Pânico é base do contágio na zona do euro`
A crise da dívida soberana na zona euro pode se alastrar, se não houver ação decisiva e rápida das autoridades europeias. O sistema bancário, ainda fragilizado, pode ser um dos transmissores do pânico. A avaliação é de Cinzia Alcidi, especialista de Europa e finanças no Centre for European Policy Studies (Ceps), um dos principais fóruns de inteligência da região, com sede em Bruxelas.Com um default parcial da Grécia, haverá quem ganhe. Muitos especuladores apostaram nos "credit default swaps" (CDS, títulos de garantia para cobrir inadimplência), um mercado estimado em € 78 bilhões para a Grécia. A seguir, os principais trechos da entrevista Valor: A crise do euro vai se agravar?Cinzia Alcidi De certa maneira, sim, porque está se tornando uma crise sistêmica. Quando estava limitada a Grécia, Irlanda e Portugal era administrável. Mas é preciso dizer que o que ocorreu com Espanha e Itália foi um ataque especulativo. Os países estão em situação vulnerável, de fragilidade. E é muito difícil administrar porque no momento não há instrumentos para isso. Os fundos de estabilização europeus são insuficientes para intervir. As garantias de socorro são de € 500 bilhões, mas a capacidade efetiva de emprestar aos países é mais baixa, menos de € 300 bilhões. Só em junho de 2013 é que o sistema terá condição de reagi Valor: Como conter o contágio?Alcidi Há a crise da economia real, mas também o elemento de pânico que é a base do contágio na zona euro. A resposta no caso italiano é sobretudo nacional. O governo italiano precisa se engajar numa política que realmente leve suas finanças a situação de equilíbrio, isso é crucial. Na Itália, os juros sobre a dívida são muito importantes. Para se ter uma ideia, a dívida é de 100% do PIB, e cada vez que a taxa de juro sobe em 1%, é 1% do PIB a mais que deve ir para o pagamento dos juros. No caso da Grécia, a resposta tem que vir da União Europeia. Valor: Qual o risco de colapso da zona do euro?Alcidi Se for crise é sistêmica, toda a zona do euro está em perigo. Além do problema da dívida e o crescimento econômico baixo, temos um sistema bancário bastante fraco a Europa. Se há um problema em um país da zona do euro, é toda a região que pode sofrer de maneira importante pela propagação da crise pelo sistema bancário. É essa possibilidade que alimenta a situação de pânico nos mercados. Valor: Um "default" parcial da dívida grega ameaçará mais a saúde dos bancos?.Alcidi Veja, os bancos têm uma exposição pequena à Grécia. Trata-se sobretudo de bancos franceses e alemães. Há um ano que se fala de default da Grécia e os bancos tiveram tempo de se preparar. O temor maior é de que esse acontecimento resulte em pânico generalizado. Mas se a crise ficar limitada à Grécia, devemos ser capazes de fazer face à situação, sem choques. Valor: Esta sexta-feira será crucial para a Grécia?Alcidi Espera-se que o conselho dos ministros de finanças europeus apresente uma política crível para a situação da Grécia. Vamos ver a reação dos mercados. Aí vamos ter uma ideia do tamanho do choque. De toda maneira, é a Grécia que deve declarar default. Vai tomar um pouco de tempo, mas o mercado de CDS, que é uma segurança contra default, terá um choque que pode ser forte. Valor: E o impacto dos testes de estresse dos bancos?Alcidi A expectativa é que vários bancos não passem nos testes, como alguns espanhóis. Precisarão ser recapitalizados e devem buscar investidores internacionais. Numa situação de pânico, isso é difícil. Sem investidor privado, os governos terão que recapitalizar os bancos. O que se espera dos governos é que injetem dinheiro para torná-los sólidos de novo. O que foi feito até agora não é suficiente.
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