Crise faz aniversário e mostra seu lado fiscal
A semana não é uma semana qualquer. O período guarda a efeméride de eventos que marcaram a história do mundo e que têm seus desdobramentos sentidos até hoje. São fatos que ainda mexem com o imaginário coletivo e não é incomum traçar paralelos quando o planeta atravessa datas tão célebres como os ataques terrorista de 11 de setembro de 2001 - com uma década completada ontem -, e a quebra do Lehman Brothers em 15 de setembro de 2008.Passados três anos do colapso do sistema financeiro os mercados se agitam temendo evento semelhante. O gatilho agora não é a crise das hipotecas subprime e seus derivativos tóxicos. Mas sim os países europeus, notadamente a Grécia e outras economias periféricas, que não conseguem lidar com o elevado endividamento.De fato, esse momento de crise é apenas um desdobramento do episódio de três anos atrás. De forma simplificada, os países saíram correndo para salvar os bancos e o sistema financeiro. Mas agora precisam de alguém que os salvem.Dólar subiu pelo sétimo dia e mira linha de R$ 1,70Interessante que os algozes dos estados soberanos são os mesmos "mercados" que foram salvos da desgraça total causada pela própria ganância, acusações de fraudes e certa leniência dos órgãos reguladores.Curioso pensar, também, que um país com um Produto Interno Bruto (PIB) de US$ 300 bilhões põe em xeque uma união monetária pensada e costurada por décadas e mesmo o sistema financeiro de boa parte do mundo.Na sexta-feira, o calote grego foi o assunto nas mesas e o temor continuou pautando a tomada de posição mesmo depois de o governo negar tal possibilidade e reafirmar seu compromisso com a "implementação completa" dos termos acertados em julho, necessários ao recebimento de nova rodada de recursos do Banco Central Europeu (BCE) e do Fundo Monetário Internacional (FMI).O ministro das Finanças da Grécia, Evangelos Venizelos, falou em uma "onda organizada de rumores sobre o default da Grécia". Chamou isso de um "jogo de mau gosto, especulação organizada".Mera especulação ou não, o fato é que o mercado encerrou a sexta-feira vendo a Grécia como um país quebrado. Esse foi o recado extraído do mercado de Credit Default Swap (CDS, espécie de seguro contra calotes). Pelos valores dos títulos, a probabilidade de um default da Grécia já estaria em 100%.O mercado local não se safou desse novo episódio de desconfiança, que derrubou bolsas e ações do setor financeiro, deu fôlego ao dólar e restringiu a liquidez no mercado interbancário europeu.No câmbio brasileiro, o dólar comercial subiu pelo sétimo dia seguido, algo que não ocorria desde janeiro de 2010. A moeda subiu 2,60% na semana e fechou a R$ 1,678. As análises gráficas sugerem que o próximo objetivo está no R$ 1,70, marca não vista desde dezembro do ano passado.E pensar que cerca de 40 dias atrás, a moeda rondava a linha de R$ 1,53. Nesse período, o preço da moeda subiu 9,17%. Em 2011, o dólar passou a cumular ganho de 0,72%.Queda expressiva, também para o euro. A moeda comum europeia voltou a cotações não vistas desde fevereiro, na faixa de US$ 1,36. Na semana, o euro perdeu quase 4%.No mercado futuro de juros, as taxas futuras voltaram a cair. Afinal de contas, foi vislumbrando esse caos externo que o Banco Central (BC) cortou a taxa básica da economia em 0,50 ponto percentual, a 12% ao ano.Resumindo bem a questão, o vice-presidente de tesouraria do Banco West LB, Ures Folchini, aponta que mesmo que você discorde do BC, o fato é que ele vai reduzir os juros. "Você pode não acreditar nele, mas é isso que ele vai fazer", diz.O sócio-gestor da Leme Investimentos, Paulo Petrassi, aponta que é muito arriscado ficar "comprado" em juros, pois a cada notícia negativa sobre a conjuntura externa as taxas caem.
Eduardo Campos
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