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quinta-feira, 30 de junho de 2011

Com aposta de US$ 21 bi, `vendido` manda no câmbio

Com aposta de US$ 21 bi, `vendido` manda no câmbio

Junho acaba e salvo algum desastre nesta quinta-feira, os "vendidos" (que apostaram na baixa) foram os grandes ganhadores no mercado de câmbio. O dólar, que chegou a ser cotado acima de R$ 1,60, fechou, ontem, na linha de R$ 1,57, voltando a se aproximar das mínimas do anoNa Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F), os estrangeiros voltaram a ampliar a posição vendida, que atingiu novo recorde, a US$ 21,314 bilhões, ao fim do pregão. Cabe ressaltar que mesmo com todas as incertezas que pontuaram o mês, essa posição nunca foi menor que US$ 18,8 bilhões.Com tamanha aposta na valorização do real se deu bem quem viu todo o movimento de alta do dólar, como firme oportunidade de venda. A melhor janela surgiu no fim da semana passada, quando o preço testou a linha de R$ 1,60.Taxa Ptax terá novo modo de cálculo já na sexta-feiraAlém da natural e conhecida disposição dos vendidos em defender suas posições, a movimentação desses agentes contou com uma melhora de percepção externa, conforme os agentes passaram a acreditar na aprovação de medidas de austeridade pelo parlamento grego. Algo que se confirmou na manhã de quarta-feira. Com isso, a possibilidade de se observar o primeiro default da zona do euro saiu do radar, ao menos no curto prazo. Mas não será surpresa se já em agosto a Grécia voltar a apresentar dificuldades, ou se nesse meio tempo algum dos outros Piigs (Portugal, Itália, Irlanda, Grécia e Espanha) cair em descrédito. De volta ao mercado local, o derradeiro dia da Ptax como se conhece é hoje. Nesta quinta-feira, será a última vez que a taxa utilizada na liquidação de contratos futuros e outros compromissos cambiais será aferida como média das cotações ponderada pelo volume. A nova fórmula de cálculo será uma média aritmética de quatro consultas que o Banco Central (BC) fará junto ao mercado entre 10 horas e 13 horas. Com esse novo método se pretende uma formação de Ptax mais transparente e menos passível de manipulação por parte dos agentes. Se isso vai funcionar, só saberemos com certeza na passagem de julho para agostos, tendo em vista que é o no fim do mês que a batalha pela Ptax se acirra, descolando o câmbio de fundamentos domésticos e externos.Nas posições na BM&F, os bancos apresentavam estoque comprado de US$ 15,599 bilhões. Esse agentes, no entanto, têm outras formas de exposição cambial, como mercado à vista (onde estão vendidos em US$ 13,69 bilhões) e derivativos de balcão. Por isso, não se sabe a exposição cambial líquida das instituições.Ainda na BM&F, as pessoas jurídicas não financeiras mostraram firme compra de dólar futuro nos últimos dias. A posição comprada saiu de US$ 62 milhões na sexta-feira para US$ 882 milhões na terça-feira. Tal movimentação pode ser atribuída a empresas fazendo ajustes na sua exposição cambial antes do fechamento de balanços do trimestre e do semestre. Compra-se um contrato de dólar futuro que serve de contrapartida a alguma exposição. Essa posição "protegida" aparece na "fotografia" que é o dia 30 de junho para o balanço. Como esse contrato de dólar já terá cumprido o seu papel, "morre" no vencimento do mesmo dia. No mercado de juros futuros, o Relatório Trimestral de Inflação não colocou ninguém para correr. O sinal extraído do documento é de que o ajuste de alta na Selic pode ser estendido para além do encontro de julho. No entanto, a curva futura de juros não mostrou grande alteração. A estrutura a termo embute uma alta de 0,25 ponto na Selic em julho, mas ainda não incorpora completamente um novo aperto em agosto.Para parte do mercado, isso é reflexo da falta de novidades no Relatório de Inflação, ou seja, melhor esperar mais dados antes de fechar a aposta.Para um economista, a questão é um pouco mais complexa. Apesar da melhora da comunicação do BC, o mercado ainda desconfia do espaço de manobra que a autoridade monetária tem para implementar a sua política livremente."O mercado interpreta que o BC gostaria até de ir além da reunião de agosto no aumento dos juros. Mas será que ele terá espaço para isso? Com isso, os participantes vão ajustando a sua expectativa de reunião em reunião de modo que a parte curta da curva perdeu toda a graça", disse.No relatório do BC, dois boxes chamaram a atenção. O primeiro mostrou que os salários sobem acima da produtividade, algo claramente inflacionário. O segundo tratou das medidas prudenciais e parece que serviu para acabar com qualquer dúvida quanto ao seu uso e função. São medidas preventivas, voltadas a conter riscos no mercado de crédito. De forma alguma substitutas à tradicional alta dos juros.Eduardo Campos é repórter do Valor

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