Cenário de importação de café continua a ser observado
Ricardo Setti
País subdesenvolvido é, entre outras coisas, aquele que exporta matéria-prima e importa produtos industrializados — muitas vezes, produtos feitos com a própria matéria-prima que exportou, não é mesmo? O Brasil, felizmente, já deixou de ser subdesenvolvido, não é mesmo? Mas, não fosse séria, a gritaria da Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic) seria para rir: os industriais brasileiros estão chiando porque sobem vertiginosamente as importações brasileiras de… café. Bem, café processado, mas café, de que o país é o maior produtor do mundo. Só no primeiro semestre, as importações subiram 114% em relação ao primeiro semestre de 2010. O Brasil importa café processado, vejam vocês, principalmente de 3 países ricos que não produzem um só grão: Suíça, Grã-Bretanha e Itália. O pior é que esse café importado pelo país é, em boa parte, café… brasileiro. O rolo se explica: os três países europeus compram café do Brasil, da Colômbia, da Jamaica (produtora de cafés finíssimos) e de produtores africanos para misturá-lo em diferentes proporções, conforme a procedência, torrá-lo, moê-lo e processá-lo como artigo de luxo, de grife — e é assim que ele volta a “este país”. A chiadeira dos industriais brasileiros de café é inteiramente procedente. As indústrias do país dispõem de tecnologia de ponta e podem fazer produtos de altíssima qualidade, mas são impedidas por uma medida burocrática burra — para variar, o governo atrapalha quem quer trabalhar: elas são proibidas de importar cafés finos em grãos, para misturá-los com diferentes tipos de café brasileiros e transformá-los em produtos de grife, exportáveis e passíveis de gerarem divisas. É que os doutores do Ministério da Agricultura não fazem análise de “risco de praga” sobre o chamado café “verde”. Como não fazem, não deixam importar. A Abic diz que o café processado importado faz concorrência desleal com produtos brasileiros, e tem razão.
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