Volatilidade afeta cafeicultura sustentável
O mineiro Robério Oliveira Silva, diretor-executivo da Organização Internacional do Café (OIC), com sede em Londres, assumiu o cargo há um ano com o desafio de "arrumar a casa" na entidade, que em 2013 completará 50 anos e realizará seu tradicional encontro anual no Brasil, em setembro.Silva vem tentando ampliar a captação de recursos para os projetos da entidade e trabalha na definição de bases para fomentar uma cafeicultura cada vez mais "sustentável", inclusive do ponto de vista econômico.Nesse contexto, a OIC tem na queda das cotações internacionais da commodity nos últimos meses um obstáculo de peso, e Silva é realista ao reconhecer os limites impostos por essa tendência principalmente em regiões nas quais os custos de produção são mais elevados.Em entrevista ao Valor durante o 20 Encontro Nacional das Indústrias de Café (Encafé), realizado em Mata de São João, na Bahia, na semana passada, ele falou sobre esse e outros desafios da OIC, criada sob o guarda-chuva da Organizações das Nações Unidas com a missão de mitigar as flutuações de preços do produto e que hoje é um foro de debates e desenvolvimento de projetos para o segmento. Valor: Atualmente há muitas informações desencontradas sobre o real quadro mundial de oferta e demanda do grão. Qual é a perspectiva da OIC sobre o mercado?Robério Silva: A perspectiva da OIC é técnica, não vai levar em conta a posição de qualquer agente do mercado. Nós nos baseamos nos dados que temos e eles mostram que há grande dinamismo no consumo e que os estoques estão em níveis confortáveis para a indústria [cerca de 20 milhões de sacas nos últimos três anos]. Não temos nenhuma modificação nos fundamentos do mercado, que continua bastante apertado. Qualquer movimentação pode dar uma reversão nos preços. Não temos uma bola de cristal para prever o comportamento de preços. Mas o mercado, nos níveis atuais, está perto de um ponto de afetar a sustentabilidade do setor. Valor: Isso pode desestimular a cafeicultura em países que já enfrentam problemas climáticos?Silva: Exatamente. Aqui no Brasil, a cafeicultura de montanha, que produz um café de excelente qualidade, está ameaçada. Valor: Qual é o cenário para o Brasil nesta conjuntura?Silva: Eu vejo o Brasil como o grande fornecedor de café do mundo e o país que traz a estabilidade aos fluxos de oferta. Valor: Qual o futuro da sustentabilidade e das certificações para o setor produtivo, levando-se em conta que a maior parte da produção global vem de pequenos produtores. Eles poderão arcar com os custos?Silva: Entre os aspectos positivos da certificação, está a adequação a processos modernos de gestão da lavoura. Mas, mesmo com custos mais elevados, os produtores não conseguem receber prêmios mais elevados. Essa equação tem de ser fechada em algum momento. E vai depender de um esforço conjunto da iniciativa privada e do governo no sentido de criar mecanismos próprios de certificação. No caso do Brasil, nós temos um excelente produto, que é o Certifica Minas. E a Embrapa está trabalhando em outros processos que podem viabilizar um tipo de certificação que garanta um nível mínimo de sustentabilidade, que é o da produção integrada. Valor: Quais são as características dessa produção integrada?Silva: A indústria global fez promessas de que só compraria café sustentável. Mas, para isso, terá de saber o que significa café sustentável. No Brasil, temos uma grande oferta de café sustentável, mas temos que ter mais investimentos. O governo está promovendo esses investimentos por meio da Embrapa. E há o Certifica Minas, que tem demanda para fazer parte de processos de certificações lá de fora. Valor: A tendência é que o Brasil continue a liderar o ranking mundial de fontes de café sustentável?Silva: Teremos também investimentos das grandes multinacionais. Elas se reuniram e criaram o Instituto de Desenvolvimento Sustentável [Idh]. Um dos países-foco da atuação deles é o Brasil. A questão é como o Idh vai se