A MUDANÇA DO JOGO
A noticia de ontem à tarde, do governo sobre taxar com iof o capital especulativo, que estava entrando no Brasil, e deixando o governo e seus ministros de cabelo em pé, os que têm cabelo lógico, fez uma mudança no sentimento do mercado.
A bolsa ICE que tinha rompido uma importante área no ativo café no mês de dez/09 na casa do 140.00 cents de dólar por libra peso e atingindo a máxima de 145,40 cents de dólar por libra peso ontem dia 19/10/09 com 140 pontos de alta. O mercado sobre comprado onde fundos teriam entrado em raly anteriores na compra, entraram realizando lucro e procurando outros ativos deixando a bolsa ICE no vermelho fechando com 220 pontos de baixa a 141,80 cents de dólar por libra peso.
A valorização do dólar index, índice do dólar frente a outras moedas, na casa de 0,5% ajudou essa realização. Aproveita-se deste momento para realizar lucros com a valorização do dólar frente ao real que não ficou fora da valorização da moeda americana pelo mundo ,no Brasil essa valorização foi maior na casa de 2,34% que em real daria R$1.7550, a queda da bolsa com a alta do dólar deu um diferencial por saca de 60 kg de café de R$0,84 oitenta e quatro centavos de alta, ou seja nada mudou ,como sempre acontece, quando o dólar sobe a bolsa cai ,e quando o dólar cai a bolsa sobe.
No lado fundamental o café segue sua rotina sem alteração, floradas desiguais, entre safra longa de uma safra brasileira curta, e baixa qualidade, sem novidades.
Como a regra do jogo mudou de uma hora para outra temos que esperar os próximos pregoes para visualizar melhor uma tendência, no caso de baixa, teremos dois suportes técnicos a 137,75 cents de dólar por libra peso e 135,50 cents de dólar por libra peso.
Acredito que isso não vai mudar em nada o mercado porque não existe ninguém que consiga absorver a montanha de dólar injetada na economia mundial, pra terminar com uma crise de proporções estratosférica, mas a prudência nos manda ter cuidado em horas como esta.
No mercado físico o produtor continua calmo a espera da entrega dos cafés para o governo na casa dos R$300, 00,numero este,que seria o sonho dos produtores e a espera das regras pra se vender café na AGF ,nesta gostaria de dar um palpite, os produtores teriam que entregar café de bebida inferior rio e riada para diminuir um pouco esse tipo de café do mercado ,pois foi à qualidade que mais se colheu este ano e o preço da AGF é superior aos praticados do mercado.
Wagner Pimentel
www.cafezinhocomamigos.blogspot.com
MANHUAÇU MG 20/10/09
terça-feira, 20 de outubro de 2009
OPINIÃO - Farsesca agrária
OPINIÃO - Farsesca agrária
O Estado de S. Paulo
20/10/09 Xico Graziano Preciosas informações sobre o campo foram recentemente divulgadas pelo IBGE. Elas confirmam o crescimento da agricultura familiar, cujas unidades passaram de 4,1 milhões para 4,5 milhões. Significam agora 88% do número total de estabelecimentos agropecuários do País. A força do pequeno. Esse interessante fenômeno da economia rural carece de melhor análise acadêmica. Certamente, porém, o apoio do Estado tem sido fundamental nesse processo, desde a criação do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf). Isso ocorreu em 1995. Os petistas inquietam-se e escondem a inveja. Mas foi o presidente Fernando Henrique Cardoso que, pela primeira vez, formulou uma política específica para essa categoria de pequenos agricultores, articulada então pelo agrônomo Murilo Flores, da Embrapa. Com inédita metodologia, valorizando o uso do trabalho, e não o tamanho da terra, o governo apartou uma parcela dos recursos do crédito rural, direcionando-a para os chamados agricultores familiares. Hoje se colhem os bons frutos dessa importante política agrícola. Estudos conduzidos por Carlos Guanziroli, Antônio Márcio Buainain e Alberto Di Sabbato relatam que, em 2006, os agricultores familiares respondiam por 40% do valor da produção agropecuária, ante 37,9% em 1996. No emprego, incluindo os membros da família, o segmento absorve 13 milhões de pessoas, ou seja, 78,8% do total da mão de obra ocupada no campo. Celeiro de gente trabalhadora. Os assentamentos de reforma agrária, embora incipientes, também contribuíram para ampliar o espaço da pequena produção rural. Tanto é que as maiores variações positivas na participação da agricultura familiar ocorreram nas Regiões Norte e Nordeste, onde, por sinal, passaram a dominar a produção agropecuária. Fim do coronelismo. Tais dados, obtidos a partir do último Censo Agropecuário, destroem certo discurso boboca que brada estar o modelo do agronegócio acabando com a pequena agricultura. Acontece justamente o inverso. Novas tecnologias, mercados integrados e apoio do governo robustecem a produção familiar no campo. Caso único. Em todos os setores da economia ocorre concentração de capital. No sistema financeiro, nos supermercados, nas