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quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Chega de dólar e vamos de real

Sincal - Chega de dólar e vamos de real.




Os cafeicultores estão sendo marginalizados e oprimidos dentro da cadeia do agronegócio café, onde nos tornamos reféns dos diversos elos que coordenam esse segmento. Criaram, com o passar dos tempos, uma sistemática administrativa do agronegócio café onde o cafeicultor deveria ser o protagonista das ações, mas passou a ser um mero coadjuvante inexpressivo. Gostaríamos de lembrar aos exportadores, aos comerciantes, ABIC, ABICS, cooperativas de café, principalmente alguma ou outra que não passa de mero exportador, mas, a grande maioria das Cooperativas tem cumprido o papel cooperativista a contento, as Credis, aos agentes financeiros e ao próprio Governo que tudo isso desaparecerá se prevalecer esse anacronismo em detrimento ao setor produtivo que realmente vem “pagando o pato” e segurando todos os prejuízos e o subdesenvolvimento imposto pelo conluio citado.

Basta verificar o IDH dos municípios produtores de café que foram exauridos de suas riquezas pela exportação de café nos últimos anos num verdadeiro desfiladeiro de dumping e transferência de riquezas para os países importadores, normalmente riquíssimos e do primeiro mundo, na retórica de ganho de markt share. Hoje, exportamos praticamente 32 milhões de sacas de café/ano. A CECAFÉ coloca esses números como algo triunfal na imprensa falada e escrita, mas não colocam que esse recorde de exportação está trazendo recorde de prejuízo aos cafeicultores. Nos últimos treze anos exportamos 336 Milhões de sacas de café sendo 280 Milhões de café arábica, 36 Milhões de sacas como solúvel e 21 Milhões de sacas de robusta/conillon. Calculamos mês a mês e ano a ano e, perdemos em média U$40,00 (quarenta dólares) a saca, aproximadamente R$100,00 a saca. Com isso somente no arábica perdemos R$ 28 (Vinte e Oito Bilhões) por vender abaixo dos preços médios da bolsa de Nova York e dos nossos principais concorrentes. Verdadeiro dumping. A retórica dos nossos comerciantes/exportadores baseia-se na qualidade do nosso café perante os concorrentes o que não podemos concordar, pois, o nosso slogan para os cafés Brasileiros é, “O Brasil possui cafés para todos os gostos e sabores”, portanto, temos cafés de excelentes qualidades e vendemos de qualquer jeito, sem marketing, na pura estratégia de volume em detrimento aos altíssimos prejuízos aos cafeicultores como mencionado.


Sabemos pelas regras básicas de marketing que a pior das estratégias é ganhar mercado vendendo barato e, que isso leva qualquer atividade ao extermínio econômico.

Senhores cafeicultores, a ganância e o imediatismo dos demais elos da cadeia nos colocaram a mercê da servidão econômica. Agora fazemos as seguintes perguntas baseadas no exposto:


1) Os comerciantes de café no Brasil, inclusive as cooperativas estão perdendo dinheiro?


2) Os bancos, que já providenciaram uma cadeira cativa nas agencias para um grande número de cafeicultores, estão tendo prejuízos?

3) Os exportadores estão com prejuízos?

4) Os importadores estão com prejuízos?

5) Os torrefadores internacionais que fazem um faturamento entre 5 a 20 vezes o valor de uma saca de café, estão com prejuízos?

6) Os atacadistas e comerciantes de café industrializados estão apertados?

7) O governo que está tranquilo e colocando todos os impostos, leis ambientais, leis trabalhistas escorchantes e perseguitivas e, sabendo que os cafeicultores seguram o maior número de empregos numa única atividade econômica sendo os recordistas empregatícios. O governo está perdendo dinheiro?

8) Por final, sobra ao cafeicultor segurar praticamente sozinho todos esses elos mencionados da pergunta um até a sétima. Pagamos R$ 28 bilhões pela troca do nosso “ouro por espelhinho” como é feito o nosso negócio de café.

Portanto, precisamos quebrar todos os paradigmas do agronegócio café, onde os cafeicultores são os responsáveis pelo agro e os demais elos pelo negócio e o dinheiro, deixando aos cafeicultores a escravidão imposta pelo conluio. Essa será a tarefa cruel da SINCAL que veio disposta a lutar em prol dos cafeicultores.

Começaremos sugerindo ao Governo Brasileiro, se tiverem coragem de enfrentar o conluio, de fixar nossas exportações em REAL (R$)/saca baseado num preço de custo real com uma margem de 30% aos cafeicultores, segundo o estatuto da terra, que ainda é muito pequena pela atividade totalmente de risco imposta as condições climáticas, atividade totalmente ao relento contando somente com a proteção divina.

Fazer as cotações em REAL (R$) e na BM&F de São Paulo, nas bases mencionadas, deixando Nova York que não produz uma saca de café. Já passou da hora de “desmamarmos os bezerrões e soltá-los ao pasto”. Não é possível o Brasil sendo o maior produtor, o maior exportador e a caminho de ser o maior consumidor de café do mundo, ficar condicionado ao contrato “C” (Colombiano), Colômbia que produz em média 25% do Brasil. Essa paridade Dólar Real e essa política cambial está matando a nossa cafeicultura. O dólar está decadente e o real cada vez mais forte e, todos os indicativos mostram o fortalecimento do real e, o governo não demonstra a mínima vontade de mudar essa política cambial. Os cafeicultores pagam tudo em real e vendem seu café na base do dólar. Isso é covardia. Vamos fixar em real como proposto. No inicio poderá ter algum impacto, mas, o mundo não poderá ficar sem o nosso café e em poucas semanas estarão correndo para o Brasil e pagar como precisamos. Assim, teremos um “jogo” limpo e desembaraçado de tantos artifícios de dumping e outras maracutais desconhecidas.

O REAL (R$) foi à moeda que praticamente mais valorizou esse ano perante a uma cesta de moedas fortes internacionalmente como segue;

a) O Real (R$) subiu 34,4% esse ano perante o Dólar Americano;

b) O Real (R$) foi apreciado em 49,35% em relação ao Peso Argentino;

c) O Real (R$) a alta foi de 29% perante o EURO:

d) O Real (R$) valorizou 33,7% perante ao Yene do Japão;

e) O Real (R$) cresceu em 22,3% perante a Libra Inglesa.

Fonte: Banco Central do Brasil.


Senhores cafeicultores, vejam que lástima. Estamos fazendo “guarda-chuva” para nossos concorrentes somente com o efeito da valorização do REAL (R$).

Se tivéssemos a mesma paridade do Real/Dólar de dezembro passado, para os dias atuais, estaríamos vendendo café à praticamente R$400,00 a saca e, hoje estamos vendendo a R$ 260,00 a saca. Mais uma vez cabe ao cafeicultor, somente sozinho, pagar pelo ônus dessa paridade cruel do Dólar/Real, pois, para os demais segmentos prevalece o negócio e nós cafeicultores continuamos com o agro.

Portanto, chega de dólar e vamos de REAL.



Armando Matielli – Eng. Agrônomo, MBA na FGV
Cafeicultor em Guapé/MG
Sindicalista e Presidente Executivo da SINCAL