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segunda-feira, 27 de junho de 2011

Renúncias fiscais de Cabral vão de boate a cabeleireiro

Renúncias fiscais de Cabral vão de boate a cabeleireiro

Benefícios tiraram R$ 50 bilhões do Estado do Rio nos últimos quatro anos Valor, utilizado para incentivar a atividade de empresas, equivale à metade da arrecadação tributária no período ITALO NOGUEIRAMARCO ANTÔNIO MARTINSDO RIO Entre 2007 e 2010 cerca de 5.000 empresas deixaram de recolher R$ 50 bilhões aos cofres do Estado porque obtiveram renúncia fiscal do governo Sérgio Cabral (PMDB).Dados da Secretaria Estadual de Fazenda mostram que boates, motéis, mercearias, padarias, postos de gasolina e cabeleireiros foram beneficiados.O montante da renúncia cresceu 72% em 2010, em relação a 2007. Os R$ 50 bilhões já são mais do que a metade do valor da receita tributária que foi de R$ 97 bilhões no mesmo período.Uma das empresas que se beneficiaram é a Werner Coiffeur que, nos últimos anos, cuidou dos cabelos da primeira-dama Adriana Ancelmo e do governador. A renúncia chegou a R$ 336 mil.Com base em uma lei criada pelo ex-governador Marcello Alencar para incentivar produtores de cosméticos, Cabral ampliou os benefícios para varejistas que encomendam produtos capilares e estão incluídos no Simples da Receita Federal.A Folha identificou outros quatro cabeleireiros na listagem. Somados, os descontos não chegam a R$ 10 mil. Em nota, a rede Werner informou que não usufrui de nenhuma vantagem específica.Outras empresas pouco convencionais aproveitam-se dos descontos. É o caso de duas boates na zona sul do Rio, Termas Monte Carlo e Termas Solarium. A primeira tem fotos de camas e banheiras em sua página na internet. A outra oferece "discrição", saunas e massagens.Elas tiveram isenções de R$ 109 mil e R$ 316 mil, respectivamente, com base em decreto voltado a estabelecimentos de alimentação como lanchonetes, restaurantes, casas de chá e até danceterias. Essa foi a brecha usada."Esse processo que relaciona a geração de empregos às custas do dinheiro fiscal me preocupa. Esse dinheiro não entra nos cofres públicos e quem financia tudo isso é o cidadão", diz João Eloi Olinike, presidente do Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário.Segundo ele, ao renunciar a uma arrecadação, o governo deve ter como base a Lei de Responsabilidade Fiscal. Isso significa não comprometer a receita e apresentar um projeto que justifique a redução dos ganhos do Estado.A Secretaria Estadual de Fazenda deu a lista de beneficiários ao deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL), após requerimento enviado ao secretário Renato Villela.À Folha a secretaria informou que está impedida de informar dados específicos de contribuintes. Freixo considera as informações da lista "absurdas". OUTRO LADO Governo diz que há critérios que permitem os benefícios DO RIO A Secretaria Estadual de Fazenda do Rio informou que, por ordem do Código Tributário Nacional, é obrigada a respeitar o sigilo fiscal, razão pela qual é impedida de dar informações de contribuintes beneficiados.Em nota, destaca que nos casos da rede Werner e das boates há critérios que, se cumpridos, dão direito automático aos benefícios.A Werner Coiffeur diz que não usufrui de nenhum benefício exclusivo e que "qualquer tipo de redução de alíquota de imposto com relação a determinado produto, ou isenção fiscal, beneficia, indiscriminadamente, toda a categoria econômica. Em outras palavras, qualquer redução de impostos beneficia toda a sociedade, e não a empresa A, B ou C".Dois representantes da Termas Sollarium, que pediram para não ser identificados, dizem que não têm acesso a benefícios fiscais, mas a um regime diferente de tributação, e que benefícios são usados apenas nos gastos do restaurante da boate, não nos outros serviços.Já o gerente da boate Monte Carlo, Everton Rodrigues, informa que a casa funciona há 28 anos, está inscrita na Receita Federal e não recebe nenhum benefício fiscal. Oposição quer que favores se tornem crime BERNARDO MELLO FRANCODE SÃO PAULO Dias após a tragédia que revelou a proximidade do governador do Rio, Sergio Cabral Filho (PMDB), com o empresário Eike Batista e o dono da construtora Delta, Fernando Cavendish, a oposição quer criminalizar o recebimento de favores de quem tem negócios com o Estado.O objetivo é fechar o cerco ao peemedebista. A legislação fluminense é omissa em relação ao tema. Isso deve dificultar os planos da bancada contrária a Cabral, que tem 21 dos 70 deputados estaduais.A avaliação é que hoje não há normas para punir o governador por voar no jatinho de Eike ou se hospedar na casa de praia de Cavendish, que faturou R$ 133,7 milhões em contratos sem licitação com o Estado em 2010.Os parlamentares querem imitar um decreto assinado pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso em 2002.O texto impede as autoridades federais de "receber presente, transporte, hospedagem, compensação ou quaisquer favores" de pessoas interessadas em decisões do governo."Essas práticas são imorais, mas ainda não são ilegais no Estado do Rio", diz o deputado Marcelo Freixo (PSOL), que deve apresentar um projeto de lei amanhã."Os setores em que a EBX [empresa de Eike] atua têm muita interface com o poder público. Para Eike, é fundamental estar bem com o governo", diz Sérgio Lazzarini, professor do Insper."Mas é difícil desvendar relações diretas entre as doações e os benefícios que o grupo recebe do governo."Em 2010, Eike concentrou suas doações no Rio a políticos do PMDB, mas ajudou rivais na corrida presidencial. A soma de suas contribuições atingiu R$ 6 milhões, segundo o TSE.

