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quarta-feira, 8 de junho de 2011

A longa estrada para a recuperação

A longa estrada para a recuperação

O que se deve entender dos últimos dados econômicos, particularmente os dos
países avançados? A economia mundial está em desaceleração? Se estiver, a
política monetária deveria fazer algo a respeito e, se deveria, quais seriam as
alternativas?
Gavyn Davies, em seu blog no "Financial Times", destacou em 5 de junho que a
"velocidade e extensão do declínio no crescimento industrial foram
extraordinariamente severos, especialmente nos EUA". Ainda mais importante
politicamente, foi a estimativa de que o setor privado dos EUA criou apenas 38
mil empregos em maio, bem abaixo da previsão de 175 mil. Davies ressalta que
"se adicionarmos todas as evidências das pesquisas empresariais em maio, temos
um quadro em que a economia global provavelmente continua em expansão, mas não
a um ritmo muito rápido".
Em seu conjunto, escreve, "o declínio mostrado nas pesquisas empresariais foi
maior que o ocorrido na primavera do ano passado, quando a recuperação da
economia mundial caiu em um buraco temporário". Mas "eles ainda não recuaram a
nenhum ponto próximo dos níveis que desencadeariam preocupações sérias sobre
uma recaída recessiva."
A avaliação parece correta. Ressalta o fato de que, nos países avançados como
um todo, a recuperação vem sendo frágil, particularmente tendo em vista a
profundidade da recessão. Das seis maiores economias avançadas - EUA, Japão,
Alemanha, França, Reino Unido e Itália - apenas EUA e Alemanha tiveram o
Produto Interno Bruto (PIB) do primeiro trimestre de 2011 maior do que o do
mesmo período há três anos e, mesmo assim, por pouca diferença. Considero os
quatro retardatários como ainda estando em recessão.
Nos países avançados, a recuperação vem sendo frágil, tendo em vista a
profundidade da recessão. Das seis maiores economias avançadas só EUA e
Alemanha tiveram o PIB do primeiro trimestre de 2011 maior do que o do mesmo
período há três anos
O fato de que os EUA, entre esses seis países, tiveram o maior aumento do PIB
em relação ao ponto inicial de comparação pode ser surpresa para alguns, tendo
em vista seu índice de desemprego de 9% em abril. Isso revela a flexibilidade
do mercado trabalhista dos EUA. Também sinaliza que a demanda e, portanto, a
produção continuam deprimidos. Pelos padrões de seu próprio passado - não pelo
padrão atual dos outros países ricos - a recuperação dos EUA é extremamente
decepcionante.
Então, o que ocorre? A resposta mais ampla é que os duradouros e fortes ventos
contrários à recuperação pós-crise ganharam o reforço de novos ventos mais ou
menos temporários.
As recessões originadas em estouros de bolhas infladas por crédito normalmente
são mais rigorosas e duram mais que as geradas por tentativas de restringir o
sobreaquecimento inflacionário. Normalmente, são necessários vários anos para a
estabilização dos preços dos ativos, principalmente os preços das propriedades,
e para que a alavancagem em excesso seja reduzida por meio de falências maciças
e o lento pagamento das dívidas em excesso. Durante esse tempo, os gastos
privados tendem a ser baixos, como é o caso agora nos EUA, Reino Unido e
Espanha. O resultado também tende a ser um imenso aumento nos déficits fiscais,
uma vez que a arrecadação despenca e os gastos aumentam em relação a um PIB bem
abaixo do previsto. Esse choque de produção é uma fonte bem mais relevante para
os imensos déficits fiscais nos países mais afetados pela crise do que os tão
difamados e modestos estímulos fiscais.
Esse é, então, o vento contrário estrutural. A ele se somaram, no entanto, a
alta das commodities, mais notavelmente dos combustíveis, e o impacto na rede
de abastecimento mundial decorrente do terremoto e tsunami no Japão, em 11 de
março. A recente elevação nos preços do petróleo, por si só um imposto sobre os
consumidores, em parte reflete a "primavera árabe", mas o mais relevante é uma
mudança estrutural permanente: o impacto crescente dos gigantes emergentes na
demanda por commodities mundiais.
A solução mágica seriam as políticas estruturais? A Organização para Cooperação
e Desenvolvimento Econômico (OCDE) argumenta que "receios sobre o alto
desemprego, tornando-se arraigados, e uma redução permanente pós-crise na
produção potencial, combinados com a necessidade de fortalecer a confiança na
sustentabilidade da dinâmica das dívidas do setor público aumentam a urgência
de aprovar reformas estruturais, bem elaboradas, de aperfeiçoamento do
crescimento". Isso está correto.
Políticas estruturais não são suficientes. A demanda também é importante para
as mazelas pós-crise. Políticas estruturais que fortaleçam os incentivos para
investir são duplamente bem-vindas, uma vez que elevam a demanda e a oferta
potencial ao mesmo tempo. Precisam ser uma prioridade ao se elaborar planos de
gastos e impostos. Também é crucial, contudo, realizar de forma apropriada a
saída da atual política monetária e fiscal. Nas atuais circunstâncias, é bem
mais provável que as medidas de apoio sejam retiradas de forma mais precoce do
que tardia, minando a recuperação e gerando uma estagnação prolongada, com
longos efeitos negativos estruturais.
Em resumo, os argumentos para combinar medidas estruturais para melhorar as
posições fiscais e a produção potencial no longo prazo com a continuidade de
apoio fiscal e monetário sólido à recuperação econômica parecem, para mim pelo
menos, claríssimos em países com espaço de manobra. O maior perigo continua
sendo a semiestagnação prolongada na era pós-crise, não o crescimento excessivo
e a inflação elevada. Isso, é claro, é um juízo. Mas juízo é o que temos.
Usem-no.
Martin Wolf é editor e principal comentarista econômico do FT

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