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domingo, 2 de outubro de 2011

Rodrigo Corrêa da Costa - DIFERENCIA​L DESCONTA O FUNDAMENTO POSITIVO - Mercado de Café – Comentário Semanal

O desempenho ruim das bolsas e commodities no terceiro trimestre do ano fez os principais índices que compilam ativos de risco afundar para os mesmos níveis de um ano atrás.




O otimismo do começo de 2011, onde todos achavam que a recuperação da economia mundial ganharia força apesar das mazelas das dívidas soberanas, se esvaiu, e agora o pessimismo tomou conta da mente dos investidores. Fundos de investimentos têm sofrido resgates massivos das fortunas que administram, e claro que não é por estarem ganhando horrores de dinheiro para seus cotistas. No fim vira um circulo vicioso, pois mais quedas são provocadas com mais resgates aparecendo.



Os mercados continuam ruminando os problemas que assombram o sul da Europa, com alguns novos ingredientes que surgiram em algumas instituições bancárias e que contribuem para o desconforto. Para piorar a inflação na zona do euro divulgada na sexta-feira foi maior do que o esperado, 3%, o que pode atar as mãos do banco central europeu (ECB) em cortar juros. Coisas de Murphy...



O café em Nova Iorque começou a semana bem dando a impressão que não cairia mais, porém não conseguiu suportar a venda de fundos e de alguns especuladores que resolveram pressionar a commodity com notícias de que o “cinturão do café” no Brasil deve receber boas chuvas nos primeiros 10 dias do mês de outubro.



No fim a perda foi modesta de uma semana para outra, apenas US$ 2.55 por saca na ICE, enquanto que na BM&F o mercado ficou de lado, e na LIFFE subiu US$ 3.72 por saca. Vale notar que a arbitragem entre a bolsa brasileira e americana de café está em território positivo, o que demonstra que nem mesmo chuvas farão com que os produtores mudem seu comportamento de vender apenas o necessário.



A estratégia não é ruim, pelo menos enquanto não há uma recuperação da produção principalmente da Colômbia. Isto por que mesmo que a indústria queira comprar café-arábica mais barato (de outras origens) não consegue – ao menos se for de qualidade. Por outro lado para o robusta (conillon) a vantagem de preço volta a ser reforçada, ainda mais com um volume bom que deve começar a fluir com a entrada da safra no Vietnã. Sempre tive dificuldades em crer no argumento da limitação de uso deste café nos blends, e por enquanto estive certo. Para quem bebe o produto com leite ou misturado com qualquer outra coisa (incluindo açúcar), como a maioria dos americanos por exemplo, o café é mais uma “tinta” do que uma busca por aroma, portanto não duvido que continuemos a ver uma utilização maior de robusta com um cenário tão diferente de preço.



No mercado físico nota-se a manutenção da compra da mão para boca por parte dos torradores, com alguns conseguindo alguma cobertura para o ano que vem. No Brasil contratos a termo têm sido feitos também para a “safrona” 12/13, forma inteligente de o fazendeiro garantir os preços remuneradores que são oferecidos.



A mudança das regras dos PIS e COFINS publicada na sexta-feira entra em vigor a partir de janeiro de 2012. O setor em geral está satisfeito com a resolução, pois a mesma traz de volta condições similares para todos os participantes, especialmente para os que são de fato do ramo.



O relatório de posicionamento dos “traders” (COT) finalmente mostrou os fundos com uma posição líquida vendida, resultado de uma diminuição da posição bruto-comprada para próxima de níveis historicamente baixos, e de novas vendas adicionas nos livros. As casas comerciais (“commercials”) aproveitaram para aumentar a posição comprada, o que deve continuar acontecendo com novas quedas do terminal. O efeito perverso do estoque-certificado ser composto por qualidades que não refletem no “C” vai fazer com que o trabalho de manter os preços altos seja feito via diferencial, pelo menos até que os fundos estejam suficientemente vendidos e então vejamos uma recuperação do mercado futuro.



Uma ótima semana e muito bons negócios para todos,



Rodrigo Corrêa da Costa