Cenário externo pressiona e café amplia perdas na ICE Futures US
Os contratos futuros de café arábica negociados na ICE Futures US encerraram esta quinta-feira com novas perdas, o que fez com que a posição julho voltasse a ficar em um nível abaixo dos 260,00 centavos de dólar por libra peso, atingindo os menores níveis de preço desde o último dia 1º de junho. O café voltou a se mostrar pressionado pelo cenário externo, que teve novas perdas para o segmento de commodities, num reflexo das incertezas sobre a economia de alguns países da zona do euro, principalmente a Grécia.
Durante boa parte do dia o dólar operou em alta, o que também deu suporte para vendas especulativas. Apesar das retrações, o mercado não testou seus principais suportes de curto prazo, na área de 253,30 centavos por libra para o julho. Numa área ligeiramente acima desse patamar seria verificada uma área compradora, o que impediria recuos mais consistentes. Operadores ressaltaram que a semana foi caracterizada por movimentações meramente técnicas, sendo que fatores fundamentais, como o clima no Brasil, por exemplo, não tiveram maiores influências sobre o andamento dos negócios.
No encerramento do dia, o julho em Nova Iorque teve baixa de 475 pontos com 257,90 centavos, sendo a máxima em 264,30 e a mínima em 257,50 centavos por libra, com o setembro registrando oscilação negativa de 470 pontos, com a libra a 261,15centavos, sendo a máxima em 267,65 e a mínima em 260,55 centavos por libra. Na Euronext/Liffe, em Londres, a posição julho registrou queda de 7 dólares, com 2.380 dólares por tonelada, com o setembro tendo desvalorização de 10 dólares, com 2.422 dólares por tonelada.
De acordo com analistas internacionais, o dia foi caracterizado por uma predominância da força vendedora, com as máximas ficando longe dos maiores níveis de preço observados na sessão passada, por exemplo. Esses analistas ressaltaram que as questões macroeconômicas dominam a agenda dos negócios e influenciam diretamente o comportamento dos preços de várias commodities, como é o caso do café. O caso mais emblemático é o da Grécia. O medo mais consistente dos players é de que haja um efeito dominó na Europa com um eventual calote dos helênicos. Autoridades da zona do euro ainda não decidiram uma possível ampliação da ajuda financeira internacional ao país, e o Fundo Monetário Internacional indicou que o pagamento da ajuda depende da realização das reformas combinadas. Reformas que vêm sendo contestadas pela população, inclusive com episódios de violência em algumas cidades do país.
"Graficamente verificávamos uma possibilidade concreta de manutenção dos níveis de preço e até de recuperação, com o mercado podendo testar níveis acima dos 270,00 centavos. No entanto, a influência negativa externa tem sido forte e pressiona o mercado para baixo. Caso o cenário externo se acalme, a tendência é voltarmos a flutuar no range acima de 260,00 centavos. No entanto, corremos o risco de romper alguns suportes, o que poderia acionar ordens ainda mais consistentes de vendas", disse um trader.
A produção de café da Colômbia caiu 18% em maio, para 673 mil sacas, ante 822 mil sacas no mesmo mês do ano passado, de acordo com a Federacafe (Federação Nacional dos Cafeicultores da Colômbia). Embora a produção tenha diminuído, as exportações de café da Colômbia subiram 12% no mês passado, para 645 mil sacas. Em maio de 2010, foram exportadas 576 mil sacas. No acumulado do ano até maio, a produção de café é 12% maior do que nos primeiros cinco meses do ano passado, totalizando 3,6 milhões de sacas, segundo a Fedecafé. Os dados incluem café verde, solúvel, torrado e outros tipos de café. A Federacafe espera que a produção deste ano alcance de 9 a 9,5 milhões de sacas.
A produção de café de Uganda deve ter um crescimento de 6,6%, atingindo a marca de 3,2 milhões de sacas no ano safra 2011/2012, que se inicia em outubro. A estimativa é do Usda (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos). A safra de arábica do país deverá atingir na próxima temporada 960 mil sacas, contra 900 mil sacas de 2010/2011. Já a produção de robusta deverá atingir 2,24 milhões de sacas. "A produção de arábica do país africano continua crescendo mais que a de robusta, estimulada, principalmente, pelo aumento dos preços dessa variedade no mercado internacional", indicou o relatório.
As exportações de café do Brasil em junho, até o dia 15, somaram 638.786 sacas, contra 1.043.934 sacas registradas no mesmo período de maio, informou o Cecafé (Conselho dos Exportadores de Café do Brasil). Os estoques certificados de café na bolsa de Nova Iorque tiveram queda de 7.955 sacas indo para 1.662.970 sacas.
O volume negociado no dia na ICE Futures US foi estimado em 25.854 lotes, com as opções tendo 8.637 calls e 4.200 puts. Tecnicamente, o julho na ICE Futures US tem uma resistência em 264,30, 264,50, 264,90-265,00, 265,50, 266,00, 266,50, 267,00, 267,50, 268,00, 268,50 e 269,00 centavos de dólar por libra peso, com o suporte em 257,50, 257,00, 256,50, 256,00, 255,50, 255,10-255,00, 254,50, 254,00, 253,50, 253,30 e 253,00 centavos por libra.
quinta-feira, 16 de junho de 2011
CAFÉ: EXPORTAÇÕES DA COLÔMBIA APRESENTAM INCREMENTO DE 12% EM MAIO
CAFÉ: EXPORTAÇÕES DA COLÔMBIA APRESENTAM INCREMENTO DE 12% EM MAIO
As exportações totais de café da Colômbia em maio de 2011
atingiram 645.000 sacas de 60 quilos, apresentando uma elevação de 12% no
comparativo com igual mês de 2010, quando os embarques foram de 576.000 sacas.
As informações partem da Federação dos Cafeicultores da Colômbia
(Fedecafe), segundo noticiaram agências internacionais.
A Fedecafe indicou que a produção do país em maio, entretanto, foi de
673.000 sacas, com queda de 18% no comparativo com maio de 2010 (822.000 sacas).
No acumulado do ano civil, janeiro a maio, a produção colombiana é de 3,6
milhões de sacas, com aumento de 12% sobre igual período do ano passado.
A expectativa da Fedecafe é de que a Colômbia produza 9,0 a 9,5 milhões
de sacas em 2011, contra 8,9 milhões de sacas em 2010, que teve incremento de
14% sobre a safra 2009.
As exportações totais de café da Colômbia em maio de 2011
atingiram 645.000 sacas de 60 quilos, apresentando uma elevação de 12% no
comparativo com igual mês de 2010, quando os embarques foram de 576.000 sacas.
As informações partem da Federação dos Cafeicultores da Colômbia
(Fedecafe), segundo noticiaram agências internacionais.
A Fedecafe indicou que a produção do país em maio, entretanto, foi de
673.000 sacas, com queda de 18% no comparativo com maio de 2010 (822.000 sacas).
No acumulado do ano civil, janeiro a maio, a produção colombiana é de 3,6
milhões de sacas, com aumento de 12% sobre igual período do ano passado.
A expectativa da Fedecafe é de que a Colômbia produza 9,0 a 9,5 milhões
de sacas em 2011, contra 8,9 milhões de sacas em 2010, que teve incremento de
14% sobre a safra 2009.
Com mate, PepsiCo planeja retomar a liderança do mercado de chás
Com mate, PepsiCo planeja retomar a liderança do mercado de chás
PepsiCo e Coca-Cola sempre brigaram na área de refrigerantes. A disputa, agora,
também se estende ao segmento de chás prontos. A Lipton, a marca da PepsiCo em
parceria com a Unilever, está fazendo seu maior investindo na marca para
recuperar a liderança de venda no Brasil, perdida desde 2003. "Lipton é a marca
líder de chás prontos para beber no mundo e não vai aceitar ser menos no
Brasil", diz Luciana Fortuna, diretora de marketing da PepsiCo Bebidas Brasil.
A Lipton é a terceira colocada no mercado de chás prontos para beber, que
movimentou no ano passado 64,5 milhões de litros - 9,1% mais que em 2009,
segundo a Nielsen. De janeiro a abril deste ano, as vendas cresceram 12% em
volume.
Nesse mercado, a marca da PepsiCo tem 13% de participação em volume, segundo
dados da revista "Supermercado Moderno". Em primeiro está a Coca-Cola, dona da
Leão Júnior, da marca Leão, com 35% de participação. A segunda colocada é a
Nestlé, com 26% do mercado com a marca Nestea.
A PepsiCo não revela o quanto está investindo na retomada de Lipton. "O que
podemos dizer é que é uma soma expressiva, dentro do orçamento para
investimentos de R$ 2,5 bilhões divulgados pela Ambev ", diz a diretora, se
referindo à Companhia de Bebidas das Américas, que no Brasil produz e distribui
os chás prontos Lipton.
Como parte da estratégia para retomar o mercado nacional, a empresa, que vende
chás prontos no Brasil desde 1995, está lançando sua versão mate da bebida. "É
a primeira vez que a Lipton desenvolve um produto para o mercado brasileiro",
diz Luciana.
O sabor mate é metade do mercado de chás prontos no país, seguido do preto, com
30% e do verde, com 10%. Além do novo sabor, a empresa também está lançando os
chás Lipton em embalagem acartonada. "Com novas embalagens, conseguimos atingir
novas ocasiões de consumo", diz a diretora. "Além disso, agora teremos a
embalagem que o brasileiro mais gosta", acrescenta ela, se referindo ao fato de
que 33,2% do total de embalagens usadas pela indústria brasileira correspondem
aos acartonados.
A mesma embalagem também está sendo lançada agora pela Nestea, da Nestlé, e já
era usada pela Wow Nutrition, dos chás Feel Good, e pela Leão, da Coca-Cola.
A linha mais completa de chás do mercado é a da Leão", diz Renato Fukuhara,
diretor de chás da Coca-Cola Brasil. "Incluindo embalagens e sabores
diferentes, nossa linha tem mais de 100 itens", afirma ele, que encara com bom
humor a iniciativa da concorrente. "A Leão está no mercado de chás prontos
desde os anos 80 e no de chás há 110 anos. Sempre tivemos mate em nossa linha,
já que a empresa começou usando essa erva, que é nativa do Brasil."
Para Fukuhara, o crescimento de Leão este ano se dará por meio do Nordeste,
dentre outras estratégias. "Estamos reforçando nossa distribuição no Nordeste,
região na qual a indústria de chás como um todo ainda não chegou como deveria",
diz ele. Foi por isso, segundo ele, que o Nordeste foi a única região do país
onde o mercado de chá não cresceu em 2010. Segundo a Nielsen, em volume, as
vendas naquela região encolheram 5,6%.
Os chás prontos para beber, embora formem uma categoria antiga, ainda têm baixo
consumo por habitante no Brasil. A média é de 0,8 litro ao ano por pessoa. Em
Portugal, esse número chega a 21 litros por pessoa e nos Estados Unidos, a 12,9
litros. O segmento, entretanto, atrai a atenção de fabricantes de
refrigerantes, como Coca e PepsiCo, pois sua taxa de crescimento é expressiva.
Enquanto os refrigerantes tiveram um consumo em volume 6% maior em 2010, os
chás chegaram a uma alta de 10% (0,9 ponto percentual acima do número apurado
pela Nielsen), conforme a Associação Brasileira das Indústrias de Refrigerantes
e de Bebidas não Alcoólicas (Abir). Em volume, foram 117 milhões de litros. A
previsão para este ano são de 176 milhões de litros, segundo a Euromonitor.
PepsiCo e Coca-Cola sempre brigaram na área de refrigerantes. A disputa, agora,
também se estende ao segmento de chás prontos. A Lipton, a marca da PepsiCo em
parceria com a Unilever, está fazendo seu maior investindo na marca para
recuperar a liderança de venda no Brasil, perdida desde 2003. "Lipton é a marca
líder de chás prontos para beber no mundo e não vai aceitar ser menos no
Brasil", diz Luciana Fortuna, diretora de marketing da PepsiCo Bebidas Brasil.
A Lipton é a terceira colocada no mercado de chás prontos para beber, que
movimentou no ano passado 64,5 milhões de litros - 9,1% mais que em 2009,
segundo a Nielsen. De janeiro a abril deste ano, as vendas cresceram 12% em
volume.
Nesse mercado, a marca da PepsiCo tem 13% de participação em volume, segundo
dados da revista "Supermercado Moderno". Em primeiro está a Coca-Cola, dona da
Leão Júnior, da marca Leão, com 35% de participação. A segunda colocada é a
Nestlé, com 26% do mercado com a marca Nestea.
A PepsiCo não revela o quanto está investindo na retomada de Lipton. "O que
podemos dizer é que é uma soma expressiva, dentro do orçamento para
investimentos de R$ 2,5 bilhões divulgados pela Ambev ", diz a diretora, se
referindo à Companhia de Bebidas das Américas, que no Brasil produz e distribui
os chás prontos Lipton.
Como parte da estratégia para retomar o mercado nacional, a empresa, que vende
chás prontos no Brasil desde 1995, está lançando sua versão mate da bebida. "É
a primeira vez que a Lipton desenvolve um produto para o mercado brasileiro",
diz Luciana.
