Para economistas, câmbio valorizado gera processo de desindustrialização
O abalo causado no saldo comercial do país nos últimos anos pode ser o mais
simples dos danos provocados pelo real valorizado. Em encontro promovido,
ontem, pelos Conselhos Regionais de Economia (Corecon) dos quatro Estados do
Sudeste, economistas fizeram um alerta: o câmbio está minando a
industrialização do país.
"Estamos tendo uma perda de competitividade cambial, que leva a um processo
gradual de desindustrialização", disse o professor da PUC de São Paulo, Antonio
Corrêa de Lacerda. O estrago já é evidente sobre fabricantes de semicondutores,
produtos farmacêuticos e máquinas e equipamentos, que, segundo ele, respondem
pela maior parte de um déficit comercial de US$ 65 bilhões, no ano passado, se
analisada somente a pauta de itens de alta ou média tecnologia.
Para Eduardo Costa Pinto, pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica
Aplicada (Ipea), o risco é que esse efeito fique camuflado por um saldo em
transações correntes financiado também por capital de investimento de curto
prazo, além das compensações obtidas com a venda de commodities. "Fechar a
conta vai ser fácil. O problema é de médio prazo."
Segundo o diretor do Departamento de Competitividade Industrial do Ministério
do Desenvolvimento, Alexandre Comin, "a penetração dos importados na economia
brasileira é veloz, ampla e profunda". Há cerca de um mês e meio no ministério,
ele levou ao encontro uma versão atualizada de sua tese de doutorado, na qual
chamou a atenção para uma estimativa que aponta para salto de 44% no consumo de
manufaturados importados no país, em cinco anos.
Entre 2005 e 2010, a penetração média dos importados foi de 13,5% para 19,4% do
total consumido internamente. Entre os eletrônicos, a importação já respondia
por 35,8%, em 2010. Em contrapartida, o Brasil só abre espaço no exterior com
agrícolas, minerais ou combustíveis, de baixo valor agregado. Nem ele, nem os
outros economistas presentes acreditam que o peso negativo do câmbio possa ser
compensado com ganhos de produtividade.
"A correlação mostra que a exportação acompanha o câmbio", disse Comin, ao
mostrar gráfico com série de 1989 a 2010, na qual os dois indicadores cumprem
sempre a mesma trajetória, com pouco ou nenhum descolamento. Comin afirmou que
o governo tem pouca margem de manobra com tarifas para conter a penetração
crescente dos importados, devido a compromissos com a OMC.
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