juntar ao governo ou entidades do setor privado para poder fazer isso. Porque não adianta eles chegarem e falarem: "nós queremos investir tanto". Não vai ser suficiente. Em termos de café sustentável, nós já fizemos investimentos muito significativos e vamos precisar fazer muito mais. Nós vamos precisar de mais dinheiro dessas parcerias. A principal sustentabilidade do setor que nós temos de buscar é um entendimento melhor sobre o que é o preço que leva o café a ser sustentável. Movimentos muito bruscos de preços, como nós tivemos, e uma volatilidade muito grande no mercado não ajudam na questão da sustentabilidade. Valor: Grandes multinacionais do segmento aumentam a concentração no mercado ao mesmo tempo em que surgem pequenas empresas. Essa tendência vai continuar?Silva: A OIC não tem papel ativo sobre o mercado, mas temos um papel de análise. Existe esta tendência natural de as multinacionais estarem conscientes da sustentabilidade e as pequenas empresas estarem conquistando cada vez mais espaço nas prateleiras de lojas especializadas. E acho que elas vieram para ficar, competindo em mercados diferentes: um mercado de cafés especiais e um mercado de varejo bem aberto às multinacionais. Valor: E o andamento dos projetos da OIC para o segmento?Silva: Temos US$ 105 milhões para projetos voltados à elevação da qualidade do café e à formação de instituições e gerenciamento de riscos, entre outros planos, em países em desenvolvimento. O dinheiro vem do Fundo Comum de Produtos Básicos, formado por diversos países. Valor: Qual o principal legado da OIC para a cafeicultura mundial?Silva: Acho que o legado dos últimos 50 anos da OIC foi trazer estabilidade para o setor. O que nós queremos é trazer informações corretas a respeito do que se passa no mercado e que os agentes tomem as decisões corretas. E, com relação à participação de outros agentes do mercado, eu acho que é bem-vinda à medida em que trazem mais liquidez ao mercado. A questão é que o mercado de café, do ponto de vista financeiro, é pequeno, e há o risco dessa "financeirização" dos mercados de commodities em geral ultrapassar os limites. Valor: E como será a reunião da OIC no Brasil em 2013?Silva: Esse assunto está sendo coordenado, em Brasília, pelo Ministério da Agricultura, e em Minas Gerais, pela Secretaria de Agricultura. Eu creio que será um evento que trará ao Brasil todos os grandes atores do setor. A intenção é trazer os grandes players do mercado, as multinacionais, os traders e colocá-los juntos em busca de soluções. A jornalista viajou a convite da Abic
segunda-feira, 3 de dezembro de 2012
Qual a origem da crise na zona do euro?
Qual a origem da crise na zona do euro?
A crise na zona do euro tem sido amplamente tratada pela imprensa como uma crise fiscal, que levou países como Grécia, Irlanda e Portugal a serem submetidos aos programas de resgate da troica para evitar a insolvência e outros, como Espanha e Itália, a pagar retornos elevadíssimos aos investidores para financiar a dívida, além de recorrer à ajuda para recapitalização do sistema financeiro.Chama atenção, todavia, que a situação fiscal dos países do sul da Europa - os mais afetados pela crise - era bastante controlada até 2008, quando explodiu a crise americana. A reversão desse controle evidencia outro desequilíbrio, o do balanço de pagamentos.Sabidamente, o norte europeu - especialmente a Alemanha - sempre exibiu grandes superávits em conta corrente, ao contrário do sul. Considerando que o câmbio é o mesmo na zona do euro, mas que há diferenças de competitividade (custos de trabalho, produtividade), o efeito é de um euro "forte" no norte e "fraco" no sul, para onde migraram os fluxos. Somados à enorme liquidez internacional, tais fluxos foram utilizados para financiar o consumo interno e um boom imobiliário, ao invés de investimentos produtivos, causando desequilíbrios nas contas correntes e nos fluxos de capitais, o que depois culminou na desordem fiscal.Então, a origem da crise é fiscal