O sabor mate é metade do mercado de chás prontos no país, seguido do preto, com
30% e do verde, com 10%. Além do novo sabor, a empresa também está lançando os
chás Lipton em embalagem acartonada. "Com novas embalagens, conseguimos atingir
novas ocasiões de consumo", diz a diretora. "Além disso, agora teremos a
embalagem que o brasileiro mais gosta", acrescenta ela, se referindo ao fato de
que 33,2% do total de embalagens usadas pela indústria brasileira correspondem
aos acartonados.
A mesma embalagem também está sendo lançada agora pela Nestea, da Nestlé, e já
era usada pela Wow Nutrition, dos chás Feel Good, e pela Leão, da Coca-Cola.
A linha mais completa de chás do mercado é a da Leão", diz Renato Fukuhara,
diretor de chás da Coca-Cola Brasil. "Incluindo embalagens e sabores
diferentes, nossa linha tem mais de 100 itens", afirma ele, que encara com bom
humor a iniciativa da concorrente. "A Leão está no mercado de chás prontos
desde os anos 80 e no de chás há 110 anos. Sempre tivemos mate em nossa linha,
já que a empresa começou usando essa erva, que é nativa do Brasil."
Para Fukuhara, o crescimento de Leão este ano se dará por meio do Nordeste,
dentre outras estratégias. "Estamos reforçando nossa distribuição no Nordeste,
região na qual a indústria de chás como um todo ainda não chegou como deveria",
diz ele. Foi por isso, segundo ele, que o Nordeste foi a única região do país
onde o mercado de chá não cresceu em 2010. Segundo a Nielsen, em volume, as
vendas naquela região encolheram 5,6%.
Os chás prontos para beber, embora formem uma categoria antiga, ainda têm baixo
consumo por habitante no Brasil. A média é de 0,8 litro ao ano por pessoa. Em
Portugal, esse número chega a 21 litros por pessoa e nos Estados Unidos, a 12,9
litros. O segmento, entretanto, atrai a atenção de fabricantes de
refrigerantes, como Coca e PepsiCo, pois sua taxa de crescimento é expressiva.
Enquanto os refrigerantes tiveram um consumo em volume 6% maior em 2010, os
chás chegaram a uma alta de 10% (0,9 ponto percentual acima do número apurado
pela Nielsen), conforme a Associação Brasileira das Indústrias de Refrigerantes
e de Bebidas não Alcoólicas (Abir). Em volume, foram 117 milhões de litros. A
previsão para este ano são de 176 milhões de litros, segundo a Euromonitor.
STF e os benefícios fiscais inconstitucionais
STF e os benefícios fiscais inconstitucionais
No início do mês, o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu pela
inconstitucionalidade de diversos incentivos fiscais concedidos por alguns
Estados e distrito federal por não terem sido aprovados pelos representantes
das unidades federadas.
Até aqui, nenhuma novidade!
A quantidade de processos julgados em uma mesma sessão, ainda que muitos deles
datassem de muitos anos atrás, e manifestações de alguns dos ministros de nossa
Suprema Corte, inclusive com sugestões de que todos os demais processos que ali
se encontrem sejam colocados em julgamento com a maior brevidade possível,
permite presumir a intenção de se por fim ao que se denominou guerra fiscal.
Certamente, a esmagadora maioria dos cidadãos brasileiros minimamente
informados e desejosos de um país cada vez melhor, mais desenvolvido, irá
aplaudir de forma entusiástica a postura da Corte, sonhando com um sistema
tributário que prime pela simplicidade, racionalidade e equilíbrio.
O bom tributo é aquele que é, antes de tudo, neutro. Inclusive porque quando
todos pagam, todos pagam menos!
Entretanto, a guerra fiscal é uma realidade que perdura por diversas décadas e,
nela alicerçadas, empresas se estabeleceram, investimentos se realizaram,
empregos foram gerados aos milhares (ou seriam milhões?).
Devemos buscar um modelo que seja neutro, isonômico, objetivo, transparente e
juridicamente seguro
Mesmo que tenha provocado graves distorções para a economia do país, supriu, ao
longo desse tempo, a ausência de uma consistente e justa política nacional de
desenvolvimento regional, com a complacência dos poderes constituídos,
inclusive o judiciário, dos consumidores, que ao fim e ao cabo pagam a conta, e
dos empresários, que mesmo criticando o sistema no atacado, no varejo sempre
procuram os gabinetes das autoridades públicas em busca de benefícios fiscais.
É duro para um governante ouvir de empresários sérios: se não me conceder
benefício (inconstitucional) irei para outro Estado que me concede (ainda que
também inconstitucional); não posso aqui me instalar, pois em outro Estado
tenho benefícios fiscais (inconstitucionais) que aqui não existem.
Por que não contestar esses benefícios junto ao STF? Porque demora (ou
demorava?) muito e, quando sai a decisão, o prejuízo já é irrecuperável. Onde
todos são culpados, não há culpa. Portanto, pensemos no país sem utopias, mas
com os pés no chão.
Se sobrevivemos com essa realidade até aqui, e até evoluímos bastante nos
últimos 16 anos, é porque somos um povo trabalhador e competente (além de Deus
ser brasileiro). O que o Brasil precisa é de um horizonte claro e seguro, não
de sobressaltos e insegurança jurídica.
Não nos deixemos enganar por aqueles que preferem imputar à carga tributária do
país a responsabilidade por todas as suas mazelas. Antes de discutir se o
imposto é elevado ou não, devemos é buscar um modelo que seja neutro,
isonômico, objetivo, transparente e, em especial, juridicamente seguro.
Por outro lado, dar cabo a benefício fiscal de um Estado mas manter idênticos
de outro seria o mesmo que, em nome da paz, já que estamos falando de guerra,
se retirasse as armas de um lado, mas mantivesse armado o outro - não haveria
paz, mas destruição - no caso, de empregos, investimentos.
O remédio para isso seria, caso o STF venha a efetivamente dar celeridade aos
julgamentos deste caso, começar a questionar os benefícios concedidos pelos
Estados concorrentes. Sairíamos da guerra fiscal para a guerra das Ações
Diretas de Inconstitucionalidade (ADINs).
Caberia, assim, ao Supremo Tribunal Federal assumir sua função política e não
agravar o problema, pois o cerne da questão não é só jurídico. Caberia aos
poderes Executivo, Legislativo e Judiciário buscar uma solução que seja
definitiva, mas sem traumas.
Imposto é custo. Os benefícios fiscais estão nas planilhas de formação de preço
das empresas. Os impostos desonerados não foram repassados, ao menos em sua
integridade, aos preços. Cobrar impostos do passado, que não foram pagos por
força de normas jurídicas até então válidas, dado que todas se presumem legais
e constitucionais por princípio, seria uma quebra de confiança, seria cortar na
carne do empresário, pois a gordura, se existe, é mínima. Seria a morte ou, ao
menos, a atrofia. Seria o desemprego, o retrocesso econômico e social das
unidades federadas e, por consequência, do país.
Afirmam alguns que o empresário não pode reclamar, pois sabia desde o início
que seu benefício era inconstitucional, portanto, assumiu o risco e perdeu. Mas
as autoridades concedentes também não sabiam? O País não sabia? Procurar
identificar responsáveis, nessas horas, não é solução. Não raro, apenas agrava
o problema.
Não se trata, então, de discutir se o efeito das decisões do STF será ex tunc
ou ex nunc, pois isso apenas irá definir o tamanho do estrago.
Precisamos, sim, dar um basta nessa Guerra, mas que sejam analisados todos os
benefícios vigentes, identificados os inconstitucionais e, para esses, fixado
data uniforme para a perda de sua eficácia, em tempo bastante para que as
mudanças sejam absorvidas sem provocar a quebra ou graves dificuldades para as
empresas. E que os novos empreendimentos possam gozar dos mesmos benefícios,
pelo prazo remanescente, pois reserva de mercado também não é algo que se
deseje.
Que a sociedade não se veja, mais uma vez e sem culpa, obrigada a pagar a conta
de uma omissão coletiva, seja pelo desemprego, seja pela retração da economia,
seja pelo aumento dos preços (inflação!).
Como avô recente, me preocupa bastante o país que poderemos estar deixando para
nossos netos, pois, para os nossos filhos, só recentemente conseguimos algo
melhor.
E que jamais se retire a cidadania brasileira de Deus!
Ricardo Pinheiro é subsecretário de Receita do estado do Rio de Janeiro
No início do mês, o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu pela
inconstitucionalidade de diversos incentivos fiscais concedidos por alguns
Estados e distrito federal por não terem sido aprovados pelos representantes
das unidades federadas.
Até aqui, nenhuma novidade!
A quantidade de processos julgados em uma mesma sessão, ainda que muitos deles
datassem de muitos anos atrás, e manifestações de alguns dos ministros de nossa
Suprema Corte, inclusive com sugestões de que todos os demais processos que ali
se encontrem sejam colocados em julgamento com a maior brevidade possível,
permite presumir a intenção de se por fim ao que se denominou guerra fiscal.
Certamente, a esmagadora maioria dos cidadãos brasileiros minimamente
informados e desejosos de um país cada vez melhor, mais desenvolvido, irá
aplaudir de forma entusiástica a postura da Corte, sonhando com um sistema
tributário que prime pela simplicidade, racionalidade e equilíbrio.
O bom tributo é aquele que é, antes de tudo, neutro. Inclusive porque quando
todos pagam, todos pagam menos!
Entretanto, a guerra fiscal é uma realidade que perdura por diversas décadas e,
nela alicerçadas, empresas se estabeleceram, investimentos se realizaram,
empregos foram gerados aos milhares (ou seriam milhões?).
Devemos buscar um modelo que seja neutro, isonômico, objetivo, transparente e
juridicamente seguro
Mesmo que tenha provocado graves distorções para a economia do país, supriu, ao
longo desse tempo, a ausência de uma consistente e justa política nacional de
desenvolvimento regional, com a complacência dos poderes constituídos,
inclusive o judiciário, dos consumidores, que ao fim e ao cabo pagam a conta, e
dos empresários, que mesmo criticando o sistema no atacado, no varejo sempre
procuram os gabinetes das autoridades públicas em busca de benefícios fiscais.
É duro para um governante ouvir de empresários sérios: se não me conceder
benefício (inconstitucional) irei para outro Estado que me concede (ainda que
também inconstitucional); não posso aqui me instalar, pois em outro Estado
tenho benefícios fiscais (inconstitucionais) que aqui não existem.
Por que não contestar esses benefícios junto ao STF? Porque demora (ou
demorava?) muito e, quando sai a decisão, o prejuízo já é irrecuperável. Onde
todos são culpados, não há culpa. Portanto, pensemos no país sem utopias, mas
com os pés no chão.
Se sobrevivemos com essa realidade até aqui, e até evoluímos bastante nos
últimos 16 anos, é porque somos um povo trabalhador e competente (além de Deus
ser brasileiro). O que o Brasil precisa é de um horizonte claro e seguro, não
de sobressaltos e insegurança jurídica.
Não nos deixemos enganar por aqueles que preferem imputar à carga tributária do
país a responsabilidade por todas as suas mazelas. Antes de discutir se o
imposto é elevado ou não, devemos é buscar um modelo que seja neutro,
isonômico, objetivo, transparente e, em especial, juridicamente seguro.
Por outro lado, dar cabo a benefício fiscal de um Estado mas manter idênticos
de outro seria o mesmo que, em nome da paz, já que estamos falando de guerra,
se retirasse as armas de um lado, mas mantivesse armado o outro - não haveria
paz, mas destruição - no caso, de empregos, investimentos.
O remédio para isso seria, caso o STF venha a efetivamente dar celeridade aos
julgamentos deste caso, começar a questionar os benefícios concedidos pelos
Estados concorrentes. Sairíamos da guerra fiscal para a guerra das Ações
Diretas de Inconstitucionalidade (ADINs).
Caberia, assim, ao Supremo Tribunal Federal assumir sua função política e não
agravar o problema, pois o cerne da questão não é só jurídico. Caberia aos
poderes Executivo, Legislativo e Judiciário buscar uma solução que seja
definitiva, mas sem traumas.
Imposto é custo. Os benefícios fiscais estão nas planilhas de formação de preço
das empresas. Os impostos desonerados não foram repassados, ao menos em sua
integridade, aos preços. Cobrar impostos do passado, que não foram pagos por
força de normas jurídicas até então válidas, dado que todas se presumem legais
e constitucionais por princípio, seria uma quebra de confiança, seria cortar na
carne do empresário, pois a gordura, se existe, é mínima. Seria a morte ou, ao
menos, a atrofia. Seria o desemprego, o retrocesso econômico e social das
unidades federadas e, por consequência, do país.
Afirmam alguns que o empresário não pode reclamar, pois sabia desde o início
que seu benefício era inconstitucional, portanto, assumiu o risco e perdeu. Mas
as autoridades concedentes também não sabiam? O País não sabia? Procurar
identificar responsáveis, nessas horas, não é solução. Não raro, apenas agrava
o problema.
Não se trata, então, de discutir se o efeito das decisões do STF será ex tunc
ou ex nunc, pois isso apenas irá definir o tamanho do estrago.
Precisamos, sim, dar um basta nessa Guerra, mas que sejam analisados todos os
benefícios vigentes, identificados os inconstitucionais e, para esses, fixado
data uniforme para a perda de sua eficácia, em tempo bastante para que as
mudanças sejam absorvidas sem provocar a quebra ou graves dificuldades para as
empresas. E que os novos empreendimentos possam gozar dos mesmos benefícios,
pelo prazo remanescente, pois reserva de mercado também não é algo que se
deseje.
