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sexta-feira, 17 de junho de 2011

Mercados se retraem com mais uma onda de incertezas

Mercados se retraem com mais uma onda de incertezas

As expectativas globais se deterioraram e as principais bolsas do mundo estão
apontando consistentemente para baixo. As incertezas estão em alta, basicamente
alimentadas pela sucessão de medidas de aperto monetário na banda mais dinâmica
da economia mundial - China, India, Rússia e Brasil - e pelos resultados
decepcionantes das atividades produtivas nos Estados Unidos e Europa. Um fator
adicional a espalhar angústia pelos mercados é a desesperadora situação da
Grécia, que está a um passo de uma moratória enquanto sucessivas reuniões dos
ministros de finanças da zona do euro terminam sem acordo quanto à melhor forma
de evitar um desastre na questão da dívida soberana dos países da periferia da
união monetária.
Um dos principais focos de pessimismo é a economia americana. Seus últimos
indicadores apontaram que não há ainda fim à vista para os efeitos devastadores
do estouro da bolha imobiliária, embora um ou outro número mostre uma melhora
descontínua. Os preços das habitações continuam caindo sob o peso de um enorme
estoque de residências em oferta, que contribui para deprimir a construção de
novas habitações. No setor comercial, a situação não é tão desanimadora, mas
nada saudável. A produção industrial arrefeceu e as vendas ao consumidor agora
avançam em um ritmo mais moderado que nos últimos seis meses. Tudo isso indica
que o Produto Interno Bruto americano, cuja previsão de crescimento chegou a
ser elevada de 3,2% para 3,5%, pode não chegar à casa dos 3%. O avanço no
primeiro trimestre do ano foi de apenas 1,8%, e no segundo, pelas estimativas,
deve ser apenas um pouco melhor. O desemprego voltou a subir, está em 9,1% e
criou expectativas de novas medidas de estímulo à economia - que muito
provavelmente não virão.
Para piorar o quadro, republicanos e democratas, que já estão em calendário
eleitoral, não se entendem sobre o aumento do limite de déficit do país,
colocando o Tesouro americano diante da possibilidade real de um calote
temporário nas dívidas. É uma situação provisória, mas também um sintoma de que
propostas heterodoxas para reanimar a economia não encontrarão um mínimo de
consenso e possibilidade de serem aprovadas na atmosfera carregada de
intransigência reinante em Washington. O atual clima age tão negativamente
sobre o humor dos mercados que até mesmo o presidente do Federal Reserve, Ben
Bernanke, rompeu sua discrição a respeito dos assuntos fiscais para pintar um
panorama aterrador sobre as consequências do déficit americano.
Do outro lado do Atlântico, as dívidas da Grécia, Irlanda e Portugal continuam
assombrando os investidores. A perspectiva de calote grego levantou mais uma
vez dúvidas sobre a saúde financeira dos bancos credores e continua a castigar,
com juros mais altos, os países que estão na linha de tiro, como Espanha e
Itália. O crescimento da zona do euro continua lento e deve atingir pouco mais
de 1% no ano.
Os países emergentes, que claramente impulsionaram a recuperação mundial, estão
tentando domar suas economias e levá-las a um ritmo compatível com uma inflação
menor. A China acabará desacelerando (ela cresceu 9,7% no primeiro trimestre)
para resolver o grave problema político de uma inflação em alta (5,5% em maio
para o índice geral em 12 meses, 12% para alimentos). Mas será preciso fazer
mais do que os consecutivos aumentos dos compulsórios bancários. Com todos os
apertos já realizados, a taxa de juros chinesa ainda é negativa em 2,4%. Rússia
e Brasil continuam em um ciclo de aperto monetário, como a India, que ontem fez
seu décimo aumento de juros em 18 meses. Ela também tem muito mais a fazer e
convive ainda com taxas de juros negativas.
Com a desaceleração das economias emergentes, que tende a ser moderada, a
recuperação mundial perde fôlego e confirma o cenário de que será desta vez
muito mais lenta do que nas recessões anteriores. Os países desenvolvidos
começam a sofrer uma alta da inflação que, se persistir, jogará as autoridades
monetárias mais conservadoras, como o Banco Central Europeu, a também elevar as
taxas de juros. As chances são de um desempenho ainda mais medíocre no mundo
desenvolvido e um desaquecimento nos emergentes, o que justifica a onda
baixista dos ativos financeiros.

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