ou de balanços de pagamentos?O Valor fez essa pergunta a cinco especialistas europeus, sendo dois economistas de mercado financeiro (UBS e BNP Paribas, ambos em Londres) e três acadêmicos (IMD Business School, na Suíça; IESE, na Espanha; e London School of Economics, na Inglaterra). De maneira geral, todos os entrevistados veem os dois fatores como explicativos da crise, com mais ou menos peso para cada um, com simultaneidade ou não de ocorrência. Como ponto comum, admitem que a falta de uma união fiscal e bancária torna a união monetária incompleta e vulnerável.Abaixo as posições de cada um dos analistas ouvidos pelo Valor:Paul Donovan, economista global do UBS Investment Bank "Acreditamos que a origem da crise da zona do euro reside no fato de que o euro não funciona como uma união monetária. Isso significa que essa é, simultaneamente, uma crise fiscal e uma crise de balanço de pagamentos. A natureza inapropriada da política monetária comum e a ausência de uma política fiscal comum forçaram os governos individuais a fazer políticas fiscais anticíclicas por períodos longos para compensar os estragos de uma união monetária erroneamente criada. De modo similar, a natureza da política monetária permitiu que muitas economias mantivessem déficits em conta corrente maiores que os devidos por longos períodos. A ausência de uma união bancária apropriada na zona do euro levou esses déficits a serem financiados desproporcionalmente por fluxos de capitais internacionais voláteis, os quais secaram logo após a crise de 2008."Ricardo Santos, economista do BNP Paribas para a Europa"Essa é uma crise de balanço de pagamentos que obviamente tem duas ramificações, o setor privado e o setor público, sendo o ramo fiscal o que mais se destacou nos últimos anos - principalmente na Grécia e em Portugal. Na Irlanda e na Espanha, a crise é mais de balanço de pagamentos. Os governos desses países estão em piores condições porque tiveram que ajudar seus respectivos sistemas financeiros durante a crise de 2008. Na Grécia e em Portugal, a crise é quase 100% um problema simultaneamente fiscal e de balanço de pagamentos. Vemos que não se trata apenas do comportamento das contas correntes, mas também do comportamento do crédito, que subiu muito mais na Irlanda e na Espanha, levando a um aumento no preço dos ativos, como o preço das casas, e fez com que os países tivessem que intervir para ajudar seus bancos. Quando observamos a evolução da crise da zona do euro, vemos que todos os países que agora estão com dificuldades são justamente aqueles com os maiores déficits em conta corrente como porcentagem do PIB. Portugal e Grécia têm problemas fiscais, mas não podemos esquecer que há um país com problemas acima de tudo fiscais e grandes questões em termos de conta corrente, que é a Itália."José Manuel González-Páramo, professor de economia do IESE (Universidade de Navarra) e ex-membro do BCE"O melhor predecessor para a crise em alguns países europeus é a posição líquida internacional. Aqueles países com maior investimento líquido negativo acumulado são, precisamente, os que estão sofrendo mais atualmente. Em diversos casos, a persistente necessidade de incentivar os mercados internacionais deveu-se essencialmente a uma enorme expansão do endividamento privado, frente a uma economia superaquecida vivenciando perdas de competitividade. Esses são os casos da Espanha e da Irlanda, países nos quais as contas do setor público estavam balanceadas e os níveis da dívida do setor público eram relativamente baixos. Em outros, como na Grécia, os desequilíbrios do setor público agravaram o problema. Em contraste, países com déficits ou dívidas públicas relativamente altos nos anos antecedentes à crise americana de 2008 estão atravessando a crise, de certa forma, bem. Com a ausência de mecanismos de absorção de choques - como um orçamento federal ao nível da União Europeia, mecanismos de seguridade financeira e flexibilidade nominal na taxa de câmbio -, os países que