Que a sociedade não se veja, mais uma vez e sem culpa, obrigada a pagar a conta
de uma omissão coletiva, seja pelo desemprego, seja pela retração da economia,
seja pelo aumento dos preços (inflação!).
Como avô recente, me preocupa bastante o país que poderemos estar deixando para
nossos netos, pois, para os nossos filhos, só recentemente conseguimos algo
melhor.
E que jamais se retire a cidadania brasileira de Deus!
Ricardo Pinheiro é subsecretário de Receita do estado do Rio de Janeiro
Shiller vê risco `substancial` de uma nova recessão
Shiller vê risco `substancial` de uma nova recessão
O renomado economista Robert Shiller disse ontem que existe uma probabilidade
"substancial" de os Estados Unidos sofrerem uma nova recessão.
Observando os fracos indicadores globais - incluindo a persistente crise no
mercado imobiliário americano, que opera com a luz vermelha acesa - Shiller
afirmou que a economia está atualmente num "momento de inflexão".
"Os modelos atuais de previsão diriam que não" disse Shiller quando questionado
a respeito da possibilidade de os Estados Unidos encararem atualmente um
"double-dip" (novo período de recessão enquanto o país tenta se recuperar da
última crise econômica). "Mas vejo sinais que me fazem temer isso".
O professor da Universidade de Yale e um dos dois homens por trás do índice de
preços de imóveis S&P Case-Shiller disse que os preços dos imóveis podem
continuar a cair, apesar de essa queda já ser menor do que há cinco anos.
A temporada de verão pode aumentar os preços, disse Shiller, "Mas a tendência
geral continua me preocupando."
A confiança na economia está diminuindo, afirmou o economista, referindo-se a
uma possível armadilha de liquidez, na qual o Federal Reserve (banco central
americano) injeta estímulos na economia, mas os consumidores continuam não
abrindo o seu bolso.
"Quando não há demanda, pode-se diminuir as taxas de juros a zero, e ainda
assim as pessoas não estariam dispostas a gastar. Esse é o cenário atual",
disse Shiller.
Embora as autoridades e os órgãos reguladores estejam focados em resgates,
estímulos e reformas regulatórias que miram as empresas que são "grandes demais
para quebrar", o próximo passo deve ser uma reforma nas instituições
financeiras, disse Shiller. Um ponto de partida seria o setor de crédito
imobiliário privado. Ele sugere mais transparência nas cláusulas que regulam a
inadimplência.
Para Shiller, enquanto a Grécia não resolver sua situação, as constantes
manchetes negativas possivelmente terão impacto negativo na confiança global.
"Situações como esta, mesmo em um país pequeno, podem ter um impacto forte",
disse.
"Não acho que seja exagerado" afirmou Shiller, o temor de que a Grécia possa
derrubar o sistema financeiro mundial da mesma forma que a falência do Lehman
Brothers fez o sistema financeiro ficar de joelhos em 2008.
O renomado economista Robert Shiller disse ontem que existe uma probabilidade
"substancial" de os Estados Unidos sofrerem uma nova recessão.
Observando os fracos indicadores globais - incluindo a persistente crise no
mercado imobiliário americano, que opera com a luz vermelha acesa - Shiller
afirmou que a economia está atualmente num "momento de inflexão".
"Os modelos atuais de previsão diriam que não" disse Shiller quando questionado
a respeito da possibilidade de os Estados Unidos encararem atualmente um
"double-dip" (novo período de recessão enquanto o país tenta se recuperar da
última crise econômica). "Mas vejo sinais que me fazem temer isso".
O professor da Universidade de Yale e um dos dois homens por trás do índice de
preços de imóveis S&P Case-Shiller disse que os preços dos imóveis podem
continuar a cair, apesar de essa queda já ser menor do que há cinco anos.
A temporada de verão pode aumentar os preços, disse Shiller, "Mas a tendência
geral continua me preocupando."
A confiança na economia está diminuindo, afirmou o economista, referindo-se a
uma possível armadilha de liquidez, na qual o Federal Reserve (banco central
americano) injeta estímulos na economia, mas os consumidores continuam não
abrindo o seu bolso.
"Quando não há demanda, pode-se diminuir as taxas de juros a zero, e ainda
assim as pessoas não estariam dispostas a gastar. Esse é o cenário atual",
disse Shiller.
Embora as autoridades e os órgãos reguladores estejam focados em resgates,
estímulos e reformas regulatórias que miram as empresas que são "grandes demais
para quebrar", o próximo passo deve ser uma reforma nas instituições
financeiras, disse Shiller. Um ponto de partida seria o setor de crédito
imobiliário privado. Ele sugere mais transparência nas cláusulas que regulam a
inadimplência.
Para Shiller, enquanto a Grécia não resolver sua situação, as constantes
manchetes negativas possivelmente terão impacto negativo na confiança global.
"Situações como esta, mesmo em um país pequeno, podem ter um impacto forte",
disse.
"Não acho que seja exagerado" afirmou Shiller, o temor de que a Grécia possa
derrubar o sistema financeiro mundial da mesma forma que a falência do Lehman
Brothers fez o sistema financeiro ficar de joelhos em 2008.
Mercado externo pressiona e café tem dia de forte perda na ICE
Mercado externo pressiona e café tem dia de forte perda na ICE
Os contratos futuros de café arábica negociados na ICE Futures US encerraram esta quarta-feira com fortes perdas. Após uma nova onda de volatilidade na parte da manhã, o mercado passou a ser pressionado com liquidações mais efetivas de especuladores e de fundos, sem, contudo, fazer com que a posição julho rompesse o intervalo psicológico de 260,00 centavos por libra. A bolsa nova-iorquina foi fortemente influenciada pelo cenário externo, que teve altas expressivas do dólar em relação a outras moedas internacionais, o que estimulou muitos participantes a realizar novas vendas. O índice CRB, que mede a média do comportamento de 14 diferentes commodities, teve um dia de baixas expressivas, caindo, ao final do dia, mais de 2,20%. A crise na Grécia, que teve um dia de confrontos nas ruas e de discussão sobre um pacote de austeridade econômica, foi um dos fatores mais consistentes para a pressão no mercado global, o que afetou diretamente as commodities.
No encerramento do dia, o julho em Nova Iorque teve baixa de 660 pontos com 262,65 centavos, sendo a máxima em 270,00 e a mínima em 260,35 centavos por libra, com o setembro registrando oscilação negativa de 645 pontos, com a libra a 265,85 centavos, sendo a máxima em 273,00 e a mínima em 263,45 centavos por libra. Na Euronext/Liffe, em Londres, a posição julho registrou alta de 40 dólares, com 2.387 dólares por tonelada, com o setembro tendo valorização de 41 dólares, com 2.432 dólares por tonelada.
De acordo com analistas internacionais, mesmo com as baixas desta quarta-feira, o mercado flutua em um range tecnicamente neutro, com uma zona de suporte bem definida e com uma zona de resistência também conhecida. Analisando as ações realizadas nas últimas seis semanas, o setembro conseguiu atingir níveis próximos das máximas de 14 anos no começo de maio, mas as forças bullish (altistas) não conseguiram forças para manter o cenário. Os bears (baixistas) assumiram o controle das ações de curto prazo, pressionando o contrato de setembro, que recuou de 311,40 centavos para a mínima de 256,95 centavos, alcançada em 2 de junho. Contudo, desde 20 de maio o mercado tem flutuado num cenário mais neutro, entre uma resistência de 276,75 centavos (alta de 3 de junho) até a área de 261,50/256,95 centavos (baixas de 20 de maio e 2 de junho). Uma pressão de venda foi observada recentemente, levando o mercado a uma importante zona de suporte, próximo da mínima de 5 de abril, em 259,40 centavos. O mercado efetivamente testou tal área, mas falhou ao sustentar a baixa, sem um suporte técnico para tanto, o que permitiu um reaquecimento, ao menos de curto prazo.
Olhando o cenário de longo prazo, o que depreende é ainda um cenário bastante altista, uma vez que o café conseguiu um salto de 132,55 centavos em junho de 2010 até ir além dos 300,00 centavos em maio deste ano. Ou seja, as baixas processadas entre maio e junho nada mais são do que simples correções.
Para Paul Hare, vice-presidente executivo do Linn Group, alguns pontos podem ser detectados na formação gráfica semanal do café. "Para uma perspectiva de longo prazo podemos trabalhar fora do range atual e irmos para baixo. No entanto, para isso seria necessário que encerrássemos abaixo dos 260,00 centavos", disse. Na semana de 6 de maio, o café atingiu as máximas de 14 anos, mas uma inversão foi verificada e algumas baixas expressivas se formaram, num sinal baixista. No entanto, na semana de 3 de junho, no mesmo quadro gráfico, uma formação altista voltou a ser observada. Entre altas e baixas, o mercado apenas ampliou ligeiramente o range na última semana, o que foi considerado um sinal positivo, mas que, na sequência, uma estabilização foi registrada. Para o curto prazo, Hare disse que o café mostra uma tendência de manutenção do range das últimas semanas. Ele sustentou que o RSI (Índice de Força Relativa) verificado recentemente gira em torno de um patamar de 50, o que pode ser traduzido como "neutro". "Acredito que no curto prazo vamos manter esse estabilidade. Penso que seria interessante ser vendedor entre 275,00 e 280,00 centavos e cobriria posições short em torno dos 260,00 centavos", concluiu.
Os estoques de café nos Estados Unidos tiveram uma alta de 75.366 sacas no final de maio, totalizando 4.426.657 sacas, informou a GCA (Green Coffee Association). No final de abril, os estoques do país eram de 4.351.291 sacas. A maior alta de estoques foi verificada no armazém de Nova Iorque, com aumento de 162.755 sacas, com o aumento nos armazém de São Francisco sendo de 38.953 sacas. A maior retração foi observada no armazém de Nova Orleans, com baixa de 65.437 sacas.
As exportações de café do Brasil em junho, até o dia 14, somaram 528.990 sacas, contra 791.343 sacas registradas no mesmo período de maio, informou o Cecafé (Conselho dos Exportadores de Café do Brasil). Os estoques certificados de café na bolsa de Nova Iorque tiveram queda de 625 sacas indo para 1.670.925 sacas. O volume negociado no dia na ICE Futures US foi estimado em 17.467 lotes, com as opções tendo 3.501 calls e 3.240 puts. Tecnicamente, o julho na ICE Futures US tem uma resistência em 270,00, 270,50, 270,65, 270,75, 271,00, 271,50, 272,00 272,50, 273,00, 273,50, 274,00, 274,50 e 274,90-275,00 centavos de dólar por libra peso, com o suporte em 260,35, 260,10-260,00, 259,50, 259,00, 258,50, 258,00, 257,50, 257,00, 256,50, 256,00, 255,50 e 255,10-255,00 centavos por libra.
Os contratos futuros de café arábica negociados na ICE Futures US encerraram esta quarta-feira com fortes perdas. Após uma nova onda de volatilidade na parte da manhã, o mercado passou a ser pressionado com liquidações mais efetivas de especuladores e de fundos, sem, contudo, fazer com que a posição julho rompesse o intervalo psicológico de 260,00 centavos por libra. A bolsa nova-iorquina foi fortemente influenciada pelo cenário externo, que teve altas expressivas do dólar em relação a outras moedas internacionais, o que estimulou muitos participantes a realizar novas vendas. O índice CRB, que mede a média do comportamento de 14 diferentes commodities, teve um dia de baixas expressivas, caindo, ao final do dia, mais de 2,20%. A crise na Grécia, que teve um dia de confrontos nas ruas e de discussão sobre um pacote de austeridade econômica, foi um dos fatores mais consistentes para a pressão no mercado global, o que afetou diretamente as commodities.
No encerramento do dia, o julho em Nova Iorque teve baixa de 660 pontos com 262,65 centavos, sendo a máxima em 270,00 e a mínima em 260,35 centavos por libra, com o setembro registrando oscilação negativa de 645 pontos, com a libra a 265,85 centavos, sendo a máxima em 273,00 e a mínima em 263,45 centavos por libra. Na Euronext/Liffe, em Londres, a posição julho registrou alta de 40 dólares, com 2.387 dólares por tonelada, com o setembro tendo valorização de 41 dólares, com 2.432 dólares por tonelada.
De acordo com analistas internacionais, mesmo com as baixas desta quarta-feira, o mercado flutua em um range tecnicamente neutro, com uma zona de suporte bem definida e com uma zona de resistência também conhecida. Analisando as ações realizadas nas últimas seis semanas, o setembro conseguiu atingir níveis próximos das máximas de 14 anos no começo de maio, mas as forças bullish (altistas) não conseguiram forças para manter o cenário. Os bears (baixistas) assumiram o controle das ações de curto prazo, pressionando o contrato de setembro, que recuou de 311,40 centavos para a mínima de 256,95 centavos, alcançada em 2 de junho. Contudo, desde 20 de maio o mercado tem flutuado num cenário mais neutro, entre uma resistência de 276,75 centavos (alta de 3 de junho) até a área de 261,50/256,95 centavos (baixas de 20 de maio e 2 de junho). Uma pressão de venda foi observada recentemente, levando o mercado a uma importante zona de suporte, próximo da mínima de 5 de abril, em 259,40 centavos. O mercado efetivamente testou tal área, mas falhou ao sustentar a baixa, sem um suporte técnico para tanto, o que permitiu um reaquecimento, ao menos de curto prazo.