Decisão do STF abre caminho para cercear a guerra fiscal

Decisão do STF abre caminho para cercear a guerra fiscal
Valor Econômico - 27/06/2011
A decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) contra a "guerra fiscal", adotada no início deste mês, precisa ser concluída. O STF considerou inconstitucionais as leis de apenas seis Estados e do Distrito Federal que concediam benefícios fiscais a empresas. Numerosas ações, que questionam as legislações de outros Estados com o mesmo teor, ainda aguardam julgamento na Corte Suprema.O governador da Bahia, Jacques Wagner (PT), chamou a atenção, recentemente, para este fato. Ou seja, embora todas as legislações estaduais contenham os mesmos dispositivos na chamada "guerra fiscal", neste momento apenas algumas delas estão suspensas. Há, portanto, uma situação de não isonomia entre os Estados que prejudica alguns.O ideal seria uma decisão mais rápida do STF sobre essas ações, com o julgamento de todas elas em uma única sessão. Uma alternativa seria permitir que os ministros relatores das ações possam decidir sobre elas, de forma monocrática, pois já existe uma posição unânime do plenário da Corte a respeito desta matéria. No início deste mês, todos os ministros consideraram inconstitucional a concessão de benefícios fiscais pelos Estados sem a aprovação prévia de convênio neste sentido pelo Conselho Nacional de Política Fazendária (Confaz), órgão que reúne os secretários de Fazenda dos 26 Estados e do Distrito Federal.A decisão do Supremo está na direção correta e, se for completada pelo julgamento das demais ações, pode acelerar a reforma tributária. Ou, pelo menos, a reforma do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS). Não é razoável acreditar que os governadores continuarão concedendo benefícios fiscais sem aprovação prévia do Confaz e as empresas aceitando essas regalias, sem levarem em consideração a posição do STF nesta questão. Os julgamentos do Supremo poderão marcar o fim de uma "guerra" que atingiu o seu paroxismo com incentivos sendo concedidos por alguns Estados às importações, em detrimento da produção nacional.Os governadores alegam que a decisão do Supremo criou "insegurança jurídica" às empresas e paralisou novos investimentos em seus Estados. O governador de Sergipe, Marcelo Déda (PT), em entrevista ao Valor publicada na semana passada, disse que o Supremo precisa definir como a decisão será aplicada. "Como serão tratadas situações consolidadas? A decisão terá repercussão só para o futuro ou é aplicável imediatamente?", questionou Déda. Para responder a essas e outras perguntas, o governo do Distrito Federal vai entrar com um ação pedindo que o STF module sua decisão, explicitando os limites e os efeitos da medida. No fundo, os governadores querem um prazo para o fim da guerra fiscal e convalidar as situações de fato.É bom que se diga que a convalidação dos benefícios fiscais, concedidos dentro da "guerra" entre os Estados, sempre foi um dos pontos centrais de todas as propostas de reforma tributária discutidas pelo governo federal desde 1995. Ela também faz parte da atual proposta do governo, como esclareceu o secretário-geral do Ministério da Fazenda, Nelson Barbosa. A convalidação terá que ser feita pelo Confaz. Para que ela ocorra, e todas as situações de fato sejam legalizadas, é indispensável que se coloque um fim nessas práticas. Em outras palavras, é necessário reformar a legislação do ICMS.A proposta de mudança do ICMS, em discussão dentro do governo, prevê que a maior parte da receita desse tributo será apropriada pelo Estado de destino da mercadoria. Hoje é na origem. Sem essa medida, a "guerra fiscal" vai continuar. Oito Estados perderão com essa mudança, segundo informação do Ministério da Fazenda. Não há dúvida que o governo terá que definir uma política de compensação dessas perdas. "Os governadores não vão entrar numa dança dessa sem que o governo federal explicite garantias", alertou o governador de Sergipe.Essa sempre foi e continua sendo a grande dificuldade da reforma do ICMS, ou até mesmo da reforma tributária que evoluísse para um Imposto sobre Valor Agregado (IVA), pois a margem fiscal da União para sustentar essa compensação não é grande. O obstáculo precisa, de alguma maneira, ser superado pois as mudanças no ICMS não podem mais ser adiadas. É preciso colocar um fim na guerra fiscal.

O Brasil do Otimismo, O Brasil do atraso

O Brasil do Otimismo
GABRIEL CAPRIOLI e SÍLVIO RIBASCorreio Braziliense - 27/06/2011

Saída rápida do país da crise mundial permitiu que 13,3 milhões de pessoas migrassem para as classes A, B e C desde julho de 2009. Menor desigualdade torna o povo brasileiro o mais confiante do mundo O entusiasmo que tomou conta da população nos últimos anos, em decorrência do forte crescimento econômico, deu a muitos a impressão de que o futuro chegou para o Brasil. Não foi à toa. No curtíssimo período entre julho de 2009 e o mês passado, já com o país plenamente recuperado dos estragos da crise mundial, 13,3 milhões de pessoas ascenderam às classes A, B e C. Nas duas primeiras, que formam o topo da pirâmide social brasileira, o incremento proporcional foi mais expressivo: 12,8% contra 11% da tradicional classe média. Toda essa mobilidade social leva o Brasil a liderar um ranking de 144 nações, no qual aparece como a nação mais otimista em relação aos próximos cinco anos. Em uma escala de 0 a 10, os brasileiros classificam com nota média de 8,7 sua expectativa de satisfação com a vida em 2014. Na pesquisa feita no início de 2011, o país já era o recordista.Para Ricardo Paes de Barros, da Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE), a elevação de todos os estratos de renda decorreu de uma ação direta nas camadas menos favorecidas, que acabou empurrando toda a população para condições mais favoráveis. "O Brasil conseguiu promover a principal redução de pobreza e desigualdade das duas últimas décadas graças a uma combinação de políticas públicas bem sucedidas, como os sucessivos ganhos reais do salário mínimo e os programas de transferência de renda. Os sinais disso podem ser percebidos por todos ângulos de análise", avalia, com a autoridade de ser um craque em políticas sociais.A constatação do crescimento da renda nas classes A e B faz parte do estudo Os emergentes dos emergentes, coordenado pelo professor Marcelo Neri, da Fundação Getulio Vargas (FGV), que será lançado hoje em São Paulo. O levantamento mostra que desde 2003, 50 milhões de pessoas, mais do que a população da Espanha, foram incorporadas ao mercado consumidor.ConcentraçãoNeri pondera que a diminuição de disparidades sociais só foi possível porque, ao contrário dos demais países emergentes — pouco afetados pela crise global —, no Brasil, os indicadores sociais vêm tendo desempenho melhor do que o do Produto Interno Bruto (PIB). Por isso, quando se olha para a pesquisa de otimismo da FGV pode-se depreender que "o país vai melhor para a população do que para os economistas". Ela ressalta ainda que, nos demais Brics (bloco formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), a riqueza cresce, mas a desigualdade também."O crescimento da economia (brasileira) não foi um movimento concentrador de renda. E isso só foi possível por causa do aumento expressivo do salário mínimo e dos gastos assistenciais", completa o coordenador da Diretoria de Estudos e Políticas Macroeconômicas do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Cláudio Hamilton.A redução da desigualdade também se apresenta geograficamente. Cada vez mais os ricos se espalham pelo país, reduzindo a discrepância do desenvolvimento entre as regiões. Estudo feito pela consultoria Cognatis Geomarketing para a revista Exame aponta que o Distrito Federal tem, proporcionalmente, o maior número de ricos entre a população: 27% fazem parte das classes A e B. Quando consideradas apenas as capitais, Brasília fica em quarto lugar, com 28% dos moradores no topo da pirâmide, perdendo apenas para Florianópolis, Vitória e Belo Horizonte (veja quadro).Apesar de 61% da riqueza ainda estar situada na região Sudeste do país, o Nordeste deixa para trás, aos poucos, o estigma da pobreza e já abriga 2,6 milhões de abastados. "A educação é um dos fatores de melhora das condições de renda da população brasileira. É também uma das áreas que vêm requerendo mais esforço do governo para aprimorar os seus resultados", constata Paes de Barros. É aguardar para ver. Atualmente, são 20 milhões nas faixas A e B, que, em 2014, serão 30 milhões. O suficiente para manter o otimismo em alta.Salto espetacularLevantamento da Consultoria IPCMaps aponta que 73% das famílias brasileiras melhoraram de vida e migraram para faixas de renda mais altas nos últimos 14 anos. É uma das maiores taxas de mobilidade vistas no mundo em um prazo considerado pequeno, acima das registradas na Suécia (51,5%), no Canadá (50,1%) e nos Estados Unidos (48%). Para o diretor da IPCMaps Marco Pazzini "agora, a nova onda de migração é para as classes A e B".

