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segunda-feira, 4 de julho de 2011

Controvérsias e oportunidades

Controvérsias e oportunidades
O Valor brindou seus leitores com um profícuo debate sobre temas que inquietam os economistas brasileiros: juros elevadíssimos, instabilidade inflacionária e câmbio valorizado. Foram 11 textos de importantes economistas brasileiros. Os autores apresentaram visões diferentes sobre as causas da inconstância dessas variáveis e seus efeitos no equilíbrio macroeconômico, apesar de haver convergência nas soluções apresentadas. Há economistas que desejam refundar o capitalismo, eliminando o bem-estar promovido pelo Estado, optando pela liberdade de fluxos financeiros na economia e acreditando nas mãos invisíveis do mercado como elemento chave para encontrar o melhor equilíbrio macroeconômico. Trata-se de uma visão conservadora para não dizer romântica sobre a prática da teoria econômica. Mas, o pensamento predominante foi daqueles que não acreditam em milagres invisíveis, mas na visível mão do Estado eficiente e, por esse caminho, nas medidas e reformas econômicas e fiscais adaptativas em nova realidade econômica mundial. Esses economistas entendem que é da essência do capitalismo ser instável e imprevisível.Na teoria, juros elevados postergam o desejo de consumir e estimulam à propensão para poupar. No Brasil, com juros altos, os brasileiros consomem e com juros baixos consomem muito mais e poupam muito menos.Um aspecto considerado pela corrente majoritária de economistas é o fato de que a contínua expansão fiscal não produtiva (gastos correntes: salários e manutenção administrativa) tem causado um equilíbrio macroeconômico ruim, tornando as taxas de juros - a Selic e a do crédito ao consumidor- as mais elevadas do mundo; e câmbio, valorizado. Essa modalidade de expansão fiscal reduz a poupança nacional e aumenta a necessidade de empréstimos externos para financiar os déficits em conta-corrente do balanço de pagamentos. Esses fatores acarretam riscos macroeconômicos e desestimulam os brasileiros de poupar e os empresários de investir para o futuro. O único caminho é priorizar a eficiência da infraestrutura e da produtividade da indústria nacional Sem ser economista, o povo brasileiro percebe esse risco e acredita que a melhor forma de poupar é obter bens de capital. O futuro é agora. Da mesma forma, o aposentado: ele não está em um ponto de chegada na vida, mas em uma nova partida laboral. Ele tem condições físicas para continuar trabalhando. A receita da aposentadoria se torna um ganho extra e um consumo adicional. Portanto, são limitadas as condições de aumentar a poupança social, mas são factíveis o aumento da poupança nacional.Todos concordaram que a poupança cresce se os investimentos crescerem, pois estes geram emprego e renda. Há duas formas de aumentar os investimentos: reduzir os gastos correntes do governo federal e diminuir a carga tributária sobre os investimentos privados e sobre a folha de pagamento. A perda de receita tributária será compensada, no médio prazo, pelo crescimento do emprego e do produto. No curto prazo, a única forma de incrementar mais recursos à poupança nacional será por meio de investimentos na construção da infraestrutura (PAC 2) com recursos privados, securitizados, ampliando os recursos no mercado de capitais. Todas essas medidas poderão elevar a poupança nacional dos atuais 18% do PIB para algo em torno de 30% do PIB ao longo do governo da presidente Dilma. A inflação brasileira tem componentes internos e internacionais. Nesse aspecto, não houve discordância entre os economistas. No tocante à inflação interna, quase todos concordaram que o processo inflacionário decorre do desequilíbrio entre oferta e demanda agregada. Se houver restrições na expansão da oferta de bens e serviços, qualquer aumento na renda social ou nos gastos públicos se refletirá nos preços. Alem disso, há um fato novo que tem modificado o perfil da demanda e dos preços no país: a ascensão econômica de todas as classes sociais. Temos a inflação de demanda. Há também o fator de custos da produção, como a regra do aumento do salário mínimo em vigor, ou a excessiva carga tributária sobre os custos da produção influenciando a elevação do preço final do produto. Os preços administrados pelo setor público estão indexados, assim como os contratos de aluguel e os rendimentos de ativos financeiros obedecem a regras de indexação. Nisso consiste a inflação de custos.Concordaram os economistas que controlar as expectativas de preços futuros e manter as taxas de longo prazo maiores que as de curto prazo devem fazer parte da missão do Banco Central. Sabendo-se quais são as causas da "praga da inflação", não se estabilizam os preços unicamente por meio de medidas micro e macroprudenciais e juros altos, mas em conjunto com o maior rigor nos gastos públicos. Será inglória a tentativa de reduzir o custo da política monetária se não houver uma forte e contínua redução dos gastos correntes do governo federal. Os economistas pouco se detiveram sobre o câmbio. A inflação internacional está sendo alimentada pelo "privilégio exorbitante" de os Estados Unidos financiarem suas irresponsabilidades fiscais e crises de insolvência, emitindo a quantidade de dólares de que necessitam. A crise americana não se resolverá em menos de dois governos. O Fed sempre contou com a crença internacional de que os Estados Unidos nunca deixaram de pagar suas dívidas. No entanto, há o risco de as agências de rating rebaixarem a credibilidade desse país. Os tempos mudaram. Em face das incertezas internacionais e das causas do mau equilíbrio macroeconômico brasileiro, a desvalorização do dólar se estenderá por mais de uma década e o real continuará apreciado por um longo período de tempo. Em face disso, o único caminho a percorrer será adotar uma nova política industrial que contenha medidas que priorizem a eficiência da infraestrutura e da produtividade da indústria nacional. Um país sem um expressivo e eficiente setor industrial na composição do produto nacional não assegurará a competitividade de nenhum dos demais setores econômicos, pois todos dependem da indústria para sobreviver. O atual governo tem a oportunidade de transformar o Brasil em um país globalmente competitivo e assegurar a contínua ascensão social de todos os brasileiros. Para tanto, precisa-se buscar um equilíbrio macroeconômico melhor e previsível. Ernesto Lozardo é professor de Economia da EAESP-FGV e ex-Secretário de Planejamento e Gestão do Estado de São Paulo

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