SEMANA: VOLATILIDADE E INCERTEZAS MARCARAM CAFÉ NO MES DE MARÇO
No mercado internacional de café, março de 2014 vai ser
lembrado como um mês de extrema volatilidade e de incertezas. O começo de ano
vem sendo das maiores oscilações entre mínimas e máximas na Bolsa de Nova
York para o arábica deste século, e isso se justifica pela apreensão e falta
de convicção em relação ao que pode ter sido perdido da safra brasileira
deste ano em função do clima seco e das altas temperaturas de janeiro e
fevereiro.
A quebra é certa, assim como também se sabe que a produção de 2015 deve
ser afetada. Mas a dúvida é o tamanho real que o problema causou. Assim, NY
subiu na primeira metade de março até atingir no contrato maio o pico de
fechamento de 205,95 centavos de dólar por libra-peso no dia 13. Aí vieram as
chuvas sobre o cinturão cafeeiro do Brasil e o mercado passou a ter fortes
ondas de realização de lucros e correções técnicas. O resultado foi que as
cotações caíram até atingir no último dia 25 um fechamento em 175,30
cents/lb. E isso que nas mínimas ao longo das sessões o mercado foi tanto mais
abaixo que esse valor mínimo na queda quanto mais acima do topo indicado de
fechamento quanto teve seus ganhos.
"Esse comportamento apenas exemplifica a insegurança que toma conta do
mercado. O teor climático e a incerteza em torno da dimensão da quebra
brasileira marcam as idas e vindas do preço do café no mercado internacional.
E isso chegou a um ponto em que poucos querem arriscar uma previsão de safra do
Brasil, que está prestes a ser colhida", diz o analista de SAFRAS & Mercado,
Gil Barabach. Ele lembra que nos últimos meses já se falou de safra
brasileira de 8 a até 46 milhões de sacas, "uma diferença de 12 milhões
de sacas, maior que a produção colombiana nas últimas temporadas."
A falta de um parâmetro confiável em relação à quebra brasileira deve
continuar trazendo volatilidade ao mercado, acredita o analista. Em meio à
nebulosidade, prevalece a ideia de que o Brasil terá uma safra abaixo de 50
milhões de sacas. "No entanto, o exportador e os operadores internacionais
acreditam que a produção ficará mais próxima dos 50 milhões, enquanto os
produtores acreditam em algo mais distante desse referencial produtivo. Assim,
se a safra ficar próxima desse referencial haverá menos espaço para alta, um
vez que o mercado já precificou essa quebra. Agora se a produção ficar muito
abaixo dessa linha produtiva, há ambiente para novo repique e o mercado pode
testar novas máximas de preços. Por isso, tem muita gente trabalhando com um
cenário de preço bastante largo, contemplando as duas realidades", avalia.
O analista destaca que, além da safra 2014, também são grandes as
dúvidas em relação à produção no ano que vem. A estiagem associada às
temperaturas elevadas devem trazer sequelas também para a safra em 2015. "Tem
gente, inclusive, acreditando que a quebra na safra será ainda maior para o
próximo ano. E lógico, isso alimenta mais as especulações e favorece a
volatilidade nos preços", ressalta.
O fato é que o café depois de ir além de 200 centavos, acabou devolvendo
parte dos ganhos e na queda chegou a trocar de mãos a 166 centavos de dólar
por libra na última segunda-feira (24) na ICE Futures em Nova York. "A perda
do suporte de 170 cents serviu de gatilho para uma nova correção altista,
expondo exageros e alertando para a falta de segurança produtiva que ainda
permeia o imaginário do mercado. E isso favoreceu a subida das cotações. A
irregularidade das chuvas sobre o cinturão produtivo brasileiro também foi um
aliado para o avanço das cotações", indica Barabach
"Em meio à toda a incerteza, o mercado de café busca consolidar o
suporte de 175 cents e voltar a se aproximar do patamar de 180 cents em NY, que
muitos acreditam deveria ser o patamar de acomodação pós-correção. Até que
se tenha uma ideia mais clara sobre a safra brasileira, que só deve vir com um
avanço sólido da colheita e do beneficiamento, o mercado deve seguir
volátil e, por isso, sujeito a subidas e descidas expressivas", alerta o
analista
O balanço de março mostra que na Bolsa de Mercadorias de Nova York (ICE
Futures) o contrato maio do arábica acumulou desvalorização de 2,2% até o
fechamento do dia 27 (quinta-feira), passando de 180,30 centavos de dólar por
libra-peso do final de fevereiro para 176,35 cents/lb (fechamento de 27/03). Na
Bolsa de Londres (LIFFE), a posição maio no mesmo comparativo teve alta de 2%,
passando de US$ 2.043 a tonelada para US$ 2.083.
Enquanto isso, no Brasil, a turbulência do mercado assustou os agentes e
diminuiu o ritmo das negociações nos tombos, com os produtores se afastando
dos negócios. No balanço mensal do mercado físico brasileiro, o café
arábica bebida boa do sul de Minas Gerais caiu de R$ 430,00 para R$ 425,00 a
saca até o dia 27, baixa de 1,2%. O conilon caiu de R$ 255,00 para R$ 250,00 a
saca no comparativo, baixa de 2%, para o tipo 7 em Vitória/Espírito Santo. A
baixa do dólar comercial de 3,3% no balanço do mês contribuiu para a pressão
sobre os preços do café em reais.