O Brasil do atraso

ANA D"ANGELOCorreio Braziliense - 27/06/2011

Apesar das conquistas dos últimos anos, país mantém olhos fechados para problemas cruciais, como a enorme carga tributária e a infraestrutura deficiente, que podem inibir o crescimento No topo das preferências dos grandes investidores estrangeiros, o Brasil das oportunidades está escancarando problemas que reluta em enfrentar. O crescimento da economia, a redução das desigualdades e a melhora do padrão de vida da população vêm trombando com um país cheio de gargalos, que todos veem, mas poucos se dispõem a superá-los. Seis meses praticamente se passaram do governo de Dilma Rousseff e tudo continua na mesma: estradas, portos, ferrovias e aeroportos precários, taxas de juros elevadíssimas, falta de mão de obra qualificada, carga tributária pesada e injusta e baixos investimentos públicos. É esse Brasil do atraso que pode travar a continuidade do desenvolvimento a taxas acima de 4% ao ano e manter latente o dragão da inflação."O país está estrangulado. Isso é termômetro da falta de uma agenda clara do governo, que está demonstrando falta de capacidade para formular e implantar políticas públicas para resolver os gargalos", diz o economista-chefe do Banco WestLB, Roberto Padovani. Para ele, a recente decisão de privatizar os maiores aeroportos brasileiros é um sintoma da falta de projeto de desenvolvimento consistente, pois a então candidata Dilma havia garantido, durante a campanha, que isso não aconteceria. A deficiência do setor, combinada à escassez de recursos públicos, obrigou a presidente a tomar um choque de realidade.Ainda que a mudança de posição tenha ocorrido tarde, seria um avanço, não fosse ela um fato isolado em um quadro de extrema ineficiência. Nas poucas vezes em que o governo sinalizou que agirá no sentido de pôr o país nos trilhos da modernidade, tudo não passou de promessas. A mais recente delas tem como alvo o estrangulado setor portuário do país. Segundo o Palácio do Planalto, para incrementar o comércio exterior e reduzir os custos operacionais, a construção e a gestão de 45 portos serão entregues à iniciativa privada. "Infelizmente, precisamos muito mais. Além da pequena capacidade para receber embarcações, os portos se ressentem da falta de silos para armazenagem de mercadorias. Perde-se muito tempo no carregamento e na descarga por falta de investimentos", afirma o presidente da seção de Transporte de Cargas da Confederação Nacional de Transporte (CNT), Flávio Benatti.É por essa razão que o economista Fábio Giabiangi, do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), não esconde seu ceticismo. "O estado de graça acabou no fim do ano passado. Os problemas que estão aparecendo — e assustando — deverão persistir", avisa.QualificaçãoPara um país que é apontado, em todas as pesquisas, como uma das cinco maiores potências econômicas do mundo nas próximas duas décadas, o tempo é vital. Na avaliação de Giambiagi, a situação está tão crítica que o descaso do passado, de administrações que não se preocuparam com a melhora da educação, faz agora o Brasil se deparar com um apagão da mão de obra — a falta de profissionais mais habilitados e capazes para executar as funções exigidas pelas empresas pressionadas por maior produtividade. Para o economista, esse problema ficará mais nítido a partir de 2013, com a consolidação da situação de pleno emprego, configurada por uma taxa de desocupação próxima de 5% (hoje está em 6,4%).Nesse momento, a ausência de trabalhadores qualificados voltará a pressionar a inflação, pois os salários tenderão a subir além do desejável e os custos arcados pelas empresas serão repassados aos consumidores. O resultado disso poderá ser uma nova rodada de aumento dos juros pelo Banco Central e nova trava no crescimento. A previsão do mercado em geral é de que o país avance a taxas de 4% em 2011 e 2012.Efeito cruelO apagão da mão de obra deve causar, de imediato, um efeito cruel. A grande mobilidade social dos últimos anos, que alçou os mais pobres às classes C e D, tenderá a caminhar a passos mais lentos. Os menos escolarizados terão dificuldade para se colocarem no mercado por causa da sofisticação do processo produtivo e das exigências dos empregadores, avalia o demógrafo Haroldo Torres, da Consultoria Plano CDE. "Não se recupera a ausência de anos de escola da noite para o dia", acrescenta a antropóloga Luciana Aguiar."O fato é que o governo deveria controlar os gastos correntes para sobrar dinheiro e aumentar o investimento público. Em vez de comprar clipes, deveria construir estradas"Roberto Padovani, economista-chefe do Banco WestLB

Juro já responde por mais da metade da dívida O Estado de S. Paulo -

Juro já responde por mais da metade da dívida O Estado de S. Paulo -

27/06/2011 Parcela dos encargos financeiros atingiu 60% no total da dívida em abril deste ano; no mesmo período de 2010 era 56%, constata estudo da LCAMárcia De Chiara - O Estado de S.PauloCresceu neste ano a parcela dos juros no total da dívida dos brasileiros. Em abril de 2010, a fatia dos juros correspondia a 56% de uma dívida total de R$ 524 bilhões. Em abril deste ano, o último dado disponível no Banco Central (BC), os juros equivaliam a 60% de uma dívida de R$ 653 bilhões, aponta estudo da LCA Consultores."Com as medidas macroprudenciais do BC no fim de 2010 e a alta dos juros básicos iniciada em janeiro, a dívida total aumentou puxada neste ano pelos encargos financeiros", diz Wermeson França, economista da LCA, responsável pelo estudo.Na sua avaliação, o avanço da parcela dos juros em detrimento do valor principal emprestado mostra uma piora na qualidade da dívida. Isto é, o brasileiro está se endividando mais, não necessariamente porque está indo às compras, mas por causa dos encargos financeiros cobrados nos empréstimos.Cheque especial. Outra informação, segundo o economista da LCA, que confirma que o aumento do endividamento do consumidor está sendo impulsionado pelos juros, aparece nas estatísticas do BC. As duas únicas linhas de crédito que registraram crescimento na média diária de concessões entre dezembro de 2010 e abril deste ano foram o cheque especial e o cartão de crédito, as linhas de financiamento que têm os juros mais elevados e que normalmente são usadas de forma emergencial, isto é, para pagar outras dívidas.Entre dezembro de 2010 e abril deste ano, a média diária real de concessões no cheque especial aumentou 6,2% e, no cartão de crédito, o acréscimo foi de 17%. Já no caso do crédito pessoal, houve um recuo de 3,7% nas concessões nesse período, e nos veículos e aquisição de outros bens, a retração foi ainda maior, de 10,6% e de 11%, respectivamente.Altamiro Carvalho, economista da Federação do Comércio do Estado de São Paulo (Fecomércio-SP), relata que os consumidores estão fazendo novos financiamentos para quitar dívidas antigas. Tanto é que, no ano até abril, os dados de vendas da Fecomércio-SP mostram que o faturamento cresceu apenas 0,73%, sustentado pelos supermercados - cujas vendas praticamente não são influenciadas pelo crédito e que aumentaram 3,02% no período. Nos demais segmentos, como eletrônicos, móveis e veículos, que são movidos a financiamentos, houve queda.Risco. O aumento do endividamento, com maior peso dos juros, pode levar a uma piora da inadimplência neste ano. "Não vai ser nada explosivo, mas a inadimplência vai mudar de patamar", alerta França, da LCA.Em 2010, a inadimplência do consumidor encerrou o ano em 5,7% e em abril, último dado do BC, tinha subido para 6,1%. Até dezembro, deve atingir 7,2%, prevê o economista. Ele pondera que o resultado deste ano deve ficar abaixo do de 2009, o ano do rescaldo da crise financeira, quando o calote chegou a 7,7%.França observa, por exemplo, que apesar de o dado global do BC de abril mostrar que a inadimplência do consumidor com prestações vencidas acima de 90 dias continuar bem comportada, os índices de calote entre 15 e 90 dias de veículos e crédito pessoal superam as taxas acima de 90 dias. "Esse é um sinal de que a inadimplência está piorando."Já o presidente da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade, Miguel Ribeiro de Oliveira, não acredita que o aumento do endividamento, puxado pelos juros, leve necessariamente à alta da inadimplência. "Teria de ocorrer uma forte elevação do desemprego para a inadimplência disparar." Ele acredita que o aumento do endividamento pode até jogar a favor do objetivo do BC de reduzir o consumo.

