Páginas

quarta-feira, 13 de julho de 2011

Ministros da UE já admitem default grego

Ministros da UE já admitem default grego
Os ministros das finanças da zona do euro diminuíram sua oposição a um possível default de dívida da Grécia, para acomodar as exigências alemãs e holandesas de que os credores privados devem arcar com parte do ônus de qualquer novo pacote de socorro financeiro para o país.A admissão de um possível default grego representa um ponto de virada nas tentativas da União Europeia de resolver a crise. Ela surgiu após dois dias de reuniões em Bruxelas, e vai contra a posição do Banco Central Europeu (BCE), que teme que tal ocorrência possa desencadear novas turbulências nos mercados financeiros e espalhar o contágio para outros membros da zona do euro.Mesmo assim, ela parece ter desbloqueado uma discussão contenciosa que vinha impedindo os países do bloco de chegar a um acordo sobre um novo e mais amplo pacote de ajuda à Grécia e de confrontar a crise mais ampla da zona do euro.As expectativas de que tal acordo estava tomando forma foram reforçadas depois que Herman Van Rompuy, o presidente do Conselho Europeu, começou a fazer preparativos para reunir os líderes europeus em Bruxelas nesta sexta-feira, para um encontro de emergência. Vários diplomatas alertaram que as convocações foram apressadas e de que ainda não está claro se um consenso emergente poderá se transformar em um acordo legal consistente num prazo de tempo tão curto."O principal é que a sustentabilidade da Grécia precisa ser melhorada", disse Wolfgang Schauble, o ministro das Finanças da Alemanha, depois da reunião de ontem. A participação do setor privado nesse esforço, acrescentou ele, é "incerta".Os ministros das finanças vêm lutando há semanas para conciliar as exigências da Alemanha, Holanda e Finlândia de um envolvimento substancial do setor privado em qualquer novo socorro - uma condição que eles acreditam ser essencial para obter apoio político doméstico -, contra a percepção crescente de que tal estratégia provavelmente desencadearia um default.Quando se reuniram em Luxemburgo, no fim do mês passado, os ministros concordaram que evitar "um evento de crédito" ou um "default seletivo" continuaria sendo a maior prioridade. Mesmo assim, num comunicado emitido na noite de segunda-feira, eles não mencionaram o assunto, removendo um impedimento a um possível acordo."Conseguimos desatar o nó", disse Jan Kees de Jager, o ministro das Finanças da Holanda, que se queixou em uma conferência telefônica realizada no fim de semana, que prioridades concorrentes não poderiam ser resolvidas.Mesmo assim, durante a reunião de ontem, Jean-Claude Trichet, o presidente do BCE, teria mantido sua oposição extrema à inclusão dos detentores de bônus em um socorro. Diplomatas europeus também admitiram que há uma inquietação geral com a crescente possibilidade de um calote grego - mesmo que ele venha a seletivo e tenha uma vida curta. Um dos principais problemas, disseram eles, é como conter a reação a tal evento.Enquanto isso, o ministro das Finanças da Grécia também mencionou pela primeira vez a possibilidade de um default seletivo. Evangelos Venizelos disse na noite de ontem em Atenas: "O default seletivo não é um evento de fato, é uma avaliação [pelas agências de classificação de risco]". Mas ele acrescentou: "Não devemos transformar uma percepção em realidade, em uma profecia que vai se cumprir".Em troca da concessão, a Alemanha foi forçada a abrandar duas de suas exigências mais persistentes para a resolução da crise: a primeira é sua oposição ao uso de recursos do fundo de socorro financeiro temporário de ? 440 bilhões de euros da zona do euro, para recomprar bônus de governos-membros com problemas. Defensores dessa estratégia afirmam que ela poderia ajudar a eliminar uma parcela considerável da dívida grega em circulação, deixando uma carga mais sustentável e eventualmente permitindo ao país retomar o crescimento econômico. Isso poderia ser alcançado sem mudanças nos estatutos do fundo, conhecidos como linha de estabilidade financeira europeia (EFSF na sigla em inglês), o que exigiria a aprovação dos parlamentos nacionais. Em vez disso, a Grécia e outros recebedores de empréstimos da EFSF poderiam usar esses recursos para preparar eles mesmos as recompras.A Alemanha também foi convencida a reduzir as taxas de juros e estender os prazos de vencimento dos empréstimos da Grécia e outros países que estão recebendo ajuda. Antes, Berlim insistia que essas taxas deveriam ser mantidas suficientemente altas para dissuadir governos perdulários de buscar socorros fáceis.O governo alemão ainda espera que - além das recompras de bônus - um swap de bônus possa ser parte de um acordo maior para aliviar a dívida da Grécia. Um importante banqueiro alemão, Martin Blassing, do Commerzbank, delineou uma visão desse plano. O Commerzbank é controlado em 25% pelo governo alemão e é o maior detentor de bônus gregos do setor privado do país, com uma exposição de ? 2,9 bilhões.

