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segunda-feira, 27 de junho de 2011

O Brasil já vive a sua doença holandesa

O Brasil já vive a sua doença holandesa
Para ex-ministro. País deveria taxar exportações de commodities para reduzir o impacto na indústria nacional O Estado de S.PauloENTREVISTA - Luiz Carlos Bresser-Pereira, economista e ex-ministro da Fazenda O Brasil já vive sua "doença holandesa". O governo sabe disso e terá de pensar em taxar as exportações de soja, minérios e outras commodities. Quem alerta é Luiz Carlos Bresser-Pereira. Em entrevista ao Estado, o ex-ministro da Fazenda no governo de José Sarney e de Reforma do Estado e Ciência e Tecnologia no governo de Fernando Henrique Cardoso, alerta que a alta no preço das commodities gerou uma situação à qual o Brasil terá de se adaptar.Se a alta dos preços é positiva para exportadores de recursos naturais, está na hora de o governo pensar em seu impacto para a economia e principalmente para a indústria nacional. Em Genebra para reuniões na ONU, Bresser-Pereira diz que o governo está "empurrando com a barriga" o problema.A "doença holandesa" é um termo cunhado por economistas após a experiência da Holanda com a exportação de gás natural nos anos 60. A receita que entrava acabou gerando uma valorização cambial que prejudicou o setor manufatureiro e o tornou menos competitivo no exterior. Para Bresser-Pereira, a mesma realidade já ocorre no Brasil com a exportação agrícola. Eis os principais trechos da entrevista:OESP - Como a alta nos preços de commodities tem impactado a economia brasileira?CBP - O Brasil já vive sua doença holandesa. Não há nenhuma dúvida disso. O governo sabe. Tanto a presidente Dilma Rousseff quando o ministro da Fazenda, Guido Mantega, são conscientes disso. Mas não reconhecem.OESP -Por quê?CBP -Porque se reconhecerem terão de tomar medidas para lidar com ela. Por enquanto, o governo tem optado em empurrar esse assunto com a barriga.OESP -Qual seria o remédio?CBP -Hoje, o Brasil poderia tranquilamente aplicar uma taxa sobre exportações de commodities. De uma forma disfarçada, Delfim Neto já havia feito isso no passado com o café. Na realidade, essa taxa ao café vigorou no Brasil entre 1968 e 1991. Portanto, não é algo novo. Agora, precisamos repetir isso com a soja e com os minérios. Mas, neste momento, o governo parece não estar disposto a brigar nem com a Vale nem com os produtores de soja. O que o governo precisa fazer é demonstrar para esses grupos que, diante da alta nos preços internacionais, eles não perderão com a taxa e que a economia nacional ganharia.OESP -Há exemplo de país que adotou a taxa de exportação e conseguiu reequilibrar sua economia?CBP -Os Emirados Árabes taxam a exportação de energia em 98%. E é com isso que conseguem criar internamente um mercado de turismo e garantir a sua indústria tecnologia de ponta.OESP -Qual o risco de demorar para reconhecer o problema?CBP -Existem dois riscos. O primeiro, de uma queda no crescimento, ante o recuo na exportação de industrializados. O segundo é de a economia entrar em crise. Não seria para já. Mas viria de problemas sérios na balança de pagamentos. Em ambos os casos, seriam bolhas na economia brasileira que explodiriam.OESP -A exportação agrícola não é o único motivo da valorização cambial. Há também o ingresso de capital especulativo. O que o governo pode fazer diante disso ?CBP -Só há uma coisa a fazer: taxar a entrada de capital.OESP -Mas o governo já faz isso com o IOF. Ele funciona?CBP -Sim, funciona. Mas precisa ser adotado para todos os capitais. As medidas precisam ser mais drásticas, o governo sabe disso.OESP -Isso não espantaria capital estrangeiro do Brasil?CBP -O Brasil não precisa desse tipo de capital internacional. Hoje, uma multinacional que decide abrir produção no País vai ao BNDES e pega empréstimo. Não precisamos mais do Banco Mundial. Há uma alta taxa de substituição da poupança nacional pela poupança externa. Elas não se somam.

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