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terça-feira, 26 de julho de 2011

Principais riscos são um default seletivo e um rebaixamento do rating

Principais riscos são um default seletivo e um rebaixamento do rating
As implicações de um calote, mesmo que temporário, por parte dos Estados Unidos, na semana que vem, serão bem mais sérias do que perder uma ou duas notas no seu risco de crédito, acreditam analistas.Por isso, boa parte do mercado parece preferir acreditar que a Casa Branca e os republicanos terminarão superando o impasse político até o prazo fatal de 2 de agosto, e evitarão uma catástrofe econômica e financeira. Um acordo, se for alcançado, precisará conter medidas de cortes de gastos e de aumentos de impostos, num ajuste fiscal que deverá totalizar entre US$ 3 trilhões e US$ 4 trilhões nos próximos dez anos, avaliam economistas. Do contrário, haveria mais perda de credibilidade e o governo americano deixa de deter o rating AAA por alguns meses.Se não houver entendimento até a semana que vem, não será a primeira vez que o governo americano enfrenta esse tipo de situação. O governo suspendeu serviços não essenciais e demitiu servidores de 14 a 19 de novembro de 1995, e repetiu a ação no começo de 1996, mas nas duas vezes manteve o serviço da dívida.Em todo caso, no cenário atual, em que a crise financeira global se transferiu dos bancos para os governos, e no rastro do estrago causado pela perspectiva de calote da Grécia, um default mesmo temporário ou técnico dos EUA teria um sério impacto multiplicador no mercado, ainda mais quando se considera que os papéis americanos referenciam ativos globalmente.Julian Jessop, da consultoria Capital Economics, exemplifica que, pelo Acordo de Basileia II, de exigência de capital próprio dos bancos, dívida governamental só é considerada livre de risco se tem classificação AA- ou superior. Em princípio, portanto, o default americano significaria que as instituições financeiras enfrentariam maior necessidade de capital. Os títulos da dívida americana são amplamente usados como colateral para transações nos mercados futuros e considerados livres de riscos para calcular o custo de uma multitude de ativos.Analistas destacam, assim, dois grandes riscos sistêmicos. O primeiro é de um "calote seletivo" do Tesouro, de forma que, depois de 2 de agosto, não teria mais liquidez suficiente para pagar todas as suas faturas, incluindo salários, aposentadorias etc. Nada menos que US$ 87 bilhões de dívidas devem ser pagas no dia 4 e, para isso, o Tesouro precisa emitir títulos. Mas só poderá fazer isso com a autorização do Congresso para superar o teto de US$ 14,3 trilhões de dívida pública.O governo americano pega emprestado 42% do que gasta, em média. Na medida em que não poderá emitir títulos da dívida, o governo da maior economia do planeta estará na situação de "calote seletivo", pelos termos usados pela empresa de classificação de riscos Standard & Poors, piorando a crise de confiança na economia global.O segundo risco é de um rebaixamento da nota AAA hoje dada à dívida pública americana. Com isso, os títulos do Tesouro deixam de ser um ativo "refúgio seguro". Os investidores poderão exigir mais para comprar o papel. As estimativas são de que cada meio por cento de rendimento resulte numa fatura adicional de US$ 150 bilhões anuais na dívida americana.Para Patrick Artus, do banco Natixis, de Paris, é difícil entender por que a dívida pública americana manteve seu status de ativo refúgio e seguro diante da situação da economia dos EUA e das finanças públicas.Se a percepção mudar e a dívida americana de repente for vista como um ativo arriscado, pode-se esperar, assim, que as taxas americanas de juros de longo prazo subam, a menos que os bancos usem suas reservas para comprar mais títulos do Tesouro; o valor do dólar cairá ainda mais; os investidores podem escolher outros ativos refúgio, como a dívida pública alemã. Além disso, podem questionar seriamente até que ponto a capacidade de crédito das companhias americanas seria melhor que a do governo, ou seja, os investidores podem cobrar mais também pelos papéis do setor privado.Outros analistas minimizam esse cenário. É verdade que os EUA têm uma dependência forte de investidores externos, o que o deixa mais vulnerável a uma eventual fuga de capital. Mas acham que não existe alternativa crível ao dólar como moeda dominante na economia.A expectativa é que diante do risco tão perigoso que correm os EUA, e por tabela toda a economia mundial, o Tesouro americano já tenha seu plano B para explorar algumas flexibilidades na legislação americana. Além disso, certamente decidirá honrar o serviço da dívida enquanto for possível e se focará em cortar gastos em outras áreas.Pode-se esperar também um "longo período de incertezas e volatilidade antes que todas as implicações estejam claras". De toda maneira, as incertezas sobre a dívida americana servem para mostrar que as consequências da crise global vão durar por vários anos.Para alguns analistas, um dos poucos vencedores com um calote americano será o preço do ouro, podendo superar a barreira de US$ 2 mil no ano que vem.A semana será "estressante para os mercados do mundo e para o povo americano", previu o chefe de gabinete do presidente Barack Obama, Bill Daley, na TV americana anteontem.

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