Déficit comercial sobe e deve afetar PIB dos EUA

Déficit comercial sobe e deve afetar PIB dos EUA
O déficit comercial dos EUA teve um forte aumento em maio, atingindo o seu maior nível em quase três anos. Os principais fatores que contribuíram para o resultado foram a alta do preço do petróleo, que ajudou a importação a quase bater o recorde histórico, e uma leve queda nas exportações.O dado deve fazer com que as projeções de crescimento do PIB americano para este ano sejam revistas para baixo.De acordo com relatório divulgado ontem pelo Departamento do Comércio americano, o déficit apresentou um aumento de 15% em relação a abril e atingiu US$ 50,2 bilhões, o mais alto nível desde outubro de 2008. As importações cresceram 2,6%, totalizando US$ 225,1 bilhões. Já as exportações somaram US$ 174,9 bilhões.Apesar do déficit maior do que o esperado, o nível elevado das exportações e a melhora nas compras de bens de capital mostram que a hesitante economia americana ainda dá sinais positivos."A melhor notícia, de uma perspectiva de crescimento futuro, é o crescimento anualizado de 36,1% nas importações de bens de capital em termos reais, o que corrobora as encomendas mais fortes de bens de capital no relatório de bens duráveis", disseram John Ryding e Conrad de Quadros, da RDQ Economics. "Se a economia estivesse verdadeiramente indo na direção de uma recaída, duvidamos que as empresas estariam aumentando os investimentos dessa maneira."Uma queda de 9,5% do dólar nos últimos 12 meses em relação a uma cesta de moedas dos maiores parceiros comerciais dos EUA deve manter em bom patamar as vendas a países como China e Brasil. "O cenário amplo é: as exportações continuarão a aumentar, enquanto as importações crescerão mais lentamente porque estamos ganhando algum alívio na conta do petróleo importado", disse Stuart Hoffman, economista-chefe do PNC Financial Services.Veja os dados no site www.census.gov

