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segunda-feira, 27 de junho de 2011

O Brasil do Otimismo, O Brasil do atraso

O Brasil do Otimismo
GABRIEL CAPRIOLI e SÍLVIO RIBASCorreio Braziliense - 27/06/2011

Saída rápida do país da crise mundial permitiu que 13,3 milhões de pessoas migrassem para as classes A, B e C desde julho de 2009. Menor desigualdade torna o povo brasileiro o mais confiante do mundo O entusiasmo que tomou conta da população nos últimos anos, em decorrência do forte crescimento econômico, deu a muitos a impressão de que o futuro chegou para o Brasil. Não foi à toa. No curtíssimo período entre julho de 2009 e o mês passado, já com o país plenamente recuperado dos estragos da crise mundial, 13,3 milhões de pessoas ascenderam às classes A, B e C. Nas duas primeiras, que formam o topo da pirâmide social brasileira, o incremento proporcional foi mais expressivo: 12,8% contra 11% da tradicional classe média. Toda essa mobilidade social leva o Brasil a liderar um ranking de 144 nações, no qual aparece como a nação mais otimista em relação aos próximos cinco anos. Em uma escala de 0 a 10, os brasileiros classificam com nota média de 8,7 sua expectativa de satisfação com a vida em 2014. Na pesquisa feita no início de 2011, o país já era o recordista.Para Ricardo Paes de Barros, da Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE), a elevação de todos os estratos de renda decorreu de uma ação direta nas camadas menos favorecidas, que acabou empurrando toda a população para condições mais favoráveis. "O Brasil conseguiu promover a principal redução de pobreza e desigualdade das duas últimas décadas graças a uma combinação de políticas públicas bem sucedidas, como os sucessivos ganhos reais do salário mínimo e os programas de transferência de renda. Os sinais disso podem ser percebidos por todos ângulos de análise", avalia, com a autoridade de ser um craque em políticas sociais.A constatação do crescimento da renda nas classes A e B faz parte do estudo Os emergentes dos emergentes, coordenado pelo professor Marcelo Neri, da Fundação Getulio Vargas (FGV), que será lançado hoje em São Paulo. O levantamento mostra que desde 2003, 50 milhões de pessoas, mais do que a população da Espanha, foram incorporadas ao mercado consumidor.ConcentraçãoNeri pondera que a diminuição de disparidades sociais só foi possível porque, ao contrário dos demais países emergentes — pouco afetados pela crise global —, no Brasil, os indicadores sociais vêm tendo desempenho melhor do que o do Produto Interno Bruto (PIB). Por isso, quando se olha para a pesquisa de otimismo da FGV pode-se depreender que "o país vai melhor para a população do que para os economistas". Ela ressalta ainda que, nos demais Brics (bloco formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), a riqueza cresce, mas a desigualdade também."O crescimento da economia (brasileira) não foi um movimento concentrador de renda. E isso só foi possível por causa do aumento expressivo do salário mínimo e dos gastos assistenciais", completa o coordenador da Diretoria de Estudos e Políticas Macroeconômicas do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Cláudio Hamilton.A redução da desigualdade também se apresenta geograficamente. Cada vez mais os ricos se espalham pelo país, reduzindo a discrepância do desenvolvimento entre as regiões. Estudo feito pela consultoria Cognatis Geomarketing para a revista Exame aponta que o Distrito Federal tem, proporcionalmente, o maior número de ricos entre a população: 27% fazem parte das classes A e B. Quando consideradas apenas as capitais, Brasília fica em quarto lugar, com 28% dos moradores no topo da pirâmide, perdendo apenas para Florianópolis, Vitória e Belo Horizonte (veja quadro).Apesar de 61% da riqueza ainda estar situada na região Sudeste do país, o Nordeste deixa para trás, aos poucos, o estigma da pobreza e já abriga 2,6 milhões de abastados. "A educação é um dos fatores de melhora das condições de renda da população brasileira. É também uma das áreas que vêm requerendo mais esforço do governo para aprimorar os seus resultados", constata Paes de Barros. É aguardar para ver. Atualmente, são 20 milhões nas faixas A e B, que, em 2014, serão 30 milhões. O suficiente para manter o otimismo em alta.Salto espetacularLevantamento da Consultoria IPCMaps aponta que 73% das famílias brasileiras melhoraram de vida e migraram para faixas de renda mais altas nos últimos 14 anos. É uma das maiores taxas de mobilidade vistas no mundo em um prazo considerado pequeno, acima das registradas na Suécia (51,5%), no Canadá (50,1%) e nos Estados Unidos (48%). Para o diretor da IPCMaps Marco Pazzini "agora, a nova onda de migração é para as classes A e B".