Olhando o cenário de longo prazo, o que depreende é ainda um cenário bastante altista, uma vez que o café conseguiu um salto de 132,55 centavos em junho de 2010 até ir além dos 300,00 centavos em maio deste ano. Ou seja, as baixas processadas entre maio e junho nada mais são do que simples correções.
Para Paul Hare, vice-presidente executivo do Linn Group, alguns pontos podem ser detectados na formação gráfica semanal do café. "Para uma perspectiva de longo prazo podemos trabalhar fora do range atual e irmos para baixo. No entanto, para isso seria necessário que encerrássemos abaixo dos 260,00 centavos", disse. Na semana de 6 de maio, o café atingiu as máximas de 14 anos, mas uma inversão foi verificada e algumas baixas expressivas se formaram, num sinal baixista. No entanto, na semana de 3 de junho, no mesmo quadro gráfico, uma formação altista voltou a ser observada. Entre altas e baixas, o mercado apenas ampliou ligeiramente o range na última semana, o que foi considerado um sinal positivo, mas que, na sequência, uma estabilização foi registrada. Para o curto prazo, Hare disse que o café mostra uma tendência de manutenção do range das últimas semanas. Ele sustentou que o RSI (Índice de Força Relativa) verificado recentemente gira em torno de um patamar de 50, o que pode ser traduzido como "neutro". "Acredito que no curto prazo vamos manter esse estabilidade. Penso que seria interessante ser vendedor entre 275,00 e 280,00 centavos e cobriria posições short em torno dos 260,00 centavos", concluiu.
Os estoques de café nos Estados Unidos tiveram uma alta de 75.366 sacas no final de maio, totalizando 4.426.657 sacas, informou a GCA (Green Coffee Association). No final de abril, os estoques do país eram de 4.351.291 sacas. A maior alta de estoques foi verificada no armazém de Nova Iorque, com aumento de 162.755 sacas, com o aumento nos armazém de São Francisco sendo de 38.953 sacas. A maior retração foi observada no armazém de Nova Orleans, com baixa de 65.437 sacas.
As exportações de café do Brasil em junho, até o dia 14, somaram 528.990 sacas, contra 791.343 sacas registradas no mesmo período de maio, informou o Cecafé (Conselho dos Exportadores de Café do Brasil). Os estoques certificados de café na bolsa de Nova Iorque tiveram queda de 625 sacas indo para 1.670.925 sacas. O volume negociado no dia na ICE Futures US foi estimado em 17.467 lotes, com as opções tendo 3.501 calls e 3.240 puts. Tecnicamente, o julho na ICE Futures US tem uma resistência em 270,00, 270,50, 270,65, 270,75, 271,00, 271,50, 272,00 272,50, 273,00, 273,50, 274,00, 274,50 e 274,90-275,00 centavos de dólar por libra peso, com o suporte em 260,35, 260,10-260,00, 259,50, 259,00, 258,50, 258,00, 257,50, 257,00, 256,50, 256,00, 255,50 e 255,10-255,00 centavos por libra.
Real forte: bênção ou castigo?
Real forte: bênção ou castigo?
Na terça-feira desta semana, a taxa de câmbio fechou em seu nível mais baixo
dos últimos tempos, voltando aos dias áureos de 1999 quando o real entrou em
flutuação, depois de ter amargado um janeiro de trevas.
Ontem, o dólar entrou em rota de alta, recuperando o terreno perdido nos dois
dias anteriores. Entre um movimento e outro, 250 mil diferentes análises e
prognósticos se levantam. Uns para um lado, outros, para outro. Sempre que o
real se valoriza, a indústria grita. Sempre que o dólar se valoriza, o mercado
se agita.
Mas os movimentos desta semana não passam de oscilações provocadas por
impressões instantâneas. O dólar caiu porque a liquidez internacional se
estreitou. O dólar sobe porque os dados da economia dos Estados Unidos são
ruins e a Grécia voltou a virar um campo de batalha! Grandes diferenças de taxa
de câmbio de um dia para o outro têm, efetivamente, o efeito de garantir ganhos
para uns e perdas para outros nas operações realizadas no mercado, mas o
relevante não é isso e sim o comportamento do câmbio ao longo dos anos.
Naquela perspectiva, é mais do que conhecida a trajetória de apreciação do real
diante do dólar em suas duas etapas distintas. A primeira, relaciona-se ao
período entre o início de 2007 e o auge da crise que derrubou o mercado
internacional no final de 2008. A segunda etapa, caracterizada pelo período
entre o primeiro trimestre de 2009 e os dias de hoje.
Canais precisam ser abertos para aumentar a saída de divisas estrangeiras pelo
tempo que for necessário
Tomando janeiro de 2007 por índice igual a 100, a moeda brasileira sofreu uma
valorização de 35% em termos efetivos reais até o terceiro semestre de 2008
quando teve uma queda brusca, voltando rapidamente a valorizar-se em percentual
que passa dos 35% em comparação com a base 100.
Paralelamente, o país vem acumulando reservas internacionais - próximas dos US$
350 bilhões - e mantém sob controle o endividamento externo que, ao contrário
do passado não muito remoto, hoje está mais acentuada nos tomadores do setor
privado. Essas informações devem ser vistas como uma grande benção para um país
que ainda está classificado no mundo dos "emergentes". Ou seja, não passa por
enquanto de um país em desenvolvimento por menor que seja a vulnerabilidade
externa, mas inspira confiança.
É óbvio que a montanha de reservas internacionais traz muita tranquilidade para
todos e ajuda o Brasil a conquistar níveis confortáveis de classificação de
risco, conforme saudou ontem o Ministro da Fazenda, Guido Mantega.
Por outro ângulo, um real encarecido face ao dólar tem o efeito de puxar para
cima produtos e serviços transacionados no país, haja vista a disparada
observada nos preços dos imóveis e principalmente no setor de prestação de
serviços. É claro que os exportados também ficam mais caros no mercado
internacional, muito embora nessa área várias possibilidades são oferecidas aos
exportadores no mercado financeiro com o efeito de reduzir o impacto da queda
da receita em reais.
Mas não há dúvida de que uma persistente apreciação do real imprime à moeda
brasileira um determinado poder de compra que não condiz par e passo com o
nível de desenvolvimento da economia e da sociedade. Há uma grande margem de
artificialismo no valor do real diante dos valores cotados em mercado para as
moedas consideradas fortes, em especial o dólar e o euro.
A resposta que alinha a valorização da moeda ao aumento da taxa de juros -
atualmente em 12,25% nominais ou cerca de 7% em termos reais, ao ano,
referenciada à Selic - está correta na simplória avaliação que compara uma com
a outra. Mas o problema não está no câmbio. E a taxa de juros, por sua vez,
reflete a necessidade de tornar cara a moeda nacional com a finalidade
obrigatória do Banco Central de controlar a inflação. O que mantém os juros
altos? Aí as respostas podem ser várias: descontrole dos gastos públicos,
crédito farto pelos bancos públicos, elevada reminiscência de contratos
atrelados à indexação, aumento da dívida pública interna, enfim... Todos
explicam e todos devem ser atacados. Se arregaçar as mangas com ousadia para
tapar todos os buracos, o governo estará sem dúvida contribuindo para a redução
dos juros e para a depreciação da moeda nacional.
Enquanto a coragem política não vem, só há uma forma de reverter o processo de
valorização da moeda nacional, supondo, obviamente, que nenhuma grande
catástrofe internacional venha a tomar forma. Ou seja, só dá para desvalorizar
o real se e quando houver da parte das autoridades a percepção de que canais
precisam ser abertos para aumentar a saída de divisas estrangeiras pelo tempo
que a situação indicar. O Brasil não tem uma moeda conversível e não terá tão
cedo, o que o amarra ao nicho dos "emergentes".
Mas pode abrir espaço para algumas operações que estimulem o carregamento de
dólar no exterior por parte do setor privado. Aliás, a ideia de taxar produtos
adquiridos por brasileiros com cartão de crédito no exterior vem justamente na
contramão de medidas em prol da desvalorização do real.
Maria Clara R. M. do Prado, jornalista, é sócia diretora da Cin - Comunicação
Inteligente e autora do livro "A Real História do Real".
Na terça-feira desta semana, a taxa de câmbio fechou em seu nível mais baixo
dos últimos tempos, voltando aos dias áureos de 1999 quando o real entrou em
flutuação, depois de ter amargado um janeiro de trevas.
Ontem, o dólar entrou em rota de alta, recuperando o terreno perdido nos dois
dias anteriores. Entre um movimento e outro, 250 mil diferentes análises e
prognósticos se levantam. Uns para um lado, outros, para outro. Sempre que o
real se valoriza, a indústria grita. Sempre que o dólar se valoriza, o mercado
se agita.
Mas os movimentos desta semana não passam de oscilações provocadas por
impressões instantâneas. O dólar caiu porque a liquidez internacional se
estreitou. O dólar sobe porque os dados da economia dos Estados Unidos são
ruins e a Grécia voltou a virar um campo de batalha! Grandes diferenças de taxa
de câmbio de um dia para o outro têm, efetivamente, o efeito de garantir ganhos
para uns e perdas para outros nas operações realizadas no mercado, mas o
relevante não é isso e sim o comportamento do câmbio ao longo dos anos.
Naquela perspectiva, é mais do que conhecida a trajetória de apreciação do real
diante do dólar em suas duas etapas distintas. A primeira, relaciona-se ao
período entre o início de 2007 e o auge da crise que derrubou o mercado
internacional no final de 2008. A segunda etapa, caracterizada pelo período
entre o primeiro trimestre de 2009 e os dias de hoje.
Canais precisam ser abertos para aumentar a saída de divisas estrangeiras pelo
tempo que for necessário
Tomando janeiro de 2007 por índice igual a 100, a moeda brasileira sofreu uma
valorização de 35% em termos efetivos reais até o terceiro semestre de 2008
quando teve uma queda brusca, voltando rapidamente a valorizar-se em percentual
que passa dos 35% em comparação com a base 100.
Paralelamente, o país vem acumulando reservas internacionais - próximas dos US$
350 bilhões - e mantém sob controle o endividamento externo que, ao contrário
do passado não muito remoto, hoje está mais acentuada nos tomadores do setor
privado. Essas informações devem ser vistas como uma grande benção para um país
que ainda está classificado no mundo dos "emergentes". Ou seja, não passa por
enquanto de um país em desenvolvimento por menor que seja a vulnerabilidade
externa, mas inspira confiança.
É óbvio que a montanha de reservas internacionais traz muita tranquilidade para
todos e ajuda o Brasil a conquistar níveis confortáveis de classificação de
risco, conforme saudou ontem o Ministro da Fazenda, Guido Mantega.
Por outro ângulo, um real encarecido face ao dólar tem o efeito de puxar para
cima produtos e serviços transacionados no país, haja vista a disparada
observada nos preços dos imóveis e principalmente no setor de prestação de
serviços. É claro que os exportados também ficam mais caros no mercado
internacional, muito embora nessa área várias possibilidades são oferecidas aos
exportadores no mercado financeiro com o efeito de reduzir o impacto da queda
da receita em reais.
Mas não há dúvida de que uma persistente apreciação do real imprime à moeda
brasileira um determinado poder de compra que não condiz par e passo com o
nível de desenvolvimento da economia e da sociedade. Há uma grande margem de
artificialismo no valor do real diante dos valores cotados em mercado para as
moedas consideradas fortes, em especial o dólar e o euro.
A resposta que alinha a valorização da moeda ao aumento da taxa de juros -
atualmente em 12,25% nominais ou cerca de 7% em termos reais, ao ano,
referenciada à Selic - está correta na simplória avaliação que compara uma com
a outra. Mas o problema não está no câmbio. E a taxa de juros, por sua vez,
reflete a necessidade de tornar cara a moeda nacional com a finalidade
obrigatória do Banco Central de controlar a inflação. O que mantém os juros
altos? Aí as respostas podem ser várias: descontrole dos gastos públicos,
crédito farto pelos bancos públicos, elevada reminiscência de contratos
atrelados à indexação, aumento da dívida pública interna, enfim... Todos
explicam e todos devem ser atacados. Se arregaçar as mangas com ousadia para
tapar todos os buracos, o governo estará sem dúvida contribuindo para a redução
dos juros e para a depreciação da moeda nacional.
Enquanto a coragem política não vem, só há uma forma de reverter o processo de
valorização da moeda nacional, supondo, obviamente, que nenhuma grande
catástrofe internacional venha a tomar forma. Ou seja, só dá para desvalorizar
o real se e quando houver da parte das autoridades a percepção de que canais
precisam ser abertos para aumentar a saída de divisas estrangeiras pelo tempo
que a situação indicar. O Brasil não tem uma moeda conversível e não terá tão
cedo, o que o amarra ao nicho dos "emergentes".
Mas pode abrir espaço para algumas operações que estimulem o carregamento de
dólar no exterior por parte do setor privado. Aliás, a ideia de taxar produtos
adquiridos por brasileiros com cartão de crédito no exterior vem justamente na
contramão de medidas em prol da desvalorização do real.