Dívida de países desenvolvidos cresce 25% em três anos

Dívida de países desenvolvidos cresce 25% em três anos
A dívida pública em países desenvolvidos aumentou 25% em apenas três anos, no rastro da deterioração causada pela pior crise econômica e financeira dos últimos tempos, passando de 77% do PIB em 2007 para 104% no ano passado.Agora, o Deutsche Bank projeta dois cenários: em caso de gradual aperto fiscal, o estoque da dívida pública dos desenvolvidos subirá para 126% do PIB até 2020, o que já é preocupante. Mas se não houver mudanças nas políticas, a taxa vai superar os 150%, no que chama de "alarmante".Também no caso de crescimento econômico menor do que o previsto ou taxas de juros mais altas, o endividamento público poderá ser mais forte do que o projetado. No cenário otimista, com crescimento econômico elevado, finanças públicas mais sólidas, taxas de juros baixas, a dívida pública cairá muito gradualmente e ainda será equivalente a 100% do PIB, bem além do nível de antes da crise global iniciada em 2007.O banco alemão constata que as políticas fiscais se tornaram insustentáveis não apenas na periferia da Europa, mas em vários países com grandes economias. E para voltar a um nível de estabilização, é necessário forte apoio político, que parece faltar no momento.Enquanto a Irlanda, Portugal, Grécia e Espanha têm sido pressionados duramente pelos mercados a começar uma drástica consolidação fiscal, outros avançados como Estados Unidos e Japão continuam com políticas fiscais amplamente expansionistas, apesar do tamanho de suas dívidas.Nos Estados Unidos, as contas fiscais em 2010 registraram déficit de mais de 10%. O estoque da dívida passou de 62% em 2007 para 100% do PIB no final deste ano. E poderá pular para 134% até 2020 se as autoridades americanas não se entenderem sobre um programa de consolidação para os próximos anos, conforme o banco alemão.Apesar de estarem apertando os cintos, os periféricos da Europa vão continuar se endividando. No caso da Grécia, a dívida pública poderá pular para 174% do PIB e só então se estabilizar.A expectativa é de que o endividamento público diminuía ligeiramente na Alemanha, na Itália - atualmente sob ataque do mercado -, e em países como Suíça, Suécia, Dinamarca, Bélgica e AustráliaO cenário confirma uma enorme batalha futura por captação de recursos no mercado internacional, e provavelmente com o dinheiro custando ainda mais caro. Os desenvolvidos precisarão de trilhões de dólares do mercado. Os emergentes, que atualmente sofrem com o excessivo fluxo de capitais, poderão estar então em outra situação

Ata do Fed traz dúvidas sobre novos estímulos

Ata do Fed traz dúvidas sobre novos estímulos
Os formuladores de política econômica do Federal Reserve (Fed) não chegaram a um acordo se haverá necessidade de mais estímulos à economia, mesmo se a perspectiva de crescimento permanecer fraca, segundo a ata da reunião do Comitê de Política Monetária, realizada em junho.Segundo o documento, alguns membros notaram que, dependendo da evolução das condições econômicas, o comitê terá de considerar a adoção de mais estímulos monetários. Outros integrantes viram, porém, riscos na inflação crescente, sugerindo que as condições econômicas podem evoluir de tal forma que alertem o comitê "a dar passos para remover o estágio de acomodação da política [monetária] mais cedo do que se previa." Os formuladores de política econômica reduziram suas projeções para o crescimento neste ano, antes de um relatório do governo, datado de 8 de julho, mostrar um aumento da oferta de empregos em junho no menor nível em nove meses. O presidente do Fed, Ben Bernanke, em entrevista recente, afirmou que o crescimento resultaria em uma elevação dos subsídios aos preços de energia, mas deixou a porta aberta para estímulos adicionais.A ata mostrou os diretores do Fed divididos sobre o que fazer se a economia piorar, reticentes de que haja mais munição para conter o desaquecimento. "Alguns participantes expressaram dúvidas sobre a eficácia da política monetária nas atuais circunstâncias."Alguns membros do Fomc "viram a recente configuração de baixo crescimento e alta da inflação e sugeriram que há pouco o que fazer com o mercado de trabalho." O Fomc concordou, pela segunda vez, em completar o programa de recompra de títulos de US$ 600 bilhões.