farmácias, nos postos de gasolina, no comércio varejista, por onde se olha, empresas se fundem, aumenta a escala da produção, as vendas se agigantam. Poucos, aliás, combatem politicamente esse transcurso cruel dos negócios urbanos, em que os grandes engolem os pequenos. Parece normal na moderna economia. Na agropecuária, entretanto, a roda gira diferente. A agricultura familiar se fortalece juntamente com a grande empresa rural. Mesmo assim, curiosamente, o discurso atrasado contra o agronegócio teima em persistir, como se a mentira repetida se transformasse em verdade. Os combatentes da moderna agropecuária, qual dom Quixote, bradam contra moinhos de vento. De onde surge tal delírio ideológico, conforme o denomina Zander Navarro? Certamente do equívoco, elementar, que distingue "agricultura familiar" do "agronegócio", como se ambas as categorias fossem opostas, e não complementares. Ora, familiar não significa ser miserável no campo, embora muita pobreza exista por lá. O sucesso do programa de agricultura familiar reside exatamente na ideia de que, ao investir em tecnologia e ganhar produtividade, o pequeno produtor se qualifica para participar do mundo do agronegócio. Assim procedem milhões de antigos agricultores, todos querendo escapar da sofrida subsistência, ganhar seu dinheiro, educar suas crianças, ter saúde, crescer na vida. Uma política agrária moderna procura livrar o agricultor de sua submissão histórica, emancipando-o econômica e culturalmente, transformando-o em pequeno empresário. Agronegócio familiar. Quem, violentamente, combate o agronegócio e, idilicamente, defende os agricultores familiares comete um pecado conceitual. Milhões de excelentes produtores de café, soja, feijão, arroz, leite, carne, mandioca, frutas, verduras dependem do agronegócio para viver. Desejosos do progresso, buscaram financiamentos do Pronaf, aprimoraram-se tecnicamente, organizaram-se em cooperativas, vendem com qualidade. Pequenos na roça, gigantes no mercado. O discurso esquerdista que opõe o agronegócio à agricultura familiar cheira a um populismo antigo, baseado naquele desejo de tutelar a miséria rural, roubando dos camponeses pobres seu próprio destino. Nada mais adequado à manipulação política do que tratar os pequenos agricultores como coitados, cultivando sua dependência histórica. Falsos líderes gostam da subserviência do povo, um terreno onde a esquerda e a direita autoritárias se confundem facilmente. As laranjas padeceram noutro dia, arrasadas pelo banditismo rural. A fama da fruta já anda balançada com tanto escândalo financeiro, pois a mídia insiste, sem que ninguém explique direito o porquê, em chamar de laranjas aqueles que disfarçam o crime de lavagem de dinheiro. Desta vez, apanharam diretamente, destruídas pela raiva dos invasores de terras. O laranjal virou personagem de um triste filme agrário. Uma farsesca. Por detrás, nos bastidores da trama, o argumento ignóbil: laranja não é comida e, não sendo familiar, o agronegócio da citricultura não interessa à sociedade. Portanto, dane-se a produção, esqueça o emprego, pau no laranjal. Besteirol puro. O MST inventa assunto para esconder a insanidade de sua luta autoritária. Ao combater o agronegócio, imagina voltar ao tempo do pé de laranja no fundo do quintal, poleiro de galinhas caipiras. No fundo, paradoxalmente, alimenta-se da miséria rural. Xico Graziano, agrônomo, é secretário do Meio Ambiente do Estado de São Paulo. E-mail: xico@xicograziano.com.br
O Estado de S. Paulo
20/10/09 Xico Graziano Preciosas informações sobre o campo foram recentemente divulgadas pelo IBGE. Elas confirmam o crescimento da agricultura familiar, cujas unidades passaram de 4,1 milhões para 4,5 milhões. Significam agora 88% do número total de estabelecimentos agropecuários do País. A força do pequeno. Esse interessante fenômeno da economia rural carece de melhor análise acadêmica. Certamente, porém, o apoio do Estado tem sido fundamental nesse processo, desde a criação do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf). Isso ocorreu em 1995. Os petistas inquietam-se e escondem a inveja. Mas foi o presidente Fernando Henrique Cardoso que, pela primeira vez, formulou uma política específica para essa categoria de pequenos agricultores, articulada então pelo agrônomo Murilo Flores, da Embrapa. Com inédita metodologia, valorizando o uso do trabalho, e não o tamanho da terra, o governo apartou uma parcela dos recursos do crédito rural, direcionando-a para os chamados agricultores familiares. Hoje se colhem os bons frutos dessa importante política agrícola. Estudos conduzidos por Carlos Guanziroli, Antônio Márcio Buainain e Alberto Di Sabbato relatam que, em 2006, os agricultores familiares respondiam por 40% do valor da produção agropecuária, ante 37,9% em 1996. No emprego, incluindo os membros da família, o segmento absorve 