Maria Clara R. M. do Prado, jornalista, é sócia diretora da Cin - Comunicação
Inteligente e autora do livro "A Real História do Real".
"Os EUA abusaram do poder do monopólio da moeda"
"Os EUA abusaram do poder do monopólio da moeda"
Professor de política econômica Benjamin Cohen diz que concorrentes ao dólar vão impor "disciplina" aos EUA
Os EUA abusaram do poder de ser os emissores do dólar, que teve por muitas décadas o monopólio como moeda internacional de referência. Essa é a opinião do professor de política econômica da Universidade da Califórnia Benjamin Cohen.
Em entrevista à Folha, ele diz que, com excessivo deficit no balanço de pagamentos e ao passar de credor a maior devedor internacional, os EUA criaram instabilidade na economia mundial.
Folha - O yuan vai se tornar uma moeda internacional?
Benjamin Cohen - O yuan já começou a ter um papel internacional. Hoje, 8% do comércio chinês é feito na moeda. Há dois anos, era praticamente zero.
Já existe um mercado de títulos na moeda, como parte de estratégia do governo chinês de encorajar um papel internacional para o yuan.
A grande vantagem da China é o tamanho do seu comércio exterior, o que torna o uso da moeda no comércio tão natural. Mas o país tem um mercado financeiro subdesenvolvido e controle de capitais muito restritivos, o que torna difícil usar a moeda chinesa para investimentos ou como reserva.
Como uma moeda mantida sob controle pode se tornar referência mundial?
Isso nunca ocorreu. Todas as moedas internacionais até hoje são de mercados abertos. A China tenta ser a exceção.
O governo faz teste em Hong Kong, desenvolvendo lá um mercado de títulos em yuan, de uma forma que não ameace o controle de capitais. Uma questão é quão longe eles irão antes de serem forçados a abrir o mercado.
Quanto mais eles promoverem a moeda, mais difícil será preservar esse controle.
O governo terá que permitir a desvalorização do yuan?
Não. Se você vir o histórico de outras moedas, como a da Holanda no século 17, a libra no século 19 e o dólar no século 20, os valores dessas moedas subiram por décadas depois que começaram a ter um papel internacional, porque a demanda pela moeda cresce.
Portanto, a China não será obrigada a desvalorizar.
A competição entre moedas é saudável para os países envolvidos?
Por quatro ou cinco décadas depois da Segunda Guerra, os EUA tiveram um monopólio no mercado monetário internacional.
O problema com monopólio é que leva a abusos. Os EUA abusaram claramente desse poder, ao crescer demais internacionalmente, ter excessivo deficit no balanço de pagamentos, passar de maior credor a maior devedor internacional. Isso tem sido uma fonte de instabilidade na economia mundial.
Se o dólar tiver um ou dois concorrentes, vai impor uma certa disciplina aos EUA.
O real tem chances de ser uma moeda internacional?
Se a economia brasileira continuar a crescer dessa forma, não há por que o real não se tornar na América Latina o equivalente ao euro na Europa ou o yuan na Ásia.
Professor de política econômica Benjamin Cohen diz que concorrentes ao dólar vão impor "disciplina" aos EUA
Os EUA abusaram do poder de ser os emissores do dólar, que teve por muitas décadas o monopólio como moeda internacional de referência. Essa é a opinião do professor de política econômica da Universidade da Califórnia Benjamin Cohen.
Em entrevista à Folha, ele diz que, com excessivo deficit no balanço de pagamentos e ao passar de credor a maior devedor internacional, os EUA criaram instabilidade na economia mundial.
Folha - O yuan vai se tornar uma moeda internacional?
Benjamin Cohen - O yuan já começou a ter um papel internacional. Hoje, 8% do comércio chinês é feito na moeda. Há dois anos, era praticamente zero.
Já existe um mercado de títulos na moeda, como parte de estratégia do governo chinês de encorajar um papel internacional para o yuan.
A grande vantagem da China é o tamanho do seu comércio exterior, o que torna o uso da moeda no comércio tão natural. Mas o país tem um mercado financeiro subdesenvolvido e controle de capitais muito restritivos, o que torna difícil usar a moeda chinesa para investimentos ou como reserva.
Como uma moeda mantida sob controle pode se tornar referência mundial?
Isso nunca ocorreu. Todas as moedas internacionais até hoje são de mercados abertos. A China tenta ser a exceção.
O governo faz teste em Hong Kong, desenvolvendo lá um mercado de títulos em yuan, de uma forma que não ameace o controle de capitais. Uma questão é quão longe eles irão antes de serem forçados a abrir o mercado.
Quanto mais eles promoverem a moeda, mais difícil será preservar esse controle.
O governo terá que permitir a desvalorização do yuan?
Não. Se você vir o histórico de outras moedas, como a da Holanda no século 17, a libra no século 19 e o dólar no século 20, os valores dessas moedas subiram por décadas depois que começaram a ter um papel internacional, porque a demanda pela moeda cresce.
Portanto, a China não será obrigada a desvalorizar.
A competição entre moedas é saudável para os países envolvidos?
Por quatro ou cinco décadas depois da Segunda Guerra, os EUA tiveram um monopólio no mercado monetário internacional.
O problema com monopólio é que leva a abusos. Os EUA abusaram claramente desse poder, ao crescer demais internacionalmente, ter excessivo deficit no balanço de pagamentos, passar de maior credor a maior devedor internacional. Isso tem sido uma fonte de instabilidade na economia mundial.
Se o dólar tiver um ou dois concorrentes, vai impor uma certa disciplina aos EUA.
O real tem chances de ser uma moeda internacional?
Se a economia brasileira continuar a crescer dessa forma, não há por que o real não se tornar na América Latina o equivalente ao euro na Europa ou o yuan na Ásia.
Commodities Agrícolas
Commodities Agrícolas
Dia fraco
Assim como aconteceu com outras commodities agrícolas, os futuros de
café fecharam em baixa ontem na bolsa de Nova York por causa do fortalecimento
do dólar e do movimento fraco no mercado de commodities. Os contratos com
vencimento em se encerraram o dia a US$ 2,6585 a libra-peso, retração de 645
pontos. De acordo com analistas ouvidos pela agência Dow Jones Newswires, o
fator que teria mais condições de reduzir os preços seria a colheita no Brasil,
o maior produtor mundial do grão. O cenário só mudaria se os agricultores
brasileiros postergassem as vendas à espera de preços mais atrativos. Os mesmos
analistas acreditam que os preços do arábica tendem a cair com a oferta no
Brasil. No mercado interno, o indicador Cepea/Esalq para o arábica fechou em
queda de 1,88% a R$ 518,45.
Dólar forte
O fortalecimento do dólar e o enfraquecimento do mercado de
commodities foram decisivos para o movimento de queda das cotações do algodão
ontem na bolsa de Nova York. Os contratos com vencimento em outubro encerraram
o dia a US$ 1,3345 por libra-peso, forte recuo de 509 pontos. De acordo com
analistas ouvidos pela Dow Jones Newswires, a retração ocorreu mesmo com
notícias de que a China está projetando um aumento no volume de algodão a ser
importado no próximo ano, diante da intenção do governo de priorizar a produção
de grãos. "Mas o mercado não está se importando com isso", disse à Dow Jones
Newswires o analista independente, Mike Stevens, sobre os dados da China. No
mercado de Itiquira (MT), a arroba fechou estável em R$ 73,20, segundo o
Imea/Famato.
Lenta recuperação
As apostas de que a lentidão na recuperação da economia vai
reduzir a demanda por alimento, ração e biocombustível foram retomadas e
fizeram recuar as cotações do milho na bolsa de Chicago. Os contratos para
setembro fecharam com o bushel valendo US$ 7,0475, queda de 24,25 centavos de
dólar. De acordo com dados da Bloomberg, a produção industrial nos Estados
Unidos subiu menos do que o previsto em maio e a confiança entre os
construtores caiu para o menor nível em nove meses. Na semana passada, a
produção de etanol, feito na maior parte de milho, caiu 3,8%, a maior queda
desde meados de abril. No mercado de Rondonópolis (MT), compradores ofereciam a
saca de 60 quilos por R$ 21, sem variações no dia, segundo o Imea/Famato.
Rússia no mercado
A retomada das exportações de trigo pela Rússia realimentou a
expectativa de aumento na oferta mundial e provocou uma queda das cotações
futuras do cereal. Os papéis com vencimento em setembro na bolsa de Chicago
encerraram o dia a US$ 7,3925 o bushel, queda de 22,75 centavos de dólar. Em
Kansas, o mesmo contrato fechou a US$ 8,38 o bushel, retração de 20,75 centavos
de dólar. Segundo a Bloomberg, o embargo às exportações pela Rússia termina no
dia 1 de julho. Além disso, as chuvas vêm reduzindo o risco de seca e pode
elevar a colheita no país para 90 milhões de toneladas. Na França, as chuvas
também aliviaram o efeito da estiagem sobre as lavouras. No mercado do Paraná,
a saca de 60 quilos do cereal ficou estável em R$ 26,79, segundo levantamento
do Deral/Seab.
Plantio atrasa, e oferta de feijão deve ter "vazio" nas próximas semanas
O mercado de feijão deve entrar em um vazio de oferta nas próximas semanas. Isso se deve ao atraso no plantio da terceira safra, que normalmente ocorre no início de abril, mas neste ano ocorreu em maio e início deste mês.
A avaliação é do analista Vlamir Brandalizze, da Brandalizze Consulting, consultoria de Curitiba. Em vista da menor oferta, ele prevê uma tendência de alta nos preços do feijão-carioquinha.
O atraso no feijão ocorreu porque a colheita da soja terminou mais tarde.
Os produtores de feijão dão um espaço entre o fim da colheita da oleaginosa com o plantio de feijão devido à praga da "mosca branca".
O atraso de 35 a 40 dias no plantio fará com que o feijão novo apareça no mercado só em julho e em agosto.
Ainda há produto da safrinha de Mato Grosso, mas o volume é pequeno, segundo o analista.
É certo que o feijão subirá de preço, mas é difícil saber quanto, diz Brandalizze.
Apesar da oferta menor, "existe um limitador no meio do caminho, que são as férias de julho, quando a demanda interna recua", diz ele.
No final de julho, ele acredita que os supermercados voltem a fazer estoques, o que deve puxar os preços para cima. Dos atuais, R$ 110 a R$ 115, a saca deverá ficar entre R$ 150 e R$ 160 no campo, acredita Brandalizze.
Encerrada a terceira safra, a oferta de feijão virá da primeira safra de São Paulo, que será semeada no final deste mês e no início de julho.
Brandalizze acredita que esse produto estará no mercado a partir de outubro e novembro.
Pesquisa de preços da Folha indica R$ 115 por saca do carioquinha. No Paraná, a saca está custando R$ 100.
Produtores já negociaram 68% da produção de soja
A comercialização de soja está com ritmo mais acelerado neste ano do que no anterior, segundo dados da consultoria Safras & Mercado.
Até o dia 10 deste mês, pelo menos 68% da produção da oleaginosa prevista para a safra 2010/11 já tinha sido comercializada -em igual período de 2010 esse percentual era de 64%.
O Estado de Goiás registra o maior avanço na comercialização neste ano (81%), seguido de perto por Mato Grosso, líder nacional em produção (80%).
A Safras & Mercado indica que pelo menos 50 milhões de toneladas de soja já trocaram de mãos neste ano. A consultoria prevê produção total de 74 milhões para o período 2010/11.
Os produtores de Mato Grosso já comercializaram 16,4 milhões de toneladas.
Produção brasileira de nióbio sobe 50% até 2015
A produção brasileira de nióbio -metal usado para aumentar a resistência do aço- saltará de 80 mil toneladas em 2010 para 120 mil toneladas em 2015.
Nesse período, os investimentos das empresas atingirão US$ 400 milhões, segundo o Ibram (Instituto Brasileiro de Mineração).
As perspectivas chamam a atenção do mercado internacional. O Brasil é o país com a maior reserva de nióbio do mundo; os EUA são um dos principais consumidores.
Não é à toa que o Wikileaks, site de vazamento de documentos secretos, revelou, no final de 2010, telegramas de diplomatas americanos que colocam o nióbio na lista de "itens estratégicos" e as minas brasileiras como locais "vitais" para a segurança dos Estados Unidos.
Álcool com açúcar
Tradicional na comercialização de etanol, com fatia de 8% do total produzido no
Centro-Sul, a Bioagência vai começar a negociar também açúcar, afirma o diretor
da empresa, Tarcilo Rodrigues. A ideia é estruturar o departamento neste ano
com alguns volumes e iniciar a operação em maior escala em 2012. A meta é
atingir em até três anos a comercialização de 2,5 milhões de toneladas da
commodity, ou 10% da produção do Centro-Sul.
Próxima safra terá recursos de R$ 107,2 bi
Novo valor supera o da safra passada em 7,2%
O Plano Safra 2011/2012, que será anunciado amanhã pela presidente Dilma Rousseff, contará com recursos de R$ 107,2 bilhões.
Esse montante é 7,2% maior em comparação com os R$ 100 bilhões da safra passada. A ideia do governo é expandir em 5% a produção brasileira de grãos, fibras e oleaginosas.
A expectativa é que o cultivo desses alimentos passe de 161,5 milhões para 169,5 milhões de toneladas.