Dívida dos brasileiros bate recorde

Dívida dos brasileiros bate recorde
Endividamento do brasileiro é recordeO Estado de S. Paulo - 27/06/2011 Dívida total do consumidor atingiu R$ 653 bilhões em abril e equivale a 40% da massa anual de rendimentos do trabalho e da PrevidênciaO endividamento do brasileiro atingiu nível recorde. A dívida total das famílias no cartão de crédito, cheque especial, financiamento bancário, crédito consignado, crédito para compra de veículos e imóveis, incluindo recursos do Sistema Financeiro da Habitação (SFH), corresponde a 40% da massa anual de rendimentos do trabalho e dos benefícios pagos pela Previdência Social no País, aponta um estudo da LCA Consultores ao qual o "Estado" teve acesso.Se, do dia para noite, os bancos e as financeiras decidissem cobrar a dívida total das pessoas físicas, isto é, juros e o empréstimo principal, que chegou a R$ 653 bilhões em abril, cada brasileiro teria de entregar o equivalente a 4,8 meses de rendimento para zerar as pendências. Os cálculos levam em conta a estimativa da massa de rendimentos nacional, não apenas nas seis regiões metropolitanas.Em dezembro de 2009, a dívida das famílias estava em R$ 485 bilhões, subiu para R$ 524 bilhões em abril do ano passado e, em abril deste ano atingiu R$ 653 bilhões. Apesar dos ganhos de renda registrados nesse período, as dívidas abocanharam uma parcela cada vez maior dos rendimentos da população. Quase um ano e meio atrás, a dívida equivalia a 35% da renda anual ou 4,2 meses de rendimento. Em abril deste ano, subiu para 40% da renda ou 4,8 meses de rendimento."Houve uma forte aceleração do endividamento", afirma o economista Wermeson França, responsável pelo estudo. Ele observa que uma conjugação favorável de fatores levou à disparada do endividamento do consumidor. O pano de fundo foi o crescimento econômico registrado no ano passado, quando o Produto Interno Bruto (PIB) cresceu 7,5%. Além disso, bancos e financeiras abriram as torneiras do crédito, com juros menores e prazos a perder de vista.Dados de outro estudo intitulado "Radiografia do Endividamento das Famílias nas Capitais Brasileiras", da Federação do Comércio do Estado de São Paulo (Fecomércio-SP), confirmam o avanço do endividamento do consumidor. De janeiro a maio deste ano, 64%, em média, das famílias que vivem nas 27 capitais do País tinham dívidas, ante 61% em igual período de 2010. O valor médio da dívida aumentou quase 18%, de R$ 1.298 mensais, entre janeiro e maio do ano passado, para R$ 1.527 mensais em igual período deste ano.Depois da explosão do consumo no ano passado, Altamiro Carvalho, assessor econômico da Fecomércio-SP, diz que as medidas de aperto no crédito editadas pelo do Banco Central no fim de 2010, a elevação dos juros e a redução dos prazos dos financiamentos tiveram grande influência sobre o aumento da dívidas das famílias neste início de ano. "As vendas do comércio a partir de março apontam para uma forte desaceleração do consumo", afirma o economista, justificando que a dívida vem crescendo nos últimos meses por causa dos juros.

O Brasil já vive a sua doença holandesa

O Brasil já vive a sua doença holandesa
Para ex-ministro. País deveria taxar exportações de commodities para reduzir o impacto na indústria nacional O Estado de S.PauloENTREVISTA - Luiz Carlos Bresser-Pereira, economista e ex-ministro da Fazenda O Brasil já vive sua "doença holandesa". O governo sabe disso e terá de pensar em taxar as exportações de soja, minérios e outras commodities. Quem alerta é Luiz Carlos Bresser-Pereira. Em entrevista ao Estado, o ex-ministro da Fazenda no governo de José Sarney e de Reforma do Estado e Ciência e Tecnologia no governo de Fernando Henrique Cardoso, alerta que a alta no preço das commodities gerou uma situação à qual o Brasil terá de se adaptar.Se a alta dos preços é positiva para exportadores de recursos naturais, está na hora de o governo pensar em seu impacto para a economia e principalmente para a indústria nacional. Em Genebra para reuniões na ONU, Bresser-Pereira diz que o governo está "empurrando com a barriga" o problema.A "doença holandesa" é um termo cunhado por economistas após a experiência da Holanda com a exportação de gás natural nos anos 60. A receita que entrava acabou gerando uma valorização cambial que prejudicou o setor manufatureiro e o tornou menos competitivo no exterior. Para Bresser-Pereira, a mesma realidade já ocorre no Brasil com a exportação agrícola. Eis os principais trechos da entrevista:OESP - Como a alta nos preços de commodities tem impactado a economia brasileira?CBP - O Brasil já vive sua doença holandesa. Não há nenhuma dúvida disso. O governo sabe. Tanto a presidente Dilma Rousseff quando o ministro da Fazenda, Guido Mantega, são conscientes disso. Mas não reconhecem.OESP -Por quê?CBP -Porque se reconhecerem terão de tomar medidas para lidar com ela. Por enquanto, o governo tem optado em empurrar esse assunto com a barriga.OESP -Qual seria o remédio?CBP -Hoje, o Brasil poderia tranquilamente aplicar uma taxa sobre exportações de commodities. De uma forma disfarçada, Delfim Neto já havia feito isso no passado com o café. Na realidade, essa taxa ao café vigorou no Brasil entre 1968 e 1991. Portanto, não é algo novo. Agora, precisamos repetir isso com a soja e com os minérios. Mas, neste momento, o governo parece não estar disposto a brigar nem com a Vale nem com os produtores de soja. O que o governo precisa fazer é demonstrar para esses grupos que, diante da alta nos preços internacionais, eles não perderão com a taxa e que a economia nacional ganharia.OESP -Há exemplo de país que adotou a taxa de exportação e conseguiu reequilibrar sua economia?CBP -Os Emirados Árabes taxam a exportação de energia em 98%. E é com isso que conseguem criar internamente um mercado de turismo e garantir a sua indústria tecnologia de ponta.OESP -Qual o risco de demorar para reconhecer o problema?CBP -Existem dois riscos. O primeiro, de uma queda no crescimento, ante o recuo na exportação de industrializados. O segundo é de a economia entrar em crise. Não seria para já. Mas viria de problemas sérios na balança de pagamentos. Em ambos os casos, seriam bolhas na economia brasileira que explodiriam.OESP -A exportação agrícola não é o único motivo da valorização cambial. Há também o ingresso de capital especulativo. O que o governo pode fazer diante disso ?CBP -Só há uma coisa a fazer: taxar a entrada de capital.OESP -Mas o governo já faz isso com o IOF. Ele funciona?CBP -Sim, funciona. Mas precisa ser adotado para todos os capitais. As medidas precisam ser mais drásticas, o governo sabe disso.OESP -Isso não espantaria capital estrangeiro do Brasil?CBP -O Brasil não precisa desse tipo de capital internacional. Hoje, uma multinacional que decide abrir produção no País vai ao BNDES e pega empréstimo. Não precisamos mais do Banco Mundial. Há uma alta taxa de substituição da poupança nacional pela poupança externa. Elas não se somam.