13 milhões de pessoas, ou seja, 78,8% do total da mão de obra ocupada no campo. Celeiro de gente trabalhadora. Os assentamentos de reforma agrária, embora incipientes, também contribuíram para ampliar o espaço da pequena produção rural. Tanto é que as maiores variações positivas na participação da agricultura familiar ocorreram nas Regiões Norte e Nordeste, onde, por sinal, passaram a dominar a produção agropecuária. Fim do coronelismo. Tais dados, obtidos a partir do último Censo Agropecuário, destroem certo discurso boboca que brada estar o modelo do agronegócio acabando com a pequena agricultura. Acontece justamente o inverso. Novas tecnologias, mercados integrados e apoio do governo robustecem a produção familiar no campo. Caso único. Em todos os setores da economia ocorre concentração de capital. No sistema financeiro, nos supermercados, nas farmácias, nos postos de gasolina, no comércio varejista, por onde se olha, empresas se fundem, aumenta a escala da produção, as vendas se agigantam. Poucos, aliás, combatem politicamente esse transcurso cruel dos negócios urbanos, em que os grandes engolem os pequenos. Parece normal na moderna economia. Na agropecuária, entretanto, a roda gira diferente. A agricultura familiar se fortalece juntamente com a grande empresa rural. Mesmo assim, curiosamente, o discurso atrasado contra o agronegócio teima em persistir, como se a mentira repetida se transformasse em verdade. Os combatentes da moderna agropecuária, qual dom Quixote, bradam contra moinhos de vento. De onde surge tal delírio ideológico, conforme o denomina Zander Navarro? Certamente do equívoco, elementar, que distingue "agricultura familiar" do "agronegócio", como se ambas as categorias fossem opostas, e não complementares. Ora, familiar não significa ser miserável no campo, embora muita pobreza exista por lá. O sucesso do programa de agricultura familiar reside exatamente na ideia de que, ao investir em tecnologia e ganhar produtividade, o pequeno produtor se qualifica para participar do mundo do agronegócio. Assim procedem milhões de antigos agricultores, todos querendo escapar da sofrida subsistência, ganhar seu dinheiro, educar suas crianças, ter saúde, crescer na vida. Uma política agrária moderna procura livrar o agricultor de sua submissão histórica, emancipando-o econômica e culturalmente, transformando-o em pequeno empresário. Agronegócio familiar. Quem, violentamente, combate o agronegócio e, idilicamente, defende os agricultores familiares comete um pecado conceitual. Milhões de excelentes produtores de café, soja, feijão, arroz, leite, carne, mandioca, frutas, verduras dependem do agronegócio para viver. Desejosos do progresso, buscaram financiamentos do Pronaf, aprimoraram-se tecnicamente, organizaram-se em cooperativas, vendem com qualidade. Pequenos na roça, gigantes no mercado. O discurso esquerdista que opõe o agronegócio à agricultura familiar cheira a um populismo antigo, baseado naquele desejo de tutelar a miséria rural, roubando dos camponeses pobres seu próprio destino. Nada mais adequado à manipulação política do que tratar os pequenos agricultores como coitados, cultivando sua dependência histórica. Falsos líderes gostam da subserviência do povo, um terreno onde a esquerda e a direita autoritárias se confundem facilmente. As laranjas padeceram noutro dia, arrasadas pelo banditismo rural. A fama da fruta já anda balançada com tanto escândalo financeiro, pois a mídia insiste, sem que ninguém explique direito o porquê, em chamar de laranjas aqueles que disfarçam o crime de lavagem de dinheiro. Desta vez, apanharam diretamente, destruídas pela raiva dos invasores de terras. O laranjal virou personagem de um triste filme agrário. Uma farsesca. Por detrás, nos bastidores da trama, o argumento ignóbil: laranja não é comida e, não sendo familiar, o agronegócio da citricultura não interessa à sociedade. Portanto, dane-se a produção, esqueça o emprego, pau no laranjal. Besteirol puro. O MST inventa assunto para esconder a insanidade de sua luta autoritária. Ao combater o agronegócio, imagina voltar ao tempo do pé de laranja no fundo do quintal, poleiro de galinhas caipiras. No fundo, paradoxalmente, alimenta-se da miséria rural. Xico Graziano, agrônomo, é secretário do Meio Ambiente do Estado de São Paulo. E-mail: xico@xicograziano.com.br
Nanotecnologia, uma revolução invisível
Nanotecnologia, uma revolução invisível
É um trabalho minucioso, repetitivo e (literalmente) invisível. Mas nele está
uma das grandes apostas do setor agropecuário para os próximos anos. Enquanto
você lê este texto, quase cem cientistas de universidades e centros de pesquisa
brasileiros dedicam-se a aplicações da nanotecnologia no campo, a ciência da
reorganização de moléculas e átomos numa escala impensável para a maioria dos
mortais - 1 bilhão de vezes menor que o metro.