A alta, segundo o governo, vai assegurar o abastecimento interno e contribuir para uma maior regularidade dos preços, além de ampliar excedentes para exportação.
Do total dos recursos, R$ 80,2 bilhões serão usados exclusivamente para custeio e comercialização. Outros R$ 6,5 bilhões financiarão linhas especiais para programas de apoio ao setor sucroalcooleiro e para investimentos.
Para as operações de investimento, o governo irá disponibilizar R$ 20,5 bilhões. Desses, metade será de recursos do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) e do Banco do Brasil.
Dia fraco
Assim como aconteceu com outras commodities agrícolas, os futuros de
café fecharam em baixa ontem na bolsa de Nova York por causa do fortalecimento
do dólar e do movimento fraco no mercado de commodities. Os contratos com
vencimento em se encerraram o dia a US$ 2,6585 a libra-peso, retração de 645
pontos. De acordo com analistas ouvidos pela agência Dow Jones Newswires, o
fator que teria mais condições de reduzir os preços seria a colheita no Brasil,
o maior produtor mundial do grão. O cenário só mudaria se os agricultores
brasileiros postergassem as vendas à espera de preços mais atrativos. Os mesmos
analistas acreditam que os preços do arábica tendem a cair com a oferta no
Brasil. No mercado interno, o indicador Cepea/Esalq para o arábica fechou em
queda de 1,88% a R$ 518,45.
Dólar forte
O fortalecimento do dólar e o enfraquecimento do mercado de
commodities foram decisivos para o movimento de queda das cotações do algodão
ontem na bolsa de Nova York. Os contratos com vencimento em outubro encerraram
o dia a US$ 1,3345 por libra-peso, forte recuo de 509 pontos. De acordo com
analistas ouvidos pela Dow Jones Newswires, a retração ocorreu mesmo com
notícias de que a China está projetando um aumento no volume de algodão a ser
importado no próximo ano, diante da intenção do governo de priorizar a produção
de grãos. "Mas o mercado não está se importando com isso", disse à Dow Jones
Newswires o analista independente, Mike Stevens, sobre os dados da China. No
mercado de Itiquira (MT), a arroba fechou estável em R$ 73,20, segundo o
Imea/Famato.
Lenta recuperação
As apostas de que a lentidão na recuperação da economia vai
reduzir a demanda por alimento, ração e biocombustível foram retomadas e
fizeram recuar as cotações do milho na bolsa de Chicago. Os contratos para
setembro fecharam com o bushel valendo US$ 7,0475, queda de 24,25 centavos de
dólar. De acordo com dados da Bloomberg, a produção industrial nos Estados
Unidos subiu menos do que o previsto em maio e a confiança entre os
construtores caiu para o menor nível em nove meses. Na semana passada, a
produção de etanol, feito na maior parte de milho, caiu 3,8%, a maior queda
desde meados de abril. No mercado de Rondonópolis (MT), compradores ofereciam a
saca de 60 quilos por R$ 21, sem variações no dia, segundo o Imea/Famato.
Rússia no mercado
A retomada das exportações de trigo pela Rússia realimentou a
expectativa de aumento na oferta mundial e provocou uma queda das cotações
futuras do cereal. Os papéis com vencimento em setembro na bolsa de Chicago
encerraram o dia a US$ 7,3925 o bushel, queda de 22,75 centavos de dólar. Em
Kansas, o mesmo contrato fechou a US$ 8,38 o bushel, retração de 20,75 centavos
de dólar. Segundo a Bloomberg, o embargo às exportações pela Rússia termina no
dia 1 de julho. Além disso, as chuvas vêm reduzindo o risco de seca e pode
elevar a colheita no país para 90 milhões de toneladas. Na França, as chuvas
também aliviaram o efeito da estiagem sobre as lavouras. No mercado do Paraná,
a saca de 60 quilos do cereal ficou estável em R$ 26,79, segundo levantamento
do Deral/Seab.
Plantio atrasa, e oferta de feijão deve ter "vazio" nas próximas semanas
O mercado de feijão deve entrar em um vazio de oferta nas próximas semanas. Isso se deve ao atraso no plantio da terceira safra, que normalmente ocorre no início de abril, mas neste ano ocorreu em maio e início deste mês.
A avaliação é do analista Vlamir Brandalizze, da Brandalizze Consulting, consultoria de Curitiba. Em vista da menor oferta, ele prevê uma tendência de alta nos preços do feijão-carioquinha.
O atraso no feijão ocorreu porque a colheita da soja terminou mais tarde.
Os produtores de feijão dão um espaço entre o fim da colheita da oleaginosa com o plantio de feijão devido à praga da "mosca branca".
O atraso de 35 a 40 dias no plantio fará com que o feijão novo apareça no mercado só em julho e em agosto.
Ainda há produto da safrinha de Mato Grosso, mas o volume é pequeno, segundo o analista.
É certo que o feijão subirá de preço, mas é difícil saber quanto, diz Brandalizze.
Apesar da oferta menor, "existe um limitador no meio do caminho, que são as férias de julho, quando a demanda interna recua", diz ele.
No final de julho, ele acredita que os supermercados voltem a fazer estoques, o que deve puxar os preços para cima. Dos atuais, R$ 110 a R$ 115, a saca deverá ficar entre R$ 150 e R$ 160 no campo, acredita Brandalizze.
Encerrada a terceira safra, a oferta de feijão virá da primeira safra de São Paulo, que será semeada no final deste mês e no início de julho.
Brandalizze acredita que esse produto estará no mercado a partir de outubro e novembro.
Pesquisa de preços da Folha indica R$ 115 por saca do carioquinha. No Paraná, a saca está custando R$ 100.
Produtores já negociaram 68% da produção de soja
A comercialização de soja está com ritmo mais acelerado neste ano do que no anterior, segundo dados da consultoria Safras & Mercado.
Até o dia 10 deste mês, pelo menos 68% da produção da oleaginosa prevista para a safra 2010/11 já tinha sido comercializada -em igual período de 2010 esse percentual era de 64%.
O Estado de Goiás registra o maior avanço na comercialização neste ano (81%), seguido de perto por Mato Grosso, líder nacional em produção (80%).
A Safras & Mercado indica que pelo menos 50 milhões de toneladas de soja já trocaram de mãos neste ano. A consultoria prevê produção total de 74 milhões para o período 2010/11.
Os produtores de Mato Grosso já comercializaram 16,4 milhões de toneladas.
Produção brasileira de nióbio sobe 50% até 2015
A produção brasileira de nióbio -metal usado para aumentar a resistência do aço- saltará de 80 mil toneladas em 2010 para 120 mil toneladas em 2015.
Nesse período, os investimentos das empresas atingirão US$ 400 milhões, segundo o Ibram (Instituto Brasileiro de Mineração).
As perspectivas chamam a atenção do mercado internacional. O Brasil é o país com a maior reserva de nióbio do mundo; os EUA são um dos principais consumidores.
Não é à toa que o Wikileaks, site de vazamento de documentos secretos, revelou, no final de 2010, telegramas de diplomatas americanos que colocam o nióbio na lista de "itens estratégicos" e as minas brasileiras como locais "vitais" para a segurança dos Estados Unidos.
Álcool com açúcar
Tradicional na comercialização de etanol, com fatia de 8% do total produzido no
Centro-Sul, a Bioagência vai começar a negociar também açúcar, afirma o diretor
da empresa, Tarcilo Rodrigues. A ideia é estruturar o departamento neste ano
com alguns volumes e iniciar a operação em maior escala em 2012. A meta é
atingir em até três anos a comercialização de 2,5 milhões de toneladas da
commodity, ou 10% da produção do Centro-Sul.
Próxima safra terá recursos de R$ 107,2 bi
Novo valor supera o da safra passada em 7,2%
O Plano Safra 2011/2012, que será anunciado amanhã pela presidente Dilma Rousseff, contará com recursos de R$ 107,2 bilhões.
Esse montante é 7,2% maior em comparação com os R$ 100 bilhões da safra passada. A ideia do governo é expandir em 5% a produção brasileira de grãos, fibras e oleaginosas.
A expectativa é que o cultivo desses alimentos passe de 161,5 milhões para 169,5 milhões de toneladas.
A alta, segundo o governo, vai assegurar o abastecimento interno e contribuir para uma maior regularidade dos preços, além de ampliar excedentes para exportação.
Do total dos recursos, R$ 80,2 bilhões serão usados exclusivamente para custeio e comercialização. Outros R$ 6,5 bilhões financiarão linhas especiais para programas de apoio ao setor sucroalcooleiro e para investimentos.
Para as operações de investimento, o governo irá disponibilizar R$ 20,5 bilhões. Desses, metade será de recursos do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) e do Banco do Brasil.
Blitz flagra irregularidades em cafezais
Blitz flagra irregularidades em cafezais
Folha de São Paulo
Ministério do Trabalho autuou fazendas por aliciamento, contratação de menor, danos morais e condições precárias
Fazendas de Pedregulho negaram parte das irregularidades; uma delas afirma que está resolvendo problemas
O Ministério do Trabalho autuou duas fazendas de café da região nordeste do Estado por aliciamento de trabalhador, contratação de menor de idade, danos morais e condições precárias de trabalho rural. A blitz também contou com a participação da Procuradoria do Trabalho.
A região é a terceira maior produtora do grão, responsável por 8% do café arábica do país, atrás de Minas Gerais (50%) e Espírito Santo (25%).
Na fazenda Matinha, em Pedregulho, quatro trabalhadores nessas condições foram encontrados pelos fiscais -um casal, um adulto e um adolescente de 17 anos.
Segundo o auditor fiscal Edmundo Oliveira Neto, eles foram coagidos a permanecer na plantação até o fim da colheita, apesar de terem pedido para voltar para casa, em Mato Verde (MG).
"O empregador pagaria as passagens somente após os 90 dias de colheita. Como não cumpririam o acordo, teriam que desembolsar os valores sozinhos", diz.
Segundo os fiscais, os trabalhadores voltaram para Mato Verde ontem.
Os proprietários da fazenda serão autuados por danos morais, constrangimento e por empregarem o menor.
Já na fazenda Taquari, também em Pedregulho, não havia equipamentos de segurança adequados, as moradias eram irregulares e as refeições eram feitas em local inadequado.
Em meio aos 400 mil pés de café não havia sanitários, o que é obrigatório, segundo a legislação trabalhista.
Não era fornecida água. Só se mantinha hidratado quem levasse seus garrafões.
Em uma das casas, de seis cômodos, foram encontrados 14 agricultores, entre casais, crianças e solteiros, o que é irregular. "Cada família tem que ter sua moradia", diz Roberto Figueiredo, coordenador da fiscalização.
Segundo Oliveira Neto, cada irregularidade rende multa de até R$ 6.000. Os empregadores podem recorrer.
OUTRO LADO
Num primeiro contato, a fazenda Matinha negou a cobrança irregular de passagens. No segundo, quando a Folha procurou a fazenda para abordar sobre o menor de idade, a reportagem não conseguiu contato.
A fazenda Taquari disse que fornece os equipamentos de segurança a todos os agricultores e que estuda uma forma de fazer um local para as refeições na lavoura.
Sobre as casas, disse que os agricultores são alocados respeitando os limites dos alojamentos, mas que no caso citado, todos faziam parte da mesma família e queriam ficar juntos.
Folha de São Paulo
Ministério do Trabalho autuou fazendas por aliciamento, contratação de menor, danos morais e condições precárias
Fazendas de Pedregulho negaram parte das irregularidades; uma delas afirma que está resolvendo problemas
O Ministério do Trabalho autuou duas fazendas de café da região nordeste do Estado por aliciamento de trabalhador, contratação de menor de idade, danos morais e condições precárias de trabalho rural. A blitz também contou com a participação da Procuradoria do Trabalho.
A região é a terceira maior produtora do grão, responsável por 8% do café arábica do país, atrás de Minas Gerais (50%) e Espírito Santo (25%).
Na fazenda Matinha, em Pedregulho, quatro trabalhadores nessas condições foram encontrados pelos fiscais -um casal, um adulto e um adolescente de 17 anos.
Segundo o auditor fiscal Edmundo Oliveira Neto, eles foram coagidos a permanecer na plantação até o fim da colheita, apesar de terem pedido para voltar para casa, em Mato Verde (MG).
"O empregador pagaria as passagens somente após os 90 dias de colheita. Como não cumpririam o acordo, teriam que desembolsar os valores sozinhos", diz.
Segundo os fiscais, os trabalhadores voltaram para Mato Verde ontem.
Os proprietários da fazenda serão autuados por danos morais, constrangimento e por empregarem o menor.
Já na fazenda Taquari, também em Pedregulho, não havia equipamentos de segurança adequados, as moradias eram irregulares e as refeições eram feitas em local inadequado.
Em meio aos 400 mil pés de café não havia sanitários, o que é obrigatório, segundo a legislação trabalhista.
Não era fornecida água. Só se mantinha hidratado quem levasse seus garrafões.
Em uma das casas, de seis cômodos, foram encontrados 14 agricultores, entre casais, crianças e solteiros, o que é irregular. "Cada família tem que ter sua moradia", diz Roberto Figueiredo, coordenador da fiscalização.
Segundo Oliveira Neto, cada irregularidade rende multa de até R$ 6.000. Os empregadores podem recorrer.
