Claro que esse modelo de resposta também tem seus custos. Freitas cita estudos que mostram como o excesso de endividamento reduz o tamanho do PIB (procurar por Carmen Reinhart e Kenneth Rogoff). No entanto essa parece ser a saída mais sensata no momento, ainda mais quando se tem um mercado viciado em liquidez e que não consegue enxergar além do bônus do trimestre. No front local, o câmbio segue no limbo. Não se amplia a venda, mas ninguém compra com consistência. Ontem, o dólar comercial teve leve alta de 0,25%, para R$ 1,578 na venda.

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