As pesquisas estão concentradas sobretudo no desenvolvimento das chamadas
"língua" e "nariz" eletrônicos, sensores que mimetizam o trabalho do homem em
tarefas tão díspares como a medição da umidade do solo e da maturação de frutos
até a detecção de bactérias em derivados do leite ou da febre aftosa no rebanho
bovino. Em outras frentes, os cientistas desenvolvem plásticos comestíveis para
embalagens de alimentos, nanofibras de celulose a partir do bagaço de cana e
ainda nanopartículas magnéticas para a descontaminação de pesticidas em água.
Tudo isso, acredita-se, tornará as respostas da indústria mais rápidas e com um
custo significativamente menor que as técnicas disponíveis hoje no mercado. "A
nanotecnologia será uma revolução no campo", sentencia Luiz Henrique Mattoso,
chefe de Pesquisa e Desenvolvimento da Embrapa Instrumentação Agropecuária, em
São Carlos (SP).
Mattoso lidera uma força-tarefa de 17 unidades da Embrapa e outras 15
universidades, federais e estaduais, reunidas na Rede de Pesquisa em
Nanotecnologia Aplicada ao Agronegócio. Formada em 2006, a rede é o maior grupo
voltado às pesquisas com nanotecnologia para o setor agropecuário atuando no
país.
De acordo com o pesquisador, a ideia nasceu na esteira de um projeto nacional
da Embrapa sobre os desafios que deveriam ser contemplados pela estatal, com o
intuito de trazer o foco dos laboratórios para perto das necessidades
científicas brasileiras.
Especializado em polímeros, Mattoso sabe com clareza o potencial desse novo
campo de pesquisa. Por dois anos, o pesquisador trabalhou no laboratório
virtual da Embrapa nos Estados Unidos, onde fez uma prospecção a fundo do que
vinha sendo estudado na área naquele país. Apesar das verbas maciças injetadas
ali para as pesquisas com nanotecnologia em geral - cerca de US$ 1 bilhão em
três anos -, ele diz que, no setor de agricultura tropical, o Brasil não fica
atrás.
"Eles investem muito na área eletrônica e de manipulação genética. Mas no setor
agrícola estamos 'pau-a-pau' ", diz. Para efeito de comparação, o orçamento da
rede brasileira de nanotecnologia para agronegócio foi de R$ 13 milhões entre
2006-2009, com aportes da Embrapa, Finep, Capes, CNPq e Fapesp. "Para o Brasil,
é muito. É um dinheiro que dá pra gente trabalhar".
Muito ou pouco, o fato é que os trabalhos avançam no ritmo esperado. Na Escola
Politécnica da Universidade de São Paulo (USP), uma das pesquisas mais
alavancadas é a da "língua" eletrônica capaz de detectar características
indesejáveis na soja para a produção de leite. Segundo especialistas, muitas
variedades do grão ainda conferem um gosto ruim ao produto, por isso a
necessidade de misturar frutas ao leite.
"Tradicionalmente, a classificação do produto como gostoso ou não é feito por
painelistas (degustadores da indústria de alimentos) ou por processos de
análise físico-químicos", diz o pesquisador da USP Fernando Fonseca, cujo
trabalho é desenvolvido em parceria com a Embrapa Soja, de Londrina. Além de
lento, é um processo mais caro.
Em linhas gerais, o que foi desenvolvido na USP é uma lâmina com contatos de
ouro na qual foi depositado um filme nanométrico - o "coração de tudo", diz
Fonseca. Essas várias lâminas são imersas no leite de soja para que, então, os
pesquisadores meçam a resposta elétrica do dispositivo e as analisem
matematicamente.
"Cada líquido vai ter um resultado diferente. Dessa maneira é possível
distinguir cada leite de soja", explica Fonseca. "Através da língua eletrônica
a Embrapa vai saber qual o melhor grão para investir. O desafio é fazer uma
classificação mais veloz e barata". Hoje, a USP tenta chegar mais próximo de um
produto comercial que possa ser utilizado pela indústria de alimentos em geral.