A hora é de atacar a questão fiscal

A hora é de atacar a questão fiscal, diz economista Antes de pensar em reduzir a atual meta de inflação, o Brasil precisa enfrentar primeiro a fragilidade estrutural das contas públicas, diz o economista Aloisio Araújo. Para o ortodoxo professor da Fundação Getulio Vargas (FGV), é desejável, sim, que o país tenha meta inferior aos 4,5% que vigoram há seis anos e que devem ser ratificados para 2013 pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) nesta semana, mas a diminuição do alvo tende a não ser crível sem a melhora estrutural das contas públicas. "Já fizemos muito com a política monetária em comparação com a política fiscal desde a redução da inflação ", afirma ele, para quem os juros no Brasil são muito elevados principalmente por causa da situação fiscal. Para Araújo, é o momento de o governo voltar a pensar em reformas como as da Previdência, atacando problemas como os do sistema de aposentadorias do setor público e de pensão por morte. "O Brasil já tem uma carga tributária muito elevada e uma relação dívida/PIB elevada, dado o seu nível de desenvolvimento."Segundo ele, os países com meta de inflação mais baixa que o Brasil costumam ter situação fiscal melhor, caso do Chile, da Colômbia e até do próprio México. A Turquia, mais parecida com o Brasil, persegue um alvo superior ao brasileiro. Também professor do Instituto Nacional de Matemática Pura e Aplicada (Impa), Araújo elogia a opção do Banco Central pelo maior gradualismo adotado na condução da política monetária neste ano. Para ele, é adequada a decisão de buscar a convergência da inflação para o centro da meta apenas no ano que vem, num cenário em que há incertezas sobre a reação da economia às medidas já adotadas. A seguir, os principais trechos da entrevista: Valor: Como o sr. avalia a condução da política monetária pela nova administração do Banco Central? Aloisio Araújo: Eu vejo como essencialmente adequada. Desde a crise ocorreram muitas mudanças na economia. O PIB caiu muito, o que fez o governo adotar muitos instrumentos para evitar a crise, como a maior parte dos países fez. O governo passou então a tirar os estímulos, elevando impostos e compulsórios que haviam sido reduzidos. É difícil saber exatamente que medidas foram adequadas, o quanto se tem que tirar. Os modelos macroeconométricos que o BC usa são muito bons, mas eles acertam mais, como muito modelos desse tipo, quando se está numa situação mais estável. O BC está vendo os efeitos da retirada desses estímulos todos e dos aumentos dos juros que já foram promovidos. O importante é que o BC deixe claro que está perseguindo o centro da meta no ano que vem. Valor: A ação do BC e do governo lhe parece suficiente para controlar a inflação? Araújo: O governo aumentou o superávit fiscal e retirou os estímulos e o BC fez a parte dele, ao subir os juros. Mas é difícil dizer o que vai ocorrer numa situação dessas. Houve também o choque de commodities que afetou a inflação, além de a economia ter tido um PIB [Produto Interno Bruto] muito forte em 2010, ano eleitoral, influenciado pelo ciclo político. São muitos choques, em muitas direções, então é difícil operar o modelo de modo preciso. A inflação em muitos países também fugiu do centro da meta. Valor: Alguns acham que o BC deveria ter reagido com mais força, porque as expectativas de inflação começaram a fugir do controle. Araújo: Eu não acho que elas fugiram demais. O BC tem que olhar as expectativas, mas também tem que formá-las, tem que ser líder nesse processo. O BC foi mais cauteloso em outras situações. Mesmo no começo do governo Lula a inflação subiu muito, os juros também subiram, mas não foi suficiente para trazer à inflação à meta. O BC olhou um ou dois anos à frente. Não é uma coisa nova mirar na frente, quando se voltará a ter o controle mais pleno da situação. Valor: Aumentar mais os juros poderia causar uma perda exagerada em termos de crescimento? Araújo: Não é apenas uma perda em termos de crescimento. Você pode ter que voltar atrás. Quando há choques, é razoável mirar mais à frente. O BC está dizendo que em 2012 a inflação volta ao centro da meta, e isso é razoável, embora se deva ter um olho também neste ano, para tentar fazer com que a inflação não fuja do teto. Vi várias vezes isso ocorrer no Brasil e no exterior. E vejo o BC atuando firme para trazer a inflação para o centro da meta no ano que vem. Valor: O mercado de trabalho muito aquecido, com pressão sobre serviços, não traz um risco de inflação de demanda muito forte?Araújo: A taxa de desemprego caiu bastante, mas esse é um assunto sobre o qual os economistas vão ter que se debruçar com mais cuidado. Gostaria de ver mais estudos sobre qual é a Nairu [a taxa de desemprego que não acelera a inflação] no Brasil. Valor: A inflação de serviços não indica que há pressão de demanda?Araújo: Houve esse componente também. Como a economia caiu muito em 2009, houve muitos estímulos e 2010 era um ano eleitoral, então há o ciclo político também. É difícil ver no momento em que essas coisas está ocorrendo, mas obviamente houve um excesso, além de ter havido um choque de commodities. Mas neste ano vários desses estímulos foram retirados. Valor: Como o sr. avalia a situação fiscal do Brasil?Araújo: A grande questão no Brasil é a situação fiscal. O melhor instrumento que tem o governo é prestar mais atenção ao fiscal estrutural. Houve aumento do superávit primário neste ano, que foi muito positivo. Estamos voltando aos patamares anteriores à crise, mas é algo que tem impacto no curto prazo. Seria bom que o governo voltasse a dar prioridade a algumas reformas, como as que envolvem aspectos da Previdência. Valor: Que aspectos? Araújo: Um deles é o caso das pensões. O governo indicou que podia fazer alguma coisa sobre esse assunto. A legislação brasileira nesse caso é generosa demais, com o Brasil gastando um percentual do PIB totalmente exorbitante na comparação com outros países. Acho que é muito importante fazer algo a respeito. É um ponto do que chamo de fiscal-estrutural, porque não vai ser revertido depois. O sistema de aposentadoria do setor público também precisa ser reformulado. No primeiro governo Lula foi escolhido um modelo que passou no Congresso e não foi implementado, cuja ideia era não garantir a aposentadoria integral. Teria que haver a contribuição para o fundo de aposentadoria complementar. Mesmo se implantado, esse modelo só produziria efeito no longo prazo. Mas como houve muita contratação de servidor público nos últimos anos essa implementação já teria ajudado. Valor: Quais os impactos para a economia brasileira dessa situação fiscal estruturalmente ruim? Araújo: Para mim é o motivo principal para os juros reais serem tão elevados no Brasil. É a razão principal por que não vejo com bons olhos a diminuição da meta de inflação enquanto houver uma situação fiscal frágil. Nós já fizemos muito com a política monetária, em comparação com a política fiscal, desde a redução da inflação. A política monetária jogou papel mais do que preponderante. Isso tem sido uma constante no Brasil. Valor: Alguns economistas dizem que se a meta for reduzida abre-se espaço para a queda dos juros. O sr. concorda? Araújo: Isso pode ocorrer, se você for muito bem sucedido. Mas se ocorrer um choque negativo e você tiver que aumentar os gastos, por exemplo, podem surgir dificuldades com a inflação. Os agentes econômicos podem não acreditar que, numa situação ruim, em que o governo esteja pressionado fiscalmente, ele vai cumprir com facilidade a meta. Isso é uma coisa que pode ocorrer, e os modelos teóricos com que eu trabalho admitem essa possibilidade. O Brasil já tem uma carga tributária muito elevada e uma relação dívida/PIB elevada, dado o seu nível de desenvolvimento. Em termos internacionais, os países que têm meta de inflação mais baixa que o Brasil costumam ter uma situação fiscal melhor. O Chile, alguns países desenvolvidos, o próprio México, e a Colômbia, que nem sequer passou por episódios de crise de dívida. A Turquia, um país mais parecido com o Brasil, tem meta de inflação mais elevada que a brasileira. Valor: Então o sr. concorda com a provável decisão do Conselho Monetário Nacional (CMN) desta semana, que deve manter a meta de inflação em 4,5% para 2013?Araújo: Não é que eu concorde. Acho que seria bom ter meta menor, mas a ordem da discussão deve ser primeiro falar no fiscal-estrutural. Seria bom o Brasil voltar a falar nessas reformas, como a da Previdência e a própria reforma tributária, que é muito importante. Ganhar eficiência microeconômica é outro motivo para fazer reformas. Nós conseguimos ter essa taxa de inflação mais razoável e crescimento maior em função de reformas microeconômicas. Elas ajudaram muito. Com a reforma de crédito, aumentou a eficiência na utilização do capital. Foram reformas muito importantes feitas no governo Fernando Henrique Cardoso e no primeiro governo Lula. Ninguém vai fazer uma grande reforma brasileira, até porque já avançamos muito, e também porque é difícil politicamente. Valor: Alguns analistas que defendem a manutenção da meta usam o grau de indexação da economia brasileira como justificativa. O que o sr. acha dessa avaliação?Araújo: A indexação certamente não ajuda, torna mais rígidos alguns preços, mas não a vejo como o motor da inflação. Mesmo na época da inflação alta, o governo tinha que gerar um imposto inflacionário para fechar suas contas. Depois houve uma substituição do imposto inflacionário por algum ajuste fiscal e pelo aumento de dívida. Há esse lado fiscal subjacente que não convém esquecer e é mais relevante em última instância. Valor: Como o sr. vê as medidas macroprudenciais? Elas foram tomadas mais para evitar uma expansão muito forte do crédito ou para ajudar a controlar a inflação? Araújo: Elas têm esses dois efeitos. O crédito para empresas expande a produção e pressiona a demanda agregada, mas o crédito ao consumo só estimula a demanda, o que prejudica a inflação. A relação entre o crédito e o PIB no Brasil se expandiu, tinha que se expandir e ainda está em níveis razoáveis. Mas para o consumidor ela está em níveis que merecem atenção. Pode ser mais baixa em relação ao PIB que em muitos países, mas o custo é muito mais elevado, porque os juros são mais elevados. Então ela está num nível que convém essas medidas macroprudenciais. Por outro lado, o crédito imobiliário está muito baixo em relação ao PIB. Esse tipo de crédito não foi afetado e não deveria ser, mas é preciso controlar para que tenha capacidade de retomada de imóvel e o mutuário tenha custos, caso fique inadimplente..