OUTRO LADO
Num primeiro contato, a fazenda Matinha negou a cobrança irregular de passagens. No segundo, quando a Folha procurou a fazenda para abordar sobre o menor de idade, a reportagem não conseguiu contato.
A fazenda Taquari disse que fornece os equipamentos de segurança a todos os agricultores e que estuda uma forma de fazer um local para as refeições na lavoura.
Sobre as casas, disse que os agricultores são alocados respeitando os limites dos alojamentos, mas que no caso citado, todos faziam parte da mesma família e queriam ficar juntos.
Ranking da discórdia
Ranking da discórdia
Se não pode vencê-los, confunda-os. Essa parece ser a estratégia adotada pela
BM&FBovespa para resolver o problema do ranking de corretoras de varejo, ou
home broker. Em lugar de simplesmente acabar com a classificação, que provocou
uma guerra de preços em busca de volume e liderança, a bolsa resolveu misturar
os negócios, colocando corretoras de atacado juntamente com as de varejo.
Essa é a interpretação de diretores de corretoras surpresos com o ranking de
home broker de maio, no qual aparece em nono lugar a Goldman Sachs, que nem
varejo tem. O mesmo ocorre no ranking parcial deste mês, até dia 13, em que o
Credit Suisse aparece em sexto lugar.
A decisão da BM&FBovespa parece ter sido de unificar todos os rankings,
acabando, assim, com os indicadores de varejo, afirma Paulo Levy, da corretora
americana Icap. Para isso, unificaram as chamadas portas onde os negócios são
registrados na bolsa. "Elas funcionavam como tomadas; havia a porta 300 para o
home broker, a 400 para agentes repassadores e a 500 para institucionais", diz.
Assim, pela porta do home broker, só podiam entrar operações de pessoas
físicas. De uns tempos para cá, porém, a bolsa afrouxou os controles,
permitindo registros em portas erradas. "Antes, se alguém trocasse as portas, a
bolsa ligava, mandando corrigir, e agora pararam de fazer isso", conta Levy.
Uma das justificativas para a mudança no ranking, segundo executivos do setor,
era a de que, para aparecer bem na classificação e atrair possíveis
compradores, várias corretoras jogaram os preços das corretagens no chão para
ganhar volume. Para evitar isso, que poderia colocar em risco a saúde
financeira das corretoras, uma comissão liderada pela bolsa decidiu que o
melhor era acabar com o ranking. Em lugar de parar de divulgá-lo, porém, a
opção teria sido unificar as portas.
Não há um prazo para essa unificação, dizem corretores, mas algumas
instituições começam a fazer o processo. Por isso, a Goldman e o Credit
apareceram no home broker sem operar com varejo. "Foi uma forma de a bolsa
esculhambar, invalidar o ranking não oficialmente", diz um corretor que pediu
para não ser citado. "Hoje a classificação não reflete mais a realidade."
No início, alguns corretores acharam que se tratava apenas de um erro de
registro de operação, mas isso foi negado pela bolsa. Consultada, a assessoria
da BM&FBovespa respondeu: "não há erro no ranking". Também consultado, o
Goldman Sachs não respondeu o motivo de ele aparecer no ranking de varejo da
bolsa sem ter esse tipo de negócio.
Acabar com o ranking não é a única medida para evitar a guerra de preços. Há
também a proposta de criar uma "tela cega", em que o comprador não conseguiria
ver mais quem é a corretora que está vendendo os papéis, mas apenas a
quantidade de ações e os preços. "Isso impediria uma corretora ou investidor de
dar preferência a determinada instituição por sua classificação no ranking",
afirma João Ferreira, diretor da corretora Futura.
Ele observa que o ranking já vinha sendo distorcido pelos próprios
participantes, com as corretoras que ocupam os primeiros lugares ampliando seus
volumes ao colocar grandes investidores ou agentes autônomos junto com varejo,
cobrando pouca corretagem. "E há algumas corretoras que isentam de corretagem
no último dia do mês para aumentar o volume."
Já a guerra de tarifas entre as corretoras dá sinais de ter se acalmado. Na
Gradual, o idealizador da política de "opere quanto quiser" com tarifa fixa de
R$ 30,00 por mês, Carlos Fraga, deixou a empresa, voltando para a TOV, onde já
havia criado a tarifa de R$ 5,00 em 2008. Apesar disso, a Gradual garante que
vai manter a estratégia. "Não vamos mudar nada, o Fraga apenas voltou para a
TOV com uma boa oferta para revitalizar a corretora", diz Fernanda de Lima,
diretora-geral da Gradual.
Segundo ela, desde a criação da promoção, há três meses, a corretora abriu 3
mil cadastros, atingindo 40 mil. "Mas o momento é muito ruim em termos de
crescimento de pessoas físicas para o mercado em geral", diz. "O índice da
bolsa não sai do lugar há quase três anos e mesmo os investidores mais
profissionais estão tendo dificuldade em encontrar oportunidades."
Ela lembra que esse ambiente levou o próprio presidente da BM&FBovespa, Edemir
Pinto, a rever a meta de atingir 5 milhões de investidores em 2014. "Apesar de
ser um momento bom para comprar ações, é difícil convencer as pessoas físicas a
entrar no mercado em baixa."
O número de pessoas físicas chegou a crescer de abril para maio, de 596 mil
para 607 mil, mas muito em função da oferta pública do Magazine Luíza, que
atraiu grande número de investidores. Foi o primeiro aumento no ano.
Para o investidor, o momento é bom, com o custo de corretagem em queda e maior
oferta de cursos e serviços. Mas é preciso olhar além dos preços, alertam
analistas. É preciso ver a qualidade e quais serviços a corretora oferece, se
há orientação para o investidor, análises de empresas ou bom serviço de
atendimento. É necessário também tomar cuidado com corretoras que, em cursos ou
via consultoria, incentivam o cliente a girar muito a carteira, dando
constantes orientações de compra e venda de papéis, o que engorda os lucros das
instituições, mas nem sempre o ganho do investidor.
Outro risco são ofertas de operações mais sofisticadas, como termos, opções ou
vendas a descoberto, que aumentam a possibilidade de perda do cliente menos
preparado. "Um cliente mal preparado perde e não volta mais ao mercado", afirma
Eduardo Lobo Fonseca, da Corretora Souza Barros.
Se não pode vencê-los, confunda-os. Essa parece ser a estratégia adotada pela
BM&FBovespa para resolver o problema do ranking de corretoras de varejo, ou
home broker. Em lugar de simplesmente acabar com a classificação, que provocou
uma guerra de preços em busca de volume e liderança, a bolsa resolveu misturar
os negócios, colocando corretoras de atacado juntamente com as de varejo.
Essa é a interpretação de diretores de corretoras surpresos com o ranking de
home broker de maio, no qual aparece em nono lugar a Goldman Sachs, que nem
varejo tem. O mesmo ocorre no ranking parcial deste mês, até dia 13, em que o
Credit Suisse aparece em sexto lugar.
A decisão da BM&FBovespa parece ter sido de unificar todos os rankings,
acabando, assim, com os indicadores de varejo, afirma Paulo Levy, da corretora
americana Icap. Para isso, unificaram as chamadas portas onde os negócios são
registrados na bolsa. "Elas funcionavam como tomadas; havia a porta 300 para o
home broker, a 400 para agentes repassadores e a 500 para institucionais", diz.
Assim, pela porta do home broker, só podiam entrar operações de pessoas
físicas. De uns tempos para cá, porém, a bolsa afrouxou os controles,
permitindo registros em portas erradas. "Antes, se alguém trocasse as portas, a
bolsa ligava, mandando corrigir, e agora pararam de fazer isso", conta Levy.
Uma das justificativas para a mudança no ranking, segundo executivos do setor,
era a de que, para aparecer bem na classificação e atrair possíveis
compradores, várias corretoras jogaram os preços das corretagens no chão para
ganhar volume. Para evitar isso, que poderia colocar em risco a saúde
financeira das corretoras, uma comissão liderada pela bolsa decidiu que o
melhor era acabar com o ranking. Em lugar de parar de divulgá-lo, porém, a
opção teria sido unificar as portas.
Não há um prazo para essa unificação, dizem corretores, mas algumas
instituições começam a fazer o processo. Por isso, a Goldman e o Credit
apareceram no home broker sem operar com varejo. "Foi uma forma de a bolsa
esculhambar, invalidar o ranking não oficialmente", diz um corretor que pediu
para não ser citado. "Hoje a classificação não reflete mais a realidade."
No início, alguns corretores acharam que se tratava apenas de um erro de
registro de operação, mas isso foi negado pela bolsa. Consultada, a assessoria
da BM&FBovespa respondeu: "não há erro no ranking". Também consultado, o
Goldman Sachs não respondeu o motivo de ele aparecer no ranking de varejo da
bolsa sem ter esse tipo de negócio.
Acabar com o ranking não é a única medida para evitar a guerra de preços. Há
também a proposta de criar uma "tela cega", em que o comprador não conseguiria
ver mais quem é a corretora que está vendendo os papéis, mas apenas a
quantidade de ações e os preços. "Isso impediria uma corretora ou investidor de
dar preferência a determinada instituição por sua classificação no ranking",
afirma João Ferreira, diretor da corretora Futura.
Ele observa que o ranking já vinha sendo distorcido pelos próprios
participantes, com as corretoras que ocupam os primeiros lugares ampliando seus
volumes ao colocar grandes investidores ou agentes autônomos junto com varejo,
cobrando pouca corretagem. "E há algumas corretoras que isentam de corretagem
no último dia do mês para aumentar o volume."
Já a guerra de tarifas entre as corretoras dá sinais de ter se acalmado. Na
Gradual, o idealizador da política de "opere quanto quiser" com tarifa fixa de
R$ 30,00 por mês, Carlos Fraga, deixou a empresa, voltando para a TOV, onde já
havia criado a tarifa de R$ 5,00 em 2008. Apesar disso, a Gradual garante que
vai manter a estratégia. "Não vamos mudar nada, o Fraga apenas voltou para a
TOV com uma boa oferta para revitalizar a corretora", diz Fernanda de Lima,
diretora-geral da Gradual.
Segundo ela, desde a criação da promoção, há três meses, a corretora abriu 3
mil cadastros, atingindo 40 mil. "Mas o momento é muito ruim em termos de
crescimento de pessoas físicas para o mercado em geral", diz. "O índice da
bolsa não sai do lugar há quase três anos e mesmo os investidores mais
profissionais estão tendo dificuldade em encontrar oportunidades."
Ela lembra que esse ambiente levou o próprio presidente da BM&FBovespa, Edemir
Pinto, a rever a meta de atingir 5 milhões de investidores em 2014. "Apesar de
ser um momento bom para comprar ações, é difícil convencer as pessoas físicas a
entrar no mercado em baixa."
O número de pessoas físicas chegou a crescer de abril para maio, de 596 mil
para 607 mil, mas muito em função da oferta pública do Magazine Luíza, que
atraiu grande número de investidores. Foi o primeiro aumento no ano.
Para o investidor, o momento é bom, com o custo de corretagem em queda e maior
oferta de cursos e serviços. Mas é preciso olhar além dos preços, alertam
analistas. É preciso ver a qualidade e quais serviços a corretora oferece, se
há orientação para o investidor, análises de empresas ou bom serviço de
atendimento. É necessário também tomar cuidado com corretoras que, em cursos ou
via consultoria, incentivam o cliente a girar muito a carteira, dando
constantes orientações de compra e venda de papéis, o que engorda os lucros das
instituições, mas nem sempre o ganho do investidor.
Outro risco são ofertas de operações mais sofisticadas, como termos, opções ou
vendas a descoberto, que aumentam a possibilidade de perda do cliente menos
preparado. "Um cliente mal preparado perde e não volta mais ao mercado", afirma
Eduardo Lobo Fonseca, da Corretora Souza Barros.
Economia global sofre ameaça de retorno dos mortos-vivos
Economia global sofre ameaça de retorno dos mortos-vivos
STEPHEN ROACH
A economia mundial está sob o peso de uma nova geração de zumbis _os mortos-vivos econômicos. Os consumidores norte-americanos vivem o estágio inicial de uma reacomodação sem precedentes. Nos 13 trimestres desde o início de 2008, o crescimento anualizado do consumo manteve média de apenas 0,5%. Em momento algum no período do pós-guerra exibiram tamanha fraqueza por prazo tão longo.
A síndrome dos zumbis tem um antecedente importante. Ela representou, de fato, um sintoma crucial da "doença japonesa", que causou a primeira das duas décadas de avanço perdidas por aquele país. Encorajados pelo governo, os bancos japoneses mantiveram abertas as suas linhas de crédito para ampla variedade de companhias insolventes _o que retardou a reestruturação e as falências inevitáveis.
O crescimento da produtividade japonesa se enfraqueceu dramaticamente, como resultado do "congestionamento zumbi" resultante. O salva-vidas oferecido pelos créditos bancários permitiu que empresas quebradas mantivessem trabalhadores excedentes e capacidade de produção desnecessária. E isso reduziu muito a vitalidade de que o Japão tanto necessitava depois da bolha.
Nos EUA pós-bolha, a situação é comparável. Após uma onda de compras recorde que durou mais de dez anos, o excesso de consumo foi incorporado às precárias fundações de duas bolhas _a de imóveis e a de crédito_, e ambas acabaram estourando.
