Ranking da discórdia
Se não pode vencê-los, confunda-os. Essa parece ser a estratégia adotada pela
BM&FBovespa para resolver o problema do ranking de corretoras de varejo, ou
home broker. Em lugar de simplesmente acabar com a classificação, que provocou
uma guerra de preços em busca de volume e liderança, a bolsa resolveu misturar
os negócios, colocando corretoras de atacado juntamente com as de varejo.
Essa é a interpretação de diretores de corretoras surpresos com o ranking de
home broker de maio, no qual aparece em nono lugar a Goldman Sachs, que nem
varejo tem. O mesmo ocorre no ranking parcial deste mês, até dia 13, em que o
Credit Suisse aparece em sexto lugar.
A decisão da BM&FBovespa parece ter sido de unificar todos os rankings,
acabando, assim, com os indicadores de varejo, afirma Paulo Levy, da corretora
americana Icap. Para isso, unificaram as chamadas portas onde os negócios são
registrados na bolsa. "Elas funcionavam como tomadas; havia a porta 300 para o
home broker, a 400 para agentes repassadores e a 500 para institucionais", diz.
Assim, pela porta do home broker, só podiam entrar operações de pessoas
físicas. De uns tempos para cá, porém, a bolsa afrouxou os controles,
permitindo registros em portas erradas. "Antes, se alguém trocasse as portas, a
bolsa ligava, mandando corrigir, e agora pararam de fazer isso", conta Levy.
Uma das justificativas para a mudança no ranking, segundo executivos do setor,
era a de que, para aparecer bem na classificação e atrair possíveis
compradores, várias corretoras jogaram os preços das corretagens no chão para
ganhar volume. Para evitar isso, que poderia colocar em risco a saúde
financeira das corretoras, uma comissão liderada pela bolsa decidiu que o
melhor era acabar com o ranking. Em lugar de parar de divulgá-lo, porém, a
opção teria sido unificar as portas.
Não há um prazo para essa unificação, dizem corretores, mas algumas
instituições começam a fazer o processo. Por isso, a Goldman e o Credit
apareceram no home broker sem operar com varejo. "Foi uma forma de a bolsa
esculhambar, invalidar o ranking não oficialmente", diz um corretor que pediu
para não ser citado. "Hoje a classificação não reflete mais a realidade."
No início, alguns corretores acharam que se tratava apenas de um erro de
registro de operação, mas isso foi negado pela bolsa. Consultada, a assessoria
da BM&FBovespa respondeu: "não há erro no ranking". Também consultado, o
Goldman Sachs não respondeu o motivo de ele aparecer no ranking de varejo da
bolsa sem ter esse tipo de negócio.
Acabar com o ranking não é a única medida para evitar a guerra de preços. Há
também a proposta de criar uma "tela cega", em que o comprador não conseguiria
ver mais quem é a corretora que está vendendo os papéis, mas apenas a
quantidade de ações e os preços. "Isso impediria uma corretora ou investidor de
dar preferência a determinada instituição por sua classificação no ranking",
afirma João Ferreira, diretor da corretora Futura.
Ele observa que o ranking já vinha sendo distorcido pelos próprios
participantes, com as corretoras que ocupam os primeiros lugares ampliando seus
volumes ao colocar grandes investidores ou agentes autônomos junto com varejo,
cobrando pouca corretagem. "E há algumas corretoras que isentam de corretagem
no último dia do mês para aumentar o volume."
Já a guerra de tarifas entre as corretoras dá sinais de ter se acalmado. Na
Gradual, o idealizador da política de "opere quanto quiser" com tarifa fixa de
R$ 30,00 por mês, Carlos Fraga, deixou a empresa, voltando para a TOV, onde já
havia criado a tarifa de R$ 5,00 em 2008. Apesar disso, a Gradual garante que
vai manter a estratégia. "Não vamos mudar nada, o Fraga apenas voltou para a
TOV com uma boa oferta para revitalizar a corretora", diz Fernanda de Lima,
diretora-geral da Gradual.
Segundo ela, desde a criação da promoção, há três meses, a corretora abriu 3
mil cadastros, atingindo 40 mil. "Mas o momento é muito ruim em termos de
crescimento de pessoas físicas para o mercado em geral", diz. "O índice da
bolsa não sai do lugar há quase três anos e mesmo os investidores mais
profissionais estão tendo dificuldade em encontrar oportunidades."
Ela lembra que esse ambiente levou o próprio presidente da BM&FBovespa, Edemir
Pinto, a rever a meta de atingir 5 milhões de investidores em 2014. "Apesar de
ser um momento bom para comprar ações, é difícil convencer as pessoas físicas a
entrar no mercado em baixa."
O número de pessoas físicas chegou a crescer de abril para maio, de 596 mil
para 607 mil, mas muito em função da oferta pública do Magazine Luíza, que
atraiu grande número de investidores. Foi o primeiro aumento no ano.
Para o investidor, o momento é bom, com o custo de corretagem em queda e maior
oferta de cursos e serviços. Mas é preciso olhar além dos preços, alertam
analistas. É preciso ver a qualidade e quais serviços a corretora oferece, se
há orientação para o investidor, análises de empresas ou bom serviço de
atendimento. É necessário também tomar cuidado com corretoras que, em cursos ou
via consultoria, incentivam o cliente a girar muito a carteira, dando
constantes orientações de compra e venda de papéis, o que engorda os lucros das
instituições, mas nem sempre o ganho do investidor.
Outro risco são ofertas de operações mais sofisticadas, como termos, opções ou
vendas a descoberto, que aumentam a possibilidade de perda do cliente menos
preparado. "Um cliente mal preparado perde e não volta mais ao mercado", afirma
Eduardo Lobo Fonseca, da Corretora Souza Barros.
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