Desequilíbrios nas contas externas mundiais estão aumentando

Desequilíbrios nas contas externas mundiais estão aumentando

Os desequilíbrios mundiais nas contas de transações correntes estão aumentando e podem causar um ajustamento desordenado das taxas de câmbio e uma onda de protecionismo. O alerta é do Banco Internacional de Compensações (BIS). O banco central dos bancos centrais suspeita que "o Brasil é um dos países onde um fraco resultado nas (contas) correntes mascara importantes entradas e saídas brutas de capital". Ao abordar "assimetrias importantes", o banco exemplifica que no Brasil as entradas de Investimento Estrangeiro Direto (IED) são amplamente superiores às saídas - "são as reservas acumuladas e, em menor medida, os outros investimentos que equilibram as contas correntes". Na China, as saídas de capital são essencialmente constituídas de reservas e das entradas de IED.Para o BIS, a interdependência financeira que existe entre a América Latina (com peso do Brasil) e os EUA, de US$ 201 bilhões, ou do centros financeiros do Caribe com a América Latina, de US$ 151,6 bilhões, tem pouco a ver com saldos exibidos nas contas correntes.Os fluxos financeiros brutos "trazem talvez riscos ainda maiores ao favorecer eventuais assimetrias nos balanços (de pagamentos) e ao facilitar a transmissão de choques de um país para o outro", relata o BIS.Os fluxos financeiros resultam da acumulação de posições importantes, interconectadas em nível mundial, por estabelecimentos financeiros, empresas e consumidores. As características próprias das entradas e saídas de capital se traduzem, no fim das contas, por assimetrias, de divisas (diferentes moedas) ou prazos, entre ativos e passivos, que podem se converter em desequilíbrios financeiros. Os fluxos brutos têm as mesmas características que os fluxos líquidos: interrupção repentina e absorção ineficaz. O BIS acha que os controles de movimento de capital podem ser usados como último recurso e provisoriamente. Mas que, no longo prazo, o controle modifica principalmente a composição dos fluxos brutos, mais do que sua dimensão.O BIS considera ainda que um reequilíbrio da demanda mundial se impõe para reduzir a situação atual. E para administrar os riscos provocados pelos fluxos brutos, é necessário manter políticas macroeconômicas sadias, aliadas a medidas prudenciais e de fortalecimento da infraestrutura financeira.