Invisível a olho nu, o filme desenvolvido pelos cientistas paulistas tem de 20
a 100 nanômetros de espessura. Imagine isso: um nanômetro corresponde ao
tamanho de uma bola de futebol em relação ao globo terrestre.
Em Fortaleza (CE), uma das linhas de pesquisa da Embrapa Agroindústria Tropical
chama a atenção não só pelo produto em si como pelo debate que certamente
suscitará (ler mais no texto abaixo). Ali, biopolímeros da natureza (polpa de
manga, neste caso) são a base dos experimentos para o desenvolvimento de filmes
comestíveis para embalagens de alimentos, como frutas. Você come a fruta e o
plástico - minimizando, de quebra, um grave resíduo ambiental.
Em São Carlos, no interior paulista, os cientistas do grupo de Biofísica
Molecular do Instituto de Física e do Instituto de Estudos Avançados da
Universidade de São Carlos (UFSCar) estudam a aplicação da nanotecnologia para
detectar a febre aftosa na população de bovinos. Isso ainda é feito via métodos
imunológicos desenvolvidos para quantificar a concentração de antígenos e
anticorpos, sendo o principal deles o Leitor Elisa (do inglês Enzyme-linked
immuno sorbent assay). É um processo custoso, no qual uma amostra de sangue do
animal deve ser encaminhada para análise em laboratório.
"Imobilizamos nanopartículas metálicas sobre circuitos eletrônicos especiais
que vão detectar a presença de anticorpos", diz Valtencir Zucolotto, professor
do Instituto de Física da UFSCar. "Se o animal já teve aftosa, ele desenvolveu
anticorpos e os nossos sensores detectarão isso". Dentro de um ano e meio o
grupo deverá ter o primeiro protótipo para comercialização. E em dois anos, o
kit pronto para comercialização.
Para os produtores, o novo instrumento será um processo mais barato porque os
testes de aftosa poderão ser feitos in loco e com resposta imediata. "A nano
dará independência para a fiscalização", diz Zucolotto. No passado recente, a
ocorrência da doença levou à interrupção dos embarques de carne bovina
brasileira a quase 50 países. Devido a esse episódio, até hoje, a União
Europeia impõe restrições ao país.
19/10 01:33 Aplicação na produção de alimentos deve ser o grande "divisor de águas"
Com um potencial revolucionário ainda limitado apenas pela imaginação dos
pesquisadores, a nanotecnologia terá nas discussões científicas acerca de sua
aplicação na produção de alimentos a grande batalha que definirá a velocidade
de sua aceitação por consumidores mundo afora.
Nada muito diferente da trilha percorrida nas últimas décadas pelos organismos
geneticamente modificados (OGMs). Considerados por seus defensores uma extensão
natural da Revolução Verde de meados do século passado, os transgênicos
começaram a ser adotados comercialmente na agricultura nos anos 90, bem depois
que a engenharia genética gerou a insulina humana em laboratório, mas sua
disseminação segue cercada de cuidados em diversos países (inclusive no Brasil)
- em parte por questões ideológicas e econômicas, mas também por incertezas
quanto aos efeitos de seu uso continuado à saúde e ao ambiente.
Ao mesmo tempo em que grandes grupos privados ampliam os investimentos - e os
"segredos estratégicos" - em torno da nanotecnologia, com agentes públicos como
as universidades a reboque, outros grupos independentes já se formam na
investigação de seus potenciais e riscos. E, de acordo com muitos desses
especialistas, tendem a florescer motivos para preocupações.
"O debate não pode ficar apenas em nível técnico", afirma Soraia de Fátima
Ramos, pesquisadora do Instituto de Economia Agrícola (IEA), vinculado à
Secretaria da Agricultura de São Paulo. Em parceria com Paulo Roberto Martins,
do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), Soraia é organizadora do livro
"Impactos das Nanotecnologias na Cadeia de Produção da Soja Brasileira"
(editora Xamã, 2009), uma das iniciativas de se chamar a atenção para a
revolução que espreita o campo.
Lançado com o apoio da secretaria e do Ministério do Desenvolvimento Agrário, o
trabalho foi costurado com a participação dos pesquisadores Richard Domingues
Dulley, Elizabeth Alves e Nogueira, Roberto de Assumpção, Sebastião Nogueira
Júnior, André Luiz de S. Lacerda e Marisa Zeferino Barbosa. Dulley, aos 70
anos, tem sido um dos principais fomentadores dessa discussão, abastecendo de
dados sobre a nanotecnologia figuras atuantes no setor de agronegócios como o
ex-ministro Roberto Rodrigues.
"São imensos os potenciais para a aplicação da nanotecnologia na agricultura.
