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sexta-feira, 15 de julho de 2011

Só austeridade já não basta; país precisa de um plano radical de reformas

Desde que a crise da dívida soberana se abateu sobre a Europa, no segundo trimestre de 2010, o pesadelo que persegue as autoridades econômicas do continente é a possibilidade de a crise alcançar a Itália. Nas últimas semanas, as chances desse evento acontecer aumentaram dramaticamente. Se Roma quiser evitá-lo, medidas urgentes e decisivas são necessárias.Depois de uma pequena queda após o pânico de segunda-feira, os rendimentos dos títulos italianos voltaram a subir ontem. A Itália foi forçada a pagar 4,93%, o maior nível em três anos e um ponto porcentual a mais que há um mês, para vender títulos de cinco anos. Um leilão simultâneo de títulos de 15 anos foi o mais caro já registrado.O Estado italiano pode arcar por um tempo com o peso dos leilões caros. O perfil de vencimento de sua dívida é favorável e o custo dos rendimentos mais altos só ficaria perigoso se sustentado por um período prolongado. Mas qualquer dúvida sobre a sustentabilidade da dívida da Itália poderia prejudicar a capacidade dos bancos italianos de se financiar. Isso poderia ser sentido muito mais cedo. Quando os rendimentos disparam, uma perda de confiança pode rapidamente passar a se alimentar sozinha. Conforme a experiência da Irlanda mostra, assim que um país perde a confiança do mercado, é quase impossível reconquistá-la.Para evitar tal resultado, os líderes da Itália precisam agir rapidamente e com ousadia. O pânico de segunda-feira concentrou as atenções e o pacote de austeridade proposto por Giulio Tremonti, o ministro das Finanças, está tramitando rapidamente no Parlamento. O programa está longe de perfeito. Ele vislumbra um aperto fiscal de € 45 bilhões - ainda assim, medidas avaliadas em € 15 bilhões exigirão legislação complementar. A maior parte do aperto restante não ocorrerá antes das próximas eleições gerais, em 2013. E o plano pouco faz para estimular a taxa de crescimento anêmica da ItáliCom os mercados nervosos, o Parlamento da Itália precisa aprovar o pacote de Tremonti sem atrasos. O governo precisa, em seguida, propor as leis complementares necessárias para a sua implementação o quanto antes. Como essa implementação poderá muito bem passar para o próximo Parlamento, é crucial que a oposição também apoie as medidas.No entanto, para convencer os mercados de que é confiável, a Itália precisa mais que apenas austeridade. Roma precisa enviar uma mensagem clara sobre as suas intenções. O ideal seria a remoção de Silvio Berlusconi, o primeiro-ministro, e sua substituição por um governo com um ampla base de apoio, liderado por um tecnocrata. A tentativa de Berlusconi, na semana passada, de inserir no pacote de austeridade uma medida que permitiria a uma empresa sua adiar um multa de € 560 milhões foi mais do que irresponsável. Sua disposição de colocar em risco a credibilidade fiscal do país para proteger a sua fortuna pessoal está abaixo de qualquer críticaSe, como parece provável, planejar a saída de Berlusconi está além do possível para a classe política da Itália, ela precisa encontrar outras maneiras de demonstrar sua determinação. A melhor estratégia seria complementar o esforço de austeridade de Tremonti com um programa de reformas estruturais radicais, elaborado para elevar a taxa de crescimento da economia italiana no longo prazo.Um lugar óbvio para começar é a falta de competição em várias atividades profissionais no país. Elas precisam ser liberalizadas. Infelizmente, uma tentativa de reformar a advocacia esta semana soçobrou aos interesses próprios dos advogados no Parlamento. Mas a postura estava certa e deveria ser repetida. Em segundo lugar, o rígido mercado de trabalho da Itália, que prejudica a produtividade italiana, precisa ser reformulado.Terceiro, o sistema legal pesado, que impõe custos enormes às companhias que o usam, precisa ser reorganizado. É uma desgraça que os esforços de Berlusconi nessa direção tenham sido quase que totalmente elaborados para a proteção de seus próprios e complicados interesses.As reformas estruturais inevitavelmente levarão tempo para surtir efeito e não serão populares. Mas se a Itália quiser reconquistar a confiança dos mercados, elas são indispensáveis. Num mundo ideal, Silvio Berlusconi, o errático primeiro-ministro do país, iria embora.

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