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sexta-feira, 29 de julho de 2011

Resiliente, Ásia está mais vulnerável à crise global

Resiliente, Ásia está mais vulnerável à crise global
Se os mercados de bônus e ações da Ásia servirem de guia, então, os investidores parecem estar bem despreocupados quanto aos riscos de falta de dinheiro do Tesouro dos Estados Unidos e ao descontrole da crise da dívida de região do euro.O impasse nas negociações para elevar o teto de endividamento dos EUA ainda não afetou seriamente os mercados financeiros da região. As ações de empresas asiáticas, na verdade, subiram nas últimas semanas, com o índice FTSE All-World Asia Pacific, que não inclui o Japão, em alta de mais de 3% desde o início do ano.Embora o custo de proteção contra a inadimplência de empresas na Ásia tenha ficado mais caro e se mostrado mais volátil nos últimos dois meses, o índice iTraxx Asia (sem o Japão), termômetro do risco de crédito, continua abaixo dos níveis vistos em 2010."Certamente, não estamos precificados para uma inadimplência total ou rebaixamento de crédito dos EUA", diz Shane Oliver, da AMP Capital Investors, de Sydney.Assim como a maioria dos agentes de mercado, Oliver está confiante de que os políticos dos EUA chegarão a uma solução para elevar o limite de captações no país até o fim do prazo, no início da próxima semana.Oliver admite, no entanto, que uma crise mais grave nos EUA ou Europa atingiria os mercados financeiros com a mesma intensidade observada há três anos. Outros são mais pessimistas e julgam que a região estaria mais vulnerável a um contágio desta vez, porque os governos agora têm menos capacidade para aplicar outra rodada de medidas de estímulo econômico.Em 2008 e 2009, com a falência do Lehman Brothers, a inércia dos mercados de financiamento mundiais e a contração do comércio internacional, os bônus e ações asiáticos caíram mais que os papéis no centro da tempestade nos EUA.As fortes quedas foram mais incômodas para os investidores na região porque nos anos prévios à crise a ideia geral era de que a Ásia estava se "descolando" do Ocidente.A Ásia segue com forte dependência da Europa e EUA, mais nitidamente em relação às exportações de bens e serviços a consumidores ocidentais, mas também cada vez mais no que se refere a fluxos de capital e sistema financeiro.O analista de crédito Viktor Hjort, do Morgan Stanley, em Hong Kong, diz que "a fonte de contágio mais rápida e perigosa" para os mercados de bônus asiáticos é a falta de liquidez nos mercados de financiamento mundiais. Na crise de 2008, os bancos europeus reduziram a concessão de empréstimos para a Ásia em 20%, o que levou a um contágio generalizado e impediu algumas empresas de rolar suas dívidas.Hjort destaca que as economias asiáticas estejam em melhor posição para enfrentar um aperto na liquidez mundial em comparação a 2008, porque as reservas internacionais aumentaram e os sistemas bancários estão menos dependentes do financiamento de externo.Os rendimentos dos bônus também estão mais elevados agora, já que os investidores assumiram uma abordagem mais cautelosa. Além disso, por uma série de critérios, as ações da região estão mais baratas do que há três anos, o que sugere desvalorizações menores em um cenário de crise.Ainda assim, analistas dizem que há uma diferença importante, em relação a 2008, que ameaça tornar qualquer nova crise muito mais perigosa: depois de liberar volume recorde de dinheiro para combater o desmoronamento financeiro, os governos e bancos centrais gastaram grande parte de seu poder de fogo anticrises.O Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA) reduziu seus juros para quase zero e o governo, endividado, provavelmente enfrentaria oposição feroz a qualquer novo gasto com estímulos.Embora os governos asiáticos tenham mais espaço que os do Ocidente para embarcar em nova rodada de estímulos financiados por dívidas ou cortes de juros, a capacidade para fazê-lo foi reduzida.De fato, as medidas de estímulo que ajudaram os países asiáticos a se recuperar rapidamente da crise passada agora trazem efeitos colaterais incômodos. A China promoveu o maior pacote de estímulos do mundo, ordenando a seus bancos a conceder empréstimos de centenas de bilhões de dólares a projetos de investimento estatais. As dívidas de difícil recuperação agora são cada vez maiores.O núcleo da inflação, que exclui alimentos e energia, aumentou em grande parte da Ásia, mesmo com a economia começado a se desacelerar. Na China, os preços ao consumidor de junho apresentaram a maior alta em três anos, de 6,4%, acima da meta de Pequim, de 4%. Se os EUA ou Europa mergulharem em nova crise, dificilmente os países asiáticos se recuperarão com o mesmo vigor de três anos atrás.

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