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sexta-feira, 29 de julho de 2011

Mesmo com acordo, EUA deixam de ser porto seguro

Mesmo com acordo, EUA deixam de ser porto seguro
Mesmo que o Congresso dos Estados Unidos chegue a um acordo que eleve o teto da dívida e evite que o país entre em "default", aos olhos de todo o mundo talvez o porto jamais volte a ser tão seguro quanto pareceu até aqui. Para Harrison Hong, professor da universidade de Princeton e especialista em finanças comportamentais, a quebra desse paradigma pode deixar o mercado atônito durante um tempo, replicando usos e costumes que adota hoje, mas, a médio prazo, os investidores buscarão alternativas ao dólar para se sentirem protegidos."Mesmo que eu acredite que haverá um acordo, não é tão óbvio que os Estados Unidos manterão seu rating AAA", disse Hong em entrevista na sede da Behavior Capital, empresa brasileira de gestão de recursos da qual é sócio. "Acho que há mais incerteza sobre isso hoje que a respeito do acordo."Segundo Hong, uma vez que se deixe de atribuir à classificação de risco americana o conceito máximo de tranquilidade, tem início uma temporada de busca de novas referências, ponto de partida para decisões de investimento. A longo prazo, essa busca deve resultar em carteiras montadas com uma maior diversificação de moedas.A curto prazo, pode haver um pouco mais do que já se tem observado nos mercados, com a transformação de ativos de risco em caixa ou sua troca pelo ouro. Mesmo nesse caixa, se notará a proporção de moedas como o franco suíço, o iene japonês ou o yuan chinês.Mas Hong acredita que não será por essa insegurança que o mercado terá mais volatilidade. Ao contrário, o medo deve reduzir a oscilação de preços, bem como a liquidez global, que vai continuar repercutindo o que ele chama de eventos verdadeiramente relevantes, como a crise europeia ou a tentativa de recuperação do mercado imobiliário americano, após a crise de 2008. "O que parece estar acontecendo é que há muita atividade em certos tipos de ativos que são como portos seguros. O ouro é um exemplo". Segundo ele, outras reações são pouco visíveis, como a inflação chinesa, pressionada pela demanda em torno da moeda, "controlada obsessivamente" pelo governo. Mas não aumenta a volatilidade de mercados como o de ações."A volatilidade tende a ser muito maior em períodos muito especulativos, com as bolhas", disse Hong, que analisa o comportamento de investidores e transforma distorções de mercado como essa em uma ferramenta para gestão, inclusive do fundo de R$ 52 milhões da Behavior Capital, do qual é estrategista. "A volatilidade não tende a ser tão alta quando as pessoas estão procurando por segurança."No Brasil para participar de encontro promovido pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), Hong diz encarar o país como "o outro lado da China"."A China é o lado da demanda e o Brasil, o do fornecimento". Isso, segundo ele, faz com que o país funcione como o outro lado de uma gangorra, abrigando o dinheiro que quer estar nos Brics (grupo composto por Brasil, Rússia, India e China), mas não pode ser refém do yuan, manipulado pelo governo chinês.

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