Da Itália aos EUA: realidade x utopia

Da Itália aos EUA: realidade x utopia
A crise fiscal está aportando no litoral italiano. Nos EUA, o governo declara que ficará sem verbas no início do próximo mês se o teto da dívida não for elevado. Os europeus menos do que os americanos acreditam que inadimplência do setor público é benéfica. Mas europeus importantes compartilham com os republicanos a visão de que há desfechos ainda piores. Para europeus relutantes, a zona do euro não deve ser uma "união baseada em transferências". Para republicanos recalcitrantes, impostos não devem ser aumentados. "Fiat justitia, et pereat mundus" - faça-se a coisa certa, ainda que o mundo pereça - é o lema.A crise fiscal que vemos é um legado de farras de endividamento dos setores público e privado ocidentais nas últimas décadas. Como nos diz o McKinsey Global Institute* em uma atualização do estudo do ano passado sobre o período que se seguiu à bolha de crédito, este é um estágio inicial de um doloroso processo de desalavancagem em diversas economias. "Se a história pode nos servir de guia", diz o relatório de 2010, "devemos esperar muitos anos de redução da dívida em setores específicos de algumas das maiores economias do mundo, e esse processo freará significativamente o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB)". É o que está ocorrendo, com insatisfações em quase toda parte.O vínculo entre as dívidas dos setores público e privado é íntimo. Em alguns países, especialmente a Grécia, o crédito fácil resultou em um aumento do endividamento do setor público. Em outros, especialmente na Itália, esse crédito incentivou os governos a relaxar seu foco em redução da dívida - seu orçamento fiscal primário (antes do pagamento de juros) passou de um excedente de 6% do PIB em 1997, antes de ingressar na união monetária, para 0,6% em 2005. Em outros países, o fim repentino de expansões aceleradas de crédito do setor privado resultou diretamente no colapso das receitas públicas e em surtos nos gastos públicos: os EUA, Reino Unido, Espanha e Irlanda são exemplos disso.As explosões dos déficits fiscais são predominantemente resultado de colapsos na atividade econômica e nas receitas do que de socorro a bancos. Mas a fragilidade fiscal, por seu turno, debilita os bancos, em parte porque estes detêm grandes montantes de dívida pública interna e em parte porque dependem de apoio fiscal. Os setores público e privado estão imbricados. A visão dos falcões republicanos nos EUA e de falcões alemães ou holandeses na Europa, segundo a qual crise tem raiz apenas fiscal é errônea. Crédito fácil acaba em crises fiscais.As evidências, nos EUA, são notáveis. Compare as previsões para os anos fiscais 2010, 2011 e 2012 nos orçamentos presidenciais de 2008 e 2012, o primeiro no governo de George W. Bush, pouco antes da crise, e o segundo no mandato de Barack Obama bem depois dela. Em 2008, o déficit para 2011 foi previsto em meros US$ 54 bilhões (0,3% do PIB). Mas no orçamento de 2012, a previsão foi equivalente a US$ 1,645 trilhão (10,9% do PIB). 