Passam por embalagens, nanosensores e pelo desenvolvimento de alimentos
nutracêuticos, entre outras aplicações. Mas há riscos, e o problema para
mensurá-los é a 'invisibilidade' da nanotecnologia, que decorre do fato dela
não ter relação com tecnologias do passado", afirma Dulley.
Os pesquisadores dividem o avanço da nanotecnologia agrícola em duas frentes:
"incremental", onde as pesquisas buscam melhorar o que já existe e o manancial
é rico na agricultura de precisão, e "revolucionária", aquela "invisível" que
exige mais cuidados e, certamente, investimentos. Segundo Dulley, até 2015 a
nanotecnologia em geral terá absorvido US$ 1 trilhão em investimentos anuais.
É da frente "invisível" que esta manipulação artificial da matéria na escala
das moléculas estudada pela nanociência pode ser surpreendente a ponto de
permitir a "conversa do vivo com o não vivo" na forma, por exemplo, de um
computador com proteína. Ou na construção de uma fábrica de banana capaz de
usar como matéria-prima o quase universal carbono, base da química orgânica
presente em todos os seres vivos.
Para Soraia de Fátima Ramos, a nanotecnologia não deixa de ser uma evolução de
sistemas técnicos, mas no nível mais sofisticado que o ser humano conseguiu
chegar até agora. Segundo ela e Roberto de Assumpção, sua difusão criará espaço
para uma mudança nas relações de forças geopolíticas e poderá, se não
controlada e profundamente analisada, ser o vetor do aprofundamento das
desigualdades entre ricos e pobres e entre países desenvolvidos e em
desenvolvimento ou subdesenvolvidos.
"É preciso perceber que já há produtos [cosméticos, farmacêuticos] no mercado
sem sequer estudos toxicológicos suficientemente amplos, e aqui vai um grande
alerta", pondera Elizabeth Alves e Nogueira. Conforme Dulley, um país como o
Brasil não pode, por exemplo, deixar de levar em consideração suas
características, realidades e vantagens naturais.
Chega a ser assustador para os estudiosos do IPT e do IEA o flagrante
desconhecimento de algumas subsidiárias brasileiras de grandes transnacionais
sobre o rumo das pesquisas desenvolvidas por suas matrizes. "Fizemos diversas
entrevistas e ficou claro que, em muitos casos, as filiais não sabem sequer que
as matrizes têm pesquisas nessa área", diz Dulley.
E esse "lego" em escala atômica, reforça, não podem ficar nas mãos de crianças
sem orientação.
É um trabalho minucioso, repetitivo e (literalmente) invisível. Mas nele está
uma das grandes apostas do setor agropecuário para os próximos anos. Enquanto
você lê este texto, quase cem cientistas de universidades e centros de pesquisa
brasileiros dedicam-se a aplicações da nanotecnologia no campo, a ciência da
reorganização de moléculas e átomos numa escala impensável para a maioria dos
mortais - 1 bilhão de vezes menor que o metro.
As pesquisas estão concentradas sobretudo no desenvolvimento das chamadas
"língua" e "nariz" eletrônicos, sensores que mimetizam o trabalho do homem em
tarefas tão díspares como a medição da umidade do solo e da maturação de frutos
até a detecção de bactérias em derivados do leite ou da febre aftosa no rebanho
bovino. Em outras frentes, os cientistas desenvolvem plásticos comestíveis para
embalagens de alimentos, nanofibras de celulose a partir do bagaço de cana e
ainda nanopartículas magnéticas para a descontaminação de pesticidas em água.
Tudo isso, acredita-se, tornará as respostas da indústria mais rápidas e com um
custo significativamente menor que as técnicas disponíveis hoje no mercado. "A
nanotecnologia será uma revolução no campo", sentencia Luiz Henrique Mattoso,
chefe de Pesquisa e Desenvolvimento da Embrapa Instrumentação Agropecuária, em
São Carlos (SP).
Mattoso lidera uma força-tarefa de 17 unidades da Embrapa e outras 15
universidades, federais e estaduais, reunidas na Rede de Pesquisa em
Nanotecnologia Aplicada ao Agronegócio. Formada em 2006, a rede é o maior grupo
voltado às pesquisas com nanotecnologia para o setor agropecuário atuando no
país.
De acordo com o pesquisador, a ideia nasceu na esteira de um projeto nacional
da Embrapa sobre os desafios que deveriam ser contemplados pela estatal, com o
intuito de trazer o foco dos laboratórios para perto das necessidades
científicas brasileiras.
