PREÇOS BAIXOS E SEM GORDURA PARA SURPRESAS
As bolsas de ações europeias tiveram destaques de alta nas primeiras cinco semanas de 2015 ajudadas pelo plano de compras de títulos soberanos anunciado pelo Banco Central Europeu. Com o objetivo de estimular crescimento e inflação o presidente da entidade não colocou teto no volume de recursos que possa ser despejado nas economias, causando a desvalorização do Euro para o menor patamar em mais de onze anos.
Os índices de commodities escorregaram para os níveis de seis anos (BCOM) e treze anos atrás (CRB e SPGSCI) pressionados em alguns momentos pela queda das matérias-primas energéticas, mas com contribuição de alguns metais industriais e os grãos. A perspectiva de um crescimento menor mundial (incluindo a faminta China) e o dólar mais forte são ingredientes que desestimulam um posicionamento comprado dos investidores em commodities.
O café em Nova Iorque surpreendeu e machucou os operadores que apostaram em uma forte queda nos preços durante a venda dos fundos de índice, que liquidaram próximo de 15 mil contratos entre os dias 8 e 14 de janeiro. O tempo seco previsto por institutos meteorológicos nas regiões produtoras brasileiras assustou quem estava vendido e provocou um rally da bolsa, justamente nos cinco dias uteis que baixas eram esperadas. Ironicamente depois das liquidações de uma significante parcela dos contratos comprados destes fundos o mercado caiu, testando as mínimas de julho de 2014.
A preocupação sobre a falta de água na região Sudeste do Brasil sem dúvida é maior internamente do que é absorvido pelo noticiário internacional. As notícias sobre os níveis baixos de precipitações, que tem provocado racionamento e apagões, foram tão bem “gerenciadas” durante as eleições que os formadores de opiniões internacionais têm dificuldades em interpretar a condição real do país.
Após o comportamento dos terminais desde meu último comentário (que foi baixista muito em função da anunciada vendas de fundos), das poucas chuvas em janeiro no “cinturão” do café e da resiliência do mercado em sustentar bem as sucessivas tentativas de testes dos preços abaixo de US$ 158.00 centavos por libra, acredito que estamos em um momento altista para os preços.
A seca de um ano atrás poderia ser amenizada caso o período das chuvas fosse regular, mas ao invés disto o volume de chuva tem sido bem aquém do ideal e das médias históricas. Sem falar para as lavouras da Zona da Mata mineira e do Espírito Santos, que aqui fora muitos diziam serem as “únicas” regiões mais preocupantes, esquecendo-se de mencionar que juntas correspondem a quase 50% da produção brasileira!!
No pico do período da entressafra brasileira e colombiana, assim como de uma gradativa diminuição da necessidade de venda de outros produtores da América Central, a queda do terminal naturalmente apertou os diferenciais dos arábicas – principalmente os naturais. O robusta também encareceu mesmo com uma disponibilidade grande dos cafés do Vietnã.
As próximas semanas terão o feriado de comemoração do Ano Novo Lunar, tirando os vietnamitas do mercado, e o carnaval, que afugentará ainda mais os brasileiros de vender. Na verdade tudo indica que uma eventual necessidade de venda maior dos produtores só deve ocorrer no final de maio ou meados de junho, e mesmo assim o volume pode não ser suficiente para os torradores que não tem cobertura de diferenciais.
Por sinal como diria um “ilustre” ex-presidente: “nunca antes na história” do café brasileiro os diferenciais tinham ficado tão baratos (US$ 40 centavos de desconto!!) e por tanto tempo (três meses??). Isto só aconteceu por um aperto de caixa, limites impostos pelos departamentos de risco, e incapacidade de transferir parte do “long basis” aos compradores finais, que têm políticas limitadoras. O que se vê agora é uma cobertura recorde do “flat-price” (bolsa) por parte dos comerciais, enquanto quem de fato utiliza o café olha para o retrovisor com certo arrependimento de não ter aproveitado os diferenciais tão baratos.
Tudo indica que o terminal está próximo das suas mínimas – pelo menos até o último trimestre de 2015 – salvo o caso do Real desandar muito rápido e romper, digamos, os R$ 3.00 contra o dólar americano.
Nem tudo é altista, claro, como, por exemplo, a já citada posição comprada recorde dos comerciais, que potencialmente diminui novas compras significativas, e a posição dos fundos que está em apenas 22 mil lotes – bem longe dos 70 mil lotes vendidos que eles tinham há um ano.
Creio que revisões de safras e mais para frente à renda da safra 2015/2016 guardam surpresas que dificilmente serão positivas para um aumento da produção.
Em outras palavras, se o preço atual está considerando uma safra 15/16 do mesmo tamanho da 14/15, me parece que há um bom potencial de alta para o contrato “C”, que pode voltar a visitar os US$ 190.00 / US$ 200.00 centavos, e dependendo do clima, vá saber, até mais.
Um bom ano a todos com excelentes negócios.
Rodrigo Corrêa da Costa escreve este relatório sobre café semanalmente como colaborador da Archer Consulting