Vai demorar muito para que os consumidores dos EUA se recuperem dos estragos. Mas, como os bancos japoneses, as autoridades de Washington estão fazendo todo o possível para adiar ajustes econômicos racionais.
Porque não aprenderam com as lições do Japão, os EUA e a economia mundial se verão em situação muito difícil por período considerável. Os mercados financeiros famintos por crescimento podem se decepcionar.
STEPHEN ROACH é professor em Yale e autor de "The Next Asia".
STEPHEN ROACH
A economia mundial está sob o peso de uma nova geração de zumbis _os mortos-vivos econômicos. Os consumidores norte-americanos vivem o estágio inicial de uma reacomodação sem precedentes. Nos 13 trimestres desde o início de 2008, o crescimento anualizado do consumo manteve média de apenas 0,5%. Em momento algum no período do pós-guerra exibiram tamanha fraqueza por prazo tão longo.
A síndrome dos zumbis tem um antecedente importante. Ela representou, de fato, um sintoma crucial da "doença japonesa", que causou a primeira das duas décadas de avanço perdidas por aquele país. Encorajados pelo governo, os bancos japoneses mantiveram abertas as suas linhas de crédito para ampla variedade de companhias insolventes _o que retardou a reestruturação e as falências inevitáveis.
O crescimento da produtividade japonesa se enfraqueceu dramaticamente, como resultado do "congestionamento zumbi" resultante. O salva-vidas oferecido pelos créditos bancários permitiu que empresas quebradas mantivessem trabalhadores excedentes e capacidade de produção desnecessária. E isso reduziu muito a vitalidade de que o Japão tanto necessitava depois da bolha.
Nos EUA pós-bolha, a situação é comparável. Após uma onda de compras recorde que durou mais de dez anos, o excesso de consumo foi incorporado às precárias fundações de duas bolhas _a de imóveis e a de crédito_, e ambas acabaram estourando.
Vai demorar muito para que os consumidores dos EUA se recuperem dos estragos. Mas, como os bancos japoneses, as autoridades de Washington estão fazendo todo o possível para adiar ajustes econômicos racionais.
Porque não aprenderam com as lições do Japão, os EUA e a economia mundial se verão em situação muito difícil por período considerável. Os mercados financeiros famintos por crescimento podem se decepcionar.
STEPHEN ROACH é professor em Yale e autor de "The Next Asia".
Contradições sinalizam fissuras no alicerce econômico da China
Contradições sinalizam fissuras no alicerce econômico da China
A China é, indiscutivelmente, um milagre econômico. Desde o início da abertura,
o padrão de vida no país vem dobrando a cada década, feito que os Estados
Unidos levaram cerca de 30 anos para produzir, mesmo quando o país mais
crescia. Mas já há sinais de fissuras no alicerce econômico da China.
Poderíamos chamá-las de as três contradições.
A primeira é que o governo chinês quer reduzir o ritmo do crescimento e segurar
a inflação ao mesmo tempo em que aumenta salários e faz as massas consumirem.
Para qualquer governo, seria um desafio - e mais ainda para um que tem tanto
medo de perder o controle que hesita em deixar as forças do mercado fazerem seu
trabalho.
Num país que ainda tem estátuas de Marx e Engels, a massa salarial tem caído em
relação à renda total. Cresce assim o fosso entre ricos e pobres, o que não
ajuda a elevar o consumo dos cidadãos. Há muitas lojas na China, mas várias
parecem museus: as pessoas olham, mas não compram.
Como a demanda por mão de obra é forte, os salários sobem mais depressa, algo
crucial para manter a estabilidade social desejada pelos líderes chineses e
alimentar o consumo interno necessário para que a China deixe de depender de
exportações.
Até aí, tudo bem. Só que o aumento dos salários parece estar diluindo a
competitividade da indústria chinesa. Um indício: na etiqueta de camisetas nas
lojas The Gap na China, está escrito "Made in Malaysia"; escovas de dentes
baratas são feitas no Vietnã. A solução é migrar para manufatura e serviços
mais sofisticados. Isso exige um sistema de educação maior, melhor e mais livre
do que o atual - que é, nas palavras de um dirigente, prejudicado por um modelo
de gestão ao estilo soviético para a pesquisa científica e desprestigiado pelas
elites chinesas, que mandam seus filhos estudar fora.
Segundo, a última moda nos círculos do poder em Pequim é a "internacionalização
do yuan", moeda cujo uso, hoje, é quase inteiramente interno. Parte disso se
deve ao orgulho nacional, parte ao desejo de uma potência comercial de comprar
e vender na própria moeda e parte ao desejo chinês de, caso haja outra crise
financeira, ser capaz de contrair empréstimos no exterior com facilidade e
baixo custo, como os EUA.
Até aí, tudo bem. Só que a China não vai sair de um ponto e chegar ao outro a
menos que deixe os juros subirem um pouco, pois hoje nem acompanham a inflação.
Jogar o jogo global significa submeter a economia ao mercado global.
Certos dirigentes enxergam perigo em juros tão baixos. "É preciso fazer algo
sobre as taxas de juro negativas em termos reais, antes que se perca o
controle", disse Guo Shuqing, diretor do Banco da Construção da China e,
possivelmente, próximo presidente do banco central chinês, em entrevista ao
"Wall Street Journal". "Muita gente acha que colocar o dinheiro na poupança não
é bom, então corre a comprar coisas como ouro e prata. Muita gente compra um
imóvel não por precisar de uma moradia, mas como investimento."
Com efeito, quem tem dinheiro especula com a compra do terceiro e do quarto
apartamentos, enquanto outros não podem comprar o primeiro imóvel devido aos
preços elevados. Na China, bolhas de ativos são infladas pela política
monetária chinesa, não pela americana.
Os juros nos EUA estão baixos porque o Fed, o banco central de lá, está
tentando avivar o crédito. O banco central chinês quer segurar o crédito, mas
tomadores privados e públicos, politicamente fortes, impedem juros mais altos.
O estudioso da economia mundial Nouriel Roubini descreve a política chinesa
como "uma maciça transferência de renda de famílias sem poder político para
empresas poderosas politicamente: a moeda fraca encarece importações, juros
baixos para depósitos e empréstimos a empresas e incorporadoras equivalem a um
imposto sobre a poupança".
Transformar o yuan em moeda internacional significa o fim da prática de manter
os juros abaixo de níveis economicamente apropriados por motivos políticos.
Significa tornar a política econômica transparente. Os líderes chineses dizem
que querem a primeira coisa, mas não têm tanta certeza sobre a segunda e a
terceira.
Terceiro, para um governo repressor é mais fácil manter a população feliz
quando a economia cresce 10% ao ano. Até aí, tudo bem. Só que aplicar freios
econômicos, algo nunca popular, ameaça um governo que não confia em seus
cidadãos. O twitter é proibido na China. Estudantes reclamam de só poder entrar
na "internet chinesa". E filtros do governo parecem diminuir a velocidade da
internet.
O povo paga na mesma moeda. Até um estrangeiro em visita sente que muita gente
não confia no governo. Enquanto come um sanduíche na Universidade Tsinghua, em
Pequim, um aluno de pós-graduação desabafa: "O que dizer de um país quando seu
líder manda a filha estudar fora?", aludindo ao próximo presidente da China, Xi
Jingping, cuja filha acaba de concluir o primeiro ano em Harvard.
E, num vilarejo cerca de cem quilômetros ao norte de Pequim, onde a Grande
Muralha se descortina basicamente ignorada por turistas, é possível ver dezenas
de moradias simples de agricultores - e uma construção nova de alvenaria,
maior, com três andares, que parece vinda de outro lugar. Todo mundo sabe quem
a ergueu: o secretário local do Partido Comunista. E não com o seu salário.
Fissuras no alicerce não são, necessariamente, prenúncio de colapso. Mas são
sinais de tensões que, se ignoradas, podem enfraquecer um edifício econômico -
até um tão impressionante como o da China.
A China é, indiscutivelmente, um milagre econômico. Desde o início da abertura,
o padrão de vida no país vem dobrando a cada década, feito que os Estados
Unidos levaram cerca de 30 anos para produzir, mesmo quando o país mais
crescia. Mas já há sinais de fissuras no alicerce econômico da China.
Poderíamos chamá-las de as três contradições.
A primeira é que o governo chinês quer reduzir o ritmo do crescimento e segurar
a inflação ao mesmo tempo em que aumenta salários e faz as massas consumirem.
Para qualquer governo, seria um desafio - e mais ainda para um que tem tanto
medo de perder o controle que hesita em deixar as forças do mercado fazerem seu
trabalho.
Num país que ainda tem estátuas de Marx e Engels, a massa salarial tem caído em
relação à renda total. Cresce assim o fosso entre ricos e pobres, o que não
ajuda a elevar o consumo dos cidadãos. Há muitas lojas na China, mas várias
parecem museus: as pessoas olham, mas não compram.
Como a demanda por mão de obra é forte, os salários sobem mais depressa, algo
crucial para manter a estabilidade social desejada pelos líderes chineses e
alimentar o consumo interno necessário para que a China deixe de depender de
exportações.
Até aí, tudo bem. Só que o aumento dos salários parece estar diluindo a
competitividade da indústria chinesa. Um indício: na etiqueta de camisetas nas
lojas The Gap na China, está escrito "Made in Malaysia"; escovas de dentes
baratas são feitas no Vietnã. A solução é migrar para manufatura e serviços
mais sofisticados. Isso exige um sistema de educação maior, melhor e mais livre
do que o atual - que é, nas palavras de um dirigente, prejudicado por um modelo
de gestão ao estilo soviético para a pesquisa científica e desprestigiado pelas
elites chinesas, que mandam seus filhos estudar fora.
Segundo, a última moda nos círculos do poder em Pequim é a "internacionalização
do yuan", moeda cujo uso, hoje, é quase inteiramente interno. Parte disso se
deve ao orgulho nacional, parte ao desejo de uma potência comercial de comprar
e vender na própria moeda e parte ao desejo chinês de, caso haja outra crise
financeira, ser capaz de contrair empréstimos no exterior com facilidade e
baixo custo, como os EUA.
Até aí, tudo bem. Só que a China não vai sair de um ponto e chegar ao outro a
menos que deixe os juros subirem um pouco, pois hoje nem acompanham a inflação.
Jogar o jogo global significa submeter a economia ao mercado global.
Certos dirigentes enxergam perigo em juros tão baixos. "É preciso fazer algo
sobre as taxas de juro negativas em termos reais, antes que se perca o
controle", disse Guo Shuqing, diretor do Banco da Construção da China e,
possivelmente, próximo presidente do banco central chinês, em entrevista ao
"Wall Street Journal". "Muita gente acha que colocar o dinheiro na poupança não
é bom, então corre a comprar coisas como ouro e prata. Muita gente compra um
imóvel não por precisar de uma moradia, mas como investimento."
Com efeito, quem tem dinheiro especula com a compra do terceiro e do quarto
apartamentos, enquanto outros não podem comprar o primeiro imóvel devido aos
preços elevados. Na China, bolhas de ativos são infladas pela política
monetária chinesa, não pela americana.
Os juros nos EUA estão baixos porque o Fed, o banco central de lá, está
tentando avivar o crédito. O banco central chinês quer segurar o crédito, mas
tomadores privados e públicos, politicamente fortes, impedem juros mais altos.
O estudioso da economia mundial Nouriel Roubini descreve a política chinesa
como "uma maciça transferência de renda de famílias sem poder político para
empresas poderosas politicamente: a moeda fraca encarece importações, juros
baixos para depósitos e empréstimos a empresas e incorporadoras equivalem a um
imposto sobre a poupança".
Transformar o yuan em moeda internacional significa o fim da prática de manter
os juros abaixo de níveis economicamente apropriados por motivos políticos.
Significa tornar a política econômica transparente. Os líderes chineses dizem
que querem a primeira coisa, mas não têm tanta certeza sobre a segunda e a
terceira.
Terceiro, para um governo repressor é mais fácil manter a população feliz
quando a economia cresce 10% ao ano. Até aí, tudo bem. Só que aplicar freios
econômicos, algo nunca popular, ameaça um governo que não confia em seus
cidadãos. O twitter é proibido na China. Estudantes reclamam de só poder entrar
na "internet chinesa". E filtros do governo parecem diminuir a velocidade da
internet.
O povo paga na mesma moeda. Até um estrangeiro em visita sente que muita gente
não confia no governo. Enquanto come um sanduíche na Universidade Tsinghua, em
Pequim, um aluno de pós-graduação desabafa: "O que dizer de um país quando seu
líder manda a filha estudar fora?", aludindo ao próximo presidente da China, Xi
Jingping, cuja filha acaba de concluir o primeiro ano em Harvard.
E, num vilarejo cerca de cem quilômetros ao norte de Pequim, onde a Grande
Muralha se descortina basicamente ignorada por turistas, é possível ver dezenas
de moradias simples de agricultores - e uma construção nova de alvenaria,
maior, com três andares, que parece vinda de outro lugar. Todo mundo sabe quem
a ergueu: o secretário local do Partido Comunista. E não com o seu salário.
Fissuras no alicerce não são, necessariamente, prenúncio de colapso. Mas são
sinais de tensões que, se ignoradas, podem enfraquecer um edifício econômico -
até um tão impressionante como o da China.
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