58% desse aumento deveu-se à receitas inesperadamente baixas e apenas 42% decorreram de um aumento nos gastos, sendo essas duas mudanças devidas principalmente à crise financeira, e não ao modesto pacote de estímulo (cerca de 6% do PIB).Não é que o enfrentamento da posição fiscal americana seja urgente. Em um período de desalavancagem do setor privado, isso seria útil. Os EUA têm condições de tomar emprestado sob termos fáceis, estando os rendimentos dos títulos com maturação em dez anos próximos de 3%, como alguns não histéricos previam. O problema fiscal é de longo prazo, não imediato. A decisão de não permitir que o governo tome dinheiro emprestado para financiar os programas que o Congresso já chancelou seria insana. Como argumentou o especialista fiscal Bruce Bartlett, a lei que exige aprovação do Congresso para um endividamento adicional pode até ser inconstitucional.No entanto, muitos dos republicanos contrários ao aumento do limite de endividamento americano desejam um calote da dívida. Ou não têm ideia de quão profundo seria o choque, para a economia e a sociedade de seu país, de um repúdio da dívida legalmente contratada por seu Estado, ou se enquadram na categoria de revolucionários utópicos, que ignoram todas as consequências. Na Europa, felizmente, ninguém acredita que calotes sejam bons. Mas a Europa está atada a seu próprio projeto utópico: a moeda única. Assim como os membros do Tea Party odeiam pagar impostos por aqueles que consideram indignos, assim, também, os europeus solventes odeiam transferências aos que consideram irresponsáveis.Infelizmente, como há muito tempo muita gente previu, o que, na ausência da união monetária teria sido uma crise cambial pura e simples, já se transformou, dadas as limitações impostas pela moeda única, em torturante crise fiscal e financeira. Pior, ainda: os spreads dos títulos espanhóis e italianos de dez anos em relação aos "bunds" alemães chegaram a 328 e 296 pontos base, respectivamente.Em economias de crescimento lento, com taxas de câmbio real sobrevalorizadas, esses spreads começam a ficar perigosos. Se eles chegarem a, digamos, 400 pontos base, e assim permaneceram, a taxa de juros real sobre a dívida de longo prazo seria de 5%. Esses países seriam, então, lentamente deslocados de um bom equilíbrio, com uma dívida administrável, para um mau equilíbrio, com uma dívida quase incontrolável. A Itália, com a quarta maior dívida pública do mundo, é provavelmente demasiado grande para ser salva: os próprios italianos devem tomar as decisões decisivas necessárias para restaurar a credibilidade fiscal. Isso, por sua vez, requer tanto um aperto substancial como medidas para incrementar a taxa de crescimento. Será possível administrar esse mix? Apenas com dificuldade, é a resposta.Estes são tempos perigosos. Os EUA podem estar à beira de cometer um dos maiores e menos necessários erros financeiros na história mundial. A zona do euro pode estar à beira de uma crise fiscal e financeira que não apenas destruirá a solvência de importantes países como até mesmo a união monetária e, na pior das hipóteses, grande parte do projeto europeu. Estes tempos exigem sabedoria e coragem dos responsáveis por nossos problemas. Nos EUA, os utopistas de direita estão tentando destruir o Estado que emergiu da década de 1930 e da Segunda Guerra Mundial. Na Europa, os políticos estão lidando com o legado de um projeto utópico que exige um grau de solidariedade que seus povos não sentem. Qual será o desfecho desses confrontos entre utopia e realidade? No fim de agosto, quando retornar de minhas férias, poderemos conhecer ao menos algumas das respostas. * Debt and Deleveraging (update) Dívida e desalavancagem (atualização): www.mckinsey.com/mgi Martin Wolf é editor e principal comentarista econômico do FT

