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quarta-feira, 8 de junho de 2011

Hora de faxina no Goldman Sachs

Hora de faxina no Goldman Sachs

A reputação do Goldman Sachs Group sofreu duro golpe em 2010, quando a empresa
pagou US$ 550 milhões em acordo para encerrar acusação de fraude da Securities
and Exchange Commission (SEC, a comissão de valores mobiliários dos Estados
Unidos) por vender um produto ligado a bônus hipotecários chamado Abacus. A
integridade de seus balanços financeiros, no entanto, nunca ficou sob nenhuma
grave contestação.
Os investidores, contudo, talvez devessem pensar duas vezes ao considerar os
antecedentes de alguns dos conselheiros responsáveis por assegurar a santidade
dos números do Goldman Sachs.
Vejamos James Schiro, por exemplo, que se juntou ao conselho de administração
do Goldman Sachs em 2009 e é presidente de seu comitê de auditoria. Uma de suas
tarefas é certificar que o Goldman Sachs e seu auditor externo, a
PricewaterhouseCoopers (PwC), continuem "independentes" entre si e não tenham
interesse mútuos comprometedores. Seria até possível dizer que suas
qualificações para o cargo são únicas, embora isso não seria um elogio.
Schiro foi executivo-chefe da PwC entre 1998 e 2002. Durante seu comando, uma
investigação da SEC encontrou mais de 8 mil violações nas regras de
independência de auditoria cometidas pela empresa, uma das "Quatro Grandes" no
mercado de contabilidade. A maioria das violações se relacionava com sócios que
detinham ações nos clientes de auditoria da PwC.
Em um exemplo, o próprio Schiro tinha ações de um cliente de auditoria, a
Emcore. Depois de a SEC ter ordenado, em 1999, que a Emcore trocasse a PwC e
contratasse outra auditoria para rever suas contas, a empresa processou Schiro
pessoalmente. Após chegar a acordo judicial em 2001, a Emcore retirou o
processo, que também colocava a firma e vários outros sócios da PwC como réus.
Os termos não foram revelados.
A história ganhou mais relevância, depois dos recentes problemas enfrentados
por um homem: Rajat Gupta, ex-membro do comitê de auditoria do Goldman Sachs,
que deixou o conselho de administração do banco de investimento em 2010. Se
houve algum período em que o Goldman Sachs precisava ter um comitê de auditoria
integrado por pessoas indiscutivelmente limpas, esse era o momento.
Gupta é acusado pela divisão de execução da SEC de vazar informações
confidenciais dos encontros na sala de reuniões da diretoria do Goldman Sachs
para Raj Rajaratnam, ex-gestor de fundo hedge do Galleon Group, condenado neste
mês por acusações de negociação com informação privilegiada (Gupta nega as
acusações). A questão que naturalmente se segue é quantas pessoas no comitê de
auditoria do Goldman Sachs, formado por oito membros, possuem históricos que
poderiam dar o que pensar aos investidores.
James Johnson, diretor do Goldman Sachs desde 1999, foi executivo-chefe da
Fannie Mae entre 1991 e 1998. Uma investigação interna da Fannie Mae, em 2006,
liderada pelo ex-senador Warren Rudman identificou várias violações contábeis
ocorridas durante o comando de Johnson. Johnson não foi acusado de má conduta
pelas autoridades reguladoras.
O líder entre os integrantes do conselho de administração do Goldman Sachs,
John Bryan, integrou o conselho da General Motors entre 1993 e 2009 e o comitê
de auditoria da montadora entre 1996 e 2001. A SEC acusou a GM de relatar
equivocadamente seus resultados financeiros durante vários anos, incluindo 2000
e 2001, como parte de uma acusação, encerrada com acordo em 2009; nenhuma
pessoa física foi indicada como acusada.
Stephen Friedman, que continuou no comitê de auditoria do Goldman Sachs depois
de Schiro tê-lo sucedido em setembro passado como presidente do comitê, recebeu
duras críticas em 2009 com a revelação de que havia comprado ações do Goldman
Sachs enquanto era presidente do conselho do Fed regional de Nova York, um dos
órgãos reguladores do banco de investimento. Embora a compra não tenha violado
regras, foi amplamente considerada como algo inadequado e ele renunciou ao Fed
regional em meio a pressões.
Friedman também foi presidente do conselho do Goldman Sachs. Ele se aposentou
da firma em 1994, quando ainda tinha capital fechado. Tecnicamente, pelas
regras, tem qualificação para ser membro independente do conselho de
administração do Goldman Sachs, o que lhe permite estar no comitê de auditoria.
Em essência, no entanto, dizer que o sujeito que costumava comandar o Goldman
Sachs é independente do Goldman Sachs parece um pouco demais. (O comitê de
auditoria do Goldman Sachs é incomum, porque todos os diretores não executivos
da empresa o integram.)
O comitê de auditoria do Goldman Sachs, em condições ideais, não teria nenhum
membro com credenciais de independência questionáveis ou laços com escândalos
passados contábeis ou de negociação de papéis. No entanto, isso ocorre com
metade deles. Os quatro não quiseram comentar o assunto, nem retornaram
ligações telefônicas. Um porta-voz do Goldman Sachs, Lucas van Praag, também
não quis comentar, assim como Caroline Nolan, porta-voz da PwC.
Os anos em que Schiro - que foi executivo-chefe da Zurich Financial Services
entre 2002 e 2009 - esteve no comando da PwC estiveram entre os mais
problemáticos em sua história.
Entre os clientes de auditoria da firma estiveram Tyco International, Raytheon,
Warnaco Group e Take-Two Interactive Software, empresas que tiveram de fazer
acordos para encerrar acusações de fraude contábil da SEC, sem admitir nem
negar as acusações.
O ex-executivo-chefe da Tyco Dennis Kozlowski foi para a prisão por roubar a
empresa. O sócio auditor da PwC que assinava os livros contábeis da Tyco fez
acordo para encerrar as acusações de fraude da SEC, que o proibiu
permanentemente de auditar empresas de capital aberto.
Em 1999, a SEC criticou a firma sobre uma série de violações de questões de
independência envolvendo sócios com ações de empresas clientes de auditoria da
PwC. Multou a PwC em US$ 5 milhões em 2002 por outra série de violações de
independência e auditorias falhas, abrangendo 14 companhias.
A SEC voltou a repreender a PwC em 2003 por má conduta profissional relacionada
ao trabalho de auditoria em 1998 de uma empresa chamada SmarTalk TeleServices.
No ano seguinte, a PwC pagou US$ 2,4 milhões em acordo para encerrar acusações
da SEC de ter colaborado em violações da lei de valores mobiliários na Warnaco,
em 1999. Eu poderia continuar, mas vocês já entenderam.
Já passou da hora de se fazer uma limpeza geral.
Jonathan Weil é colunista da Bloomberg News.

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