Liquidez favorece títulos dos EUA

Liquidez favorece títulos dos EUA

Foi depois da Guerra da Secessão que os bancos dos Estados Unidos foram orientados pela primeira vez a aplicar seu dinheiro em títulos do governo, para ajudar a refinanciar e quitar as dívidas do período de guerra. Atualmente, os bancos voltaram a aumentar suas carteiras de papéis do Tesouro.Numa era de maior regulamentação, o governo está formulando as regras. No início deste mês, por exemplo, Daniel Tarullo, presidente do conselho diretor do Federal Reserve (Fed, o BC dos EUA), sugeriu que os níveis de capitalização dos bancos deveriam ser muito superiores que o de 7% exigido pelas normas de Basileia 3.Os órgãos reguladores determinaram, além disso, que os investimentos em títulos do governo não acarretem qualquer prejuízo em termos de capital, apesar do fato de que a dívida soberana, atualmente, envolve em alguns casos riscos tão elevados quanto emprestar a empresas com classificações de alto risco. Ao mesmo tempo, os governos estão elevando as exigências de liquidez.Essa estrutura de incentivo significa que todo aumento do nível exigido de capitalização e liquidez é bom para o mercado de bônus e evitará a alta das taxas de juros. Mas, mesmo se o jogo não tivesse sido manipulado em favor dos governos, os bancos teriam pouco mais a fazer com o dinheiro dos depositantes, já que tanto empresas quanto famílias estão sofrendo de aversão ao risco.E, só para se garantir que os bancos façam seu trabalho nacional, o Fed, a exemplo do Bank of Japan, o BC japonês, está inundando o mercado com reservas em volumes maiores que a demanda por empréstimos.Não é de se admirar que os bancos americanos se pareçam cada dia mais com seus congêneres japoneses. E não é de se admirar que os investidores não estejam otimistas quanto às perspectivas dos bancos. Mas, num mundo em que assumir riscos é algo desestimulado e em que os retornos sobre o patrimônio estão em queda, como se podem amealhar lucros? Uma das maneiras seria estimular a consolidação dos 4 mil pequenos bancos americanos com menos de US$ 1 bilhão em ativos para formar instituições de maior escala. Mas uma reformulação estrutural do panorama financeiro parece não estar em questão.Nenhum banco quer se fundir com outro ou se pôr à venda. Os US$ 25 bilhões do programa de ajuda destinado a essas instituições podem jamais ser quitados.Por outro lado, muitas empresas de "private equity" abandonaram sua tentativa de comprar bancos. Para começar, não há muitos bancos com problemas financeiros a serem comprados, em vista da antipatia dos órgãos reguladores para com as empresas de compras de participações, enquanto os bancos que não estão nas mãos dos órgãos reguladores também não são muito receptivos. De qualquer maneira, esses investidores acreditam atualmente que pode-se ganhar muito mais dinheiro fora do setor bancário oficial.Por isso as empresas de "private equity" estão mergulhando no sistema bancário alternativo. Muitos acreditam, juntamente com Wes Edens, o fundador do Fortress Investment Group, que essa é a idade do ouro das empresas financeiras não bancárias; uma série de empresas menores e de pessoas físicas precisa de crédito, mas, em vez de obtê-lo por intermédio de bancos engessados pela regulamentação, eles podem fazê-lo por meio de empresas não bancárias.O Fortress comprou a divisão de financiamento ao consumidor da AIG, rebatizou-a de Spring Leaf, e está usando os mercados de securitização para custear a operação.

Alta generalizada de juros será necessária para preservar estabilidade

Alta generalizada de juros será necessária para preservar estabilidade

O crescimento econômico global deve diminuir para derrubar a inflação em torno do mundo. É o que sugere o Banco Internacional de Compensações (BIS) em seu relatório anual.O banco insiste que a dívida continua a pesar duramente, o controle das finanças públicas apenas começou e que os desequilíbrios financeiros internacionais estão de volta. Para o banco central dos bancos centrais, políticas monetárias muito acomodadas vão rapidamente se tornar uma ameaça para a estabilidade de preços, enquanto as reformas financeiras seguem incompletas.Para o BIS, somente um aperto monetário em escala mundial permitirá conter as pressões inflacionárias e afastar os riscos para a estabilidade financeira.As autoridades monetárias estão incertas quanto ao grau de subutilização da capacidade produtiva, o que lembra a situação dos anos 1970, ainda que o contexto econômico seja diferente.As taxas de juros continuam em níveis historicamente baixos, o que não deixa de ser um risco para a estabilidade dos preços e do sistema financeiro.O BIS alerta que a persistência dessa situação nas economias desenvolvidas retarda "o ajuste indispensável" dos balanços das famílias e bancos, e aumenta o risco de ressurgirem distorções.Os riscos de inflação aumentaram globalmente, pela conjunção de redução nas capacidades não utilizadas e no encarecimento dos alimentos, energia e outros produtos básicos.O BIS nota que nas economias emergentes as pressões inflacionárias "se acentuaram". O crescimento econômico, de 6,1% em média este ano, comprado a apenas 2% nos desenvolvidos, conjugado a preços de alimentos em alta, faz com que a inflação cause preocupação generalizada.Nos emergentes, a inflação provocou uma alta do custo de vida - modesta no Brasil, mas significativa na China e na India, na visão do BIS.O BIS considera crucial o aumento dos juros se os bancos centrais quiserem preservar a credibilidade já conquistada na luta contra a inflação. E sobretudo agora, quando o alto nível das dívidas pública e privada é percebido como limitador da capacidade dos BCs de manter a estabilidade de preços.No entanto, o BIS sugere um equilíbrio entre a necessidade de aperto monetário e as vulnerabilidades ainda ligadas a um setor bancário que segue fragilizado. Mas acha que, quando os bancos centrais começarem a elevar os juros, vão fazê-lo num ritmo mais rápido do que nas fases de aperto precedentes. A instituição diz que os bancos centrais devem estar prontos para acentuar e dar mais velocidade às suas políticas de arroxo monetário.O banco central dos bancos centrais estima ainda que as perspectivas menos favoráveis para a alta de preços ao consumidor são provocadas também pelas tensões mais e mais marcadas nos mercados de trabalho nas economias emergentes.Diz que a elevação do custo unitário da mão de obra em alguns grandes emergentes, como é o caso da China, ameaça a estabilidade de preços em escala planetária, em razão do papel que essas economias têm na cadeia de abastecimento.A mensagem, na prática, é de que os emergentes estariam levando inflação para os desenvolvidos em estado calamitoso, na medida em que devem crescer mais de 6% este ano, comparado aos 3,1% para a média da economia mundial.