têm grande necessidade de refinanciamento estão sofrendo com a saída repentina dos investidores."Charles Goodhart, professor da London School of Economics e ex-membro do Banco da Inglaterra (BoE)"O que estava acontecendo é que países como a Irlanda e a Espanha e, em menor grau, Portugal, estavam mantendo déficits em conta corrente muito altos. Os resultados deficitários foram causados pelo enfraquecimento dos fluxos de capitais, os quais haviam sido afetados pelo boom financeiro e de investimentos - primeiro pelo boom de investimentos no setor imobiliário. Isso significa que as dívidas do setor privado da Irlanda e da Espanha estavam aumentando rapidamente, em particular o endividamento dos bancos. Depois, ficou óbvio que o setor imobiliário estava passando por dificuldades e houve contaminação através da percepção do que estava ocorrendo nos EUA. Os fluxos de capitais dos bancos simplesmente secaram e houve uma queda brusca no investimento, no preço dos imóveis, na riqueza desses países e no consumo. Esses fluxos de capitais foram substituídos por arranjos de transferências bancárias Tier 2 no continente, promovidos pelo BCE. O problema, contudo, era reestabelecer a competitividade que se perdeu durante o boom dos investimentos e, ao mesmo tempo, o equilíbrio nas contas correntes, evitando um déficit ou até mesmo perseguindo um superávit. A crise da zona do euro se tornou uma crise fiscal porque o endividamento dos bancos nesses países se tornou tão severo que o setor público foi obrigado a recapitalizar os bancos, enfraquecendo a posição fiscal dos governos a tal ponto que o desequilíbrio na conta corrente virou uma crise bancária, fiscal e de balanço de pagamentos."Salvatore Cantale, professor de finanças do IMD Business School"Acredito que a atual crise europeia não pode ser atribuída a apenas uma causa. As duas explicações levantadas - a imprudência fiscal e a crise de balanço de pagamentos - estão corretas, mas elas dificilmente são a causa do problema do euro. A segunda explicação, sobre o balanço de pagamentos, fez com que o problema fosse notado mais cedo, e a primeira, a imprudência fiscal, é apenas a ponta do iceberg. O real problema do euro é o euro. A falsa sensação de segurança de que 'estar em um navio grande reduz o risco de naufrágio' deu aos governos e cidadãos na zona do euro a possibilidade de financiar atividades populistas em vez da criação de valor [gastos correntes x investimentos]. Uma vez que as economias europeias não precisavam mais lidar com a desvalorização da moeda, porque estavam dentro do euro, o monitoramento contínuo do mercado de câmbio deixou de ser possível."
A crise na zona do euro tem sido amplamente tratada pela imprensa como uma crise fiscal, que levou países como Grécia, Irlanda e Portugal a serem submetidos aos programas de resgate da troica para evitar a insolvência e outros, como Espanha e Itália, a pagar retornos elevadíssimos aos investidores para financiar a dívida, além de recorrer à ajuda para recapitalização do sistema financeiro.Chama atenção, todavia, que a situação fiscal dos países do sul da Europa - os mais afetados pela crise - era bastante controlada até 2008, quando explodiu a crise americana. A reversão desse controle evidencia outro desequilíbrio, o do balanço de pagamentos.Sabidamente, o norte europeu - especialmente a Alemanha - sempre exibiu grandes superávits em conta corrente, ao contrário do sul. Considerando que o câmbio é o mesmo na zona do euro, mas que há diferenças de competitividade (custos de trabalho, produtividade), o efeito é de um euro "forte" no norte e "fraco" no sul, para onde migraram os fluxos. Somados à enorme liquidez internacional, tais fluxos foram utilizados para financiar o consumo interno e um boom imobiliário, ao invés de investimentos produtivos, causando desequilíbrios nas contas correntes e nos fluxos de capitais, o que depois culminou na desordem fiscal.Então, a origem da crise é fiscal ou de balanços de pagamentos?O Valor