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quinta-feira, 28 de julho de 2011

Pacote europeu não deve evitar novas turbulências

Pacote europeu não deve evitar novas turbulências
A duras penas os governos europeus chegaram a um consenso de como socorrer novamente a Grécia, dar um alívio no peso das enormes dívidas de Irlanda e Portugal e, ao mesmo tempo, sinalizar aos mercados que estão dispostos a tomar todas as iniciativas possíveis para impedir que o contágio se espalhe da periferia para as economias do centro da zona do euro. Foi a primeira ação um pouco mais ousada dos líderes europeus, depois de um ano de irresponsáveis delongas, hesitações e divergências. Ainda assim, as chances de novas turbulências persistem no horizonte. O pacote amarrado para a Grécia combinou nova ajuda de € 109 bilhões, cerca de € 50 bilhões de redução de dívida em mãos dos bancos privados, via reescalonamento e alongamento dos débitos, com taxas de juros menores. Digerido o plano, há uma crescente desconfiança dos mercados de que ainda não foi desta vez que os governos da união monetária poderão respirar aliviadosO primeiro ponto é que a ameaça de calote grego foi adiada, mas não afastada. A redução proporcionada pelo pacote à montanha de € 340 bilhões de compromissos, ou 150% do Produto Interno Bruto do país, foi pequena demais. Mesmo trazendo os credores privados para ajudarem a pagar parte da conta, a porção dos bancos e investidores foi considerada diminuta. Os títulos gregos podem ser comprados no mercado secundário com 40% de deságio. Os bancos aceitaram redução de 21% no valor presente das dívidas que têm em mãos e tiveram quatro opções para trocar títulos. No final das contas, porém, a dívida grega foi reduzida em apenas € 13,5 bilhões, segundo cálculos do Instituto de Finanças Internacional, que reúne os bancos que participaram do acordA Grécia ganhou maior prazo de pagamento, um alívio na carga de juros e uma necessidade ao longo do tempo de produzir superávits um pouco menores para pagar seus débitos. Mas o esforço que terá que realizar para pagar suas dívidas permanece árduo e as chances de sucesso, bastante improváveis. Pelas contas do Deutsche Bank ("Financial Times", 27 de julho), para que a dívida grega fique em 120% do PIB, o governo grego terá de obter um superávit primário não mais de 9% do PIB, mas de 5% do PIB de 2015 a 2020. É um esforço superior ao que o governo brasileiro, por exemplo, fez diante da desconfiança dos mercados diante da ascensão de Luiz Inácio Lula da Silva à Presidência. Nos primeiros anos de Lula, o superávit primário foi de 4,25% do PIB. Além disso, a dívida grega subirá em 2012 para 172% do PIB e, pelas estimativas da Barclays Capital (FT, 27 de julho) se manterá em 150% do PIB por mais dez anos. Para tornar-se administrável, os analistas acreditam que a relação precisaria cair para algo em torno dos 80% do PIB.O ponto forte do pacote, porém, foi a tentativa de erguer uma barreira para os futuros contágios - Espanha e Itália estão na mira dos investidores há algum tempo. As dívidas dos governos da zona do euro deixaram na prática de ser nacionais, um exemplo em negativo da união fiscal que precisará a duras penas ser conquistada, mas para a qual já se deram alguns passos. O fundo de estabilização ganhou papel fundamental com as incumbências de atuar nos mercados secundários comprando dívidas de governos castigados pelos mercados e abrir linhas de crédito preventivo para eles e para recapitalização de bancos - uma função algo semelhante ao cogitado Fundo Monetário europeu. Nem tudo é o que parece, porém. O fundo de estabilização não recebeu o dinheiro à altura de suas tarefas. Analistas acreditam que o montante precisaria ser o dobro ou o triplo dos atuais € 440 bilhões. Ele terá de atuar, de forma ainda nebulosa, em conjunto com o Banco Central Europeu, que foi contra a compra de títulos soberanos desde o início, em um sinal de mais confusão à frente. A prova de que o caminho apontado pelo pacote não é plano veio, por exemplo, de um documento do ministro das Finanças alemão, Wolfgang Schaeuble, obtido pela agência Reuters, mostrando a oposição de seu país a que o fundo de estabilização tenha carta branca para atuar no mercado secundário de títulos. Com isso, os rendimentos dos papéis italianos subiram para 5,76% e o dos espanhóis, para 6%. O pior indício de baixa confiança no plano, no entanto, veio após sua divulgação, quando o custo cobrado pelos investidores para comprar esses papéis praticamente não se mexeu.

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