Especializado em polímeros, Mattoso sabe com clareza o potencial desse novo
campo de pesquisa. Por dois anos, o pesquisador trabalhou no laboratório
virtual da Embrapa nos Estados Unidos, onde fez uma prospecção a fundo do que
vinha sendo estudado na área naquele país. Apesar das verbas maciças injetadas
ali para as pesquisas com nanotecnologia em geral - cerca de US$ 1 bilhão em
três anos -, ele diz que, no setor de agricultura tropical, o Brasil não fica
atrás.
"Eles investem muito na área eletrônica e de manipulação genética. Mas no setor
agrícola estamos 'pau-a-pau' ", diz. Para efeito de comparação, o orçamento da
rede brasileira de nanotecnologia para agronegócio foi de R$ 13 milhões entre
2006-2009, com aportes da Embrapa, Finep, Capes, CNPq e Fapesp. "Para o Brasil,
é muito. É um dinheiro que dá pra gente trabalhar".
Muito ou pouco, o fato é que os trabalhos avançam no ritmo esperado. Na Escola
Politécnica da Universidade de São Paulo (USP), uma das pesquisas mais
alavancadas é a da "língua" eletrônica capaz de detectar características
indesejáveis na soja para a produção de leite. Segundo especialistas, muitas
variedades do grão ainda conferem um gosto ruim ao produto, por isso a
necessidade de misturar frutas ao leite.
"Tradicionalmente, a classificação do produto como gostoso ou não é feito por
painelistas (degustadores da indústria de alimentos) ou por processos de
análise físico-químicos", diz o pesquisador da USP Fernando Fonseca, cujo
trabalho é desenvolvido em parceria com a Embrapa Soja, de Londrina. Além de
lento, é um processo mais caro.
Em linhas gerais, o que foi desenvolvido na USP é uma lâmina com contatos de
ouro na qual foi depositado um filme nanométrico - o "coração de tudo", diz
Fonseca. Essas várias lâminas são imersas no leite de soja para que, então, os
pesquisadores meçam a resposta elétrica do dispositivo e as analisem
matematicamente.
"Cada líquido vai ter um resultado diferente. Dessa maneira é possível
distinguir cada leite de soja", explica Fonseca. "Através da língua eletrônica
a Embrapa vai saber qual o melhor grão para investir. O desafio é fazer uma
classificação mais veloz e barata". Hoje, a USP tenta chegar mais próximo de um
produto comercial que possa ser utilizado pela indústria de alimentos em geral.
Invisível a olho nu, o filme desenvolvido pelos cientistas paulistas tem de 20
a 100 nanômetros de espessura. Imagine isso: um nanômetro corresponde ao
tamanho de uma bola de futebol em relação ao globo terrestre.
Em Fortaleza (CE), uma das linhas de pesquisa da Embrapa Agroindústria Tropical
chama a atenção não só pelo produto em si como pelo debate que certamente
suscitará (ler mais no texto abaixo). Ali, biopolímeros da natureza (polpa de
manga, neste caso) são a base dos experimentos para o desenvolvimento de filmes
comestíveis para embalagens de alimentos, como frutas. Você come a fruta e o
plástico - minimizando, de quebra, um grave resíduo ambiental.
Em São Carlos, no interior paulista, os cientistas do grupo de Biofísica
Molecular do Instituto de Física e do Instituto de Estudos Avançados da
Universidade de São Carlos (UFSCar) estudam a aplicação da nanotecnologia para
detectar a febre aftosa na população de bovinos. Isso ainda é feito via métodos
imunológicos desenvolvidos para quantificar a concentração de antígenos e
anticorpos, sendo o principal deles o Leitor Elisa (do inglês Enzyme-linked
immuno sorbent assay). É um processo custoso, no qual uma amostra de sangue do
animal deve ser encaminhada para análise em laboratório.
"Imobilizamos nanopartículas metálicas sobre circuitos eletrônicos especiais
que vão detectar a presença de anticorpos", diz Valtencir Zucolotto, professor
do Instituto de Física da UFSCar. "Se o animal já teve aftosa, ele desenvolveu
anticorpos e os nossos sensores detectarão isso". Dentro de um ano e meio o
grupo deverá ter o primeiro protótipo para comercialização. E em dois anos, o
kit pronto para comercialização.
Para os produtores, o novo instrumento será um processo mais barato porque os
testes de aftosa poderão ser feitos in loco e com resposta imediata. "A nano
dará independência para a fiscalização", diz Zucolotto. No passado recente, a
ocorrência da doença levou à interrupção dos embarques de carne bovina
brasileira a quase 50 países. Devido a esse episódio, até hoje, a União
Europeia impõe restrições ao país.
19/10 01:33 Aplicação na produção de alimentos deve ser o grande "divisor de águas"
Com um potencial revolucionário ainda limitado apenas pela imaginação dos
pesquisadores, a nanotecnologia terá nas discussões científicas acerca de sua
aplicação na produção de alimentos a grande batalha que definirá a velocidade
de sua aceitação por consumidores mundo afora.
