Páginas

sexta-feira, 15 de julho de 2011

`Risco de ruptura da zona do euro não está descartado`

`Risco de ruptura da zona do euro não está descartado`
O risco de as autoridades europeias tomarem a "má direção" continua forte e podem levar à destruição da zona euro, diz Paul de Grauwe, professor de economia da Universidade de Louvain, na Bélgica, e especialista na moeda comum europeia. Para ele, no momento, as soluções possíveis seriam mais no sentido de superar a crise, como definir como funcionará o fundo de estabilização financeiro de ? 500 bilhões para socorrer os países em crise. Só mais tarde se voltaria à real discussão sobre a governança econômica na região. Valor: A crise da dívida causará a ruptura da zona euro ou vai acelerar mudanças?De Grauwe: É a questão chave. Os dois cenários são possíveis. O cenário catastrófico é a impossibilidade de as autoridades encontrarem uma solução para a questão da Grécia e aí o contágio será forte e o risco de implosão da zona euro é evidente. O outro cenário é de os governos se conscientizarem, enfim, da intensidade do problema, dos efeitos negativos e criarem o impulso para manter a coesão do sistema. Neste momento, há uma probabilidade que se tome a má direção e se leve à destruição do euro. Valor: Por que?De Grauwe: Veja, criamos o fundo de estabilização financeira para ajudar países em crise e não conseguimos nos entender sobre a maneira como ele deve funcionar. Se deve emitir obrigações ou não. Cada país mantém o direito de veto, ou seja, não se quer transferir soberania a esse fundo. É uma questão aparentemente impossível. O fundo é necessário, mas não suficiente. Se a Europa não consegue chegar em acordo numa questão relativamente secundária, como alcançar acordo mais substancial, por exemplo, de decidir ter um sistema de eurobônus, de consolidar uma parte da dívida nacional que seria emitida de maneira conjunta, com responsabilidade coletiva, e baixando a taxa de juro? Mas não vejo nenhuma visão sobre isso. Valor: Quais as propostas que o sr. considera mais sensatas para reformar a zona do euro?De Grauwe: É preciso reformar o fundo de estabilização, é preciso fazê-lo de tomar decisões por maioria, como no Fundo Monetário Internacional. No FMI, a Venezuela não pode vetar empréstimo a Portugal, por exemplo. Aqui também isso não deveria acontecer. Também é preciso reduzir a taxa de juro que esse fundo impõe no programa de financiamento. No programa para a Irlanda é a 300 pontos básicos sobre os títulos da Alemanha. Valor: Quais as vantagens dessas mudanças?De Grauwe: Se não vamos nessa direção, a zona euro desaparecerá. É a escolha que temos. Há quem não queira a zona euro. Vários economistas alemães pensam que seria melhor voltar ao marco alemão. A Alemanha, Holanda, Finlândia são muito rígidos e dominados pela ideia de que é preciso punir os países do sul porque eles pecaram. É uma atitude que não ajuda. É verdade que a Grécia fez coisas horríveis. Fraudou estatísticas, os governos mentiram e hoje não tem nenhuma confiança. Mas é preciso resolver a crise. Valor: O federalismo tem chance de avançar?De Grauwe: O federalismo transfere uma parte da soberania ao nível europeu, criaria uma espécie de Estados Unidos da Europa, com integração política. No cenário atual, não sei se tem possibilidades de avançar. A evidência mesmo é que fazer união monetária se não há união política claramente não funciona. Valor: No caso de ruptura da zona do euro, quais as consequências imediatas?De Grauwe: Se há realmente uma catástrofe, vai ter crise bancária na Europa, risco de implosão do sistema bancário. Basta ver o valor dos títulos públicos em poder dos bancos. E quando há crise bancária, há também crise econômica, e leva anos para haver recuperação. O impacto é também sobre a União Europeia como um todo, sem sua própria moeda e com grande depreciação das moedas nacionais, distorções no comércio internacional, aumento do protecionismo. Os efeitos são terríveis. Valor: Qual o impacto até agora da crise sobre as empresas europeias?De Grauwe: Os efeitos sobre as companhias estão limitados no momento, e são muito desiguais. Na Alemanha, nos países escandinavos, a economia vai bem, com taxa de crescimento respeitável. Já no Sul da Europa, é claro que a deterioração econômica afeta empresas, causa demissões, é o desastre.

Nenhum comentário:

Postar um comentário