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quarta-feira, 8 de junho de 2011

Fed descarta novos estímulos apesar da fraqueza econômica

fraqueza econômica

O presidente do Federal Reserve (Fed, banco central dos Estados Unidos), Ben
Bernanke, reconheceu ontem a desaceleração da economia dos Estados Unidos, mas
não deu sinais de que a instituição considere novos estímulos monetários para
sustentar o crescimento. Bernanke também fez um duro alerta aos congressistas
em Washington que estudam cortes elevados no orçamento, dizendo que as reduções
têm potencial para tirar a recuperação econômica dos trilhos, caso sejam
aprovadas cedo demais.
A recente enxurrada de dados econômicos fracos, que culminou com o informe na
sexta-feira mostrando que os empregadores nos EUA aumentaram suas folhas de
pagamento em apenas 54 mil funcionários em maio, renovou as especulações de que
a economia poderia precisar de mais apoio do Fed. "O crescimento econômico dos
EUA até agora neste ano parece ser um pouco mais lento do que o esperado",
disse Bernanke, em conferência do setor bancário. "Vários indicadores também
sugerem certa perda de força nos mercados de trabalho nas últimas semanas."
Em Washington, o presidente Barack Obama afirmou que está avaliando a extensão
das medidas de estímulo à economia diante do fraco crescimento. O presidente
afirmou, porém, que ainda é cedo para saber se os dados ruins de emprego são
pontuais ou representam uma tendência. O governo cortou impostos sobre salários
e estendeu benefícios fiscais a empresas em dezembro passado.
Para Bernanke, a recuperação ainda é fraca o suficiente para exigir a
manutenção das fortes medidas de apoio monetário e a economia ainda está
crescendo abaixo de seu potencial total.
O presidente do Fed, no entanto, argumentou que a recente série de números
ruins provavelmente não durará muito e deverá dar lugar a um crescimento maior
na segunda metade do ano. Da mesma forma, a recente alta na inflação dos EUA,
embora preocupante, deve ser transitória, disse Bernanke. O baixo aumento dos
salários e as baixas expectativas inflacionárias indicam poucas pressões
inflacionárias duradouras, acrescentou.
Quanto ao orçamento, Bernanke reiterou a defesa de um plano de longo prazo para
que os EUA entrem em uma rota fiscal sustentável e alertou políticos contra
cortes maciços de curto prazo nos gastos.
"Uma consolidação fiscal profunda, centrada em um prazo muito curto, poderia
ser contraproducente, se acabasse minando a recuperação ainda frágil", de
acordo com Bernanke.
"Tomando decisões, hoje, que levem a uma consolidação fiscal ao longo de um
horizonte mais longo, as autoridades podem evitar uma contração fiscal
repentina, que poderia colocar em risco a recuperação."
O banco central americano já cortou as taxas de juros de um dia para zero e
comprou mais de US$ 2 trilhões em bônus governamentais para tirar a economia de
sua profunda recessão e incentivar uma recuperação mais sólida.
Com o balanço patrimonial do Fed já inchado, as autoridades deixaram claro que
já pressionaram demais os limites, o que os restringe de afrouxar ainda mais a
política monetária. A atual rodada de compras de bônus governamentais, de US$
600 bilhões, conhecida com "Flexibilização Quantitativa 2", acaba ainda neste
mês.
As fortes críticas à segunda rodada de flexibilização são um dos fatores que
provavelmente deixarão as autoridades monetárias relutantes em testar os
limites de políticas não convencionais. Uma piora nas condições econômicas,
contudo, particularmente se vier acompanhada da reversão da recente pressão de
alta na inflação, poderia mudar esse panorama.
O informe do governo sobre empregos na sexta-feira foi quase inteiramente
desolador. O ritmo de contratações foi pouco mais de um terço do esperado por
economistas e o índice de desemprego subiu a 9,1%, contrariando as previsões de
ligeira queda.
Em uma pesquisa da Reuters realizada após o informe sobre emprego, com bancos
que são "dealers" primários nos Estados Unidos, os analistas viram apenas 10%
de chance de outra rodada de compras de bônus do governo pelo Fed nos próximos
dois anos.
O enfraquecimento da recuperação dos EUA chega em meio a um quadro de
incertezas sobre o rumo da política fiscal e de disputas no Congresso sobre o
limite de endividamento do país, com os republicanos pressionando duramente por
cortes profundos no orçamento.
Também surgiram obstáculos no exterior para o estado da economia americana. A
Europa está às voltas com sua crise de dívidas soberanas, enquanto o Japão
ainda se recupera do impacto traumático do terremoto e tsunami que atingiram o
país.
Entre os países emergentes, a China tenta domar seu crescimento extraordinário
para evitar problemas inflacionários. Autoridades do Fed admitiram ter ficado
surpresas com a aparência frágil da economia, mas nenhuma defendeu ainda novos
estímulos.

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