por Luciana Franco | Globo Rural
\"Do ponto de vista tecnológico e de produtividade, a agricultura brasileira é um sucesso absoluto\", afirma Guedes
Em outubro, Luis Carlos Guedes Pinto comemorou 45 de carreira. Formado pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), ele se destacou tanto na carreira acadêmica, tendo atuado como pró-reitor de desenvolvimento universitário da Unicamp, como na área publica, onde ocupou diversos cargos importantes, entre os quais se destacam o de presidente da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) e o de Ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.
Amplo conhecedor do agronegócio brasileiro, Guedes – que está hoje à frente da carteira agrícola do Banco do Brasil – entende que os mecanismos de apoio à agricultura podem ser modernizados de maneira a reduzir os riscos dos investimentos. A seguir, leia um trecho adicional da entrevista publicada com o executivo na edição de novembro da revista Globo Rural.
Globo Rural – Existe uma chance real de o clima seco prejudicar o desenvolvimento das lavouras durante a safra de verão?
Luis Carlos Guedes Pinto – Em geral o fenômeno “La Nina” atinge o oeste do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina, alguma parte do Mato Grosso do Sul, um pouquinho do oeste do Paraná e marginalmente São Paulo. A ultima grande crise na agricultura brasileira aconteceu entre 2004 e 2006. No ano agrícola 2004/2005 houve uma seca muito grande. Eu me lembro, pois eu era presidente da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). A nossa expectativa era de colher 132 milhões de toneladas até dezembro de 2004 e foram colhidas 113 milhões, então houve uma queda de 19 milhões de toneladas, que se refletiu em redução da renda dos produtores. Além disso, naquele ano agrícola o agricultor começou a safra com o dólar cotado a 2,65 reais e quando ele foi vender, o dólar estava 2,10 reais. Então ele comprou insumos com o dólar alto e vendeu a produção com o dólar baixo. Além disso, os preços no mercado mundial estavam baixos e houve um grande ataque de ferrugem da soja, o que elevou ainda mais os custos de produção. Então essa conjugação de fatores provocou a uma grande crise, que inclusive levou a essa renegociação que se fala muito. Depois no período 2005/2006, isso se repetiu em menor escala. A seca não foi tão grave e o dólar continuou caindo. Portanto, a gente não pode saber agora o impacto que a seca vai causar.
GR – E as dívidas do setor são muito altas?
Guedes – Frequentemente as pessoas jogam tudo na mesma conta. Mas o fato é que o produtor rural, além dos recursos próprios pra financiar seus custos, vai ao sistema financeiro, às tradings, e às revendedoras. Então ele tem uma parte da dívida com revendedores, outra com tradings, e também uma parte de dívida corrente, como, por exemplo, quando se financia uma colheitadeira em 8 anos. É necessário destrinchar estes valores. No Brasil, a renegociação da dívida não decorreu somente da crise de 2004 que eu mencionei, mas sim de situações que aconteceram na década de 1990, como o Plano Collor e até mesmo o Real. Alguns destes planos corrigiam as dívidas por índices diferentes dos que corrigiam o ativo do produtor e houve também um problema sério do câmbio, quando o real chegou a valer mais que o dólar. Isso afetou diretamente a cafeicultura, por exemplo. Temos crises em diferentes regiões, que somadas à situação que aconteceu entre 2004 e 2006, levou a uma grande renegociação em setembro de 2008, no montante R$ 75 bilhões.
GR – A agricultura brasileira é considerada moderna?
Guedes – Do ponto de vista tecnológico e de produtividade, a agricultura brasileira é um sucesso absoluto. Nos últimos 20 anos, tivemos um aumento de 25% na área cultivada com grãos e aumento de 172% na produção. O Brasil há 20 anos era importador de carne e de leite. Hoje é o maior exportador de carne do mundo, de açúcar, de álcool, de suco de laranja, de fumo, de café, de soja e grande exportador de algodão. A agricultura brasileira é uma das mais modernas do mundo, mas os instrumentos da política agrícola não acompanharam. Olhe só que numero impressionante. No ano que me formei, 1965, eram exportadas 16 milhões de sacas de café, e este produto representava 50% das exportações brasileiras. Hoje a gente exporta o dobro e o café responde por apenas 2% das exportações brasileiras. É um avanço da agricultura e do Brasil e foram dois vetores que possibilitaram este avanço: a tecnologia e o crédito rural.
CONFIRA A ENTREVISTA COMPLETA NA EDIÇÃO DE NOVEMBRO DA REVISTA GLOBO RURAL
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