Câmbio dividido entre cena externa e Ptax

Câmbio dividido entre cena externa e Ptax

Dois eventos extraordinários pautam a formação da taxa de câmbio neste fim de mês.O primeiro deles é a votação de um plano de austeridade na Grécia que define de vez se o país dá um calote oficial ou segue vivo graças à ajuda dos tubos do Fundo Monetário Internacional (FMI).O outro fato, esse de caráter doméstico, é que junho é o último mês no qual a Ptax (taxa que liquida os contratos futuros de câmbio) será calculada como média ponderada pelo volume de negociação.Já em julho, a taxa, que serve de referência para a liquidação de uma série de contratos cambiais, será uma média aritmética de quatro consultas feitas pelo Banco Central (BC) entre 10 horas e 13 horas.Estrangeiro tem aposta recorde de US$ 20,9 bi no realCom tal metodologia, espera-se que a formação da Ptax fique mais transparente e menos passível de distorções. No modelo atual não é segredo para ninguém que os agentes se articulam para fazer a taxa da forma que lhes convém.Fica a dúvida sobre o que falará mais alto: se a instabilidade do quadro externo, que na semana passada puxou o preço do dólar à vista e futuro acima de R$ 1,60, ou a tradicional briga entre comprados e vendidos para a formação da Ptax. Considerando o tamanho das posições na Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F), o embate entre os comprados, que ganham com a alta do dólar, e os vendidos, que lucram com a valorização do real, deve ser acirrado.Pelos últimos dados disponíveis, referentes ao pregão do dia 22, o estoque vendido do investidor estrangeiro estava em US$ 20,886 bilhões, o que configura novo recorde. Esse estoque é formado por US$ 6,666 bilhões em contratos de dólar futuro e US$ 14,220 bilhões em cupom cambial (DDI - juro em dólar). Como sempre, quem faz oposição ao estrangeiro são os bancos locais, que apresentavam posição comprada de US$ 16,522 bilhões, sendo US$ 6,387 bilhões em contratos de dólar e US$ 10,135 bilhões em cupom cambial. Os bancos também têm exposição em outras modalidades cambiais, como mercado à vista (onde estão vendidos) e derivativos de balcão. Portanto, não se sabe qual o posição líquida das instituições.Vale lembrar que, nos últimos meses, os vendidos fizeram valer sua vontade, derrubando o preço do dólar independentemente de fatores externos.A esperada votação na Grécia acontece entre 29 e 30 de junho, dias que concentram as movimentações finais dos investidores no câmbio local. Os agentes estão liquidando ou rolando posições de um vencimento para o outro.A divulgação da taxa Ptax também terá novo horário. Atualmente só se sabe a Ptax no fim do dia. A partir do mês que vem a taxa saíra pouco depois das 13 horas. Esse novo modelo de cálculo foi amplamente discutido entre o BC e o mercado e está em teste desde o começo do ano.No mercado de juros, a semana reserva o Relatório Trimestral de Inflação, que detalha a visão do BC sobre os cenários prospectivos de inflação. O documento, que sai na quarta-feira, dia 29, também mostra a previsão de crescimento que está no modelo da autoridade monetária.Outro evento de relativa importância para esse mercado é a reunião do Conselho Monetário Nacional (CMN), no dia 30.Nesse encontro se confirma a meta de inflação de 2012 e se fixa a meta de 2013. Não há expectativa, no entanto, de que a atual meta de 4,5%, com banda de dois pontos percentuais para mais ou para menos, seja ampliada ou reduzida.A agenda da semana também reserva a nota de política monetária e operações de crédito, a nota externa, com a conta corrente e Investimento Estrangeiro Direto (IED), e as contas fiscais, que mostram o superávit primário e a relação dívida/PIB. Todos esses dados são referentes ao mês de maio.Abrindo o mês de julho, na sexta-feira, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulga a produção industrial de maio, que deve mostrar recuperação após queda em abril.Esses eventos, aliados aos índices de preços semanais e à leitura final do Indice Geral de Preços - Mercado (IGP-M) de junho balizam a formação das apostas quanto aos próximos passos do Comitê de Política Monetária (Copom). Por ora, a curva futura mostra como certa uma alta de 0,25 ponto percentual da Selic após a reunião de julho do colegiado. Para o encontro de agosto ainda não há consenso.Na agenda externa, atenção à renda, gastos e confiança do consumidor americano. Também serão conhecidos indicadores industriais, inflação e desemprego na zona do euro. E da China vem um índice de atividade fabril em junho.

Europa ainda vai dar muito pano pra manga

Europa ainda vai dar muito pano pra manga

A Europa deve continuar dando muito pano pra manga ainda. Os problemas na Grécia estão bem longe do fim e agora surge outro país da região para preocupar os investidores: a Itália. Na sexta-feira, a agência de classificação de risco Moody's colocou em revisão para um possível rebaixamento a nota de 16 bancos italianos privados e de outros dois ligados ao governo. O primeiro-ministro da Itália, Silvio Berlusconi, disse que na quinta-feira deve ser aprovado um plano de austeridade, com medidas para diminuir o déficit, além de uma reforma do sistema fiscal.As notícias pioraram o humor dos investidores no fim da semana passada. Tanto que eles deixaram em segundo plano algumas definições que ocorreram na Grécia. O governo grego conseguiu a aprovação dos credores internacionais para um plano de austeridade de cinco anos, com o objetivo de evitar, ou ao menos adiar, uma solene moratória da dívida do país. Esperava-se que o mercado tivesse um pregão positivo na sexta-feira, na esteira dessa aprovação, mas o Indice Bovespa acabou caindo 0,29%, fechando aos 61.016 pontos.Só um milagre fará o Ibovespa fechar o semestre em altaNesta semana, as atenções devem continuar voltadas ao desenrolar dos acontecimentos na Europa. Na Grécia, por exemplo, ainda há muita água para rolar. O governo grego deve mandar ainda esta semana para o Parlamento o projeto de lei com todo o plano de reformas fiscais.Se esse projeto não for aprovado, a Grécia não receberá o socorro financeiro que tanto precisa. Com isso, o calote será a única saída. "O mercado está em compasso de espera, já que a situação da Grécia pode ter desfechos bem diferentes e a bolsa deve ir para lados opostos, dependendo de qual for esse desfecho", diz o diretor de uma corretora.A Europa, juntamente com as dúvidas sobre a recuperação americana e do nível de desaceleração da economia chinesa, tem sido a grande pedra no sapato do mercado. Para se ter ideia do tamanho da indefinição, o Indice Bovespa não tem forças para sair dos 61 mil pontos desde de o dia 14 deste mês.Esta é a última semana do primeiro semestre e só um milagre faria a bolsa encerrar esse período no campo positivo. Até sexta-feira, o Ibovespa acumulava queda de 11,96%.Se a bolsa está ruim como um todo, ela está pior ainda para grandes papéis como Petrobras, Gerdau, OGX, CSN e Usiminas, que costumam estar na carteira de toda pessoa física que investe em bolsa.Para o estrategista de renda variável do banco HSBC, Carlos Nunes, essa não é a hora de o investidor se desfazer desses papéis e, assim, acabar reconhecendo o prejuízo. No entanto, para tentar ter algum tipo de ganho no mercado, o HSBC está recomendando aos clientes operações de arbitragem, long/short."Essa é a melhor forma de garantir algum retorno num mercado indefinido, mas com alta volatilidade, exatamente como a Bovespa se encontra nesse momento", explica Nunes.