Crise mundial e ausência de precaução

Crise mundial e ausência de precaução
Uma crise financeira mundial pode ser considerada um câncer cujas metástases se manifestam por muito tempo, se não for estirpado o núcleo e suas infiltrações. O presidente Lula considerou-a, inicialmente, produtora de simples "marolinha" no Atlântico Sul. Posteriormente, foi obrigado a levá-la a sério, porém tão logo o Federal Reserve (Fed, banco central americano) socorreu o sistema bancário americano, assumiu que o câncer havia sido debelado. A presidente Dilma parece ter a mesma postura e o Brasil continua sem salvaguardas (sequer são discutidas) contra as metástases. Na zona do euro, a doença progride de forma inexorável. Irlanda, Grécia e Portugal já foram indicados para uma "Unidade de Tratamento Intensivo (UTI)". A progressão já ameaçou a Espanha e, agora, a Itália parece estar sendo atingida. Toda a Europa está amedrontada e perplexa em relação ao modo de enfrentar a crise; França, Alemanha e Grã Bretanha apresentam propostas pouco convergentes. No Brasil, persiste uma euforia quase ininteligível. Sofremos com a crise e, apesar da recuperação parcial, não conseguimos sequer igualar-nos ao desempenho da Argentina, que cresceu mais que o Brasil. Cada vez mais assumimos a configuração econômica de país exportador de alimentos e matérias primas. Ressurgiu o discurso de "Brasil celeiro do mundo", que se nutrirá exportando alimentos para saciar a fome do mundo. Essa autodenominação é retórica, pois existem milhões de famílias brasileiras com fome e péssima qualidade de vida. O Brasil deveria se preocupar, em primeiro lugar, com a boa alimentação dos brasileiros. Seria uma medida elementar restaurar o imposto de exportação sobre alimentos; com esse imposto, poderíamos desfrutar dos altos preços internacionais e praticar internamente preços em real menores, favorecendo os consumidores nacionais. Hoje, 80% da população é urbana e compra alimentos referenciados a taxa cambial do dólar. O governo brasileiro não tem mais estoques reguladores de suprimento interno de alimentos; quem deles dispõe são empresas que, quando monopólicas, desfrutam de vantagens excessivas. Aliás, essa é a razão do Banco Central praticar a política de juros elevados, pois dessa forma atrai capitais especulativos do exterior e valoriza o real. A curto prazo, na âncora cambial repousa a política anti-inflacionária. A valorização sustentada do real reduz o preço dos produtos importados e evita (na ausência do imposto de exportação) o encarecimento excessivo dos produtos brasileiros exportados. É extremamente perversa a repercussão da hipervalorização do real sobre a atividade econômica interna. Empresas que dominam fatias de mercado e que, antes, produziam internamente, passam a importar produtos do exterior. Há destruição de elos das cadeias produtivas, e de empregos. De vagões ferroviários até lápis e borracha escolar, são hoje milhares de produtos importados que o Brasil produzia e domina a tecnologia. Há um silêncio sobre o s custos, a longo prazo, desse padrão de política anti-inflacionária. As reservas internacionais brasileiras crescem, porém o Banco Central (BC), gestor dessas reservas, as constitui emitindo Títulos de dívida do Tesouro. O povo brasileiro paga a taxa Selic por essa dívida e o BC recebe uma ínfima remuneração da reserva que aplica em papéis do Tesouro americano. Esse é um buraco sem fundo, que recolhe impostos e paga juros. Parcela significativa dos impostos e contribuições se alimentam do superávit primário e, sendo insuficientes, engendram novas emissões de títulos de dívida do Tesouro brasileiro. Em tempo: são mantidas as indexações das principais tarifas de serviços públicos e, indiretamente, via sistema bancário, há uma proteção (pelo menos parcial) do caixa das empresas. Os bancos remuneram os depósitos à vista com parcela dos juros que recebem dos Títulos de dívida pública.Simultaneamente a essa "política anti-inflacionária", que mutila o investimento público e orienta as empresas para especulações financeiras, as famílias são induzidas a se endividarem a longo prazo não para comprar a moradia, mas com eletrodomésticos, móveis, veículos, etc. Em uma economia pouco dinâmica, que admite a destruição de empregos e sacrifica o crescimento econômico em nome da estabilização, o endividamento familiar cria uma perigosa bolha cuja manifestação mais evidente é a inadimplência das famílias. Em junho o recorde na taxa de inadimplência reproduziu o cenário de nove anos atrás. A crescente inadimplência familiar é, em curto prazo, o efeito combinado da alta da taxa de juros com a elevação do IOF. Em longo prazo, a estagnação e o medíocre crescimento continuarão a produzir inadimplência e assistiremos a consolidação de duas tendências inquietantes: pela primeira, nossa juventude sem esperança lança seu olhar para o resto do mundo e emigra; pela segunda, uns poucos grupos brasileiros bem sucedidos passarão a adquirir empresas em outros países. A defesa do nível de atividade da economia, mediante um modelo "Casas Bahia", não é sustentável a longo prazo. Após um longo período, em que a frota de veículos cresceu 9% ao ano e foi implantado o congestionamento como padrão urbano brasileiro, com elevação de acidentes rodoviários, no momento os pátios das montadoras estão lotados e serão concedidas férias coletivas. É difícil imaginar o Brasil exportando crescentemente veículos; é visível o aumento de carros importados do exterior. É assustadora a ausência de discussão sobre salvaguardas e sobre a retomada de um padrão de desenvolvimento nacional que gere empregos e renda para os jovens. Carlos Francisco Theodoro Machado Ribeiro de Lessa é professor emérito de economia brasileira e ex-reitor da UFRJ. Foi presidente do BNDES