O Brasil do atraso

ANA D"ANGELOCorreio Braziliense - 27/06/2011

Apesar das conquistas dos últimos anos, país mantém olhos fechados para problemas cruciais, como a enorme carga tributária e a infraestrutura deficiente, que podem inibir o crescimento No topo das preferências dos grandes investidores estrangeiros, o Brasil das oportunidades está escancarando problemas que reluta em enfrentar. O crescimento da economia, a redução das desigualdades e a melhora do padrão de vida da população vêm trombando com um país cheio de gargalos, que todos veem, mas poucos se dispõem a superá-los. Seis meses praticamente se passaram do governo de Dilma Rousseff e tudo continua na mesma: estradas, portos, ferrovias e aeroportos precários, taxas de juros elevadíssimas, falta de mão de obra qualificada, carga tributária pesada e injusta e baixos investimentos públicos. É esse Brasil do atraso que pode travar a continuidade do desenvolvimento a taxas acima de 4% ao ano e manter latente o dragão da inflação."O país está estrangulado. Isso é termômetro da falta de uma agenda clara do governo, que está demonstrando falta de capacidade para formular e implantar políticas públicas para resolver os gargalos", diz o economista-chefe do Banco WestLB, Roberto Padovani. Para ele, a recente decisão de privatizar os maiores aeroportos brasileiros é um sintoma da falta de projeto de desenvolvimento consistente, pois a então candidata Dilma havia garantido, durante a campanha, que isso não aconteceria. A deficiência do setor, combinada à escassez de recursos públicos, obrigou a presidente a tomar um choque de realidade.Ainda que a mudança de posição tenha ocorrido tarde, seria um avanço, não fosse ela um fato isolado em um quadro de extrema ineficiência. Nas poucas vezes em que o governo sinalizou que agirá no sentido de pôr o país nos trilhos da modernidade, tudo não passou de promessas. A mais recente delas tem como alvo o estrangulado setor portuário do país. Segundo o Palácio do Planalto, para incrementar o comércio exterior e reduzir os custos operacionais, a construção e a gestão de 45 portos serão entregues à iniciativa privada. "Infelizmente, precisamos muito mais. Além da pequena capacidade para receber embarcações, os portos se ressentem da falta de silos para armazenagem de mercadorias. Perde-se muito tempo no carregamento e na descarga por falta de investimentos", afirma o presidente da seção de Transporte de Cargas da Confederação Nacional de Transporte (CNT), Flávio Benatti.É por essa razão que o economista Fábio Giabiangi, do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), não esconde seu ceticismo. "O estado de graça acabou no fim do ano passado. Os problemas que estão aparecendo — e assustando — deverão persistir", avisa.QualificaçãoPara um país que é apontado, em todas as pesquisas, como uma das cinco maiores potências econômicas do mundo nas próximas duas décadas, o tempo é vital. Na avaliação de Giambiagi, a situação está tão crítica que o descaso do passado, de administrações que não se preocuparam com a melhora da educação, faz agora o Brasil se deparar com um apagão da mão de obra — a falta de profissionais mais habilitados e capazes para executar as funções exigidas pelas empresas pressionadas por maior produtividade. Para o economista, esse problema ficará mais nítido a partir de 2013, com a consolidação da situação de pleno emprego, configurada por uma taxa de desocupação próxima de 5% (hoje está em 6,4%).Nesse momento, a ausência de trabalhadores qualificados voltará a pressionar a inflação, pois os salários tenderão a subir além do desejável e os custos arcados pelas empresas serão repassados aos consumidores. O resultado disso poderá ser uma nova rodada de aumento dos juros pelo Banco Central e nova trava no crescimento. A previsão do mercado em geral é de que o país avance a taxas de 4% em 2011 e 2012.Efeito cruelO apagão da mão de obra deve causar, de imediato, um efeito cruel. A grande mobilidade social dos últimos anos, que alçou os mais pobres às classes C e D, tenderá a caminhar a passos mais lentos. Os menos escolarizados terão dificuldade para se colocarem no mercado por causa da sofisticação do processo produtivo e das exigências dos empregadores, avalia o demógrafo Haroldo Torres, da Consultoria Plano CDE. "Não se recupera a ausência de anos de escola da noite para o dia", acrescenta a antropóloga Luciana Aguiar."O fato é que o governo deveria controlar os gastos correntes para sobrar dinheiro e aumentar o investimento público. Em vez de comprar clipes, deveria construir estradas"Roberto Padovani, economista-chefe do Banco WestLB

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