fez essa pergunta a cinco especialistas europeus, sendo dois economistas de mercado financeiro (UBS e BNP Paribas, ambos em Londres) e três acadêmicos (IMD Business School, na Suíça; IESE, na Espanha; e London School of Economics, na Inglaterra). De maneira geral, todos os entrevistados veem os dois fatores como explicativos da crise, com mais ou menos peso para cada um, com simultaneidade ou não de ocorrência. Como ponto comum, admitem que a falta de uma união fiscal e bancária torna a união monetária incompleta e vulnerável.Abaixo as posições de cada um dos analistas ouvidos pelo Valor:Paul Donovan, economista global do UBS Investment Bank "Acreditamos que a origem da crise da zona do euro reside no fato de que o euro não funciona como uma união monetária. Isso significa que essa é, simultaneamente, uma crise fiscal e uma crise de balanço de pagamentos. A natureza inapropriada da política monetária comum e a ausência de uma política fiscal comum forçaram os governos individuais a fazer políticas fiscais anticíclicas por períodos longos para compensar os estragos de uma união monetária erroneamente criada. De modo similar, a natureza da política monetária permitiu que muitas economias mantivessem déficits em conta corrente maiores que os devidos por longos períodos. A ausência de uma união bancária apropriada na zona do euro levou esses déficits a serem financiados desproporcionalmente por fluxos de capitais internacionais voláteis, os quais secaram logo após a crise de 2008."Ricardo Santos, economista do BNP Paribas para a Europa"Essa é uma crise de balanço de pagamentos que obviamente tem duas ramificações, o setor privado e o setor público, sendo o ramo fiscal o que mais se destacou nos últimos anos - principalmente na Grécia e em Portugal. Na Irlanda e na Espanha, a crise é mais de balanço de pagamentos. Os governos desses países estão em piores condições porque tiveram que ajudar seus respectivos sistemas financeiros durante a crise de 2008. Na Grécia e em Portugal, a crise é quase 100% um problema simultaneamente fiscal e de balanço de pagamentos. Vemos que não se trata apenas do comportamento das contas correntes, mas também do comportamento do crédito, que subiu muito mais na Irlanda e na Espanha, levando a um aumento no preço dos ativos, como o preço das casas, e fez com que os países tivessem que intervir para ajudar seus bancos. Quando observamos a evolução da crise da zona do euro, vemos que todos os países que agora estão com dificuldades são justamente aqueles com os maiores déficits em conta corrente como porcentagem do PIB. Portugal e Grécia têm problemas fiscais, mas não podemos esquecer que há um país com problemas acima de tudo fiscais e grandes questões em termos de conta corrente, que é a Itália."José Manuel González-Páramo, professor de economia do IESE (Universidade de Navarra) e ex-membro do BCE"O melhor predecessor para a crise em alguns países europeus é a posição líquida internacional. Aqueles países com maior investimento líquido negativo acumulado são, precisamente, os que estão sofrendo mais atualmente. Em diversos casos, a persistente necessidade de incentivar os mercados internacionais deveu-se essencialmente a uma enorme expansão do endividamento privado, frente a uma economia superaquecida vivenciando perdas de competitividade. Esses são os casos da Espanha e da Irlanda, países nos quais as contas do setor público estavam balanceadas e os níveis da dívida do setor público eram relativamente baixos. Em outros, como na Grécia, os desequilíbrios do setor público agravaram o problema. Em contraste, países com déficits ou dívidas públicas relativamente altos nos anos antecedentes à crise americana de 2008 estão atravessando a crise, de certa forma, bem. Com a ausência de mecanismos de absorção de choques - como um orçamento federal ao nível da União Europeia, mecanismos de seguridade financeira e flexibilidade nominal na taxa de câmbio -, os países que têm grande necessidade de refinanciamento