Nada muito diferente da trilha percorrida nas últimas décadas pelos organismos
geneticamente modificados (OGMs). Considerados por seus defensores uma extensão
natural da Revolução Verde de meados do século passado, os transgênicos
começaram a ser adotados comercialmente na agricultura nos anos 90, bem depois
que a engenharia genética gerou a insulina humana em laboratório, mas sua
disseminação segue cercada de cuidados em diversos países (inclusive no Brasil)
- em parte por questões ideológicas e econômicas, mas também por incertezas
quanto aos efeitos de seu uso continuado à saúde e ao ambiente.
Ao mesmo tempo em que grandes grupos privados ampliam os investimentos - e os
"segredos estratégicos" - em torno da nanotecnologia, com agentes públicos como
as universidades a reboque, outros grupos independentes já se formam na
investigação de seus potenciais e riscos. E, de acordo com muitos desses
especialistas, tendem a florescer motivos para preocupações.
"O debate não pode ficar apenas em nível técnico", afirma Soraia de Fátima
Ramos, pesquisadora do Instituto de Economia Agrícola (IEA), vinculado à
Secretaria da Agricultura de São Paulo. Em parceria com Paulo Roberto Martins,
do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), Soraia é organizadora do livro
"Impactos das Nanotecnologias na Cadeia de Produção da Soja Brasileira"
(editora Xamã, 2009), uma das iniciativas de se chamar a atenção para a
revolução que espreita o campo.
Lançado com o apoio da secretaria e do Ministério do Desenvolvimento Agrário, o
trabalho foi costurado com a participação dos pesquisadores Richard Domingues
Dulley, Elizabeth Alves e Nogueira, Roberto de Assumpção, Sebastião Nogueira
Júnior, André Luiz de S. Lacerda e Marisa Zeferino Barbosa. Dulley, aos 70
anos, tem sido um dos principais fomentadores dessa discussão, abastecendo de
dados sobre a nanotecnologia figuras atuantes no setor de agronegócios como o
ex-ministro Roberto Rodrigues.
"São imensos os potenciais para a aplicação da nanotecnologia na agricultura.
Passam por embalagens, nanosensores e pelo desenvolvimento de alimentos
nutracêuticos, entre outras aplicações. Mas há riscos, e o problema para
mensurá-los é a 'invisibilidade' da nanotecnologia, que decorre do fato dela
não ter relação com tecnologias do passado", afirma Dulley.
Os pesquisadores dividem o avanço da nanotecnologia agrícola em duas frentes:
"incremental", onde as pesquisas buscam melhorar o que já existe e o manancial
é rico na agricultura de precisão, e "revolucionária", aquela "invisível" que
exige mais cuidados e, certamente, investimentos. Segundo Dulley, até 2015 a
nanotecnologia em geral terá absorvido US$ 1 trilhão em investimentos anuais.
É da frente "invisível" que esta manipulação artificial da matéria na escala
das moléculas estudada pela nanociência pode ser surpreendente a ponto de
permitir a "conversa do vivo com o não vivo" na forma, por exemplo, de um
computador com proteína. Ou na construção de uma fábrica de banana capaz de
usar como matéria-prima o quase universal carbono, base da química orgânica
presente em todos os seres vivos.
Para Soraia de Fátima Ramos, a nanotecnologia não deixa de ser uma evolução de
sistemas técnicos, mas no nível mais sofisticado que o ser humano conseguiu
chegar até agora. Segundo ela e Roberto de Assumpção, sua difusão criará espaço
para uma mudança nas relações de forças geopolíticas e poderá, se não
controlada e profundamente analisada, ser o vetor do aprofundamento das
desigualdades entre ricos e pobres e entre países desenvolvidos e em
desenvolvimento ou subdesenvolvidos.
"É preciso perceber que já há produtos [cosméticos, farmacêuticos] no mercado
sem sequer estudos toxicológicos suficientemente amplos, e aqui vai um grande
alerta", pondera Elizabeth Alves e Nogueira. Conforme Dulley, um país como o
Brasil não pode, por exemplo, deixar de levar em consideração suas
características, realidades e vantagens naturais.
Chega a ser assustador para os estudiosos do IPT e do IEA o flagrante
desconhecimento de algumas subsidiárias brasileiras de grandes transnacionais
sobre o rumo das pesquisas desenvolvidas por suas matrizes. "Fizemos diversas
entrevistas e ficou claro que, em muitos casos, as filiais não sabem sequer que
as matrizes têm pesquisas nessa área", diz Dulley.
E esse "lego" em escala atômica, reforça, não podem ficar nas mãos de crianças
sem orientação.
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