Em dia fraco, café tem novo registro de perdas na ICE Futures

Em dia fraco, café tem novo registro de perdas na ICE Futures
Os contratos futuros de café arábica negociados na ICE Futures US encerraram esta terça-feira com quedas, numa continuidade das vendas especulativas e de fundos iniciadas no final da semana passada. Ao longo de todo o dia, a posição setembro, que conta com a maior liquidez da bolsa nova-iorquina neste momento, flutuou dentro do intervalo de 250,00 centavos, numa sessão caracterizada pelo volume exíguo de negócios. Pela manhã, com a continuidade de notícias negativas sobre mercados externos, as perdas foram mais intensas. No entanto, no decorrer do dia, algumas commodities tiveram uma reação positiva e as bolsas nos Estados Unidos passaram a ter valorização. Tal fato não foi suficiente para que o café em Nova Iorque invertesse a tendência, mas as perdas finais do dia foram apenas moderadas. No after-hours, as perdas tiveram uma redução ainda maior e os preços se aproximaram da estabilidade. O índice CRB, fortemente afetado pelo clima negativo observado na segunda-feira, teve um dia de recuperação e fechou com ganho de mais de 1%. Por sua vez, o dólar demonstrou estabilidade, o que também contribuiu para afetar ainda mais o humor dos mercados de commodities. Fundamentalmente, o mercado se mostrou sem novidades. O anúncio da safra mundial de café por parte da Organização Internacional do Café já há muito vem sendo assimilado pelo mercado. Por sua vez, o clima no Brasil, que vinha apresentando constantes ameaças de novas temporadas de frio teve uma inversão de quadro. Os dias em boa parte das zonas cafeeiras têm sido quentes e secos, o que apenas colabora para que a colheita continue a ser desenvolvida com celeridade. No encerramento do dia, o setembro em Nova Iorque teve perda de 120 pontos com 257,85 centavos, sendo a máxima em 258,85 e a mínima em 254,55 centavos por libra, com o dezembro registrando oscilação negativa de 105 pontos, com a libra a 261,80 centavos, sendo a máxima em 262,85 e a mínima em 258,80 centavos por libra. Na Euronext/Liffe, em Londres, a posição setembro registrou baixa de 63 dólares, com 2.291 dólares por tonelada, com o novembro tendo retração de 63 dólares, com 2.319 dólares por tonelada. De acordo com analistas internacionais, o dia foi de ligeira melhora no humor de mercados externos, após a Itália ter realizado vendas de títulos de curto prazo sem maiores dificuldades. O país vem sendo observado com maior atenção, já que uma poderia ter problemas para honrar o pagamento de dívidas, a exemplo dos casos já notados na Grécia, por exemplo. Tal fator abalou vários segmentos na segunda-feira. "Observamos uma calma, após a tempestade. O café, contudo, foi afetado por essa onda negativa e ao rompermos os 260,00 centavos abrimos espaço para novas liquidações especulativas. Tecnicamente, o mercado ainda tem alguns suportes interessantes, mas os bearishs (baixistas) podem aumentar sua atividade vendedora ao longo da semana, talvez com foco nos 241,45 centavos, que foi a mínima do dia 23 de junho", disse um trader. A produção mundial de café em 2011/2012 deve ser menor que a do ano anterior, devido, principalmente, à bianualidade do Brasil, ainda que exista uma compensação das produções melhores na Ásia e Colômbia, informou a Organização Internacional do Café. Para a nova temporada, a produção deve atingir 130 milhões de sacas, contra 133,3 milhões de 2010/2011. A produção mundial de robusta deve crescer 3,9%, indo para 51,7 milhões de sacas, com a safra de arábica recuando 6,2%, com 78,3 milhões de sacas. As exportações de café do Brasil em julho, até o dia 11, somaram 386.770 sacas, contra 345.178 sacas registradas no mesmo período de junho, informou o Cecafé (Conselho dos Exportadores de Café do Brasil). Os estoques certificados de café na bolsa de Nova Iorque tiveram queda de 16.316 sacas indo para 1.599.972 sacas. O volume negociado no dia na ICE Futures US foi estimado em 11.707 lotes, com as opções tendo 4.922 calls e 584 puts. Tecnicamente, o setembro na ICE Futures US tem uma resistência em 258,85, 259,00, 259,50, 259,90-260,00, 260,50, 261,00, 261,50, 262,00, 262,50, 263,00, 263,50, 264,00, 264,50 e 264,90-265,00 centavos de dólar por libra peso, com o suporte em 254,55-254,50, 254,00, 253,50, 253,00, 252,50, 252,00, 251,50, 251,00, 250,50, 250-10-250,00 e 249,50 centavos por libra.