estão sofrendo com a saída repentina dos investidores."Charles Goodhart, professor da London School of Economics e ex-membro do Banco da Inglaterra (BoE)"O que estava acontecendo é que países como a Irlanda e a Espanha e, em menor grau, Portugal, estavam mantendo déficits em conta corrente muito altos. Os resultados deficitários foram causados pelo enfraquecimento dos fluxos de capitais, os quais haviam sido afetados pelo boom financeiro e de investimentos - primeiro pelo boom de investimentos no setor imobiliário. Isso significa que as dívidas do setor privado da Irlanda e da Espanha estavam aumentando rapidamente, em particular o endividamento dos bancos. Depois, ficou óbvio que o setor imobiliário estava passando por dificuldades e houve contaminação através da percepção do que estava ocorrendo nos EUA. Os fluxos de capitais dos bancos simplesmente secaram e houve uma queda brusca no investimento, no preço dos imóveis, na riqueza desses países e no consumo. Esses fluxos de capitais foram substituídos por arranjos de transferências bancárias Tier 2 no continente, promovidos pelo BCE. O problema, contudo, era reestabelecer a competitividade que se perdeu durante o boom dos investimentos e, ao mesmo tempo, o equilíbrio nas contas correntes, evitando um déficit ou até mesmo perseguindo um superávit. A crise da zona do euro se tornou uma crise fiscal porque o endividamento dos bancos nesses países se tornou tão severo que o setor público foi obrigado a recapitalizar os bancos, enfraquecendo a posição fiscal dos governos a tal ponto que o desequilíbrio na conta corrente virou uma crise bancária, fiscal e de balanço de pagamentos."Salvatore Cantale, professor de finanças do IMD Business School"Acredito que a atual crise europeia não pode ser atribuída a apenas uma causa. As duas explicações levantadas - a imprudência fiscal e a crise de balanço de pagamentos - estão corretas, mas elas dificilmente são a causa do problema do euro. A segunda explicação, sobre o balanço de pagamentos, fez com que o problema fosse notado mais cedo, e a primeira, a imprudência fiscal, é apenas a ponta do iceberg. O real problema do euro é o euro. A falsa sensação de segurança de que 'estar em um navio grande reduz o risco de naufrágio' deu aos governos e cidadãos na zona do euro a possibilidade de financiar atividades populistas em vez da criação de valor [gastos correntes x investimentos]. Uma vez que as economias europeias não precisavam mais lidar com a desvalorização da moeda, porque estavam dentro do euro, o monitoramento contínuo do mercado de câmbio deixou de ser possível."
Dólar inicia semana no maior preço desde 2009
Dólar inicia semana no maior preço desde 2009
Dezembro começa com o dólar acima dos R$ 2,13, maior cotação desde maio de 2009, com o mercado prevendo novas altas na esteira da indefinição sobre o orçamento do governo americano em 2013 e da lenta recuperação econômica brasileira. A disparada da moeda americana ocorreu sem atuação do Banco Central, ao contrário do que ocorreu dia 23 de novembro, quando a autoridade monetária conteve a apreciação quando a divisa se aproximou de R$ 2,12.Na sexta-feira, o dólar subiu 1,62%, maior alta desde junho, a R$ 2,131, cotação mais elevada desde 5 de maio de 2009. A expectativa entre operadores é que a moeda permaneça se valorizando nesta semana - uma queda viria apenas com intervenções do BC na ponta de venda."O PIB veio ruim e o mercado já fala em dólar a R$ 2,15. Está fácil puxar para cima. Só o BC entrando para segurar isso", disse André Ferreira, diretor da Futura Corretora. Para ele, nesta semana a situação será pior, uma vez que o prazo para resolução do "abismo fiscal" americano se reduz.O economista de um banco estrangeiro disse que após muitos investidores terem de cobrir as apostas em uma Ptax mais baixa - na tradicional briga entre comprados e vendidos em derivativos cambiais cujos contratos para dezembro vencem hoje - a ideia de um dólar a R$ 2,40 no ano que vem "começa a soar muito mais interessante".A alta do dólar se tornou perigosa, disse Tony Volpon, diretor-executivo e chefe de pesquisas para América Latina da Nomura Securities. Ele acredita que o dólar ainda deve subir mais no curto e médio prazos. Essa alta, porém, precisaria ocorrer de forma controlada, aos poucos, disse o executivo. "Ajustes abruptos acabam gerando mais incerteza e menos crescimento."Já no mercado de juros o PIB do terceiro trimestre praticamente extinguiu a aposta em um aumento da Selic no ano que vem, enquanto cresceu o grupo de quem espera manutenção e até dos que admitem novo corte no custo do dinheiro. Para o estrategista para América Latina do BNP Paribas, Diego Donadio, o mercado considera agora que uma mudança na rota dos juros seria de queda da taxa, e não mais de alta. "Diante da postura do governo de fazer todo o possível para gerar crescimento, não tem como os agentes descartarem um novo corte de juros."Para profissionais, se não houver sinais claros de que a economia avança mais em dezembro, vão crescer as apostas em novo corte da Selic em 2013. "Não acho que o juro cai na primeira reunião do Copom. O governo não deve dar o braço a torcer tão cedo. Mas pode acontecer na segunda ou terceira, caso a economia continue patinando", disse Octavio Vaz, sócio da Aquila Asset Management.
Dezembro começa com o dólar acima dos R$ 2,13, maior cotação desde maio de 2009, com o mercado prevendo novas altas na esteira da indefinição sobre o orçamento do governo americano em 2013 e da lenta recuperação econômica brasileira. A disparada da moeda americana ocorreu sem atuação do Banco Central, ao contrário do que ocorreu dia 23 de novembro, quando a autoridade monetária conteve a apreciação quando a divisa se aproximou de R$ 2,12.Na sexta-feira, o dólar subiu 1,62%, maior alta desde junho, a R$ 2,131, cotação mais elevada desde 5 de maio de 2009. A expectativa entre operadores é que a moeda permaneça se valorizando nesta semana - uma queda viria apenas com intervenções do BC na ponta de venda."O PIB veio ruim e o mercado já fala em dólar a R$ 2,15. Está fácil puxar para cima. Só o BC entrando para segurar isso", disse André Ferreira, diretor da Futura Corretora. Para ele, nesta semana a situação será pior, uma vez que o prazo para resolução do "abismo fiscal" americano se reduz.O economista de um banco estrangeiro disse que após muitos investidores terem de cobrir as apostas em uma Ptax mais baixa - na tradicional briga entre comprados e vendidos em derivativos cambiais cujos contratos para dezembro vencem hoje - a ideia de um dólar a R$ 2,40 no ano que vem "começa a soar muito mais interessante".A alta do dólar se tornou perigosa, disse Tony Volpon, diretor-executivo e chefe de pesquisas para América Latina da Nomura Securities. Ele acredita que o dólar ainda deve subir mais no curto e médio prazos. Essa alta, porém, precisaria ocorrer de forma controlada, aos poucos, disse o executivo. "Ajustes abruptos acabam gerando mais incerteza e menos crescimento."Já no mercado de juros o PIB do terceiro trimestre praticamente extinguiu a aposta em um aumento da Selic no ano que vem, enquanto cresceu o grupo de quem espera manutenção e até dos que admitem novo corte no custo do dinheiro. Para o estrategista para América Latina do BNP Paribas, Diego Donadio, o mercado considera agora que uma mudança na rota dos juros seria de queda da taxa, e não mais de alta. "Diante da postura do governo de fazer todo o possível para gerar crescimento, não tem como os agentes descartarem um novo corte de juros."Para profissionais, se não houver sinais claros de que a economia avança mais em dezembro, vão crescer as apostas em novo corte da Selic em 2013. "Não acho que o juro cai na primeira reunião do Copom. O governo não deve dar o braço a torcer tão cedo. Mas pode acontecer na segunda ou terceira, caso a economia continue patinando", disse Octavio Vaz, sócio da Aquila Asset Management.
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